Três anos escaparam entre os dedos... veloz, intenso e sorrateiro. Escorrendo pelas mãos, como areias dentro de uma ampulheta. Narcissa era, inegavelmente, sua melhor amiga e confidente, com quem ficava horas conversando sem notar. O motivo era que a adorava, tão absurdamente, que era incapaz de buscar explicações que tornassem lógica tamanha proximidade.
Era algo natural, inevitável e puro. Tanto que já haviam se beijado durante um passeio em Londres, quando se esconderam de suas respectivas mães, para conhecer o centro da cidade. Uma aventura inesquecível que os fazia sorrir todas as vezes que recordavam.
Ao mesmo tempo, cada dia que passava ao lado dela, se incomodava mais com o noivado que Narcissa mantinha com Lucius Malfoy. Aquilo o irritava profundamente. Não aceitava aquele relacionamento e o considerava ofensivo por diversos motivos... principalmente, quando pensava que tudo não passava de uma imposição dos Black para obter o restabelecimento da aliança político-financeira com os Malfoy.
Seu coração se partia ao ver aquela menina, a qual considerava tão adorável, permanentemente triste e se julgando como alguém que só servia como moeda de troca. Uma vítima prestes a ser entregue em sacrifício ao carrasco... uma lástima. Estava convicto de que ela não aceitava nada daquilo que lhe estava sendo imposto. Queria ser livre e não se ver mais obrigada a agradar um verdadeiro boçal. Um idiota que jamais a mereceria. O ser a quem não suportava nem um pouco e que, Severus, desconfiava que a machucasse em todas as oportunidades que encontrasse.
Refletindo quanto tudo aquilo e no quanto estava confuso, ficou por um longo tempo olhando para o teto do quarto. Sua realidade era outra... uma cama macia, cobertores, lençóis, amor, brinquedos e livros. Ele e Eileen não eram ricos, porém tinham uma vida bastante confortável e isso bastava para se sentir um pouco feliz.
Entretanto, precisava colocar as suas ideias no lugar e aproveitaria que a mãe passaria o dia inteiro trabalhando no Caldeirão Furado, para sair e visitar o Farol de Castle Hill... subir nas pedras, se sentar e ficar olhando as ondas e chocando contra elas. Era ali que sempre reencontrava a si mesmo e lembrava das tardes que passava dialogando com Snape.
- Como eu queria que o senhor estivesse aqui para me ajudar – murmurou, abraçando as próprias pernas e encostando o queixo nos joelhos.
Pensativo e distantes, sequer reparou na chegada do crepúsculo. Preferia estar absorto nas suas constatações e dúvidas... Andrômeda era como se fosse a sua irmã mais velha. Implicavam um com o outro, discutiam por bobagens, no entanto, eram extremamente apegados e amigos. Se identificavam demais para se perderem no caminho que faziam. De modo algum deixariam que isso sucedesse.
Todas as vezes que a observava, ficava feliz em ver como ela e Rodolpuhs haviam conseguido resolver os problemas que impunham empecilhos para o namoro. Ambos concordaram que não brigariam por conta das ideias genocidas e os planos absurdos de Voldemort. Não haveria indisposições ou cobranças por uma postura mais assertiva diante da guerra que já se anunciava no horizonte.
Como todos os membros da família Lestrange, ele queria apoiar a causa e se transformar em general. Seu sonho era ir para a guerra e defender os ideais da pureza de sangue. Andrômeda, por outro lado, preferia a neutralidade. Enquanto lhe fosse conveniente, não se comprometeria com aqueles absurdos... mesmo que já constatasse que a sua atitude não duraria para sempre.
Simultaneamente, Bellatrix, continuava brincando com os sentimentos de Sirius, se revoltando sempre que ele parava de lhe dar atenção ou conversava com outras meninas. Era uma relação extremamente estranha e que beirava à morbidez absoluta, devido ao ciúme excessivo que demonstravam sentir um pelo outro. Ainda mais, quando os dois eram tão parecidos, que divergiam nos pequenos detalhes. Severus, não duvidava que ela amasse o primo, mesmo que negasse obstinadamente tal fato.
Talvez, aquela relação nociva não fosse amor, mas uma vaidade acentuada, em não admitir a possibilidade de perda daquilo tido como seu. Quem sabe fosse mais tranquilo gostar de alguém que se dispunha a ser o seu brinquedo preferido? O boneco vivo com quem descobria coisas novas... tornando mais complicado, a medida em que cresciam, lidar com as confusões de defrontar e admitir o que os reais sentimentos traziam aos dois.
No caso, a maneira com a qual Bellatrix se portava com Severus, parecia mais simples de ser definido... ela se mostrava focada em ser o centro do universo. Distinguia no comportamento dela que, considerava, o quanto ele também teria que lhe dar toda a atenção possível e imaginável. Quem sabe quisesse que aquele menino lhe desse o mesmo tratamento que destinava às suas irmãs? Entretanto, sempre lhe era negado.
Por vezes, a postura de Severus evidenciava o quão indisponível se colocava sempre que estava diante de Bellatrix. Não a admirava ou sentia qualquer sentimento positivo com relação a ela. Na verdade, a qualificava como mimada, insuportavelmente chata e birrenta... em outras palavras, uma pessoa detestável. Contudo, não era tão odiosa e irritante quanto Snape havia lhe relatado.
A menina maltratava a todos que julgasse inferiores, porém, ainda estava muito longe de ser uma mulher assustadoramente louca e monstruosa. O ser que assombrava os seus pesadelos à noite... com o tempo, considerou dar uma chance. Ela poderia provar ser alguém melhor do que demonstrava normalmente.
Com a chegada do dia 1º de setembro, tudo pareceu se modificar... caminhando ao lado de Eileen, Severus, contemplar os rostos animados dos que transitavam pela King Cross rumo à Plataforma 9 . Estava empolgado e ansioso também. Especialmente, depois do último mês daquele verão em que ajudou a mãe no atendimento e limpeza do Caldeirão Furado. Foram dias cansativos, mas cada gota de suor havia valido à pena.
O dinheiro que juntara, fosse pelo trabalho ou pelas gorjetas recebidas, possibilitou a compra de seu material escolar sem que dependesse da boa vontade alheia. Foram longas caminhadas e tardes dentro de livrarias na busca dos livros que necessitaria para o ano letivo. Embora estivesse decidido a utilizar alguns que pertenciam à Eileen em sua época de estudante, considerava importante ter outras ferramentas de aprendizagem para se aprimorar. O conhecimento nunca era demais...
Mas, o que mais lhe alegrava era ter sido presenteado, pelo Lorde das Trevas, com um kit de poções e um microscópio. Compreendia que não se tratava de um mero regalo ou uma felicitação pelo seu ingresso em Hogwarts. Na verdade, nada mais era uma lembrança de que deveria permanecer comprometido com a causa e, a oferta, era um investimento no seu futuro general.
O que mais Severus poderia querer? Estava satisfeito e orgulhoso de si mesmo, de um modo indescritível e insuperável... Eileen não se preocuparia com tais gastos e, muito menos, comprar vestes de segunda mão para que ele tivesse o uniforme completo. Logo, os trajes sob medida chegaram acompanhados dos sapatos e botas mais caras do Beco Diagonal. Se olhando no espelho, admirado com o que via, o menino mal sabia que a mãe gastara todas as suas economias. Tudo para que, o seu pequeno Prince, se apresentasse de modo irretocável aos demais membros do mundo bruxo.
Dias depois, a visita de Rosier a Caerleon, chamou a sua atenção. Sem qualquer motivo aparente, aquele homem lhe presenteara com uma coruja preta e mal encarada. No fundo, Severus desconfiava que, algumas vezes, ele estivesse os auxiliando financeiramente... porém, não entendia a razão para tamanha boa vontade. Quando iniciasse as férias, faria questão de descobrir o que estava ocorrendo.
Preso a esse pensamento que retornava, não observou a aproximação de Bellatrix, que já os havia avistado de longe e caminhava apressadamente em sua direção. Correndo para abraçá-lo, logo saiu o puxando para que a acompanhasse na viagem.
- Olá, Severus! Olá, senhora Prince! Como estão? – ia perguntando.
Enquanto andava depressa, sem soltá-lo e segurando firme em seu braço, estava decidida que não o deixaria escapar depois daquele dia. Aquele menino seria seu amigo também. Eileen apenas sorria notando a expressão de contragosto no rosto do filho. Ele estava indignado...
- Onde está a Cissa? – questionou bastante desconfiado, conseguindo se desvencilhar dela.
- Ela já entrou no Expresso com a Andy e o Rods... devíamos fazer o mesmo – falou tranquilamente, abrindo um sorriso tirano.
- É... – Severus deu de ombros chateado.
- Então, agora vamos! Até breve, senhora Prince... eu prometo mandar cartas contando o que ele está aprontando na escola – riu se despedindo.
- Até logo, mãe... nós nos falamos – o menino fez um breve aceno para Eileen, recebendo um abraço em troca.
- Obrigada, senhorita Black. Espero que os dois se comportem... e, Severus, mande notícias pelo Orestes – falou encarando os dois, com um claro semblante de aprovação iluminando o seu rosto.
Respirando profundamente, encheu os pulmões de ar para espantar a ansiedade que começava a crescer no seu peito. Era a sua primeira viagem no Expresso de Hogwarts e o seu coração batia forte... ao dar os primeiros passos para subir os degraus para ingressar no vagão, parou.
- O inútil do Black subirá com o seu gato ou vai deixá-lo no cesto jogado perto do trem? – indagou apontando para o chão.
- Merda... aquele idiota prometeu que ia cuidar do Mr. Scarecrow e o abandonou aqui – Bellatrix bufou se abaixando para pegar a cesta.
- Não... deixa que eu faço isso – Severus a impediu, se mostrando solícito.
Antes de partirem, acenou novamente para a mãe, distinguindo que ela conversava com Cygnus e Druella, com um semblante muito sério. Havia algo de errado acontecendo e não teria como descobrir... mais um mistério que teria de ser deixado para depois. Pelo menos, não pensaria nesses supostos problemas imediatamente.
Em minutos, o trem partiu pelos trilhos, vagarosamente... já se encontrando um pouco distante da estação, Severus olhou pela janela refletindo que, logo, estaria no tão sonhado castelo da Escócia e mais um passo na sua vida seria dado. Pouco depois, Evan, os encontrou na cabine e entrou para se sentar junto aos dois. Estava os procurando para conversar e se divertirem durante a longa viagem que fariam e se sentia aliviado de localizá-los.
O tempo passou... os três conversavam animadamente sobre as expectativas da chegada em Hogwarts e o desejo profundo de ingressarem na casa de Salazar Slytherin. Embora a de Rowena Ravenclaw não significasse qualquer ato vergonhoso, aos seus planos futuros, já se consideravam serpentes.
Seria difícil suportar a ideia de que não pertenceriam ao ninho... quando foram criados, praticamente, dentro dele. Além de que, jamais se sentiriam acolhidos ou à vontade em outras casas. Nunca assimilariam o sentido verdadeiro e puro do lema que os guiava. Eram um grupo, uma equipe, irmãos por uma questão de honra e objetivos... juntos tinham a força necessária para ambicionar e atingir os ideais mais almejados.
De qualquer forma, o importante para eles, era não decepcionarem as suas famílias com a terrível notícia de que haviam sido selecionados para a casa de Godric Gryffindor ou a de Helha Hufflepuff. Seria jogar a memória dos Prince, dos Black e dos Rosier na lama e nada se compararia à tamanha desgraça.
Próximos da estação de Hogsmeade, os alunos começaram a se levantar para que pusessem as vestes escolares e passaram a se preparar para o desembarque. Uma confusão de vozes se formava pelos vagões e, alguns, já transitavam novamente para as suas cabines de origem. Enquanto isso, reclamando de fome, Bellatrix xingava Evan e Severus, que reclamavam de fome e riam do tropeço de alguém.
- Vocês poderiam, pelo menos, fingir que são civilizados – argumentou batendo com um livro em ambos.
- Olha quem fala... – Evan retorquiu levando um novo tapa.
- Deixem de ser idiotas e pare de me bater... ou eu jogo essa bola de pelos na cara do primeiro que passar por aqui – Severus ameaçou, fazendo com que Bellatrix arrancasse Mr. Scarecrow dos seus braços.
- Eu mato você se o meu gato aparecer com um arranhão, idiota – advertiu apontando a varinha para o queixo do menino.
- Tente, cabelo de espantalho! – respondeu se afastando.
Parando, vagarosamente, o trem chegou à estação. Os alunos desciam apressados com os seus animais de estimação. Praticamente esbarrando uns nos outros, seguiam para os seus respectivos destinos sem prestar atenção aos demais.
Os mais velhos, se encaminhavam com passos firmes às carruagens, conduzidos e conversando com os monitores das casas. Já a postos os aguardando, os testrálios, comiam calmamente algumas ervas encontradas... tudo parecia tranquilo e se desenrolar como se ignorasse os acontecimentos que já se iniciavam. Ao passo que, os primeiro anistas eram recepcionados por Amadeus Ogg, o Guardião das Chaves e Terrenos de Hogwarts. Ele fazia questão de, junto ao seu auxiliar Rubeus Hagrid, receber aquelas crianças antes de sua aposentadoria. Logo, o Guarda-Caças, desempenharia essa tarefa...
Colocando os pequenos nos barcos, com cuidado e ordenadamente, as guiaram pelo passeio noturno até a fortificação que protegia a escola. Era uma visão noturna muito bonita... com luz e sombras projetadas na água, a breve excursão foi mansa e fantástica.
Severus olhava para tudo aquilo impressionado. Mesmo que soubesse como seria, estava maravilhado com tanta beleza, considerando que aquele espetáculo durava muito menos do que gostaria. Queria ficar muito mais tempo ali, apenas olhando a luminosidade que se assemelhava com um imenso farol. Deslizando pelo lago, apenas encarava o penhasco cada vez maior e imponente... o caminho que o conduzia para a sua segunda casa.
- Abaixem as cabeças! – gritou Hagrid nas proximidades de uma cortina de hera que ocultava uma passagem.
Era um túnel escuro, certamente, estavam em um cais subterrâneo, localizado debaixo da escola.
Subindo e pisando em pedras e seixos, Evan estendeu a mão para auxiliar Bellatrix na saída do barco. Severus, enquanto isso, conversava com um menino com o qual haviam compartilhado à viagem... sabia quem se tratava e, mesmo assim, não viu motivos para ser desagradável. No fundo, sempre soube que Remus John Lupin era uma boa pessoa.
Ultrapassando a passagem aberta na rocha, ficavam próximos às lanternas de Hagrid e Ogg para não se perderem, até chegaram em um gramado fofo e úmido à sombra de Hogwarts. Já estavam perto, tanto que bastou apenas três batidas na porta para que ela se abrisse de imediato.
- Alunos do primeiro ano, professora McGonagall – Ogg os anunciou.
- Obrigada. Eu cuido deles daqui em diante – disse a mulher com uma postura altiva e um olhar rigoroso.
Dando passagem para que entrassem, os conduziu até uma sala vazia ao lado do saguão. Fazendo um gesto para que se agrupassem e parassem de olhar para os archotes nas paredes, parecia ignorar as centenas de vozes que vinham de uma imensa porta à sua direita, os encarando com seriedade.
- Sejam bem-vindos a Hogwarts. O banquete de abertura do ano letivo será daqui a pouco e aviso a todos que, antes de se sentarem às mesas, todos passarão pelo processo de Seleção das Casas. Como muitos sabem, essa cerimônia é um rito de passagem importante. A sua casa será uma espécie de família dentro da escola. Vocês assistirão as aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormirão no dormitório da casa a qual foram escolhidos e, principalmente, passarão o tempo livre dentro do salão comunal – explicou minuciosamente.
- As quatro casas se chamam Gryffindor, Hufflepuff, Ravenclaw e Slytherin. Cada um tem a sua história honrosa e cada uma abrigou bruxos e bruxas extraordinários. Orgulhem a essas pessoas, pois, enquanto estiverem em Hogwarts os seus acertos renderão pontos para a sua casa. Já os erros, que cometerem, a farão perder. No fim do ano, a casa com maior número de pontos receberá a Taça das Casas. Isso, caso ainda não tenham percebido, é uma grande honraria. Espero que cada um de vocês seja motivo de dignidade e honradez para a cara à qual vier a pertencer – McGonagall enfatizou olhando para os rostos de cada um.
- A Cerimônia de Seleção se realizará dentro de alguns minutos na presença de toda a escola. Sugiro que se arrumem o melhor que puderem enquanto esperam... aguardem em silêncio – afirmou dando às costas.
Alguns minutos se passaram, assim como um grupo de fantasmas que cruzaram as paredes conversando... alguns parando para dialogar com os novos alunos e explicar a que casas haviam pertencido quando ainda eram crianças. Até o assunto ser dado como finalizado com a chegada da professora, que ordenava que que formassem uma fila.
- Vamos andando agora. A Cerimônia de Seleção já vai começar... me sigam! – falou energicamente.
Caminhando entre o corredor formado entre as mesas, sequer reparavam nos demais estudantes que já se encontravam sentados. Apenas olhavam encantados para o teto de velas flutuantes, que vagavam por sobre as mesas... aquele espaço todo iluminado pelas pequenas chamas e estrelas brilhando, projetavam o céu noturno. Era deslumbrante.
Parado em meio aos demais, Severus observava atentamente a seleção dos demais novos alunos e a felicidade de cada um ao ser escolhido para uma das quatro casas. Representando os quatro elementos da natureza, elas significavam muito mais do que aparentavam ou que McGonagall havia lhes explicado.
Slytherin refletia a água. Seus membros se caracterizavam pela ambição, orgulho, inteligência, astúcia e determinação. Gryffindor expressava o fogo. Com a lealdade, liderança, coragem e bravura, seus integrantes eram considerados como os mais corajosos. Ravenclaw era o ar. Valorizando a sabedoria, a sagacidade, o intelecto e a criatividade, seus componentes eram vistos como possuidores de espíritos livres, sempre em busca de conhecimento. Enquanto, Hufflepuff era a terra. Simbolizava o trabalho árduo, o jogo limpo, a dedicação e a paciência, demonstrando a bondade daqueles que mantinham os corações puros.
Claudius Avery foi selecionado para Slytherin, como era esperado. Os Black, Bellatrix e Sirius, se dividiram entre Slytherin e Gryffindor, respectivamente, causando comentários entre os alunos e horror entre os familiares. Sirius, de herdeiro perfeito de Orion, em poucos segundo havia se transformado na pior aberração entre todas as gerações dA Mui Antiga e Nobre Casa dos Black... o que fez Severus dar um meio sorriso debochado.
Ainda atento ao que sucedia, viu Lily Evans, Remus Lupin, Peter Pettigrew e James Potter sendo encaminhados, igualmente, para Gyffindor. Andrius Mulciber e Evan Rosier, Slytherin... o que não gerava qualquer surpresa. De qualquer modo, os que lhe interessavam, direta ou indiretamente, se dividiam entre as duas casas inevitavelmente.
Ao ser chamado, Severus se encaminhou lentamente, como se as suas pernas tivessem sido transformadas em duas barras de chumbo... sem se dar por vencido pela ansiedade, manteve o semblante tranquilo. Não permitiria que notassem o seu nervosismo momentâneo. Muito menos, que rissem das suas dúvidas ao chegar perto do banquinho de quatro pernas.
Se sentando, com a percepção aguçada pelos olhares dos demais e os fantasmas que brilhavam como prata envolta na névoa da manhã, começava a ficar convicto e orgulhoso do que aconteceria... até a sua concentração ser imediatamente interrompida. McGonagall colocara o Chapéu Seletor na sua cabeça e a voz do mesmo começava a ecoar na sua mente.
Pesquisando os recantos mais obscuros, parecia querer localizar um detalhe que definisse o destino daquele menino. Nada seria capaz de passar pela sua minuciosa análise...
- Hmmm... interessante... muito interessante. Sua alma e seu intelecto estão repletos de conhecimentos preciosos. É surpreendente... Não se preocupe, menino teimoso e inquieto, não posso revelar nada do que eu vejo aos outros. A escolha é sua quanto ao que irá fazer e qual o destino a seguir. Reflita! – cada palavra reverberava na sua cabeça, trovejando na sua corrente sanguínea.
De olhos fechados, estava convencido de que estava prestes a se converter em um Hatstall, pela demora em ter uma resposta sobre para onde iria. Será que Snape se orgulharia se o visse naquela situação? Mesmo que considerasse óbvio que o seu caminho era entre as serpentes, Severus começou a se perturbar... nada poderia dar errado.
- Ora, não seja ansioso... estou averiguando em que lugar os seus verdadeiros amigos estarão para lhe acolher nos momentos em que mais precisar – pausou alguns segundos.
- Vejo que é extremamente inteligente, ardiloso, sagaz, astuto e muito ambicioso... Gênio assustadoramente complicado o seu... não tente se fechar, nem se esconder. Seu outro lado, eu já vi. Tem um coração inocente. Possui bondade, embora não queira admitir... é corajoso, bravo, forte, decente e tem uma ideia de amor muito antiquada para alguém de sua idade – prosseguiu como se tivesse todo o tempo do mundo e Severus fosse a sua inesgotável fonte de estudos.
- Há muitos séculos não encontro alguém assim... um menino que queira tanto ser o cavaleiro que salvará a linda donzela indefesa. Você já sabe quem ela é... deve ser difícil amar alguém que só vive em seus sonhos e você se agarra com todas as suas forças à esperança de que a encontrará um dia. Também deve ser complicado renegar um sentimento sólido que evoluiu, e continua crescendo, pouco a pouco... ela já se faz tão presente nos seus pensamentos. Você é tão complexo e complicado de compreender! – afirmou ainda o pesquisando.
- O amor e o ódio andam de mãos dadas na sua alma... como posso decidir? Você seria um gênio famoso na Ravenclaw, por que não mudar o seu caminho a partir de agora? Quem sabe saindo das sombras o seu verdadeiro poder será desvendado? – perguntou.
- Não! Eu não quero... por favor, não faça isso comigo – respondeu em um sussurro decidido.
- Farei o que tanto deseja... – o Chapéu Seletor fez uma nova pausa antes do anúncio para os olhares ansiosos.
- Slytherin – anunciou em voz alta.
Após 10 minutos de conjecturações e suspense, deixando todos aflitos, a mesa das serpentes vibrava e os seus membros aplaudiam. A inclusão de mais um integrante os deixava orgulhosos e vaidosos... ainda mais, quando esse se tratava de um recordista em empatar o Chapéu. No entanto, nada se comparava a felicidade das irmãs Black e Evan, que comemoravam efusivamente. Com sorrisos abertos e olhares confiantes, agora tinham a certeza de que não se separariam. Não teriam que ficar longe do amigo.
Naquele instante, alheio ao seu entorno, Severus apertava a mão de Malfoy. Com um olhar decidido e arrogante, deixava claro que nunca o temeria. Mesmo que fosse o monitor da casa... o enxergava apenas como um porco enfeitado. Ao mesmo tempo, já cogitava que a possibilidade de permitir que os outros o chamassem pelo nome fosse abandonada. O brasão da Slytherin faria com que Severus ficasse somente àqueles tidos como amigos mais íntimos. Snape agora começaria a lidar com os demais.
