Capítulo XXV

Na Mansão Parkinson, Pansy acordou cedo. Na verdade, ela pouco havia dormido naquela noite devido a ansiedade e a agitação por ter recobrado suas memórias. Ela tivera tempo para pensar em tudo o que acontecera em sua vida até agora.

Recordou sua infância, sua família, seus amigos. Chorou longas horas pensando sobre o destino de seus pais, mortos por comensais da morte. Sentiu-se sozinha e perdida, mas o filho que ela carregava no ventre a fez recordar que ainda tinha um motivo para viver.

Depois, ela se deteve nas lembranças do tempo vivido em Hogwarts.

Por um lado, havia o amor por Draco, algo que ela sentira desde a infância. Eles haviam crescido juntos, estudado juntos e compartilhado muitas coisas um com o outro. Ela o amara tanto, que nunca pensou ser possível amar outra pessoa depois dele. Eles tinham um compromisso, um amor verdadeiro. Eles iam se casar e formar uma família. Eles teriam tudo e seriam felizes. Mas não foi assim. E agora, ela ainda o amava, mas com um amor carinhoso, pelas recordações, um amor fraterno, sem fogo, sem paixão. Seus sentimentos por ele haviam mudado por causa de Harry Potter.

Assim tinha sido com seus amigos. A amizade com Blaise e Daphne datava da escola. Andavam sempre em um quarteto. Blaise e Daphne, como um casal, e Draco e Pansy, como outro par. Embora eles tivessem outros amigos, era sempre comum que estivessem juntos os quatro. Eles fizeram muitas coisas juntos, viveram muitas coisas juntos, eram amigos de verdade. Pansy nunca suspeitou, naquela época, que Blaise tinha sentimentos assim por ela. Ela nunca suspeitou, também, que Daphne soubesse disso e aceitasse mesmo assim.

Olhando para trás agora, ela se perguntava se tudo o que viveram fora real, se a amizade entre ela e Daphne era realmente verdadeira, assim como era com Emília. Questionou, também, se algo poderia ter sido diferente, se ela poderia ter feito algo para que o presente fosse de outra forma, para que seus pais estivessem aqui com ela.

Ela sabia o que Blaise tinha feito, o que Daphne tinha ajudado ele a fazer. Ela era grata por ele ter salvado sua vida, tê-la protegido, mas não conseguia ser grata por ele tê-la afastado de todos, de Draco, do mundo.

Era curioso o rumo que tudo tinha tomado. A troca de lugar com Daphne, a coincidência de ela ir dançar logo na festa de Harry Potter. Só podia ser uma trama do destino! Harry Potter, que era como um inimigo para ela. Ela jamais imaginou que um dia pudesse ter sentimentos românticos por ele, e mais ainda, ter dormido com ele e estar esperando um filho do garoto de ouro.

Analisando seus sentimentos em relação a ele, ela percebia que nunca teve um motivo para desprezá-lo, para odiá-lo, para não gostar dele. Simplesmente Draco o odiava e ela também o fazia por tabela. Assim como atormentar, não apenas o garoto de ouro, mas seus amigos.

Agora, no entanto, ela amava Harry, ela sabia disso. Ela o amava e queria estar com ele, mas tinha medo de isso nunca acontecer. Blaise podia prendê-la com ele para sempre, ou ela podia voltar para o mundo e Harry não a querer. Ela não conseguia deixar de pensar em como ele estaria agora, se ele já havia casado com Ginny, se iria querer fazer parte da vida de seu filho, se os desprezaria.

Para sua surpresa, havia um bilhete ao seu lado na cama. Um pedido para que ela descesse para o café da manhã com Blaise e Daphne. Pansy ficou surpresa, ela realmente não esperava algo assim. Talvez fosse um pedido de desculpas.

Enquanto se vestia após o banho, Pansy novamente pensou em Harry, em como ele a receberia quando ela voltasse, o que ele faria em relação a ela e o bebê. Ela não queria que ele soubesse do bebê, que era o pai, porque ele a afastava. Ela sofria com isso, mas entendia que ele tinha uma noiva, que ele ia se casar, e que ela era a intrusa naquele relacionamento. Mas ela o amava, e isso doía.

Tão cansada como ela estava, ela não queria descer para tomar café. Não queria encará-lo e ter que socializar ainda. Ela queria era sair correndo dali, queria ir embora o quanto antes. Ela sabia que teria que enfrentar Blaise, e faria isso se fosse necessário. Ela precisava garantir que seu bebê viesse ao mundo de forma segura, em um hospital, com assistência e cuidado.

Pansy vestiu um vestido bege e longo, marcando a barriga avantajada. Fora a melhor roupa que achara disponível em seu guarda-roupas. Ela suspeitava que havia alguma magia nisso porque um vestido tamanho 38 jamais ia caber nela grávida como agora. Ela prendeu os cabelos em um coque alto e saiu, dando uma última olhada ao seu antigo quarto.

Pansy caminhou um pouco apreensiva e ansiosa pelos corredores do que fora sua casa um dia, as lembranças agora inundando sua mente, fortes e constantes. Talvez essas semanas que passara ali com Blaise e Daphne tivessem sido melhores se ela não tivesse ficado trancada no quarto, isolada. Não que ela sentisse falta da mansão. Eram muitas recordações agora que ela sabia do destino de seus pais, mas ela vivera a vida ali, tinha lembranças, fora seu lar um dia.

Pansy suspirou tentando evitar as lágrimas que teimavam em se formar em seus olhos. Quando chegou à sala de jantar ela encontrou Daphne e Blaise sentados, aguardando por ela. Ela esperava que eles não notassem suas emoções. Eles se levantaram quando a viram.

— Pansy! — Daphne caminhou até ela, abraçando-a em seguida. — Por favor, me perdoe! Perdoe-me por tudo! Nunca quis magoá-la. Você é uma irmã e eu a amo. — Daphne tinha lágrimas nos olhos. — Foi a única forma de salvar você. Que bom que você está de volta!

— Tudo bem Daphne, eu entendo. — Pansy entendia, mas não podia deixar de se sentir magoada com a amiga. Ela poderia tê-la ajudado a escapar, mas amava Blaise demais e jamais iria contra ele. Ela podia entender isso.

— Por que não sentamos e tomamos o café-da-manhã? Mandei preparar tudo o que você gosta Pans. — Blaise tentou tornar o clima mais ameno.

— Não precisava. Mas obrigada!

O café foi constrangedor e silencioso, com alguns poucos comentários sobre o tempo, a comida e as notícias do Profeta Diário. Pansy só queria sair dali o mais rápido possível. Ela havia perdoado a ambos os amigos, mas ainda era difícil estar tão próxima. E com sair dali não era apenas deixar o mesmo cômodo que eles, era deixar a mesma residência que eles.

— Tenho algo para você — Blaise disse a ela após o café, entregando uma pequena caixa de madeira em suas mãos.

Pansy abriu a caixa e encontrou sua varinha. Ela sorriu feliz. Poderia voltar a fazer magia, poderia ser uma bruxa novamente.

— Obrigada! — Ela agradeceu com sinceridade — Mas Blas, Daph — Ela usou os apelidos pelo qual costumava tratá-los. — Embora eu agradeça por terem salvado a minha vida, eu preciso ir embora.

— Pans... — Blaise quis interromper.

— Não, não diga nada! Como eu disse, agradeço por ter salvado a minha vida, por ter me mantido segura, mas não posso continuar aqui. Eu tenho uma vida agora, terei um filho, preciso ir para o mundo real.

— Pensa que o Potter te quer? — Blaise demonstrava mágoa na voz.

— Não me importo com o que ele quer — Ela mentiu — Eu só sei o que eu quero. Eu quero voltar para o mundo mágico, quero resgatar meus bens, a fortuna da família Parkinson, e quero criar esse bebê com todo o amor que uma mãe pode dar. É isso o que eu quero.

Blaise e Daphne a olharam com surpresa e admiração.

— Você fala de uma maneira tão apaixonada Pans!

— Acredito que eu cresci com tudo isso, que amadureci, que estou sozinha e preciso lutar para reconstruir minha vida.

— Você não está sozinha. — Blaise garantiu.

— Eu sei, vocês são meus amigos, mas eu quero uma vida diferente da que posso ter se continuar com vocês. Esse não é mais o meu lugar.

— Você não pode ter certeza disso — Daphne argumentou. — Você não pode nos deixar Pans — Daphne estava ansiosa, olhando sempre para Blaise.

— É o que eu quero e o que eu vou buscar. Você vai ficar bem, você e Blaise irão.

O silencio reinou por alguns instantes, todos se encarando. Daphne estava visivelmente nervosa e agitada. Blaise parecia reflexivo. Pansy se sentia cansada.

— Mesmo que eu quisesse deixar você ir, eu não poderia me arriscar. O Ministério todo já está atrás de mim, de nós.

— Eu posso garantir que ninguém virá atrás de vocês.

— E como faria isso? Potter vai fazê-la falar.

— Eu vou dar um jeito.

— Não Pans, não podemos confiar nisso.

— Deixe-a Daphne. Pansy parece estar decidida.

— Eu estou, e você não pode me manter aqui. Sabe disso Blas, sabe que vou encontrar um meio de escapar.

Pansy e Blaise se encararam por alguns minutos, numa batalha silenciosa.

— Não quero que você me odeie. Se é o que quer, será assim. Você vai embora, e Daphne e eu encontraremos nosso caminho.

Daphne o encarou com sincera surpresa. Ela não acreditava no que ouvia. Assim como Pansy, que pensava que era alguma pegadinha, que Blaise estava tentando enganá-la, ganhar tempo para fazer algo que a impedisse de voltar ao mundo mágico.

— Você está falando sério? — Daphne questionou.

— Sim. Preciso fazer uns arranjos antes disso. Sairei. Devo estar de volta amanhã.

Blaise saiu da sala, deixando as duas mulheres pensativas para trás.

Pansy voltou para seu quarto, ansiosa com a possibilidade de logo rever Harry. Ela caminhou agitada pelo quarto, torcendo as mãos, pensando em como se preparar para seu retorno. Pensando nisso, ela decidiu que não levaria nada do que tinha na mansão, apesar de serem suas coisas. Talvez quando tudo lhe fosse devolvido, ela voltasse e decidisse o que fazer. Mas agora ela só queria ir embora, com a roupa do corpo. Esperava que Potter tivesse mantido suas coisas com ele, apesar de que talvez precisasse de roupas maiores agora.