Depois do impacto do deus com o fim do abismo veio uma dor colossal por uma fração de segundos, como se tudo em seu corpo estivesse falhando, ossos quebrados, órgãos perfurados, nada restou sem que estivesse errado. Loki poderia ter sobrevivido a queda, seu corpo era muito mais resistente do que o da maioria das espécies, mas aquele lugar foi feito para matar. As estalagmites de material desconhecido, afiadas como suas melhores armas, o receberam em um abraço mortal quando caiu sobre elas.

O príncipe não teve tempo para lamentar sua escolha, para tentar reverter seus atos ou para simplesmente ativar o restante de sua armadura e se salvar como consequência. Seu crânio foi perfurado com tamanha precisão e rapidez que a vida o deixou em meros segundos e sua alma condenada foi desferida diretamente para dentro da joia que exigia o seu sacrifício.

Uma luz clareou e distorceu repentinamente sua visão no que pareceram ser horas mais tarde. Ele precisou piscar seus olhos inúmeras vezes até que as coisas ao seu redor voltassem a fazer sentido e quando finalmente conseguiu focar outra vez viu que se encontrava em um lugar muito diferente do que suas últimas memorias indicavam que deveria estar.

O nascer do sol afastava a escuridão da eterna planície e dava ao espectador uma vista maravilhosa de se contemplar, mas para o príncipe o que mais lhe deixou surpreendido foi constatar que todo o seu corpo de alguma forma continuava vivo e funcionante. Loki percebeu que nunca havia se sentido tão bem em toda a sua vida, não havia raiva em seu coração, não havia ódio, inveja, culpa, tristeza ou dor, apenas uma inexplicável e constante sensação de felicidade. Ele ainda não compreendia perfeitamente onde estava, mas sua alma gritava para si que ele havia nascido para estar ali.

- É uma boa sensação, não é? – Uma voz risonha, suave e feminina soou tão perto dele que, por não ter notado a aproximação de seu portador, em qualquer outro momento teria o assustado demasiadamente, isso se ainda fosse capaz de sentir medo.

Olhando para seu lado esquerdo o deus percebeu a presença de uma mulher alaranjada. A mais bela criatura que já pode conhecer, e por mais que a presença dela devesse o assombrar profundamente pela quantidade de poder que conseguia sentir vindo de sua pessoa, ele não sentiu absolutamente nada de ruim. Houve um momento de divagação que fez com que ele a achasse estranhamente parecida com sua noiva terráquea.

- Só sinto coisas boas, é algo agradável. – Admitiu, confiando nela sem nem pensar.

- Você se lembra do porquê de estar aqui? – Ela soou melodiosa e os ouvidos do príncipe associaram a voz dela como uma música vinda diretamente do paraíso.

- Porque sacrifiquei o que mais amo para conseguir a pedra da alma. – Não ouve hesitação ou qualquer resquício de arrependimento em sua resposta.

- Exato. – A mulher se aproximou lentamente, com um sorriso tranquilo no rosto. – Muitos já fizeram o mesmo antes, tirando suas próprias vidas para tentarem conquistar o meu poder, no entanto, quando chegam aqui, perdem toda e qualquer vontade de saírem. – Loki os entendia perfeitamente, ele já não sentia qualquer necessidade de voltar a sua vida normal. – No entanto não posso te aceitar aqui, sua alma me é mais valiosa lá fora do que presa aqui dentro.

- Eu não entendo...- Suas feições eram completamente sinceras, estava tão confuso quando uma criança que fora rejeitada sem ter feito nada de errado, porém não conseguia sentir tristeza ao pensar em voltar para o que quer que seja a coisa sem importância que estava fazendo antes de chegar neste lugar.

- Eu faria qualquer coisa para possuir uma alma poderosa como a sua. – De fato havia uma cobiça mascarada com inocência em seus olhos, quase como se ela estivesse o encarando com fome. – Mas preciso de você, portanto deixarei que seja o meu portador e que me use para seus objetivos. – Ela pegou sua mão e depositou uma pequena joia reluzente. – Até algum dia, deus da trapaça.

Tudo ao seu redor começou a ruir e a desaparecer, no entanto a figura feminina continuou parada onde estava, imponente e magnifica, apenas esperando que ele partisse de volta para o seu lugar de origem e fizesse a escolha certa quando o momento crítico chegasse. Loki repentinamente conseguiu associar a imagem da mulher com a de alguém cujo sua noiva demonstrava conhecer, embora nunca tenha falado bem dela quando estava em sã consciência.

- Você é Utrimque... – Estar na presença da personificação da própria joia da alma começou a deixa-lo em alerta. – Costumava cantar para a monstrinha quando ela era criança e não conseguia dormir...

Ela demonstrou surpresa, provavelmente a coisa mais próxima de um sentimento legitimo e humano que expressou desde o momento em que apareceu diante do deus, sorriu com relativa vergonha e acenou em concordância.

- Sua noiva é mais uma de nós do que aquela que nos deu origem, ela merece uma mão amiga as vezes. – Suas palavras soaram quase como se ela não atribuísse nenhuma real importância para a humana na qual se referia, mas Loki sabia que, vindo de uma joia do infinito, jamais existiria uma boa ação sem segundas intenções, caso ela não se importasse.

A escuridão o envolveu definitivamente, mas logo depois o deus se sentiu acordando outra vez como se viesse direto de um pesadelo horrendo. Seus pulmões receberam ar com muito mais força do que se era recomendado e protestaram por isso. Ele se alto impulsionou para frente sentindo como se em si fosse depositado uma carga emocional terrível, todos os sentimentos ruins voltaram de uma vez só e com mais intensidade.

Foi preciso um momento de alto reconhecimento até que conseguisse acalmar seus nervos, se lembrar de onde estava, de quem era e do porquê de estar com uma sensação tão terrível em seu peito, mas ao mesmo tempo ter uma queimação maravilhosamente boa em sua mão direita. As lembranças não demoraram muito para retornaram e sua letargia desaparecer complemente, bastou que olhasse para a dita mão para que a realidade o acertasse com o golpe poderoso e ele soubesse exatamente o que deveria fazer em seguida.

Com os dedos desprotegidos e sem medo de se machucar Loki segurou a joia laranja com admiração e a adicionou a manopla que a esperava. Depois disto, uma onda de energia saiu de seu próprio corpo sem o devido controle, como se fosse um aviso de misericórdia para todas as coisas vivas que mandava cada um que conseguisse senti-lo se esconder, pois agora toda as decisões sobre a vida e a morte estavam na mão de alguém novamente. Um sorriso quase doentio tomou seus lábios, de fato a situação em que se encontrava o agradava muito.

Quando morreu seu corpo havia caído sobre letais estruturas pontiagudas, mas depois de ressurgir o deus se encontrou sobre uma macia, rosada e confortável areia que contornava um lago de águas cristalinas belíssimo, capaz de refletir os cristais em seu interior e causar um efeito que deixaria qualquer um admirado. Era o tesouro escondido no final do abismo para quem ousasse se aventurar e sobreviesse, porém o príncipe não estava minimamente interessado nele e não perdeu seu tempo o olhando por mais do que alguns segundos. A tecnologia em suas veias deu formação a uma segunda manopla e a botas devidamente projetadas para que voar deixasse de ser uma arte difícil de se realizar. Com apenas um pensamento o chão deixou seus pés e a posição de equilíbrio que não demorou a dominar o manteve no ar sem problemas.

Não demorou a encontrar a saída que o levaria a luz natural outra vez e, de lá, era apenas mais um passo até encontrar Strange. Ele esperava profundamente que o mago ainda estivesse vivo apenas para poder ver sua expressão depois que ele constatasse que sua estratégia louca havia funcionado. Claro, se ele estiver morto o deus o trará de volta imediatamente, embora tenha que admitir que será um tanto incomodo precisar lidar com o Adam de posse das joias que estavam com Stephen.

A paisagem natural por toda a extensão do território, desde a floresta até a planície, estava destruída, as almas gritavam alto, demonstrando seu medo, dor e desespero por terem sua única fonte de conforto arrancada de forma tão abrupta. Os animais que ali moravam não estavam mais entre os vivos. No centro de tudo, estava Warlock prepotente segurando o mestre das artes místicas pelos cabelos com uma mão enquanto permanecia com a outra sobre seu coração, o mantendo ajoelhado a sua frente como se tentasse arrancar alguma coisa dele que havia o dominado. Os olhos de Stephen estavam revirados, sua boca estava anormalmente aberta e sua pele havia chegado a um tom muito mais pálido do que se pode considerar saudável, ele não parecia conseguir respirar, algo estava saindo por sua traqueia.

Uma urgência que não era característica do príncipe o atingiu e ele completou a formação de sua armadura para chegar ao homem perfeito o mais rápido possível, o que quer que o outro estava fazendo com certeza exige demasiada concentração e por isso ele só foi capaz de notar sua aproximação quando já era tarde demais. Adam não arriscou parar o procedimento mesmo sabendo o que a mão com a manopla sobre o seu ombro significava. Ele olhou para Loki como se sentisse pena dele e continuou a pronunciar palavras apresadas e sem sentido na persistente tentativa de expulsar o que acreditava estar no mago. Felizmente, não houve tempo para que ele conseguisse o que queria. O corpo de Warlock se desfez em cinzas mais rápido do que ele poderia prever e suas últimas palavras desapareceram com ele, sem que o efeito desejado pudesse se concluir.

O corpo de Strange caiu para trás, derrotado, ferido e inconsciente, mas a preocupação que também não lhe era característica não diminuiu. O deus pegou para si as joias que estavam com o outro completando sua coleção sem que sofresse danos com isso devido a relação ainda amigável que possuía com as ditas pedras e uma segunda onda de energia foi lançada para o universo. Em seguida calou a voz das almas as mandando para a pedra laranja, reverteu o tempo para levar o companheiro a um estado menos crítico e o amparou em seus braços usando a joia do espaço para manda-los de volta a um lugar mais seguro.

O príncipe não reconheceu o lugar em que apareceu em seguida, mas sua mente o acolheu imediatamente como um lar e ele não quis questionar essa sensação. Já não havia mais necessidade de sua armadura e, por tanto, ela se desfez, deixando para trás somente a manopla preenchida. Uma das mãos de Strange segurou sua roupa como se ele estivesse assustado e seus olhos se abriram lenta e fracamente.

- Ele sabia o que fazer... O ciclo não funcionou. - Sua voz saiu em um sussurro e seu cenho se franziu em alto julgamento, Loki se permitiu rir para aliviar o peso sobre a situação.

- "Obrigado por me salvar Loki, você é mesmo incrível e devo minha vida a sua magnifica atuação para pegar a joia que faltava." - Ele debochou, imitando a voz do outro. - Às vezes eu gostaria que você fosse mais agradecido.

- Você se jogou de um precipício, me deixou sozinho para enfrentar aquela coisa e ainda quer que eu te agradeça? - Uma sobrancelha se ergueu em descrença.

- Eu também quero que você me faça uma massagem e uma xícara de chá, mas não disse nada porque estava tentando ser legal.

- Vai se foder...

Por fim foi o próprio deus das travessuras quem invocou um chá quente para que pudessem ao menos tentar relaxar antes de partirem para o grande momento que estava por vir. Realidade, Tempo, Alma, Espaço, Poder e Mente, todas agora estavam reunidas aguardando ansiosamente para se unirem a sua sétima e enfrentarem a poderosa entidade que se opunha a eles.

(...)

As pessoas egocêntricas costumam ter o habito de se valorizarem demasiadamente, assim como por muitas vezes subestimam quem julgam mais fracos justamente por acreditarem excessivamente no próprio potencial e diminuírem os dos outros, por isso quando Carol começou a lutar contra a força esmagadora imposta sobre si, aquela no corpo de Lin Stark achou graça e se divertiu, quando ela conseguiu se firmar sobre os joelhos a outra tratou de sua ousadia como se fosse um desafio e se forçou a submete-la a algo muito mais difícil de se resistir, riu quando Danvers caiu novamente e se sentiu insultada quando ela continuou a tentar.

Ego não possuía a compressão de todos os sentimentos humanos, convivia com tais criaturas a muitos e muitos anos, mas nunca conseguiu entender aquilo que sempre mantinha alguns deles seguindo adiante, mesmo que se encontrassem em uma situação aparentemente impossível de se sair. Ela não conseguia entender como ou porque tais seres inferiores continuam a lutar e a persistir mesmo quando sabem que não são capazes de reverterem o grande jogo em que se encontram. No momento em que a Capitã conseguiu se colocar de pé e se manter desta forma, depois de várias quedas e tentativas fracassadas de se impor contra o inimigo, ficou nítido que não seria tão fácil assim submete-la a sua vontade, independente de quem fosse o desafiante.

O corpo da mais jovem se adiantou quando notou que a pressão que estava exercendo já deixava de fazer efeito, ela a rompeu de uma única vez e partiu para executar o ponto chave de tudo o que estava tentando fazer. Só o que precisava era conseguir realizar um único golpe que lhe arrancasse sangue e a vitória seria sua. Com calma e rapidez, ela foi contra Carol, apesar da raiva poder lhe ser mais vantajosa com relação ao aumento que causaria em sua força, ela não desejava nenhum tipo de descontrole agora. Entretanto, olhando-a como uma igual, Danvers não sentiu mais medo ou se abalou, pelo contrário, ela revidou de imediato com um disparo de energia e não deixou que a adversaria se aproximasse. Independe de quem aquela criatura é, ela passou tempo demais se mantendo como uma deusa a ser contemplada para ser capaz de supera-la com seus anos de treino em um combate corpo a corpo.

Cada fibra de seu corpo gritava para desistir e fugir enquanto havia tempo, mas a vingadora sabia que seus poderes e instintos não respondiam por si, ela conseguia ver detalhes que diferenciavam aquela pessoa da letal Stark e não temia os movimentos dela, conseguia lê-los, determinar o seu padrão e repeli-los. A Capitã já havia assistido a garota lutando, aquilo era uma verdadeira arte imprevisível e surpreendente, mas isto diante de si não dava ouvidos ao que quer que tornava a Garota de Ferro tão boa, era quase como se mesmo com sua força massiva algo a segurasse e a impedisse de ser grandiosa como acreditava ser.

Ego era mais poderosa, isso nunca deixou de ser uma certeza, mas ela não possuía a técnica e não tinha tempo de descobrir seus pontos fracos conforme o combate prosseguia, mesmo que fosse cada vez mais difícil repeli-la e que as aberturas que conseguia a seu favor não causassem nenhum dano maior ou minimamente útil, ela não se deixaria perder.

Uma rajada de luz pareceu ter resultado em algo promissor, mas esse pensamento durou apenas os segundos que foram necessários para reconhecer que a outra desviou e, não apenas isso, como também com seu pequeno desvio de atenção conseguiu chegar perto o bastante para acerta-la em cheio com a mão envolvida pela manopla formada de sua armadura. A inimiga também teria soltado uma forte carga de energia bem em seu crânio se não houvesse reagido rápido o suficiente para segura-la pelo pulso e direcionar seu ataque para outro lado que não lhe fosse prejudicial.

Com o punho fechado Carol desferiu um soco potente na barriga alheia e não parou para esperar que ela recuperasse o fôlego, logo em seguida com a mesma mão energizou-se e descarregou na adversaria com o mesmo disparo de luz que já havia causado a ruína de muitos daqueles que se voltaram contra si. O corpo de Lin Stark foi arremessado a metros dali, mas de alguma forma conseguiu encontrar algum equilíbrio e com o membro cujo mais dedos tinha em falta pode se fixar novamente sobre o solo e voltar a se erguer. A próxima investida da capitã foi recebida com uma lâmina quase lhe cortando e um sorriso desafiador, não se sabia dizer o motivo, mas parecia que Ego estava satisfeita com as proporções do combate e era como se tudo estivesse indo exatamente como desejava que acontecesse.

Por vários minutos elas continuaram a se enfrentar, energia contra energia, força contra força, poder contra poder e eventualmente começou a parecer que Danvers era quem estava ganhando, como se ela finalmente encurralasse a grandiosidade de uma deusa e a superasse, diminuindo-a até que ela se tornasse nada além de mais um inimigo qualquer diante de seu ataque, sem uma divindade que a tornasse especial ou qualquer outro atributo que a diferenciasse de seus adversários anteriores. Todos sempre acabavam caídos aos seus pés, destruídos ou derrotados. Mas a outra não parecia aceitar o resultado de sua luta de nenhuma maneira, ela reagiu uma última vez querendo acabar com o sorriso vitorioso no rosto da Capitã Marvel, mesmo que seu corpo humano não aguentasse seguir adiante, por mais que tivesse passado por toda a sua evolução. Em um movimento abrupto ela encontrou a sua oportunidade e não a deixou passar, investiu adiante e Carol reagiu por instinto.

Matar Lin Stark nunca foi a sua vontade (apesar de não saber até que ponto ela e Ego deixavam de ser a mesma pessoa), no entanto, a situação em que se encontrava remetia exatamente ao contrário, paralisada e com a mão atravessada no tórax da mais nova a vingadora, se viu como aquela que arrancou, literalmente, o coração de uma mulher forte que foi tomada por uma entidade louca sem que pudesse manter o controle sobre ela.

Sangue subiu a boca dela e seus olhos piscaram incontáveis vezes como se não conseguissem enxergar o que se passava. Linna parecia emitir um grito mudo diante da dor incontrolável e os olhos dourados retornaram a cor castanha, perdendo a sua vida. Aquele foi o momento do dia em que Danvers mais sentiu medo, ela conseguia ver Tony Stark morrendo em suas mãos, ela conseguia ver uma inocente perdendo toda a vida que poderia ter tido e o pior, não havia nada que pudesse fazer para reverter aquilo.

Em um ato de desespero Carol tentou trazer o coração da mulher de volta para dentro, mas percebeu que a regeneração dela na tentativa desesperada de salva-la se adiantou e acabou prendendo o braço da vingadora dentro dela, para traze-lo de volta ela precisou forçar-se para fora, destruindo os tecidos recém regenerados e o deixando no lugar em que havia tirado. Porém todos estes últimos movimentos nem ao menos causaram alguma reação por parte da mulher, ela já estava morta e a Capitã não conseguia acreditar no que havia feito. Ou pelo menos não até sentir a lâmina perfurando-a por trás e ver a imagem da mais nova a sua frente desaparecer.

- Nós estávamos discutindo sobre como eu sou mentirosa e manipuladora a menos de uma hora, você deveria ter esperado por algo assim.

O corpo de Linna voltou a aparecer atrás de si, as coisas realmente faziam mais sentido agora, ela não costumava se abalar fortemente pela morte de seus adversários. Porém não lhe parecia plausível perder o seu elemento surpresa apenas para gasta-lo em um golpe tão simples e fácil de se recuperar, principalmente para alguém com um fator cura tão elevado quando o dela.

- E mesmo assim você não conseguiu fazer nada de surpreendente. - A imagem imbatível da capitã se virou para ela pronta para continuar de onde haviam parado, mas suas pernas falharam e ela caiu de joelhos.

- Você achou que eu viria te enfrentar sem alguns truques como garantia? - Ego continha uma gargalhada. - Toda aquela história sobre curar o câncer trazendo as células de volta ao seu estado de origem era realmente comovente, entretanto não posso dizer que me envolvi nela com as melhores intenções.

- O que você...?

- O que foi dado pode ser tirado. Não foram os Krees que fizeram você ser quem é, fui eu, portanto acredito que essa sentença tenha mais efeito vindo de mim.

Uma movimentação estranha surgiu no ar próximo a elas, lá um portal se abriu e dele saiu uma das últimas pessoas que esperava ver agora junto com o deus da trapaça. Loki e Stephen se aproximaram com elegância e triunfo junto de uma poderosa aeronave, eles não deram a Carol nada além de um olhar de reconhecimento e logo depois toda a atenção foi dirigida para a mulher vitoriosa cujo a expressão relaxou e mudou de tal forma que até parecia outra pessoa. Foi com certo horror que a Capitã notou a manopla do infinito completa nas mãos do jotun.

- Vocês demoraram! - Lin, com seu típico sotaque asgardiano, reclamou fingindo estar irritada, elevando as mãos a cintura e forçando uma carranca.

- Não vejo você tendo problemas sem a nossa presença. - O príncipe comentou saudoso, a envolvendo em seus braços mesmo com resmungos de protesto vindo dela, ato que por fim ela deixou de lado e o envolveu de volta, escondendo o próprio rosto em seu peito agora definitivamente satisfeita.

- Sem querer interromper o momento de reencontro, mas já interrompendo, eu devo lembra-los de que possuem um trabalho a fazer. - Strange, que parecia mal-humorado pelo que estava por vir, se aproximou na intenção de empurra-los logo para dentro da nave, querendo manda-los de volta para o espaço.

- Será que, se nós fugirmos para outra galáxia, alguém vai sentir nossa falta antes de Eternidade destruir este planeta? - Loki sussurrou próximo ao ouvido da Stark como quem não quer nada.

- Eu duvido muito. - Ela respondeu bem-humorada diante da careta do mago que havia ouvido. - Não nos deixariam em paz se fugíssemos. - Lin se virou para o outro humano e convocou um artefato místico. - Tome, este é o último que resta, você sabe o que fazer.

Diante da afirmação e da entrega eles de fato entraram no veículo que os levaria direto para a batalha que os aguardava, se despediram com expressões de deboche e partiram para o confronto que provavelmente realmente custaria suas vidas. Sete joias foram reunidas, centenas de artefatos místicos foram espalhados pela Terra para que o Doutor Estranho tivesse seu alcance ampliado para proteger todo o planeta em solo durante o confronto, Carol esgotou seus poderes para não interferir e, assim, permanecer viva para qualquer evento que dependesse exclusivamente dela no futuro. Tudo corria exatamente como o planejado.

Stephen observou a nave decolando e se afastando cada vez mais até o momento em que se tornou um simples ponto no céu invisível para olhos humanos, obviamente existia a opção de utilizarem do poder das joias e partirem diretamente para onde a entidade estava, mas aqueles minutos que passariam as sós possuíam a possibilidade de serem os últimos que teriam juntos e isto era algo que não estavam dispostos a perder. Além do fato de que uma estrutura que os obedecesse poderia ser muito útil caso acabassem vivos e à deriva no espaço.

Havia um trabalho por parte do mago deveras importante a ser feito, portanto ele não demorou a seguir em frente pronto para dar o próximo passo e teria ido diretamente para o topo do monte perto de onde estava caso a figura hibrida lutando para não se contorcer no chão não tivesse chamado a sua atenção. Capitã Marvel, a mulher que trouxe esperanças para milhares de povos e civilizações por todo o universo de que seria possível vencer nos tempos difíceis que enfrentaram no passado, a suposta mais forte vingadora viva e um dos símbolos que a humanidade guardava e respeitava com enorme devoção, eles haviam a destruído.

O corpo de Carol não reagiu nada bem a remoção de seus dons, ela estava sangrando pelo nariz e pelos olhos enquanto o encarava com ódio, espumava pela boca e lutava contra contrações involuntárias. Strange sabia que ela não morreria, confiava nas habilidades de Lin Stark e já havia checado o futuro que viria para ela em relação as escolhas que estavam fazendo, nenhuma das possibilidades indicava que a mulher faleceria agora, não havia motivo para se preocupar. Entretanto, não conseguiu deixar de ajuda-la, talvez seu lado humano falasse mais alto do que a razão nessas situações, por isso, no lugar de usar de sua magia para abrir um portal para o monte e concluir seu objetivo, ele caminhou até a hibrida e se abaixou para chegar na altura do rosto dela e desta forma conseguir ajudar.

Danvers não conseguia proferir palavras, mas sua expressão indicava o quão furiosa se encontra e como é intensa a dor que está sentindo. Stephen sabia que não podia fazer muita coisa por ela por enquanto, porém ele conhecia meios de diminuir a percepção sobre o sofrimento e não negaria isso a ela de forma alguma. Pela proximidade em que se encontrava, a mulher ficou ainda mais inquieta e raivosa, tentando ataca-lo mesmo que não conseguisse se mover, o acusando de traição e negando a ajuda que se recusava a acreditar que realmente viria. O mago estendeu a mão ignorando a movimentação estranha que a outra fazia e, com uma sequência de gestos decorados, convocou um feitiço do sono a qual acreditava ser capaz de aliviar a agonia em que ela se encontrava.

Aos poucos o corpo da Capitã foi relaxando, perdendo os sentidos e adormecendo. O mago decidiu que deixá-la ali abandonada e sozinha no meio do nada não era exatamente uma boa ideia, portanto abdicou um pouco mais de seu tempo corrido para leva-la diretamente até a casa da pilota que sabia ter sido uma grande amiga da vingadora no passado. Ele foi recebido pela visão de uma sala receptiva de aparência muito aconchegante quando atravessou com a mulher erguida pelo manto da levitação para o outro lado, mas não demorou mais do que o necessário observando o lugar onde estava e logo deixou o corpo desacordado sobre o sofá avermelhado, voltou para onde se encontrava anteriormente e redirecionou o portal para leva-lo diretamente para onde já deveria estar.

O frio do topo do Monte Apo não o incomodou, estava tão focado que não se deixaria distrair por coisas tão banais até o momento que começasse a congelar. Stephen enterrou o ultimo artefato na neve e depois de uma última respiração profunda se permitiu levitar sobre ele recitando o texto antigo de palavras cujo o significado para a maior parte do mundo já não se existia, suas mãos voltaram a se mexer quase que no automático e seus olhos se fecharam instantaneamente.

Todos os artefatos ao redor do mundo se ativaram simultaneamente e sob a atmosfera finas camadas de energia começaram a se formar, rápido e com proporções gigantescas isto foi se aumentando até que qualquer um no planeta seria capaz de ver, formando um escudo magico tão poderoso que nada nem ninguém sem controle do Espaço e do Tempo conseguiria ultrapassar. Strange terminou unindo o dedo indicador com o médio e se fixando nesta posição na qual permaneceria até o momento em que o conflito terminasse. Todos estavam protegidos agora, não havia como algum idiota se arriscar se envolvendo na batalha e nada que viesse de fora poderia entrar evitando desta forma danos graves a estrutura do planeta.

(...)

Viajar para o espaço sempre foi uma das coisas que Linna manteve o sonho de fazer caso a oportunidade surgisse, ela conhecia muitos lugares, já havia visto as mais belas e as mais estranhas paisagens, conhecia muitas histórias sobre esses planetas distantes, porém tudo o que pode admirar nunca foi de fato fruto de seus próprios olhos e sim de meras lembranças na consciência do deus, por isto desta vez era ainda mais especial, desta vez é real.

O piloto automático permitia que ela admirasse a beleza do que estava deslumbrando sem mais preocupações no momento, seus olhos quase brilhavam em alegria pelo que enfim podia contemplar e sua felicidade a fazia ignorar completamente a presença do ser de expressão zombeteira ao seu lado. Nada daquilo era novidade para Loki, mas não deixava de ser divertido para ele observar a reação de entusiasmo contido por parte da companheira. Seja por influência externa ou não, o jotun se sentiu muito mais atraído por ela do que lhe era costumeiro, o corpo dela parecia chamar pelo seu e sua mão implorava para poder enfim toca-la como bem quisesse. Céus, como ele queria beija-la agora, como desejava toma-la como sua ali mesmo naquela cama improvisada em que haviam se sentado para observar as estrelas enquanto não chegavam até onde Eternidade estava, porém ele sabia que não faria nenhuma destas coisas muito provavelmente, já havia visto a expressão dela quando a submetiam a contatos sexuais vezes demais para querer assistir tal repudio outra vez, principalmente sendo dirigido para si.

A Stark conseguia sentir o olhar do companheiro em sua pele, mesmo que sua expressão não mudasse já não era tão difícil para si ler o que ele realmente estava pensando nesses momentos. Foi estranho para ela constatar que Loki é atraído por quem ela é no sentido de chegar a deseja-la fisicamente, no início ela verdadeiramente não sabia o que pensar sobre isso e chegou se sentir um tanto assustada durante algumas crises existências em que ela se lembrava de seu passado e o relacionava com seu amigo, mas, com o tempo, sempre que mentalizava o assunto excluindo as lembranças de seus traumas, ela acabou percebendo que se imaginar com ele não era tão pavoroso quanto com outras criaturas, pelo contrário não incluía qualquer resquício de medo e lhe parecia até mesmo provável de lhe causar prazer. Talvez esse seja o efeito de confiar um pouco mais que minimamente em alguém.

- Se continuar a fazer essa expressão, eu vou ser obrigada a tomar alguma atitude, princesa... – Ela desviou o olhar das estrelas, encontrando os olhos verdes fixos em si.

- Já vou avisando que me lançar para fora da aeronave não vai dar certo. – O sorriso brincalhão não demorou a aparecer, como se apenas pensamentos puramente inocentes e engraçados passassem por sua mente.

- Tenho que concordar que realmente não daria certo. – Ela se aproximou, fingindo insatisfação, como se pensasse em alguma solução para se livrar dele sem se prejudicar. – Me parece que infelizmente vou ter que fazer algo um pouco mais drástico. – Sua voz veio em sussurro lento e perigoso, compartilhado de uma maliciosidade venenosa que havia aprendido muito bem com o homem ao seu lado.

Loki deixou que ela viesse até si sem reclamar, se mantendo apenas curioso com relação ao que ela pretendia fazer. A mulher entrelaçou a sua mão esquerda com a da manopla e aproximou seus rostos ainda com a expressão traidora que faria qualquer um querer fugir, em seus pulsos ela fez com que os laços vermelhos reaparecessem, ligados um no outro e antes que o jotun pudesse prestar atenção no que esse gesto significava ela tomou a iniciativa de colar seus lábios nos dele. Por mais clichê que parecesse o deus realmente sentiu-se incrível com o simples contato daquele beijo, não só por quere-lo imensamente, mas pela sensação de poder que ele lhe atribuiu conforme foi retribuindo, sentiu todo o seu corpo se energizar com força como se toda a energia dela estivesse migrando para si de repente, ele se sentia como o deus que realmente era e como se estivesse realmente completo desta vez. Lin se afastou com um sorriso envergonhado e com as bochechas rosadas, Loki levou a sua mão até o rosto dela e acariciou o lábio inferior com seu polegar desejando mais daquela ligação.

- Está começando a se tornar mais ousada e a expressar suas vontades, eu gosto disso. – Ele não tentou esconder a malicia em sua voz.

- É engraçado ver você se surpreender com algo que eu faço. – Ela esticou um pouco mais o sorriso e conjurou uma adaga colocando bem próxima de sua garganta. – Mas nem sonhe em se acostumar com isso. – Era uma ameaça verdadeira e, no entanto, sua expressão não demonstrou nada além de carinho. Confiar na linguagem corporal nunca é algo muito inteligente de se fazer quando se trata destes dois.

- Eu não fantasiaria algo assim, minha Lady. – Os olhos dele não se afastaram dos dela, nem sua mão teve vontade de deixar o rosto alheio, como se realmente pretendesse agarra-la para si.

- Loki, você está estranho... – Lin quase ronronou próxima a ele, vendo como o atraia para mais perto sem a menor dificuldade. – Baixou demais a guarda, nunca pensei que um dia seria eu a lhe alertar isto. – Houve um sobressalto por parte do deus quando de um segundo para outro toda a sua magnitude foi arrancada e aquela bolha de afeto e compartilhamento de poder foi quebrada. – AGORA AS JOIAS SÃO MINHAS, ADEUS.

Seus olhos se esbugalharam quando o príncipe se deu conta de que ela de fato havia transferido as pedras para a sua própria manopla e partido com a joia do espaço para algum outro lugar, o deixando sozinho na nave que o levava para a morte. Loki percebeu-se tremendo pela drenagem abrupta e não se viu capaz de tomar alguma atitude, toda aquela atração foi desaparecendo rapidamente e em seu lugar veio a raiva de ter sido deixado além de traído, coisa que não se manteve por mais do que dois minutos, afinal foi esse o tempo que levou até perceber que a presença da garota continuava muito perto. Ele se levantou com a agilidade que conseguiu exercer com sua cabeça girando e andou (vulgo correu com dignidade) até o lugar na qual sentia a aura dela sendo exalada. Ver sua noiva parada ali na cabine do piloto, de costas para si, olhando novamente para as estrelas, lhe causou um alivio que nem conseguia descrever.

- Nunca faça isso novamente. – Ele levou a mão até o próprio peito, dramatizando. – Está começando a me causar problemas cardíacos. – Um sorriso divertido apareceu em seu rosto, realmente lhe agradavam pessoas com coragem o suficiente para fazer uma brincadeira deste nível consigo, embora o jotun tivesse matado todas as outras que fizeram ele não sentia vontade de ferir a parceira. A Stark não reagiu. – Monstrinha...?

Lin estava paralisada, quase como uma verdadeira pedra inativa e não parecia ser capaz de ouvi-lo. De repente, lhe veio à mente que um humano não deveria ser capaz de portar uma manopla do infinito sem ser destruído, as vezes se esquecia que além de ser uma verdadeira joia poderosa, ela ainda é pertencente a espécie dos inferiores midgardianos. O deus andou até se portar ao seu lado e presenciar o seu olhar vago, ele segurou a mão da manopla e compartilhou a carga com ela pelo mesmo mecanismo que a outra havia usado para rouba-lo. Aos poucos a vida retornou seus olhos e com lentidão ela voltou a conseguir focar sua visão no que estava ao seu redor. Seu corpo pendeu para onde o companheiro estava e ela resmungou com alivio por ele estar ali, escondendo seu rosto no ombro dele.

- Por que você me deixa fazer loucuras como esta? - Reclamou com a voz fraca e com uma sombra de divertimento. - Eu aqui querendo descontrair um pouco, com a maior inocência, e do nada passo por uma sensação de quase morte horrível...

- Isso se chama karma, ninguém mandou trapacear o deus da trapaça. - Com a mão livre ele envolveu os ombros da mais nova possessivamente, como se isso de alguma forma lhe garantisse que ela não partiria outra vez com suas "pedrinhas magicas".

- Se não morrermos talvez eu me lembre de não contrariar os deuses. - Loki sentiu os pelos do corpo dela se arrepiando. - Mas independentemente do que acontecer nunca me deixe segurar a manopla sozinha outra vez.

Por mais que qualquer um compreendesse que um humano comum passar pela experiencia de carregar seis das joias do infinito é o suficiente para ele nunca mais desejar se envolver com tais singularidades de novo caso ele sobreviva e tenha suas faculdades mentes intactas, o príncipe percebeu que havia algo que ia muito além do medo pela morte no pedido da amiga, algo muito mais complexo do simplesmente não querer repetir o tormento de sentir que seu corpo não aguenta tanto poder. No entanto não era hora de pensar sobre isso, as ondulações de poder ao redor aumentaram em sua densidade e diante da aeronave tornou-se visível a figura ameaçadora de Eternidade em uma representação viva de sua real magnitude.