Nota da Autora: Mais um capítulo para ler, menos um para chegar ao final da história. Quem vocês acham que vai aparecer? Quem vai morrer? Façam algumas apostas aí :)
Uma pessoa especial comentou em Noites sem Fim e eu fiquei morrendo de vontade de voltar para essa história. Consegui escrever 7 páginas (mais 5 e já teria um capítulo de bom tamanho). Mas eu queria revisar antes o que já tem antes de continuar, assim como fiz com esta aqui. Talvez tenha algumas coisa nova até final do mês.
Rascunhei também uma pequena história em 4 partes sobre os 4 Akai, uma parte para cada um deles – incluindo como Miroku e Hakudoushi entraram na família. Ainda não tem título e vai depender do meu ânimo e ansiedade para escrever algumas coisas.
Obrigada a quem comentou no capítulo passado. Eu só continuo postando por causa de vocês: Lan-Lan, Ayame Tarimoto, Line Sagittarius, isabelle36, Haruna Uchiha, Hikari Costa, Joy, Kuchiki Rin-sama e a quem comentou como convidado.
Já sabem: espero que gostem do capítulo e que possam comentar.
Disclaimer: "InuYasha" pertence a Takahashi Rumiko.
A cor do dinheiro
Capítulo 26: Fortes, francos, feridos, furiosos
Para Lan Ayath
Mansão Akai
Sesshoumaru abriu lentamente os olhos, tentando entender o que se passava com ele. Estava no quarto, mas ele tinha certeza de que não deveria estar por lá. Embaixo dele, sentiu um corpo extremamente caloroso se mexer e suspirar.
Rin.
A esposa estava de bruços na cama e o corpo dele estava parcialmente em cima dela. Inconscientemente, ele queria impedir que ela saísse da cama, assim como havia sido o objetivo dela quando tentou amarrá-lo.
Aproximou o rosto e fez o que geralmente costumava fazer quando ela ainda estava dormindo: cheirou o cabelo e o pescoço dela.
Com cuidado, afastou-se e esticou o braço para pegar o celular na cabeceira. Viu que havia se passado apenas 30 minutos depois que adormeceu tentando tranquilizá-la.
Rin remexeu-se do lado dele, mas não acordou.
Ainda deitado, ele viu as mensagens enviadas. Uma delas era a que ele aguardava – sobre o grupo que foi a Nagoya cuidar daqueles protegidos de Kikyo.
Kirara mandava mensagem avisando que tudo havia ocorrido como ordenado e que estava tudo bem. Contou que conheceu os meninos e que eles estavam dormindo. Avisou que iria com o grupo passear no parque do Lego. Mandou também várias fotos.
Curioso, ele abriu algumas. Ela tinha a estranha mania de...
Franziu o cenho e sentou-se na cama como se precisasse daquilo para ver melhor uma foto que ela havia mandado para ele.
Que espada era aquela que ela estava segurando?
Era a primeira vez que Kikyo estava no quarto de Hakudoushi.
Sentada na beira da cama, ela observava o local enquanto o médico andava de um lado para o outro. Ele abria gavetas, portas do armário, tirava uma caixa aqui e ali... Tudo em silêncio, percebendo o quanto ele sempre parecia estar preparado para qualquer eventualidade.
Hakudoushi estava também estranhamente calado, com as linhas da testa bem visíveis. O que ele estava pensando talvez fosse muito sério.
Finalmente, minutos depois, ele voltou para perto dela com uma caixa de primeiros socorros e uma caixa de metal com tesouras, linhas, pinças, luvas e máscaras. Puxou um banco de madeira e colocou o material em cima, depois aproximou da cama uma cadeira giratória de uma escrivaninha que parecia ser muito antiga, talvez da época que era ainda adolescente.
Kikyo o viu colocar uma máscara e estender as mãos:
–Vou ter que tirar sua roupa.
A garota deu um sorriso de deboche.
–Assim, desse jeito? Sem preliminares?
Hakudoushi permaneceu extremamente sério. Nem ao menos piscou diante do comentário que supostamente deveria fazer alguém rir.
Dando um suspiro, ela assentiu e ele tirou o blazer dela com extremo cuidado, primeiro do lado não machucado, depois deixando apenas a blusa branca de baixo à mostra.
–Com licença... – ele, de pé, afastou o cabelo dela e jogou tudo para cima de um único ombro.
A blusa branca estava completamente ensopada, um enorme rasgo resultado do estrago que a lâmina havia provocado nela.
–Desculpe... – ele falou de novo, abrindo os botões da blusa.
De olhos fechados, ela não dizia uma única palavra e aguentava o máximo que podia para não gemer de dor. Aparentemente, o corte estava se manifestando apenas naquele momento. Não sentira tanta dor no momento, talvez por conta da adrenalina.
Hakudoushi pegou a tesoura e cortou o tecido de uma vez para ela não ter que se mexer e abrir mais o ferimento, deixando-a apenas com o sutiã de renda preta, uma das alças completamente destruída no ataque.
Por alguns segundos, ele analisou clinicamente o ferimento, os olhos movendo de um lado a outro como se estivesse imaginando o movimento dos dedos para costurar a região.
Não era um corte muito profundo e não havia atingido nenhuma parte importante, mas Kikyo não poderia mover-se à vontade por algum tempo. Caso quisesse voltar a lutar, ela teria que se contentar em usar apenas um braço.
Finalmente, esticou a mão e pegou um pano de algodão para encharcá-lo em álcool e limpar o local.
–Ai. – ela retraiu-se ao sentir o contato do tecido.
–Não se mova, por favor. – ele falou com toda seriedade que o momento exigia.
Em silêncio, ele fez a limpeza do ferimento, tomando cuidado para usar outro pano depois que o primeiro ficou completamente vermelho.
Quando ele julgou que o trabalho dele estava suficientemente bom, ele abriu a caixa de primeiros-socorros e tirou uma injeção e um pequeno vidro para iniciar a segunda parte.
–Vou ter que usar isso aqui pra fazer os pontos.
Kikyo virou o rosto para o outro lado para não ver o trabalho dele. Ela não tinha problema algum em fazer exames de sangue ou tomar vacinas, coisas que exigiam contato com agulhas, mas não gostava de olhar, talvez por instinto.
Hakudoushi a olhava de soslaio de vez em quando,
–Por que você me empurrou? – ele quis saber para cortar o silêncio enquanto aplicava a anestesia.
–Você era o alvo dela. – ela respondeu fracamente.
–Eu sei me defender.
–Você ficou parado.
–Eu só fiquei surpreso com o ataque. Nós nunca desconfiamos dela, Kikyo. Não significava que eu não saberia me mover. – ele explicou ao terminar de aplicar o medicamento.
O médico preparou a agulha e o fio de nylon para começar o procedimento, ainda olhando de vez em quando para ela. Kikyo não queria de forma alguma ver o que ele iria fazer.
–Vou fechar o ferimento agora, okay?
Com habilidade profissional, ele inseriu a agulha.
–Ai! – ela gritou, o rosto voltado imediatamente para o lado ferido – Cuidado, Hakudoushi.
O outro nada falou. Apenas enviou um aviso com o olhar para que ficasse quieta, voltando a trabalhar.
–Ai, ai! – ela quis empurrá-lo com a outra mão – Para.
–Eu tenho que fechar isso, Kikyo.
–Mas isso dói! – ela falou entre os dentes extremamente irritada, afastando a mão dele de vez. A agulha ficou pendente no ombro dela, balançando pelo fio enquanto esperava a mão dele para continuar o serviço – Não sabe fazer isso com cuidado, não?
Desta vez, Hakudoushi perguntou-lhe pelo olhar algo como "você está falando realmente sério?".
–A anestesia não deve ter efeito ainda. Vamos aguardar um pouco. – ele acomodou-se no banco.
Minutos depois, lá estava ele tentando novamente fazer os pontos.
–Aiiiii... – os olhos de Kikyo ficaram marejados.
–Você está sentindo isso ainda? – ele parecia surpreso.
–Tudo. – ela vociferou.
Hakudoushi balançou a cabeça e tirou as luvas para pegar mais preparar mais uma dose de anestésico para ela.
Segundos depois de aplicar, ele recomeçou o procedimento, apenas para ter que parar novamente ao ouvir as reclamações dela:
–Hakudoushi, tá doendooooo... – ela sentiu as primeiras lágrimas de dor escorrerem e tentou parar a mão que segurava a agulha de novo – Paraaa...
O médico olhou sério para ela. Esticou a mão e pegou um frasco de uma pomada para aplicar nela.
–O que é isso?
–Um outro tipo de anestésico. – ele passou no local e novamente tentou dar continuidade ao procedimento – Vai segurar por enquanto.
Os primeiros minutos foram de tranquilidade, mas não duraram muito:
–Dói? – ele perguntou sério por trás da máscara ao ouvir os gemidos dela.
–S-Sim... – ela murmurou – Parece até que está me cortando de novo.
–Você tem resistência à anestésicos. – ele explicou calmamente – Vou aplicar de novo a pomada.
O telefone tocou no bolso de Hakudoushi e ele deu um suspiro extremamente pesado antes de verificar quem era para aceitar a ligação, colocando o celular entre o ombro e a orelha.
–Hei. – a fala saiu automática, evitando olhar para Kikyo. Tinha receio do que iria ouvir de Kanna.
–Nós fomos atacados esta noite.
Kikyo recomeçou a gemer e reclamar de dor e ele se limitou apenas a mandar um aviso com os olhos.
–Está tudo bem aqui... Os invasores estão mortos. Eu... – ela arfou e tudo o que ele ouviu foi um chiado forte – Eu estou com alguns... ferimentos. Já cuidei de alguns deles, mas... Preciso ver um médico amanhã...
–Er barna i orden? – ele perguntou.
–Sim. Sem ferimentos. Nem sabem o que aconteceu.
–Ok.
Novamente, Kikyo deu um gemido de dor e ele imediatamente parou o procedimento. Estava difícil se concentrar em falar uma língua estrangeira, processar as informações relevantes e cuidar de uma pessoa ferida.
–Estou atrapalhando alguma coisa?
–Jeg tar meg av en skadet person. – ele explicou ao tentar manter o foco na tarefa.
–Tudo bem, eu vejo a questão do médico depois. Boa noite.
–Vent litt... – ele conseguiu sentir uma certa irritação nela pelo tom de voz. Era claro que estava chateada por ele não dar tanta atenção para uma outra pessoa igualmente ferida – Jeg skal løse dette. Du... Har du tatt vare på alt selv?
A resposta veio sem hesitação, mas ainda assim com um chiado típico de quem tem um ferimento nas costelas:
–Sim.
Hakudoushi parou o movimento por alguns segundos, franzindo levemente o cenho:
–Alene?
Novamente, não houve hesitação por parte de Kanna:
–Sim.
Um alerta acendeu na mente dele. Havia algo de errado. Ela estava ferida e dizia que havia dado conta de tudo sozinha. Cuidado dos próprios ferimentos, inclusive.
–Hakudoushi-sama?
O médico balançou discretamente a cabeça, mesmo sabendo que ela não poderia ver. Era como se quisesse pensar em outra coisa e as imagens que tinha em mente pudessem ser apagadas.
–Jeg ringer deg tidlig i morgen ... Å slå legen.
–Ok. Boa noite.
Hakudoushi largou o celular, jogando-o no chão acarpetado, e voltou a atenção para a tarefa do momento. A testa continuava intrigada, os olhos lilases concentrados.
–Era Kanna. As crianças estão bem. – ele falou para a mulher na frente dele.
Um sorriso de verdadeiro alívio curvou os cantos dos lábios de Kikyo para cima. Era como se todas as preocupações do mundo tivessem desaparecido naquele momento, até mesmo esquecendo que havia alguém costurando um ferimento no ombro.
–Pensei que estivesse falando com Ingrid Olsen. – ela brincou.
A mão dele congelou momentaneamente, olhos lilases hesitando. Até ela percebeu que talvez não fosse um bom momento para fazer aquele tipo de brincadeira.
–Há muito tempo não escuto esse nome. – ele falou calmamente, voltando a trabalhar – Como sabe a respeito dela?
Um pequeno suspiro de alívio escapou dos lábios dela. Então o assunto não era sensível para ele.
–Kagome me falou.
Claro que a irmã mais nova havia contado sobre a visitante estrangeira que ele já havia trazido para conhecer a família. Kikyo provavelmente não lembrava dela pelo rápido encontro que tiveram apenas uma vez quando ainda estava sob hipnose e ele confiava que Kanna não contaria o que havia se passado em uma visita dele a Oslo há alguns anos.
–Vocês ficaram juntos por quanto tempo? – ela tinha o rosto novamente para o lado oposto para evitar olhar o que ele fazia e também para não ter que encará-lo.
–Alguns meses. – ele respondeu sem emoção. Ele tinha aproximadamente dois minutos entre cada aplicação de anestésicos antes de ela começar a sentir dor, mas parecia que a conversa a distraía.
–Por que vocês terminaram?
Um momento de silêncio se fez.
–Não deu certo. – ele finalmente respondeu.
O pensamento que ocorreu a ela era que Hakudoushi queria evitar que a outra garota se envolvesse ou conhecesse o lado sombrio da família Akai.
–Como vocês se conheceram? – ela quis saber.
A resposta demorou a vir. Ele limpava o excesso de sangue com algodão e auxílio de uma pinça:
–Nós fomos amigos de infância quando eu morava em Oslo com a minha mãe.
Sentindo que não deveria ser o único a fazer perguntas, ele arriscou:
–E você e Naraku?
O rosto de Kikyo virou para o lado do ferimento e ele conseguiu notar algo sombrio nos olhos dela.
–Ele matou minha prima. – ela explicou friamente – E a família quis derrubar Bokuseno. Ele me pediu pra fazer isso.
O médico lembrou-se da noite quando soube da morte de Midoriko e no quanto Kikyo ficou transtornada, ainda na época que ficou temporariamente no comando da família durante a viagem de Sesshoumaru para Osaka.
Demorou muito para convencê-la a não fazer uma destruição total e em massa da cidade.
–E por isso você o matou. – ele concluiu.
–Eu não o matei. Ele se matou.
A mão dele parou de trabalhar por alguns segundos, os olhos expressando imenso espanto.
–O que foi que você disse?
Kikyo estreitou o olhar.
–Ele se matou. Eu fiquei surpresa também.
Hakudoushi voltou a trabalhar nos pontos, preparando-se para colocar fazer mais um. Ele processava a informação rápido.
–Por que ele se matou?
–Eu não sei, mal tive tempo pra entender. Ele colocou a arma na cabeça e disparou. Asuka entrou depois pra limpar tudo no escritório.
–E ela fez aquilo depois que você saiu de lá.
Kikyo repassou mentalmente os eventos. Sim, Asuka havia ficado lá e teria que limpar tudo. Ela só ficou concentrada em ligar e falar com Kanna para saber se os protegidos estavam bem.
–Eu tentei falar com Kanna ainda lá, mas não consegui. Depois decidi procurar por você pela casa.
O outro balançou a cabeça como se a repreendesse.
–Eu deveria ter desconfiado que estava com ele por algo assim... – ele comentou sem parar a tarefa – Era capaz de Bokuseno proibir qualquer coisa entre vocês assim como proibiria se soubesse de nós.
Um "hunf" escapou por parte dela. Era o destino das mulheres da máfia: não poderiam se casar ou perderiam o nome e a fortuna que passariam para o marido. Foi daquela forma que Akai Touga entrou para a máfia e incorporou a fortuna da família de Izayoi. Ela ainda tinha poder, mas o nome da família dela não existia mais.
E isso nunca aconteceria com Kikyo. Os Higurashi jamais desapareceriam ou seriam esquecidos pela história.
Nem que eu tivesse que eu tivesse que ficar sozinh...
–Ahhh... – ela reclamou de novo ao voltar a sentir dor, mesmo tendo recebido mais anestesia local.
–Não está fazendo efeito algum agora. – ele murmurou, franzindo a testa.
Tirou as luvas e as descartou. Abriu então a caixa de remédio e vasculhou até encontrar uma solução injetável.
Ficou sentado na frente dela.
–Kikyo... Vou ter que dar algo mais forte pra você.
– "Forte"? – ela repetiu, franzindo a testa – "Forte", como?
–É um pouco pesado. Você deve ser resistente também, mas vai deixá-la mais calma e sonolenta. Pelo que percebi, você deve dormir por alguns minutos em vez de horas. Seria melhor para descansar um pouco antes de voltar a lutar.
–Você esconde aqui os bagulhos bons, então?
– "Bagulhos"? – ele franziu a testa. Obviamente ele estava confuso com a escolha da palavra.
–Esquece... – ela balançou a cabeça – Vamos logo acabar com isso.
–Vou tirar sua calça. Preciso aplicar na sua coxa.
–Ah, Hakudoushi... – ela parecia querer desistir da ideia.
–Vamos, Kikyo, vamos... – a mão dele foi direto para a cintura dela e começou a desafivelar o cinto e abrir o zíper.
Não havia nada de sexual nas ações dele. Era óbvio para ela que Hakudoushi apenas queria terminar de tratar o ferimento.
Não abaixou muito a calça – apenas o suficiente para ver uma parte do músculo e aplicar uma dose suficiente para saber que ela dormiria por alguns minutos.
–Você vai sentir tonturas depois, mas vai passar logo. – ele explicava ao voltar a vesti-la – Quando acordar, não mexa de forma alguma o seu braço ou esses pontos vão abrir.
–Eu vou poder voltar a lutar? – ela perguntou suavemente.
–Se tomar cuidado com esse ferimento, sim. – ele descartou a seringa e pegou um novo par de luvas – Se precisar de alguma roupa, pode pegar uma camisa minha no armário.
Ficaram os dois em silêncio enquanto o remédio não fazia efeito.
–Nada de ruim vai acontecer com Kagome, não é?
Hakudoushi balançou a cabeça.
–Claro que não. Você está aqui, não é? Inuyasha também vai protegê-la.
Um sorriso fraco veio por parte dela.
Cerca de dez minutos depois, os olhos dela começaram a ficar pesados e ela Hakudoushi com o rosto quase colado ao dela. Aquele lilás dos olhos estava tão forte que parecia que...
–Durma. – ele sussurrou como se fosse uma palavra mágica.
A cabeça pendeu para um lado, mas ela não caiu na cama. A mão do médico a segurou habilmente e ele a deixou no colchão, sem se importar com a trilha de sangue que ela deixaria ali.
Levou mais alguns minutos para Hakudoushi terminar de fechar o ferimento e aplicar a medicação necessária para evitar uma infecção.
Depois sentou-se na beirada da cama e pensou nas informações passadas por Kanna. Ela parecia acabada, a falta de ar evidente na voz. Ela no mínimo tinha uma perfuração no corpo, em alguma região entre as costelas ou nas costas. Ela precisaria ir para o hospital. Mesmo quando há alguns anos, quando os Higurashi tiveram uma desavença com os Akai, aquela ninja se machucou, mas não ficara naquele estado.
Kanna teve ajuda de alguém.
Olhou para Kikyo, agora dormindo tranquilamente.
Temia uma coisa – que uma pessoa tivesse mandado ajuda.
Pegou o celular do chão e olhou fixamente a tela.
Sesshoumaru estava com as costas apoiadas na cabeceira da cama, ainda aguardando um pouco antes de sair para resolver as pendências do escritório. Esperava que tudo estivesse bem, mas não confiava totalmente no controle de Kikyo em relação à limpeza. Já havia percebido o quanto ela era extremamente impulsiva em relação a atacar os outros.
Havia decidido não sair mais da mansão para respeitar o pedido de Rin. Era certamente parte dos traumas que ela havia passado, conforme a história que havia ouvido dela.
Uma das mãos deslizava no corpo da esposa num ritmo lento e quente pelos quadris, a outra segurava o celular para ler algumas mensagens e pensar na espada que aparecia na foto enviada por Kirara.
Tudo estava tranquilo e sob controle até receber uma ligação. O nome de Hakudoushi apareceu na tela.
Arqueou uma sobrancelha. Esperava que não fosse algum problema. Se ele estava em casa e precisava falar com ele, bastava bater à porta do quarto e Sesshoumaru o atenderia do lado de fora. Mas se ele estava ligando, significava que ele não poderia, de alguma maneira, conversar pessoalmente.
–Aconteceu alguma coisa, Hakudoushi?
Houve um incômodo silêncio na linha.
–Hakudoushi? – ele tentou de novo.
–Kikyo foi ferida por Asuka. Ela matou toda a guarda antes de nos atacar.
Sesshoumaru arregalou os olhos e se desencostou da cama, alarmado. O rosto virou imediatamente para Rin, ainda a dormir tranquilamente no lado dela da cama, a mão com a aliança visível na posição que estava.
Se Kikyo havia sido ferida, então...
Eles estão aqui dentro?
–Ela está bem? – ele quis saber.
Como eles conseguiram chegar ali?
Silêncio na linha novamente.
–Hakudoushi... – ele perguntou mais uma vez – Kikyo está bem?
–Eu cuidei do ferimento dela. Mas ela ficará sem usar um braço. Está dormindo agora por causa de um sedativo que dei.
Sesshoumaru pareceu mais aliviado, mas reprimiu o suspiro que poderia expressar nessas horas.
–Bem, então as coisas estão resolvidas, não? Ela vai dormir tranquila agora.
Hakudoushi novamente prolongou o momento. Alguns segundos de puro silêncio, como se estivesse decidindo como falar o que precisava ser perguntado:
–Os protegidos dela foram atacados e alguém os ajudou sem falar pra Kikyo.
Sesshoumaru deixou as cantos dos lábios subirem discretamente. Ele sabia que o primo estava com medo.
–Kikyo vai poder dormir tranquila, Hakudoushi. – Sesshoumaru repetiu.
Do outro lado da linha, Hakudoushi fechou os olhos como se estivesse fazendo uma prece, um calafrio percorrendo a espinha.
–Sesshoumaru, eu...
O primo o interrompeu.
–Hakudoushi... Eu não quero saber agora o que você e Kikyo tramaram ou estão tramando. Só espero que não seja nada contra a nossa família porque você sabe o que eu faço com traidores. Lembre-se com quem está a sua lealdade.
E encerrou a ligação.
O médico ficou na mesma posição por alguns segundos – celular perto da orelha como se ainda estivesse em ligação, a mão apertando o aparelho, olhos fixos em um ponto do quarto.
Baixou finalmente a mão e a deixou cair no colo, ainda segurando o celular. Os olhos fecharam como se aquilo o ajudasse a se concentrar melhor.
Finalmente, minutos depois, ele abria duas portas do guarda-roupa e afastava os cabines para se ver diante de uma roupa separada no fundo: um quimono preto por baixo de uma túnica lilás com grandes mangas e botões azuis e amarelos. Havia detalhes circulares nas barra da calça e das mangas, como sequências do símbolo do infinito e uma fita azul do lado direito do peito.
Era o antigo uniforme quando ainda era um membro mais ativo da yakuza e prestava serviços diretamente para Bokuseno.
Sesshoumaru aproximou o rosto do ouvido de Rin, primeiro sentindo o cheiro do cabelo dela, depois para beijar castamente a orelha, notando como a região ficou vermelha. Ela era extremamente sensível ali.
–Estarei no meu escritório. Pode me procurar lá.
Ouviu outro hmmm dela. A notar pela forma como ela abraçava o travesseiro, ela não acordaria tão cedo. Se tudo desse certo, ficaria até pela madrugada dormindo, horário que ele julgava já estar de volta ao quarto.
Resolveu deixar um bilhete escrito na cabeceira ao lado dela, apenas no caso de ela acordar. Ele realmente acreditava que não seria preciso.
Ao sair do aposento, encontrou o irmão sentado em cima de uma cômoda de madeira nobre. Ele segurava, visivelmente ansioso, um cigarro.
–Yo. – ele murmurou ao ver o mais velho, apagando o que tinha em mão com a ponta do dedo – E aí?
–Inuyasha... – Sesshoumaru tinha os olhos fixos na tela do celular – Vem olhar isso aqui.
Inuyasha desceu da cômoda e foi até o irmão. Ao olhar o que o irmão mostrava, franziu a testa. Era Kirara no chão, cabeça apoiada num braço, cotovelo como suporte. A espada Muramasa estava na mão, exibida triunfalmente.
–Isso aí não é uma Muramasa? – Inuyasha tinha os olhos arregalados – Onde essa mini psicopata conseguiu isso?
–Ela mandou a foto agora. – Sesshoumaru evitou dizer onde – Vamos ver a coleção de espadas do papai.
Ao descerem as escadas, encontraram a estante intacta e perfeita, um móvel com duas portas de vidro extremamente limpos. Não havia um único sinal de poeira porque todo dia passava por manutenção.
Os olhos dos irmãos desceram para os nomes das relíquias e os respectivos anos de fabricação:
Tenseiga – 1556
Tessaiga – 1785
Bakusaiga – 1539
Sounga – 1365
Toukijin – 1789
Kurikaramaru - 1412
Kikujūmonji – 1400
Viram mais 15 nomes diferentes, até encontrarem a que queriam:
Muramasa – 1632
–Essa é a única de todo Japão que não está num museu. Foi a última que nosso pai encomendou a Toutousai. Fui pessoalmente buscá-la.
–Tem certeza que é a única? – Inuyasha parecia desconfiado – Aquele velho pilantra deve ter te enganado, Sesshoumaru.
–Ele não me enganaria. Ele sabe o que eu faria com ele. – Sesshoumaru abriu a cristaleira, a mão indo direto à espada.
A arma tinha o cabo e a assinatura típica das produções do ferreiro Muramasa. Como o mais velho havia dito, ele mesmo havia ido buscar pessoalmente com o especialista em espadas de samurais Watanabe Toutousai, também amigo pessoal do pai.
Estendeu a Muramasa a Inuyasha, vendo-o erguer as sobrancelhas em dúvida.
–Segure.
Ambos compararam a foto de Kirara e o que tinham em mãos.
Enquanto comparavam os detalhes, não perceberam a presença de uma pessoa se aproximando silenciosamente de tão ocupados que estavam.
Mas não ficaram muito tempo naquela situação: ao perceberam o problema de autenticidade da peça, os irmão trocaram olhares.
–Não é a mesma. – eles falaram ao mesmo tempo.
–O corte da Muramasa é diferente. Essa aí é falsa. – a pessoa que se aproximou deles falou, fazendo-se presente.
Os dois reconheceram a voz de Hakudoushi atrás deles e Inuyasha riu sem olhar o primo.
–Eu não te falei? – depois virou o rosto na direção do primo – Hashi, cê já...
A pergunta morreu na garganta de Inuyasha e chamou a atenção do irmão.
Sesshoumaru olhou por cima do ombro.
Hakudoushi estava uniformizado como o líder da guarda criada e comandada pela mãe: descalço, usando o quimono preto visível apenas pela parte superior, a túnica lilás que combinava com os cabelos e os olhos, o hakama da mesma cor...
Inuyasha estava tão assustado que não conseguia tirar os olhos de Hakudoushi.
–O que foi, Inuyasha? – o primo perguntou.
Os cantos da boca de Sesshoumaru se ergueram de leve, um brilho de esperteza evidente nos olhos.
–Por que está me encarando desse jeito? – Hakudoushi tinha um leve sorriso e um estranho brilho no olhar ao perguntar.
Mansão Shiroi
–Mas o que é isso?
A pergunta foi feita por Ookami Kouga, líder da família Ookami, aos dois membros mais próximos e braços direito e esquerdo dos negócios: Ginta e Hakaku.
Os três tinham os rosto tapados por lenços ao se verem diante de um buraco no subsolo da mansão. Eles seguiram a ordem de Sesshoumaru, encontraram aquele recinto e viram que o chão tinha uma tábua de concreto perfeitamente removível pelas mãos de um ou dois homens.
Ao tirarem, encontraram três sacos pretos.
–Há quanto tempo acha que estão aí? – Ginta perguntou.
Kouga tirou o lenço do nariz e deu uma leve fungada no ar.
–Um aí é muito recente. Pelo menos quatro anos.
–Como você consegue saber essas coisas? – Hakuku parecia enojado – É muito esquisito.
–Quem são esses? – Ginta quis saber.
–São os corpos das ex-esposas e do enteado do antigo líder da família Shiroi. – alguém respondeu à pergunta atrás de Kouga.
O líder arregalou os olhos e olhou para trás, assustado, assim como os companheiros.
–Kouga... – a voz de Miroku soou nos transmissores enquanto o outro olhava ainda atônito para a figura recém-chegada – Onde vocês estão?
Tocando no aparelho na orelha, ele respondeu:
–Miroku, a gente tá com um problema aqui na casa. Adivinha quem chegou.
Próximo capítulo:
"–Abra os portões e solte os cachorros, Inuyasha."
"–O que aconteceu pra Hakudoushi ficar assim?"
"–Estou quieto aqui no canto comendo minha maçã."
Capítulo 27: Emoções desnecessárias.
