N/A: Eu não tenho muitas desculpas, na verdade. Quer dizer: uma mudança internacional, uma tese de mestrado escrita e defendida com um A de nota. Um trabalho novo num país novo. Uma pandemia que não me deixa ir visitar meus pais e meu Brazeel. Enfim. Eu assisti Naruto outra vez, e daí a inspiração voltou! S2

Era pra esse cap ter ficado pronto pro niver da Jay, mas eu atrasei pq to trabalhando muito. Enfim, nee-chan, late otanjoubi omedetou! Te amo!

Love Shuffle

CAPÍTULO 25

Allow Yourself

NejiHina / GenTema / NaruIno / ShikaSaku

A

Ino se despediu de Naruto com um beijo longo, sentindo o corpo dele a prensar contra o balcão da cozinha, pensando que se não estivesse já atrasada para o trabalho ela não se importaria nada em se ajoelhar no chão da cozinha e retribuir o orgasmo que ele tinha de dado de presente quando tomaram banho há menos de meia hora.

Mas ela precisava ir.

Riu-se quando ele fez um biquinho triste e acenou antes dela sair pela porta.

Céus, o que era aquilo?

Nunca na vida tinha imaginado que ela e Naruto poderiam ter algo assim. Girou a maçaneta, refletindo sobre quão bizarro era o fato deles terem tanta química e se darem tão bem.

Saiu no hall do elevador e, ao fechar a porta e virar, se deparou com Genma.

Os cabelos dele ainda úmidos, uma mochila grande pendurada em um dos ombros, vestido de maneira despojada e casual, seu piercing brilhando entre seus lábios.

- Bom dia, - ele cumprimentou, um sorriso sacana se abrindo em seus lábios, uma sobrancelha se levantando, incriminante.

- Bom dia.

Ela ajeitou a bolsa no ombro, sentindo seus próprios cabelos ainda úmidos, lhe delatando. Era uma sensação estranha, vê-lo ali, logo depois de...

Bem, eles já não estavam juntos e ela tinha certeza de que aquele tinha sido o plano dele desde o começo de todos os modos: afastar Ino de si.

O elevador entrou e ambos entraram num silêncio incômodo.

- Tá indo trabalhar? - ela perguntou, buscando assunto para quebrar o gelo.

- Não, na verdade eu to indo para Suna.

- Ah - Ino concordou com a cabeça - Me esqueci que era sua semana com a Temari.

Genma sorriu, um ar entretido no rosto.

- Você tinha coisas melhores para pensar - ele retrucou, dando de ombros - Escuta, Ino. Eu não quero que as coisas fiquem estranhas. Você está se divertindo e isso é ótimo, parece que Naruto também está se divertindo. Eu também estou me divertindo, arranjei até pretexto para pegar uns dias livres e viajar, olha só. Eu nem me lembro a última vez que fui a Suna.

Ino fez que sim, mas ainda sentia aquela sensação estranha, de ter sido vista em flagrante.

- É estranho... - Ela admitiu. - Como se eu estivesse fazendo algo errado, sabe? O fato de você me ver saindo da casa de Naruto e tal-

- É claro que é estranho - ele concordou, o elevador parou e eles saíram ao hall de entrada, andando lado a lado.

Então Genma parou e segurou seu cotovelo, fazendo-a se virar para ele. Os olhos castanhos dele correram por seu rosto, afastando a madeixa de cabelos dela para atrás da orelha com um dedo.

- A gente teve algo que foi legal durante um tempo, mas acabou - Ele disse, a voz calma e amável a fazendo estranhar o comportamento - Você acha que eu não me sinto estranho? Que eu não tenho que me segurar pra não fazer um comentário idiota? Que não me dá um pouco de ciúmes ou até tesão, saber que outro cara tá te comendo?

Genma soltou o cabelo dela, dando um passo para trás, criando distância entre eles e evitando a tentação de ceder a estes desejos instintivos - de possuir, de dominar, de demonstrar algo a si mesmo e a ela...

Ele mordeu de leve o lábio, o piercing estalando contra os dentes, e a olhou intensamente. Ino sentiu a respiração acelerar, sentindo a atenção dele sobre si a encher de uma sensação conhecida de ser vista, de ser desejada, de se sentir especial, de saber que ela ainda conseguia mexer com a cabeça dele, criar uma reação.

- Você acha que eu não tenho vontade de tentar algo com você aqui, neste exato momento, Ino? - a voz dele, a noção de que ele tinha vontade, de que ele pensava nela, em tê-la, em consumí-la, era forte e extasiante e seu corpo inteiro estremeceu em resposta a simples ideia de tê-lo. - Mas pra quê? - Genma perguntou, balançando a cabeça - Só porque eu tenho um orgulho bobo? Por querer provar que ainda sou interessante pra você? Para talvez sacanear o que você e o Naruto estão construindo?

- Ele é meu amigo - ela murmurou, sentindo a necessidade de deixar claro. Dividida entre a ideia de querer que Genma tentasse algo (por que ele obviamente conseguiria) e a estranha sensação de não querer que ele brincasse com ela mais.

As palavras dele rodopiaram em sua mente, fazendo seus joelhos ficarem frouxos com a ideia de que ele também queria saber que ela ficava mexida por ele. Genma assumindo que tudo aquilo lhe gerava ciúmes, tesão, possessividade, aquilo fazia com que ela quisesse que ele tentasse. Uma parte sua que ainda desejava ser dele, deixá-lo a possuir e usar e a ter-

Mas, ao mesmo tempo, ele estava certo.

Para quê?

Reacender algo entre eles era um erro. Seria puramente físico por parte dele, provavelmente abriria feridas que ela ainda guardava no peito. Reacender uma chama de esperança que ela estava apagando com muito custo diariamente, valorizando-se mais, afastando-se do jogo tóxico dele.

Ela já tinha se machucado demais nesse vaivém que eles tinham vivido nos últimos tempos. Ela não precisava mais disso. Então, Ino se deu conta de que Genma estava sendo maduro, extremamente maduro.

- Aproveite o que você está vivendo com seu amigo, Ino. Essas coisas valem a pena.

Ele sorriu e seguiu andando. Deixando para trás uma Ino surpresa e embasbacada com mudanças que ela ainda não tinha reparado. Mudanças que o faziam soar diferente, parecer diferente. Mais velho, mais maduro, mais certo de si mesmo.

- Genma - ela chamou, fazendo-o se virar há passos de distância - Você mudou também - Ino disse, sorrindo e vendo-o dar de ombros. - Dirige com cuidado.

- Pode deixar. Se cuida, Ino.

Ela ficou observando Genma sair do edifício. Era estranho vê-lo assim, mudado, como se algo tivesse acontecido com ele. Como se uma chave dentro dele tivesse virado e algo novo estivesse surgindo. Mas aquilo não tinha acontecido enquanto ele estava saindo com Sakura, aquilo era novo.

Ela começou a andar, lembrando que já estava atrasada, e se perguntou o que havia acontecido na última semana, enquanto Genma estava com Hinata.

L

- Você vai me contar o que está acontecendo? - a voz dela soou delicada, mas não havia a insegurança tão típica que era a marca registrada de Hinata.

Eles estavam sentados na terraça de um café novo, com preço exorbitante, mas uma fabulosa vista para a cidade. A floresta ao fundo, os vales e bosques abraçando os limites da cidade e os edifícios do centro.

Neji suspirou e encarou a prima. Havia algo diferente nela. Algo que ele não sabia muito bem como decifrar, como entender. Algo nela havia começado a florescer depois da semana em que ela estivera com Shiranui Genma.

- Neji... - Ela pousou a xícara de chá no pires e o olhou seriamente. Suas íris brilhando num cinza claro quase lilás, idênticas às dele. - Isso tem a ver com Itachi-san?

Neji puxou o ar para dentro dos pulmões com um tremor. Todo seu corpo tensionando como uma corda prestes a estourar.

Mas o que diabos estava acontecendo com Hinata?

O que era essa insolência? Essa facilidade nova em tocar temas que antes eram varridos para debaixo do tapete como se fossem segredos nunca jamais tocados, muito menos ditos em voz alta.

- Do que você-

- No dia em que fomos todos ao The Catch - ela disse rapidamente, sua voz ainda baixa - Eu o vi, então, imaginei que você também... Como você desapareceu de repente, e-eu pensei... - ela suspirou - Nii-san, eu sei sobre os rumores... Eu não te julgo por nada disso.

Seus olhos brilharam com um afeto tão profundo que Neji se sentiu exposto demais. Precisou virar o rosto, romper a conexão. Seus dedos buscaram o maço de cigarro no bolso, desesperado por se focar em algo mais que não fosse o turbilhão assustador de sentimentos em seu peito.

A exposição de seus pecados, o medo de ser descoberto, a sensação aterradora de como aquela noite fizera com que ele tivesse se dado conta o quão perdido em seus sentimentos por Shikamaru ele estava...

- Nii-san, você pode confiar em mim.

Ele bufou, sentindo-se indignado. Acendeu um cigarro rapidamente.

- Você está muito diferente - ele rebateu, sua voz soando grave e perigosa de repente. Ele sabia que não era justo, mas o mecanismo de defesa deslizou sobre si como uma segunda pele - O que aconteceu com você essa última semana? - ele rebateu. - Você dormiu com o Genma-san?

Neji a encarou então, vendo-a corar furiosamente e balbuciar, em busca de palavras, seu rosto fervendo e as bochechas se tingindo de vermelho vivo.

- N-nii-san! - ela repreendeu. Levando uma mão delicada contra uma das bochechas e olhando-o sem graça.

Ele meneou a cabeça, sentindo-se ligeiramente vitorioso e ligeiramente envergonhado de usar tal tática. Cair naquele caminho tão conhecido de afastar as pessoas de si ao ser rude e orgulhoso para que elas não vissem por detrás de sua própria máscara, era tão fácil, como voltar a um modus operandi aprendido há tanto tempo. Ele não precisava nem pensar duas vezes.

E tudo isso só para evitar que Hinata visse suas feridas, a vulnerabilidade que jazia ali, estagnada e dolorosa por detrás da máscara fria que usava diariamente.

- Não faça isso, Neji... - Ela pediu - Se você quer que eu seja honesta, eu serei, mas você não precisa se fechar assim... Tínhamos decidido tentar. E-eu não sou sua inimiga, nii-san. Somos galhos da mesma árvore e as tuas dores doem em mim porque compartilhamos as mesmas raízes.

Neji suspirou. A sensação de luta evaporando de seu corpo e dando lugar à culpa.

Céus, quando ele ia parar de lutar?

Quando ele ia conseguir admitir para si mesmo que a luta que travava era consigo mesmo, não mais com o mundo?

Quando? Quando ele poderia ser honesto não só com ela, mas consigo mesmo e com todo o mundo ao seu redor? Com Shikamaru?

Shikamaru...

- O que está acontecendo, Nii-san? - ela perguntou outra vez, agora com uma firmeza assustadora que o fez encará-la espantado e perguntando-se, de fato, quem era Hyuuga Hinata.

Quem era essa Hinata que estava sentada à sua frente?

- Eu-

Ele parou, as palavras presas na garganta, a dor conhecida de engolir dores e penas demais e seguir em frente como se nada, ainda mais dolorido e machucado que antes.

Sua incapacidade de mostrar-se, de deixar-se ver, apertando seu peito cada dia mais.

- Eu começo - ela ofereceu, movendo-se de leve na cadeira e postando os cotovelos na mesa. Sua voz saiu baixa e melódica: - Bem, eu e Naruto-kun terminamos, eu me senti absurdamente perdida, mas ao mesmo tempo aliviada. E-então decidi me permitir viver outras experiências - ela pausou, seu olhar entristecido - É triste admitir que não nos foi ensinado sobre isso, sobre se permitir nada. Nós não fomos criados com essa liberdade...

E não haviam. Liberdade não era uma palavra existente para os herdeiros Hyuuga. Todos eles nasciam com seus destinos pré-determinados. Uma linha firme que os prendia a uma série de estruturas ainda mais rígidas.

- Genma-san está me ajudando a... aprender a me permitir.

- Vocês dormiram juntos? - ele pressionou.

Curiosidade e dúvida escorrendo dentro de si. Pois se Hinata tinha coragem de se permitir... então talvez... talvez ele também pudesse-

Hinata o encarou seriamente.

- Por que você quer saber isso?

Neji engoliu seco. Hinata estava lhe pedindo muito, demais, ela queria que ele se abrisse.

Mas não era isso que ela mesma estava fazendo? Abrindo-se para ele, do modo que podia. Não era isso que ele também pedia dela?

- Se você consegue se permitir, talvez eu também possa - ele respondeu, as palavras saíram sem filtro por entre seus lábios antes que ele pudesse pensar duas vezes. Ele rangeu os dentes, apertando o filtro do cigarro entre os dedos, sentindo o peito apertar com a confissão.

Hinata o observou, seus olhos mais abertos que antes, a expressão surpresa ao ouvi-lo assumir o que realmente buscava com essa resposta. Ela concordou de leve com a cabeça, como se investigasse dentro de si pela resposta.

- Sim, Neji.

A resposta soou simples, sem complicações nos lábios rosados dela, em sua feição aristocrática, com a moldura delicada que as ondas de seus cabelos negros ofereciam. Como um quadro. Como se fosse fácil. Como se fosse simples.

Neji sentiu algo dentro de si se desfazer. As cordas do coração suavizando, as emoções dentro de si se reorganizando, criando forma, criando corpo, ficando claras. Tão claras quanto a luz do dia que banhava Konoha com um sol ameno. Tão claras quanto os olhos idênticos de sua prima que o observavam suavemente.

Tão claras como a honestidade que Hinata acabara de lhe oferecer.

E as palavras surgiram fáceis dessa vez. Surgiram certeiras e sem dificuldade. A verdade saindo simples por entre seus lábios, sem amarras, sem penas, sem turbulência. Apenas com a aceitação e constatação de que já era hora. De que este era o momento. De que ele podia, e deveria, começar a ser honesto consigo mesmo, com seus sentimentos e desejos.

Honesto com sua vida. Com os sonhos que jamais se permitira sonhar. Honesto com o destino que podia escolher para si mesmo, o destino que ele podia tomar as rédeas com as próprias mãos e decidir a direção.

Por que se Hinata podia, então ele também.

E a verdade surgiu, assim, tão simples como um suspiro cansado e preso por muito tempo no peito:

- Estou apaixonado por Nara Shikamaru.

L

"Você vai precisar decidir."

A voz de Shikamaru rodopiou em sua mente, enquanto Sakura terminava de dar alta a um paciente e assinava os documentos. Seu corpo ficou tenso de repente. Seus olhos verdes fixos na parede bege a sua frente.

"E depois que você decidir se vale a pena tentar, vai precisar ter coragem para fazê-lo se decidir também."

Céus, onde havia se enfiado?

- Tá tudo bem, Sakura-sensei? - uma enfermeira perguntou, passando ao lado dela no corredor.

- Hai! - ela forçou um sorriso e caminhou devagar até seu consultório.

Precisava pensar. Precisava decidir o que fazer...

E se ela decidisse dar o passo, mas Kakashi não quisesse? E se isso estragasse a amizade deles? E se ela estivesse confundindo as coisas?

Claro que Kakashi se importava por ela. Claro que ele gostava dela como pessoa. Sakura sabia que ela tinha certa importância na vida do ex-sensei, mas ela não tinha certeza se ele estava pronto, ou sequer interessado.

Mas a lembrança dele no hall do apartamento dela, na frente da porta de Sakura, rejeitando o convite para entrar. A memória dos lábios dele contra a pele suave de sua bochecha... O cheiro dele, forte, masculino, a rodeando... O jeito como ele a olhara.

Céus. Ele queria.

Com certeza ele queria.

Era tão óbvio quanto a tensão palpável no ar ao redor deles naquela noite.

Kakashi provavelmente estava tão confuso quanto ela, com aquelas sensações novas os rodeando, com as dúvidas de como isso poderia impactar sua amizade, o relacionamento companheiro e amável que haviam construído desde que ela era uma garota de 16 anos.

Nossa, e como a dinâmica entre eles havia mudado: de professor e aluna para colegas. De colegas para amigos. De amigos para...

Para que?

O que era aquilo?

Não era apenas atração. Não. Ela sentia atração por Genma, talvez por Neji, mas com Kakashi era mais que isso. Era algo que fazia algo quente e agradável e esperançoso dançar em sua barriga, o peito esquentava e acalmava de um jeito estranho ao mesmo tempo em que o coração batia mais forte.

Ela gostava dele.

"Mas toda escolha tem consequências, então nós nunca saímos ganhando completamente."

A voz de Shikamaru voltou a soar em seus ouvidos. Se ela não tentasse, se não desse o próximo passo, ela nunca saberia.

Sakura conhecia Kakashi bem demais, ela sabia que ele não daria o primeiro passo. Ele era correto demais, muito consciente de que há mais de uma década ele havia sido seu professor. Kakashi com certeza veria isso como algo errado, como uma dinâmica de poder em que Sakura era o elo frágil.

Frágil.

Uma sensação agridoce deslizou por si. Ela não queria mais ser alguém frágil, facilmente quebrada ou manipulada. Ela queria ser dona de seu destino, ela queria ter voz e determinação e alcançar o que quisesse.

Ela estava cansada, depois de todos esses anos desperdiçados com Sasuke-kun...

Sakura queria florescer, e deixar as pétalas caírem no fim da primavera, sabendo que as flores voltariam. Sem medo das consequências que as demais estações do ano poderiam causar.

Consequências.

Eles eram adultos. Se Kakashi não quisesse, bem, eles passariam página, como um crush bobo. Mas se ela quisesse que ele a visse como adulta, ela teria que enfrentar essas consequências.

Ela respirou fundo, decidida, passou a mão no telefone e digitou o número fixo dele.

Ela lidaria com as consequências depois.

O

- Então é aqui que você se esconde?

A voz dele, grave e ao mesmo tempo brincalhona, a fez sorrir discretamente, enquanto se apoiava no batente da porta e encarava o Shiranui. O vento bagunçava seus cabelos soltos, um brilho nos olhos refletindo o sol firme de Suna. Havia algo em Genma, algo diferente, algo novo, algo que a fazia querer descobrir.

Temari era uma mulher intensa, como os desertos que compunham sua natureza dura, movediça.

Neji tinha lhe gerado um sem fim de aventuras nas últimas duas semanas, mas como tudo na vida, as novidades perdem graça com o tempo. E era muito claro que Neji tinha sua própria tempestade para enfrentar. E, neste exato momento, com a turbulência política que balançava as dunas firmes de Suna, ela não tinha tempo para se preocupar com aquilo.

Mas Genma...

Genma exalava uma diversão fácil. Rápida. Provavelmente frívola. E quem era ela para se negar aquilo?

- Bem vindo a Suna, Genma.

Ele sorriu e seus passos certeiros o levaram até ela, na frente do casarão antigo de sua família. Genma sorriu divertido, o calor de Suna os envolvendo, o piercing dançando entre seus lábios.

- Obrigada por me receber - ele falou simples, a mochila pendurada nos ombros e um brilho específico no olhar - Espero que eu possa te divertir um pouco nesse momento de tensão.

Tensão.

- Eu não tenho dúvidas.

Temari passou a tarde mostrando para Genma o centro da cidade, a prefeitura, e se aclimatando ao humor leve e faceiro do homem. Ele parecia interessado por tudo o que ela dizia, pela cidade, pela história, pelos locais turísticos. O interesse dele gerava uma sensação agridoce no fundo do peito dela. A atenção e interesse que ele demonstrava por sua vida e sua cidade era tão drástica quando comparada com Shikamaru, que a fazia se sentir ligeiramente triste.

Shikamaru nunca havia sido atencioso. Ele era uma fortaleza simples, calma, sempre presente quando ela precisava. Mas uma fortaleza à parte de sua vida. Era sempre ela quem construía a ponte entre eles, o laço, o vínculo. Como se o esforço fosse algo que ele não podia oferecer, pelo menos não para ela ou para a relação deles.

Embora eles encaixassem de um jeito estranho, como um quebra-cabeças impensável, suas peças muitas vezes se contradiziam e a figura final nunca tinha finalmente aparecido em suas vidas. Nunca encaixando completamente. Sempre faltando algo. Um elo, um esforço, uma demonstração segura de estabilidade.

Não que ela visse em Genma uma estabilidade ou chance de futuro. Mas o esforço que ele demonstrara na longa viagem de carro, no interesse honesto por conhecê-la, por conhecer sua terra. Aquilo tocava algo dentro de Temari que há muito tempo ela tinha desistido.

- Eu quero te levar ao meu lugar favorito - ela falou de repente - Você trouxe a câmera?

Ele riu de lado.

- Eu sempre trago minha câmera.

Temari riu. Ambos entraram no jeep.

Curiosamente, Genma era um homem de poucas palavras. Ela o havia imaginado superficial e falador. Mas aparentemente aquela era a faceta falsa, a máscara simples que ele usava no dia a dia. Como um personagem. O homem quieto e soturno sentado no banco do passageiro, não parecia ser o mesmo homem que flertava descontrolado, falava alto e fazia piadas.

Algo nele estava diferente.

Ela dirigiu até o areal, estacionou o carro e eles andaram em silêncio até o topo da duna. De lá, a visão de Suna era surreal, com o sol queimando laranja avermelhado no horizonte, banhando a cidade num pôr do sol de tirar o fôlego. Tingindo a cidade de cores quentes, firmes, vibrantes.

Temari o observou. Observou como seus lábios entreabertos e olhos ligeiramente cansados devoravam a vista em silêncio. Como os contornos de seu rosto se mancharam com uma luz alaranjada, de repente parecendo ter anos a mais dos que costumava transparecer.

Os dedos dele apertaram a câmera, mas ele não se moveu para tirar nenhuma foto, imerso em pensamentos, franzindo o cenho e piscando suavemente.

As cores mudaram exuberantes no céu, o laranja avermelhado ganhando qualidades rosa queimado, depois dissolvendo num lilás avermelhado, brilhando num roxo vivo alaranjado, para tornar-se aos poucos em um azul manchado de rosa claro. Mas Genma jamais se moveu para preparar a câmera.

O pôr do sol terminou e Genma suspirou fundo.

- Você não tirou nenhuma foto - ela murmurou, a voz receosa, respeitando o profundo silêncio em que estiveram imersos pela última meia hora.

- Às vezes a natureza merece ser simplesmente admirada, sentida - Genma respondeu, sem se virar para ela.

- Hmm.

- Sua terra é linda, Temari. Se você não se importar, eu gostaria de voltar amanhã para tirar fotos. Mas hoje... - ele riu-se fraco, de um jeito tão honesto que ela estranhou - Obrigado por dividir comigo este lugar.

Os olhos castanhos dele viraram e a encararam com uma certa profundidade nova, como se a visse pela primeira vez. E Temari se perguntou se era isso o que estava acontecendo ali, se ela tinha mostrado demais de si mesma, como um livro aberto aos olhos interessados e perspicazes do fotógrafo.

- Obrigado por me deixar te conhecer, Temari - ele murmurou, sua voz soando úmida e quente, embora tivessem um longo espaço entre si.

Temari duvidou que aquele era apenas mais um jogo de sedução bobo. Uma carta na manga. Joguinho barato.

Havia tanta honestidade em sua expressão, agora ligeiramente cansada e em seu olhar tão atento à ela.

- O prazer é meu - falou calma, sorrindo de leve. E seu sorriso também saiu verdadeiro, pois era estranho poder compartilhar a beleza de sua cidade com alguém interessado em ver.

Alguém que conseguisse ver mais além das areias áridas e quentes, daquelas dunas inférteis, daquela dureza áspera tão característica de Suna, mas também dela mesma.

Ele concordou com a cabeça e andou silencioso para o carro.

Ao parecer, Temari tinha se enganado. Genma oferecia e manejava bem diversões fáceis, mas aparentemente ele também entendia de quietudes singelas e profundas.

W

Kakashi soltou a bolsa no sofá e acariciou Pakkun. Mais um longo dia em salas de aula, suspirou cansado. Por quanto tempo mais teria energia para aquilo? Os adolescentes lhe geravam uma sensação agridoce, ao mesmo tempo em que lhe brindavam intensidade e jovialidade, lhe faziam encarar como o tempo passava rápido.

Tão rápido que seus primeiros alunos já eram adultos.

A imagem de Sakura apoiada contra a porta do apartamento, corada e tensa, quase entregue, lhe assaltou a mente, seguida pela imagem daquela noite em que, muito embriagada, se trocara na frente dele e seus seios pequenos e pontudos ficaram expostos a ele como oferenda.

Mas que diabos?

Kakashi balançou a cabeça, passando os dedos no pêlo curto atrás das orelhas de Pakkun.

- Quem diria, - murmurou para o cachorro - Que eu seria um velho sensei pervertido...

Riu-se, sem nenhuma graça. O peso da sensação era muito maior do que ele conseguia manejar no momento, então andou até a cozinha para pegar uma cerveja.

Antes de ligar a TV, ele checou o telefone fixo, a luz piscando vermelha, alertando uma mensagem na caixa postal.

Seu peito se encheu de uma ansiedade estranha, nova, a noção de que ninguém lhe deixava mensagens de voz a não ser há duas semanas atrás quando Sakura decidira que essa era a melhor maneira de se comunicar autenticamente com ele.

"Você tem uma nova mensagem." A voz eletrônica anunciou e ele apertou o play.

- Kakashi, - a voz de Sakura soou na sala de estar e ele estremeceu, afundando no sofá e tomando um longo gole de cerveja. - Eu sei que provavelmente pedi muito de você quando te disse que tentasse me ver como mulher, - ela disse firme e Kakashi suspirou.

Lá vamos nós outra vez... Ele pensou cansado.

- Mas eu sei que você conseguiu. Do seu jeito, me ver como mulher.

Ela suspirou do outro lado da linha, numa pausa larga que ele não sabia como traduzir.

- Eu sei porque no outro dia... Bem, no outro dia, na porta do meu apartamento, bem- hah- - ela riu-se fraca, a voz soando úmida e tímida e ele umedeceu os próprios lábios. - Se você ainda me visse como sua aluna indefesa, bem, eu acho que aquela tensão óbvia no ar não teria acontecido...

Kakashi engoliu seco, a lata de cerveja apertando contra seus lábios numa mímica pífia da sensação quente e suave da pele da bochecha dela contra si.

- Então... Então eu decidi que se eu quero que você me veja como mulher, talvez este seja o momento propício de agir como uma adulta. Talvez isso facilite as coisas pra você. - Ele respirou fundo, imitando a respiração pesada dela na mensagem. - Kakashi...

Céus. O jeito que ela dizia seu nome era devastador.

- Eu não te vejo mais como meu sensei. Na verdade... na verdade tudo que eu queria no outro dia era que você tivesse aceitado meu convite pra entrar. Eu não sei o que teria acontecido, mas ao mesmo tempo eu sei o que eu gostaria que tivesse acontecido. Ou talvez não... Talvez não passe de uma fantasia boba.

Ela riu de novo e Kakashi sentiu um nó na garganta ao escutar a honestidade dela. A valentia de Sakura em dizer aquelas coisas, ainda que por mensagem de voz, o fazia se sentir inadequado. Como se ele fosse quem estava agindo como um adolescente.

- Acho que talvez a gente deveria conversar sobre essa tensão. Acho que isso é o que os adultos fazem, não é mesmo? E talvez seja isso que falta para você me ver como mulher, para se sentir mais seguro e deixar as coisas rolarem. Então é isso, Kakashi. - ela respirou trêmula e ele prendeu aguardou, atento - Eu me sinto atraída por você e, se eu não estou enganada, eu acho que você também está atraído por mim...

Kakashi engasgou com a cerveja e se levantou de um salto. O rosto quente e o corpo tenso. A sensação de ser visto o fazendo se sentir estranhamente exposto e fora de jogo, desequilibrado no meio de sua própria sala, com os dois pés plantados no chão.

E ao mesmo tempo...

Ao mesmo tempo Sakura estava agindo da forma mais adulta e direta que ele a havia visto fazer em toda sua vida e era... Era abrumador. Era chocante e excitante e assustador ao mesmo tempo.

Eu me sinto atraída por você.

Os seios dela ali, expostos para ele.

Eu acho que você também está atraído por mim...

Seus rostos muito próximos, o cheiro do champú nos cabelos dela quando ele duvidou e demorou tempo demais em se afastar no outro dia.

- Vai acabar o tempo, então, porque você não dá o próximo passo e vem aqui me ver hoje de noite? Ou, se você precisar de um tempo, eu entendo. Eu posso estar lendo os sinais todos errados. Se esse for o caso, tá tudo bem, acho que somos grandinhos o suficiente pra seguir com a nossa amizade. Mas... Kakashi... se eu estiver certa. Bem...

Sakura suspirou e Kakashi prendeu a respiração.

- Se eu estiver certa, saiba que eu quero tentar. E se der errado a gente lida com isso mais tarde. Te espero às 20h aqui em casa, se você estiver preparado. Ja ne!

Kakashi encarou a TV desligada, seu reflexo na tela um borrão negro. Seu coração batendo mais rápido do que ele gostaria de admitir, um desejo firme e vigoroso pulsando em suas veias e a sensação estranha de descontrole tomando conta de sua mente.

Sempre racional, sempre bem intencionado, sempre pesando entre o certo e o errado.

Mas ele queria, queria afundar os dedos na pele deliciosamente suave dela, e o nariz na curva de seu pescoço e-

Certo.

Olhou o relógio.

Eram às sete. Ainda dava tempo.

Ele precisava levar Pakkun para passear e tomar um banho.

Certo.

Ele queria.

Ele queria com uma certeza estranha e um desejo palpável que não podia negar.

Eles lidariam com as consequências depois, como adultos.

KAKASAKU FOR THE WIN

N/A: E que comece finalmente, depois de milênios, a pegação KAKASAKU, que é pra isso que tá todo mundo aqui, né. Convenhamos. Muita gente tinha me perguntado da Hinata, da semana dela com o Genms, bem aos poucos as coisas vão aparecer ^^ hehe

Loreyu'kz, mana, sinto muito que tu te sentiu ludibriada pela minha ausência e falta de updates novos. Eu também me senti ludibriada pelo meu bloqueio.

Eu ainda não sei quando vou conseguir escrever mais capítulos, gente. Eu espero que vocês tenham gostado desse capítulo, foi um pouco pra preparar terreno para o que vem. Sim, isso mesmo que vc ta pensando: PEGAÇÃO. Mas vamos torcer para eu ter inspiração, vai que eu me empolgo né :P

Love, Tai.