Capítulo 27
No caminho da cura
Jack seguia o homem desconhecido ainda segurando os dedos de Kate entre os seus, temendo que de repente um grupo de Outros pudesse aparecer e capturá-los. Ana-Lucia acompanhava o homem que ainda carregava Sawyer nas costas, ela o seguia sem fazer nenhuma pergunta. Naquele momento não estava nem um pouco interessada nos porquês, só queria continuar acreditando que ele realmente poderia salvá-lo.
Depois de um longo período de caminhada árdua dentro da mata, Kate teve que parar porque o tornozelo machucado cedeu mesmo com o peso de seu pequeno e esguio corpo. Ela escorregou e suas costas bateram contra uma parede de rochas entre as árvores.
- Kate!- Jack gritou quase caindo junto com ela enquanto tentava ajudá-la.
Ana-Lucia observou a parede que parecia um imenso pedaço das ruínas de um prédio da época do Império Romano. Tocou a rocha com a mão não machucada e olhou para Richard com olhos questionadores.
- Ai!- gritou Kate quando se apoiou no tornozelo machucado ao mesmo tempo em que se segurava em Jack.
- Quanto tempo mais vai demorar para chegarmos?- Jack perguntou, irritado. A aparência de Sawyer estava cada vez pior e agora ele também estava preocupado com Kate.
- Acabamos de chegar.- Richard anunciou calmamente. – Afastem-se da rocha por favor.
Ana ajudou Jack a trazer Kate para o lado enquanto Richard pousava Sawyer no chão. Ele teve cuidado, mesmo assim o sulista deu um gemido de dor.
- Sawyer!- murmurou Ana indo ao encontro dele.
Richard pegou uma pedra do chão e ergueu no ar.
- O que vai fazer?- perguntou Kate, confusa.
Ele não respondeu, ao invés disso mirou a pedra em uma parte específica da rocha e a atirou, com um baque surdo a pedra se despadaçou contra a parede coberta de limo e de repente, o barulho de cordas sendo erguidas por roldanas foi ouvido. Jack agarrou Kate pela cintura. Ana envolveu o corpo ao redor de Sawyer e fechou os olhos sem saber o que esperar daquilo. O som durou cerca de dois minutos e quando eles levantaram o rosto para ver o que tinha acontecido encontraram Richard de pé diante de uma escada de pedras corroída.
- Quer que a gente entre aí?- perguntou Jack, desconfiado.
Richard assentiu. Jack abriu a boca para dizer alguma coisa mas Ana o interrompeu, dizendo:
- Vamos!
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Michael ainda não tinha aparecido, o que poderia significar que o plano deles ainda estava dando certo, mas Juliet sentia uma inquietação dentro de si que dizia que algo tinha dado errado e que ela deveria desaparever da vila antes que Ben acordasse e fosse atrás dela.
Já estava escurecendo quando ela deixou a casa dele e procurou por uma mochila que tinha escondido perto da casa de reuniões. A mochila continha seus pertences básicos para sobreviver alguns dias sozinha na floresta esperando que Sayid a ajudasse a ser aceita no acampamento dos sobreviventes do 815. O telefone via satélite era coisa mais preciosa que tinha.
Colocou a mochila nas costas e encheu seu cantil com água mineral de uma fonte natural que servia a vila. Estava se encaminhando em direção às árvores quando ouviu o ruído de um dos jipes da Dharma retornando para a vila. Escondeu-se depressa atrás de uma cerca de madeira e ficou observando o veículo. Dois homens de seu vilarejo desceram do carro arrastando um terceiro homem todo amarrado que Juliet logo reconheceu como John Locke.
Logo atrás daquele jipe vinham mais dois outro homens do vilarejo acompanhados de um homem alto e moreno que carregava uma mochila que parecia muito pesada.
-Michael.- Juliet murmurou.
Se Michael Dawson estava lá sozinho, aonde estariam os outros? E mais importante, o que teria acontecido com Sayid?
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A longa escada de pedra levou Jack e os outros através de um longo túnel escuro. Richard continuou carregando Sawyer, mas eles não conseguiam ver nada na frente deles. O médico continuava amparando Kate por conta de seu tornozelo machucado; Ana-Lucia seguia Richard de perto enquanto ouvia angustiada os gemidos de Sawyer que agora tinham se tornado incessantes apesar de ele ainda estar inconsciente.
Eles finalmente avistaram uma luz fraca no fim do túnel. Jack franziu o cenho e disse para Richard:
- Sinceramente, se você não nos disser agora mesmo para onde está nos levando, nós vamos voltar daqui!
Richard continuou andando seguido de Ana-Lucia sem se importar com as palavras de Jack. Kate apontou para a fonte de luz que vinha de uma tocha pendurada na parede de rochas na saída do túnel e Jack ficou de boca aberta quando viu uma pirâmide de pedra enorme no centro do que parecia ser uma grande praça cercada por monumentos em ruínas. Para além da pirâmide um incontável número de pequenas casas primitivas de pedra se estendia. Um homem baixo, de longos cabelos negros e feições asiáticas, usando uma túnica bordada que o fazia parecer com um lendário samurai saiu de dentro da pirâmide e veio ao encontro deles.
- Boa noite, Dogen.- Richard disse.
O homem apenas acenou um cumprimento com a cabeça antes de dizer:
- Esse homem não tem muito tempo.
Jack deu um pequeno riso abafado, pensando consigo mesmo que era muito óbvio que Sawyer estava morrendo, qualquer um poderia ver, não precisava ser médico ou profeta para ver isso.
- Precisamos vê-la o quanto antes.- Richard acrescentou.
O homem assentiu.
- Venham comigo!
Jack deu um passo à frente de imediato mas foi parado pelas palavras de Dogen.
- Vocês não!- disse ele para Jack e Kate. – Apenas ela.
- De jeito nenhum!- Jack resmungou.
Ana-Lucia colocou a mão no braço dele suavemente e falou:
- Está tudo bem, Jack.
- Ana!- Kate insistiu mas ela acompanhou Richard e o homem para dentro da pirâmide.
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John Locke ainda estava se perguntando em que lugar estava quando o colocaram no jipe. Entretanto, ao ver a silhueta de alguém familiar que tinha acabado de descer de um outro jipe parado perto das casas, John piscou bem os olhos para ver se estava enxergando direito, mas aquele homem que avistava definitivamente se parecia muito com Michael.
- Michael!- ele ousou gritar do jipe em movimento.
O nova-iorquino ouviu a voz de Locke nitidamente, mas fingou não ter ouvido. Se o pobre homem tinha sido capturado não havia nada que pudesse fazer; tinha que continuar seguindo com o plano e tirar Walt daquela ilha o quanto antes. Era a única coisa que lhe importava.
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Uma luz muito brilhante podia ser vista à entrada da pirâmide, assim como um vento frio envolveu rapidamente o corpo daqueles que chegavam perto dela. Por alguma razão que não conseguiu entender, Ana sentiu medo, muito medo. Quase o mesmo medo que sentira quando fora acertada por aquela bala fatal em serviço que tirou a vida de seu filho não nascido.
- Richard irá carregar James para dentro da pirâmide e caminhará com você até certo ponto, depois disso terá que seguir sozinha e negociar com a ilha pela vida dele.
- Como sabe o nome dele?- Ana perguntou ainda sentindo o medo dominá-la.
- A ilha me contou.- respondeu Dogen. – Agora vá Ana-Lucia e que os pecados de vocês sejam perdoados para que ele receba a cura.
Dogen se afastou e Richard disse para a Ana:
- Você precisa entrar primeiro, se não o fizer a ilha vai te considerar arrogante e não te dar nenhuma chance de ser ouvida.
Ana-Lucia assentiu e fazendo uma prece em seus pensamentos, entrou. Ficou abismada ao ver o que tinha dentro da construção de pedra antiga. A luz que emanava da pirâmide era ainda mais intensa dentro, quase cegando-lhe os olhos, mas alguns segundos depois foi como se seus olhos tivessem se acostumado ao brilho. Richard tinha entrado logo depois dela e depositado o corpo inerte de Sawyer em uma pedra alta que se parecia à um altar de sacrifícios. Ana não percebeu a entrada e nem a saída dele porque a luz a hipnotizava e ela não conseguia sequer piscar.
- Ana...
Uma voz sussurrou seu nome de repente, era uma voz que parecia vir de muito tempo atrás, uma voz que tinha poucos traços humanos e que gelou o sangue de Ana-Lucia e eriçou todos os pelos de seu corpo.
- Então vens à mim pedir pela vida de James Ford?- a voz perguntou, sombria.
- Quem é você?- questionou Ana, firme, embora todos os seus músculos estivessem tensos naquele momento.
Ouviu-se um som semelhante ao de um avião ganhando velocidade, seguido do som de unhas arranhando as pedras. Ana tapou os ouvidos porque o som era muito alto.
- Já fui chamada de muitos nomes.- a voz respondeu, mas dessa vez o tom de voz era humano e feminino. – Promessa...esperança...sonhos...milagres...Eva...mãe!- ela acrescentou se materializando na frente de Ana-Lucia em uma mulher alta de longos cabelos negros com feições de sabedoria, usando uma túnica brilhosa que se confundia com as luzes de dentro da pirâmide.
Ana-Lucia sufocou um grito e instintivamente se postou ao lado de Sawyer, deitado na pedra.
- Você foi abençada pela ilha.- disse a mulher colocando a mão inesperdamente no ventre de Ana-Lucia, fazendo-a sentir-se zonza. Tentou desvencilhar-se do toque frio dela, mas a mulher não tardou em recolher sua mão.
- Isso era o que você mais queria, não era?- continuou a mulher, obviamente se referindo à gravidez dela. – Então por que quer salvar a vida dele? Ele tem pecados, muitos pecados.
- Eu também tenho pecados.- disse Ana-Lucia.
- Sim, você tem. Muitos pecados e uma benção, mas junto com ele...- ela apontou para Sawyer. - ...os pecados se multiplicam. Então por que salvar a vida dele?
- Porque eu o amo.- Ana se viu admitindo como se aquela mulher pudesse arrancar toda e qualquer verdade dos conspícuos de sua mente.
- Faria qualquer coisa para mantê-lo vivo? Para preservar o amor dele?
- Qualquer coisa.- Ana sussurrou em lágrimas, tocando os cabelos loiros dele.
- Você não se vê mais sozinha sem ele nesse mundo?
- Por favor...- Ana murmurou.
- Mas existe um preço!- disse a mulher em voz alta. – Estás disposta a pagar esse preço, Ana-Lucia Cortez?
Continua...
