Audrey Morgan se levantou e admirou a calmaria na Rua Baker no início daquela manhã de Sábado.

Você vai ter que seguir sem a minha ajuda, Sherlock. Sei que vai conseguir — pensou ela se virando para dentro do quarto e começando a arrumar a cama. — O que eu fiz ontem com a Rosie... E se ela tivesse acordado? Tivesse subido a escada sozinha? E se caísse igual no meu pesadelo? — A mulher sentiu um aperto no peito. — Mesmo que eu deixe de cuidar dela, para quem eu vou me tornar uma ameaça depois? Preciso ficar o mais longe possível de vocês — afirmou Audrey em voz baixa tentando conter as lágrimas.

Ela olhou para a cama organizada contente com o trabalho bem executado.

— Mas antes, quero fazer uma coisinha para agradecer tudo que fizeram por mim — afirmou ela antes de pegar uma muda de roupa e descer para um banho demorado.

Quando terminou, foi para a sala onde Sherlock já tomava seu chá e encontrou um bule ao lado de uma xícara vazia em uma bandeja à sua espera sobre a mesinha ao lado da poltrona de John.

— Bom dia! — Cumprimentou ela com um sorriso no rosto enquanto se servia sentada de frente para ele.

— Acordou animada — comentou Sherlock depois de sorrir em resposta analisando o comportamento da mulher.

— Não dormi muito bem ontem, mas o banho foi revigorante — justificou ela.

— Sim, eu ouvi você gritar às quatro da manhã.

— Peço perdão por isso novamente — Audrey levou a xícara à boca.

— Não se incomode — Sherlock achou estranha a forma como ela estava vestida. Parecia pronta para sair, mas sabia que John não a contratara para trabalhar nos finais de semana.

— Ah, Sherlock — a mulher estava um pouco envergonhada com o que estava prestes a fazer, mas foi adiante. — Se não for muito incômodo, será que eu poderia usar sua cozinha hoje à tarde para preparar uma coisinha para a noite? Nada muito inusitado, não se preocupe.

O homem levantou os olhos da xícara e a encarou.

— Aprendi uma receitinha na internet e pensei em fazer para a gente. Só eu, você, o John e a Rosie, a Molly e a senhora Hudson. Posso? — Ela sorriu.

— Algum motivo especial?

— Não, só cozinhar para os amigos — Audrey se arrependeu da última palavra que usou. Não que considerasse o grupo de outra forma, mas achava precoce anunciar aquilo, mesmo que seus sentimentos fossem sinceros.

— Claro, por que não? — A resposta Sherlock, sem mais questionamentos a surpreendeu. — Precisa de ajuda para alguma coisa?

— Se você puder ligar para o John e pedir para ele vir para cá de tarde com a Rosie, eu agradeço.

— Considere feito — respondeu o homem com seu cérebro começando a trabalhar nas possibilidades que poderiam estar motivando aquele comportamento.

— Bem, então preciso ir — ela se levantou e terminou o chá. — Fazer umas comprinhas.

— Até mais tarde — Sherlock sorriu.

— Até — ela sorriu de volta com a certeza de que o detetive estava estranhando a atitude dela, mas ficou grata por ele não interferir.

Assim que Audrey deixou o apartamento, Sherlock pegou o celular e ligou para John. Ele sabia que havia algo errado acontecendo, mas deixaria a mulher agir para ver até onde ela iria com o que estava planejando.

(...)
A caminho do mercado Audrey ligou para Molly Hooper que ficou animada com o convite para o jantar no 221B da Rua Baker às 8 da noite. Com a lista do que precisaria em mãos, a mulher foi enchendo o carrinho.

Estava indo muito bem, até chegar à sessão de vinhos. Ela não tinha muita certeza se já tinha experimentado a bebida, mas pelas dicas no site que leu parecia combinar muito bem com as pizzas que iria preparar. O que ela não esperava era ter tantas opções para escolher.

— John — disse ela quando ele atendeu depois do segundo toque. — Espero não estar incomodando.

— Audrey, não conseguiria mesmo que tentasse — John sorriu do outro lado da linha. — O que você precisa?

— O Sherlock já falou com você?

— Sim, estava conversando com ele até agora a pouco — por instrução do amigo, John agia como se aquela fosse uma situação habitual.

— Então, eu estou tentando escolher um vinho para hoje à noite, mas são tantas opções...

— Deixe as bebidas por minha conta — pediu ele.

— Ah não John, foi minha ideia. Eu quero assumir todo o custo.

— Uma gentileza tradicional levar a bebida quando se é convidado para um jantar assim.

— É? — Audrey não sabia se John estava dizendo a verdade, mas resolveu aceitar. — Bem, então tá. Não precisa se preocupar com a Rosie, já comprei suco de uva para ela.

O pai sorriu com a atenção da mulher com sua filha.

— Por falar na Rosie, o Sherlock se lembrou de pedir para você ir com ela para lá de tarde?

— Ele pediu sim, pode me dizer o porquê?

— É que eu quero a ajuda da Rosie na cozinha.

John não resistiu e deu uma gargalhada.

— É sério — Audrey começou a empurrar o carrinho em direção aos caixas com um sorriso no rosto. — Tenho certeza que ela consegue me ajudar com as massas e na montagem.

— Tudo bem, então. Estaremos lá antes das quatro.

— Perfeito!

Audrey se despediu e desligou o telefone, animada por seu plano estar dando certo. Enquanto estava na fila, uma arara repleta de aventais infantis chamou sua atenção. Escolheu um estampado com pequenos unicórnios e uma fita amarela para amarrar nas costas e colocou no carrinho. Depois de pagar por tudo, saiu do mercado seguindo de volta para a Rua Baker.

Antes de subir para o apartamento de Sherlock, fez questão de parar para convidar a senhora Hudson para o jantar. Ela ficou animada com o convite e ofereceu ajuda para preparar, o que Audrey dispensou explicando que já tinha uma ajudante escalada para o serviço.

(...)
— Antes de começar, tenho uma coisinha para você Rosie — disse a mulher segurando a menina pela mão na entrada da cozinha e caminhando em direção à mesa.

Assim que chegou do mercado, Audrey tratou de tirar do caminho todo e qualquer experimento de Sherlock, tomando cuidado para não estragar nada e deixou tudo organizado em uma mesinha menor que ficava entre um armário de madeira e a porta na parede oposta a pia e o fogão.

— Pra não sujar, muito — ela olhou sorrindo para John tirando o pequeno avental de dentro de uma das sacolas. — Sua roupinha.

— Fique tranquila, eu trouxe outra — informou o pai sorrindo.

— Que é isso? — Perguntou a menina enquanto a mulher a vestia.

— Quando você começar a cozinhar com o papai, pode usar para não se sujar — Audrey terminou o laço nas costas de Rosie. — Talvez você precise crescer um tiquinho mais — ela sorriu olhando para a pequena com o avental quase chegando aos seus pés.

Cozinhá! — Ela bateu as duas mãozinhas uma contra a outra em comemoração.

Audrey e John riram.

Logo a mesa da cozinha estava toda suja de farinha com as massas sendo preparadas. Depois de um tempo apenas olhando, John também resolveu participar da atividade e arregaçou as mangas da camisa azul clara xadrez que usava para ajudar.

Os três acabaram sujos de farinha, mas a maior parte estava em Rosie que ao mesmo tempo em que mexia com as massas passava a mão no rosto, no avental e nos cabelos.

Sherlock observava tudo de sua poltrona na sala tentando descobrir o motivo para Audrey estar agindo daquele jeito. Apesar de ser agradável aos olhos de quem acompanhava o sofrimento dela, a postura alegre e despreocupada se divertindo com John e a filha era muito suspeita.

O detetive, porém, não interferiu e recusou todos os convites para participar da bagunça, mesmo quando Rosie o convidou.

— Bem, já pré-assamos as massas, agora é só deixar as pizzas montadas na geladeira e colocar no forno uns minutos antes da hora que combinei com a Molly e a senhora Hudson.

— Você checou a geladeira? — Perguntou John.

Audrey riu antes de responder — não se preocupe, não há nada exótico lá dentro.

Rosie também riu mesmo sem entender do que se tratava.

— Será que embaixo dessa farinha toda ainda tem uma menina? — O pai fez cócegas na filha que riu ainda mais.

— Podemos descobrir com um banho — respondeu Audrey pegando a bebê no colo.

— Pode deixar que eu faço isso — disse John.

— Minha culpa ela estar coberta de farinha — a mulher tirou uma folhinha do cabelo de Rosie. — E com manjericão no cabelo. Me deixa cuidar da pequena mais um pouquinho.

— Você quem sabe — o pai sorriu. — Eu vou comprar o vinho então. Sherlock vem comigo?

— Yep! — Respondeu emitindo um estalo com os lábios ao pronunciar a letra 'p' antes de se levantar.

— John, acho melhor você dar uma passadinha no banheiro antes de sair... — sugeriu Audrey.

— Papai tá sujo de falinha — explicou a pequena.

— Rosie tem razão — concordou a mulher.


Nota da autora: O que Audrey estará planejando? Várias teorias passam pela cabeça de Sherlock, mas ele ainda está acompanhando os fatos para descobrir com 100% de certeza quais são as intenções da mulher e só assim fazer alguma coisa. Será que ele vai descobrir a tempo?