Os quatro companheiros estavam na sala privada do castelo. Cada um lia algo diferente. Harry estava no divã próximo à janela enquanto lia um livro de feitiços, Marcus lia um romance qualquer, Caius lia mais sobre companheiros bruxos, e Aro, bem, ele deveria estar lendo alguns papéis importantes e assinando, mas sua mente navegava para seus companheiros.
Marcus e Harry não eram mais frios com eles, mas tinha um buraco na relação e isso devia ser consertado.
Antigos amigos e colegas de escola de seu jovem companheiro vieram para o castelo, e de acordo com as recentes cartas recebidas, mais estavam por vir. Não era frequente o castelo se encher de humanos, mas qualquer coisa para o seu companheiro. E por falar nisso, ele nem sabia o que seu companheiro tinha em mente ao convidar tantas pessoas. Talvez ele estivesse se sentindo sozinho, ou talvez ele tenha sentido falta já que não conseguiu completar seu ano em Hogwarts. Seja lá qual tenha sido a intenção de seu companheiro, ele estava bem com isso, já que Harry parecia sorrir mais. Bem, ainda havia uma pulga atrás de sua orelha, mas ele podia conviver com isso.
- Diga, Aro. Seus pensamentos atrapalham minha leitura e pretendo terminar esse livro ainda hoje. – Harry quebrou o silêncio sem nem mesmo desviar seus olhos da leitura atual.
Os outros dois vampiros desviaram sua atenção alternando o olhar entre Aro e Harry.
- Aconteceu algo, Aro? – Veio de Caius quando percebeu a inquietação do companheiro.
- Desculpe, nada de tão importante, podem continuar. – Ele voltou para os papéis tentando se concentrar novamente.
- Diga logo ou vou precisar sair dessa sala. Seus pensamentos estão tão rápidos e desordenados que mexe com meu vínculo. – Harry suspirou e deixou o livro de lado.
- Eu estava me perguntando qual foi o motivo de você convidar tantas pessoas. Não me leve a mal, não estou incomodado, apenas curioso. Nos primeiros meses que você estivera aqui na Itália nunca convidou tantos, exceto para o aniversário de Celine.
Harry pensou se era uma boa ideia dividir seus planos com seus companheiros de vínculo. Aro e Caius eram próximos de Alec e talvez eles até pudessem ajudar. Mas isso era algo que ele queria fazer sozinho. Alec já sofrera tanto e ele tomava como sua responsabilidade aliviar Alec da pressão que o mesmo colocava sob si.
- Bem, Jane achou seu companheiro, Charlie Weasley, eu vi que Alec ficou mexido com isso. E mesmo sendo cedo demais, Jane sempre sonhou em conhecer o mundo e Charlie está disposto a pegar suas férias acumuladas e mostrar para ela tudo oque ela ainda não conheceu. – Ele deu uma pausa e respirou fundo. – Todos nós sabemos como eles sofreram e se culparam pela morte da própria irmã quando jovens.
- Mas eu ainda não entendo. O que essas pessoas tem haver com nosso filho? Todos eles estão em um relacionamento, isso não pioraria para Alec?
Por um breve momento o coração de Harry aqueceu mais quando Aro disse "nosso filho". Podia parecer pouco, mas isso indicava que podia dar certo futuramente, e secretamente, ele desejava isso.
- Eu nem imaginava que eles já teriam alguém, e não estou tentando empurrar alguém para o nosso filho, um vinculo de companheiro é alo sagrado, sei muito bem disso. Mas pensei que se ele conhecesse diferentes pessoas, diferentes passados, diferentes conhecimentos e diferentes relacionamentos, cada um trazendo sua tradição, ele poderia tirar a mente do lugar sombrio em que está desde o aparecimento de Charlie.
- Deixe-me ver se entendi direito. – Marcus finalmente se fez presente na conversa. – Com tantas novidades, Alec se distrairia e possivelmente entenderia que pode ser feliz sem um companheiro?
- Não era muito bem isso que eu tinha em mente, mas pode servir por enquanto. – Ele se levantou do divã e observou a pequena cidade da janela. Harry amava essa vista. – Sei que não podemos procurar desenfreadamente por seu companheiro, mas podemos aliviar sua dor. Vocês se tinham por um longo tempo, então não sofreram. E antes de receber minha herança, eu já tinha alguém e Celine para cuidar. – Memórias de Cedric vieram à sua mente, por mais que sua mente já tivesse entendido, seu coração ainda falhava algumas batidas. Cedric fora seu primeiro amor e por mais que ele tivesse seus companheiros de alma, Harry sabia que seu coração nunca deixaria de amar seu Cedric, o pai de sua filha. Seus pensamentos voaram pelos momentos de trocas de beijos e carinho em algumas alcovas de Hogwarts ou no banheiro dos monitores.
- Harry? – A preocupação no tom de Caius era clara.
- Nada de nota. – Ele colocou seus pensamentos no trilho novamente.
- Você está angustiado. – Marcus observou e logo foi para o lado de Harry. O vampiro o fez se sentar no divã e pegou em suas mãos, acariciando com seus longos polegares. – Diga, meu companheiro, o quê fez suas emoções mudarem tão rapidamente?
- Falar de Celine me lembrou seu pai, me desculpe.
- Você não tem com o que se preocupar. Seria justificável sentirmos raiva por nosso companheiro pensar em outro. Mas falando por mim, eu não sinto raiva, Eu me sinto agradecido por ele ter cuidado de você. – Caius tentou acalma-lo.
- Harry, olhe para mim. – Aro apareceu em seu campo de visão. – Cedric cuidou de você, te ajudou, te protegeu, te deu amor e carinho, ele lhe deixou com um presente maravilhoso que me faz sorrir todos os dias. Não temos que ficar com raiva, temos de ser feliz por você ter tido alguém tão bom em sua vida.
- Você o amou e sabemos que ainda o ama. Você não o esquecerá, também estamos cientes disso. Eu vejo que você está o deixando no seu passado, é bom seguir em frente. Mas entenda que seu passado não pode ser mudado. Ele foi seu primeiro em tudo e isso ficará na memória, ainda mais com o último pedaço dele, nossa pequena Celine. – Marcus se esticou para frente e deixou um selar na testa do companheiro.
- Vocês nunca vão exigir que eu esqueça dele ou ficar com raiva quando de repente memórias dele surgir? – Perguntou com parte receoso e parte aliviado.
- Nunca. – Os três vampiros afirmaram juntos.
- Obrigado. – Harry ainda estremeceu um pouco, mas se aconchegou nos braços de Marcus. Sua mente um pouco mais aliviada. Realmente, as pessoas não mentiram quando disseram que desabafar alivia.
As horas se passaram e nenhum deles queria sair daquela bolha reconfortante. Tirar o dia para eles foi bom. Eles amavam suas crianças, mas um momento à sós sempre era apreciado. Esse tempo serviu ainda mais para fortalecer o vínculo.
