A manhã de Domingo começou tranquila no 221B da Rua Baker, mas não de forma habitual. Quando a Sra. Hudson entrou no apartamento trazendo um prato com scones de mirtilo em agradecimento à Audrey Morgan pelo jantar, encontrou John Watson na cozinha de roupão sobre o pijama fazendo café.

— Bom dia, John — cumprimentou ela. — Saudade dos tempos que era comum te encontrar assim.

— Bom dia, Sra. Hudson — ele se virou de frente para a amiga e sorriu. — Tenho saudades também, mas acho que dessa forma foi melhor para Rosie.

— Tem razão. Uma criança precisa ter um ambiente um pouco mais tranquilo do que esse que vocês têm aqui — a idosa sorriu sentando de frente para a mesa.

— Café? — John ofereceu se virando de frente para a cafeteira.

— Não, obrigada. Já tomei meu chá.

— Eu vou querer — Sherlock Holmes saiu do banheiro vestindo suas roupas sociais, encheu uma xícara com o café recém-coado e adicionou açúcar.

— Vai a algum lugar? — Perguntou John enquanto se servia.

— Sim — o homem respondeu tomando um primeiro gole da bebida com cuidado para não se queimar.

— Parece que o vinho ajudou mesmo a Audrey a dormir — comentou a Sra. Hudson. — Geralmente ela é a primeira a se levantar.

— Ela já acordou, e já saiu — informou Sherlock sentado na cadeira próxima à cabeceira da mesa sem se alterar.

— Como assim saiu? Não são nem oito horas da manhã! — John olhou preocupado para a senhora Hudson.

— Talvez ela tenha ido fazer uma caminhada... — sugeriu a idosa.

Sherlock olhou para o relógio de pulso e continuou tomando o café calmamente.

— Eu te falei que tinha alguma coisa acontecendo, John. Só precisava deixar a Audrey chegar o mais longe possível para meu plano de trazer ela de volta funcionar.

— Sherlock ela não é um caso que pode esperar uma das suas soluções! — John ainda estava em pé e ficava cada vez mais impaciente se esforçando para não gritar e acordar a filha. — Ela está doente! O que fizeram com ela foi cruel. Só monstros para induzir esse tipo de amnésia em uma pessoa! Se eu soubesse que a Audrey estava tão mal não teria deixado você me convencer a deixar ela continuar o que estava fazendo!

A Sra. Hudson acompanhava a discussão tentando acompanhar o que os dois estavam falando.

— São os pesadelos, não são? — Perguntou a idosa.

— Sim, Sra. Hudson — John trocou um olhar com o amigo para descobrir se Sherlock tinha consciência que ela sabia sobre os pesadelos. — E, além disso, o tipo de amnésia que provocaram nela pode levar a episódios de fuga como esse. No caso da Audrey, a falta de lembranças sobre o porquê fizeram isso a faz acreditar que mereceu o que aconteceu e que todos vão fazer a mesma coisa uma hora ou outra. Por isso ela tem lavado a louça, cozinhado, cuidado da casa e não queria receber para tomar conta da Rosie — respondeu John bebendo um gole do café tentando manter a calma.

— Mas isso é ridículo! Ela é um amor de pessoa! Quem não gostaria de tê-la por perto? — A idosa estava inconformada.

— Audrey acredita que sua presença nas nossas vidas é de alguma forma um incômodo e decidiu ir embora — respondeu Sherlock deixando a xícara vazia sobre a mesa, conferindo as horas no relógio de pulso mais uma vez antes de ficar de pé e pegar o sobretudo que estava sobre o encosto da cadeira ao seu lado.

— E está sendo para você? — Perguntou John.

— É óbvio que não! — Retrucou ele levemente irritado. — Francamente de onde você tira essas ideias?

— Aonde você vai? — Perguntou o amigo ao vê-lo enrolando o cachecol em torno do pescoço.

— Buscar a Audrey — respondeu Sherlock calmamente.

— Eu vou com você — afirmou ele.

— Não, não vai! Para o que eu planejei dar certo, eu preciso fazer isso sozinho — Sherlock foi categórico. — Temo que ela desconfie da minha sinceridade se houver mais gente por perto. Audrey é esperta e já percebeu o quanto vocês justificam minhas atitudes e interferem no meu comportamento — explicou ele. — Pelo bem de todos, é verdade — acrescentou ao final.

— E por onde você vai começar a procurar? — John cruzou os braços sobre o peito.

O clássico sorriso indicando que havia descoberto tudo antes de todo mundo iluminou o rosto de Sherlock Holmes.

— Eu disse que vou buscar a Audrey, não procurar.

— E onde ela está? — Perguntou a Sra. Hudson.

— Se eu calculei certo, e com certeza calculei, ela vai levar 3 horas para chegar ao ponto de onde saiu aquele dia em que nos encontrou e tomará lá a decisão final do que fazer. De táxi com o trânsito livre estarei lá em uma hora, como ela saiu às 6 da manhã, chegaremos praticamente juntos.

— Que decisão final, Sherlock? — Questionou John.

— Por favor, Jawn! Ela pegou minha arma no armário da cozinha — disse ele com raiva tanto dos amigos por demorarem a perceber o que estava para acontecer quanto dele mesmo por não ter acreditado que ela seria capaz de ir até o fim com aquilo. — A porta mal fechada foi a dica final — explicou.

John largou a xícara com café pela metade sobre a bancada e abriu o armário apenas para tirar a caixa de madeira onde eles guardavam a arma e as balas. Apenas as munições estavam ali.

— Será que ela quer voltar naquela casa que vocês invadiram para investigar por conta própria? — A idosa estava preocupada.

— É uma possibilidade plausível, Martha, — disse John tentando manter a calma. — Mas só está faltando uma bala e eu temo que seja algo um pouco mais perigoso que ela tem em mente. Devia ter percebido depois daquele jantar ontem e impedido ela de ir adiante... — lamentou ele cobrindo os olhos com uma das mãos.

— Audrey estava se despedindo — concluiu o detetive.

Sherlock vestiu o sobretudo e saiu da cozinha deixando John e a senhora Hudson chocados e aflitos pelo que parecia estar para acontecer e torcendo para que ele conseguisse evitar.


Nota da autora: Um dia o John vai sofrer um infarto e a culpa vai ser toda do Sherlock! Hahahaha...

Finalmente Sherlock está indo atrás da Audrey para trazê-la de volta! A busca dele continua no próximo capítulo. Quem estará certo sobre as reais intenções da mulher?