Os Potter(s)

Draco fazia anotações no relatório semanal, rodeado de pilhas de pergaminhos, enquanto supervisionava a detenção de Luna. Ela organizava o trabalho de Poções dos alunos do primeiro ano. Era tarefa de Draco e foi solicitado pessoalmente por Snape, mas ele uniu o útil ao agradável e terceirizou o serviço. E Luna só cumpria as detenções que recebia quando era ele quem aplicava.

Apenas os dois estavam na sala dos monitores. Vez ou outra um monitor entrava para entregar algo ao sonserino.

Luna suspirou dramaticamente alto pela milésima vez.

Draco revirou os olhos e não levantou o olhar do trabalho que fazia. Sabia que Luna estava enrolando.

"Se você terminasse logo, eu poderia te dispensar."

"Para quê?" Cruzou os braços na mesa e afundou a cabeça neles. "Blaise está mal humorado e bebendo sozinho em algum canto desse Castelo." Isso chamou a atenção do loiro. "Pansy está assistindo a partida da grifinória contra a lufa-lufa. Ronald e Harry Potter estão jogando-" Luna balançou a cabeça. "Eu sei, você não liga." Afinou a voz, numa falsa impressão do outro. "E Ginevra e Theodore ainda não voltaram do casamento." Suspirou mais uma vez, praticamente se lamentando das opções. "Só tenho você, Draco."

"Não sei se percebeu, mas não estou com muito tempo livre, Luna." Resmungou para o monte de trabalho que colocava em ordem. Amaldiçoou a Granger. De novo.

Ela levantou a cabeça e encontrou o olhar dele. Sentiu o coração apertar quando se deparou com seus olhos vazios. Draco estava mais pálido que o usual e carregava atípicas olheiras no semblante afiado. Ela sabia que ele estava trabalhando por dois nas tarefas da monitoria, apenas isso já justificaria sua falta de tempo. Quando ela disse que Blaise estava mal humorado, não chegava a um por cento do estado de espírito de Draco.

Draco estava insuportável. E Luna simplesmente não sabia por quê.

"Por que ninguém me conta o que está acontecendo?" Colocou a varinha atrás da orelha e cruzou os braços.

"A Granger largou a monitoria e eu estou carregando esse bando de incompetentes nas costas." Reclamou, voltando a atenção ao próprio trabalho. Todo o Castelo sabia desse discurso. Draco estava realmente dedicado nas responsabilidades do cargo. Mas isso Luna já sabia. Parecia se ocupar com isso apenas para divergir de outros problemas.

"Não posso nem mencionar seu nome perto de Pansy, Draco." Luna tentou soar casual e voltou ao próprio trabalho. "Ginevra não quer falar sobre você também." Isso tomou a atenção do loiro de novo. Avaliou a corvinal. "Eu não acredito que ela foi ao casamento com Theodore."

Draco descansou a pena. Sabia que Ginny não queria saber dele. Todas as vezes que tentou falar com ela alguém os interrompeu ou ela se esquivou. Foi assim a semana toda.

"Se te serve de consolo, eu também não." Respondeu irritado.

Ele tentou confrontá-la sobre isso.

Quando tentou confrontar Theodore, ele se esquivou também.

Luna sentiu a angústia bater. Olhou pela janela onde podia ver de longe o movimento dos alunos que iam até o campo de quadribol.

"Blaise está distante." Draco tentou controlar o temperamento.

"Não se preocupe, querida. Ele fica assim toda vez que a mãe se casa, amanhã ele volta ao normal." Sabia disso, pois era o milésimo casamento dela.

"E o que houve entre você e Pansy?" Pressionou.

"Pergunte a ela." Respondeu seco. "Se ela te contasse, você entenderia Ginevra também."

Luna o encarou, atônita.

"Vocês terminaram?"

Draco não respondeu.

Luna sentiu o coração se despedaçar em mil pedaços. Ela se levantou e atravessou a mesa para se aproximar do loiro. Sentou-se ao seu lado e colocou a cabeça em seu ombro.

"Ela não me contou." Sentiu Draco enrijecer com a sua aproximação. "Sinto muito."

Ficaram alguns minutos em silêncio.

"Eu também."

DgDgDgDgDg

Pansy estava deslocada. E não era só impressão.

Puxou o cachecol firmemente no pescoço e retribuiu o aceno de Ron, sorrindo. Ele estava animado com a sua presença na arquibancada e ela tinha a impressão que a quantidade de piruetas que ele fazia não era normal. Era a primeira vez que assistia a uma partida oficialmente como sua namorada e na torcida de sua Casa.

Escutou seu nome e viu Parvati Patil e Lavander Brown cochichando e as encarando. Seria melhor se Ginny estivesse com ela.

"Ignore-as." Hermione Granger surgiu ao seu lado. Os cabelos esvoaçavam e vestia escandalosas peças vermelhas e douradas em apoio ao seu time.

"Granger."

Pansy puxou o binóculo e deu uma espiada no namorado de novo.

"Ele está nervoso." Hermione comentou. "Quer te impressionar."

Pansy a encarou.

"Você vai narrar o jogo todo, Granger? É um bom sinal que você recuperou a própria voz, seria insuportável se fosse na voz do zelador."

"Não." Hermione riu. "Já li três livros sobre quadribol e ainda não entendo nada do jogo."

"Ótimo!" Pansy quase sorriu também. "Não estou sozinha." Ela se sentou e Hermione aproveitou a deixa e se sentou também. "Ginny ainda não voltou?" A sonserina tentou localizar a cabeça vermelha na arquibancada e nada.

"Não." Hermione consultou o relógio. "Ron ainda não faz ideia que ela saiu do Castelo com Nott ontem?"

Pansy desviou o olhar.

"Não foi exatamente difícil mantê-lo ocupado, se é que você me entende."

Hermione entendeu exatamente o que ela quis dizer e sentiu o rosto esquentar. Apertou uma mão na outra, apreensiva. E não era por causa do jogo.

"Não sei como você aguenta." Acenou para Harry que voou por perto. "Manter o relacionamento com Ron e não contar-" Ela hesitou e terminou num sussurro. "você sabe."

"Granger!" Hermione a olhou. Pansy ponderou por uns segundos antes de relaxar os ombros. "Acredite-me quando digo que não é com pouco peso na consciência e sem aperto no coração."

Hermione assentiu compreensiva.

"E não tem como desfazer esse feitiço?"

"Não." Respondeu acenando para Ron, pela defesa que fez. "Recorri ao Tio Lucius para tentar reverter." Hermione sentiu ânsia com a informação.

"O mundo bruxo é muito machista." A grifinória resmungou.

Pansy a encarou. Já tentou de tudo, afinal. Já que estava no fundo do poço, por que não abraçar a situação?

"Você é inteligente."

"Obrigada?"

Pansy revirou os olhos.

"Quero dizer que já pedi ajuda ao Prof. Snape, ao Tio Lucius e ao advobruxo que o Sr. Greengrass sugeriu." Pesou suas palavras para não ofendê-la. "Mas não pensei em tentar alguém mais simples."

Hermione cruzou os braços.

"Não foi você quem leu todos os livros da biblioteca? Até os da Área Restrita?" Hermione assentiu corando violentamente. "Por que você não tenta encontrar um contrafeitiço para mim?"

Pansy viu o brilho no olhar da outra borbulhar de excitação.

"Esse é o tipo de desafio que eu gosto, Pansy!" Exclamou animada.

"Você precisa de um namorado com urgência." Não pôde evitar o comentário e mordeu a própria língua. Não deveria ofendê-la se precisava da sua ajuda. Ela mal se importou com o seu comentário. Estava genuinamente animada com o desafio.

Pansy acompanhou o olhar da morena que acenava para alguém no pé da arquibancada.

Era Ginny.

Ela retribuiu o aceno e pareceu surpresa ao ver Pansy no meio da torcida Grifinória. Pansy sorriu e assentiu para ela indicando que elas estavam bem. Ginny não contou nada ao Ron. Estava tudo bem, considerou. Elas ainda não conversaram sozinhas desde que descobriram sobre a possibilidade do seu casamento com Draco. Mas uma mão lava a outra, não é mesmo? Theo foi obrigado a participar do casamento do seu tio e Ginny quis ir com ele. Assim como Blaise, ela não ficou magoada com nenhum dos dois, pois sabia que Theo não tinha escolha. E ela entendia muito bem sobre não ter escolhas. Ele gostava de Ginny e pelo menos um tinha o apoio e a companhia do outro. Pansy não estava em posição de cobrá-la por isso e Ginny não estava em posição de cobrá-la por causa da confusão que Draco se meteu por causa dela. Todos estavam vivendo um ridículo drama que se conectava da forma mais bizarra.

A ruiva sinalizou que ficaria na parte debaixo da arquibancada mesmo.

Se Pansy se sentia deslocada nesse campo de quadribol, em plena Grifinória versus Lufa-Lufa, nada se comparava à figura alta e magra de Theodore Nott com o cachecol destoante da Sonserina no encalço de Ginny. A morena arqueou uma sobrancelha para ele que apenas deu de ombros e se sentou do lado da ruiva.

"Ginny já me contou sobre tudo, mas tem uma coisa que eu ainda não entendo." Hermione olhou fundo nos olhos de Pansy, tentando obter respostas. "O que se passa com esses dois?"

A sonserina assistiu a interação do casal sentado abaixo e perdeu o próprio namorado se desequilibrando da vassoura e sendo salvo por Potter, ao perceber os recém chegados também. Suspirou exasperada.

"Essa é a pergunta de um milhão de galeões, Granger."

DgDgDgDgDg

Blaise cambaleava pelos corredores do Castelo. Estava levemente embriagado.

Luna cumpria detenção, Pansy fingia que não tinha problemas e Draco trabalhava igual um condenado nas tarefas da monitoria. Theo ainda não chegou e Blaise não tinha certeza se queria ouvir seus relatos sobre o evento.

Tentava achar o rumo das masmorras. Desde que Draco o baniu de seu dormitório passava mais tempo no dormitório do sétimo ano.

Entrou no Salão Comunal que estava quase vazio. Quase todos os alunos foram ao jogo ou estavam aproveitando alguma atividade na área externa da Escola.

"Onde você estava, Blaise?" Procurou a dona da voz, com os reflexos comprometidos. Sorriu quando encontrou a dona da voz e se jogou no sofá ao seu lado.

"Tudo bem, Millicent?"

Millicent Bulstrode revirou os olhos.

"Você me deve um favor dos grandes, Zabini!" Ela bufou e jogou uma cópia do Profera Diário no sonserino. "Foi o casamento do ano e a família real de Mônaco compareceu!"

Blaise pestanejou.

"Não fui eu quem te impedi de ir, querida." Respondeu seco, procurando o cantil nos bolsos da calça.

"Foi sim!" Ela jogou a almofada mais próxima na cara dele e se levantou. Tomou o cantil que ele segurava vitorioso de sua mão. "Minha mãe ficou brava quando falei que estava de recuperação em Herbologia e teria que ficar estudando no Castelo." Andou até a lareira e despejou o líquido nela, causando uma leve explosão. "Por outro lado, ela sabia que os Malfoys não iriam e achou que eu pudesse ficar por aqui para investir no Draco." Torceu o nariz. "Draco é tão ano passado."

"Draco é tão ano passado!" Blaise riu alto, enquanto puxava mais um cantil do bolso. "Quem é tão esse ano? Vincent Crabbe?"

Millicent puxou a varinha e apontou para o sonserino, ignorando seu comentário.

"Accio cantil!" Desviou quando quatro novos frascos voavam em sua direção. Balançou a cabeça em tom de censura. "Honestamente, Blaise! É o trigésimo casamento dela." Voltou a esvaziar na lareira, ignorando os protestos do moreno. "Uma hora você vai precisar lidar com isso sóbrio!"

Blaise resmungou para si mesmo e afrouxou a camisa. Jogou os pés no sofá e se acomodou melhor.

"Quem te pediu para ficar de olho em mim?"

Millicent o encarou com as mãos na cintura e suspirou cansada. Há anos tem sido rotativo, não tem? Snape, Draco, Theodore, Pansy, Daphne, Goyle, Crabbe, ela. Em algum ponto de suas vidas, todos eles já fizeram isso antes. Não era exatamente novidade. Alguns com mais êxito e empenho que outros. Era hora de Lunática Lovegood entrar para a lista também. Assistiu Blaise cair no sono rapidamente.

"Ninguém."

DgDgDgDgDg

Draco e Luna tentavam atravessar o mar de alunos que vinham pela direção oposta.

Os grifinórios estavam animados com a vitória do time da Casa e faziam mais alvoroço que o normal. Draco perdeu Luna de vista quando avistou Pansy. Ela estava sentada nos ombros do Weasley e parecia tão feliz quanto ele.

O loiro revirou os olhos e continuou o caminho sem Luna mesmo. Xingava alto todos os alunos que esbarravam nele sem educação.

Parou abruptamente quando viu Ginny e Theo no meio da bagunça.

Ginny deixou o sorriso morrer quando seu olhar se encontrou com o dele.

Draco sentiu um solavanco no estômago. Não importava a gritaria que estava rolando ou a festa que a marcha de grifinórios fazia. Não podia ouvi-los. O tempo parecia ter congelado por um centésimo de segundo.

Antes que pudesse racionalizar sobre a mera presença da ruiva, ela quebrou o contato visual quando Luna a puxou pelos ombros e a abraçou. A corvinal arrastou a amiga corredor abaixo. E ela simplesmente se foi.

Piscou três vezes e saiu do leve transe que a presença da ruiva causou.

"Draco." Theo se materializou em sua frente e o puxou pelo braço, tentando tirá-lo do meio da bagunça que os grifinórios faziam. "Temos um problema."

O loiro sacudiu a mão de Theo e o empurrou forte para afastá-lo.

"Você tem um problema grave, Nott." Draco sentiu o impulso ser mais ágil que seu lado racional. Ele não gostava desse lado impulsivo que não existia antes de conhecer Ginny. Puxou a varinha e encurralou o amigo contra a parede de pedra. "O que aconteceu ontem?"

"Selena e Richard se casaram e foi o evento do ano, você deve ter escutado. Meu pai foi e-"

"O que aconteceu com ela." Draco o cortou friamente. Não dava a mínima para o casamento ou para o pai dele.

"Draco." Theo revirou os olhos e forçou a varinha para longe do seu pescoço. "Presta atenção, temos um problema maior e..."

"O que aconteceu entre vocês, Nott?"

Theo pestanejou e mediu o amigo. Puxou o cachecol no pescoço e ajustou a capa.

"Sabe, Draco," Theo deu um sorriso cínico. "por que você não me conta como está o seu noivado?" Draco avançou de novo. Theo fechou os olhos e levantou as mãos, se rendendo. "Certo! Eu devia ter te contado sobre o casamento, mas você sempre estava ocupado e-"

"O que aconteceu entre vocês?"

Theo perdeu a paciência e desistiu.

"Por que você não pergunta para ela?" Theo arqueou a sobrancelha e deu as costas para o loiro. "Ou quem sabe para a sua espiã?"

DgDgDgDgDg

Theodore entrou no Salão Comunal da Sonserina e viu que o ambiente estava vazio ainda. A maioria estava aproveitando o fim do domingo fora dos aposentos.

Vasculhou a sala e encontrou Blaise dormindo igual uma pedra no sofá mais próximo da lareira. Millicent e Daphne rodeavam o rapaz. Riam entre elas.

Theo se aproximou e analisou melhor o que acontecia. Não segurou a risada quando viu o que aprontaram. Daphne ainda tinha a pena e a tinta nas mãos. Desenharam o aro redondo em formato de óculos ao redor dos seus olhos e um raio em sua testa.

"Theodore!" Millicent puxou a mão do sonserino para se sentar no sofá ao lado com ela com o maior tom de fofoca. "Me conte tudo!" Referia-se ao casamento.

Daphne revirou os olhos para a chegada de Theo e se levantou. Despediu-se de Millicent, empinou o nariz para o outro e foi para o próprio dormitório.

Millicent jogou o cabelo para trás.

"Vocês dois são tão infantis!" Comentou impaciente.

Theo arqueou a sobrancelha para ela e lançou um olhar para Blaise que dormia pesadamente com o rosto todo desenhado, tentando entender em que mundo ela não se encaixava nessa característica também.

DgDgDgDgDg

"Ginevra Molly Weasley." Ginny piscou para a melhor amiga que colocou as mãos na cintura e a mediu dos pés a cabeça. "Você e Draco. Explique-se."

Ginny desviou o olhar. Ela fez uma promessa de não contar sobre o que houve.

"Não há muito que explicar." Disse. Ela evitou Draco propositalmente. Ainda estava embaraçada com a forma que se declarou para ele.

Luna piscou seus enormes olhos azuis.

"Draco está insuportável e tenho certeza que é por causa do término de vocês." Ela declarou atipicamente séria. "E por que você não me contou que iria ao casamento da mãe de Blaise com Theodore? Fiquei sabendo por Padma Patil, que contou para as amigas no banheiro feminino do terceiro andar que não foi Daphne Greengrass que contou para ela porque elas ainda estavam brigadas e mesmo assim ela parece-"

"Término?" Ginny arregalou os olhos e sentiu o sangue ferver. "Draco disse que nós terminamos?" Ela riu com frieza. "Queria saber exatamente quando começamos."

Ela bateu o pé no chão irritada. Deu as costas para Luna e marchou na direção oposta sem mais palavras.

Luna suspirou. Tantos dramas e poucas respostas.

Decidiu voltar para a torre da Corvinal. Ao menos lá tinha pessoas finalmente lhe dariam um pouco de atenção.

DgDgDgDgDg

Draco cruzou os braços e ignorou o livro do conselho aberto sobre a mesa. O fogo da lareira crepitava sem pudor e tirava o silêncio do vazio de seu Salão Comunal. Desde que expulsou Blaise do seu dormitório e Granger abandonou a monitoria, seu sempre movimentado salão comunal se tornou vazio e solitário.

Mal teve tempo de apreciar a paz do espaço. Snape e McGonagal o entupiu de tarefas. Para completar, Ginny não falava com ele há uma semana.

Ele ainda estava possesso com o fato dela ter ido saído do castelo com Nott sem ao menos informá-lo. Ele foi ao casamento como acompanhante de Nott.

Sentiu seus punhos se fecharem imediatamente e descruzou os braços.

Com todos os seus problemas, Ginny parecia ser o maior. Ela dominava todos os seus pensamentos, mesmo quando tinha mil e uma atividades para fazer. Quando finalmente conseguia dormir, ela floreava seus sonhos. Estava ficando doente. Estava sempre pensando nela.

Mesmo agora que ainda precisava terminar de revisar o relatório do conselho com prazo para a manhã seguinte, seu foco estava nela.

Era quase irritante.

Consultou o relógio de pulso e percebeu que precisava correr contra o tempo para terminar o trabalho.

Queria mesmo era um drink bem forte.

Isso o fez lembrar de Blaise. Não precisava de Luna para saber que Blaise passou o dia todo bebendo. Decidiu colocar o trabalho de lado e verificar como ele estava. Blaise e ele não estavam nos melhores termos ultimamente, mas ainda eram melhores amigos. E o dia do casamento de sua mãe sempre era um dia sensível para ele.

Foi em direção das masmorras com passos determinados. Não precisou entrar no salão comunal da própria casa para encontrá-lo. Ele e Theodore estavam discutindo calorosamente em frente a passagem. Draco não estava empolgado em ver Nott.

"O que Potter faz no ninho das serpentes?" O comentário escapou de seus lábios e atraiu a atenção dos dois. Blaise estava com os óculos e a cicatriz horrível de Potter pintados por todo o rosto. Ele não pareceu contente com a sua chegada. Nenhum dos dois pareceu.

Theo colocou uma mão na passagem do salão e se apoiou. Blaise cruzou os braços quando o viu.

"Você não cansa de fazer merda, Draco?" O moreno estourou com seriedade incompreensível para uma pessoa que estava com o rosto todo desenhado.

O loiro estreitou o olhar para ele.

"Do que você está falando?"

"De tudo!" Blaise praticamente estourou. Ele geralmente não tinha esse temperamento desagradável e Draco tentou relevar porque provavelmente estava relacionado com o casamento de sua mãe.

"Seja específico." Blaise revirou os olhos, mas não formulou. Ele e Theo se entreolharam quando um barulho forte e uma voz abafada vinha do outro lado da passagem do salão. Draco estreitou o olhar para os dois. "O que está acontecendo aí dentro? Eu não posso lidar com mais uma festa proibida, Snape está em cima de mim como um parasita." Eles não responderam e ele achou ainda mais suspeito. "Saia da frente." Draco sacou a varinha e apontou para Theo.

Theo e Blaise trocaram mais um olhar significativo e claramente irritados antes de saírem do caminho.

Draco se surpreendeu quando a passagem se abriu e Ginny surgiu através dela soltando fogo pelas ventas.

Ela focou seu olhar nele e pareceu ainda mais brava do que já estava. Theo e Blaise deram dois passos de distância, mas não se moveram quando a passagem se fechou.

"Você!" Ginny marchou até Draco com passos pesados. "Você contou para Luna que nós terminamos."

Ele pestanejou quando ela cutucou um dedo incrivelmente firme no seu peito. Ela estava ofegante e corada, seu cabelo estava todo desalinhado e provavelmente nunca a viu tão brava com ele.

"Eu não disse isso para ela."

Ginny estreitou o olhar. O olhar cheio de emoções.

"Você está dizendo que Luna Lovegood mentiu para mim?" Luna Lovegood, a pessoa mais inocente e sincera que eles conheciam.

"Não, ela não mentiu." Blaise assoviou alto em desaprovação e Draco lançou um olhar irritado para ele antes de voltar a atenção para Ginny. "Quero dizer, Luna estava com a impressão que nós-"

"Mas você não a corrigiu." Ela o cortou com frieza. "Porque ela continuou com a mesma impressão quando veio me procurar."

Draco sentiu os punhos abrirem e fecharem. Isso estava fugindo do controle.

"Não tire palavras da minha boca, Ginny." Ele elevou o tom de voz. "Você não tem me dado muitas oportunidades para conversarmos. Isso não passa a melhor das impressões também."

Isso pareceu irrita-la ainda mais.

"Isso não passa a melhor das impressões?" Ela repetiu incrédula. "O que você esperava Draco? O quê?" Ela deu um passo para trás e colocou as mãos na cintura. "Nossas últimas conversas não foram mais agradáveis que esta que estamos tendo agora."

Ele tentou conversar com ela a semana toda. Ele tentou!

"Ginny." Ele respirou alto e podia sentir a própria respiração fugindo do controle.

"Consigo lembrar de uma bem específica que você dizia claramente que se casaria com a nossa melhor amiga."

"Ginny!" Draco passou as mãos pelos cabelos começando a ficar frustrado também. "Você arrancou a informação de mim! Eu não quis mentir para você. Essa é a situação e você sabe a verdade. Você quis a verdade." Pausou e percebeu o turbilhão de emoções que passavam no rosto dela enquanto refletia nas suas palavras. "Já você não pode dizer o mesmo para mim." Ela focou seu olhar novamente nele. "Por que você foi ao casamento com ele?" Cruzou os braços e gesticulou com a cabeça para os amigos que ainda assistiam a discussão. "E por que você não me contou?"

"Mudaria alguma coisa se eu tivesse contado?" Ela respondeu com petulância e desviou o olhar.

"Suponho que não." Draco respondeu com frieza. Ela apenas assentiu e focou o olhar para o lado vazio do corredor. "O que aconteceu lá poderia ter acontecido em qualquer lugar."

"Não devíamos ter essa conversa agora." Voltou a olhá-lo parecendo mais calma. "Mas eu não errei em não te contar, Draco. A única autorização que eu precisava para acompanhar Theo era do meu pai e adivinha? Ele autorizou."

Draco sentiu o próprio sangue ferver dessa vez.

"Você é minha namorada, Ginny." Ele retrucou irritado e deu um passo em direção dela. "Você devia ter me contado."

Ginny arregalou os olhos e soltou uma involuntária risada seca.

"Nós terminamos, você se esqueceu?" Comentou com ironia. "Não te devo satisfações."

"Estamos dando voltas em círculos aqui." Draco resmungou e deu um passo para trás. Respirou fundo antes de continuar. Nunca se sentiu tão frustrado. Ainda mais por uma menina. "Eu fiz tudo certo, Ginny! Você me evitou a semana toda, você saiu do castelo sem me contar." Abriu e fechou os punhos. "Saiu do castelo sem conversar direito comigo!"

"Eu praticamente falei que te amava, Draco!" Ginny gritou e sua voz ecoou pelo corredor quando colocou as duas mãos imediatamente sobre a própria boca. Ela pareceu assustada com a própria explosão. Deu dois passos de distância dele e virou de costas.

Ele estava vivendo o silêncio mais constrangedor dos seus dezessete anos de vida. Não gostava do rumo da conversa e não gostava que tinham expectadores. Ele continuou olhando para suas costas. Sua mente trabalhava em meio a turbilhão de emoções, mas não conseguia racionalizar com clareza.

"Você continua dizendo isso, mas-" Pausou. Ele tentou se aproximar dela, mas hesitou. Odiava Blaise e Theo por estarem assistindo. Por que eles não iam embora? Lançou um olhar torto para eles. Ambos não pareciam muito satisfeitos com a sua postura. Draco estreitou o olhar e ambos deram as costas e partiram corredor abaixo. Quando desapareceram de vista, voltou a olhar para suas costas cobertas pelos vívidos fios vermelhos. "Você não devia me dizer isso pelos motivos errados, Ginny." Sua voz saiu com mais suavidade que pretendia e isso o surpreendeu. "Tivemos uma conversa há alguns meses atrás e... eu preferia que você tivesse percebido isso em circunstâncias melhores." Draco se aproximou dela e colocou uma mão em seu ombro. Colocou pressão para virá-la. Ginny tirou as mãos da boca e se virou, mas se desvencilhou do seu toque. "Ginny."

Ela não respondeu, mas cruzou os braços.

"Achei que as coisas mudaram."

"Eu te disse isso também, lembra?" Ele continuou tentando soar gentil. "Talvez algumas coisas tenham mudado, mas eu ainda sou o mesmo."

"Curioso, porque eu não sou mais a mesma." Ela desviou o olhar. "Acho que precisamos de distância, Draco."

"Eu não quero distância." Protestou indignado.

"Eu preciso de distância." Ginny corrigiu antes de passar por ele enquanto evitava seu olhar. Deu três passos até travar abruptamente. "E só para você saber, em nenhum momento passou pela minha cabeça que havíamos terminado. Nem quis que ninguém tivesse essa impressão, muito menos você." Ela disse sem se virar. "Até agora."

Draco a assistiu desaparecer na escuridão do corredor em passos rápidos e decididos.

A masmorra pareceu mais fria do que geralmente era.

DgDgDgDgDg

Hermione assistiu animada enquanto Ron e Harry contavam os melhores lances do jogo. Pansy parecia uma ótima atriz por fingir que entendia tudo que Ron contava de boca cheia.

A mesa da grifinória estava particularmente animada por causa da vitória.

Visualizou Ginny que entrou marchando no salão. Surpreendeu-se quando percebeu que ela estava corada e emanava todo o fogo Weasley. Chutou os amigos por baixo da mesa e gesticulou para a entrada. Instintivamente todos fugiram para baixo da mesa e Hermione aproveitou para puxar Pansy pelo braço fino.

"Granger!" Pansy resmungou alto enquanto massageava o cotovelo que havia batido no processo da descida sem querer.

"Ginny acabou de entrar mau humorada." Hermione sussurrou nervosa.

"Evite a Ginny quando ela estiver brava." Ron concordou enquanto analisava o mar de pés que habitavam a parte debaixo da mesa. "Acho que conseguimos atravessar."

"Você não está sugerindo que a gente engatinhe até o fim da mesa." Pansy reclamou alto. O trio maravilha apenas concordou com a cabeça como se esse papelão valesse a perda da dignidade.

"Você não conhece a Ginny?" Harry pareceu incrédulo com a sua indignação.

"Você está sugerindo que o Lorde das Trevas é mais manso do que Ginny Weasley de TPM?" Pansy resmungou com ceticismo.

"Não fale alto o nome dela!" Ron esganiçou quase desesperado como se a mera menção da ruiva fosse invocá-la para baixo da mesa. Pansy revirou os olhos. Isso era ridículo. "E sim, eu prefiro encarar Você-Sabe-Quem no seu pior dia do que Ginny no seu melhor."

"Vamos logo." Harry liderou o caminho por baixo da mesa. Pansy seguiu o trio pelo percurso lamentável por baixo da mesa. Todos tomaram chutes e pontapés no processo. Quando finalmente chegaram ao fim da mesa, perceberam que o esforço todo foi em vão. Ginny os esperava impaciente, de braços cruzados e batendo um pé nervoso no chão.

"Quanta classe." Ela comentou enquanto todos se erguiam do chão. Harry lançou um olhar irritado para Pansy como se a culpa de terem sido flagrados fosse dela.

"Ginny, minha irmãzinha favorita!" Ron sorriu e ofereceu um abraço para a ruiva.

"Eu sou a sua única irmã, Ronald." Ela se esquivou dos seus enormes braços. "Eu quero o Potter." Ela puxou o menino que sobreviveu pelo braço e o arrastou para fora do salão. O ruivo respirou alto e não escondeu seu alívio antes de lançar um olhar sentido para o desesperado Harry Potter.

"Sempre evite Ginny quando ela estiver de mau humor." Hermione e Ron informaram Pansy em uníssono.

DgDgDgDgDg

"Quer me contar o que aconteceu, Ginny?" Harry tentou. Estavam no salão comunal da grifinória.

"Malfoy." Ela resmungou alto.

Harry não gostou da resposta.

"Você quer que eu teste algumas azarações novas que eu aprendi nele?" Sugeriu. "Ou talvez posso quebrar aquele nariz empinado no melhor estilo trouxa."

Ginny quase sorriu com a consideração do amigo, mas o nariz de Draco era muito bonito para ser quebrado. De novo. Maldito. Adorava até o nariz empinado do infeliz.

"Eu só queria conversar com você, Harry." Ela espantou alguns alunos do melhor sofá e o puxou para se sentar ao seu lado. Harry se surpreendeu com a sua atitude, pois era algo que Malfoy faria.

"Certo." Ele pigarreou. "Como eu posso te ajudar?"

"Eu não queria conversar com a Luna, Pansy, Blaise ou Theo, porque eles são amigos de Draco." Tentou explicar seu motivo para procura-lo. "Ron não sabe sobre Draco e Hermione é muito racional." Harry ergueu as sobrancelhas. "Você é mais sentimental."

"Eu sou mais sentimental?" Pareceu surpreso.

"Não é uma fraqueza, mas você age conforme as suas emoções e acho que temos isso em comum." Harry não derrotou Você-Sabe-Quem usando apenas seus poderes e sua inteligência. "Quero dizer, Ron seria a pessoa ideal para conversar comigo, mas você é o meio termo entre ele e Hermione." Ela mordeu o lábio inferior. "E você foi a primeira pessoa para quem admiti o que eu sentia por Draco."

Harry apenas sorriu compreensivo.

"Eu não acredito que Pansy ainda não contou para Ron sobre aquilo." Confessou. "Draco e eu tivemos uma briga tão..." Sua voz morreu. "Nós nunca discutimos desse jeito."

"Confesso que toda vez que me lembro que vocês estão juntos ainda fico surpreso." Ele comentou. "Quero dizer, Malfoy é uma pessoa horrível. Ele é folgado, metido, arrogante, preconceituoso, trapaceiro, maldoso e-"

"Já entendi, Harry."

"E você, Ginny." Ele pausou para admira-la por um momento. "Você é uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci." Ela sentiu o rosto corar violentamente. "E da mesma forma que eu não entendo como uma pessoa tão incrível foi acabar se apaixonando por cretino como Malfoy, eu entendo porque Malfoy foi se apaixonar por você."

"Eu não acho que ele está apaixonado por mim." Desviou o olhar e cruzou os braços como forma de se auto proteger do mundo.

"Por mais que me doa admitir, acho que alguma coisa boa Malfoy deve ter para ter cativado a sua atenção." Hesitou. "E acho que ele não teria aguentado todos os socos que eu dei naquele nariz prepotente se ele não gostasse nem um pouco de você." Harry riu de modo sádico ao lembrar dos pequenos incidentes. "Sabe qual é a parte mais curiosa?" Ginny voltou a encara-lo. "Ele nunca revidou. Acho que isso indica um pouco sobre o que ele sente por você."

"Não sei, Harry. Isso parece surreal."

"É completamente surreal." Ele concordou e isso a deixou ainda mais duvidosa. "Sabe o que também é surreal?" Ginny o questionou com olhar. Harry pareceu reflexivo e hesitante. "Você ter ido ao casamento da mãe de Zabini como acompanhante de Nott." Ele pausou de novo. "Por que vocês ainda estão sustentando essa mentira?" Ela suspirou e enrolou para responder, mas Harry entendeu o gesto como uma forma de continuar. "Isso foi um dos motivos da briga com Malfoy?"

"Foi." Confessou. A verdade é que agora que passou o casamento poderia desmentir toda essa história cabeluda sobre ela e Theo e fingir que nada disso aconteceu.

"Talvez... Talvez Malfoy não esteja totalmente errado nessa briga, Ginny."

"Theo e eu somos apenas amigos." Defendeu o sonserino.

"Mas ele sabe disso?" Foi a resposta de Harry. Quando ela não respondeu, decidiu mudar de assunto para algo mais leve. Precisava melhorar o humor de Ginny pelo bem de todos da escola. "Tenho outra dúvida. Por que Zabini está perambulando por aí com uma cicatriz e óculos iguais aos meus desenhados no rosto?"

Ginny finalmente sorriu.


21/04/2021 - N/A: Quem está certo nessa DR? Draco ou Ginny?

Essa DR continuará!

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