Verdade ou Desafio

Blaise Zabini evitou problemas a semana toda pelo bem único e exclusivo de Draco Malfoy. Se dependesse dele, estaria tocando o terror na sala dos professores neste exato momento.

Draco Idiota Malfoy, que infelizmente era o seu melhor amigo.

Não significava que ele fazia questão da sua companhia, já que ultimamente Draco mal tinha tempo livre e, quando tinha, não escondia a personalidade e humor desprezível que esbanjava desde que ele e Ginny brigaram nas masmorras há um mês.

Espiou pela janela. Fazia sol e a primavera chegou a todo vapor naquele ano. Os alunos já matavam o tempo no jardim.

Reconheceu um grupo conhecido sentado no gramado. O trio maravilha, Pansy, Ginny e Luna se reuniam em volta de uma toalha colorida e pareciam fazer um piquenique ao ar livre. Blaise sorriu com a imagem de Luna decorando pedaços de bolo com pétalas de rosas. Surpreendeu-se quando Theodore se aproximou e se sentou com grupo.

Ele era amigo de Pansy, de sua Luna e, obviamente, de Ginny. Granger e Potter não se importavam com Theodore, mas o Weasley ainda achava que ele namorava a sua irmã caçula.

Por que eles estavam confraternizando? Cruzou os braços, pensativo, enquanto assistia ao grupo que ria e conversava com animosidade.

Era suspeito, muito suspeito.

Pansy e o Weasley pareciam o casal mais meloso desse castelo. Ainda.

Blaise decidiu partir para os jardins e averiguar pessoalmente a situação. Atravessou os corredores e passou por alunos com graciosidade. Quase parou para analisar a interação de Daphne, Astoria e Millicent próximas da entrada, mas seguiu seu caminho.

"Desculpe o atraso." Declarou enquanto se sentava ao lado de Luna. "Meu convite para esse social lamentável ficou perdido no correio coruja."

Pansy lançou um olhar torto para ele.

"Pensamos em te convidar, Blaise querido, mas não achamos que uma reunião abstemia seria do seu agrado." Ela comentou com ironia.

"Não é." Respondeu a altura.

"Eu não te achei." Luna justificou com um beijo em seu rosto.

"Eu nem te procurei." Potter respondeu arrancando risadas dos amigos.

"E você, Theodore querido?" Blaise encarou o amigo. "O que faz por aqui?"

"Ginny me convidou." Ele deu de ombros enquanto enfiava um pedaço de torta de frango na boca.

"Ginny?" Blaise a encarou com acusação. Ela elevou seu olhar.

"Eu fui obrigada a vir." Respondeu displicente enquanto encarava Granger. Claramente foi coagida por ela.

Blaise não ficou satisfeito com as respostas, mas não insistiu. Enfiou um pedaço de bolo na boca.

"Zabini, eu deveria te azarar por causa do que fez com a voz da Hermione." O Weasley declarou com atípico bom humor direcionado a ele. "Mas como a consequência daquilo é ver Malfoy penando arduamente no cargo de chefia sozinho e ser repreendido por Snape quase todos os dias, acho que te devo até os meus sinceros parabéns." A maioria riu com a cordialidade do ruivo.

"Tudo para agradar meu Weasley favorito." Blaise respondeu com sutileza enquanto perfurava Ginny com o olhar. Ela não riu da brincadeira, tampouco pareceu penosa. Quando piscou confidente para ela, não se surpreendeu quando ela retribuiu. Ela estava ressentida com Draco ainda.

O atípico grupo manteve conversas imparciais sobre quadribol e algumas bandas bruxas antigas de sucesso na maior parte da tarde. Luna trançou o cabelo das meninas e pendurou algumas pétalas de rosas no cabelo de Potter quando o mesmo cochilou.

"Por que não tornamos esse evento mais interessante?" Blaise sugeriu com malícia enquanto conjurava uma das suas garrafas favoritas de Firewhiskey. Pansy e Theodore o encararam com censura e Ginny literalmente gemeu alto. Estreitou o olhar para ela.

"Por que não?" Granger surpreendeu a todos quando começou a servir pequenas doses nos copos descartáveis que trouxeram para o piquenique com um toque de varinha. "Eu fui a única de nós que não fez nenhuma loucura alcoólatra durante todo o ano letivo." Ela levitou as doses e distribuiu para todos. "E se querem a minha opinião, eu não me importaria de dar um pouco de trabalho ao Malfoy."

Blaise viu Potter e Weasley se empolgarem com a sugestão da amiga. Pansy também, já que ela e Draco ainda não estavam se falando. Luna aceitou sua dose, porque Luna nunca recusava. Theodore não dava a mínima para Draco e Ginny tentava ignorar o copo que flutuava e batia em sua testa com insistência.

Blaise suspirou e se levantou para se aproximar dela. Estendeu uma mão que Ginny aceitou sem hesitar. Ambos ignoravam o copo flutuante que batia em sua cabeça.

"Achei que irritar Draco seria um dos seus passatempos favoritos."

Ela não sorriu.

"Anime-se, Gin." Ele gesticulou para o grupo. "Todos os seus amigos estão confraternizando juntos e voluntariamente ." Tentou. "Implicar com Draco seria apenas um bônus."

"Eu não quero ver o Draco." Ela respondeu exasperada com o copo que batia em sua testa.

"Nem eu." Blaise ofereceu um sorriso a ela. "Podemos ter uma tarde agradável e sem vítimas, o que acha?"

Ginny finalmente sorriu e pegou o copo. Blaise brindou sua dose com ela e deu um longo gole não bebida sem desviar o olhar dela. Ela não deu um gole pouco generoso.

"Por que seu irmão está sendo agradável com nosso amado Theo?"

"Você não quer saber." Ela torceu o nariz.

"Na verdade eu quero."

"Envolve Pansy, greve e sexo." Ela fez cara de nojo. "Preciso ser mais detalhista?"

Blaise sentiu a bebida revirar no estômago.

"Não." Ela arqueou uma sobrancelha que claramente dizia eu te avisei. "Draco e eu não estamos no auge do nosso relacionamento também." Confessou.

Ela desviou o olhar brevemente para as gargalhadas mais descontraídas que o grupo sentado dava.

"Ainda somos melhores amigos, Ginny?"

"Claro que somos." Ela respondeu com convicção que o fez sorrir com apreciação.

"Por que não damos uma volta pelo jardim?" Ele ofereceu um braço e ela aceitou entrelaçando o seu próprio no dele. Conduziu-a preguiçosamente pelo jardim, ambos com os copos ainda em mãos.

"Você está bem?" Ela perguntou depois de algum tempo.

"Ando carente de todos os meus amigos reunidos." Respondeu com falsa dramatização na voz. "Ao ponto de dividir uma das minhas garrafas de uísque favoritas com o trio maravilha."

Ginny riu alto.

"É um nível alto de carência."

Ele assentiu com um sorriso de canto de boca e parou de andar.

"Você conversou com a Luna?" Ele questionou preocupado. Ela enrugou a testa tentando se lembrar do que. Ele revirou os olhos. "Sobre Stevens?"

"Passei bastante tempo com ela nos últimos dias." Ginny contou. "Ela não mencionou se passou mais tempo com os corvinais." Refletiu. "Acho que aquele dia foi um caso isolado."

Blaise digeriu sua resposta enquanto a conduzia de volta ao grupo. Era uma resposta plausível, mas...

"Não temos como saber o que acontece na intimidade do Salão Comunal da Corvinal."

"Eu sei, mas não vi nada suspeito ultimamente." Ela refletiu. "Quero dizer, eu tentei prestar atenção nela..." Só que ela estava com os próprios dilemas que envolvia Draco Malfoy dominando seus pensamentos, ele não precisava ser um gênio para adivinhar.

"Ótimo." Ele sorriu satisfeito enquanto se aproximava do grupo e encerrava a conversa. Não gostava de melancolia. "Vamos brincar de verdade ou desafio, crianças." Ele anunciou para o grupo enquanto esfregava as mãos em ansiedade. Ginny revirou os olhos e se sentou novamente.

"Isso é tão infantil!" O Weasley resmungou alto.

Blaise ofereceu seu sorriso mais charmoso.

"Eu prometo que tornarei a brincadeira interessante para vossa maturidade, Weasley." Blaise tomou o lugar ao lado de Theodore. "Luna, verdade ou desafio?"

Luna sorriu enquanto se levantava.

"Desafio."

Blaise bateu o dedo indicador nos lábios enquanto ponderava.

"Eu te desafio a dar um beijo-" ele olhou ao redor enquanto ignorava os olhares incrédulos dos grifinorios que o viam sugerir que sua namorada beijasse outra pessoa bem na sua frente. "na Pansy!" Ele sorriu para a amiga antes de voltar a atenção para o Weasley. "Eu te falei que seria interessante."

O Weasley não pareceu desconte com a sugestão. Ele olhou com ansiedade para a namorada.

Pansy revirou os olhos e se levantou. Luna sorriu para amiga e se inclinou para depositar um estalinho nos lábios dela. Nenhuma das duas pareceu constrangida, apenas Granger. Blaise suspirou alto. Foi rápido, mas a imagem seria o suficiente a longo prazo.

Quando espiou o Weasley, ele pareceu tão impressionado quanto ele. Potter também.

"Minha vez." Luna precisava escolher alguém. "Harry, verdade ou desafio?"

"Desafio." Ele deu de ombros.

"Eu te desafio a dar um beijo-" Luna imitou o namorado com o dedo pensativo na boca enquanto olhava ao redor. "No Ron."

Todos gargalharam alto.

Potter e o Weasley desviaram o olhar um do outro e ambos atingiam um tom escarlate no rosto.

"Não!" Ambos protestaram veementemente.

"Eu beijei a Luna. Qual é o problema, Ron?" Pansy provocou o namorado entre risos e Ginny quase rolava de rir no chão.

Blaise gargalhou alto também. Luna nunca o decepcionava. Enquanto Potter e o Weasley continuavam protestando, ele avançou num movimento rápido e se desdobrou no meio da roda. Alcançou o Weasley pela horrível gravata vermelha e dourada e o puxou para perto. Deu um beijo rápido em sua boca e se afastou apressado para evitar um possível soco no meio do nariz.

"Eu fico com o desafio de Potter e de recompensa ganho dois desafios para oferecer." Declarou diplomático quando se sentava novamente em meio à crise de gargalhadas histéricas de todos. O Weasley atingiu um tom absurdo de vermelho no rosto e Pansy o segurou pelos braços para evitar que avançasse em Blaise. "E chega de desafios que envolvam beijos, vocês estão ficando ousados demais para o meu gosto."

Piscou para o ruivo sugestivo.

Ron cuspiu e passou a manga na boca enquanto o xingava alto.

"Sossega, Blaise." Theo o censurou, mas não escondeu o riso.

"Meu próximo desafio é para todos." Ele fez um movimento com a varinha e encheu os copos novamente. "Vamos virar mais uma dose."

Todos concordaram e viraram todo o conteúdo. Blaise sorriu com malícia enquanto trocava um olhar cúmplice com Theodore novamente.

"E meu próximo desafio vai para..." ele olhou ao redor até seus olhos pararem em "Granger." Ela não pareceu animada em ser escolhida. "Eu te desafio a ir até Severus Snape e convida-lo para um encontro no próximo passeio à Hogsmeade!"

Todos gargalharam e, surpreendentemente, Hermione encheu mais uma dose de uísque e virou.

"Desafio aceito!" Ela se levantou empolgada e paralisou pensativa. "A gente devia colocar uma aposta no bolão." Ponderou. "É trapaça, não é?" Então deu de ombros e seguiu em direção do castelo.

"Parabéns, Zabini." Theodore o saudou com o próprio copo antes de se levantar e seguir os demais. "Mais uma alma corrompida com sucesso."

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Draco fingiu que prestava atenção em tudo que Severus falava. Fechou os olhos brevemente e descansou a nuca no encosto da poltrona.

"Desculpa, Draco." Ele abriu os olhos com o tom de voz do padrinho. "Estou interrompendo seu momento?"

"Estou cansado." Resmungou. "Não é fácil carregar a incompetência dos outros nas costas."

"Coitado." Snape comentou sarcástico e voltou a ler a lista que estava em mãos.

Tum. Tum. Tum.

Eles se entreolharam. Era difícil interromperem uma reunião com Snape, Draco sabia. Poucos se atreviam a incomoda-lo.

Tum. Tum. Tum.

"Entre." Snape abaixou a lista e girou na própria cadeira.

Draco viu a porta se abrir estrondosamente e o grupo mais atípico que já viu entrou e se amontoou na pequena sala de Snape. Eles pareciam alegres e, Draco revirou os olhos impaciente, obviamente estavam afetados com álcool. O cheiro forte entregava tanto quanto as garrafas que o Weasley e o Potter tentavam esconder dentro de suas blusas.

Procurou por Blaise, pois sabia que apenas ele comprava aquele uísque em especial. Era sofisticado demais para o pobre do Weasley e o criado trouxa do Potter.

Contudo, seu olhar recaiu sobre Ginny.

Ela estava corada e ria jovialmente de braços entrelaçados com Pansy. Usava uma trança lateral que descansava preguiçosamente no ombro direito e alguns fios teimosos escapavam aleatoriamente.

Suas sardas continuavam adoráveis, seus lábios tentadores e ela estava encantadora. Como sempre foi.

Sentiu um solavanco na boca do estômago com a sua imagem. Não a via há exatos trinta e cinco dias, desde a briga calorosa que tiveram nas masmorras. Ele a procurava todos os dias nas refeições e entre as aulas, mas ela o evitava propositalmente.

Sentiu sua falta todos os dias, mas vê-la após tanto tempo o fez perceber a intensidade do vazio que ela causava.

Blaise foi o último a aparecer e sussurrou algo no ouvido da ruiva que a fez focar a visão diretamente nele. Os vestígios do seu sorriso bonito e da leveza que carregava dissipou rapidamente. Pela primeira vez desde que a conheceu, Draco sentiu culpa. Culpa por tirar o sorriso do seu rosto.

Levantou-se e não pensou direito. Ele precisava aproveitar que finalmente a encontrou para conversar e-

"Professor Snape, eu vim te convidar para tomar uma cerveja amanteigada no próximo passeio à Hogsmeade." Granger declarou em alto e bom som para o professor de poções. Draco estreitou o olhar para a colega pouco impressionado com a sua audácia e muito impressionado com a clareza da voz que saia de sua boca.

Desde quando ela estava em posse da sua voz?

Todos gargalharam alto. Ele olhou ao redor. O trio maravilha, Pansy, Luna, Blaise, Theo e Ginny compunham o grupo de bêbados mais bizarro que já viu.

"Srta. Granger, é lamentável que tenha desperdiçado seu segredo na frente do Sr. Malfoy por uma brincadeira estúpida." Snape declarou com a voz arrastada. Segredo? Draco olhou para ele. Snape sabia que Granger tinha recuperado a voz? Desde quando? "Ainda tão inapropriada. Vinte pontos a menos para a Grifinória e detenção para todos!" Sua voz não passou de um sussurro. Um sussurro mortal que fez os cabelos da nuca de Draco se arrepiarem.

Todos gargalharam alto e saíram correndo da sala de Snape.

O professor o encarou impaciente.

"O que você está esperando? Vá atrás deles!"

Draco fechou a expressão.

"Desde quando Granger está com a voz?"

"Mais de um mês." Ele respondeu sem levantar o olhar do pergaminho que voltou a analisar.

"E por que o senhor não me contou antes?"

"Ninguém queria que você soubesse." Snape sorriu com escárnio por cima do pergaminho. "Inclusive eu." Draco revirou os olhos e foi atrás do grupo. "Controle-os, Draco. Não quero McGonagal no meu pé por causa deles."

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Ginny deu um longo gole na garrafa que puxou da mão de Harry. Danem-se os copos.

O grupo vagou contente até a sala precisa. Eles precisavam fugir de Snape. Eles tentavam ser sorrateiros e discretos, mas tinha a impressão que derrubavam uma armadura de ferro a cada corredor que viravam.

Eles já beberam mais do que deveriam e ela tinha certeza que acordaria com ressaca amanhã. Fazia tempo que não tinha uma ressaca e a última vez que teve, foi Draco quem lhe deu uma poção para curá-la. Sentiu a boca secar. Sem Draco quem lhe daria à poção agora?

"Zabini!" Ela reconhecia aquela voz arrastada. Ginny riu alto quando Blaise passou por ela e estalou um beijo no topo da sua cabeça antes desaparecer dentro da sala precisa.

Todos conseguiram se salvar dentro da sala. Quando foi sua vez de entrar, sentiu uma mão firme impedi-la. A porta se fechou e a passagem desapareceu. Ela ficou para trás. E o pior, com ele.

"Draco!" Praticamente bufou.

Ele não estava impressionado.

"Você está bêbada, Ginny." Ele levou uma mão para os cabelos. A outra ainda segurava seu braço. Ela puxou seu braço de volta e se afastou.

"Olha quem fala! Quantas vezes você não se embebedou pelo castelo?" Ela resmungou. "Quantas você não me embebedou também."

"Você sempre bebeu comigo, Ginny." Ele parecia aborrecido.

"Estou bebendo com o meu irmão e os meus melhores amigos. Ninguém vai se aproveitar de mim, se essa é a sua preocupação."

"Eu nunca me aproveitei de você bêbada."

Ela mordeu a língua. Sabia que era verdade.

"A gente estava brincando de verdade ou desafio." Explicou com a voz enrolada. "Estou de fora agora."

Draco respirou fundo.

"Snape acabou de tirar pontos da sua Casa e dar detenção para todos, Ginny."

"Não!" Ela pareceu indignada. Draco segurou a vontade de revirar os olhos. "Ele não aceitou o convite de Hermione?"

"O que você acha?" Respondeu com sarcasmo.

"Oh." Ela levou uma mão para o peito. "Coitado." Draco levou uma mão para a testa. "Eu quero voltar para festa Draco." Apontou para a parede vazia que indicava a sala precisa.

"Dessa vez não." Respondeu com paciência. "Vem, vou te dar uma poção energética."

Ela cruzou os braços e fez um bico.

"Eu não quero ir com você." Protestou infantil. "Você me magoou."

"Você também me magoou, Ginny." Ele retrucou com dureza. "Nem por isso você me vê fugindo e lamentando pelos cantos."

Eles se encararam por longos e desconfortáveis segundos.

"Olha, eu só quero conversar." Ele cedeu. "Preferencialmente com a Ginny sóbria." Ele estendeu a mão para ela. "Podemos?"

Ela olhou para sua mão estendida com receio.

"Draco."

"Eu só quero conversar, Ginny."

Ela mordeu o lábio antes de aceitar. Deixaria para se arrepender quando estivesse sóbria.

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"Temos que salvar a minha irmã!" Ron protestou alto.

"Aqui é cada um por si e todos por Merlin." Zabini declarou sem se mover da passagem. "E Draco está louco para aplicar detenções. Ginny está fazendo um sacrifício pelo o time."

Ron cruzou os braços.

"Por que não te sacrificamos ao invés de jogar a minha irmã para as serpentes?"

"E quem ficará para te dar aquele beijo memorável de novo, Weasley?" Zabini piscou sugestivo e com um sorriso malicioso que fez o ruivo sentir toda a bebida revirar em seu estômago.

"Não devíamos ter largado Ginny com Draco." Pansy resmungou num sussurro quando Ron saiu do alcance auditivo.

"E você está preocupada com ela?" Theo soltou uma risada nasal. "Draco que se cuide."

"Theo tem razão." Blaise concordou com um sorriso afetado. "Granger, sua vez de escolher alguém!"

Hermione riu alto.

"Nott, verdade ou desafio?"

"Verdade."

Todos uivaram para ele. Verdades não eram interessantes.

"Conte a verdade sobre Ginny."

Ron tampou as orelhas com as mãos e cantou uma música aleatória. Pansy revirou os olhos e descobriu os ouvidos do namorado.

"Ginny e eu somos amigos." Theo declarou olhando nos olhos do ruivo. "Apenas amigos." Repetiu com ênfase na palavra amigos.

O ruivo pareceu desconfiado.

"Vocês não estão juntos?"

"Não." Confirmou e Ron suspirou aliviado.

"Ginny é a minha única irmã. Só a ideia dela se interessar por alguém." Ron se arrepiou de desgosto. "Nós Weasleys somos ciumentos." Anunciou com o peito estufado.

"Isso não é motivo de orgulho." Pansy revirou os olhos.

Theo trocou um olhar rápido e cúmplice com Blaise.

"Weasley, verdade ou desafio?"

"Verdade."

"Conte-nos o que você faria se descobrisse que a sua caçulinha está namorando alguém como-" Theo pareceu pensativo e inocente. "Vejamos, vejamos... Draco Malfoy."

Houve um silêncio constrangedor que foi quebrado pela risada nasal que o ruivo soltou.

"Ginny jamais namoraria um idiota como Malfoy. Jamais!" Ele bateu forte no peito. "Ela é esperta e deixaria aquela doninha careca se ele tentasse se aproximar dela." Ele gargalhou alto completamente alheio ao silêncio constrangedor dos demais. "Quem em sã consciência ficaria com alguém como Malfoy? Ele é o maior canalha que já habitou esse planeta. Eu tenho pena da mulher que possivelmente acabará casada com ele e-"

Repentinamente Pansy caiu de joelhos no chão e deixou escapar o maior e mais desesperador choro que todos já ouviram.

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Draco sorriu para o próprio kit de poção enquanto ouvia a ruiva tagarelar sobre Blaise e seu irmão se beijando como se fosse a cena mais engraçada que já presenciou.

Ele terminou a poção e entregou para ela.

Estavam na privacidade do seu salão comunal.

Esperou que ela virasse todo o conteúdo antes de ir até o gabinete de bebidas e servir um generoso copo de água para ela.

Ginny torceu o nariz de olhos fechados e quando os abriu pareceu menos animada em vê-lo.

Ela aceitou seu copo de água sem hesitar e bebeu lentamente.

"Até quando você pretendia me evitar?" Foi direto ao ponto e Ginny engasgou na própria água.

Aproximou-se dela e bateu com sutileza em suas costas enquanto ela tossia alto.

"Eu precisava de espaço." Respondeu num murmúrio.

Draco removeu a mão das suas costas e se ajoelhou em sua frente. Apoiou as mãos no sofá e a praticamente a encarcerou entre seus braços.

"Você ainda precisa?"

Ela procurou seu olhar e pareceu reflexiva. Mordeu o lábio inferior e isso o fez lamber seus próprios lábios por instinto.

"Você não está me dando muita escolha sobre isso." Respondeu enquanto sugeria que ele a cercava no sofá. "Literalmente."

Draco sorriu quando percebeu que realmente estava a cercando e ela retribuiu.

"Você chegou a alguma conclusão nesse tempo que estivemos afastados?"

"Algumas." Ela não elaborou.

"Eu cheguei a algumas também." Respondeu sereno. "Eu senti a sua falta." Contou. "Todos os dias ." Arriscou uma mão em seu rosto. Sorriu quando a viu fechar os olhos com o seu toque. Aproveitou para acariciar sua bochecha sardenta com o dedão. Queria contar cada uma daquelas sardas.

"Draco." Ela sussurrou sem abrir os olhos. Suspirou alto e ele aproveitou para se aproximar dela. Fechou os olhos e colou a testa na dela.

"Eu não quero mais distância, Ginny." Ela se aproximou também e afundou uma mão em seu cabelo fino para beija-lo.

Mas o beijo que eles tanto almejavam foi impossível de ser concluído.

"Seu idiota!" Ron estrovejou dentro do salão seguido por toda a turma que o acompanhava pela saga alcoólica do dia. "É da minha irmã que você está se aproveitando!" Ele avançou no pescoço de Draco e rolou pelo chão com ele. "E da minha namorada também!"

"Ron!" Pansy esganiçou e Ginny viu a morena toda desconsertada nos braços de Luna e Hermione. Seu rosto estava todo manchado de lágrimas ingratas.

Harry e Blaise tentavam puxar Ron com certa dificuldade. Ele era enorme.

"Quem você pensa que é para achar que pode se casar com a minha namorada!" Ron urrou. "Quem você pensa que é para agarrar a minha irmã?" Ele continuou cego de raiva enquanto tentava se desvencilhar do braços de Harry e Blaise. "Eu devo alertar a minha mãe? Você vai se aproveitar dela também?"

Ginny respirou fundo. Que timing maravilhoso para Pansy contar a verdade ao seu irmão.

"Você poderia ajudá-los." Ela sugeriu para Theo que assistia a cena de braços cruzados. Ele parecia ser o único que se divertia com a cena.

"Quando era eu no chão perdendo metade dos dentes por causa do seu irmão," Theo comentou com ressentimento e amargura enquanto relembrava do ataque que foi direcionado a ele. "Draco estava ocupado fazendo apostas."

"Theo." Ele respirou exasperado enquanto tirava a varinha e estuporava seu irmão. Ela o censurou com o olhar.

Blaise e Harry colocaram o corpo desacordado de Ron no sofá enquanto ela se ajoelhava para inspecionar Draco.

"Você está machucado?"

"Só no ego." Draco sorriu para ela do chão, inabalado com a agressão de seu irmão. Ele a puxou pelo pescoço e a beijou apesar da posição estranha que estavam e do público que o rodeavam. Quando se afastou dele sentiu o rosto esquentar com a atenção que atraíram.

Ambos se levantaram.

"Nada como uma pequena dose de uísque e uma grande dose de drama para reunir todos os meus amigos novamente." Blaise comentou alto e dedicou uma piscadela confidente para a ruiva. Ginny estreitou o olhar para ele. Blaise não poderia ter planejado tudo isso. Era muito engenhoso até para sua mente perturbada. Ele sustentou seu sorrisinho de canto de boca até desviar o olhar e se ajoelhar em frente à Pansy.

Sentiu a mão de Draco a puxar pela cintura na frente de todos, principalmente de Harry e Hermione. Ela se desvencilhou de suas mãos predadoras e foi até Pansy também.

"Você contou tudo para o Ron?"

Ela apenas confirmou com a cabeça enquanto fungava alto.

"Inclusive sobre Draco e eu?"

"Por favor." Luna suspirou. "Você e Draco estavam quase se devorando quando Ronald entrou." Comentou cética. "Isso foi um mérito todinho seu, Ginevra." É, adeus doce Luna.

Ginny suspirou fundo.

Antes que pudesse raciocinar sentiu a mão de Draco a puxando novamente. Ele parecia pouco interessado no drama instalado.

Ele a puxou para perto novamente e capturou os seus lábios de novo.

"Draco." Murmurou para ele.

"Argh! Tenha bom senso, Malfoy!" Granger vocalizou o que todos estavam pensando. Draco soltou a ruiva e estreitou o olhar para a antiga colega de monitoria.

"Há um mês que a sua voz está de volta e você não teve vergonha na cara para retornar ao trabalho, Granger!"

"Só um mês?" Harry comentou fingindo confusão. "Acho que foi mais que isso."

"Acho que foram quase dois meses." Theo comentou também.

Draco olhou para todos os ocupantes do espaço desconfiado.

"Todo mundo sabia?"

"E sabe qual é a melhor parte? Hermione não vai voltar para o cargo." Ginny completou com falsa inocência. "A não ser que..."

"O quê?" Draco fechou o semblante.

"A não ser que você peça com jeitinho."

Draco arregalou os olhos para ela.

"Não."

Ela sorriu seu sorriso mais angelical.

"Talvez não seja necessário, todos nós sabemos o ótimo trabalho que você tem feito na monitoria."

"Ginny!"

Todos pareceram se divertir com a situação. Menos Draco.

Ela ofereceu mais um sorriso para ele antes de se virar para Pansy.

"O que faremos?"

"Acho que Ron e eu precisaremos conversar quando ele acordar." Ela respondeu num fio de voz. "Eu vou tentar racionalizar com ele, mas não sei se ele será tão compreensivo. Ainda mais no que diz respeito a vocês."

Gesticulou ao casal flagrado.

"Minha cama ainda está montada." Hermione consultou o antigo dormitório de monitora chefe. "Podemos deitar o Ron na cama e você pode esperar com ele se quiser."

A Sonserina concordou e Harry e Theo se prontificaram em transferir o corpo do ruivo magicamente.

Blaise se aproximou de Ginny com um sorriso despretensioso no rosto.

"Sua força de vontade é admirável, Weasley." Ele consultou o relógio. "Há seis horas ouvi dessa sua boquinha que você não queria vê-lo." Declarou em alto e bom tom enquanto indicava para o loiro em questão com o queixo. "Missão cumprida."

Ela sentiu o rosto esquentar e evitou o olhar de Blaise. Ele não estava errado. Que confusão.

"Vocês me deixaram para trás!"

"E ainda por cima já está sóbria." Ele balançou a cabeça inconformado. Ignorou Draco completamente antes de se mover para direção da saída. Theodore lançou um olhar de censura para o casal e o seguiu.

Harry elevou seu olhar com o de Malfoy antes de sair do salão com Hermione. Ela não pareceu muito empolgada também, puxou Luna pelo braço e a arrastou consigo pelo caminho.

Draco olhou para Ginny quando perceberam que estavam sozinhos novamente.

Ela parecia encabulada. Aproveitou para puxá-la pela mão e arrastá-la para o próprio quarto com um sorriso malicioso no rosto. Bateu a porta com o pé e a puxou em direção da cama. Ela relutou com força.

"Draco." Desvencilhou-se da sua mão quando se aproximou da cama. Ela cruzou os braços e adotou uma postura mais firme. "Você disse que queria conversar."

Ele disse mesmo. Sentou-se na cama e bateu no espaço ao seu lado. Ginny não pareceu satisfeita. Ele puxou um travesseiro e colocou ao seu lado que sugeria uma barreira entre eles.

Ginny cedeu e se sentou.

A verdade é que ele queria conversar com ela, mas não sabia exatamente como começar. Nem o que queria dizer.

Ela mordeu o lábio inferior e olhou ao redor do quarto, estava evitando o seu olhar e se ele não falasse algo, ela poderia se levantar e partir de novo.

"O que você andou fazendo?"

Ela quase torceu o pescoço quando o encarou.

"Eu te evitei com êxito." Certo.

"Ginny, eu não sei o que falar." Decidiu ser sincero. "Eu senti a sua falta." Repetiu e tentou alcançar a sua mão para conquistar novamente a sua atenção. "Acho que você não sabe como é difícil admitir isso." Ginny não afastou a mão, mas não retribuiu o toque. "Eu tenho muitas qualidades, mas expor meus sentimentos não é uma delas." Ofereceu um sorriso.

Ela mordeu o lábio de novo.

"Muitas coisas são difíceis, Draco." Ela declarou com firmeza. "Eu não fui a única que precisava da distância. Seus melhores amigos se afastaram, isso não te diz nada?" Blaise e Theo o evitavam, mas Pansy praticamente fingia que ele não existia mais.

"Eu não me importo com eles agora, Ginny." Respondeu com indiferença. "Você não pode fugir de mim para sempre." Ela não respondeu. "Você não sentiu minha falta?"

"Senti." Ela cedeu. "Mais do que eu devia." Admitiu. "Mas saudade não apaga tudo que foi dito." Ela apertou sua mão, finalmente retribuindo o toque. "Eu não quero mais mentiras, Draco."

"Eu nunca menti para você, Ginny."

Ela olhou para as mãos unidas.

"Mas eu andei mentindo." Confessou. "Meu irmão não sabia sobre nós... Ele acabou descobrindo da pior forma possível e acho que não era algo que eu planejava que acontecesse."

"Ginny, você é minha namorada." Falou. "Uma hora seu irmão descobriria."

"Para de falar isso." Era a segunda vez que ele falava isso. Namorada. "A gente nunca teve essa conversa."

"Por que teríamos? Por acaso você tem beijado outras pessoas?" Ele rebateu começando a perder a paciência. Estreitou o olhar para ele quando ouviu a entonação e a forma que ele se expressou, assim como a implicância disso. Ele não poderia saber, poderia? "Eu te digo com propriedade que não estou caçando bruxas diferentes toda semana para me-"

"Você é um romântico, Draco." Ginny puxou a mão bruscamente. Draco levou a mão para os cabelos e respirou fundo.

"Não saiu como eu pretendia." Ele corrigiu exasperado. "O que eu quis dizer é que estamos juntos há meses. Já passou da brincadeira." Refletiu. "Passou faz tempo."

"Eu sei." Ela se levantou também. "Mas você está declarando que estamos namorando para Merlin e o mundo todo ouvir só porque eu saí do castelo sem a sua autorização. Não foi isso que você me disse quando sugeriu que eu estava te perdendo? Não sou apenas eu que estou falando as coisas pelos motivos errados." Lançou um olhar atravessado enquanto jogava tudo que ele havia dito contra ele mesmo.

Draco respirou alto e estreitou o olhar para ela.

"Por que o assunto chegou no seu encontro com Theodore Nott?"

"Foi você quem abordou o assunto." Replicou com displicência. "Eu preciso lidar com Ron antes de qualquer coisa."

"O que isso quer dizer?" Assistiu quando ela atravessou o quarto e partiu para a saída.

"Exatamente o que eu disse. Primeiro vou lidar com Ron." Ela foi em direção de porta e pausou com a mão na maçaneta. "Nós vamos lidar com Ron." Ela olhou por cima do ombro. "Você está noivo da namorada dele e está namorando sua irmã mais nova." Comentou com falsa excitação. "O maior culpado dessa história é você."

Ele pestanejou.

"Espero que o seu poder de convencimento melhore quando for a sua hora de lidar com ele." Ela declarou antes de abrir a porta. "Porque eu ainda não estou convencida."


21/04/2021 - N/A: Ron finalmente sabe!

E eu não resisti, senti falta dessa turma bêbada! hahahahaha e estava loucaaaa para jogar uma brincadeira de verdade e desafio na roda também!

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