John Watson chegou poucos minutos antes de Molly Hooper. Como não sabia o que estava acontecendo, ele deixou a filha aos cuidados da senhora Hudson.

— Audrey, recebi uma mensagem do Sherlock... — disse ele aparecendo na porta. — Ele disse que você está passando mal, mas não quer contar o que está sentindo...

— Me perdoa John... se eu soubesse que ele fez isso teria te tranquilizado — comentou ela de pé na sala. Sherlock acompanhava a movimentação da sua poltrona.

— Bem, você poderia ter atendido seu telefone — pontuou John com um meio sorriso no rosto.

Audrey se sentiu culpada ao lembrar que na correria tinha deixado o celular em cima do armário de toalhas ao lado do cesto de roupas sujas do banheiro.

— Minha culpa... na pressa acabei esquecendo ele no...

— Pressa por quê? — Perguntou o amigo.

A mulher estava pronta para responder e acabar com aquilo quando Molly apareceu na porta.

— Oi, desculpa a demora — pediu ela entrando no apartamento.

— Chegou bem na hora — Audrey sorriu.

John e Sherlock apenas observaram enquanto Molly, que trazia uma sacolinha verde na mão direita, usou a mão livre para segurar a mulher pelo braço e entrar com ela no banheiro.

— Olha o tamanho da confusão que eu consegui fazer — comentou ela enquanto ria da situação.

— O que o John está fazendo aqui?

— Adivinha... O Sherlock enviou uma mensagem para ele — explicou a mulher. — Ele até tentou me ligar para descobrir o que estava acontecendo, mas esqueci o celular aqui no banheiro e não vi...

Molly deu uma risadinha e a amiga a acompanhou.

— Estou me sentindo tão sem graça com essa confusão toda por nada...

— Deixa disso... — Molly pegou o pacote de absorvente de dentro da sacola. — A gente é que não parou para pensar que o fato de ter perdido a memória faria com que esse tipo de coisa fosse novidade para você.

Audrey sorriu agradecida pela compreensão.

— Comprei esse absorvente mais tradicional, mas depois posso te mostrar as outras opções — explicou a amiga. — Não é muito complicado de usar.

— A parte maior colada na calcinha e as abas dobradas para baixo — a mulher gesticulou com o absorvente nas mãos.

— Isso — Molly sorriu. — Se mesmo assim precisar de ajuda é só me chamar.

— Obrigada — agradeceu ela antes da amiga sair e a deixar sozinha no banheiro.

A mulher pegou a calcinha limpa que tinha guardado no bolso de trás dos seus jeans minutos mais cedo, e depois de se despir da cintura para baixo, colocou a lingerie com o absorvente e vestiu de novo a calça.

Não foi nada desafiador comparado com o trabalho que ela teve para tirar as manchas de sangue da calcinha que usava antes. Mas depois de alguns minutos finalmente se deu por satisfeita com o serviço.

— Tudo bem? — Perguntou Molly quando ela saiu. — Você demorou.

— Sim. Estava tirando as manchas de sangue que ficaram.

— Ah, isso é um tormento. Odeio quando acontece — desabafou ela. — Às vezes eu uso um pouco de água oxigenada em cima da mancha antes de esfregar com sabão. Facilita bastante.

— Vou me lembrar disso — Audrey sorriu. — Agora tenho mais uma coisinha para fazer. — Ela indicou Sherlock e John com um aceno de cabeça.

— Estão curiosos, mas não me perguntaram nada — Molly tinha um sorriso sereno no rosto.

— Essa não vai ser a última vez deles com uma situação dessas — Audrey sorriu e foi à frente seguida pela amiga.

Era difícil pensar em Rosie passando por aquele tipo de experiência sendo tão pequena, mas o esperado era que um dia acontecesse com ela também.

A mulher foi quem começou a explicar, ou pelo menos tentou, antes de ter um ataque de riso que foi acompanhado por Molly.

Se já havia se sentido como uma adolescente antes, agora começou a duvidar que fosse capaz de se comportar como adulta de novo. Sherlock e John, mesmo sem entender o que acontecia, aguardavam pacientemente.

— Devo desculpas a vocês dois — Audrey finalmente conseguiu falar. — Não aconteceu nada de grave ou preocupante — acrescentou. — Eu estou menstruada, é só isso.

John sorriu compreendendo completamente a situação e seus desdobramentos, mas o outro homem continuava na dúvida sobre como reagir.

— Mesmo sendo um irmão mais velho maravilhoso, eu não quis pedir ajuda a você, Sherlock — ela olhava diretamente para ele. — Mas não devia ter te deixado no escuro desse jeito. Me perdoa.

— Então está tudo bem mesmo? — Perguntou ele ainda sem acreditar por completo.

— Está sim — ela sorriu, mas dobrou o corpo quando a dor apareceu. — Quer dizer, quase... Molly, você trouxe?

— Sim, é o mesmo remédio que eu tomo nesses casos — Molly pegou o frasco laranja em sua bolsa. — Prescrevi uma receita e tirei na farmácia do hospital.

Audrey olhou para a etiqueta no frasco com o nome dela.

— Mas acho melhor você consultar uma ginecologista para saber se esse é o melhor para você.

— Farei isso o quanto antes.

A mulher caminhou apressada para a cozinha e pegou um copo d'água para poder beber o remédio. A amiga a seguiu.

— Na verdade precisa esperar o sangramento parar antes de marcar — explicou Molly. — Pode levar entr dias.

— Bom, então talvez não seja tão em breve assim — ela sorriu.

— Tem um aplicativo que vai te ajudar se organizar com o seu ciclo.

— Seria ótimo! Não quero ser pega de surpresa de novo — Audrey bebeu um comprimido. — Sobre a ginecologista, você tem alguma para me indicar?

— Posso te dar o telefone da minha. Ela atende numa clínica aqui perto e lá no hospital também.

— Perfeito.

— Ah, Audrey. Espere pelo menos 6 horas antes de tomar outro comprimido, tá?

— Pode deixar — concordou ela. — Mas e se a dor voltar antes?

— Por isso você precisa da consulta.

— Faz sentido — a mulher sentiu que estava suando frio enquanto lavava o copo e o deixou junto dos outros do escorredor.

— Audrey, você está ficando pálida — Molly se aproximou e a amparou.

— Sinto como se tivesse um dinossauro dentro de mim tentando sair.

— Descreve bem a sensação — a amiga sorriu discretamente. — Vem comigo — ela voltou para a sala, deixou a bolsa sobre a mesa, sentou no sofá maior com uma almofada sobre as pernas e fez Audrey se deitar e repousar a cabeça sobre seu colo enquanto escorregava os dedos pelos cabelos dela para distraí-la. — Onde você aprendeu sobre dinossauros?

— Li em um dos livrinhos da Rosie, e depois pesquisei no Google — a mulher sorriu para a amiga sem conseguir evitar uma careta a cada pontada de dor.

— Sherlock, você tem uma daquelas bolsas de água quente? — Perguntou Molly.

— Tem sim — quem respondeu foi John se levantando da sua poltrona.

Quando ele voltou para a sala estava com o objeto morno, pronto para ser usado e o depositou delicadamente sobre o abdômen de Audrey.

— Obrigada — ela sorriu para ele. — É muito estranho eu não me lembrar de todas as vezes que já passei por isso. Ainda mais com essa dor.

— Imagino que a dose extra que recebeu da droga para apagar sua memória quando o dispositivo de rastreamento foi retirado de você, apagou boa parte das suas lembranças mais recentes. Meses provavelmente — explicou Molly.

— Ou talvez tenham te dado hormônios para que você não menstruasse — continuou John ainda de pé ao lado do sofá. — Mais simples do que gerenciar essa situação.

— É uma possibilidade plausível — continuou ela concordando.

— Tem como saber se fizeram isso? — Quis saber a mulher.

— Não achei nada incomum no seu sangue além da droga, e se o seu ciclo apareceu, é por que seu corpo já eliminou o que estava impedindo de manifestar.

Audrey concordou com um aceno de cabeça.

— John, assim que a dor diminuir, eu vou cuidar da Rosie, tá?

— Claro que não, Audrey. Tire o resto do dia de folga — recomendou ele.

— Não precisa, John. Se isso vai se repetir todo mês, melhor eu me acostumar — argumentou a babá.

— Daqui a pouco eu chamo a senhora Hudson para trazer ela aqui para cima, mas não é para você se preocupar enquanto estivermos aqui — o pai sorriu. — Você já comeu alguma coisa hoje?

— Meia xícara de chá — respondeu Sherlock que até então permanecera em silêncio apenas observando.

Audrey virou a cabeça de lado ainda sobre o colo da amiga para olhar sorrindo para o ele.

— Vou preparar um almoço para a gente — afirmou John indo para a cozinha. — Você fica, Molly?

— Não posso, John. Na verdade, preciso voltar para o hospital daqui a pouco.

— Vai ficar sem almoço? — Audrey se sentou segurando a bolsa de água quente para que não caísse e olhou para ela. — Me desculpa por ter feito você vir aqui no seu intervalo e...

— Audrey, para... — Molly estava sorrindo. — Não vai ser a primeira vez que eu faço um lanche rápido na cantina do hospital. O mais importante era ajudar você.

— Obrigada — sorriu mais uma vez com gratidão.

— Me chame sempre que precisar — Molly se levantou e pegou a bolsa sobre a mesa. — Mais tarde eu te ligo para saber como você está.

Audrey sorriu para ela e Molly deixou o apartamento assim que terminou de se despedir. A mulher ainda permaneceu um tempo deitada no sofá esperando a dor diminuir.

Sua distração ficou por conta de uma nova conta criada na Amazon com acesso a vários e-books. A ideia surgiu de John por conta do interesse dela pelos livros da filha.

Mesmo com uma atividade prazerosa para distraí-la, Audrey desejou conseguir logo um remédio mais forte para que nunca sentisse algo assim de novo.


Nota da autora: Bom, é uma coisa que acontece né?! Por incrível que pareça acho que essa foi a primeira vez que escrevi uma situação como essa numa história. Estranho, porque venho encarando esse pequeno transtorno dolorido desde os 12 anos. Coitada da Audrey...