Eles já não estavam em Erebor. Acima deles um céu estrelado refletia seus pingos de luz na superfície do Lago Espelho. Thórin ergueu os olhos, contemplando aquele espetáculo.

- Parecem diamantes – ele comentou.

Kibil nala sorriu.

- Sua raça sempre vê tesouros em todas as obras de Iluvatar?

Ele passou a mão pelo rosto dela.

- Sim, minha pequena joia dourada.

Thórin sentiu uma ausência.

- Onde está a echarpe?

Kibil Nala apontou com os olhos para alguém que se aproximava.

O sorriso dele foi substituído por uma expressão mais séria.

Ele se virou, protegendo-a da presença que havia sentido.

Uma sombra aproximou-se. Thórin apenas observou, sem conseguir discernir de quem se tratava. No entanto, a aparição não seguiu em direção a eles, passando direto e ajoelhando-se diante do lago.

- Ele não é uma ameaça – Kibil Nala sussurrou, pondo a mão no braço de Thórin.

- Você sabe quem é? - Thórin indagou intrigado.

- Tem certeza de que não sabe? - ela retorquiu, enigmática. - Veja a sombra dele no lago que reflete as estrelas.

Thórin percebeu que as estrelas formavam uma coroa ao redor da cabeça refletida no lago.

- Dúrin… - Thórin murmurou.

A aparição ergueu-se e mirou o casal.

- Ele parece tão… triste.

- E está – Kibil Nala confirmou.

- Por quê?

- Ele suspira pela companheira que Mahal ainda não enviou.

Thórin sentiu o coração acelerado. Dúrin estendeu a mão e eles puderam ver a sombra adquirir uma textura dourada como pó de ouro e ser levada pelo vento, enquanto a canção ancestral ressoava aos ouvidos de Thórin.

"O mundo é cinza, as montanhas antigas
O fogo da forja é frio como as cinzas
Nenhuma harpa é torcida, nenhum martelo cai
A escuridão habita os salões de Durin
A sombra paira sobre o seu túmulo
Em Moria, em Khazad-dûm
Mas ainda assim as estrelas aparecem
No Lago-Espelho obscuro e sem vento
Lá jaz sua coroa em águas profundas
Até que Durin acorde de novo de seu sono"

- Dúrin acordou? - Thórin sussurrou.

- Sim – ela respondeu, pondo-se ao lado dele e mirando seu perfil. - Ele está aqui ao meu lado.

Thórin fitou Kibil Nala, surpreso diante da revelação inesperada.

Ela confirmou, pressionando gentilmente o braço dele.

- Veja, Thórin. O que restou do pó de ouro.

O anão mirou o chão. O dourado da echarpe reluziu aos olhos dele.

Kibil Nala andou em direção a ela e apanhou-a, envolvendo-a ao redor de seu pescoço.

- Por Mahal, quem é você?

- Tenho me feito essa pergunta desde há muito tempo… - ela murmurrou – mas a resposta sempre me escapava… até que…

Thórin prendeu a respiração quando ela o encarou.

- Até que encontrei a resposta graças a você…

Ele engoliu seco.

- Eu sou o 'Suspiro de Dúrin'.

Ela aproximou-se.

- Fui moldada por Yavanna a partir. Vim para guiá-lo para dentro de si mesmo, Thórin, Escudo de Carvalho. É hora de despertar de seu sono, Rei Sob a Montanha.

- Do que você está falando? - ele hesitou.

- É hora de trocar a coroa pela espada ou seu povo perecerá.

Thórin levou a mão à cabeça e pegou a coroa, colocando-a diante de si. O brilho dela era pálido quando comparado ao dourado da echarpe.

As palavras de Bilbo, Balin, Dwalin e de tantos outros, começaram a pesar sobre ele.

'Este tesouro vale mais que a sua honra?'

'A ambição cega de um rei da montanha que só pensava em seus próprios desejos.'

'Eu não sou o meu avô.'

'Uma doença está impregnada nesse tesouro.'

'Eles estão morrendo lá. Dáin está cercado.'

'Você mudou, Thórin.'

'Recupere sua terra natal.'

Thórin viu o que havia se tornado e não gostou do que viu. Atirou a coroa no lago e quando fitou Kibil Nala, um brilho ardente emanava de seus olhos.

Ela sorriu.

Ele aproximou-se dela, puxando-a para si e mergulhando em seus lábios.

Quando abriram os olhos, estavam de volta a Erebor e o beijo chegou ao fim.

- Sabe o que precisa fazer – ela disse, quase triste.

- Sim, eu sei – ele confirmou, passando a mão pelo rosto dela.

Kibil Nala o abraçou, pousando a cabeça no peito dele.

- Fique vivo! - Ela implorou. - Volte pra mim.

- Eu vou tentar – ele consolou-a, passando a mão pelos cabelos claros. - Farei o que puder para voltar a seus braços. Mas agora, preciso falar com… eles. E consertar tudo.

Eles finalizaram o abraço e continuaram de mãos dadas por alguns segundos, antes de Thórin se afastar e seguir o seu caminho.

A missão dela havia terminado. A dele estava começando.

Thórin apareceu diante deles. Já não portava uma coroa. Na mão, a espada. No rosto a determinação. Dirigiu-se a seus companheiros:

- Sei que não tenho direito de pedir isso a nenhum de vocês. Mas vocês lutariam a meu lado uma última vez?

Um a um, os anões se ergueram em sinal de lealdade incondicional. E os sinos de Erebor reverberaram a coragem dos Filhos de Dúrin. Thórin liderou seus guerreiros em uma marcha decisiva, no que foi seguido pelo que havia sobrado dos exércitos de Dáin.

Mas apesar dos anões haverem se revigorado, estava claro que apenas matando Azog, poderia haver chance de vitória. Então Thórin levou consigo Fili, Kili e Dwalin para conseguirem abrir caminho até o morro do corvo, onde Azog havia estabelecido seu posto de comando.

Legolas e Tauriel chegaram a tempo de avisar Gandalf sobre o segundo exército que havia partido de Gundabad e que chegaria pelo morro do corvo. Bilbo se dispôs a ir avisar Thórin, mas chegou tarde demais. Azog era traiçoeiro e Fili foi atraído para uma cilada. E Thórin assistiu a morte de seu sobrinho sem poder fazer nada. A dor, então, sobrepujou o bom senso e ele foi em busca de Azog.

A batalha entre Thórin e seu antigo inimigo não poderia ser evitada.