Já acomodado no trem que saiu da estação em Londres em direção à Cardiff, John Watson, sentado no banco de frente para Sherlock Holmes, pegou o celular e ligou para a babá.

— Oi Audrey, tudo bem por aí? — Perguntou ele quando ela atendeu após o terceiro toque.

— Estamos sim, John. Acabei de colocara Rosie para dormir a soneca da tarde e vou aproveitar para arrumar a cozinha.

John ergueu as sobrancelhas. Já havia desistido de tentar convencer Audrey a não se preocupar com nada além de sua filha, mas a babá não cansava de repetir que apenas cuidar da Rosie era muito pouco comparado ao que eles estavam fazendo por ela.

— Algum problema? Achei que você fosse aparecer na hora do almoço — continuou a mulher.

— A Molly encontrou uma pista daquela substância injetada em você e estou indo junto com o Sherlock até Cardiff, que é onde fica o hospital em que o amigo que passou a informação para ela trabalha. É uma cidade não muito longe de Londres. Provavelmente estaremos de volta hoje à noite.

— Que ótimo! — Audrey sorriu enquanto colocava o que ia lavar dentro da pia.

— É sim! — Concordou John olhando a paisagem passando rapidamente pela janela. — Se conseguirmos rastrear quem está fabricando e para quem vende, as chances de encontrar o responsável por apagar sua memória são enormes! Daí para descobrir sua identidade será questão de dias.

— Talvez horas — acrescentou Sherlock fazendo o amigo sorrir, mas a mulher não pôde ouvir.

Audrey puxou uma cadeira sentou sem saber como reagir à notícia. Saber sua verdadeira identidade era tudo o que mais queria desde que havia encontrado os dois na Rua Baker.

— Audrey, está tudo bem? — John ficou preocupado com o silêncio dela e trocou um olhar apreensivo com o detetive.

— Tudo sim — respondeu ela. — Eu só fiquei sem saber o que dizer. Está realmente acontecendo!

Ele sorriu deixando Sherlock mais tranquilo ao perceber que estava tudo bem.

— Sim Audrey. Vai ser só questão de tempo.

A mulher sorriu e uma lágrima desceu pelo seu olho direito.

— Eu só vou precisar que você faça uma coisa.

— Pode falar, John — ela se recompôs.

— Como não sei que horas vamos estar de volta, quero que você arrume uma mochila com as coisas da Rosie e vá para a Rua Baker com ela no final da tarde.

— John, eu consigo tomar conta dela aqui até vocês chegarem.

— Eu sei que consegue Audrey, mas, por favor, faça isso. Você sabe que eu não acho justo você assumir toda a responsabilidade sozinha cada vez que eu e o Sherlock perdemos a noção do tempo em uma investigação.

— Aprecio sua preocupação John, mas vocês não estariam indo para Cardiff se não fosse por mim...

— Não deixa de ser verdade, mas ainda assim não acho justo. E a senhora Hudson vai ficar feliz em ajudar... — argumentou ele. — Eu sei que ela sente saudade de quando cuidava da Rosie por mais tempo, antes de você aceitar se tornar a babá dela.

John não queria ter que fazer aquilo, mas não estava vendo outra opção. Mesmo com o sentimento de culpa, resolveu atingir Audrey em seu ponto fraco. Achar que sua chegada estava de alguma forma interferindo na vida deles. O artifício funcionou.

— Tudo bem então, — Audrey sorriu. — A gente vai para lá.

— Obrigado — agradeceu o amigo. — Até mais tarde.

— Até mais tarde, John.

Ele encerrou a ligação e rapidamente ligou para a senhora Hudson avisando o que estava acontecendo. Como ele esperava, ela ficou feliz em ter a Rosie por perto. Por último, John enviou uma mensagem para Molly. Como a amiga havia se oferecido para ajudar Audrey com a menina, ele precisava compartilhar com ela as decisões.

— Olha isso — chamou Sherlock mostrando a tela do próprio celular para o amigo. — A clínica já esteve sob investigação do governo uma vez por conta do alto índice de suicídio dos pacientes tratados lá. Quase perdeu a licença de funcionamento.

— Quando foi isso? — John franziu as sobrancelhas.

— Ano passado — respondeu o detetive.

— Não encontraram nada?

— Aparentemente não, e eles continuaram bem vistos e recebendo pacientes.

— Sherlock, já te ocorreu...

— Com certeza — sorriu o detetive interrompendo o raciocínio do amigo.

John continuou como se ele não tivesse dito nada.

— Aquela história dos pais da Audrey terem vendido ela, se realmente aconteceu, pode ter sido intermediado por alguém. Acha que pode ser algum psiquiatra dessa clínica?

— Se Audrey esteve lá, vamos encontrar a ficha dela entre os pacientes — Sherlock sorriu confiante.

— Não sei... acho que devem ter destruído da mesma forma que fizeram no centro de treinamento.

— Eu discordo — declarou Sherlock.

John aguardou em silêncio pela justificativa.

— Se a Audrey esteve em tratamento naquela clínica por qualquer motivo, isso não era segredo para o pessoal de lá e para os familiares e amigos mais próximos dela. Se eles estão de alguma forma envolvidos com o que aconteceu, desaparecer com os registros dela só iria fazer com que parecessem culpados.

— Manter as anotações como uma paciente que simplesmente desistiu do tratamento não levantaria suspeitas — concordou John acenando com a cabeça enquanto falava. — Mas descobrir a antiga identidade da Audrey não é seu único plano visitando a clínica.

— Deve ter algum motivo para terem aplicado essa nova TD12 nos pais de um paciente. Não vai adiantar perguntar para eles, porque não irão se lembrar. Mas se fizeram isso com pais, provavelmente fazem esse tratamento com pacientes.

Sherlock estava eufórico e gesticulava com as mãos enquanto falava.

— Quero descobrir quem são e conversar com as famílias. Apagar a memória das pessoas e transformá-las em assassinos profissionais pode ser o esquema mais lucrativo que a clínica tem. Vou rastrear qualquer possível envolvimento deles com aquele centro de treinamento.

— Se houver algum... — o amigo não compartilhava do mesmo entusiasmo.

— Tenho certeza que tem, John. Eu quase não encontrei informações sobre essa droga e as únicas evidências sobre ela até agora são esse casal que a Molly encontrou e a Audrey. E ela esteve naquele lugar. Tinha sangue no chão de uma das celas que ela reconheceu... — insistiu Sherlock.

— Ela não exatamente reconheceu — John franziu a sobrancelha e apertou os lábios.

— Como não? Ela saiu correndo de lá! — O homem se exaltou.

— Você trancou a gente dentro da cela, lembra? Até eu quis sair correndo de lá... — afirmou John cruzando os braços sobre o peito enquanto se lembrava do episódio.

— Mas, e os pesadelos? — Sherlock começou a ficar incomodado com o pensamento que lhe ocorreu. — "Seriam mesmo lembranças, ou sem querer ele havia provocado tudo aquilo?" — Pensou.

— Por falar no sangue, conseguiu provar que era dela mesmo? — John interrompeu seu devaneio.

— Não... levei para a Molly analisar, mas apesar das manchas terem ficado, as moléculas de DNA foram destruídas. Com certeza usaram alvejante. Os bulbos dos fios de cabelo que encontrei estavam no mesmo estado... — seu tom de voz deixava claro a decepção.

— Quer saber? Eles reconheceram ela — declarou John. — Mesmo que não possamos provar, Audrey esteve no centro, não precisamos duvidar disso — continuou ele. — E tem a foto na mão do atirador.

— Provas frágeis para uma acusação formal contra um esquema criminoso com tanta gente envolvida, mas suficientes para sabermos que estamos no caminho certo — Sherlock sorriu.

— Exatamente!

Os amigos trocaram um sorriso confiante de que estavam realmente avançando na investigação.


Nota da autora: Eu já estava com saudade de ver a dupla em ação, e vocês? Tem muita emoção vindo por aí! Fico empolgada só de lembrar! Muitas revelações nos próximos capítulos e a volta de um personagem que tem escondido alguns segredos! Alguma ideia de que quem pode ser?