************************************* Cap 43 All Apologies **************************************
Naquela mesma noite...
Templo de Baco, 10:25pm
Na porta de entrada do Templo das Bacantes, o perfume de papoula invadia as narinas do italiano, que com o cigarro ainda apagado entre os dedos olhava hipnotizado para os lábios tintos em vermelho da mulher diante de si, os quais se mexiam lhe ditando uma ordem que devido ao seu estado de encantamento soava mais como o canto dos querubins representados nas imagens sacras; eram lábios delicados e pequeninos como os de uma boneca de porcelana.
— E por favor, seja gentil. Não se esqueça de dar boa noite aos nossos clientes... e por todos os deuses, não se estresse — dizia firme a japonesa, com as mãos que bailavam contidas no ar como as de uma bailarina, apesar de seu olhar aflito — Nós estamos meio perdidos hoje a noite sem a Geisty aqui, mas eu prometi a ela que daria conta de tudo, e com o Afrodite fora e o Shura ausente fazendo a guarda do Santuário só posso contar com você hoje, Máscara da Morte, certo?
Sem resposta, a amazona pigarreou sutilmente resgatando o cavaleiro do mundo dos sonhos.
— Ah, sì... va bene... pode deixar que io vou dar meia dúzia de pipoco nos figlio di una puttana! — respondeu o canceriano assustado enquanto prendia o cigarro apagado em um dos cantos da boca.
— Não, homem! É exatamente o contrário! — repreendeu Marin. — Quero que seja gentil e educado! Não é para bater em ninguém!... Você está ouvindo o que estou falando?
Máscara da Morte tinha os olhos moles, e os passeava sem o mínimo de decoro pela silhueta esbelta da japonesa dentro de um lindo vestido de seda rosa claro.
— Sì... io estou te ouvindo — ele respondeu ainda com o olhar perdido num ponto entre o pescoço e a orelha dela.
— Bem... assim espero... obrigada.
Ela o agradeceu com um sorriso discreto e rapidamente afastou-se, olhando atenta para dentro do salão; enquanto ela embrenhava-se no mar de mesas, cadeiras e pessoas, os olhos cobiçosos do canceriano a acompanhavam fascinados com o sacolejar gracioso dos quadris estreitos e delicadamente torneados.
— Ma che bela donna!... Parece até un angelo do céu... — murmurou ele aos suspiros, quase deixando cair o cigarro dos lábios entreabertos.
Mas de repente o céu de Máscara da Morte fechou e seu Paraíso caiu por terra quando nele chegou uma figura indigesta, o namorado de Marin, Aiolia de Leão.
O guardião da 5ª Casa cruzou o salão obstinado, e no alto de sua nobreza tão natural foi até Marin e a saudou com um beijo de causar arrepios, depois a puxou pela cintura e lhe cochichou algo no ouvido. Logo em seguida eles saíram de mãos dadas em direção à escada que dava acesso aos camarins.
Nessa hora Máscara da Morte resmungou algumas palavras de baixo calão e finalmente acendeu o cigarro que trazia pendurado na boca; ainda distribuía mal dizeres aos quatro ventos, de frente para o salão e de costas para a porta de entrada, quando de repente um cliente recém-chegado aproximou-se e lhe chamou a atenção depois de ter esperado quase dois minutos inteiros para ser notado ali:
— Uhm... boa noite, senhor.
Máscara da Morte virou-se para ele e respondeu no ato:
— Ma o que é que tem de boa, cazzo?
A resposta deixou perplexo o homem franzino, baixo e cuja careca reluzente se destacava em sua figura pouco impressionante.
— Perdão? — Ele perguntou confuso.
Câncer então tragou o cigarro e respirou fundo pensando nas instruções da bela japonesa que eram mais um pedido pessoal, já que era de conhecimento geral que gentileza e educação não eram seu forte, embora Saga corajosamente o tenha incumbido de um cargo onde tais virtudes eram imprescindíveis; sendo assim, por Marin, com um esforço hercúleo ele desenhou um sorriso forçado no rosto para parecer amigável, mas que na verdade o deixava ainda mais assustador.
A emenda, no entanto, saíra pior que o soneto, e o pobre cliente de perplexo agora beirava o pânico.
— Buona sera — manteve o sorriso congelado, com o cigarro aceso na boca enquanto soltava a fumaça pelas narinas.
— Jesus! — exclamou assombrado o homem.
— No, io no sou Jesus, e se você veio aqui atrás do Nazareno no vai achar ele aqui... aqui só tem putana. Serve?
O homem piscou os olhos alarmado.
— Er... eu... tenho uma reserva — disse com a voz trêmula; definitivamente cogitava desistir dos seus planos de conhecer a casa.
— Va benne... qual é o teu nome?
— Hélio... Arthelius.
Conferindo rapidamente a lista, o canceriano logo deu passagem ao visitante, não se esquecendo de ser o mais cordial e educado que conseguiu, ainda que todo esse esforço o fizesse parecer ainda mais assustador do que naturalmente era.
Logo depois chegaram mais dezenas de clientes, então foram distribuídos mais dezenas de sorrisos bizarros e de causar calafrio na alma, mas nenhum contratempo seria registrado naquela noite. Máscara da Morte estava com sorte. O único aborrecimento que teria era a falta de Shura ali ao seu lado. Por mais maçantes que fossem as conversas com o capricorniano, elas sempre faziam o tempo passar mais rápido.
Frustrado ele soltou uma baforada de fumaça para alto e lamentou:
— Essa noite vai ser longa...
...
Dentro do camarim Shina dava o último retoque na maquiagem quando Marin entrou apressada fechando a porta atrás de si.
— Não se bate mais para entrar não? — disse Ofiúco que olhava para a amiga pelo espelho.
— Desculpa, Shina, mas você quem deixou a porta aberta... Misty está nervoso lá no salão — disse Marin.
— Misty está sempre nervoso no salão.
— Sim, mas hoje está mais... chamei o Aiolia para dar uma força aqui, mas ele está mais atrapalhado do que o Afrodite tentando contar o dinheiro do troco — disse ela e se jogou sentada no sofá que havia ali.
— Madonna mia! — Shina soltou uma gargalhada divertida girando a cadeira em direção à japonesa — E a Geisty, deu notícias?
— Nada ainda... Estou começando a ficar preocupada... Será que ela voltou para o hospital? Será que Kiki piorou ou... — disse Marin engolindo em seco.
— Nem diga isso... está tudo bem, e caso tivesse acontecido algo com Kiki, Geisty nos avisaria como sempre fez. Depois, ela disse que Mu e Shaka estavam já com a fórmula correta do remédio e que já iam prepara-lo hoje mesmo. Vai dar tudo certo.
Marin suspirou apreensiva.
— Que Atena te ouça!
— Se ela não ligou para gente é porque está tudo bem — disse Shina, depois se levantou, retirou o robe preto o pendurando no cabideiro e apenas de calcinha de paetês e os seios nus emendou olhando para Marin: — Quer saber a real? Ela foi atrás de resolver assunto dela.
Marin levantou as sobrancelhas e deu de ombros.
— E que assunto seria esse tão importante que precisa ser resolvido no horário do expediente e assim, tão de repente? — perguntou Águia enquanto olhava Ofiúco colar um adesivo brilhante sobre os mamilos.
— Ora, não é óbvio, Marin?
— Óbvio?
— Sim.
— Não!
— Como não?
— Só se for óbvio para você, Shina.
— Para mim é.
— Para mim não é.
— Isso porque você não precisa ir atrás disso.
— Disso o quê?
— Rola.
— QUÊ?! — Marin deu um grito de espanto.
— Rola. Ela foi atrás de rola, Marin, óbvio... Você não sabe o que é isso não?
— Sei... Digo, por que você acha isso?
Shina avançou e se sentou do lado da amiga no sofá, de frente para ela.
— Pensa aqui comigo, ela saiu apressada sem dizer o motivo e nem para onde ia, certo? Depois ela pediu a você que tomasse conta de tudo aqui sozinha, e sem deixar instrução alguma, ou seja, foi uma saída repentina, sem planejamento.
— E daí?
— Como e daí, Marin? Está na cara que esta é uma situação emergencial envolvendo rola.
Marin estava sem palavras diante do raciocínio peculiar da amiga.
— E olha que desse tipo de emergência eu entendo muito bem — Ofiúco desviou o olhar do rosto perplexo de Águia para ajeitar os adesivos em seus seios — quando a necessidade bate a gente sai correndo mesmo.
— Shina, isso... isso não faz nenhum sentido — disse a japonesa — Geisty passou seis anos sem se envolver com ninguém esperando que o Saga recobrasse o juízo. Pela virtude da deusa, por que justamente agora ela sairia atrás de qualquer... rola? — disse a última palavra baixinho.
— Eu não disse que ela foi atrás de qualquer rola, querida. — Shina deu um sorriso debochado e então emendou: — Ela foi atrás DA rola!
O rosto confuso da japonesa iluminou-se na mesma hora que uma óbvia dedução faiscou em seu pensamento, ligando finalmente os pontos:
— Minha deusa! Será?!
— É certeza! — Com a feição vitoriosa a italiana chacoalhou os ombros e desenhou um círculo imaginário no ar girando os seios, executando um dos movimentos que fazia tão bem em seu número, e que levava os clientes ao delírio. — Amiga, ela deve estar lá com o Saga essa hora e não vai voltar para cá tão cedo, o que significa que temos trabalho dobrado. Graças aos deuses, porque rola é vida, e gente feliz não enche o saco.
Súbito Ofiúco correu até o cabideiro, vestiu-se com o hobby felpudo que tirava só segundos antes de subir ao palco, pegou na mão de Marin e a fez levantar-se do sofá.
— Agora vamos logo que quero falar com o cara da iluminação antes do meu número de hoje.
Ainda atordoada com a possibilidade de Geisty estar mesmo com Saga, Marin deixou pensativa o camarim junto de Shina. Se fosse mesmo verdade a dedução de Ofiúco, embora estivesse feliz por Serpente, não podia deixar de preocupar-se, uma vez que estava fresca em sua memória a noite em que Saga, dominado pela loucura, trocara socos com Mu em frente ao Templo de Virgem depois de ter discutido severamente com a amazona. Porém, apesar dos pesares sempre torcera pela felicidade dos dois, e saber que Geisty escolheu dar mais uma chance a eles, depois de ter esperado por seis anos afundada em tristeza, era pelo menos animador.
Templo de Gêmeos, 07:04am
Assim que o Sol daquela manhã de primavera ficara um pouco mais alto no céu, logo seus raios invadiram a janela passando por entre as cortinas brancas de voal e espalhando sua luz em todo o quarto; acolhedor tocou gentil o rosto da amazona que dormia um sono pesado e sereno como há muitas noites não conseguia.
Remexendo-se entre os lençóis Geisty buscou conforto no calor agradável da pele e dos pelos finíssimos que lhe tocavam o corpo nu, recebendo no ato um abraço protetor dos braços fortes que a apertaram forte contra si. Com um doce gemido ela aconchegou o rosto entre os cabelos azuis fartos e perfumados.
Geisty não queria acordar, não agora.
Não estava pronta para começar mais um dia.
Na verdade ela não sentia-se pronta para começar aquele dia em específico, já que não fazia a menor ideia de como ele seria. No entanto ela precisava encara-lo, querendo ou não.
Depois de três tentativas falhas de abrir as pálpebras pesadas e finalmente decidir despertar, na quarta ela remexeu-se com maior firmeza tencionando afastar-se do abraço possessivo no qual estava tão bem aconchegada, mas logo foi interceptada por um beijo carinhoso em sua testa, bem entre os fios negros de sua franja. Logo os lábios quentes e manhosos deslizaram pela maçã de seu rosto traçando uma trilha de beijos até próximo ao ouvido, no qual sussurraram:
— Fica.
Geisty respirou fundo.
Sua vontade era responder que sim e não levantar nunca mais daquela cama, não abandonar jamais aqueles braços, não separar-se de modo algum daquele corpo para todo sempre, mas a vida não era feita apenas de desejos, muito menos quando esses eram os seus. Raramente o que desejava acabava sempre por ter um fim trágico.
— Não posso... eu preciso ir. — Ela respondeu sem firmeza alguma.
— Não. Não precisa... não agora — disse Saga beijando-lhe o pescoço e pressionando seu corpo contra o dela, fazendo com que sentisse o calor de sua intimidade. — Fica... Fica aqui comigo mais um pouco, por favor.
— Ahmm... — um gemido escapou pelos lábios dela que logo foram calados por um beijo sedento do cavaleiro.
Naquele ponto já era impossível para Geisty negar os seus instintos, ainda mais sob tais circunstâncias. Por isso, ela afundou os dedos nos cabelos fartos do grego e o beijou com igual volúpia, pois a sede que sentia pelos lábios dele tornara-se inesgotável. Os corpos entrelaçados então logo buscaram um no outro o calor da pele nua e o contato único nos pontos estratégicos que só eles, como amantes, conheciam.
Sedento de saudades da amada, Saga distribuía-lhe apaixonados beijos pelo pescoço e ombro, desceu em seguida até seus seios fartos e macios, demorando-se neles o quanto lhe cobrava sua necessidade para só minutos depois seguir explorando com a língua quente todo o resto, passando pelo abdome, a cintura esguia, as coxas deliciosamente firmes até finalmente se afundar na intimidade dela, enquanto em êxtase a ouvia gemer manhosa e suspirar de prazer.
Ah, como sentira falta de tê-la assim, entregue...
Que falta sentira do cheiro dela marcado em sua pele, do gosto dela em sua boca, de ouvir a voz doce murmurando seu nome em meio aos gemidos quase suplicantes enquanto a sentia puxar-lhe seus cabelos com força quando seu corpo contorcia-se de prazer debaixo do seu. Se os Campos Elísios existissem, como acreditava que existiam, duvidava que seria um lugar melhor do que nos braços dela.
O corpo do cavaleiro reagia enérgico com uma ereção dolorosa que clamava pelo corpo da amazona, o que fez com que ele abandonasse o sexo oral para de joelhos sobre o colchão ergue-la pelos quadris e penetra-la lentamente, fazendo ambos gemerem entregues. Saga seguiu movimentando-se com estocadas firmes que aumentavam o ritmo e faziam seus corpos se chocarem barulhentos. Geisty por sua vez, apoiava-se com uma das mãos na cabeceira de madeira enquanto passeava com a outro pelo corpo poderoso esculpido por músculos de seu cavaleiro. Há tanto tempo desejava, e muitas vezes até fantasiara, senti-lo novamente daquela forma, por isso agora não desperdiçaria a oportunidade, tampouco se preocuparia em se conter, arfava e gemia sem pudores ao passo em que era observada com excitação por Saga, que empregava mais vigor em seus movimentos.
Querendo senti-la mais perto ainda de si, o grego a puxou para seu colo e ela prontamente prendeu as pernas em sua cintura; agora ambos se movimentavam em perfeita sincronia em um sobe e desce frenético e intenso.
— Ahhhhh Saga... — Gemia a amazona arranhando os ombros do amado enquanto lhe oferecia os seios, que eram devorados com beijos, lambidas e chupões.
Enlouquecido Gêmeos esfregava o rosto quente neles, fartando-se de sua maciez e perfume.
— Hummm... Geisty — gemeu com a voz abafada.
— Amore mio! — murmurou quase numa súplica a italiana, puxando os cabelos do cavaleiro para trás, que arfou excitado abrindo a boca, então nessa hora ela tomou-lhe um beijo urgente, profundo, podendo sentir seu próprio gosto misturado aos lábios dele.
Saga segurava firme nas nádegas fartas da amazona e se movimentava cada vez mais fundo para dentro dela, a sentindo tremer, gemer e aperta-lo com a intimidade e também com as pernas em torno da cintura a medida em que o orgasmo se intensificava; de repente as unhas afiadas dela lhe arranharam sem dó nem piedade as costas e um ardor imediato fora sentido, o que só lhe deixou ainda mais excitado.
Súbito ele sentiu todos os músculos do corpo vibrarem até culminarem em um prazer intenso que inundou todo o seu ser e afastou qualquer raciocínio de sua mente, então ouvindo seu nome sendo sussurrado arfante e em delírio, com o rosto quente, suado e contorcido de prazer ele se esvaiu experimentando um orgasmo delicioso.
— Geisty... aaah... Geisty... amore mio!
Saga se rendeu, exausto e abraçado ao corpo febril e suado da amada, que agora se apoiava em seu ombro, igualmente esgotada.
Ele deixou-se cair de costas sobre os travesseiros, com ela sobre seu peito, então afastou-lhe os fios negros colados no rosto e depositou-lhe um beijo terno nos lábios inchados e rosados.
— Eu te amo — disse ele, e deu vários outros beijos enquanto se declarava olhando com encanto para o rosto exausto e ruborizado dela. — Eu te amo tanto... Senti tanto sua falta. Você me faz tão bem... Não vá embora. Fique. Por favor, fique.
— Eu estou aqui agora — murmurou ela.
— Sim, mas... volte a morar aqui comigo?
O rosto da italiana empalideceu e seu olhar terno se tornou confuso para o geminiano.
— Saga...
— Volte, Geisty.
— Não posso!
— Por que não?! Pelos deuses, essa é a nossa casa. Tudo aqui foi planejado pensado em nós dois. Sem você aqui nada disso tem sentido — retrucou aflito.
— Eu sei. — Ela devolveu angustiada
— Então, por que não?
— Porque não é tão simples como parece para você.
— Eu sei que não é, mas...
— Há anos atrás eu decidi voltar a morar aqui na certeza de que conseguiria te trazer de volta mesmo sabendo que era arriscado, que estava pondo a minha segurança em risco e que era uma loucura completa, mas eu não arrisquei tudo sozinha, eu tive aliados, protetores... os nossos amigos me apoiaram apenas porque sabiam que eu precisava fazer isso, por mim, ou jamais teria paz, mas eles sabiam dos riscos e se colocaram alerta para o mínimo sinal de perigo que eu pudesse passar. Você entende o que isso significa?
Saga respirou fundo desviando o olhar; extremamente constrangido ele apenas balançou a cabeça em afirmação.
— Eu mobilizei todo o Santuário em prol de uma missão que para eles era suicida, você entende isso, Saga? Eu acabei com a paz não só do Shaka, do Mu e do Afrodite, que eram os mais próximos a mim, mas também de Aldebaran, Shura, Máscara da Morte, Aiolia, Marin, Shina... Querendo ou não, todas essas pessoas fazem parte do nosso casamento, e mesmo todos também querendo sua volta você tem que considerar que lá se foram seis anos... e nesses seis anos muita coisa aconteceu... Eu devo, sim, uma satisfação a essas pessoas, além de a certeza de que nada disso vai se repetir, você não vai virar um monstro novamente e eu não vou mais precisar ser protegida por querer meu marido de volta. Além de que eles merecem a mesma paz que nós dois buscamos.
Saga sentia-se um trapo humano diante daquela realidade. Sentia até mesmo vergonha do pedido infame que fizera a pouco à Geisty.
— Me desculpa — murmurou derrotado — você tem razão. Preciso consertar as coisas e provar a todos que podem confiar em mim de novo antes de querer me convencer de que está tudo bem... de que posso pensar em viver uma vida normal. É o mínimo que eu posso fazer depois de ter desgraçado a paz de todos a minha volta.
Percebendo o abatimento do amado, Geisty tomou-lhe o rosto entre as mãos e o ergueu na altura do seu.
— Escuta. Você tem um caminho longo pela frente, Saga, talvez uma trilha eterna, e eu estou disposta a ficar do seu lado, mas eu preciso que você me mostre um real comprometimento dessa vez, porque essa busca é só sua, e eu sou apenas uma companhia, não um remédio. Eu e todos que nos apoiam precisamos de garantias.
— E eu estou empenhado! — disse ele enérgico e animado — Geisty, não tem um só dia que eu não vá a um tipo de terapia diferente, isso sem contar as reuniões do AA. Além disso, eu tomo religiosamente os meus remédios e sigo todas as recomendações dos médicos. Eu te contei que até a Ancara eu fui para me consultar com uma junta de psiquiatras que se reuniram especificamente para estudar o meu caso... e você sabe o quanto eu detesto ir à Turquia! — respirou agitado.
— Eu sei disso tudo, Saga. Por que você acha que estou aqui, agora, pelada e suada na sua cama, heim? — Geisty deu uma risada matreira, mas em seguida voltou a ficar séria. — Eu só quero ter certeza de que está fazendo isso por você e não apenas por mim ou para reparar os danos que... que o Outro causou. Preciso ter certeza que dessa vez está consciente de que só depende de você, e de que é o seu desejo de fato evitar que tudo se repita... que não vai permitir novamente que Ele volte num momento de fraqueza sua.
Saga segurou firme no rosto dela.
— Esse sempre foi o meu desejo, mas eu fui negligente e estou pagando por isso...
— Estamos pagando...
— Sim — suspirou profundamente o grego — e o que mais me dói é que fiz você sofrer por isso, mas está me dando um voto de confiança, mais um, e eu prefiro morrer ao fazê-la sofrer de novo, Geisty.
Saga a beijou ternamente nos lábios, mas a amazona manteve-se séria e um momento depois, olhando nos olhos dele, disse:
— Sim, mais um... porque eu vi o seu empenho e também porque percebi que não posso deixar que passe por toda essa dor sozinho... Eu nunca estive sozinha quando precisei lidar com a minha... e também porque eu te amo, Saga, e aceitei que é impossível para mim viver completa sem você ao meu lado, e nem quero isso. — Os olhos violetas marejaram enquanto ela respirava para conter a sua própria emoção. — Mas eu precisei de tempo também para entender isso, Saga, assim como todos aqui precisam para entender que de fato você está empenhado nessa sua mudança. Você precisa dar esse tempo e esse espaço a todos, incluso a mim.
No mesmo instante a amazona saiu de cima do cavaleiro deixando seu corpo cair sobre os travesseiros ao lado, Saga então fitou pensativo o teto e disse:
— Me desculpe, você tem toda a razão, até porque surgirão perguntas e mais perguntas, além de dúvidas e desconfianças — suspirou longamente — Bom, pelo menos já temos duas pessoas a favor da nossa reconciliação, e sendo assim acho que eles confiam em mim também.
— O Afrodite não conta. — Geisty riu entrelaçando os dedos aos dele. — Por ele eu já tinha me jogado na sua cama logo que recobrou a consciência. Ele não aguentava mais me ver encalhada.
Saga riu junto dela.
— Os anos passam e aquele maluco não mudou nada... Já o Shaka... — disse o grego ficando subitamente sério, então virou-se de frente para ela e continuou: — Nunca imaginei, nem nos meus mais insanos delírios, que o apoio que eu tanto precisava viria justamente dele... Shaka mudou tanto...
— Todos mudamos — disse a amazona também virando-se de frente para ele.
— Sim... eu também mudei, Geisty, mas continuo achando ruim ter de ficar sozinho nessa casa sem você...
— Eu sei — disse Geisty se apoiando em um dos cotovelos para olhar nos olhos dele — mas vamos com calma dessa vez, há muito mais em jogo além de só a vontade de estarmos juntos, Saga. Ainda existem feridas, recordações ruins que envolvem esse mesmo lugar, lembranças das quais você não se lembra mas eu sim... Por mais que tudo aqui nesta casa tenha sido planejado para nós, era uma outra realidade a que tínhamos na época, e eu de fato vivi meses de plena felicidade aqui ao seu lado, no entanto, também foi aqui que vivi anos de profunda tristeza ao lado do Outro... tentando fazer você voltar... Pelos deuses, eu tenho esses seis anos marcados ainda em mim, Saga, e não dá para simplesmente passar a borracha em tudo e esquece-los — respirou agitada enquanto o rosto de Gêmeos era o próprio constrangimento; não conseguindo sustentar ele desviou brevemente o contato visual enquanto ela continuava: — Por mais que eu queira reviver todo aquele passado glorioso que tivemos, preciso ser pé no chão. Não posso agir por impulso e me iludir como antes — suspirou tentando recompor-se. — Saga, não seria justo da minha parte cobrar a real noção disso de você, mas não posso simplesmente me mudar de imediato para esta casa, de novo, e no outro dia ter de sair novamente por algum outro motivo... não é justo com a gente e não é justo com todos que nos querem bem. Depois, todos sabem que não moro mais aqui. Não é como se eu agora fosse buscar as minhas coisas na Vila das Amazonas e tá tudo bem. Não quero viver sobre a alcunha do "casal sem vergonha", isso é vexatório, e somos muito mais que isso.
— Mas você não teria motivo para ir embora se voltasse para nossa casa. Amore mio, seja mais otimista!
— Ah não, Saga? Depois, não é uma questão de ser otimista ou pessimista, mas realista — disse Geisty que balançava uma das mãos no ar — como é que você pode afirmar com tanta certeza que vai ficar tudo bem daqui para frente? Você esteve ausente por seis anos, lembra?
— Geisty...
— Só porque está há algumas semanas em tratamento intensivo não quer dizer que já possa me dar qualquer garantia... Além do mais, em seis anos muita coisa mudou, inclusive eu mudei. Não sou mais a mesma pessoa de quem você se recorda, Saga.
— Eu sei, Geisty, mas o meu amor por você não mudou e nem vai mudar... Nunca! E é isso, o meu amor por você, que me leva a te dar garantias de que pode confiar em mim.
— Será? Você ama aquela Geisty que ficou no passado, há seis anos atrás. Essa Geisty aqui do presente é uma pessoa sofrida, cheia de feridas, de ressentimentos, de dores, amarguras... e de acordo com você, alcoólatra.
Saga baixou a cabeça e respirou fundo apertando os dedos contra a fronte levemente suada, ao que Geisty continuou:
— Aquela amazona sonhadora e atrevida com quem você se casou morreu na sala de parto do Hospital de Atenas, em algum momento entre a constatação da morte dos filhos e o desaparecimento do marido, e ela deu lugar a mim. Eu precisei mudar para sobreviver, Saga. E essa aqui — apontou para o próprio peito — é uma novidade para você, quase uma estranha.
O grego tinha a respiração pesada e os olhos marejados.
— Não fale assim... Eu sinto tanta culpa...
— Falo, porque precisamos encarar a realidade. Você ter voltado e ter tomado a iniciativa de buscar um tratamento é só a ponta desse iceberg. Você tem um longo caminho a percorrer para se restabelecer, curar suas dores, o seu luto, entender a si mesmo, se perdoar e retomar as rédeas da sua vida, só então entender o mundo ao seu redor, que mudou, e mudou muito.
— Tudo muda Geisty, nós que precisamos nos adaptar às mudanças, e nós vamos encontrar um meio.
— Sim, nós vamos encontrar um meio, eu acredito nisso, caso contrário não estaria aqui, como eu disse, pelada e suada na sua cama — deu um sorriso descontraído — mas temos que encarar a verdade dos fatos: Talvez nem tudo volte para o mesmo lugar de antes.
Gêmeos entendia muito bem o que ela queria dizer, resignado apenas balançava a cabeça em afirmação.
— Você então vai voltar para a sua casa na Vila das Amazonas? Vou sentir a sua falta.
— Também vou sentir a sua.
— Podemos nos ver de novo?
— Claro que podemos! — Geisty disse encarando os olhos jades que a fitavam tristonhos enquanto se aproximava mais até esfregar seu nariz ao dele fazendo com que Saga fechasse os olhos com o carinho. — E vamos! Talvez até hoje mesmo, de novo... claro, se você quiser e nossas vidas particulares permitirem.
— Se eu quero? É claro que eu quero! — sussurrou quase inaudível o cavaleiro.
— Eu também quero, mas vamos devagar. Vamos nos conhecer melhor, afinal somos pessoas diferentes agora... nós precisamos, e vamos fazer isso com ajuda especializada como você sugeriu. Temos muito a resolver, muitas feridas internas para curarmos, e o que pudermos fazer juntos vai ser bem mais eficaz. Não acha?
Quase não podendo crer no que seus ouvidos ouviam, o geminiano deu um sorriso e a abraçou com força girando seus corpos e a colocando sobre o seu, fazendo a amazona dar um resmungo divertido.
— Acho. Claro que eu acho. Tenho certeza! — disse Saga depositando um beijo rápido nos lábios da esposa para continuar sorridente — você vai me acompanhar nas consultas médicas?
— Sim, se você preferir e eu tiver um espacinho na minha agenda...
— Vai nas seções de terapia comigo?
— Nas que forem indicadas para nós dois? Sim, claro que vou, principalmente nessas.
— Vai me acompanhar nos meus exames?
— Até nos que forem em Ancara.
— Louvada seja Atena! Odeio aquele lugar — fechou os olhos e jogou a cabeça para trás o grego.
— Ancara não é tão ruim assim, vai, Saga. Você não estava com a companhia certa — disse Geisty dando uma risada, sendo acompanhada por ele.
— Você vai nas reuniões do AA comigo? — perguntou o cavaleiro fazendo a amazona revirar os olhos.
— Tudo bem, eu vou... mas essa noite já tenho compromisso, não prometo ir em todas.
— Você vai voltar a morar comigo aqui, na nossa casa? — perguntou mais uma vez, com olhos pidões e o coração acelerado, que facilmente pode ser sentido pela amazona que se aninhava segurando o rosto do amado entre as mãos.
— Como disse antes, assim que fizermos nossos curativos e tivermos total certeza de que isso é o melhor para nós dois, sim, eu voltarei a morar aqui, na nossa casa... Mas enquanto isso não acontecer... — disse manhosa dando uma leve mordida no queixo do marido — Você pode ficar com o meu disco dos Rolling Stones, assim sempre que eu quiser ouvi-lo eu virei até aqui ouvi-lo com você. O que acha?
— Acho muito bom! — respondeu ele com voz sedutora correndo as mãos pelas costas delgadas da esposa.
— Às segundas-feiras eu costumo preparar para o jantar camarões frescos refogados que compro em Atenas. O que você acha de jantar comigo na próxima segunda na minha casa? Hmm? — propôs ela.
— Olha só que sorte a minha! Eu adoro camarão, mas aceitaria o convite mesmo se não gostasse... amore mio — respondeu de olhos fechados sentindo os beijos que a italiana distribuía em seu pescoço.
— Mas como eu disse, um passo de cada vez... e vamos ser discretos, por favor — Geisty o encarava com o rosto alegre como a muito ele próprio não via na amazona — Além disso, temos as nossas vidas para viver e já passam das sete da manhã... Puxa, eu fiquei a noite toda fora! Devem estar todos procurando por mim lá no Templo de Baco e na Vila das Amazonas.
Ao dizer isso Geisty se ergueu ficando sentada no colo do cavaleiro que a acompanhou levantando o tronco.
— Espera, vamos pelo menos tomar um café da manhã juntos. Enquanto você toma um banho eu preparo.
— Você sabe que eu não resisto a um café da manhã preparado por você — disse ela manhosa o abraçando e dando vários beijos em seu rosto — Isso é golpe baixo.
— Hum... Torradas ao ponto com manteiga de leite de cabra e café preto, bem forte e amargo. — completou o grego de olhos fechados recebendo os beijos.
— Você ainda lembra! — ela parou de beija-lo e o encarou surpresa.
— Claro que lembro! Parece que faz um mês que fiz esse café da manhã para nós dois e que o tomamos aqui nessa mesma cama... juntos — disse ele, depois baixou os olhos para o ventre dela e passou delicadamente a ponta dos dedos sobre a cicatriz deixada pela cesariana. — Mas eu sei que faz muito mais tempo que isso... seis anos... Por mais estranho que possa parecer, para mim os anos passaram sem trégua.
A mão dele rapidamente fora recolhida pela de Geisty, que entrelaçou seus dedos enquanto abraçada a ele e falava rente ao seu ouvido:
— Mas nós ainda estamos aqui, e juntos vamos passar por isso, como sempre fizemos, porque assim somos mais fortes.
Saga apenas ergueu o rosto e concordou fechando os olhos enquanto ganhava um beijo na testa.
— Mas para isso acontecer eu preciso ir — disse a amazona se afastando um pouco — Preciso voltar ao Templo de Baco, e preciso dar as caras na Arena e colocar meu treinamento em dia... Ah, e o mais urgente! Preciso de notícias do meu sobrinho. Quero passar no hospital antes de ir para o trabalho. Não paro de pensar no Kiki... sonhei com ele a essa noite dizendo que queria me ver. Estou tão preocupada.
— Certo — disse Saga agitado, puxando a amazona junto de si para saírem da cama — Mas tome um banho enquanto eu faço o nosso café da manhã. Não vou deixar você sair daqui sem comer nada. Prometo que serei o mais rápido que conseguir.
Apressado ele correu até o cabideiro, pegou um roupão de seda azul marinho e foi direto para a cozinha. Quando chegou lá abriu afoito as portas dos armários e rapidamente pegou todos os itens de que precisava para preparar o dejejum, mas de repente ao virar-se para a ilha atrás de si deu de cara com a serva que cuidava de seu Templo, Hebe, a qual estava prostrada na porta pronta para lhe dar "Bom dia".
— AHH!
O grito de susto do cavaleiro foi acompanhado pelo da jovem franzina, que já era naturalmente assustada.
— SENHOR SAGA!
— Pelos deuses, mulher! O que faz aqui uma hora dessas?
— Eu... eu... eu vim trabalhar... Já está na hora do meu expediente, eu só não sabia que o senhor estaria aqui hoje e não lá no alto do monte... quer que eu prepare o seu café?
— Café?
— Sim, o seu café? Quer como o de costume? — disse ela já avançando para dentro da cozinha.
— Você me prepara café da manhã? — Saga perguntou confuso.
— Ora sim, senhor Saga... quando dorme aqui sou eu quem prepara o seu café. Como o senhor acha que eles eram preparados?
Reticente ele a encarava.
— Aliás, eu preparo todas as suas refeições, não apenas o café.
— ... Eu não me lembrava.
Ela olhou sério para ele.
— O senhor tomou os seus remédios da manhã, já?
Como se uma luz se acendesse nas ideias do cavaleiro, ele balançou o dedo no ar finalmente entendendo a situação.
— Muito bem lembrado... — disse ele, e correu para uma das gavetas que ficava na cozinha e dela separou vários comprimidos, ao seu lado a eficiente serva já lhe estendia um copo com água fresca enquanto na outra mão aguardava com uma jarra cheia. Ela o acompanhava tomar um por um os diversos comprimidos — Obrigado.
— Por nada.
— Hebe, Hebe, não é isso, Hebe?
— Sim senhor. — concordou tímida.
— Eu preciso de ajuda para fazer um café da manhã.
— Eu faço para o senhor — respondeu solicita.
— Não, estou com pressa, muita pressa... dois fazendo é mais rápido.
— Como preferir. Seu iogurte já está pronto.
— Não quero iogurte hoje.
— Ah não?
— Não... Sabe o que é, Hebe — disse se aproximando da jovem franzina e cochichando — É que hoje eu estou com uma visita.
— Uma visita? — disse reticente e um tanto desanimada.
— Sim, e essa minha visita acordou agora e se bem me lembro de manhã ela come igual uma leoa!... Bem, você entende, né? — A serva apenas balançou a cabeça em afirmação. — Ela gosta de algo bem especifico no café da manhã. Torradas ao ponto com manteiga de leite de cabra e café preto forte e amargo. Mas ela está com pressa, Hebe, muita pressa! Vamos lá, temos que ser rápidos!
No mesmo instante a serva ergueu os olhos e o rosto se iluminou em alegria; ela conhecia bem aquele paladar matinal tão específico.
— A tal visita... ela gosta do café com duas gotinhas de adoçante? E a torrada tem que ser bem douradinha, sem pontos chamuscados?
— Exato, isso mesmo! — respondeu ele animado.
Hebe sorriu dando um pulinho no mesmo lugar.
— Perfeito! Eu já estou acostumada a preparar esse cardápio, senhor Saga, e sou muito rápida, pode deixa comigo! — a jovem corria pela cozinha serelepe fazendo barulho com o solado de suas sapatilhas — torradas caprichadas na manteiga... café bem forte para acordar até os mortos... — tagarelava enquanto mexia em vários equipamentos eletrônicos dispostos na bancada, como um experiente piloto diante de um painel de avião.
Em pouco mais de cinco minutos o geminiano voltava para o quarto trazendo consigo uma bandeja com os quitutes, e mal adentrou o cômodo deparou-se com Geisty de cabelos encharcados, que apressada se vestia.
Assim que viu o cavaleiro ali, ela correu até ele e roubou uma torrada da bandeja, dando uma bocada enquanto se jogava sentada na poltrona para calçar os scarpins.
— Saga, pela pureza da deusa! O Shaka... hum... — dizia ao mesmo tempo que mastigava enlouquecida a torrada.
Gêmeos arregalou os olhos e seus rosto ficou lívido de repente.
— Pelo Olimpo todo, mulher, o que tem o Shaka? — perguntou ele. — Por que você tá com essa cara?
— Hm... ele me ligou... hm... agora mesmo... do hospital...
— E o que ele queria?
— Kiki...
Saga engoliu em seco.
— O que tem o pequeno Kiki? — sentiu as mãos formigarem e a bandeja pesar.
Geisty enfiou o resto da torrada na boca e levantou-se da poltrona, correndo em direção a Saga e o agarrando pelos ombros o sacudindo.
— O Kiki, ele acordou! — falou ela cuspindo algumas migalhas de torrada no rosto dele.
— O QUÊ? ACORDOU?
Ela chacoalhou frenética a cabeça afirmando.
— Eu preciso ir para o hospital — disse ela engolindo a massa em sua boca, a qual desceu raspando em sua garganta, depois ela puxou Saga pelo queixo, lhe deu um selinho nos lábios, passou a mão em outra torrada e correu até a bolsa que estava caída do lado da penteadeira desde a noite passada — Eu ligo para você mais tarde, para te dar notícias!
Esbarrando nos móveis com a bolsa que agora trazia pendurada no ombro, sem dar chances do cavaleiro responder Geisty deixou o quarto às pressas.
Saga ficou ali, a acompanhando com os olhos passar pela porta e deixa-lo sozinho com uma bandeja cheia de quitutes preparados no capricho. Um momento depois dele baixou os olhos para as torradas lambuzadas em manteiga, para as frutas picadas, o café fumegante na xícara e deu um suspiro longo e satisfeito. Caminhou devagar até a cama, sentou-se, esticou as pernas e com a bandeja no colo degustou uma das torradas que preparara para a esposa.
Era a primeira vez, desde que recobrara a consciência, que sentia-se feliz.
E era a primeira vez desde então que acreditava que tudo ficaria bem, para todos.
