"Estamos voltando para a clínica, encontrei os arquivos dos dois homens que foram desligados da organização junto com Audrey. Um código chamou minha atenção no prontuário deles e de outras três pessoas. Todos os cinco assinados pelo mesmo psiquiatra. Federico Bryantt" - SH
Assim que leu a mensagem, Mycroft Holmes sabia que não poderia esperar até o dia amanhecer para tomar uma atitude. Seu irmão mais novo estava colocando a própria vida em risco sem saber e a culpa era dele por não ter compartilhado todas as informações sobre com o que estavam lidando. As pessoas envolvidas naquele projeto seriam capazes de qualquer coisa para mantê-lo em segredo.
(...)
Depois de caminhar até a clínica, Sherlock Holmes e John Watson precisavam descobrir como entrar. Não havia seguranças andando pelo lado de fora, mas havia câmeras e sensores de presença ativando o acendimento automático dos refletores espalhados pelo chão.
Um gato passeando pelo jardim foi o que deu a dica antes de correr e se esconder da luz recém-acesa. Levou alguns minutos até que o detetive conseguisse descobrir o que fazer.
— Aparentemente o sistema não dispara nenhum alarme, apenas ilumina a área para alguém checar. Quando não vê nada relevante, apenas ignora. Mas se nos ver andando pelo jardim, duvido que irão ignorar.
Sherlock começou a andar pelo terreno longe o suficiente do alcance dos sensores e John o seguiu até a parte de trás do imóvel parando na direção de uma porta trancada com correntes presas por um cadeado.
— Tudo o que precisamos fazer é garantir que a luz não irá acender.
— Se danificar alguma, deve disparar o alarme — ponderou John.
— Provavelmente, mas se eu conseguir cobrir o refletor com alguma coisa, mesmo que o sensor seja ativado, ninguém vai nos ver aqui, longe da iluminação dos postes na rua — Sherlock pensava em como bloquear a luz.
— Acho que tenho uma ideia — John quebrou um galho de uma das árvores próxima e sem entrar no campo de alcance do sensor, empurrou a parte de trás do refletor, virando sua região luminosa para baixo.
Para testar a eficiência da ideia, Sherlock caminhou em direção do prédio e voltou rapidamente ao perceber que a luz havia sido acionada. Porém, como planejado, o local continuava escuro à exceção do halo de luz próximo do chão.
Os dois esperaram alguns minutos para ver se aquilo seria suficiente para chamar a atenção de alguém e quando tudo permaneceu no mais completo silêncio, eles avançaram em direção ao prédio. Sherlock abriu o cadeado em poucos segundos permitindo a entrada deles.
— Por onde começamos? — Perguntou John.
— Acho que a sala dele fica aqui no térreo. Todas as janelas da parte de cima têm grades, então deve ser onde ficam os pacientes — respondeu o detetive.
Eles estavam em um longo corredor que se estendia para a direita e para a esquerda a partir daquela entrada e resolveram se separar. Em cada uma das extremidades do corredor havia uma passagem.
Pelo lado direito percorrido por Sherlock várias portas brancas, todas destrancadas, guardavam salas de exame, um refeitório, uma biblioteca e o que parecia ser uma sala de TV. Um pouco adiante mais um corredor se dividia para os dois lados. O lugar parecia um labirinto.
O caminho que John seguiu levava a um galpão de depósito dos materiais usados na clínica. Tanto de limpeza quando insumos médicos. Ele deu uma olhada no lugar à procura de algo que pudesse ser a substância similar à TD12 ou a droga original, mas como já esperava tudo o que encontrou foram medicamentos psicotrópicos. Do lado oposto de onde ele entrou havia uma porta destrancada que levou a outro corredor.
Enquanto caminhava sem muita certeza de onde iria, Sherlock ouviu o barulho emitido pelo elevador, não muito longe dali, com suas portas abrindo para um desembarque. Mudando imediatamente a direção que seguia, ele começou a andar rápido e acabou esbarrando em alguém.
Sherlock se assustou antes de se virar e perceber que se tratava de John e os dois entraram rápido em uma das salas quando ouviram os passos se aproximando. A dupla permaneceu em silêncio até o barulho diminuir.
— Nós nunca vamos encontrar a sala do Federico nesse labirinto!
— Errado! — Discordou Sherlock abrindo uma fresta da porta e olhando do lado de fora saindo satisfeito por não ver ninguém por perto. — Lembra que ele era um dos três responsáveis — o detetive apontou para uma placa na porta onde havia o nome de uma mulher. — Ela era outra.
Sherlock e John saíram para o corredor.
— Imagino que os três responsáveis prefiram suas salas próximas ao elevador, para facilitar o deslocamento quando necessário — o homem caminhava confiante e parou na frente da porta com o nome do outro médico antes de chegarem ao elevador. — Aqui — ele apontou para a placa com onde estava escrito: "Federico Bryantt Ph.D. - Psiquiatria e Neurocirurgia".
— Não é estranho as salas estarem todas destrancadas? — Perguntou John fechando a porta depois que eles passaram.
— Talvez não tenham nada a esconder — Sherlock tirou uma lanterna do bolso do sobretudo, acendeu e avançou sobre a mesa do psiquiatra, enquanto o amigo checava, também com uma lanterna, o conteúdo do armário de madeira à direita da mesa.
Atrás deles havia uma janela que dava para o jardim e à esquerda da sala, uma estante que preenchia toda a parede com livros, certificados de conclusão de cursos e honrarias variadas.
— Posso ver o código de novo? — Pediu John e Sherlock passou seu celular ao amigo. — O Mycroft está tentando falar com você — anunciou ele ao ver as mensagens e chamadas recebidas.
— Duvido que seja algo importante. Deve estar querendo saber o que já encontramos — o detetive ligou o computador que havia sobre a mesa e sentou na cadeira ao descobrir que tinha senha. Calculou que precisaria em torno de cinco minutos para conseguir acessar seu conteúdo.
A dupla continuou com as buscas sem verificar o que o Holmes mais velho queria. Para a decepção deles, nada dos códigos ou algo que remetesse ao centro de treinamento estava entre os arquivos.
Já haviam terminado de checar tudo o que havia no computador e no armário quando um barulho no corredor chamou a atenção dos dois. Imediatamente Sherlock e John apagaram as lanternas procuraram onde poderiam se esconder, mas não houve tempo para isso. Federico abriu a porta e acendeu a luz surpreendendo a dupla.
Por alguns minutos nenhuma palavra foi pronunciada. O homem entrou em sua sala acompanhado por dois seguranças armados e fechou a porta. Ele olhou para a bagunça que havia sido feita em seus arquivos e acenou com a cabeça em negativa antes de começara a falar.
— Identidade falsa, roubo de arquivos, invasão de privacidade... — sua voz era ausente de sentimentos. — Não sei se entrego vocês para as autoridades ou se deixo meus seguranças fazerem o serviço.
John e Sherlock trocaram um olhar aflito temendo por suas vidas já que não viam como poderiam se defender. Para eles, a única chance de saírem dali com vida era o psiquiatra chamar a polícia. Só assim o detetive conseguiria entrar em contato com o irmão para pedir ajuda.
Ele tentou alcançar seu telefone guardado no bolso do sobretudo minutos antes de serem surpreendidos, mas ao ver o movimento o segurança deu um passo na direção dele o mantendo sob sua mira.
— Acho que vou chamar a polícia, — ponderou Federico. — Apesar de poder alegar que meus seguranças agiram em legítima defesa quando vocês invadiram, parecer cooperativo com eles vai melhorar nossa reputação com as autoridades. Principalmente quando souberem que vocês estavam tentando se passar por agentes do governo.
A dupla tentou disfarçar o alivio que sentiu com o anúncio. Haveria muita explicação para ser dada, mas estavam salvos. No entanto, o medo voltou a tomar conta deles quando o homem continuou.
— Se bem que ainda assim posso matar um dos dois antes, mas qual? — A expressão no rosto dele permanecia indiferente mesmo depois de fazer a ameaça.
O psiquiatra tirou o celular do bolso do paletó do terno branco e antes que pudesse desbloquear a tela ele começou a emitir um ruído. Um instante de confusão passou pelo seu rosto vendo o nome do contato. Sabia que aquela conversa aconteceria, mas não esperava que fosse naquele momento. Ele atendeu a ligação.
— Você vai ouvir o que eu tenho para dizer em silêncio e eu não irei repetir — declarou a voz firme do outro lado da linha. — Se tem algum apego pela sua vida, entregue a esses homens tudo o que lhe for pedido. Sem mentiras. Você sabe muito bem com quem está lidando.
Depois veio o silêncio. A ligação havia sido encerrada.
— O que vocês querem aqui? — Agora havia emoção em sua voz, uma mistura de raiva e decepção. Ele sabia que o esquema que havia arquitetado e gerenciado por tanto tempo estava seriamente ameaçado.
— O que significa esse código? — Sherlock pegou o celular e mostrou a imagem para o psiquiatra indo direto ao assunto.
Federico pegou um livro na estante de onde tirou uma chave escondida na contracapa, esvaziou a terceira prateleira partindo do chão revelando um fundo falso de madeira com uma fechadura que ele abriu com a chave. Atrás dele, um cofre com um teclado numérico.
— Esse código, são as iniciais do projeto e a senha para destrancar o cofre — respondeu ele enquanto fazia o que falava.
Seu conteúdo era apenas um fichário que o psiquiatra retirou e entregou nas mãos de Sherlock. John se aproximou para ver do que se tratava. Eram fotos de uma casa já conhecida pelos dois e também por Audrey.
— Eles precisavam ver para onde os filhos seriam mandados para se sentirem bem consigo mesmos. Achavam que estavam indo para um lugar bem longe daqui, quando na verdade os mandávamos para o Centro de Treinamento e Triagem em Londres. Eu devia ter me livrado disso quando vocês invadiram o local, mas não acreditei que chegariam até aqui.
Sherlock pegou o celular para avisar o irmão das últimas informações e ele informou que em poucos minutos chegaria à clínica.
— Mycroft está vindo — o homem avisou a John e percebeu um pequeno tremor na pálpebra superior direita do psiquiatra.
Aquilo ela mais do que preocupação com o emprego e o cargo atual. Sherlock sabia que estava prestes a descobrir o que seu irmão mais velho estava escondendo.
Nota da autora: É agora! Ansiedade pelo momento revelação? Ainda está longe do final da história, mas finalmente alguns mistérios serão revelados nos próximos capítulos! Continuem acompanhando e não deixem de comentar!
