John Watson já estava com a mão no celular dentro do bolso da sua jaqueta jeans preta quando Mycroft Holmes o interrompeu.
— Se quiser fazer isso pessoalmente, pegue carona no helicóptero que eu vim. Vou precisar de gente com um nível mais alto de mais confiança para nos acompanhar e instruirei Lady Smallwood para começar o inquérito. Precisamos descobrir quem está nos traindo o quanto antes. É inadmissível que isso esteja no acontecendo outra vez — o Holmes mais velho estava irritado.
— Vou aceitar a oferta — John sorriu agradecido. — Você vem comigo, Sherlock?
— Oi? — O detetive digitava concentrado uma mensagem no seu celular. — Não, — ele sorriu guardando o aparelho. — Vou com o Mycroft ver o que o psiquiatra vai pedir para liberar os nomes de quem mais está envolvido no esquema e também preciso pegar os arquivos que deixamos no hotel.
— Está certo... — John ainda temia pela segurança de todos com aquelas revelações. — Não acham que seria uma boa ideia colocar alguém vigiando o prédio na Rua Baker, o Barts e a casa da Molly?
— Elas só estarão em risco enquanto a protegida estiver por perto, mas recomendarei à Lady Smallwood que envie equipes aos locais que fiquem atentas a qualquer movimento estranho mesmo assim — assegurou Mycroft.
— A gente se encontra nessa sede do projeto, então? — Perguntou John um pouco mais aliviado olhando para os dois.
— Sim, eu sei onde fica. Vou para lá de carro com Sherlock e instruirei o piloto para aterrissar com vocês no pátio — respondeu o Holmes mais velho.
— Certo — respondeu ele.
John estava pensando em como fazer para convencer a mulher a esperar no carro com ele, mas sabia que tinha poucas chances de isso acontecer. Além de querer descobrir sua identidade e da sua vontade de ajudar no que pudesse, ele tinha certeza absoluta que o motivo de Sherlock Holmes estar digitando no celular era para enviar uma mensagem para Audrey. Requisitando sua presença de uma forma que ela não pensaria em recusar.
(...)
Ao chegar no 221B da Rua Baker, John Watson imaginou que Rosie estivesse no apartamento da senhora Hudson e Audrey Morgan dormisse no seu quarto e, por isso, seguiu direto para o piso superior do prédio. No entanto, ele ficou confuso quando encontrou a cama arrumada e vazia. Decidiu descer e procurá-la no andar principal, mas quando encontrou a sala deserta, sentiu um aperto no peito.
— Fique calmo, ela deve estar na cozinha ou no banheiro... — sussurrou ele com medo de que a mulher tivesse saído sem saber do perigo que corria com as reviravoltas no caso.
Audrey não estava em nenhum dos dois lugares e John já se preparava para ligar para ela quando o ambiente à meia-luz visível pela porta entreaberta do quarto de Sherlock chamou sua atenção. Os primeiros raios de sol atravessavam a abertura entre as duas metades da cortina que balançavam ao vento. Ele caminhou até lá terminando de abrir a porta e sorrindo ao encontrar a babá e sua filha adormecidas na cama do amigo.
John sentiu uma vontade súbita de mentir para Audrey. Diria que a ideia era ela ir com eles e esperar no carro sem oferecer outra opção. Não queria expor a amiga ainda mais, considerando o perigo que já corria. Rosie não precisava perder mais ninguém de quem gostava.
No entanto, ao mesmo tempo, ele sabia que se fizesse isso magoaria ela e Sherlock ao mentir para os dois. John torceu para que o detetive estivesse certo e ninguém fosse capaz de tentar algo contra a mulher enquanto eles estivessem por perto.
O pai entrou no quarto fazendo o mínimo de barulho para não acordar a filha e se abaixou ao lado da cama.
— Audrey — chamou ele tocando de leve no ombro direito da amiga que dormia de costas para a porta.
Ela despertou um pouco confusa, mas logo reconheceu onde estava e sorriu para Rosie dormindo à sua frente para em seguida se virar e encontrar o rosto sorridente de John.
— Que horas são? — Perguntou sussurrando.
— Muito cedo ainda — respondeu ele da mesma maneira com serenidade.
— Aconteceu alguma coisa?
— Infelizmente sim e você precisa vir comigo.
Audrey se sentou e deu espaço para que John usasse a beirada do colchão para fazer o mesmo. Ambos mantinham o tom de voz baixo enquanto conversavam.
— Tem a ver com o que vocês descobriram na clínica?
— Essa droga que aplicaram em você, para apagar sua memória foi desenvolvida por um psiquiatra e se tornou a ferramenta fundamental em um projeto ultrassecreto que recrutava condenados para trabalhar como assassinos a serviço exclusivo do governo.
O coração da mulher acelerou e ela olhou com os olhos arregalados para John que chegou mais perto dela e segurou sua mão.
— Não há provas que você tenha cometido qualquer crime. Mycroft checou inclusive com amostras do seu DNA e nós ainda não achamos nenhuma informação sobre você na clínica. Nossa única certeza é que eles estão nos vigiando desde que invadimos o centro de treinamento. Por isso você precisa sair daqui.
— Eu quis ficar longe tantas vezes, John. Eu sabia que acabaria trazendo algum risco para vocês — ela deu um meio sorriso para ele se esforçando em conter as lágrimas e depois olhou para Rosie.
John não conseguia mais falar com o nó que sentia em sua garganta.
— Vamos acabar logo com isso — a mulher tentou ficar de pé, mas o amigo a segurou pela mão.
— Espera — ele engoliu seco antes de continuar. — A questão é que esse psiquiatra está usando pacientes da clínica irregularmente nesse projeto com o consentimento das famílias e precisa ser parado. O Mycroft teme que apesar do depoimento que conseguimos, sem provas concretas do que está acontecendo ele não consiga paralisar o projeto.
— Mesmo sem o psiquiatra, com as informações que eles já têm e com mais cuidado da próxima vez podem tentar recrutar gente inocente de novo — raciocinou Audrey.
— Isso! — John ficou contente por ela estar acompanhando. — É possível inclusive que você seja a única sobrevivente do esquema. E por isso Sherlock quer que você vá com a gente até a sede onde o projeto legalizado acontece. Ele acha que se você reconhecer alguém, algo possível de acontecer já que está sem a droga há mais de 20 dias, faremos a ligação que precisamos do projeto com o centro de treinamento...
— Mas não encontramos nada sobre mim lá também, apesar daqueles dois homens e o atirador terem me reconhecido...
— Sua foto que estava com ele prova que você esteve lá.
— Aquela que o Mycroft achou que seria uma boa ideia copiar e usar nos meus documentos? — Ela sorriu.
— Essa mesmo — o homem sorriu de volta. — Por falar em fotos, encontramos os arquivos médicos dos dois homens que foram levados na picape com você aquele dia. Ex-pacientes da clínica.
— Se com a minha ajuda conseguirmos ligar o projeto ao centro está evidente a irregularidade...
— E o Mycroft consegue paralisar tudo e fazer uma investigação profunda e talvez até provar que não vale à pena seguir com isso por conta desse tipo de risco — John levantou a mão esquerda para impedi-la de falar e continuou. — Mas eu acho extremamente perigoso, e queria sugerir que você fique no carro comigo enquanto Sherlock tenta ver se alguém te reconhece usando uma fotografia sua.
— Não! Eu quero ajudar! Em tudo! Não vou ficar no carro esperando — ela finalmente se levantou.
— Pode ser muito perigoso, Audrey — o homem também ficou de pé.
— Já é muito perigoso, John — ela segurou as mãos dele enquanto ambos olhavam para Rosie.
— Vai trocar de roupa então que eu vou levar ela lá para baixo — o homem soltou as mãos da amiga e se apoiou na cama com um joelho para pegar a filha no colo.
— Espera — Audrey sorriu se aproximou para dar um beijo no rosto de Rosie. — Não sei quando vamos nos ver de novo. Imagino que reconhecendo ou não alguém na sede, eu não vou poder voltar para cá até toda a história estar resolvida.
— Faremos o possível para que não demore muito —John sorriu saindo do quarto logo em seguida.
Nota da autora: A hora da verdade cada vez mais próxima. Audrey quer ajudar a colocar um fim nisso tudo o mais rápido possível para poder desfrutar de uma vida que não se lembra de ter vivido. O que vocês esperam desse encontro? Ela reconhecerá alguém? Mycroft conseguirá paralisar o projeto, ou melhor encerrar? Tantas perguntas... em breve virão as respostas.
