Quando o helicóptero pousou, eles viram não muito longe dali, Sherlock e Mycroft Holmes parados esperando de pé do lado de fora do carro preto blindado. John Watson desceu primeiro e ajudou Audrey Morgan a desembarcar enquanto os irmãos se aproximavam.
Depois os quatro seguranças armados desceram e o Holmes mais velho os instrui a acompanhá-los e não hesitassem em atirar caso julgassem necessário.
— Sherlock — Audrey sorriu para ele. — Recebeu minha mensagem?
— Eu recebi, — um sorriso encantador iluminou o rosto dele. — Você não viu minha resposta?
A mulher colocou a mão no bolso e só então percebeu que havia esquecido o celular em cima da mesinha ao lado da cama.
— Droga... — praguejou ela em voz baixa.
— Tudo bem? — Perguntou John.
— Meu celular ficou lá na Rua Baker — ela deu um meio sorriso.
Enquanto conversavam, o grupo se deslocava em direção à entrada do prédio da organização.
— Acha que usar a mesma roupa do dia que eu cheguei foi uma boa ideia? — Perguntou ela tentando acompanhar os passos do detetive.
— Excelente ideia! — Ele elogiou. — Agora preciso que fique bem perto de mim. Se alguém te reconhecer eu vou perceber na hora!
— Tá certo! — Audrey estava animada.
À medida que chegavam mais perto da edificação, no entanto, seus sentimentos foram mudando para um medo que ela não conseguia entender ao certo a origem.
O prédio imponente parecia ser de uma universidade, inclusive com um jardim e árvores em volta, mas todos estavam cientes do tipo de ensino que era ministrado entre aquelas paredes de tijolo bordô. Nos quatro andares havia janelas grandes, sendo cinco nos andares superiores e apenas quatro no térreo.
Audrey olhou para Sherlock à sua direita buscando amparo quando passaram por dois homens que conversavam debaixo da sombra de uma árvore ao lado da entrada principal. Ele percebeu o desconforto dela.
— Reconheceu algum deles?
A mulher negou decepcionada com um aceno de cabeça.
— Tudo bem — ele a puxou para mais perto para ver se provocava alguma reação nos homens.
Estavam muito bem armados, usavam roupas semelhantes às de Audrey e o detetive teve certeza que um dos dois olhava diretamente para ela com raiva.
Seu plano estava saindo melhor do que o esperado e tinha convicção de que devia coletar mais informações a respeito daquele sujeito. John notou as conclusões pelo olhar de Sherlock e passou a andar do lado esquerdo da amiga na intenção de protegê-la.
— Senhor Holmes! — Exclamou o homem passando pela porta principal e descendo pela escadaria chamando involuntariamente a atenção dois irmãos. — À que devo a honra da sua visita? — Continuou ele se direcionando ao Holmes mais velho.
— Vim saber que história é essa de vocês estarem admitindo pessoal sem a nossa autorização e aceitando encomenda particular de assassinato em troca de dinheiro, Donnie — revelou Mycroft sem cerimônia enquanto eles trocam aperto de mão. — Donald Coheny, diretor responsável pelo projeto — continuou ele para o irmão.
— Não sei com quem você está se informando, mas a única ilegalidade que fazemos aqui é declarar mortas pessoas que ainda estão vivas — ele esticou a mão para cada um do grupo e foi cumprimentado sem deixar de notar quão frias estavam as mãos da mulher que os acompanhava. — Mas isso nunca foi segredo para ninguém e faz parte do projeto. Além de ter o consentimento de todos os envolvidos. É importante para manter a discrição que o trabalho exige e garante a segurança dos agentes e de suas famílias — ele indicou para que o grupo entrasse no prédio. Os seguranças fechavam o cortejo. — Todos têm ciência do tipo de trabalho e estilo de vida que estão aceitando.
— É o que diz aos seus agentes? — Perguntou Mycroft com desdém.
— Revelar a eles que são criminosos condenados irrecuperáveis não seria de nenhuma utilidade para o serviço — respondeu o homem rindo alto estando apenas eles no salão principal. — É preferível que acreditem que estão fazendo isso por um bem maior. E suas famílias ficam felizes em cooperar. Obviamente aquelas que não foram completamente exterminadas pelos nossos candidatos — ele piscou um olho sorrindo para Audrey.
Quando o homem se virou para entrar em um longo corredor, a mulher olhou para Sherlock e depois para John.
Desde o início eles tentavam convencê-la da sua inocência, mas agora havia motivos para ela acreditar ser realmente uma criminosa e que sua família não tinha feito nada de mal ao querer se livrar dela. Caso estivessem vivos. Aquele pensamento fez a mulher engolir seco pensando na arma debaixo do casaco.
— Mas não precisa acreditar em mim, tenho os registros de todos que estão ou já estiveram conosco para provar — continuou Donnie abrindo uma porta.
— Foi exatamente para isso que viemos aqui — o Holmes mais velho foi o primeiro a entrar na sala recém-aberta sendo seguido por Sherlock, John, Audrey e dois dos seguranças. Os outros dois ficaram guardando a sala pelo lado de fora.
— Não vai encontrar nada irregular senhor Holmes. Temos um negócio muito bom aqui e inclusive agradeço mais uma vez as contribuições vindas de Sherrinford — o homem sorriu enquanto abria um armário fechado com chave e tirou uma caixa de metal trancada lá de dentro. — Inclusive, aquela oferta ainda está de pé.
— Se quer continuar com esse seu projeto eu sugiro nunca mais mencionar a existência dela — Mycroft deixou transparecer a irritação.
— Respeito seu posicionamento, mas lamento. Seria uma grande contribuição para nós — Donnie não queria dar o braço a torcer, mas ficou com medo.
Não arriscaria a menção de Eurus Holmes novamente. Sabia até onde aquele homem era capaz de ir para proteger a família. Pensar naquilo fez com que ele percebesse que não havia sido apresentado a dois dos integrantes do grupo.
— Imagino que esse seja seu irmão, Sherlock Holmes, e esses outros dois, quem são?
— Eu faço as perguntas aqui — respondeu secamente o Holmes mais velho encerrando a conversa.
— Claro — Donnie não disse mais nada enquanto carregava a caixa até uma mesa de madeira no centro da sala, a abriu e começou a tirar as fichas dos integrantes do projeto. — Tivemos uma baixa alguns dias atrás, então no momento estamos com 19 agentes. Se quiserem posso pegar esse arquivo também — ofereceu ele. — É um serviço arriscado. O parceiro dele teve sorte em ter sobrevivido.
Mycroft apenas acenou positivamente com a cabeça e Donnie saiu da sala em busca do arquivo do agente morto.
— Veja se reconhece alguém — Sherlock rapidamente abriu as pastas sobre a mesa e ficou acompanhando o olhar de Audrey para a foto de cada homem e mulher nos arquivos.
— Não... — ela lamentou. — Nada... — a mulher estava começando a ficar com vontade de chorar.
— Esse não é o cara te encarou lá fora? — Perguntou John puxando uma das pastas.
— Albatroz — leu Sherlock em voz alta. — O nome te traz alguma lembrança?
Donnie entrou na sala carregando a pasta.
— Me desculpa, mas não... — a respiração de Audrey ficou acelerada e John apoiou a mão direita nas costas dela. — Não queria decepcionar vocês, mas...
— Fica tranquila, a gente sabia que poderia acabar sendo assim — sussurrou ele.
— E de qualquer forma, eu já tenho por onde começar — falou Sherlock em voz baixa com um sorriso no rosto.
— O codinome de pássaro para os agentes foi ideia do Federico. Uma ideia meio idiota, mas que não vi problema... — comentou Donnie vendo o interesse pelo arquivo. — Espera, não é por causa dele que vocês estão aqui, é?
O homem enfim sorriu.
— Seja lá o que ouviu é tudo um mal-entendido, Mycroft — explicou. — Acontece que alguns dos pacientes do doutor Federico Bryantt, infelizmente acabaram por cometer crimes. Mas nós só os trouxemos para o projeto depois que foram presos. Os arquivos da justiça estão anexados às fichas descritivas — ele ficou de pé ao lado do Holmes mais velho se certificando que ele viesse todas as informações.
— Isso é o que vamos averiguar com a análise de cada um, inclusive um exame de DNA para conferir se todos constam na base de dados dos criminosos condenados.
O sorriso imediatamente desapareceu do rosto de Donnie.
— Isso infelizmente vai demorar um pouquinho — comentou ele.
— Posso saber por quê?
— Boa parte do nosso pessoal está em missão.
— Todas as missões seguintes estão suspensas até que façamos os testes.
— Mycroft, vamos perder dinheiro com isso!
— Achei que se preocuparia mais com as vidas dos inocentes ameaçados pelos alvos que vocês são contratados para eliminar, do que com o dinheiro — o Holmes mais velho começou a se sentir aliviado por estar conseguindo desmascarar o esquema evitando o pior. — Ou estão realmente fazendo serviço não autorizado?
O diretor engoliu em seco.
— Não temos nada a esconder — Donnie tentou sorrir.
— Veremos — declarou Mycroft. — O projeto está paralisado para investigação e espero que todos estejam logo de volta para começarmos os exames.
— Espero ter tudo esclarecido com rapidez tanto quanto você, Mycroft — afirmou o diretor. — Pessoas perigosas quando não eliminadas podem trazer grandes problemas.
Sherlock e John imediatamente olharam para o homem tentando captar se era uma indireta para Audrey.
— Posso apresentar vocês ao Albatroz já que ficaram tão interessados — continuou Donnie observando os papéis nas mãos do Holmes mais novo. — Passamos por ele e Garajau quando entramos.
— Seria de grande proveito! — Declarou Sherlock colocando a pasta com os dados do homem de volta sobre a mesa.
Mycroft chamou a atenção dos seus seguranças que estavam com eles na sala.
— Nos esperem aqui. Ninguém mexe nesses arquivos — ele ordenou.
Junto com o homem e a mulher armados que aguardavam do lado de fora, o grupo seguiu de volta para o pátio.
Nota da autora: Audrey está ou não se lembrando de alguma coisa? As reações dela deram esperança a Sherlock. O detetive vai enfim conseguir descobrir de onde ela veio e quem ela é?
Esses últimos tempos não tem sido fáceis para ninguém. Espero que minhas histórias estejam sendo um alento para vocês da mesma forma que são para mim. Considero uma conquista chegar ao 50º capítulo, mesmo sem saber exatamente como a leitura está sendo para vocês. Espero não estar comemorando por algo ruim, porém, mesmo ruim, esse trabalho tem trazido cor para meus dias, constantemente.
