Disclaimer: A história e os personagens não me pertencem, obviamente. Mas nada nos impede de brincar um pouquinho com cada um deles, não é verdade?

História: A história se passa depois do epílogo do último livro. Draco Malfoy luta contra os fantasmas de sua vida. Um deles é Harry Potter.

Notas da autora: Essa história já tem quase 20 capítulos prontos, mas ainda não sei como terminá-la... Passa-se toda em primeira pessoa. Nosso loiro favorito, após tantos anos, encontra-se obcecado por Harry Potter. Espero que gostem. Por favor, comentem!

Capítulo 1

A algazarra ao redor me sufocava, mas me mantive altivo e estóico até o fim. Aquele momento era de extrema importância para Escorpio. Seu primeiro ano em Hogwarts. Ali começaria uma nova etapa de sua vida, uma que eu esperava que fosse mais feliz que a minha.

Não que eu tivesse sido tão infeliz assim na escola. Apenas no meu Sexto ano eu realmente iria vir a sentir o peso do medo, da culpa, do remorso.

Meus dois últimos anos haviam me transformado no que eu era hoje. Um homem cheio de medos e inseguranças, que lutava contra o pânico contínuo todos os dias. Havia muito eu perdera o gosto pela vida. Dezenove anos depois e eu continuava me sentindo o mesmo garoto assustado que fizera tantas idiotices na adolescência. Eu tomava remédios. Todos os dias. Rejeitara a ajuda de psiquiatras até que não houvera mais jeito. Já estava em terapia há quase dez anos, com poucos progressos. Mas ao menos eu conseguira enfrentar Londres com toda a poluição, e barulho, e aquelas máquinas de quatro rodas assassinas. E todos aqueles trouxas...

Não me leve a mal. Já não odeio os trouxas como antes. Só acho que eles estão acabando com nosso mundo em geral naquela tentativa insana de suprir a magia através do que eles chamavam tecnologia. Tecnologia essa que agora estava por toda parte. Eu podia ver naquele mesmo instante, na Plataforma Nove ¾, vários bruxos e bruxas tirando pequeninos aparelhos celulares das bolsas, ou escutando música com eles, ou tirando fotos e fazendo pequenas filmagens de cada momento de suas vidas. A maioria também tinha carros enfeitiçados.

Realmente eram outros tempos. O mundo bruxo adorava o mundo trouxa. Mas eu não estava ali para analisar a vida ao meu redor. Estava ali para dar todo o meu apoio a Escorpio, que segurava minha mão com força. Ao meu lado, Astoria, minha esposa, parecia tão nervosa quanto ele.

Era um medo justificado. A família Malfoy já não tinha o prestígio de antes. Pelo contrário. Desde a última guerra, e apesar da nossa deserção de última hora, havíamos sido tachados de Comensais da Morte e o éramos até hoje. As pessoas cochichavam quando passávamos. Alguns eram abertamente hostis. O mundo bruxo agora detestava aqueles de puro sangue que haviam se aliado ao Lorde das Trevas, e adoravam aqueles nascidos de pais trouxas.

Astoria e eu tínhamos certo receio do que poderia acontecer a Escorpio em Hogwarts. Meu consolo era que Escorpio não era como eu. Fisicamente, era a minha cópia. Os mesmo cabelos e cor de olhos, a mesma beleza radiante dos Malfoys. Mas enquanto eu havia sido um garoto mimado e presunçoso, que sempre se achara melhor do que os outros apenas para esconder minha insegurança, Escorpio era o oposto. Era um garoto adorável e simples. Sabia ser altivo sem ser arrogante. Era um aristocrata nato, mas sem toda a pompa inútil e irritante.

Era o meu orgulho, e eu faria qualquer coisa por aquele que se tornara minha razão de viver. Eu amava Escorpio mais do que qualquer outra pessoa no mundo, e amaldiçoaria qualquer um que ousasse lhe fazer mal.

Sabia que seria um aluno brilhante, mas tinha medo de que ele fosse intimidado pelos outros. Um sorriso amargo ameaçou escapar de meus lábios. Se isso acontecesse, seria minha culpa. Afinal de contas, eu havia sido insuportável para muitos alunos de Hogwarts.

O principal deles estava há alguns metros de distância, e meu coração disparou no peito assim que o sentiu por perto. Meus olhos o procuraram instintivamente. Sempre fora assim. Anos de terapia me fizeram descobrir o porquê daquilo, mas era melhor não enveredar por aquele caminho. Não naquele momento.

Olhei então para Escorpio e dei um sorriso sincero pela primeira vez desde aquela manhã. Meu filho relaxou um pouco. Senti-me culpado por fazê-lo se preocupar tanto. Que droga de pai eu era.

- Como está se sentindo? – perguntei.

- Bem. – disse ele, e parecia dizer a verdade.

Senti-me um pouco menos nervoso. Astoria, no entanto, continuava irrequieta. Ela se abaixou para abotoar ainda mais o casaco pesado de Escorpio. Revirei os olhos, mas não reclamei em voz alta. Primeiro, porque estávamos em público. Segundo, porque eu era tão protetor quanto ela.

- Lembre-se do que eu lhe disse. – falei a Escorpio, que apenas assentiu. – Faça os deveres de casa direito, mas ache tempo para se divertir também. Nada de voltinhas pelo castelo durante a noite, e muito menos pela Floresta Proibida. E acima de tudo, se alguém lhe fizer alguma coisa, reporte à Diretora imediatamente. Certo?

- Certo.

Escorpio me olhou com a mesma adoração e confiança com que eu olhara para Lucius tantos anos atrás. Meu coração se contorceu de tristeza. Minha vontade era a de levar Escorpio de volta para casa e escondê-lo daquele mundo tão perverso. Perguntei-me se meu pai havia pensado o mesmo na época. Provavelmente não. Sabia que meu pai me amava e se preocupava comigo, mas para Lucius "ser homem" vinha em primeiro lugar. Qualquer tipo de fraqueza humana não era admitido em seu dicionário. Era irônico, na verdade, já que as "fraquezas humanas" haviam nos derrubado no passado. Os orgulhosos Malfoys, no final das contas, preocupavam-se uns com os outros.

Embora Lucius houvesse se tornado um tanto quanto humilde, se é que se podia dizer isso, sabia que ele continuava desapontado com meu fracasso. Eu não me tornara o favorito do Lorde das Trevas. Eu nem sequer tivera coragem de olhar para a cara daquela criatura horrível sem sentir repulsa. Também não me tornara o melhor Apanhador, nem o melhor aluno, nem nada.

Conhecendo meu pai, sabia que ele esperava que Escorpio tivesse sucesso onde eu havia fracassado. Eu, no entanto, esperava apenas que meu filho se divertisse. Que se dane se ele não fosse o Apanhador do Ano. Não me importaria nem mesmo se ele não entrasse para o time de Quadribol da Sonserina. O que eu mais desejava era que o peso de ser um Malfoy não atrapalhasse sua vida como atrapalhava a minha.

O trem apitou. Estava pronto para partir. Uma algazarra se formou na Plataforma. Os gritos de felicidade das pessoas, as risadas altas e as últimas saudações me deixaram ligeiramente tonto. Eu odiava multidões, mas agüentaria firme. Por Escorpio.

Astoria tocou meu braço de leve como se fosse me amparar. Dei de ombros. Não queria parecer fraco de jeito nenhum. Eu era Draco Malfoy. Podia ser um covarde por dentro, mas por fora seria sempre um Malfoy.

Deu um último abraço em Escorpio sem me importar com o que os outros pensariam. Queria que ele soubesse que podia contar comigo para o que quer que fosse.

- Comporte-se, está bem? – murmurei em seu ouvido. – Mas não leve desaforo pra casa.

Ele riu e me olhou como se eu já não soubesse que ele se defenderia de qualquer coisa. Escorpio podia parecer frágil, mas era um garoto esperto. Além disso, eu lhe ensinara alguns truquezinhos semanas antes.

Astoria me olhou como se eu fosse uma causa perdida. Tinha uma explicação lógica. Minha mulher detestava violência. Não queria que Escorpio se metesse em confusão. Era mais partidária da idéia de ir até McGonagall e reclamar de alguma coisa do que fazer justiça com as próprias mãos. Eu também o era, mas o que ela não conseguia entender era que às vezes um garoto tinha que aprender a se defender sozinho.

Eu estou sendo hipócrita? Talvez. Mas todo pai espera que seu filho saiba brigar por si mesmo. Ao menos nesse quesito conseguia me identificar com Lucius.

Astoria o abraçou e vi as lágrimas mal contidas em seus olhos. Ela até que estava conseguindo se segurar bem. Sorri ao ver Escorpio se desvencilhar rapidamente quando o abraço perdurou por mais tempo do que deveria. Ele era, afinal de contas, um pré-adolescente. Não ficava bem ter a mãe abraçando-o como se ele fosse um bebezinho.

Pisquei pra ele e senti um aperto no coração ao vê-lo desaparecer dentro do trem. Pedi aos deuses que o protegessem. Quase pude escutar o coração de mãe de Astoria se partindo em mil pedaços. Queria abraçá-la, mas eu nunca fora dado a demonstrações espontâneas de carinho. Dando-lhe o braço, viramo-nos para ir embora e meus olhos encontraram outro par, verde esmeralda, me olhando intensamente pela segunda vez naquele dia.

Harry Potter.

Até aquele momento havia conseguido ignorá-lo com sucesso. Um aceno de cabeça havia sido tudo que conseguira fazer para lhe dizer que eu o havia visto. Não fora assim tão difícil. Com meus medos à flor da pele, era mais fácil me esquecer dele. Eu tinha outras coisas para me preocupar.

Mas ali estava ele de novo, os cabelos pretos e abundantes despenteados pelo vento, os olhos brilhando como jóias, a boca semi-aberta. Um homem extremamente atraente. O herói do mundo bruxo. A seu lado estava sua fiel companheira Gina Weasley e os mosqueteiros Hermione Granger Weasley e Ronald Weasley. Outros Weasleys estavam por ali, mas mal reparei neles. Meus olhos estavam fixos em Harry, como sempre.

Meu coração, que até então estivera apertado no peito por Escorpio, agora queria saltar pela boca. Batia tão forte que tive medo que Potter conseguisse ouvi-lo da distância em que se encontrava. O encontro de nossos olhares foi breve, mas pra mim muito intenso. Tão intenso que Astoria teve que me chamar umas três vezes antes que eu lhe desse atenção.

- Querido, tudo bem? – disse ela, olhando de mim para Potter.

Suspirei. Astoria era uma das únicas pessoas no mundo que sabiam do meu sórdido segredo. Ela se preocupava comigo honestamente. Naquele instante, desejei mais do que nunca ser capaz de amá-la.

- Tudo bem. – respondi para deixá-la menos preocupada. – Vamos para casa.

Olhei uma última vez para Potter e sua família barulhenta e feliz. Odiei Gina Weasley por agarrá-lo na frente de todo mundo, sem vergonha alguma. Acho que minhas ondas de raiva viajaram até lá, porque Harry me olhou novamente e arqueou a sobrancelha. Não soube dizer se foi um cumprimento ou o quê. Eu retribuí, novamente, com um aceno de cabeça.

Não éramos mais inimigos. Não éramos amigos também. Só conhecidos que haviam se odiado a vida toda, que sempre haviam estado no caminho um do outro. E que droga. Ele salvara minha vida.

E eu o amava como nunca... O sentimento tornara-se tão forte a ponto de me deixar doente.

Era patético.

Assim, deixei a estação para me refugiar do resto do mundo.