Capítulo I - Odeio você! Odeio Papai!
Saindo do quarto de Anthony, o filho de cinco anos, Bella fechou a porta silenciosamente e apoiou-se contra ela, sentindo-se desanimada e tensa. O garoto finalmente adormecera, depois de muito chorar. As lágrimas e os ataques de birra tornavam-se cada vez mais intensos, e essa era uma situação que não podia continuar.
Bella achara que o menino estava apenas atravessando uma fase, e que tudo aquilo acabaria com o tempo, mas era evidente que se enganara. Em vez de desaparecer, o problema estava agravando-se. Ela precisava tomar uma providência, embora essa idéia a enchesse de ansiedade. E, se decidisse realmente fazer alguma coisa, teria de começar a agir imediatamente.
Ficara combinado que Esme, sua sogra, sairia cedo de Chicago, na manhã seguinte, num vôo da ponte-aérea, para ir buscar Anthony. O menino, porém, recusava-se a ir com a avó para Chicago, e Bella deveria avisá-la, para evitar que ela fizesse uma viagem inútil.
Afastando-se da porta do quarto do filho, Bella resmungou uma praga, pensando no momento delicado que teria que enfrentar, explicando a situação à sogra.
O mais lógico seria ligar para Esme e dizer-lhe, sem rodeios, que o neto não queria ir com ela para Chicago no dia seguinte, mas isso feriria seus sentimentos, sem falar que provocaria uma reação hostil. Bella não queria ser chamada de encrenqueira e desaforada, algo que já acontecera antes.
Entrando na sala de estar, olhou-se no espelho acima da mesinha do telefone. Achou-se horrível. Estava abatida, com olheiras, olhos sem brilho. Isso, porém, não a surpreendeu. As batalhas que travara com Anthony naquela semana haviam se tornado piores a cada dia. O rosto cansado refletia seu tumulto emocional e as noite em que ela não conseguia dormir, pensando no problema causado pelo comportamento do menino.
Continuando a olhar-se no espelho, achou-se desbotada. Se não fosse pela cor castanha dos cabelos, pareceria um fantasma, de tão pálida. Um fantasma de um metro e sessenta seria ainda mais assustador, ela pensou com um sorriso melancólico. Era baixa, sim, mas esbelta. Talvez esbelta demais para a maioria das pessoas, como por exemplo, para Edward.
Ah, os gostos de Edward...
Seu sorriso desapareceu tão de repente quanto surgira, apagado pela lembrança da única pessoa que conseguia transformar risos em lágrimas sem esforço algum.
Edward Anthony Masen Cullen, para ser mais exata. Homem rico. Homem poderoso. Principal causa dos problemas de seu filho. Bella o amara, mas no momento o odiava. Pois assim era Edward, homem de violentos contrastes. Deslumbrante na aparência. Arrogante ao extremo. Exímio e extravagante na arte de amar. Mortalmente perigoso para quem o amava.
Ela estremeceu e apertou os braços em torno do corpo enquanto se afastava do espelho para evitar olhar-se até ficar amargurada demais, como acontecia sempre que se deixava absorver pela lembrança de Edward. Ela não só o odiava, como odiava a si mesma por pensar nele. Ele era o fantasma de seu passado, ligado ao presente por um fio invisível que unia o coração dela ao dele, passando através do coração do filho. Na verdade, a única qualidade de Edward, Bella considerou, era seu desmesurado amor pelo filho de cinco anos. Àquela altura, até mesmo essa frágil ligação parecia ameaçada, apesar de Edward não saber ainda.
- Odeio você! Odeio Papai! Não quero mais gostar de vocês!
Ela franziu dolorosamente o cenho, sentindo o eco daquele grito zangado como se fora uma apunhalada no peito. Anthony falara sério, sua palavras carregadas de sentimento. Emoção demais para uma criança confusa e vulnerável.
Numa pequena mesa ao lado do sofá, o telefone parecia objeto inocente, inofensivo, quando na verdade era como uma bomba prestes a explodir. Bastaria que ela o tirasse do gancho. Ela nunca ligava para Chicago. Não fazia isso desde que partira, há três anos. Qualquer comunicação fora feita através de advogados, ou por cartas enviadas ou recebidas por Esme, a avó de Anthony. Por isso aquela ligação era tão especial, e certamente causaria o maior tumulto na casa dos Cullen. E isso antes mesmo que ela esclarecesse o motivo da chamada!
Bella caminhou relutante para o sofá. Cerrando os dentes, respirou profundamente e ergueu o fone. Depois de digitar os números, ela fechou os olhos e rezou para que ninguém atendesse.
"Que covardia a minha", pensou. Ao mesmo tempo, considerou que com Edward sempre era melhor ser covarde. Ela gostaria que Esme atendesse. Ao menos com ela, Bella poderia relaxar um pouco a tensão e tentar parecer normal, antes de dar-lhe as más notícias.
- Sim? - uma voz grave e sedutora penetrou-lhe o ouvido.
Edward! Bella deu um salto, abrindo os olhos que, de verdes passaram a cinzentos, em momentos de tensão.
Diabos, ela praguejou consigo mesma. Era mesmo Edward. Uma súbita onda de calor percorreu seu corpo. A garganta parecia fechada. Tentou falar e não conseguiu. Fechando novamente os olhos, ela pode vê-lo tão claramente quanto se ele estivesse a sua frente: alto, cabelos cobreados, pele branca e corpo esbelto, sempre na característica postura de firmeza e arrogância. Ele estava usando um terno escuro, ela sabia, pois aos domingos a família Cullen sempre se vestia formalmente para o jantar. Era domingo, e em Chicago a hora do jantar estava próxima. O terno seria preto, ela concluiu, a camisa branca, e a gravata borboleta, preta. Bella podia ainda visualizar os olhos azul com aqueles longos e espessos cílios que pareciam capazes de hipnotizar. Ninguém podia pensar em outra coisa quando preso àquele olhar, portanto o pensamento de Bella passou à boca máscula. Lábios sensuais, boca de amante nato: bonita, vermelha, sedutora e perturbadoramente expressiva, que podia caçoar, ofender ou beijar como nenhuma outra. E mentir, e proferir palavras de ódio.
- Quem fala, por favor? - ele perguntou.
- Alô, Edward - ela murmurou roucamente. - Sou eu Bella...
A bomba fora detonada, na forma de um silêncio terrível, daqueles que deixam os nervos em frangalhos. Com a boca seca, pernas bambas e o coração ao saltos, ela tentou falar novamente.
Mas Edward foi mais rápido.
- O que houve com meu filho? - Ele quis saber.
- Está tudo bem - ela conseguiu falar. - Anthony não está doente.
Houve mais um momento tenso, enquanto Edward absorvia a informação.
- Então, o que a fez telefonar para cá? - ele perguntou friamente.
Com uma careta, Bella reconheceu o direito dele àquela pergunta, e fez um esforço para não retrucar. O fim de seu casamento não fora agradável, e a hostilidade entre eles resistira aos três anos de separação.
Três anos atrás, Edward ficara tão furioso com a partida de Bella, levando Anthony, que fizera toda sorte de ameaças ruidosas. Ela respondera com uma ação na justiça que proibia Edward de entrar em contato com ela, a não ser através de uma terceira pessoa. Nunca achara que Edward a perdoaria por tê-lo feito passar pela humilhação de jurar, perante o juiz, que nunca procuraria Bella pessoalmente nem tentaria tirar Anthony do Estado, apenas para conseguir permissão de estar com seu próprio filho. Eles não haviam trocado uma palavra desde então.
Edward tivera que esperar um ano para conseguir legalmente o direito de levar o menino para Chicago. Antes disso, tivera que ir à Seattle para ver o filho. E até o presente momento, Anthony tinha sido levado e trazido de volta pela avó, para que seus pais não se encontrassem.
Na verdade, o único ponto amigável mantido por Bella e Edward fora reconhecer que Anthony tinha o direito de amá-los igualmente, sem sentir-se pressionado ou influenciado pelas desavenças entre os pais. Isso fora sempre enfatizado por uma enérgica avó, que fora alçada à posição de juiz muitas vezes, quando a hostilidade entre eles estava no auge.
Bella acostumara-se a ouvir calmamente, quando Anthony discorria apaixonadamente sobre as virtudes de seu adorado papai, e imaginava que Edward se habituara a fazer o mesmo com relação a ela. Isso, entretanto não significava que a animosidade entre eles tivesse diminuído. Era só disfarçada, para o bem de Anthony.
- Na verdade, eu estava querendo falar com Esme - ela explicou o mais fria e rapidamente que pode.- Se puder chamá-la, eu agradeceria.
- E eu insisto em saber - ele retrucou, incisivo. - O que está havendo de tão importante, para você ousar ligar para cá?
Bella percebeu que ele não deixaria Esme interferir.
- Prefiro falar com sua mãe - ela insistiu, teimosa.
- É claro - ele respondeu calmamente. - Quando ela for buscar Anthony pela manhã.
- Não, Edward, espere! - ela gritou, pondo-se de pé, com um salto.
Percebeu, em pânico, que Edward ia desligar. Subitamente pôs-se a tremer, enquanto pensava no que fazer. Um silêncio estático zumbia em seu ouvido. A linha não fora desligada. Bella sentiu que Edward não diria uma palavra enquanto ela não justificasse sua insistência.
- Estou tendo problemas com Anthony - ela finalmente falou.
- Que espécie de problemas?
- Prefiro discutir isso com Esme - ela respondeu. - Que-quero a opinião dela sobre o que fa-fazer, antes que ela chegue aqui amanhã - gaguejou.
Gostaria de ter coragem para impedir Esme de ir até sua casa no dia seguinte, mas não ousou desafiar Edward. Experiências passadas haviam mostrado o quanto ele podia ser desagradável.
- Por favor, espere na linha - disse Edward friamente -, enquanto transfiro a ligação para outro aparelho.
Será que ele acataria seu pedido assim tão facilmente, Bella perguntou-se surpresa. Controlou-se, no entanto, e murmurou:
- Obrigada.
Livrando-se de um pouco da tensão, ela deixou-se cair novamente no sofá. Congratulou-se intimamente. As primeiras palavras que haviam trocado depois de anos não tinham sido tão hostis, afinal. Ao menos não tinham tentado destruir-se mutuamente. No momento, Bella concentrou-se no que diria a Esme. A verdade parecia o caminho mais lógico, mas a verdade sempre fora um assunto delicado entre elas. Então, o que dizer? Deveria pôr novamente a culpa em supostos problemas de Anthony na escola? Ou na vida dupla que ele era obrigado a ter, com pais morando em Estados diferentes?
De fato, havia dois estilos de vida para Anthony. O primeiro basicamente normal. A rua limpa e bonita de um subúrbio de Seattle, com suas fileiras de casas de família de classe média, perfeitamente normais. A milhares de quilômetros dali, em outro Estado, a vida era totalmente diversa daquela levada pela maioria das famílias. Qualquer pessoa ficaria confusa. O que dizer de um pequeno garoto! Ao invés de num subúrbio, em Chicago, Edward morava no campo. Sua casa era um palácio, comparada a de Bella, seu padrão de vida luxuoso provocaria assombro na maioria das pessoas.
Quando Anthony visitava Chicago, seu papai deixava de lado o trabalho de diretor de uma importante companhia internacional para dedicar-se exclusivamente a ele. Além disso, sua amada avó estava sempre pronta a despejar sobre ele a mesma quantidade de atenção e amor.
Bella não tinha família e trabalhava o dia todo, quer Anthony estivesse ou não em Seattle. Ele tivera que aceitar que uma babá o apanhasse na escola e ficasse com ele na casa dela até que Bella pudesse ir buscá-lo. Mas nada disso era a verdadeira causa da rebeldia do menino.
Anthony ainda não tinha idade suficiente para entender o que na verdade o irritava. Só depois de inúmeras crises de choro do garoto, e muita paciência da parte dela, Bella começara a compreender os ataques de birra do filho. Naquela noite, finalmente a verdade aparecera. Um nome que ela temia a ponto de sentir arrepios na espinha saíra subitamente dos lábios de seu filho. Mas não fora simplesmente o nome que deixara Bella abalada, mas a dor e a angústia que Anthony demonstrara ao pronunciá-lo. Ela conhecia aqueles sentimentos por experiência própria, sabia como eles podiam destruir a autoconfiança de alguém. Sabia que, se Anthony dissera a verdade, ele tinha toda a razão de não querer mais saber da família de seu pai. Ela não tivera a mesma reação?
- Pronto. Fale - a voz de Edward comandou.
Bella pestanejou, tentando voltar à realidade.
- Onde está Esme? - ela quis saber, começando a impacientar-se.
- Não me lembro de ter dito que ia chamá-la - Edward retrucou - Anthony é meu filho, deixe-me lembrá-la. Se está tendo problemas com meu filho, então fale sobre isso comigo.
- Ele é nosso filho - Bella corrigiu, enquanto tentava achar uma saída.
Já era bastante complicado tocar no assunto com Esme. Ela não podia conceber a idéia de falar sobre aquilo com Edward.
- Então, finalmente, você reconhece isso.
A observação realmente a atingiu em cheio, e Bella cerrou os lábios tentando não retrucar. Esforço inútil. As palavras jorraram sem que ela pudesse controlar-se.
- Tente um pouco de sarcasmo, Edward - ela falou. - Talvez ajude.
Ela o ouviu suspirar e depois o som familiar do couro do sofá cedendo sob o peso dele. Instantaneamente, soube em que aposento Edward se encontrava. O antigo escritório do pai dele, que passara a pertencer-lhe depois que Carlisle Cullen morrera, quando Anthony tinha apenas um ano e meio. Pode visualizar o escritório tão bem quanto visualizava Edward momentos antes. Viu seu tamanho, sua forma e sua elegante decoração antiga. As paredes de cor neutra, o chão encerado, as peças selecionadas de móveis renascentistas, inclusive a escrivaninha de Edward.
- Ainda está na linha?
- Estou - ela respondeu distraída.
- Então, quer fazer o favor de me dizer que problemas são esses que Anthony está tendo, antes que eu perca a paciência?
- Problemas na escola - ela resolveu dizer. - Começou há semanas, logo depois que você o visitou aqui.
- Parece que para você a culpa é minha.
- Eu não disse isso - ela negou. - Apenas estou tentando explicar o que está havendo.
- Então, peço desculpas - ele falou.
Mentiroso, ela pensou.
- Ele está malcriado na classe - ela forçou-se a prosseguir. - Zangado e insolente. Depois de um ataque de birra, a professora ameaçou chamar os pais à escola para falar de seu comportamento. Ele respondeu que o pai mora em Chicago, que não viria porque é rico e importante demais para se incomodar com esses detalhes. - Bella ouviu o suspiro desalentado de Edward e soube que ele compreendera a importância do assunto. - Por que ele diria uma coisa dessas, Edward? - ela perguntou secamente. - A menos que alguém o tenha feito acreditar que isso é verdade, que alguém tenha dito isso para que ele pudesse repetir.
- E você acha que fui eu! - ele exclamou, fazendo Bella perder a paciência.
- Não sei quem foi - ela quase gritou -, pois ele não diz! Mas posso adivinhar. Ele se recusa a ir para Chicago com Esme amanhã. Diz que, já que você não se importa com ele, por que se dar ao trabalho?
- Então ligou para cá para que minha mãe não vá buscá-lo amanhã - ele presumiu. - Que ótima maneira de lidar com o problema, Bella. Afinal , Anthony só está dizendo o que você sempre desejou, durante todos esses anos. Assim, eu fico fora de sua vida!
- Você já está fora da minha vida! - ela exclamou. - Nosso divórcio sairá no fim do mês.
- Um divórcio que você provocou! - ele lembrou. - Já lhe ocorreu que esse pequeno detalhe possa ser a causa do comportamento estranho de Anthony? Ou talvez haja mais alguma coisa. Nesse caso, eu só precisaria ir até a outra ponta desta linha telefônica para descobrir quem está envenenando a mente de meu filho contra mim.
- Está querendo dizer que eu digo a nosso filho que, para você, ele é uma amolação? - ela replicou com esforço. Sentiu-se tão ofendida com a suspeita, que se ergueu de novo, continuando: - Se é isso o que pensa, raciocine melhor, Edward. Não sou eu quem está planejando casar outra vez, tão logo o divórcio saia. Nem sou eu quem está prejudicando nosso filho, impondo-lhe uma típica madrasta infernal!
Ela queria não ter dito aquilo. Mas dissera, e agora estava agitada como nunca. Respirava pesadamente, cerrando os dentes com fúria.
- Quem foi o idiota que disse isso? - ele vociferou.
Bella podia imaginá-lo novamente em pé, quase espumando de raiva.
"E por isso", ela pensou, "que eu e Edward não podemos nos encontrar. Nossas discussões sempre acabam pegando fogo".
- É verdade? - ela perguntou.
- Não é da sua conta - ele sibilou.
- Pode apostar que será da minha conta, sim, Edward - ela ameaçou, furiosa. - Vou suspender nosso divórcio, se descobrir que pretende dar a Tanya qualquer poder sobre Anthony.
- Você não tem todo esse poder sobre meus atos - ele rebateu.
- Não? Então, espere para ver! - ela desafiou, desligando o telefone.
Levou dez minutos para o telefone tocar. Dez longos minutos, durante os quais Bella tentou se acalmar, andando de um lado para o outro, pensando em como e por que deixara a situação se deteriorar àquele ponto. Ela não tivera a intenção de dizer nem metade do que dissera!
Pensou em ligar de volta, mas, para dizer o quê? Para começar tudo de novo, e depois tentar controlar seu temperamento? Sabia que não ia funcionar. Eram ambos teimosos, arrebatados e passionais ao defender sua idéias e princípios.
Haviam-se conhecido numa festa. Tinha ido com outros acompanhantes, mas saíram da festa juntos. Fora um caso de amor à primeira vista, literalmente. Tinham se tornado amantes na primeira noite. Um mês depois, ela estava grávida. No seguinte, estavam casados. Em três anos, haviam-se tornados inimigos mortais. Tudo fora muito selvagem, alucinado e traumático, do início apaixonado, ao final violento. A última briga ocorrera poucos dias depois de uma tentativa desesperada de segurar o que sabiam que estavam perdendo. O ato de amor fora perfeito, o resto um desastre. Tinham começado a brigar no instante em que seus corpos se separaram. Ele saíra irritado, como sempre, e no dia seguinte ela entrara em trabalho de parto prematuro, perdendo assim o segundo filho, enquanto Edward se consolava nos braços da amante. Bella nunca, jamais o perdoaria. Nunca esquecera a humilhação de ter de implorar à amante de Edward que o mandasse para casa, pois ela precisava dele. Mas Edward chegara tarde demais. Bella já fora levada para o hospital e perdera o bebê. Vê-lo debruçar-se sobre sua cama, tentando desculpar-se, ainda com o perfume da outra, fora para Bella a degradação final. Ela deixara Chicago com Anthony, logo que se recuperara fisicamente, e Edward nunca a perdoara por ter levado o filho. Depois disso, ambos se sentiram traídos, usados e abandonados. Se não fosse a mãe de Edward, Esme, bancar o juiz quando necessário, só Deus sabia o que teria acontecido.
Graças a Esme, e ao fato de não terem tido contato, eles, conseguiram manter relativa paz durante três anos. Naquele momento, Bella desejou poder evitar a guerra que parecia se aproximar, mas não sabia como.
Quando o telefone tocou, ela temeu que fosse Edward, pois, não se sentia preparada para falar com ele de novo. Hesitante, atendeu.
- Bella? - perguntou uma voz conhecida e ansiosa. - Meu filho insistiu para que eu ligasse. O que está havendo, pelo amor de Deus?
Era Esme! Bella deixou-se cair no sofá, aliviada.
- Esme, que bom! Achei que era Edward - falou.
- Edward acabou de sair, furioso - a mãe dele informou. - Depois de praguejar e gritar, ele me mandou ligar imediatamente para você. Está acontecendo alguma coisa com Anthony?
- Sim e não - Bella respondeu.
Depois de um longo suspiro, ela explicou a Esme, usando as palavras que deveria ter usado com Edward, o que estava havendo.
- Não me admira que meu filho estivesse tão apavorado - Esme murmurou.
- Apavorado?
Bella não podia imaginar o poderoso Edward com medo de nada.
- Com medo de perder o filho de novo - a mãe dele esclareceu. - Acha que meu filho não se preocupa com Anthony?
- Na-não - Bella negou, surpresa com a ponta de irritação na voz da sogra.
- Meu filho faz tudo para que o relacionamento dele com Anthony seja bom - continuou Esme -, nos curtos períodos que lhe são concedidos para vê-lo.
Durante aqueles três anos, Esme sempre fora neutra. Era estranho para Bella, sentir que ela estava tomando a defesa de Edward.
Você está querendo dizer que sou eu que ameaço a relação dos dois? Bella perguntou, incisiva.
- Não - Esme apressou-se em negar. - Claro que não. Só que me preocupo com meu filho. Isso, porém, não me impede de ver que você dois amam Anthony e que prefeririam cortar a própria língua do que magoá-lo.
- Bem, obrigada - Bella respondeu.
- Não sou sua inimiga, Bella.
- Mas, se a guerra começar, sei de que lado você ficará - Bella declarou.
Esme não respondeu, nem seria preciso.
- Então, Bella, o que você quer fazer a respeito de Anthony? Quer que eu espere até que ele se acalme?
- Ah, não! - Bella pediu, surpresa consigo mesma por ter mudado de idéia. - Você tem que vir, Esme! Anthony ficaria muito desapontado, se você não viesse! Eu só queria preveni-la sobre a possibilidade de ele não querer ir com você para Chicago. Entende que não poderei forçá-lo, se ele não quiser ir, não é?
- Também sou mãe - Esme falou. - Claro que entendo. Então, eu vou, como combinado, e vamos esperar que Anthony mude de idéia.
Que vã esperança. Bella pensou, desligando o telefone.
Esme estava enganada. Pensava que os problemas de Anthony estavam relacionados a uma temporária falta de confiança em seu papai, quando na realidade o raciocínio do menino era totalmente compreensível, e tinha uma causa. Essa causa é Tanya, Bella disse a si mesma.
Tanya Denali, amiga da família desde sempre. Tanya, membro de total confiança da diretoria da Companhia Cullen. Tanya, a amante de Edward havia tantos anos. Ela era alta, loira, perfeitamente linda. Tinha graça, elegância e charme. Possuía beleza e inteligência, e usava as duas coisas para proveito próprio. E, além disso tudo, era falsa e escolhia com muito cuidado as pessoas a quem revelava sua verdadeira personalidade.
O primeiro grande erro de Tanya, em sua batalha para ficar com Edward, fora o de revelar-se para Anthony. Ela conseguira fazer com que Bella fugisse como uma covarde, mas não faria o mesmo com Anthony.
"Nem por cima do meu cadáver", Bella jurou, enquanto se preparava para dormir.
