Disclaimer: Todos os personagens pertencem a JK Rowling. Esta fanfic é uma tradução autorizada de "A Time for Realizations and Change" postada em 2013 no FanFiction por Scarlett J. Abner.

Capítulo 4.

Ouro. E não apenas ouro. Galeões, sicles e nuques amontoados em pilhas infinitas ao redor da abóbada. Joias, móveis, arte, esculturas, baús, livros, manuscritos antigos, tapetes, tapeçarias e muito mais estendidos a perder de vista. Harry não achou possível que tanto pudesse estar em um lugar ao mesmo tempo. Ele pensou que poderia haver dinheiro suficiente neste cofre solitário para manter a si, a seus filhos, a seus netos, seus bisnetos e seus tataranetos levando uma vida confortável sem nunca ter que trabalhar.

— Isso é inacreditável — ele respirou e ouviu suas próprias palavras correndo ao redor da sala antes de voltar para ele. — Sirius, você tem que... — seu padrinho não estava atrás dele. Pela fresta entre a porta e a parede, ele avistou ele e Remus parados do lado de fora, conversando.

Ele seguiria sozinho, então.

Ele tropeçou alguns degraus abaixo e assim que seu pé tocou o piso principal, um brilho de luz irrompeu em uma onda de magia que rastejou pelo chão e escalou as paredes até se encontrar no centro do teto e ser absorvida pela pedra. Uma leve brisa tocou o rosto de Harry e ele imaginou que era a própria câmara dando um suspiro de alívio, como se estivesse esperando por sua chegada. Ele cambaleou para trás quando as paredes começaram a pulsar ao seu redor, como se a sala estivesse fazendo o possível para estender os braços para ele e tomá-lo em um abraço.

— Isso não é nem um pouco assustador — murmurou Harry, xingando baixinho quando deu uma topada com o dedão do pé em uma estrutura de mármore que não estava no caminho três segundos antes. Tinha a forma de um pedestal; um modesto e nada parecido com os que Harry vira na única vez em que teve permissão para ir em uma excursão escolar ao museu. Em cima dele estava um baú simples junto com um envelope apoiado na frente dele.

O envelope parecia leve em suas mãos, mas ele sabia que as aparências enganavam, especialmente no mundo mágico, então não havia como dizer o que realmente havia nele. Ele envolveu o papel com os dedos e o abriu com um movimento rápido.

Ele se permitiu respirar melhor quando nada de surpreendente aconteceu e ansiosamente rasgou o resto do papel e puxou dois pedaços de pergaminho dobrados juntos. Suas mãos os alisaram e seus olhos foram imediatamente atraídos para as primeiras palavras escritas por uma caligrafia feminina.

Nosso querido Harry,

Harry tossiu e desejou que as lágrimas ficassem sob controle. Ele sabia que, aninhado em suas mãos, ele tinha o primeiro pedaço de algo ligando-o à sua mãe, algo que sua mãe havia tocado e escrito apenas para ele, talvez enquanto seu pai olhava por cima do ombro dela. Os olhos de ambos se voltaram para as mesmas palavras que Harry logo iria ler para si mesmo.

Se você está lendo isso, significa que nossos piores temores aconteceram. Estou escrevendo esta carta com seu pai ao meu lado enquanto você dorme pacificamente em seu quarto. Você teve um dia muito cansativo, sendo seu primeiro aniversário, e eu juro que nunca vimos você sorrir e rir tanto. É com essa memória em nossas mentes, e a promessa de mais por vir, que finalmente encontramos a força para colocar esses pensamentos em palavras.

Embora seja doloroso para nós pensar que você possa crescer em um mundo sem nós ao seu lado, também é nossa responsabilidade como seus pais cuidar de você, mesmo em nossa ausência. Eu gostaria de pensar que fizemos tudo o que pudemos para mantê-lo seguro, e seu pai me garantiu que fizemos, então eu só posso esperar um dia ser capaz de deixar esta carta de lado e contar a você eu mesma o seu conteúdo. Mas não sair desta guerra com vida também é uma possibilidade que passamos a aceitar e, no entanto, nenhum poder no universo será forte o suficiente para nos forçar a aceitar o mesmo por você.

Há algumas coisas neste baú que estivemos guardando no ano passado para garantir que fiquem seguras, apenas esperando por você. São coisas que seu pai e eu usamos no passado. Elas nos ajudaram a superar alguns dos momentos mais difíceis de nossas vidas e, se não estivermos aqui para ajudá-lo a superar os seus, pelo menos podemos deixá-lo com essas lembranças.

Nosso lindo menino, você vai prosperar, viver e amar até que não possa acreditar que ainda haja espaço em sua vida, em seu coração, para experimentar mais alegria, mas acredite em mim, haverá. Essa é uma verdade conquistada com dificuldade, que aprendi no momento em que você nasceu. Queremos tantas coisas para você, meu amor. Queremos que você tenha o mundo e queremos vê-lo explorar cada fenda, descobrir cada maravilha que há para ver.

Queremos que você voe de vassoura e sinta o vento nos cabelos. Queremos estar lá na primeira vez que você receber sua carta de Hogwarts e ver com qual de nós você mais se parece: se você vai desmaiar como seu pai, ou pegar um marca texto e sublinhar os materiais de que precisará para o ano, como eu fiz. Queremos acenar para você quando embarcar no trem e, em seguida, esperar em casa por suas cartas, onde você nos conta tudo sobre seus novos amigos. Queremos chorar na sua formatura e envergonhar você na frente de todos os seus amigos.

E nós queremos ver você se apaixonar, encontrar aquela pessoa especial que você sabe que estará com você nos bons e maus momentos e nunca sairá do seu lado. Alguém que o empurre quando você precisar ser empurrado e o conforte quando você se sentir decepcionado com o mundo. Alguém que faça seu coração disparar e suas palmas suarem. Cujo sorriso signifique o mundo para você e que o entenda melhor do que qualquer outra pessoa no mundo. Esse é um amor que pode levá-lo às estrelas e de volta, assim como fez por mim e seu pai.

Por fim, queremos que você saiba que o amamos. Amamos muito você e estamos muito orgulhosos da pessoa que você cresceu para ser. Você é nossa maior conquista, Harry, e nada mudará o fato de que o amamos de todo o coração. Nunca se esqueça disso.

Com amor,

Mamãe e papai.

Harry colocou cuidadosamente a carta de volta no envelope. Ele se certificaria de encontrar algum lugar mais seguro para isso no futuro, mas, enquanto isso, o bolso dentro de suas vestes teria que servir. O baú era outro assunto. Ele deu uma olhada dentro e encontrou rolos de pergaminho, algumas joias e vários pacotes pequenos embrulhados em papel amarelado.

Ele decidiu deixar o baú onde estava por enquanto e começou a explorar o resto do cofre.

Havia realmente algumas coisas extraordinárias lá, coisas que ele nunca tinha visto antes e outras que ele nunca poderia ter imaginado que um dia seriam suas.


— Por que você acha que está demorando tanto? — perguntou Sirius — Devo ir lá com ele? Talvez eu não devesse tê-lo deixado sozinho, é muito para aceitar...

— Ele só está lá há cerca de vinte minutos. Você ouviu como é aquele cofre e, conhecendo James e Lily como nós, eles provavelmente deixaram algo para ele lá — argumentou Remus.

— Isso soa exatamente como algo que Lily convenceria James a fazer — murmurou Sirius.

— James não tinha problemas em pensar na pior das hipóteses, mas ele era tão supersticioso, lembra disso? Ele usava exatamente as mesmas meias incompatíveis toda vez que jogava quadribol depois de vencer o primeiro jogo.

— E ele sempre passava pelo Salão Comunal e batia com a canela na mesinha de centro. Então ele esperaria um pouco para chegar atrasado para o café da manhã porque sua primeira partida o deixava tão nervoso que ele não conseguia dormir no dia anterior e, depois de dormir, ele dormiu demais e mal teve tempo de pegar uma torrada — Sirius riu.

— Ele teria considerado um mau presságio, talvez até um azar, já se preparar para a morte deles — disse Remus — Mas ele amava Lily...

— Ela tinha a cabeça no lugar. Tinha que ser casada com aquele maluco supersticioso — Sirius brincou, sua risada doce e tensa.

— Você já pensou... fora do nosso grupo, eles eram os que mais mereciam viver? — se Sirius não estivesse ombro a ombro com seu amigo, ele teria perdido a pergunta silenciosa.

— O tempo todo — disse Sirius — Eles mereciam a chance de ver o filho crescer. Caramba, eles provavelmente saberiam exatamente o que fazer no momento em que seu filho começasse a falar com cobras e dragões domesticados.

Remus bufou.

— Eu consigo ver isso, a "Casa Potter para Criaturas Mágicas Incompreendidas", ou CPCMI, para abreviar.

— Eu não vejo do que você está rindo. Você seria o garoto-propaganda deles.

Remus empalideceu.

— Mas eu não fico bem em nenhuma foto. Acho que nem tenho um lado bom.

— Eu sei! Seria como derrubar cinco diabretes com um feitiço. Os doadores dariam uma olhada em seu rosto comprido e tropeçariam arrastando suas bolsas de ouro — Sirius sorriu — Você acha que é isso que teria lançado a sua tão desejada carreira de modelo?

— Você é o mesmo cachorro sarnento que sempre foi, você sabe disso.

— Isso vindo do lobo mau...

Eles não se incomodaram em lutar contra os sorrisos em seus rostos e se deleitaram com eles até que um ronco digno de registro explodiu na parte inferior de suas vestes e serviu como um lembrete dos dois dragões cochilando no chão a cem metros de distância.

— Você acha que eles seriam capazes de me perdoar? — perguntou Sirius.

Remus não precisou pedir a ele para especificar.

— Eu não acho que eles veriam algo para perdoar. Claro que não.

Sirius zombou.

— Eu deixei seu filho - meu afilhado - sozinho por toda a sua infância porque eu estava cheio de raiva e...

— Desgosto — sussurrou Remus.

— Sim — Sirius engoliu em seco — Muito cheio de coisas que eu não conseguia entender que me fizeram parar em Azkaban e libertar seu assassino ao mesmo tempo. Ele recebeu uma Ordem de Merlin Primeira Classe, Moony! Primeira classe! Enquanto Harry estava preso com aquelas pessoas e você não conseguia nem descobrir onde ele estava.

— Pads, não há um único vira-tempo forte o suficiente para nos fazer voltar e mudar o que fizemos para o que deveríamos ter feito — Remus suspirou — Você acha que eu sou melhor? Todos vocês se foram, mas Harry ainda estava por perto e eu sabia disso, mas não podia - não sabia como continuar e, quando comecei a colocar minha cabeça no lugar... Havia apenas uma maneira de saber que um dia o veria novamente e quando ele e seus amigos pegaram nosso antigo compartimento no trem, entre todos os lugares, eu percebi que nunca iria compensá-los se eu realmente não começasse a tentar. Ele ainda precisa de nós e nós dois estamos aqui agora, então eu digo para esquecermos de nós mesmos e tentarmos compensá-lo. Além do mais, devemos muito a ele. É o que James e Lily teriam desejado.

— Achei que você tivesse dito que eles não achariam que haveria nada para compensar — argumentou Sirius com petulância.

— Isso é o que diriam, não significa que eu tenho que concordar com eles — Remus deu de ombros.

— Você vai nos deixar assombrados se continuar falando assim, Moony — brincou Sirius — Acho que até senti um arrepio.

Remus soltou uma risada inesperada e disse:

— Eu não diria isso a eles.


Harry estava se divertindo muito. Ele já havia reunido alguns livros que ele achava que poderiam ser muito úteis e agora estava separando dezenas de bugigangas mágicas - não muito diferentes daquelas encontradas no escritório de Dumbledore - cada uma com uma cor, tamanho, forma e função diferentes. Ele se sentia sobrecarregado, mas inebriado por estar cercado pela história de sua família, uma história que ele pensava ter se estendido apenas até a morte de seus pais e nada mais.

Ele tinha acabado de pousar um objeto que parecia uma versão em miniatura arredondada da Torre Eiffel, feito inteiramente de metal que soltava pequenas baforadas de fumaça rosa e amarela de sua base, quando outra coisa chamou sua atenção. Lá, aninhado entre algumas almofadas de veludo em uma cadeira de encosto alto, estava um par de espelhos de mão prateados que brilhavam sob a luz suave das velas espalhadas ao redor da abóbada. Ele empurrou as almofadas e pegou os espelhos nas mãos, depois se sentou e se acomodou, apenas se rendendo a um solitário acesso de tosse quando uma nuvem de poeira subiu do assento e cercou sua cabeça como um enxame de moscas famintas.

Ele estudou os espelhos com muito cuidado, certificando-se de não perder um único detalhe. Eles eram realmente magníficos em sua simplicidade, ele pensou. Eles pareciam ser feitos de prata pura, a parte de trás não tinha decorações, mas a moldura ao redor do vidro era gravada com trepadeiras retorcidas e diferentes tipos de flores desabrochando de vagens em miniatura.

Harry traçou as videiras enrolando em torno do vidro com os dedos até que encontrou algo que não parecia certo. Tinha muitas bordas e era muito pequeno e compacto para fazer parte do resto das esculturas. Ele tirou os dedos da gravura e apertou os olhos para entender o que era. Bem no topo do quadro, escrito em uma elegante caligrafia cursiva, estavam as palavras:

Em aeternum.

Ele passou os dedos levemente sobre ele mais uma vez, em seguida, pegou o outro espelho de seu colo e o examinou completamente. Ele deu uma olhada no mesmo lugar onde as palavras estavam gravadas em seu parceiro e encontrou duas palavras adicionais neste espelho também.

Et sempre.

Seus dedos traçaram as inscrições uma última vez enquanto ele se perguntava a quem esses espelhos poderiam ter pertencido. Eles eram velhos, pareciam caros e claramente foram feitos com um propósito muito específico em mente. Harry estava mais do que certo de que esses dois objetos, aparentemente trouxas, na verdade continham alguns traços de magia, e a sensação que ele teve em suas entranhas quando os segurou em suas mãos apenas comprovou esse fato. Com esses pensamentos em mente, ele deixou cair os espelhos em sua bolsa furtada (embora tinha sido realmente furtada se tudo nesta sala tecnicamente pertencia a ele? Mesmo que ele não conseguisse acreditar ainda?). Ele esperou pelo som dos espelhos batendo nos livros que já estavam lá dentro, mas não ouviu nada. Confuso, ele abriu e olhou para dentro para se verificar.

Chocado, não conseguia nem começar a descrever como se sentiu quando descobriu que o saco estava vazio. Ele até o virou de cabeça para baixo, mas nada caiu dele. Agora desesperado, Harry enfiou a mão na bolsa e, em vez de encontrar seu fundo felpudo, seu braço continuou afundando cada vez mais. A bolsa era um poço sem fundo; não teve fim, apenas um começo. Harry se sentiu um pouco desapontado consigo mesmo, ele deveria ter percebido que a bolsa era mágica no momento em que colocou o vigésimo livro dentro e não teve dificuldade em pegá-lo mais tarde. Ele jurou a si mesmo ser mais observador da próxima vez, em seguida, pegou o saco quase sem peso e se dirigiu para a porta.

Sua mão estava a milímetros de tocar a porta quando sentiu algo grande e pesado bater em suas costas. O impacto fez seus joelhos dobrarem e ele estremeceu quando eles bateram no chão com um estrondo de osso na rocha - ele já poderia sentir a dor amanhã.

Ele se apoiou com as mãos no chão e se levantou. Havia um livro caído no chão perto de onde ele estava antes de ser atingido. Harry observou de perto e pegou sua varinha em punho, só para garantir. Ele tinha experiência suficiente com livros no passado para saber que não devia confiar em nenhum objeto inanimado sem saber exatamente o que era primeiro.

Ele se ajoelhou próximo a ele, a uma distância segura, e fez a única coisa que sabia fazer. Ele o cutucou com sua varinha e esperou por uma reação. Quando nada aconteceu, ele considerou seguro tocar e guardou sua varinha no bolso, pegando o livro antes de se levantar.

O livro era muito antigo e grosso. As páginas eram feitas de pergaminho, então devia ser um livro mágico, ele concluiu. A capa era rica em couro marrom com um cinto que passava por ela, afivelando o livro. O título do livro pode ter sido escrito em ouro brilhante, mas estava tão desbotado agora que Harry mal conseguia entender as palavras.

A família Potter.

Sua curiosidade atingiu o pico, Harry fez menção de abrir o livro e dar uma olhada dentro, mas se conteve antes de fazê-lo. Ele realmente queria saber o que estava escrito naqueles muitos pedaços de pergaminho, no entanto, ele sabia que seria estúpido fazer isso sem primeiro deixar Sirius ou Remus verificarem sozinhos. Se seu segundo ano lhe ensinou alguma coisa, foi nunca julgar um livro pela capa. Sem mencionar que ele tinha a sensação de que, uma vez que começasse a ler este livro em particular, não iria querer parar até que tivesse absorvido cada pedaço de informação que tinha sobre a família que ele já teve e agora não sabia de nada.

Ele pegou o saco de onde havia caído e colocou o livro dentro. Ele se certificaria de dar uma olhada naquela peça específica da literatura em outro momento, de preferência quando não houvesse dois dragões abusados e adultos compartilhando um cômodo com seu padrinho e Remus.

A porta grossa não fez um único som ao se fechar atrás dele. Harry não conseguiu dar cinco passos antes de ser abordado por um Sirius muito nervoso.

— Então, como foi?

Harry balançou a cabeça com a impaciência de seu padrinho, mas respondeu mesmo assim.

— Correu tudo bem. Eu encontrei algumas coisas que acho que podem ser úteis — ele apontou para o saco pendurado em suas costas — Eu também encontrei uma carta de minha mãe e meu pai.

Ele hesitou em dizer mais. Era uma coisa privada, aquela carta, e ele não se sentia muito confortável em compartilhar seu conteúdo com ninguém ainda, se é que algum dia se sentiria. Sirius pediria para ler as últimas palavras escritas de seus melhores amigos? Harry realmente conseguiria negar tal coisa a ele?

— Entendo — Harry viu o pomo na garganta de Sirius balançar para cima e para baixo enquanto ele lutava para engolir — Você está bem?

Harry encolheu os ombros, impotente.

— Eu estou bem, eu acho. É muito para absorver.

— Nós entendemos, você sabe. Tudo bem se você não quiser falar sobre isso ainda. Eu ouvi rumores de que alguém pode simplesmente ouvir, podemos tentar algum dia se você quiser — Sirius brincou levemente.

Os lábios de Harry se contraíram em uma aproximação de um sorriso e ele acenou com a cabeça em agradecimento silencioso.

Grampo não perdeu tempo com proclamações sentimentais e olhou para os três bruxos com fria indiferença enquanto eles pulavam no carrinho atrás dele. Harry deu uma última olhada nos dragões enroscados no chão e sentiu uma onda de faíscas descendo por seus membros do topo de sua cabeça quando o menor dos dois travou seus olhos de serpente nos dele. Lembre-se de sua promessa, seus olhos pareciam dizer. Harry enviou de volta sua própria mensagem silenciosa antes que eles saíssem correndo pelos trilhos em uma velocidade irracional.

— Ei, acabei de me lembrar de uma coisa — Harry pegou sua sacola e enfiou a mão dentro — Eu encontrei um par de espelhos de mão escondidos lá e eu acho que eles podem ser mágicos. Você já os viu antes?

Ele enfiou a mão dentro da bolsa, pensou no que queria, e os espelhos apareceram instantaneamente em sua mão. Os espelhos foram colocados nas mãos capazes de Sirius e Remus, e Harry viu algo brilhar em seus olhos enquanto inspecionavam os objetos.

— Sim, eu me lembro disso — um sorriso reminiscente tocou seus rostos enquanto Sirius falava — James os encantou especialmente para ele e Lily, para que eles pudessem se comunicar quando não estivessem juntos. Os espelhos já estavam em sua família há muito tempo antes de ele os encontrar no cofre, e ele usou os mesmos feitiços que inventamos no nosso quarto ano na primeira vez que criamos o... protótipo original, eu acho que você poderia chamar assim. Os únicos que usaram isso foram seu pai e eu, uma vez que resolvemos todos os problemas. Ainda tenho o meu, mas não sei o que aconteceu com o dele.

— Vocês inventaram feitiços quando estavam no quarto ano? Vocês tinham a minha idade — Harry esperava que seu tom de voz correspondesse à incredulidade que estava sentindo no momento.

Ele tinha muitas pessoas vindo até ele e elogiando sua mãe por sua inteligência e sagacidade, mas ouvir alguém próximo de seus pais dizer algo semelhante sobre seu pai não era esperado. Quando o pensamento entrou em sua mente, ele pensou que talvez tivesse deixado os insultos e golpes de Severus Snape o atingirem mais profundamente do que ele pensava.

Harry balançou a cabeça para livrar sua mente do Professor Snape.

— Então, como eles funcionam?

— Queríamos tornar o mais simples e rápido possível. Não tinha sido nossa intenção desde o início, mas nos ocorreu em um ponto... e por nós, quero dizer seu pai e Sirius — Remus lançou um olhar para o amigo, e Sirius sorriu de volta mostrando um conjunto completo de dentes — Que, naquelas noites solitárias muito comuns, quando cumpríamos detenções separadas, o tempo poderia passar muito mais rápido se pudéssemos falar um com o outro sem que ninguém mais soubesse. Os espelhos servem como dispositivos de comunicação bidirecional e devem ser inseridos na assinatura mágica pessoal do proprietário. Eles não podem ser replicados, então ninguém mais poderia usá-los além de nós — a paixão de Remus por sua invenção brilhou em cada palavra que ele proferiu e Harry se lembrou do professor fantástico que ele tinha sido — Tudo o que teríamos que fazer é segurar o espelho pela alça para deixar a magia sentir quem somos e dizer o nome da pessoa que tem o outro espelho, se quisermos falar com eles. Aqui, vou te mostrar.

Remus pegou sua varinha e bateu nos espelhos várias vezes em uma enxurrada de movimentos diferentes e feitiços estranhos. Ele os devolveu a Harry e disse:

— Os feitiços estão todos no lugar agora. Se você segurar a alça aqui por um tempo, simples assim, ela começará a brilhar em breve e isso significa que foi digitada para você — uma luz suave brilhou nas bordas onde o vidro encontrava a moldura metálica — Excelente.

Eles encontraram uma curva acentuada nos trilhos e Remus empurrou o segundo espelho nas mãos de Harry, lutando pelas bordas de seu assento e segurando com força até que seus dedos ficassem brancos. Sem a distração das façanhas de infância dos saqueadores, o lobisomem estava à mercê de seu enjoo mais uma vez.

Harry se afastou de Remus e colocou os espelhos em sua bolsa. Eles poderiam ser muito úteis se ele encontrasse a oportunidade de dar o outro espelho para outra pessoa, assim como seu pai fizera com sua mãe. Ele considerou brevemente dar um deles a Ron ou Hermione, mas uma parte dele imediatamente se recusou a pensar, embora soubesse que não era por falta de confiança ou amizade.

— Sr. Potter — exclamou Grampo — Chegaremos em breve. Eu sugiro que você segure firme.

— Tudo bem, obrigado por...

O carrinho deu um mergulho repentino no ar vazio e Harry sentiu seu estômago se alojar na garganta. Não foi difícil empurrar qualquer pensamento persistente para o fundo de sua mente quando o carrinho deu um segundo mergulho mais profundo na escuridão e tudo que Harry pôde fazer foi segurar firme e sobreviver ao passeio emocionante.

•••

Harry fez questão de agradecer a Grampo por sua ajuda quando finalmente voltaram para seu escritório. O duende lançou-lhe um olhar de soslaio, como se ele não tivesse certeza do que fazer com Harry antes de abaixar a cabeça um centímetro e mostrar a porta.

— Uma última coisa, Sr. Potter — Harry não se preocupou mais em corrigir o duende sobre a formalidade — Estou correto em presumir que você gostaria que eu procedesse imediatamente com o assunto dos dois dragões lá embaixo? Sinto a necessidade de enfatizar que isso, sem dúvida, custará uma bela fortuna, se é que isso pode ser feito.

— Fiz uma promessa, Sr. Grampo, e não pretendo voltar atrás agora — nada mais foi dito sobre o assunto e os três bruxos logo estavam saindo do banco com uma bolsa de livros e gerações de memórias para mostrar por seus problemas.

— Você se importaria se eu passasse pela Animais Mágicos e pela Artigos de Qualidade antes de partirmos? Edwiges precisa de mais lanches e eu quero ver essa nova vassoura sobre a qual li — disse Harry.

— Sozinho? Eu não sei, filhote — Sirius nunca foi do tipo que jogava do lado seguro, mas, novamente, ele nunca pensou que tinha tanto a perder antes.

— Eu juro que não vou demorar muito e você sabe que não há chance de alguém me reconhecer assim — continuou Harry.

Sirius passou a mão pelo cabelo e então se virou para Remus em busca de uma segunda opinião muito necessária. Remus pensou por um segundo antes de responder.

— Não vejo muito mal em deixar você ir sozinho por alguns minutos — o alívio de Harry durou pouco — No entanto, eu acho que nossas mentes ficariam tranquilas se ensinássemos a você como enviar uma mensagem para nós, só por via das dúvidas.

Harry concordou rapidamente.

— Vai ser mais fácil para você do que para a maioria, já que você já conhece o Feitiço do Patrono — disse Remus — Esta é uma variação daquele feitiço, que permite ao seu patrono transmitir qualquer mensagem que você desejar para quem você quiser, sem correr o risco de interferência de terceiros. O encantamento é Expecto Nuntius. Seu patrono aparecerá como normalmente acontece com o feitiço normal, mas não será capaz de protegê-lo, sua única função é ouvir e entregar o que você manda. Entendeu?

— Então, é como fazer um patrono normal apenas com uma palavra diferente no final, certo?

— Basicamente, sim.

O sininho acima da porta anunciou a chegada de Harry na loja de animais mágica. Ele não perdeu tempo em vagar, simplesmente foi até a seção de corujas e pegou o maior pacote de guloseimas que pôde encontrar. Ele não achou que seria capaz de voltar ali tão cedo, então se certificou de pegar o suficiente para durar por um tempo. Ele pagou rapidamente a compra e saiu da lojinha pitoresca. O tempo era essencial durante esta excursão e Harry sabia exatamente onde ele queria passar seus poucos momentos de anonimato.

Foi enquanto admirava uma nova vassoura que sentiu uma presença ao seu lado. Ele arriscou um olhar com o canto do olho e ficou surpreso ao ver ninguém menos que Ginny Weasley cobiçando a vassoura junto com ele. Ele não sabia que ela era interessada em quadribol até que ela escreveu aquela carta para ele alguns dias atrás, mas, novamente, ele mal sabia sobre a garota.

— Oi — ele ficou com vergonha de admitir que isso era o melhor que ele poderia fazer.

— Olá — ela mal olhou para ele antes de voltar sua atenção para a vassoura na frente deles.

— Bom verão até agora?

— Uhm, acho que está tudo bem — disse ela e deu um passo para mais perto da vitrine.

— Fred e George não estão incomodando muito, certo? Eu sei que eles ficam um pouco impacientes durante as férias — Ele sorriu para ela para deixá-la à vontade, mas, na verdade, apenas a deixou mais nervosa do que antes.

— Sim, não, eles estão bem até agora.

— Bom, isso é bom — Harry procurou desesperadamente por algo mais para dizer. — Eu não sabia que você gostava de quadribol. Talvez eu possa te mostrar alguns dos meus movimentos algum dia, se você quiser.

— Como é? — ela virou a cabeça em direção a ele e o nivelou com um olhar impressionante — Você gostaria de me mostrar "alguns movimentos da sua vassoura"? Quem diabos você pensa que é? Eu nem te conheço e você está falando comigo como se fôssemos velhos amigos. Isso é... uma coisa que você faz com garotas? O que tem de errado com você?

Antes que ele percebesse, ele tinha um rosto cheio de raiva da Weasley. Ela lentamente o encurralou em um canto durante seu discurso e, embora ele fosse uma boa cabeça mais alto do que ela, ele não conseguia controlar a vontade de se encolher na parede enquanto ela o prendia com seus olhos brilhantes como um alfinete em uma borboleta. Ele tinha se esquecido dos feitiços que foram colocados nele para mascarar quem ele era, então não era de se admirar que ela não o tivesse reconhecido. Ele corou até a ponta das orelhas. Ele não queria que soasse assim.

Ela girou nos calcanhares e já estava a meio caminho da porta quando ele pensou em reagir. Ele avançou e agarrou a mão dela.

— Espere, escute, eu sinto muito. Eu não quis dizer - não é o que está pensando, eu juro...

Ela puxou a mão de volta e sibilou:

— Solta.

Mais tarde, ele juraria de pé junto que a única coisa em sua mente no momento era fazer Ginny ouvi-lo e ele não tinha realmente parado para considerar como faria para conseguir isso até assistir seus braços dispararem e a agarrarem-na por trás.

Ele cobriu a boca dela com a mão, colocou um braço em volta dela para prendê-la entre seus corpos e a conduziu, literalmente chutando e gritando, para longe da frente da loja e por uma porta nos fundos. No segundo que a porta se fechou atrás deles, ele a soltou e pegou sua varinha para desfazer todos os feitiços em seu rosto. Ele não sabia o que esperava dela quando a encarou como ele mesmo, mas não era ter uma varinha apontada para seu olho. Suas sobrancelhas saltaram para a linha do cabelo quando ela viu seu rosto, mas para seu crédito, seu braço nunca vacilou.

— Ginny, espere! Sou eu. Harry — uma faísca vermelha caiu da ponta de sua varinha, cantando em sua camisa — Potter — ele adicionou estupidamente.

— Como vou saber que é você mesmo? Tenho quase certeza de que o verdadeiro Harry não sairia pelo Beco Diagonal pegando garotas e trancando-as em depósitos.

Suas bochechas ganharam vida novamente, mas ele teve a presença de espírito de encontrar os olhos dela.

— Eu não sei o que te dizer. Sou eu mesmo — ela não pareceu impressionada, então Harry fez a única coisa que ele não queria fazer — Lembro-me de ter pensado que suas mãos estavam tão frias que você já tinha ido embora e era tarde demais para salvá-la. Você estava tão pálida também. Você parecia um fantasma e eu tinha quase certeza de que Tom tinha vencido. Mas eu não tinha certeza e, se havia uma chance... apenas uma pequena, de que você pudesse ser salva ... — ele sentiu as garras frias do terror apertarem seu pescoço até que ele sentiu que era uma tarefa árdua apenas respirar — Lutar contra aquele basilisco não foi nada comparado a como me senti quando pensei que você tinha morrido.

Ele ergueu os olhos ao estudar seus sapatos para ver que Ginny havia perdido toda a cor. Seu braço pendurou-se frouxamente ao seu lado e ela estremeceu da cabeça aos pés. Pela névoa que cobria seus olhos, ele sabia que ela estava de volta lá, na Câmara, lutando por sua vida em uma batalha de vontades com o maior bruxo das trevas da época.

Harry não resistiu ao impulso de tomá-la nos braços e ficou surpreso quando ela foi de boa vontade. Ela não retribuiu o abraço, mas ele a sentiu afundar nele e teve que apoiar as pernas para segurar os dois pesos.

— Eu nunca esperei ouvir você falar sobre o que aconteceu naquele dia — ela sussurrou em sua camisa — Você nunca mencionou isso, então eu pensei...

— Que eu não me importava — ele terminou por ela. Ele não podia culpá-la. Ele tinha sido um idiota e sabia disso — Eu me importo. Juro que sim e ainda sinto, só... sinto muito.

— Eu também.

Foram os gritos cada vez mais frenéticos da Srª Weasley por Ginny, passando por baixo da porta, que os levou a se afastarem. Harry observou enquanto Ginny colocava um dedo sob os olhos e sutilmente enxugava as lágrimas que ele nem percebeu que haviam caído. Seus olhos voaram para encontrar os dele e eles se olharam por algum tempo, cada um deles perdido no mesmo pensamento que tocava como um disco quebrado em suas cabeças: como é que eles conseguiram se sentir tão confortáveis nos braços de alguém que eles mal conheciam?

A resposta a eles, é claro, sempre voltaria para a Câmara. Essas poucas horas lutando contra a memória de um monstro os deixaram com feridas muito mais profundas do que aquelas que decoravam sua pele. Eles tinham ficado com marcas, manchas idênticas de escuridão em suas almas que chamavam um ao outro em reconhecimento e lembrança sempre que estavam juntos.

Harry pensou que talvez um no outro eles tivessem encontrado alguém que os entendesse, alguém que aceitasse as mudanças pelas quais eles passaram porque eles próprios experimentaram a mesma coisa. Uma conexão como essa era difícil de ignorar.

Ela quebrou o silêncio primeiro.

— Eu tenho que ir.

— Certo, sim. A propósito, sinto muito por mais cedo. Eu não quis dizer nada com isso e definitivamente não era - quero dizer, não era minha intenção, você sabe — ele se virou a tempo de vê-la abafando um riso por trás da mão.

— Eu sei disso agora. Pelo amor de Merlin, é você, Harry. Qualquer outra pessoa e eu teria dificuldade em acreditar, mas você, eu entendo — ela sorriu.

Harry agarrou o cabelo pela nuca e soltou uma risada.

— Obrigado, eu acho — disse ele.

— A qualquer momento.

Com nada mais a dizer e os gritos da Sra. Weasley ficando mais altos a cada segundo, Harry se arrastou ao longo da parede para dar espaço para Ginny abrir a porta. Ela estava na metade do caminho quando ele a parou com uma mão em seu cotovelo e a fez encará-lo.

— Espere — Harry largou sua bolsa no chão e se abaixou para colocar a mão dentro — Leve isso com você.

— O quê? — ela olhou boquiaberta para o espelho de mão que ele colocou em suas mãos — Eu realmente espero que essa não seja sua maneira de me dizer que preciso usar um espelho com mais frequência — seu tom era brincalhão com uma pitada de apreensão, como se ela estivesse se preparando para o desapontamento.

— Merlin, não! Não consigo fazer nada certo com você, juro... Essa é a metade de um par de espelhos que pertencem à minha família. Meu pai e seus amigos os encantaram para que pudessem usá-los para se comunicarem quando não estivessem juntos.

— Eu não posso, Harry. Pertence à sua família e parece muito antigo e caro e eu realmente não acho...

— Não se preocupe com isso, certo? Eu confio em você para cuidar disso adequadamente, Ginny, e se alguma coisa acontecer com isso, tenho certeza que há cerca de mais uma dúzia de pares como esses no cofre dos Potter — ele parou por um momento antes de deixar sair a próxima parte — Ainda não somos exatamente os melhores amigos, mas não estava mentindo quando disse que gostaria de me aproximar de você. Eu devo isso a você, pelo menos, mas não é por isso que estou fazendo isso — ele se apressou em adicionar quando a viu prestes a protestar.

— Eu não sei... — ela mordeu o lábio inferior enquanto parou especulativamente. Harry podia sentir que ele estava a apenas algumas frases de convencê-la a aceitar o presente, então ele seguiu em frente.

— Não é como se eu pudesse enviar cartas para ninguém mais. Não quero que nada aconteça com Edwiges ou Sirius, se alguém a reconhecer quando estiver procurando por mim. Pelo menos assim terei alguém para me fazer companhia.

Ela o olhou com os olhos semicerrados e disse:

—Não pense que não percebi o que você está fazendo aqui, Potter. Eu praticamente inventei o sentimento de culpa nos outros para conseguir o que quero.

— Está funcionando, então? — Harry teve que suprimir a vontade de sorrir quando a viu visivelmente cerrar a mandíbula para conter um sorriso.

— Maldito seja — ela disse sem nenhum calor real em suas palavras.

Depois disso, foi um simples caso de Harry explicando rapidamente o funcionamento do espelho e ficando ao lado dela o tempo suficiente para ter certeza de que ela estava ligada ao espelho sem nenhum problema.

— Você tem que ir, antes que sua mãe vire o lugar de cabeça para baixo e do avesso procurando por você.

— Certo, porque não foi você que me manteve aqui em primeiro lugar.

Ginny sorriu para ele, guardou o espelho no bolso e abriu a porta com cuidado. Ela colocou a cabeça para fora, endireitou as roupas e, em seguida, sem lhe dar outro olhar, saiu.

Harry esperou dez minutos antes de segui-la para fora da sala. Ele levantou o capuz de sua jaqueta para cobrir o cabelo enquanto caminhava pela loja, na rua e em Gringotes, onde podia ver seu padrinho e Remus tentando ser discretos enquanto examinavam a rua em busca dele. Harry quase sorriu quando eles finalmente o avistaram, sem nenhum encanto e caminhando por uma rua movimentada, e o pensamento de que essa seria a menor de suas surpresas oficialmente fez seu sorriso vir à tona.