INÍCIO CONTURBADO

Herdou o orgulho do pai! - murmurou Estácio. A frase foi dita em voz baixa, mas Helena ouviu-a, e seus olhos fulgiram de momentânea satisfação. Atribuir a orgulho o que era vergonha e remorso, dava-lhe certa superioridade que a moça julgava não ter naquele lance.

Helena, Machado de Assis, 1876.

/

Helena não ficou totalmente surpresa quando desembarcou do avião em Gotham e encontrou seu pai postado ao lado de Alfred na área de desembarque particular.

Ele parecia muito mais alto e muito mais intimidador do que a última vez que o vira.

Jason e Damian desembarcaram antes dela, mas os três chegaram juntos onde Bruce e Alfred os aguardavam.

- Fizeram boa viagem? – Alfred indagou aos três.

- Excelente, Alfred. - Damian respondeu. - Olá, papai. - o garoto cumprimentou Bruce que se mantinha até aquele momento impassível, mas sem tirar os olhos de Helena.

- Damian. - Bruce falou voltando-se para o filho. - Depois vamos ter uma conversa. Fez boa viagem? – indagou para Helena que se mantinha atrás do irmão, mas era bem mais alta.

- Sim, Sr. Wayne. - Helena respondeu indiferente. - Acho que tenho que agradecê-lo por me trazer de volta.

- Eu não tive nada a ver com isso. – Bruce disse sério. - Agradeça ao Alfred, mas agora que está aqui, temos que discutir sua situação.

- Não preciso discutir minha situação com o senhor. - Helena respondeu sem conseguir esconder a irritação.

- Então já decidiu como será sua vida em Gotham? Até onde sei, você não tem pra onde ir.

- Tenho sim, - Helena disse confiante. – Vou ficar com Jason.

Jason, que até então estava mantendo uma distância segura daquela conversa, olhou perplexo pra Helena.

- Isso é verdade? - Bruce encarou o ex-Robin de forma perigosa.

- Eu... - Jason falou vacilante olhando de Bruce para Helena que lhe lançava um olhar de súplica. - acho que sim…

- Então, desejo boa sorte para os dois. - Bruce respondeu impassível. - Seja bem-vinda a Gotham, Helena.

- Você não pode ir com ele! - Damian protestou indignado. - Você tem que ir pra casa com a gente!

- Damian, sua irmã claramente não quer ir conosco – Bruce disse indiferente. - Deixe-a ir.

- Mas ela não tá segura! Aquele Marcondes quer pegar ela, papai. Você não pode deixá-la ir com Jason! - Damian insistiu.

- Sua irmã já está bem crescida. Deixe-a decidir o que quer fazer da vida. – Bruce falou irredutível.

- Eu vou ficar bem, D. - Helena falou pegando a mão do irmão mais novo. - Eu sei me cuidar.

- Eu achei que passaríamos mais tempo juntos… - o garoto disse parecendo desapontado.

- Nós vamos passar muito tempo juntos. – ela disse em tom de promessa. - Eu vou encontrar você e Alfred o tempo todo.

- Você promete?

- Claro. - Ela disse sorrindo enquanto beijava os dedos indicadores cruzados em sinal de promessa. - Você ainda precisa me ensinar a lutar daquele jeito incrível, lembra?

- Eu vou. E também vou ficar de olho em você. – Damian disse orgulhoso para a irmã que o abraçou em seguida. - Vou estar de olho em você também. - ele falou ameaçador apontando para Jason.

Helena ainda abraçou Alfred antes de se afastar com Jason, ela não se despediu de Bruce e ele também não fez questão de se aproximar da garota.

- Não acredito que você a deixou ir. - Damian falou enfurecido para o pai quando o casal se afastava.

Bruce, que digitava algo no celular, levantou o olhar para o filho.

- Ela não quer ficar conosco. E eu não posso obrigá-la. – disse sério.

- O senhor devia refletir sobre o motivo dos seus filhos não quererem ficar perto de você. – Damian disse com raiva enquanto ajeitava a mochila nas costas e saía caminhando.

Apenas Alfred viu a cara desolada do príncipe de Gotham.

/

- Cara, obrigada por me ajudar ali. - Helena disse para Jason enquanto saíam do aeroporto a procura de um táxi.

- Não há de quê. - Jason respondeu enquanto olhava a tela do celular. Bruce havia acabado de lhe transferir uma quantia obscena. E ele sabia o que aquilo significava.

- Então eu posso mesmo ficar na sua casa? - Helena perguntou animada.

- Claro. - Jason respondeu distraído enquanto acenava para um táxi, tirando seu celular da visão de Helena.

- Ah, que maravilha! - Helena falou abraçando o rapaz e dando lhe um beijo no rosto.

Jason a olhou meio surpreso, aquela garota lhe abraçava vezes demais. Não parecia uma Wayne.

- Eu não vou te dar trabalho. - ela continuou. - Eu posso trabalhar pra pagar minha estadia na sua casa. Você é um tipo de mercenário, não é? Damian me falou. Posso trabalhar pra você, mas claro que não vou fazer nada ilegal.

- Ei, fala baixo. - Jason disse preocupado quando os dois entravam em um táxi e dizia para o motorista o endereço de seu prédio. - Você não precisa trabalhar pra mim. Bruce me mataria se eu te colocasse pra fazer o que eu faço.

- Você não viu que meu pai não tá nem ai? - Helena falou irritada. - Ele deve tá possesso com o Alfred por ter me trazido pra cá.

- Não se preocupe com Alfred, ele sabe se cuidar.

Quinze minutos mais tarde, eles chegaram ao prédio antigo no centro da cidade. Subiram pelo velho elevador que rangeu durante o trajeto inteiro. Jason raramente usava elevadores.

O apartamento de Jason era um estúdio em ambiente único no décimo andar. O lugar tinha poucos móveis: um sofá verde musgo com nada além de uma pilha de livros velhos ao seu lado, uma cama grande e confortável no centro do ambiente, uma porta que deveria ser de um armário e uma pequena cozinha na outra extremidade com um balcão, eletrodomésticos básicos e uma mesa de dois lugares. Em um canto havia uma mesa de trabalho com computador, uma luminária, muitos papéis e havia uma velha TV em uma mesa em outro canto. Era tudo muito simples, mas extremamente limpo e organizado.

- Não é grande coisa... – Jason falou sem jeito vendo que Helena olhava em volta.

- É ótimo! – ela respondeu, - E muito limpo...

- Nem sempre é tão limpo, Alfred deve ter passado aqui quando eu estava viajando.

- De qualquer forma, é ótimo. – Ela disse jogando a bolsa de viagem sobre o sofá. - embora bem impessoal, parece a casa de um fantasma...

- É meio que é isso...

- Não se preocupe. Eu já morei em cada lugar... isso aqui é como uma mansão pra mim. – ela falou jogando-se no sofá ao lado da bolsa de viagem.

- Você não vai ficar no sofá. - Jason disso pegando a bolsa dela e levando até a cama.

- Não, por favor... – Helena disse levantando-se e seguindo-o. - Eu não vou ficar aqui pra roubar sua cama, você já me fez favores demais.

- Eu insisto, - Jason falou, em sua cabeça passavam os muitos zeros que Bruce acrescentara em seu saldo bancário.

- Tá, eu aceito. – Helena concordou. – mas é só por que vou ficar aqui por pouco tempo...

- O que você planeja fazer? Porque de jeito nenhum vai trabalhar comigo.

- De qualquer jeito quero arranjar um emprego para conseguir uns trocados pra sobreviver.

- Garota, eu não entendo você. – Jason disse indo até a geladeira e pegando duas garrafas de água e alguns sanduíches embalados em papel alumínio. - A gente acabou de chegar em Gotham em um jato particular. Você é rica...

- O Wayne é rico... - Helena concordou pegando no ar uma garrafa de água que Jason jogou antes de sentar-se à mesa. - Eu não quero nada daquele cara.

- Esse cara é seu pai. – Jason lembrou. – E a sua mãe também tem grana. Selina é uma ladra muito bem-sucedida e, não me pergunte como, ela é também uma socialite em Gotham. – Ele falou enquanto desembalava os sanduíches que estavam embalados no papel alumínio.

- Essa daí é outra de quem eu não quero saber. – Helena respondeu enquanto pegava um sanduíche.

- Você odeia mesmo eles, heim?

- Eles me abandonaram. Mas sabe, eu agradeço a Selina por uma coisa. – Helena falou levando a mão ao bolso da jaqueta e mostrando uma bela carteira de grife para Jason enquanto ela a abria e tirava muitas cédulas de cem. – Ela me ensinou a sobreviver.

- Onde você roubou essa carteira? – Jason indagou, uma suspeita pairando em sua mente.

Helena não respondeu, com a boca cheia de sanduíche, ela abriu a carteira e olhou o documento que havia nela, em seguida, olhou para Jason, engolindo e sorrindo satisfeita.

- Nossa, eu não sabia que o nome completo dele era Bruce Thomas Wayne!

/

Jason dormiu aquela tarde toda no velho sofá de seu apartamento. Helena descobrira que seu novo colega de apartamento tinha apenas uma regra em casa: cortinas fechadas durante o dia. Então o apartamento era tão escuro como se fosse noite. Enquanto o rapaz dormia, Helena guardou suas roupas no armário do closet, onde Jason abriu espaço após jogar um monte de tralha para um lado liberando algumas prateleiras e cabides. Helena pôs só uma coisa sob a cama, sua besta. A única arma que possuía e na qual era muito habilidosa.

Ela saiu de casa e procurou um mercado perto do prédio onde comprou produtos de higiene e alguma comida com o dinheiro que roubara da carteira de seu pai, tentou comprar uma garrafa de vinho, mas lembrou que naquele país, uma garota de dezenove anos não podia comprar bebida, por sorte ela tinha mais de uma identidade falsa. Ela não queria voltar pro apartamento e incomodar Jason, então comprou um jornal e se sentou em um café enquanto esperava anoitecer. Ela procurou algum emprego que pudesse se candidatar, mas a única vaga em que ela se encaixava era para trabalhar em uma lanchonete temática de super-heróis e criminosos de Gotham, o anúncio dizia que precisaria trabalhar fantasiada, o que ela achou bizarro.

Depois de folhear o resto do jornal e ver que o morcego era citado quase o tempo todo, ela estava deprimida o suficiente para voltar ao apartamento. E quando chegou lá, ele estava vazio.

Helena mandou uma mensagem para o número que Damian lhe dera e foi respondida de pronto e o que era para ser uma conversa rápida durou horas. Helena abriu sua garrafa de vinho enquanto conversava com o irmão por mensagem e acabou dormindo assim que Damian se despedira dizendo que tinha trabalho.

/

Ela acordou em um susto.

A besta que estava embaixo da cama foi apontada para o vulto em sua frente.

- Oh, pelo menos você não está dormindo com ele!

A garota reconheceu a voz de sua mãe e abaixou a arma, acendendo o abajur que estava na mesa de cabeceira.

A Mulher-gato surgiu em sua frente, tinha chicote preso a cintura, as unhas longas e afiadas brilhavam sob a luz amarela do abajur.

- O que você está fazendo aqui? – Helena indagou irritada.

- Nossa, será que eu não posso ver a minha filhinha que acabou de chegar de viagem? – Selina disse fingindo inocência. - E que arma rústica é essa que você tem aí? Isso é uma besta? – perguntou intrigada.

- Não é do seu interesse. – Helena falou guardando a arma embaixo da cama. – O que veio fazer aqui?

- Vim buscar você. – Selina disse como se fosse óbvio. - Querida, você não precisa ficar nesse buraco com esse pirralho lunático. Ele é instável! Venha comigo...

- Eu não vou a lugar nenhum com você...

A mulher-gato perdeu a pouca paciência que tinha.

- Você tá fazendo isso pra enlouquecer o Bruce, não é? Eu sei que você não me perdoou, mas eu sei que sua mágoa maior é com ele. Gatinha, seu pai é um idiota, mas ele ama você e ele só quis te proteger.

- Uau... Você ainda tem coragem de defender aquele cara! – Helena disse sarcástica, ela se levantou e foi até a mãe, ficando frente a frente. Tinham praticamente a mesma altura agora, não fosse pelos saltos que Selina usava e deixavam-na mais alta que a filha. - Não bastou ele ter te abandonado grávida né? – Helena continuou. - Você sempre rasteja atrás ele. Todo mundo sabe que até hoje vocês se pegam pelos becos e telhados enquanto ele namora diplomatas, princesas e super modelos... é patético.

Selina deu um tapa na filha.

- É bom que me respeite, pirralha.

- A senhora devia se dar ao respeito. – Helena a encarou enquanto levava a mão ao rosto que ardia. – E por favor, me deixe em paz. Não é porque voltei pra Gotham que quero estar perto de vocês. Vá embora daqui. Pelo menos ele não tentou me controlar...

- É o que você acha... – Selina desdenhou. – Você vai mesmo por esse caminho, Helena? Vai acabar morta!

- Dane-se. Eu não deveria nem ter nascido, né? Eu fui só mais um erro de vocês dois... Sai daqui, Selina!

- É melhor você ir embora, - a voz de Jason foi ouvida, ele acabara de entrar pela mesma janela que Selina, e vestia seu uniforme, exceto pelo capuz.

- Você não manda em mim, pirralho. – Selina falou indo na direção de Jason. – Eu corto as suas bolas se você se meter a besta com Helena... – ela sussurrou pra ele antes de mergulhar pela janela.

- Entre na fila! – Jason ainda gritou quando ela se distanciava. – Você está bem? – perguntou indo até Helena.

- Esses malucos não me deixam nem dormir em paz. – Helena reclamou, depois prestou atenção em Jason. – Você estava trabalhando?

Ele afirmou com a cabeça.

- Eu não consigo mais dormir... Você ainda vai sair? Me deixa ir com você. – ela fez de novo aquele olhar de súplica.

- Não sei se é uma boa ideia...

- Por favor... Eu tenho experiência... – ela pediu indo até ele. – Espera um segundo.

Helena pegou algo na bolsa que tinha embaixo da cama e correu até o banheiro, voltou instantes depois, completamente vestida em seu uniforme roxo.

- Como você se chama? – Jason perguntou curioso, observando-a.

- Caçadora.

/

Jason resolveu não trabalhar mais naquela noite, ele perdera o rastro da gangue que estava tentando desmantelar, então saiu para mostrar a cidade a Helena. A garota apresentou grande habilidade para se movimentar pelos prédios, e seu uniforme parecia ser da mesma tecnologia que os demais uniformes da bat-família, e ele desconfiou que Alfred tinha algo a ver com aquilo.

Era quatro e meia da manhã quando os dois estavam em um telhado comendo hot dogs enquanto olhavam uma rua cheia de bares e boates, não muito longe do apartamento de Jason.

- E essa área é de quem? – Helena perguntou olhando a rua lá embaixo, Jason já a havia reportado quem dominava cada área da cidade.

- Família Falcone. – ele respondeu concentrado no seu hot dog. – Damian me disse que é por causa deles que Gotham é segura pra você. Eles são inimigos de Marcondes.

- Que ironia, eu estar protegida por causa dos criminosos de Gotham.

- Isso é ruim?

- Não, na verdade, é ótimo. – Helena falou vendo o letreiro de um clube lá embaixo.

Uma ideia surgindo em sua mente.

/

Cerca de uma semana depois, Selina Kyle entrava na batcaverna apressada. Apesar de ter se passado uma década desde que estivera ali pela última vez, entrou como se fosse dona do lugar.

Ela parou e bateu o salto no chão de pedra polida enquanto observava o homem que trabalhava no grande computador.

- Você sabia que sua filha está trabalhando em um clube de strippers?

- Sim, – Bruce respondeu sem se virar, fazendo aparecer na tela uma gravação do tal clube onde Helena aparecia. Pelo horário no canto inferior na tela, Selina viu que se tratava de uma filmagem ao vivo. – Ela está usando roupas. – disse como se isso resolvesse a questão.

Selina se aproximou pra olhar.

- O que ela está querendo com isso? – Indagou ao ver a filha que vestia um short azul brilhante e um top branco que fizera Selina lembrar de Arlequina. A garota trabalhava de garçonete e agora oferecia bebidas em uma mesa com vários mafiosos que a felina conhecia muito bem.

- Ela está tentando seduzir um dos primos dos Falcone. – Bruce explicou sem tirar os olhos da tela.

- Eu sei, essa técnica é minha. – Selina disse com um toque de orgulho. – Eu não entendo o que ela quer com isso... Helena puxou ao meu bom gosto, ela jamais sairia com um idiota desses...

- Eu entendo. – Bruce disse atento ao vídeo. – Ela não quer realmente seduzi-lo. Está mantendo o copo dele cheio enquanto ele conversa com os outros... Ela está tentando ouvi-los. – ele constatou. – Selina, - ele chamou virando-se para encarar a mulher ao seu lado. – Helena está tramando algo...

Mas Selina não prestou atenção nele, seus olhos ainda estavam presos na grande tela.

- Bruce... por acaso, você mandou algum dos seus pirralhos resgatar Helena desse lugar? – Ela indagou apreensiva e Bruce acompanhou seu olhar até a tela.

- Não. – Ele respondeu olhando a tela. Mas que diabos...

/

Damian estava à paisana.

- Eu ainda não sei como você conseguiu entrar aqui... – Jason indagou do camarote privado do clube onde encontrou o Wayne mais jovem que estava sozinho naquele ambiente. – Você mal saiu das fraldas...

- Ao contrário, de você e da minha irmã, eu sei usufruir muito bem do patrimônio da família. – Damian falou enquanto observava o salão lá embaixo. – Com a quantia certa, você entra em qualquer lugar...

- Helena vai ficar furiosa. Ela não quer ninguém aqui. Ela foi bem clara quanto a isso. – Jason falou lembrando-se da conversa que tivera com a garota dias atrás quando ela tinha lhe falado de seu novo emprego e ele quase levara uma flechada ao tentar se opor.

- Você é um inútil mesmo. Papai te deu uma fortuna pra tomar conta dela e você a deixa se empregar nesse lugar...

- Você acha que eu consigo controlar aquela garota? Você lembra quem são os pais dela?

- Você ao menos verificou o que ela está fazendo aqui? – Damian perguntou sem dar atenção as garotas que dançavam no palco lá embaixo, sua atenção estava em uma grande mesa a frente do palco.

- Ela está servindo mesas. – Jason respondeu olhando para onde o mais novo olhava. – Vestindo roupas. – complementou.

- Não muitas. – Damian falou observando seu alvo lá embaixo. – Mas, o que aquele cara está fazendo? – o menino indagou indignado. – Ei, onde você tá colocando essa mão...

Jason até tentou segurar Damian, mas o garoto foi bem mais rápido.

/

Quando Bruce e Selina encontraram seus filhos meia hora mais tarde, eles estavam discutindo em um telhado próximo ao clube de strip.

- Você estragou tudo! – uma Helena alterada falava para o irmão mais novo. – Você sabia que eu tive muito trabalho pra conseguir aquele emprego?

- O seu emprego era deixar aquele criminoso passar as mãos em você? – o pequeno perguntava irritado. – Primeiro, que você nem precisava estar naquele lugar...

- Isso só diz respeito a mim! – Helena respondeu furiosa, mas pareceu acalmar-se ao aproximar-se do irmão e observar o rosto dele. - Olha isso! Seu olho tá roxo... – ela disse enquanto limpava sangue que escorria do lábio do irmão com o lenço tirara do cabelo.

- Dois baleados, uma dezena de feridos, um clube destruído... – uma voz grave foi ouvida nas sombras, fazendo os jovens olharem na direção dela. – Vocês poderiam me explicar o que está acontecendo aqui?

O morcego saiu das sombras e encarou os três. A mulher-gato estava ao seu lado.

- Era só o que me faltava... – Helena revirou os olhos dando um passo à frente dos dois rapazes. – O que vocês estão fazendo aqui? Estão me vigiando agora?

- Você arranjou problemas. – Batman disse em tom acusatório.

- Eu? Eu estava cuidando da minha vida! – Helena respondeu irritada, falando mais alto enquanto apontava o dedo indicador no peito do morcego. – E vocês não tem que se meter no que eu faço.

Batman e Mulher-gato permaneceram calados por um momento. Damian e Jason observavam a situação com a respiração em suspenso.

- É bom que fique claro, - a voz grave e pausada foi ouvida após um momento, - Gotham é minha cidade. É bom que se comporte, Helena. Se você aprontar, não vou pegar leve com você.

Antes que Helena pudesse dizer qualquer coisa, ele virou as costas e saiu pela borda do edifício, pulando para o prédio seguinte.

- Você não precisava estar naquele lugar. – A Mulher-gato disse para Helena após Batman desaparecer na noite. – Eu sei o que você está aprontando... – ela sussurrou de forma que só a filha ouvisse. – Nós vamos cuidar da sua bagunça... dessa vez.

Ela se afastou, mergulhando para a escuridão como o Batman fizera anteriormente.

- Uau. Você realmente chamou a atenção deles... – Jason falou enquanto observava a Mulher-gato desaparecer na escuridão. – Você tá tão ferrada, garota...

- EU? EU ESTOU FERRADA? – Helena avançou para Jason de forma tão rápida e enfurecida que fez o rapaz recuar e cair sentado na mureta. – Vocês, seus idiotas, estragaram o meu trabalho! – disse apontando o indicador para o peito de Jason.

- Foi o pirralho! – Jason apontou para Damian, estava intimidado de uma forma que nem o Batman o deixava. – Você devia voltar a brigar com ele...

- Fui eu mesmo. Eu comecei a briga no bar de propósito. – Damian os afrontou, apresentando uma carranca muito similar à de Helena. – Onde você estava com a cabeça? Aquilo não é lugar pra você!

- O meu lugar é onde eu quiser, Damian. – Helena disse séria, voltando-se para o irmão menor. – E você não tinha o direito...

- Eu só quero que você fique bem. – o menino disse, encarando o chão. – Eu não quero... eu não gosto daqueles criminosos colocando as mãos em você...

Helena desfez o semblante zangado e andou até o irmão, agachando-se perto dele.

- Isso que você sente é ciúmes. E esse não é um sentimento legal, irmão. – ela falou levando uma mão ao rosto deles. – Eu sei me cuidar, eu fico contente que você se importe comigo, mas você precisa respeitar minhas escolhas...

- Você só não precisa trabalhar naquele lugar. – Damian falou com o semblante ainda fechado.

- Isso te deixaria mais tranquilo? – ela indagou carinhosa.

O garoto balançou a cabeça em afirmação.

- Tudo bem, então eu não trabalho mais lá. – ela respondeu com um sorriso afável. – Amanhã eu vou procurar outro emprego.

Damian pareceu satisfeito e Helena o abraçou.

- Eu preciso ir agora. – o garoto disse sem jeito. – Tenho certeza de que estou de castigo... – ele revirou os olhos.

- Me liga quando o castigo terminar. – ela disse beijando o rosto do irmão. Damian não disse mais nada, afastou-se e também sumiu na noite.

Helena ouviu um assobio e virou-se para encarar Jason que a olhava com cara de deboche. Ela revirou os olhos e foi até o rapaz.

- Eu só não digo que sua família é muito estranha, por que também é minha família...

Helena não respondeu, apenas suspirou cansada e sentou-se na mureta ao lado de Jason.

- Mas... – ele continuou. – o mais estranho disso tudo foi ver que você vai desistir do seu emprego pra agradar seu irmão... não achei que você era esse tipo de garota...

- Eu não vou sair por causa do Damian, - ela falou como se ele algo óbvio. - Eu já ia sair de qualquer forma. Eu já consegui o que eu queria...

- Dissimulada! – ele exclamou. – Então já conseguiu dinheiro? Bateu a carteira daqueles caras todos? – Jason deu um sorriso cúmplice.

- Não. Informação. – revelou orgulhosa. - É surpreendente o quanto os mafiosos falam quando estão bêbados e cercados de mulheres semi-nuas.

Jason pareceu surpreso. Aquilo era novo.

- E que informação seria tão importante ao ponto de você deixar Sal Falcone passar a mão na sua bunda? – Jason falou lembrando-se do motivo de Damian se enfurecer e socar o mafioso.

Helena não riu da provocação do rapaz. Ela olhava para o horizonte escuro onde sua família desaparecera.

- Nero Marcondes está vindo para Gotham.