O QUE VOCÊ SABE SOBRE ISSO?
Helena fez Jason jurar que não contaria a ninguém o que ela havia descoberto.
Isso não impediu o rapaz de, antes de o dia amanhecer, mandar uma mensagem para Bruce contado o que a garota lhe dissera: que o mafioso que a queria morta, estava vindo pessoalmente para Gotham.
Jason até gostava da garota, mas negócios eram negócios e seu contrato não-verbal com Bruce incluía quaisquer informações importantes para a segurança de Helena. E, apesar de ele raramente concordar com o pai adotivo, Jason concordava que o morcego era essencial para manter a garota segura, visto que, como Alfred lhe dissera, ela era parecida demais com os pais para a própria segurança.
Alheia ao contrato entre seu pai e seu anfitrião, Helena seguiu com seus planos. Ela pensara bastante e concluiu que o clube de strip fora um pouco além da conta. Ela aprendeu do modo mais difícil que em Gotham ela não podia fazer o que quisesse, como fazia na Europa. Seus pais a observavam e Damian se mostrara possessivo e superprotetor. Então, se Helena queria agir sem ser incomodada por seus familiares paranoicos, ela precisava ser um pouco mais discreta.
Naquela semana, ainda usando os documentos falsos que conseguira na Itália, a senhorita Helena Bertinelli ingressou em um curso noturno da Universidade comunitária de Gotham. Ela conseguiu um emprego de garçonete depois das aulas, no turno de meia noite as cinco na Batburger uma lanchonete temática de super-heróis. A moça se opôs de forma veemente a usar fantasia de mulher-gato para servir mesas, mas aceitou de bom grado fantasiar-se de Arlequina, especialmente porque precisava usar uma peruca loira pra isso, o que ela achava ótimo, pois com a maquiagem pesada típica da nova anti-heroína de Gotham, ela poderia passar o mais desapercebida possível.
Além do trabalho e da faculdade, Helena encontrava Damian sempre que o garoto estava na cidade, o menino a encontrava pelos telhados, pelas ruas e parques, ou no apartamento. Helena recusava-se em ir a mansão.
Ela também encontrava Alfred com frequência. O mordomo sempre ia ao apartamento de Jason e pelo que Helena percebeu, ele fazia isso mesmo antes de ela estar lá. Ele ajudava na limpeza do lugar e abastecia a geladeira com "comida de verdade", como chamava.
A garota e Jason tinham uma convivência muito cordial no apartamento, e Helena, que não gostava de dever nada a ninguém, passou a cuidar do apartamento como forma de pagar por sua hospedagem lá, não que Jason tivesse cobrado qualquer coisa, mas gostava de colaborar, ela também cozinhava ou comprava comida.
Os horários de Helena e Jason não batiam, a não ser durante o dia, quando as cortinas do apartamento se mantinham fechadas e os dois dormiam profundamente. Jason ainda no velho sofá verde musgo, que Helena melhorara com travesseiros e cobertas, por se sentir culpada por estar ocupando a cama do rapaz. Helena acordava antes de Jason e saía para suas aulas antes dele acordar, ela sempre deixava jantar pronto, e com o tempo, Jason passou a sempre trazer algo para o café da manhã ou até mesmo prepará-lo, aquela se tornou uma refeição que acabavam tomando juntos no único horário em que se encontravam.
Os pais de Helena não a incomodaram mais e ela achou ótimo, preferindo ignorar tudo a respeito dos dois, embora isso não fosse muito fácil em Gotham.
Assim, dois meses se passaram. Jason ajudara Helena a monitorar notícias sobre Marcondes, mas nada havia surgido, portanto, Helena seguia com sua vida.
E aguardava.
/
Era sábado à noite e Jason acordou ouvindo o movimento de Helena pelo apartamento.
Ele se ergueu do velho sofá que estava lhe deixando com uma dor nas costas crônica para ver que Helena olhava-se no espelho de corpo inteiro que ela colocara na face interna da porta do pequeno closet.
- Onde está a fantasia de Arlequina? – Jason perguntou zombeteiro ao aproximar-se, indo em direção ao banheiro.
- Boa noite pra você também, Jay. – Helena respondeu enquanto terminava um coque que fazia no cabelo. – Hoje é minha noite de folga.
- Se você tá de folga, por que tá vestida assim? – Jason indagou um minuto depois ao sair do banheiro.
Helena vestia um uniforme preto de copeira, muito similar ao uniforme das empregadas que Alfred contratava para cuidar da mansão algumas vezes por mês.
- Vou trabalhar em um buffet. Alguma festa de grã-fino...
- Quantos empregos você tem? – Jason indagou pensando que não se lembrava de ver Helena ter uma noite de folga desde que moravam juntos.
- Quantos forem necessários para que eu possa deixar você em paz o mais rápido possível. – ela falou ainda mexendo no cabelo.
- Eu não estou pedindo pra você sair. – ele respondeu enquanto ligava o microondas, esquentando os sanduíches que a garota deixara sobre a mesa.
- Eu sei, grandão. – Helena respondeu em tom de brincadeira, ela implicava com Jason ser mais alto que ela, embora ela própria já fosse alta. – e eu agradeço, mas sei que você precisa do seu espaço. Não sente saudades de trazer garotas aqui?
- Eu nunca trouxe. – Jason mentiu deliberadamente.
Helena apenas sorriu incrédula. Ela deu última olhada no uniforme que estava impecável e vestiu um casaco longo.
– Eu preciso ir, tenho que estar no ponto de encontro em vinte minutos. Limpe a cozinha antes de sair, ok? Boa noite, grandão.
Ela saiu batendo a porta e Jason refletiu sobre a disciplina irritante de Helena e sua persistência e obstinação quase religiosa.
Ele parou o sanduíche alguns centímetros da boca, ao lembrar quem era tão irritantemente disciplinado e obstinado como ela.
- Por deus, tô morando com Bruce de novo!
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Uma hora mais tarde, Helena concluiu que deveria ter tirado a noite de folga.
Ela estava no último lugar onde queria estar em sua vida. Quais as chances? Ou ela estava ficando louca, ou ela estava na Mansão Wayne.
A garota amaldiçoou aquele emprego quando desceu do furgão que levava os empregados do buffet. Era aquele lugar, não havia como ela estar enganada. Nenhuma casa era tão grande e tão intimidadora em Gotham.
Ela acompanhou os empregados pela entrada dos funcionários para a cozinha. Uma cozinha que ela não conhecia. Não era a cozinha pequena e acolhedora onde ela e Alfred cozinhavam, era uma grande cozinha para a organização de festas. E por falar em Alfred, ela ouviu a voz dele, o mordomo estava ao lado de sua supervisora e dava orientações sobre o evento daquela noite.
Helena esquivou-se e se escondeu atrás de outras garotas enquanto Alfred dava instruções para o batalhão de empregados. A garota entendeu que se tratava de alguma festa de aniversário, mas ela sabia que não era de seu pai, não era aquela a data. Ela ficou imaginando se não seria aniversário de Damian, e sentiu-se culpada por não saber qual a data de aniversário do irmão. Se fosse, ela precisaria se desculpar. Mas não aquela noite. Aquela noite ela gostaria de passar incógnita.
Ela suspirou aliviada quando Alfred deixou a cozinha, queria apenas terminar o trabalho daquela noite, pegar a grana e dar o fora.
Sua outra missão era encarar a casa que estava presente em seus sonhos (e pesadelos) quase todas as noites.
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Antes de entrar no salão de festas, Helena bebeu uma taça de champanhe da bandeja que levava enquanto ninguém estava olhando.
Quando entrou no salão de festas da mansão Wayne, ela foi abatida por uma espiral de lembranças. Seu coração parecia explodir, seu estômago estava gelado e suas mãos tremiam levemente.
Quantas vezes não correra naquele salão vazio enquanto brincava? Era tudo tão parecido, e mesmo assim, tão diferente. Ela olhou em volta, buscando os rostos que poderiam reconhecê-la. Nenhum deles estava lá.
Ela poderia desistir do trabalho e voltar para casa, perder aquele dinheiro não faria tanta diferença, mas algo prendia seus pés naquele lugar.
Helena foi tirada dos pensamentos por uma senhora elegante e particularmente desagradável que lhe pediu uma taça de champanhe e mandou-lhe de forma ríspida a ter mais atenção por onde andava.
"Ricos esnobes" a voz de Selina ecoou em sua mente quando ela conteve o desejo de jogar a bandeja naquela mulher.
Após respirar fundo, ela esquadrinhou novamente o salão em busca do irmão. Seria mesmo o aniversário de Damian? Ele não estava ali, até onde ela sabia, aquela semana ele estava com os Titãs. Ele lhe dissera nas mensagens que mandara aquele dia.
De quem seria aquela festa? Ela pensava enquanto servia as pessoas com a habilidade que adquirira ao longo dos anos fazendo bico de garçonete. Sua mente fervilhante chegou em uma hipótese: Seria a festa de alguma namorada de seu pai? E foi só Helena pensar nisso que ela os viu.
Seu pai chegava ao salão.
Sua presença imponente tomava todos os olhares e conversas e se podia ouvir um burburinho coletivo. Uma mulher estava ao lado.
Mas não era qualquer mulher. Ela era linda.
Aquela mulher tinha uma presença e uma aura de poder maior que qualquer outra naquele recinto. Tinha uma beleza que transcendiam todos os vestidos, joias e maquiagens das mulheres daquele salão. Em seu simples vestido branco colado ao corpo perfeito e com seus cabelos negros pretos presos em um coque quase tão simples quanto o de Helena, aquela mulher parecia... divina.
Helena afastou-se, esbarrando em alguns convidados no percurso. Aquela imagem de seu pai ao lado da deusa a afetou em algum nível.
Ela foi atingida pelas lembranças de sua mãe naquele mesmo lugar há dez anos na festa de aniversário de seu pai. E com essa lembrança, toda uma espiral de lembranças que ela sufocara durante tantos anos vieram à tona. As lembranças dos meses que passara na mansão.
As pernas de Helena bambearam e ela sentiu o ar faltar em seus pulmões
Ela deixou a bandeja quase vazia sobre um aparador e caminhou apressada entre os convidados. Sua mente perturbada sabia para onde devia ir, ela teve que andar por vários corredores vazios, mas em pouco tempo ela estava lá.
E ela sabia que a porta não estava trancada.
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Helena entrou na biblioteca respirando com dificuldade. Seu coração batia descompassado. Ela sentou-se na poltrona onde dormira tantas vezes enquanto seu pai trabalhava e aninhou-se como fazia quando criança, embora a poltrona já não lhe coubesse como antigamente.
Viu-se imersa em um choro convulsivo e não sabia o motivo. Sua cabeça doía e sua respiração ainda era difícil.
- Você está bem?
Helena sobressaltou-se ao ouvir a voz masculina. Pulou para fora da poltrona colocando-se de pé, em posição de guarda.
Ela demorou alguns segundos para perceber a situação.
A lareira estava acesa e um rapaz alto e bem-vestido a olhava com sincera preocupação, das sombras da biblioteca. Ela piscou os olhos achando que estava alucinando, pois parecia ver a imagem de seu pai dez anos mais jovem.
- Eu perguntei se você está bem.
O rapaz deu um passo na direção de Helena, fazendo-a recuar mais um passo.
- Eu não vou te fazer mal. – ele falou mostrando as mãos. – Fizeram algo com você? Você parece estar tendo um ataque de pânico ou algo do tipo...
Helena procurou concentrar-se em sua respiração como Alfred lhe ensinara muitos anos atrás, ela não sabia quantos minutos passaram, mas ela foi acalmando-se e só então conseguiu respondê-lo.
- D-desculpe, senhor. – ela disse enquanto limpava os olhos e arrumava a saia. – Acho que me perdi.
- Moça, você não me respondeu. – ele deu mais um passo e Helena pôde ver sua face iluminada pelo fogo da lareira. Não era a face de seu pai. – Alguém lhe fez algum mal?
- N-não. – Helena respondeu fazendo o gesto negativo com a cabeça.
- Então por que estava tão nervosa?
Algo no semblante tranquilo dele a acalmou e ela pôde olhar nos olhos dele.
- Pessoas ricas me intimidam. – ela falou a primeira coisa que lhe veio à cabeça.
- Ah... – ele pareceu entender. – Eu sei como é. Eu também não gosto muito delas. – ele brincou.
Helena sorriu, sentindo-se bem mais calma e o rapaz sorriu junto com ela.
- Se não gosta dessas pessoas, o que faz aqui, então? – Ela indagou de repente lembrando-se que estava próxima demais da entrada da batcaverna.
- Eu tenho que estar. É meu aniversário, afinal de contas. – ele falou amigável. – Richard Grayson. – disse estendendo a mão para cumprimentá-la.
Helena arregalou os olhos, sentindo-se congelar. Ela sentiu-se paralisada, incapaz de levantar a mão para cumprimentá-lo. O tempo pareceu parar.
- Ah, você está aí. – uma voz feminina foi ouvida e o tempo voltou a correr. – Você precisa ir lá fora e pelo menos fingir que está contente com essa festa fake, Dick.
A jovem ruiva que entrou na sala parou de falar ao ver Helena.
- Com licença. – Helena aproveitou-se da entrada da outra moça e saiu rápido pela porta da biblioteca.
Andou apressada pelos corredores, pensando no que acontecera nos últimos minutos.
Então aquela festa era dele. Então aquele era ele. Aquele era Richard Grayson.
E Helena odiava Richard Grayson.
/
O ar fresco da noite bateu em seu rosto e ela aspirou o máximo que pôde, o cheiro das rosas de Alfred a deixaram um pouco enjoada. Ela faria qualquer coisa por uma taça do champanhe caro que estavam servindo no salão, mas de jeito nenhum que ela voltaria para dentro da mansão.
Ela já havia arrancado o avental do vestido preto que usava e já havia soltado os cabelos negros e rebeldes. Batia o salto contra a grama, impaciente. Pareceu uma eternidade até que ela ouviu o barulho da moto.
- Por que demorou tanto? – indagou nervosa quando a moto estacionou ao seu lado, quase atropelando o canteiro de roseiras bem cuidado.
- Você é muito mal-agradecida, garota. – Jason reclamou enquanto tirava o capacete, mas não estava irritado de verdade.
Na verdade, ele estava apreensivo.
Ele havia recebido uma mensagem de Helena cerca de vinte minutos atrás. Ela estava na mansão Wayne e pedia que ele fosse buscá-la. Desde que dividiam apartamento, Helena nunca havia pedido nada, então ele imaginou que fosse importante. E ao ver o estado da garota, ele teve certeza de que era.
A impecável e disciplinada Helena estava descabelada e tinha a maquiagem borrada, sua face era pura angústia.
- Apenas me tira desse lugar.
Jason ofereceu seu próprio capacete para garota, cobrindo seu rosto com um capuz. Ela subiu na moto e ele acelerou.
De uma janela do salão de festas, dois pares de olhos observavam a moto deixar os terrenos da mansão Wayne.
/
- Não vai me dizer o que ele fez com você?
Jason repetiu a pergunta quando entregou a Helena o café que pedira no balcão da velha lanchonete. Os dois estavam em uma mesa afastada e a garota não havia tocado no pedaço de torta que a garçonete servira a pedido de Jason.
- Ele não fez nada.
- Não é o que parece.
- Ele nem me viu. – Helena respondeu pegando a xícara de café, levando-a aos lábios. – Ele estava ocupado demais ao lado da namorada.
- Ah, eu deveria saber. Quem é agora? – Jason sorriu com deboche - Uma atriz de cinema? Uma pianista europeia misteriosa? Ele não sacou ainda que não tem mais idade pra bancar o playboy garanhão. Tá ficando ridículo já.
Helena teve que rir. Jason conseguia fazer a situação toda parecer tão tola como realmente era.
- Não importa. – ela acabou por dizer, não queria falar daquela mulher fascinante com quem seu pai estava.
- Então por que você está assim? Achei que era ciúmes do papai...
- Não sei, acho que... aquela casa... eu não estava preparada pra voltar lá. – disse sincera.
- Ninguém nunca está. – Jason suspirou tomando um gole de seu próprio café que estava frio e doce demais. – Também não foi fácil pra mim... – ele confessou.
- Você nunca me contou sua história com ele... – Helena refletiu. – O que ele fez com você? Tem muita merda nas tentativas dele de ser pai... Alfred tentou me esconder, mas eu sei que aconteceram coisas ruins de verdade, um dos garotos morreu...
Jason levantou-se rápido.
- Eu não tenho nada pra dizer... - Seu semblante mudou bruscamente, ele pareceu agitado. – E eu preciso voltar para os meus negócios, não sou seu empregado, garota. Vamos...
Ele não esperou Helena responder. Jogou o dinheiro sobre a mesa e saiu rumo a porta da lanchonete, Helena teve que apressar-se atrás dele, a garota perguntava-se o que tinha dito de errado.
Fosse o que fosse, ela constatou que Jason também tinha suas mágoas com o príncipe de Gotham, e essas mágoas pareciam perturbá-lo profundamente.
/
Chegaram ao estacionamento quase ao mesmo tempo, mas ao se aproximarem do lugar onde a moto de Jason estava, Helena percebeu que havia outra moto estacionada. E havia um casal recostado nela.
Ela sentiu um arrepio de medo e uma faísca de raiva ao vê-los.
- Essa deve ser a noite internacional dos pés no saco! – Jason reclamou alto quando avistou o casal. - Você não devia estar na sua festinha de aniversário? – ele indagou hostil para o jovem bem-vestido, cujo smoking não combinava em nada com a motocicleta em que ele parecia ter chegado. – O que o rei e a rainha do baile estão fazendo na favela?
- Você poderia ser agradável ao menos uma vez na vida, Jason? – A jovem e bela ruiva que trajava um vestido elegante o censurou.
- Nós viemos aqui porque queremos saber o que você está tramando. – Dick indagou para Jason, mas olhava para Helena, que se mantinha atrás dele.
Jason olhou para o casal sem entender nada.
- Acho que depois de tantos anos daquela baboseira de escoteiros, vocês finalmente enlouqueceram... – ele disse tentando subir na própria moto, mas foi impedido pelo irmão mais velho.
- Por que você mandou a garota para a mansão? – Dick indagou ao segurar o braço do rapaz mais novo.
- Eu não a mandei até lá, ela foi por vontade própria! - Jason encarou Dick como se ele tivesse enlouquecido.
- Então o que ela fazia na biblioteca? – a garota ruiva interpelou acusatória. – E por que ela estava tão abalada?
- E por que vocês acham que eu sei? – Jason já perdia a paciência. – Perguntem a ela. – disse como se fosse óbvio.
- Não estamos a fim das suas brincadeirinhas hoje. – Dick continuou sério. – Nós vimos que ela saiu com você.
- Porque ela pediu pra eu buscá-la. – ele disse como se fosse óbvio. – Helena, você pode dizer a eles que eu não estava te sequestrando?
- Helena? – Dick repetiu soltando Jason e o rapaz pôde ver a surpresa na face do primeiro Robin.
– Espera... – Jason enfim compreendeu. - Ele não contou pra você?
Jason riu ao ver que Dick Grayson olhava para Helena como se estivesse diante de um fantasma.
- Por que ele contaria? – Helena falou pela primeira vez, demonstrando profundo desgosto. – Pra todos os efeitos, eu não existo.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – A garota ruiva perdeu a paciência.
- Ela é Helena Wayne. – Dick explicou. – A filha do Bruce com a Selina.
- O que? O Flash andou aprontando de novo? De qual Terra ela veio?
- Ela pertence a essa realidade, Babs. – Dick explicou, ele próprio um pouco chocado com a própria revelação.
- Você é a Bárbara Gordon? – Foi a vez de Helena indagar ao reconhecer a ruiva. – Eu lembro de você... Nós já brincamos juntas! Na festa de aniversário do meu pai...
- Você deve estar enganada... – Bárbara disse ainda desconfiada. – Eu não conheço você...
- Por que você conheceria, não é mesmo? – Helena indagou sentindo-se pouco magoada. – Vamos embora, Jason.
Sem hesitar, Jason subiu em sua moto, a ligou e entregou o capacete para Helena. Barbara, que ainda não entendera a situação, estava pronta para detê-los, mas Dick fez sinal para que ela não fizesse nada. Ele próprio afastou-se da moto, dando espaço para que Helena pudesse subir.
- Nós ainda vamos conversar. – Dick falou para Jason enquanto Helena colocava o capacete.
Jason apenas revirou os olhos, colocou o capuz e acelerou quando Helena pegou em seu ombro avisando que estava pronta pra ir.
- Pode começar a me contar... – Bárbara disse para Dick assim que ficaram sozinhos no estacionamento. – Quem é aquela garota? Por que ela tem o sobrenome do Bruce? E o mais estranho de tudo: por que diabos o Jason faz o que ela manda?
/
Jason não voltou para seus negócios após deixar Helena como ele dissera que faria. Pelo contrário, quando chegaram ao estacionamento do velho prédio, ele seguiu a garota de volta ao apartamento. Ambos estiveram calados durante todo o trajeto pelo elevador barulhento.
- Você não tinha coisas a fazer? – Helena indagou sem olhá-lo quando entraram no apartamento escuro, acendendo as luzes em seguida.
- Você pareceu abalada quando Bárbara não lembrou de você.
Helena virou-se para olhá-lo.
- Você não entenderia...
- Por que você não tenta? – ele falou quase em tom de desafio, aproximando-se de Helena. Ela olhava para o chão.
- Ela não lembra de mim... Ele apagou minha existência. – ela levantou o olhar e agora tinha os olhos vermelhos. – Ninguém se lembra que eu existi, tudo que eu vivi foi apagado... Zatanna apagou a mando dele... E eu o odeio por isso.
Jason sentiu-se confuso.
- Por que ele faria isso? Ele sempre faz o que é justo... e isso não parece justo.
- Ele queria impedir que Valeska me assassinasse.
- Coringa... – Jason disse baixinho, quase em um sussurro.
- O que?
- Valeska agora se intitula "Coringa". – ele explicou.
- Seja como for... eu não aceito. Ele não me deu a chance de escolher. Ele não me ouviu, não considerou o que eu queria... ele simplesmente apagou a minha vida. Eu poderia ter treinado... poderia ter lutado ao lado dele...
- Você poderia ter morrido.
- Você vai defendê-lo agora? – Helena indagou indignada. - Achei que você também não gostasse dele!
- Eu tenho meus problemas com ele, mas eu entendo por que ele fez o que fez.
- Você entende? VOCÊ ENTENDE? – ele gritou exaltada. - Cara, que porra você entende de ter a sua existência APAGADA?
- Eu entendo um pouco sobre isso, garota. – Jason respondeu com o semblante grave. - E você devia tentar enxergar através dessa raiva adolescente, porque você não é mais uma. Se você tivesse ficado em Gotham, o Coringa teria assassinado você.
- Ah, e como você pode ter tanta certeza? – Helena cruzou os braços em desafio. – Me diga, grandão, por que você acha que sabe disso?
Jason olhou para o chão e hesitou por um momento. Depois levantou o olhar e encarou os olhos azuis de Helena.
- Eu sei disso porque o Coringa me assassinou.
NOTAS FINAIS
Nesse capítulo eu usei algumas referências. A lanchonete Batburguer realmente existe nas HQs e ela aparece em Batman 16 (abril/2017), nessa HQ Bruce se encontra na lanchonete com Dick, Jason e Damian. Nas HQs realmente as pessoas que trabalham lá se vestem como super heróis.
Sobre Alfred ir ao apartamento de Jason levar comida e cuidar do apartamento, eu vi ele fazer isso na HQ sobre o velório de Alfred e Jason lembra com carinho de momentos como esse.
A roupa de Helena na festa eu me inspirei na roupa que a Selina usa no filme Batman: o cavaleiros das trevas ressurge, quando ela vai trabalhar numa festa na mansão Wayne e acaba roupando o colar de pérolas que foi da mãe de Bruce.
Selina chama as vezes Batman de "Big boy", e aproveitando que imagino Helena bem alta, por seus pais serem altos e de Jason ser retratado muitas vezes como o Robin mais alto, imaginei que seria um apelido interessante.
