O PLANO DE HELENA
"— Estácio, disse Melchior pausadamente, tu amas tua irmã. - O gesto mesclado de horror, assombro e remorso com que Estácio ouvira aquela palavra, mostrou ao padre, não só que ele estava de posse da verdade, mas também que acabava de a revelar ao mancebo. O que a consciência deste ignorava, sabia-o o coração, e só lho disse naquela hora solene."
Helena, Machado de Assis, 1876.
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- É demais pra mim, Al. – Jason dizia para o mordomo na pequena cozinha particular da mansão Wayne na tarde do dia seguinte. - É como se eu tivesse andando em um campo minado o tempo todo. Eu não consigo dizer não pra ela. Ela é tão certinha e persistente que me dá nos nervos! E ainda fica o tempo todo remoendo a rejeição dos pais...
- Entendo, mestre Jason. – Alfred dizia distraído enquanto arrumava a mesa para o chá.
- E ela toma conta de todo o espaço! – o rapaz continuava a reclamar exasperado. - Em todo lugar do meu apartamento agora nós temos tapetes, luminárias chiques e até quadros! Ela comprou quadros de gatinhos!
- Então o senhor veio aqui por que quer a senhorita Helena se mude? – Alfred indagou enquanto tirava a chaleira de água fervente do fogão.
- Claro que não! – o rapaz respondeu de pronto. - Ela não vai estar segura em outro lugar, principalmente agora que Marcondes está em Gotham.
- Então o senhor quer mais dinheiro para continuar cuidando dela? – o mordomo indagou tranquilo enquanto servia uma xícara de chá ao rapaz.
- Não! – Jason negou de forma veemente enquanto pegava a xícara que Alfred lhe servia. – Ela vai me matar se souber que Bruce está me pagando.
- Mestre Jason, então não entendo qual a sua reclamação. – O mordomo disse após tomar seu próprio chá.
- Eu quero que ela saia da minha cabeça. Ela é como uma droga que se entranhou na minha pele. Eu quero cuidar dela e protegê-la, porque ela é da família. Eu tento ser um cavalheiro como você me ensinou, mas... – Jason hesitou. - Al, ela me faz ter pensamentos pouco decentes. – disse em tom de confissão.
O mordomo olhou pesaroso para o rapaz.
- Mestre Jason, muitas vezes um jovem não consegue deter pensamentos por uma garota bonita como a senhorita Helena. Isso não se torna um problema desde que seu comportamento seja perfeitamente aceitável. E seu comportamento com a senhorita Helena é perfeitamente aceitável, não é, Mestre Jason? – O mordomo indagou em um tom de advertência.
- Claro que é! – o rapaz disse de pronto. – Mesmo que o meu autocontrole seja constantemente testado...
- Eu não poderia esperar menos do senhor. – o mordomo disse satisfeito, colocando sua xícara de chá sobre o pires. - E a senhorita Helena, percebe essa situação?
- Ela está muito focada em seus próprios problemas pra prestar atenção em mim. – o rapaz disse angustiado. - Mas o que eu sei é que não aguento mais, Eu não sei o que está acontecendo comigo...
- O senhor está apaixonado, Mestre Jason. – o mordomo disse como se fosse óbvio. - E confesso que não estou nada surpreso.
- Que piada. – Jason riu com deboche, incrédulo. – Eu? Apaixonado pela filha maluca do Bruce?
- O senhor também é um dos filhos malucos dele, não esqueça. – o mordomo o olhava com paciência. - Aceite isso, mestre Jason. E mais: acho que o senhor devia contar a ela.
- Isso é loucura, - Jason levantou-se ultrajado. – Não é isso que eu tenho que fazer. O que eu tenho que fazer é sair e transar! É, - ele andou até a porta da cozinha. – é isso mesmo que eu vou fazer. – disse decidido.
O mordomo suspirou quando a porta da cozinha bateu.
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- Já vai tão cedo?
Jason saía apressado pelo jardim, mas foi detido ao ouvir a voz do irmão mais velho. Dick usava uma regata e um calção de treino e, mesmo no frio, terminava uma corrida pela propriedade.
- Não enche. – Jason reclamou e ia passar direto, mas parou e olhou para o mais velho. – Você nunca mais vai embora daqui? Você não tinha brigado com o velho de novo e ia para a faculdade, depois que deixou aqueles idiotas de São Francisco?
- Eu vou pra faculdade, - Dick o olhava calmo. - mas as aulas ainda vão demorar pra começar.
- E por que não está com a sua namorada? – Jason desconfiou.
Dick fechou o semblante, parecendo triste.
- A Kory me chutou.
Jason riu.
- Entendi, e agora você voltou pra descobrir se a Babs te aceita depois de você ter fodido com toda vigilante, criminosa ou alienígena que a gente conhece...
Dick não se perturbava com os comentários do irmão, ele sempre tentava relevar o comportamento raivoso de Jason e ignorar seus comentários ácidos, então ele apenas suspirou e contou a verdade.
- Eu vou ficar por Helena.
- O que você quer com Helena? – Jason indagou parecendo transtornado.
- Bruce está muito ocupado com a Liga da justiça, ele me pediu pra ficar até pegarmos Marcondes.
- Ele pediu? – Jason riu, incrédulo. – Até pouco tempo atrás ele nem tinha te contado sobre o retorno da filha... O Bruce não pede nada a ninguém.
- Bem, ele disse que eu devia ficar até pegarmos Marcondes, e você entende a linguagem dele...
- Helena não precisa de você nos tornozelos dela.
- Eu vou estar aqui, de qualquer forma. Afinal, ela é como nossa irmã, não é?
- Ela não é minha irmã!
Jason deu as costas ao irmão mais velho e caminhou até sua moto, deixando Dick olhando-o sem entender.
O rapaz ainda estava convicto da resolução que tomara na cozinha da mansão: ele precisava transar, mas agora, depois de conversar com o irmão adotivo, ele concluiu que também precisava de uma bebida.
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Enquanto Jason lutava contra seus sentimentos, Helena lutava com seus próprios demônios.
Desde que acordara, ela trabalhava nas pistas que tinha sobre Marcondes. O mafioso estava em um cassino ilegal em Metrópolis, o capanga dissera. E a chave era a pequena ficha dourada que ela ainda tinha guardada no fundo de sua bolsa.
Ela sabia que, fosse onde fosse, não deveria ser difícil de encontrar, pois o homem estava certo de que Helena chegaria até lá para pegar Marcondes, embora o capanga estivesse certo de que o mafioso a mataria, caso ela fosse.
Helena só precisava achar o lugar, pois sabia muito bem como entrar. Ela decidiu que não pediria ajuda a Damian, Jason ou Alfred. Ela sabia que eles não a apoiariam depois do ultimato que seu pai lhe dera. Teria que fazer aquilo sozinha. Ela sabia que o plano de sua família era prender Marcondes, mas Helena sabia que só estaria livre de verdade quando o velho mafioso estivesse morto.
E ela decidiu que mataria Nero Marcondes.
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Jason não voltara ao apartamento pelo resto da semana. No começo, Helena achou bom, porque ela pôde abrir as cortinas durante o dia para trabalhar nas pesquisas que fazia na deep web em busca da localização do cassino ilegal de Marcondes. Mas, quando a sexta-feira à noite chegou, ela mandou uma mensagem para Jason perguntando se ele estava bem.
Era uma hora da madrugada e Helena estava no trabalho quando Jason respondeu com um "Muito ocupado", ela visualizou e não respondeu mais nada. Passou o resto do seu turno dividida entre os pensamentos sobre seu plano para o dia seguinte e os pensamentos de que tinha exagerado demais sua importância na vida do colega de apartamento.
Chegou em casa pela manhã chateada e cansada, contudo, ao abrir o computador, seu humor melhorou um pouco. Ela finalmente conseguira a informação que buscara a semana toda: o endereço do cassino lhe fora revelado em um fórum de jogos ilegais.
Helena pensou novamente se não devia dividir aquilo com Damian, Jason ou Alfred. Mas lembrou do objetivo que traçara, e que ela só poderia fazer sozinha.
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- ACORDE!
Helena sentiu as cobertas arrancadas de si e em uma fração de segundo tentou reconhecer a voz masculina, pular de onde estava e agarrar a besta embaixo da cama.
No segundo seguinte, estava apontando a arma para o homem alto e loiro que a olhava assustado e tinha as mãos para o alto.
- Quem é você? O que faz aqui? – Helena indagou ainda mirando-o na cabeça.
- Cuidado com essa arma aí, garota. – o homem falou com as mãos para o alto. - Eu só tô procurando o Jason. Ele disse que ia estar aqui, eu não sabia que ele estava com uma namorada.
- Eu não...
- Baixe a arma, Helena. Esse babaca é meu amigo. – Jason estava na cozinha, recostado no balcão, vestia o uniforme, exceto pelo capuz.
- Você não me viu entrando, seu idiota? – o homem loiro voltou-se para Jason. – Eu acordei a garota! Ela podia ter flechado a minha cabeça...
- Você não teria tanta sorte... – Jason brincou, se aproximando dos dois. Parou um momento para observar Helena que estava vestida com um moletom dele, e parecia vestir apenas aquilo, uma imagem na qual ele tentou não se fixar. – Helena, esse é o Roy Harper, meu amigo. E Roy, essa é Helena, minha colega de apartamento.
- Helena... – o homem loiro encarou-a de forma estranha por um momento. – Jason, precisamos ir. – Roy falou em seguida já se afastando de Helena.
- Eu estava pensando em jantar antes, - ele falou olhando para Helena, a imagem dela parecia prendê-lo ao chão. – Alfred passou aqui mais cedo e trouxe sanduíches...
- Você brinca de casinha depois, - Roy disse ríspido junto a grande janela. - Vamos logo.
Jason deu de ombros para Helena e acompanhou o amigo que saiu sem falar com Helena. Como já era comum naquele apartamento, eles desapareceram pela janela.
- Que mal-educado. – Helena resmungou ao ficar sozinha, o homem nem havia se despedido dela e Jason... Jason pareceu que não dava a mínima por ter sumido por cinco dias.
Ela foi até a cozinha e pegou um dos sanduíches que estava sobre a mesa, sentiu um pouco aborrecida por Jason ter ido, mas chegou à conclusão que era muito bom ele ter saído cedo aquela noite e sem fazer perguntas.
Depois de comer, Helena tomou um banho e se vestiu. Mas não vestiu a fantasia de Arlequina e o casaco, ela não iria trabalhar aquela noite, estava de folga.
Foi até a cama e pegou a besta, escondendo embaixo da cama a bolsa do trabalho e a fantasia de Arlequina, caso Jason retornasse.
Helena tirou debaixo da cama a bolsa que Alfred trouxera para ela mais cedo. Espalhou seu conteúdo pela cama. Um vestido preto muito chique, sapatos e acessórios. Aquele vestido fora de sua mãe, assim como os demais acessórios que estavam na bolsa entregue pelo mordomo.
Ela não tinha grana para comprar roupas caras, então pedira a Alfred que trouxesse antigas roupas de Selina que estavam na mansão, disse a ele que iria tirar uma noite de folga e ir a uma festa com amigos do trabalho. O mordomo ficara tão animado em saber que a garota estava fazendo coisas normais de jovem que nem a questionou.
Ele mandara um vestido de grife, que apesar dos anos não envelhecera e mandara também sapatos novos e acessórios.
Após se vestir, ela foi até a mesa de trabalho de Jason e examinou o arsenal que seu colega de apartamento mantinha escondido nos armários secretos na parede. Encontrou a arma que queria, uma pistola muito pequena que ela colocou em um coldre em sua coxa direita, sob o vestido.
Sentiu-se satisfeita, pois tinha tudo que precisava.
Na verdade, nem tudo. Ela precisava de um carro. Achou que pedir um carro emprestado ao mordomo seria demais, além de colocá-lo na sua pista. Ela não queria que ninguém soubesse onde estava indo e o que iria fazer e trabalhara vários turnos extras para economizar o que gastaria para ir de táxi até Metrópolis, mas valeria a pena.
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- Cara, o que você tá fazendo? – Roy perguntou a Jason assim que saíram do apartamento e chegaram aonde o carro de Roy estava estacionado. – Eu pensei que você não pegava mais esse tipo de trabalho.
- Tá chapado, Roy? Que trabalho que eu peguei? – Jason indagou sem entender, seus pensamentos ainda estavam em Helena vestindo seu moletom.
- A garota! – ele respondeu como se fosse óbvio. – A garota que tá no seu apartamento usando as suas roupas. Não acredito que você vai fazer isso, cara! Se tá precisando de grana, podemos conseguir por outros meios... Eu achei que você não fazia mais essas coisas!
- Não tô entendendo...
- Eu nem te reconheço, cara! – Roy continuou. – Você transou com a garota, sabendo que vai matá-la?
- Ei, eu não vou fazer nada com Helena! – Jason defendeu-se.
- Então você só vai entregá-la?
- Não, Roy... – Jason não estava entendendo nada, sua paciência já no fim. - Do que você tá falando cara?
- Eu tô falando disso. – Roy mostrou a tela do celular para Jason. – Todo mundo tá falando disso.
Jason viu a foto de Helena. Havia uma recompensa de cinco milhões para quem a encontrasse.
- Quem colocou esse anúncio? – Jason indagou olhando a tela.
- Foi justamente por isso que fui te procurar, quem colocou esse anúncio foi o Luthor. Ele quer a gente volte a trabalhar para ele. E ele quer a garota.
- Nem fudendo eu vou entregar Helena! E por que Luthor a quer? – Jason indagou preocupado, lembrando do que a garota falara sobre o passado de sua mãe com Luthor.
- O que se fala é que ele tem negócios com um mafioso cheio da grana que quer a garota... Um tal de Marcondes. Parece que o cara é meio obcecado por ela, foi namorado ou coisa do tipo...
- Não cara, você tá enganado, esse Marcondes não foi namorado da Helena...
- Tem certeza? - Roy perguntou mostrando a tela do celular para Jason. – Ela parece muito contente aqui, abraçada com ele...
- Não pode ser... – Jason exclamou ao ver foto.
Aquilo estava errado, não tinha como ser verdade.
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Helena chegou no hall do hotel Luthor Prime e abordou o segurança mais sinistro que encontrara no salão.
- Eu vim para a festa. – disse com segurança, empinando o nariz.
- Não temos festa hoje no hotel, senhorita.
- Você não entendeu... eu vim para a festa. - Ela falou ao mesmo tempo em que lhe apresentava uma a ficha de cassino dourada.
- Me acompanhe, por favor- o homem disse de pronto ao ver a ficha.
Helena o seguiu e eles entraram em um elevador que desceu por muito tempo, o segurança nada falou e ela manteve-se em silêncio tentando esconder o nervosismo. Ela sabia que estavam entrando vários andares abaixo da terra. Quanto mais desciam, seu estômago gelava mais e mais, ela sabia que estava indo para o tudo ou nada. Sabia que só teria uma chance, assim como sabia que a cada andar que ela descia, as chances de escapar dali se tornavam menores.
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O cassino se abriu para sua visão logo que saiu do elevador.
Helena procurou se misturar entre as pessoas. Havia poucas mulheres como ela, a maioria dos clientes eram homens, então ela sabia que poderia facilmente chamar atenção. A maioria das mulheres ali estavam trajadas em maiôs dourados e usavam perucas coloridas de cabelos curtos, elas serviam ou agradavam os clientes. Helena estremeceu, pois sabia que estava em um ambiente muito perigoso.
Seguindo o que tinha planejado antes de ir até lá, ela entrou no banheiro feminino e esperou. Ela precisava encontrar um meio de acessar os aposentos de Marcondes, que ela sabia, estavam em algum lugar do cassino. Seu plano inicial era desacordar alguma das meninas do cassino e assumir seu lugar, mas enquanto se olhava no espelho aguardando uma oportunidade, Helena escutou um choro muito angustiado que parecia vir do último box do banheiro feminino. Ela foi até lá, a porta não estava trancada.
- Ei, você precisa de ajuda?
Ela perguntou e a porta abriu aos poucos. Uma garota assustada surgiu, sua maquiagem parecia muito borrada. Ela não era uma cliente, era uma das garotas do cassino, pois vestia o mesmo maiô dourado minúsculo e de mal gosto que todas as garotas vestiam, além de usar uma peruca roxa.
- Eu não quero mais ficar aqui. – a moça disse em português, e Helena entendeu, pois morara em Portugal por algum tempo. – Por favor, me ajude.
- Eu vou ajudar você, - Helena disse de imediato. Uma ideia surgindo em sua mente.
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Alguns minutos mais tarde, a garota que falava português mostrou a ficha dourada para o segurança e entrou no elevador rumo a liberdade. Ela se comportou muito bem e conseguiu convencer o segurança. Helena agora vestia o maiô dourado e usava a peruca lilás. A garota fora embora com suas roupas e sua ficha. Ela não tinha a mínima ideia de como sairia dali, mas estava feliz por salvar uma vida.
Agora ela precisava salvar a sua própria vida.
Desfilou pelo salão, imitando as garotas e seguiu uma delas até o bar onde pegou uma bandeja. Helena tinha habilidade em servir e saiu pelos corredores como se levasse a bandeja de bebidas para algum lugar. Procurou e fingiu servir clientes, até achar o que queria.
Ela procurava os aposentos particulares. Sabia que eles existiam em lugares como aquele, e não foi difícil localizar o corredor ao seguir uma garota que adentrava neles com um cliente.
Andando pelo corredor fracamente iluminado, Helena tentou procurar os aposentados de Nero Marcondes, e reconhecê-los foi mais fácil do que ela imaginava.
Havia um grande segurança protegendo a porta no final do corredor.
Caminhou até lá tendo a certeza de que seria o lugar onde Nero Marcondes estaria. O segurança colocou-se na frente quando ela tentou subir.
- Vim para ficar com o senhor Marcondes. – ela falou em português, sabendo que estaria morta se Marcondes não estivesse realmente ali.
O segurança a olhou por um longo momento e as entranhas de Helena congelaram.
- Não lembro de ele ter pedido outra garota.
- Então posso voltar para o bar? – indagou fingindo alívio. – Tem certeza de que o senhor Marcondes não vai ficar irritado? – ela lançou seu olhar mais inocente.
O segurança pensou por um momento, Helena sabia que ele estava refletindo sobre como o chefe ficaria furioso se não tivesse a garota que pedira.
- Pode entrar, docinho. – ele disse em seguida, enchendo-a de alívio e abrindo espaço para que ela entrasse no quarto.
Helena tocou a maçaneta, subitamente nervosa. Embaixo da bandeja, embalada em um guardanapo estava a pequena pistola que ela encontrara no arsenal de Jason.
Ela entraria e executaria Marcondes. Não tinha pensado ainda no plano de fuga, mas passou por sua cabeça que deveria ter conseguido uma arma com silenciador.
Quando entrou nos aposentos, não viu ninguém de imediato. Todo o cômodo estava na penumbra, iluminado por luzes indiretas.
O velho estaria dormindo?
Ela ouviu barulhos abafados que vinham da suíte, e teve certeza de que o velho estava lá, e parecia estar acompanhado.
Helena entrou na suíte em passos lentos.
Havia corpos sobre a cama, havia gemidos e o homem e as duas mulheres que lá estavam não pareceram notar a presença dela, foi então que Helena apontou para a cama e mirou.
- Marcondes! – ela disse alto. – Eu peguei você.
As duas mulheres nuas gritaram assustadas e afastaram-se do homem, apenas a luz do abajur iluminava o quarto. Os olhos de Helena pareceram enganá-la por um instante. Ela devia estar alucinando.
O homem nu que lhe olhava com um sorriso presunçoso, não era... não era quem ela procurava... não era o velho Nero Marcondes.
Era alguém que não devia estar ali.
Não devia porque ele estava morto há muito tempo.
- Nico... – Helena murmurou antes de ser acertada na cabeça.
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Quando Helena acordou, estava amarrada pelos pulsos a cama da suíte.
As luzes do quarto foram ligadas e a claridade ofuscou seus olhos, sua cabeça doía. Algo quente e pegajoso escorria por seu pescoço.
- Foi muito mais fácil do que eu poderia imaginar. – ela ouvia a voz de Nico Marcondes que estava numa poltrona a sua frente. O homem vestia um roupão preto e tomava um copo de Whisky. Dois seguranças armados ladeavam-no. – Você veio como um ratinho para a ratoeira.
- Não pode ser. – Helena o olhava incrédula. - Você morreu...
- Sim, eu morri. – Ele disse se levantando. - Por sua causa, a propósito.
- Você... Você não pode estar aqui...
- Mas eu estou. – ele respondeu aproximando-se e se sentando na beirada cama ao lado dela. – E eu vim até aqui por você, "la mia Elena di Troia".
- Não me chame assim. – Helena disse lembrando-se do antigo apelido que ele lhe dera.
- "Mia Elena di Troia", - ele repetiu tirando uma mecha de cabelo ensanguentado do rosto de Helena. – É você. E eu estou disposto a esquecer tudo o que aconteceu para podermos recomeçar.
- Você está louco? – ela indagou com raiva. - Você é um assassino! Um maldito abusador de mulheres!
- E você é a filha de Bruce Wayne. – ele falou calmo. – E foi por isso que eu não matei você desde o início... embora meu pai tenha insistido nisso ultimamente, pena que eu tive que matar ele também... Sabe, quando a gente volta dos mortos, a gente volta mudado... um pouco... impaciente. O velho estava atrapalhando meus negócios. Mas você... eu ainda tenho planos para nós dois... tenho planos para o herdeiro que vamos colocar no mundo... Um pequeno herdeiro bilionário. – ele sussurrou arqueando-se sobre o corpo de Helena para tocar-lhe o ventre esguio, o toque de Nico a fez esquivar-se contra a cabeceira da cama.
- Eu nunca vou ficar com você de novo. – Helena foi enfática. – Você nunca mais vai tocar em mim.
- Será? – ele disse aproximando-se do rosto – Você me amava, Principessa. Você era louca por mim... você gemia meu nome quando... – ele sussurrou no ouvido dela. - Aliás, fui eu quem te ensinou isso...
- Eu era uma garota ingênua e inexperiente que você manipulou. As coisas não vão mais ser assim...
- Que seja. – ele disse tranquilo. – Você não está na posição de decidir nada... E agora que você está comigo, seu pai vai ser um grande facilitador para meus negócios nessa região... Será o casamento perfeito...
- Você não faz ideia do que o meu pai vai fazer com você...
- Aquele playboy bêbado e desocupado? – Nico zombou. – Ele vai comer na minha mão. Principalmente depois que souber que estou com a filhinha dele...
Nico inclinou-se sobre o rosto de Helena e tentou beijar-lhe a boca, Helena buscou afastar-se virando o rosto como podia. No meio de sua luta para libertar-se, ela não viu quando algo explodiu pelas paredes do quarto, tão rápido quanto um raio, espalhando poeira por todos os lados.
O barulho ensurdecedor fez Nico afastar-se de Helena.
Helena reconheceu o homem que apareceu através parede destruída, ela nunca esquecera seu rosto. Ele não a olhou de imediato, pois foi até Nico e jogou-o contra uma parede. Os seguranças do mafioso atiraram no recém-chegado, mas foi em vão. Ele apenas tomou-lhe as armas e jogou-os na mesma parede onde atirara Nico, desacordando-os.
Foi só aí que o homem olhou para Helena, ele se sentou na cama e limpou o sangue do rosto dela com um pedaço do lençol, em seguida, a desamarrou com cuidado e colocou-a nos braços. Helena fechou os olhos, a cabeça ainda doía, mas ela escutou lá longe aquela voz conhecida dizendo que tudo estava bem e aconchegou-se no grande S que tinha no peito dele, antes de cair na inconsciência novamente.
