REUNIÃO DE FAMÍLIA

"... Nós somos responsáveis, não só por sua felicidade, mas também por sua vida.

Helena refletiu um instante.

Quer dizer, perguntou ela, que se eu fosse vítima de um desastre, não faltaria quem o imputasse à minha família?

Justo.

Singular gente! Não há de ser tanto assim... Pois se eu me lembrasse — é uma suposição — se eu me lembrasse de deixar a vida por aborrecimento ou capricho, seria você acusado de me haver propinado o veneno? Não há melhor modo de me fazer evitar a morte.

Helena, Machado de Assis, 1876.

/

Um barulho de vozes e discussão zumbia nos ouvidos de Helena quando ela abriu os olhos.

Ela piscou e só conseguia ver as pedras lá em cima, bem no alto. Havia também uma grande luz branca na sua direção, cegando-a um pouco. As vozes continuavam sem parecer prestar atenção nela, e quando ela tentou levantar-se, um rosto amistoso apareceu na frente de seus olhos.

O homem lhe sorria carinhoso e as vozes no entorno pareceram silenciar.

Helena sentia-se confusa e ao olhar para o homem, balbuciou a única coisa que a sua mente confusa conseguiu raciocinar mente naquele momento.

- Superman? – ela indagou e o homem lhe sorriu de volta.

- Excelente! Os sentidos dela estão bons. – uma voz feminina falou ao seu lado. – Quantos dedos tem aqui, querida? – a mulher de roupa branca apareceu no seu campo de visão e perguntou enquanto levantava a mão na direção de Helena.

- Três?

- Ótimo. – a mulher disse já examinando os olhos de Helena com uma lanterna. – Acho que ela está ótima, só precisa de repouso e alguns analgésicos.

Helena reconhecera aquela mulher, era a doutora que cuidara de sua mãe quando ela estava em coma. Ela olhou em volta e viu que Alfred estava ali também, e concluiu que estava na caverna. Ela sabia que tinha muito mais gente ali, mas não tinha disposição para encará-los.

- Podemos levá-la para o quarto, Dra. Thompkins? – ela ouviu Alfred indagar.

- Claro, logo ela vai dormir por conta do medicamento que apliquei, mas acho que ela precisa de um banho antes.

- Eu posso ajudá-la com isso. – uma voz feminina aproximou-se e Helena viu Bárbara Gordon vestida de Batgirl, a garota estava sem a máscara e a olhava com preocupação sincera.

Helena foi levada para um quarto na mansão Wayne pelas mãos do Superman, ela ainda estava confusa, mas, conseguiu pensar em como aquela situação era pitoresca. Bárbara chegara pouco depois em suas roupas civis e a ajudara a tirar o maiô dourado e a tomar banho. Helena não vira seus pais em nenhum momento, mas ela sabia que eles estavam na caverna.

- Essa roupa é degradante... – Bárbara dizia olhando o maiô dourado enquanto levava Helena até a cama. – Pobres garotas...

- O Cassino! – Helena sobressaltou-se ao lembrar de súbito o que lhe acontecera. – Elas estão no cassino! No subterrâneo!

- Calma, - Bárbara não a deixou levantar. – O Cassino foi fechado. Elas estão livres.

- E Ele? Foi preso?

- O Marcondes? – Bárbara indagou. – Ele conseguiu fugir, sinto muito.

- Voltamos à estaca zero então... – Helena desanimou. – Tudo isso pra nada. – falou levando a mão ao machucado no lado esquerdo da cabeça.

- Não foi por nada. – Bárbara tentou apaziguar a angústia da outra. - Prendemos muita gente hoje... a garota que você ajudou a sair do cassino chamou a polícia, depois disso não foi muito difícil o Superman achar o cassino e encontrarmos você.

- Vocês estavam me procurando?

- Sim, desde que Jason nos avisou que não lhe encontrava em lugar nenhum.

Helena ficou surpresa ao saber que Jason a procurara, mas ao lembrar dele, ela lembrou em seguida de outra pessoa. Nico Marcondes. Ele estava vivo e a procurara também.

- Preciso achar Nico... ele é muito perigoso... – ela disse urgente, tentando se levantar da cama, sendo contida por Bárbara.

- Não, Helena, já chega! – Helena voltou-se para voz que se aproximava. Damian entrara no quarto. O garoto usava seu uniforme de Robin, porém sem a máscara. Sério demais para um menino de quatorze anos. – Você precisa descansar, já tentou se matar demais para um dia. Bárbara, poderia me deixar a sós com a minha irmã?

Bárbara assentiu e saiu do quarto depois de se despedir de Helena, que a agradeceu pela ajuda.

Damian foi até a cama, tirou as botas e se sentou ao lado da irmã.

- Mas que diabos você acha que estava fazendo?

- Eu fui matar o Marcondes.

- Você foi se matar! – Damian exclamou muito bravo. – O que você achava? Você não tinha a mínima chance! Você desobedeceu a primeira regra que aprendemos com nosso pai: sempre esteja preparado.

- Me desculpe, mas eu não aprendi nada com aquele cara.

- Não venha jogar essa carta agora, Helena. – Damian a cortou, severo. - Seus problemas com nosso pai não podem justificar todas as suas idiotices, porque foi isso que você fez hoje, uma idiotice! Nem Jason é tão inconsequente quanto você!

- Eu precisava fazer aquilo.

- Então que se preparasse pra isso! É o que todos nós aqui fazemos. Não somos suicidas. Somos soldados. Nós treinamos. Nós estudamos. E só então, nós lutamos... Você nunca foi treinada de verdade pra fazer o que nós fazemos. E isso coloca em perigo você e quem está ao seu redor. Você podia ser a causa da morte daquelas meninas no porto, ou no Cassino... Irmã, eu não vou apoiar você enquanto você for uma idiota!

- Eu sou sua irmã mais velha...– Helena resmungou emburrada.

- Não parece, pois você age como se ainda tivesse doze anos!

- Nossa, você é igualzinho a ele.

- Não sou, eu sou muito pior que ele. – Damian disse sério. - Não vou passar a mão na sua cabeça. A partir de agora, eu estou do lado do nosso pai. Você vai seguir as regras dessa família, enquanto estiver em Gotham.

Helena sentiu-se tola depois das palavras de Damian, ela estava recebendo um sermão de um adolescente de quatorze anos que parecia muito mais maduro que ela. Sabia que não adiantava discutir.

- Tudo bem, Damian. Eu vou seguir as regras de vocês. – ela se resignou. – Mas quando pegarmos Marcondes, eu vou dar o fora daqui, e não vou ser controlada por ninguém.

- Já é um bom começo, irmã. – o garoto disse parecendo satisfeito. Ele se sentou novamente ao lado dela e examinou o corte que havia sido suturado no lado direito da cabeça. – Sua primeira cicatriz, parabéns. – ele sorriu.

- Obrigada. – Helena retorquiu fechando os olhos. – Estou com sono...

- Dra. Thompkins disse que você ficaria sonolenta por causa dos remédios... Vou lhe deixar descansar.

- Não vá. – ela o deteve segurando-o pela mão. - Fique, por favor.

Damian não disse nada, apenas deixou a irmã deitar a cabeça em seu ombro, o garoto só a deixou depois que ela dormia profundamente.

/

Enquanto isso na caverna, quando Alfred saiu para acompanhar Lee Thompkins até a porta, Clark olhou muito sério para Bruce e Selina. O semblante plácido do homem estava carregado como poucas vezes Bruce o vira.

- O que diabos vocês fizeram com aquela garota?

- Isso é um assunto de família, não lhe diz respeito. – Bruce falou ríspido. Ele encontrava-se com o traje do morcego, porém sem o capuz e ainda olhava para a maca que estava suja com o sangue de Helena.

- Me diz respeito a partir do momento em que eu a retirei daquele lugar horrível e das mãos daquele homem que estava... – Clark deteve-se. – Ela foi lá sozinha! Sem plano nenhum! Essa garota está claramente perdida, ela é um perigo para si própria. E o que vocês fizeram para detê-la? Nada, até onde eu sei...

- Helena não quer nossa ajuda. – Foi Selina quem falou como explicação, visto que Bruce permanecia mudo. Ela também vestia seu uniforme e estava sem máscara. Também encarava ainda o sangue da filha nos lençóis da maca vazia.

- A questão não é se ele quer ou não quer ajuda. Vocês são os responsáveis por aquela garota!

- Nós estamos fazendo o possível... – Selina sibilou.

- Ela voltou pra Gotham, e o que você fez? Deixou ela morar com seu filho mais instável! – ele olhou para Bruce. – Isso não me parece fazer o possível...

- Jason jamais faria mal a Helena. – Bruce afirmou com segurança.

- Desculpe, Bruce, mas eu não confio nas suas decisões quando se trata dos seus filhos... – Clark disse irredutível. – Vocês precisam colocar essa criança em segurança e logo! Vocês são um casal de irresponsáveis!

- Escuta aqui, você não pode entrar aqui dizendo o que temos que fazer ou não com nossa filha! – Selina retorquiu irritada.

- Selina, - Bruce a chamou, fazendo-a olhá-lo. – Clark tem razão.

Ela o olhou confusa.

Bruce se sentou na cadeira próxima ao grande computador, parecia muito cansado.

- A culpa é nossa... – ele continuou parecendo abatido. – A culpa é minha. Eu decidi que íamos deixa-lá, eu me afastei totalmente quando ela pediu, eu a deixei fazer o que quisesse quando voltou pra Gotham. Helena é uma garota quebrada e a culpa é minha. – sentenciou.

Selina, que passara anos a fio jogando na cara de Bruce que tudo era culpa dele, não foi capaz de concordar ao vê-lo finalmente admitir. O homem parecia devastado.

- A culpa também é minha. – Ela disse indo até Bruce, agachando-se em frente a cadeira onde ele estava e levando uma mão ao rosto do homem.

Eles se encararam por um longo momento.

- Obviamente, vocês dois têm muito a resolver. – Clark falou sentindo-se sobrar naquela situação. – Não deixem mais Helena se colocar em perigo e me chamem, caso precisem.

O Superman saiu dali em segundos, deixando o casal sozinho.

Bruce e Selina passaram anos sem se encarar, e embora o morcego e gata ou a socialite e o playboy se esbarrassem e tivessem algumas aventuras, aquela era a primeira vez em todos aqueles anos que se viam frente a frente. Era a primeira vez em muito tempo que aqueles dois adolescentes de Gotham voltavam a sem encarar, sem máscaras.

Sem nenhum tipo de máscara.

Desde que Helena voltara para Gotham, o casal voltara a se falar com frequência e tinha acordado que estariam juntos em tudo que envolvesse a filha, mas só agora, depois daquela noite desastrosa onde quase a perderam, eles tinham tido coragem de se encarar e fora preciso Clark confrontá-los para isso. O muro que ambos construíram entre eles era alto e concretado, mas naquela noite, surgiram rachaduras nele.

Eles continuaram se encarando em silêncio por um momento após Clark desaparecer.

- Precisamos fazer alguma coisa. – Foi Selina que falou, ela ainda tinha uma mão na face de Bruce, confortando-o. – Temos que salvar nossa filha. Você sempre sabe o que fazer, então me diga.

- Eu não sei o que fazer quando se trata deles... – Bruce confessou. – Quando se trata dos meus filhos. Eu sempre erro. Helena me odeia. Dick foi embora. Damian não me respeita. Jason... eu o deixei morrer... Eu não sei... quando se trata deles, eu não sei o que fazer.

- Você ficou melodramático, heim? – Selina tentou contornar a tristeza que via nele. – Você é a porra do cara mais esperto e preparado do planeta! Até aquela vaca Amanda Waller teme você! Se você é capaz de salvar o mundo todo, é capaz de salvar sua família. – ela se aproximou dele, encarando-o mais uma vez. - Bruce, nós precisamos salvar nossa filha.

Bruce quase a beijou. Aquela mulher sempre era dura demais com ele, mas sempre lhe mostrava outras perspectivas. Ele conseguiu se conter e apenas pegou a mão dela que estava em seu rosto e colocou entre as suas mãos enluvadas.

- Preciso de você comigo nessa, Selina.

- É claro que precisa. – Ela sorriu contente por animá-lo. – Vamos chutar a bunda do Marcondes e deixar Helena livre para seguir com a vida dela. Talvez assim, um dia, ela nos perdoe...

- Selina... – ele ficou sério novamente, - Você precisa saber a verdade...

- Que verdade?

- A verdade sobre porque Helena está desse jeito. Ela não é instável apenas por que nós a deixamos, ele passou por outras decepções.

- O que você escondeu de mim, Bruce? – Selina indagou tensa.

- Você precisa saber sobre a Itália...

/

Ela acordou no meio da noite ouvindo a voz distante que lhe chamava.

Sua cabeça latejava um pouco. Ao abrir os olhos, sua visão estava embaçada e ela demorou a enxergar o vulto que vinha da sacada de seu quarto, banhado pela luz da lua.

Ao vê-lo, os últimos acontecimentos voltaram e ela se encolheu contra a cabeceira da cama. Estava com medo, Nico tinha voltado para buscá-la.

Ela fechou os olhos com força.

- Ei, não precisa ficar com medo... – o dono daquela voz estava de pé ao lado da cama e parecia... preocupado?

Helena abriu os olhos devagar, as lembranças voltando a sua mente. Ela estava na mansão Wayne, um lugar que tinha um nível de segurança militar. Nico não estava ali. Ninguém poderia estar.

- Como você conseguiu entrar? – ela perguntou ao abrir os olhos e reconhecer Jason. – Não tem como alguém entrar aqui sem o Wayne saber.

- Ele com certeza sabe que eu estou aqui. – Jason falou sentando-se na cama ao lado de Helena como Damian fizeram anteriormente. – Mas ele não me abateu quando eu pulei na sua janela, e como ele ainda não veio me expulsar, só posso supor que ele concorde com a minha presença aqui.

- Ou ele deve estar ocupado demais para se importar. – ela disse com desgosto.

- Ele nunca está ocupado demais quando se trata de nós... – Jason sentiu a necessidade de defender o pai adotivo.

- Não é o que parece... Hoje à noite, se não fosse pelo Superman... eu não sei o que teria acontecido comigo.

- Isso foi porque você foi lá sozinha e...

- Por favor, não venha me dar um sermão, meu irmão de quatorze anos já fez isso...

- Não é isso, eu ia dizer que você poderia ter me chamado.

- Imaginei que tivesse ocupado. Você sumiu... passou a semana inteira ocupado...

Jason queria dizer que não estava ocupado. Ele estava fugindo. Ele precisava de um tempo longe dela para colocar os pensamentos em ordem e ter certeza de que não estava apaixonado, precisava se certificar que estava apenas excitado. Mas, o tempo que passou longe, só serviu para fazê-lo entender que estava mesmo apaixonado.

Ele não conseguiu dizer nada disso a ela.

- Eu estava ocupado. – ele respondeu por fim. – Mas não pra você. Eu teria ido quando você me chamasse, você não precisava ter ido até aquele lugar sozinha e...

Jason não chegou a terminar aquela frase.

Ele não terminou a frase, porque Helena, em um ímpeto, se inclinou sobre ele e o beijou na boca.

Ver Jason ali a despertou para o imenso contraste entre ele e Nico, como ambos a faziam se sentir. Há pouco ela estivera do mesmo jeito ao lado de Nico e ele a fizera se sentir ameaçada e enojada. Jason a confortava e a fazia se sentir segura.

Impelida por essa epifania, a garota colocou as mãos em torno do pescoço dele, trazendo-o para cima dela. Ela o queria. Muito.

Jason correspondeu de imediato. Não passaram muitos pensamentos em sua cabeça, ele apenas sentia a adrenalina de estar realizando aquilo que ele tencionara nas últimas semanas. Por puro instinto, ele correspondeu ao beijo e suas mãos também percorreram os cabelos de Helena, cabelos que eram tão macios como ele imaginara.

Helena foi deitando-se de costas na cama trazendo-o por cima de seu corpo. Eles não pararam o beijo a não ser quando Jason, agora deitado entre as pernas de Helena, deixou de beijá-la na boca e explorou o pescoço dela, descendo em seguida pelo colo o que provocou um arfar e um pequeno gemido de Helena que pareceu a Jason a coisa mais excitante que já ouvira na vida, porém que o fizeram congelar.

Aquilo era muito errado.

Jason afastou-se de Helena como se o toque dela o queimasse, teve que usar de todo seu autocontrole para isso.

Quando ele se levantou e a olhou na cama, Helena o olhava confusa.

- Não podemos. – foi tudo que ele conseguiu pronunciar enquanto buscava se recompor.

- Eu fiz alguma coisa errada? – ela pareceu tão preocupada e vulnerável que ele se sentiu tocado.

- Não, não é isso. – ele aproximou-se, sentando-se novamente na cama. – Você está machucada... – ele levou a mão ao curativo que Helena tinha na cabeça. – E está sob efeito de remédios...

- Eu estou bem. – ela disse levando a mão até a coxa de Jason em uma área particularmente sensível.

Ele afastou-se rápido, levantando-se novamente da cama.

- Desculpe... – falou, se amaldiçoando em pensamento. Ela estava ali na cama, de camisola, linda... igual aos sonhos dele. Não era justo... – Não é certo. – Ele conseguiu verbalizar com esforço. - Estamos na casa da família.

- Então vamos embora... – ela disse levantando-se e revelando o quanto o tecido daquela camisola era tênue. Jason engoliu em seco. – Vamos para o nosso apartamento, eu odeio esse lugar. Poderemos ficar juntos lá...

- Não. - ele suspirou. – Me desculpe, Helena, mas não vou tirar você daqui. Esse é o lugar mais seguro pra você estar.

- Eu não quero ficar aqui! Eu não vou ser uma prisioneira nesse lugar. – ela se aproximou dele, olhando-o nos olhos. – Jason, por favor, me leve com você. – e então ela fez novamente aquele olhar suplicante que conseguia o que queria dele.

- Não. – ele respondeu desviando o olhar.

E foi como se ela tivesse dez anos novamente e seus pais a dissessem que ela não podia voltar com eles para Gotham.

- Você é igual a todos eles! – ela disse sentindo a raiva provocada pela rejeição. – Vá embora daqui! – Ela falou alto, mas ele não se mexeu. – FORA! – gritou.

- Helena, por favor, alguém pode ouvir você...

- Dane-se, eu não ligo! – ela continuou falando alto. - Vai embora daqui!

- É isso mesmo que você quer?

- É. – Helena respondeu decidida. - Você deve estar muito feliz que se livrou de mim, não é mesmo?

- Não é isso...

- É sim. – ela gritou de novo. - FORA!

- Vê se cresce, Helena... – ele resmungou chateado e afastou-se até a sacada.

Quando Jason desapareceu, Helena voltou para a cama e chorou até adormecer novamente.

/

Helena sonhava com Nico.

Ele dizia que ela não podia ser amada, que ela estava manchada e que todos a rejeitavam. Só ele a receberia, só ele a amaria. No sonho, ela via Jason indo embora.

- Me leve com você!

- Não! – Jason dizia antes de desaparecer no fogo.

E Nico reaparecia. E agora ele era um grande demônio e ela podia sentir o fogo do inferno queimando a pele dela.

Helena acordou assustada sentindo o vento frio que entrava pela porta da sacada que estava aberta. Ela lembrou de Jason saindo por ela.

Foi tomada pela vergonha. Os remédios que Lee Thompkins lhe dera tinham-lhe deixado confusa como uma bêbada. Lembrou que beijara Jason, e que foi correspondida e logo após, rejeitada.

- Nada de novo sob o sol...

Helena se sentiu miserável. Não bastasse o fracasso do seu plano de deter Marcondes e com isso todos acharem ela uma idiota inconsequente, ela tinha ido além e se jogado em cima de um cara que claramente não tinha interesse nela e que fez questão de rejeitá-la.

Ela alcançara um novo patamar de humilhação.

- Esse foi o auge, Helena. – ela resmungou com ironia. – O auge.

E mesmo sentindo-se humilhada, Helena percebeu que também estava faminta. E foi só por isso que ela teve alguma disposição para levantar. Após voltar do banheiro, onde ela constatara seu aspecto horrível no espelho, ela vestiu um robe de cetim que estava ao lado da cama e saiu do quarto encarando um longo corredor vazio. A mansão estava silenciosa e ela se perguntou se conseguiria achar as escadas.

Helena andou devagar nos corredores, como uma clandestina em um navio. Temia esbarrar com seu pai. Ele não tinha vindo depois de tudo que acontecera, e ela sabia que ele devia estar verdadeiramente furioso. Ou pior, talvez não se importasse.

Grata por não encontrar ninguém, ela conseguiu chegar as escadas e depois disso foi como viajar no tempo, em instantes estava na cozinha particular de Alfred. O mordomo parecia ter adivinhado que ela viria, pois, a cozinha cheirava a torradas, bacon e café.

Mas não foi Alfred quem ela encontrou na cozinha. Por um instante de insanidade o coração de Helena disparou, e ela imaginou que o rapaz que estava de costas, cozinhando no fogão era Jason. E ela suspirou lembrando de seu colega de apartamento que sabia fazer o melhor café da manhã do mundo. E que cuidava dela o tempo todo... Que era incrivelmente gostoso... E que a havia rejeitado na noite anterior... com esse último pensamento, ela concluiu que não era Jason ali.

Helena decidiu que não ia encarar o rapaz que ela sabia não ser Jason. Deu um passo para sair da cozinha sem ser vista.

- Eu sei que você está aí. – o rapaz se virou e ela pôde encará-lo.

- Estou procurando Alfred. – Helena disse como se tivesse sido pega roubando.

- Ele teve que sair. – o rapaz sorriu. - Mas você pode tomar café da manhã comigo... - Dick falou pondo no prato um bacon delicioso que fez o estômago de Helena se contorcer.

- Obrigada, não estou com fome.

Ela empinou o nariz, deu as costas ao rapaz e voltou para o seu quarto.

"Por que todos esses caras fazem um café da manhã delicioso?" ela pensava enquanto voltava faminta pelos corredores da mansão, sua cabeça voltara a latejar. Descobriu que já era quase meio-dia e ficou em sua cama com fome e sentindo-se miserável até Alfred aparecer quase uma hora mais tarde para dar-lhe remédios e ela pediu-lhe pelo amor de Deus que lhe trouxesse alguma comida.

- Al, eu vou ficar quanto tempo nessa cama? – ela indagou enquanto devorava a comida que Alfred trouxera. – Eu não sou uma inválida.

- Quanto tempo a dra. Thompkins julgar necessário, senhorita Helena. – Alfred disse compreensivo. – A doutora acha que você sofreu um grande trauma...

- Por Deus, Alfred! Só foram cinco pontos... – falou mostrando a ferida.

- Não é sobre esse trauma que a doutora está preocupada. – o mordomo disse segurando a mão de Helena.

- Não sei do que está falando, Al. – Helena desconversou. – Eu estou muito bem. Não foi um trauma o que aconteceu no cassino...

- Não estou falando disso, senhorita... – Alfred foi cuidadoso. – Estou falando de... antes. Estou falando do que aconteceu na Itália.

- Não aconteceu nada na Itália...

- Descanse, senhorita. – O mordomo disse se afastando e saindo do quarto, deixando-a sozinha.

E depois de muito tempo, Helena se permitiu pensar em tudo que acontecera em seu último ano na Europa. E todas as lembranças que ela reprimira voltaram como uma avalanche.

/

- Eu amo você, Helena. la mia Elena di Troia.

Nico beijava-lhe os lábios sob o céu laranja do pôr-do-sol. Eles tinham feito amor há pouco no convés do iate e agora assistiam o dia morrer. Helena descansava no peito de Nico sentindo-se segura e confortável como só estivera antes muito tempo atrás, em uma certa mansão.

- Eu quero me casar com você, mia Elena. Você aceita se casar comigo?

Helena sorriu contente.

- Eu aceito! Me caso com você agora mesmo. – ela sorriu. – Vamos atracar e procurar um sacerdote.

- Não, eu quero fazer tudo direito. - ele brincou com uma mecha do cabelo dela. - Quero pedir sua mão a seu pai.

- Meu pai? – ele sobressaltou-se sem entender. – Eu já lhe contei tudo, eu não falo com ele a anos.

- Mas isso é por que você quer, não é, principessa? Ele quer estar próximo de você. E eu quero pedir sua mão, como manda a tradição.

- Eu não quero.

- Tudo a seu tempo, minha querida. Mas não esqueça quem você é, você é uma Wayne. E merece ser tratada como tal.

Ele a beijou e Helena se sentiu incomodada. Aquela insistência quase diária de Nico em querer aproximá-la de seu pai, desde que ela revelara quem realmente era, a deixava incomodada.

E desconfiada.

E foi a pequena pontada de desconfiança que cresceu em seu peito que a fez investigar. Naquela mesma noite, enquanto Nico dormia, ela entrou em seu computador pessoal.

E tudo que ela viu... tudo que ele fazia... quem ele era...

Helena descobriu que estava apaixonada por um monstro.

/

Voltando um pouco no tempo...

Na noite anterior, enquanto Helena beijava e depois brigava com Jason em um dos inúmeros quartos da mansão, muitos metros abaixo, na caverna, seus pais continuaram uma conversa muita séria.

- O que você escondeu de mim? – Selina indagava tensa após Bruce revelar que algo acontecera a filha deles na Itália.

- Esse homem, Nico Marcondes, foi namorado de Helena.

- O filho de Nero Marcondes? O que achávamos que estava morto?

- Ele estava morto. Disso, eu tenho certeza. – Bruce confirmou. – Eu ainda não sei como voltou a vida, mas apostaria no poço de Lázaro...

- Eu não quero saber como ele voltou. – Selina disse irritada. - Eu quero saber o que ele fez com a minha filha!

- Eu vou lhe mostrar o que sei.

Bruce foi até o grande computador e digitou alguns comandos no painel, fazendo surgir muitas imagens e documentos na grande tela. E então ele resolveu contar tudo de uma vez.

- Nico Marcondes cuidava de muitos negócios de sua família, inclusive do aliciamento de mulheres. Eles e sua rede de comparsas as atraíam com promessas de trabalho ou propostas amorosas. – explicou enquanto as imagens de Nico e outros criminosos apareciam na tela ao lado de belas garotas. - Depois que caíam nas mãos deles, elas eram obrigadas a trabalhar em seus negócios... – Bruce fez uma pausa, procurando uma palavra. - ilícitos. Nico procurava mulheres jovens, bonitas e vulneráveis. Um dia, ele encontrou Helena trabalhando em um café... nossa filha cumpria todos os requisitos.

- Bonita, jovem e sozinha... Ele achou que ela era uma presa fácil... – Selina murmurou sem tirar os olhos do homem na tela. Era bonito, na casa dos trinta anos, talvez um pouco mais jovem que Bruce. - O que ele fez com ela? – perguntou, uma nota de pânico tomando sua voz.

Bruce não respondeu, continuava digitando no teclado, mostrando fotos de Helena ao lado de Nico.

- Bruce... o que ele fez? – ela insistiu preocupada.

- Ele conseguiu namorar Helena, mas ele não a sequestrou. Também sei que ele não a machucou, pelo menos não fisicamente. – falou tentando acalmar o pânico que via nos olhos de Selina. - Até onde descobri, nossa filha estava com ele por vontade própria, ela já era maior de idade quando o conheceu, então ele não cometeu nenhum crime acerca disso.

- Inacreditável... – Selina balançava a cabeça incrédula. - E você não me contou nada disso?

- Eu não sabia de nada até pouco tempo. Eu já disse a você que mantive minha palavra de manter distância de Helena.

- Eu a vigiei, mas tentei ser discreta... Não achei que ela estava envolvida com alguém tão perigoso! Eu devia ter colocado a porra de um drone perseguindo essa menina!

- Não tinha como você saber. – Bruce procurou acalmá-la. - Nico sempre foi discreto, se mantinha abaixo do radar. E Helena não contou nada disso a ninguém. Nem ao Alfred. Ele a manipulou muito bem, Selina. Ele tinha experiência em manipular garotas vulneráveis...

- Helena tem razão de nos odiar. – Selina constatou, arrasada. - Nós deixamos ela sozinha. Por nossa culpa ela caiu nas mãos desse canalha...

Bruce não disse nada, apenas aproximou-se de Selina e a abraçou, como fazia quando eram mais jovens.

- Bruce, nós precisamos encontrar esse maldito... precisamos descobrir o que aconteceu com Helena...

- Sim... Eu acho que sei quem pode nos dar essas informações. Vou ligar para o Gordon.

/

De volta ao presente, Helena ficou em seu quarto pela tarde toda, e acabou dormindo novamente após Alfred lhe dar outro analgésico, mas não teve outros pesadelos. Quando acordou bem mais tarde, ela se perguntou por que os pais ainda não a haviam procurado.

A garota acreditava que eles estariam furiosos, afinal, ela desobedecera a uma ordem direta de seu pai e se metera em uma encrenca tão grande que, conforme Alfred lhe contara mais cedo, foi preciso seu pai pedir ajuda ao Superman para localizá-la. O que era muito grave, pois ela sabia que seu pai não gostava de pedir ajuda a ninguém.

Ela nem podia imaginar o que seus pais fariam, mas tinha a vaga sensação de que era algo sobre trancá-la na mansão e jogar a chave fora.

Helena também estranhou e sentiu-se um pouco desapontada por Damian não ter aparecido mais. Também estava perturbada pelo que acontecera com Jason e sentia-se estúpida por tê-lo expulsado de seu quarto.

"Cresça, Helena" As palavras dele ainda ressoavam na sua cabeça.

Ela não sabia que horas eram, mas achava que devia ser bem tarde quando Alfred entrou novamente em seu quarto.

- Que bom que está acordada. – o mordomo disse agradável. – Deixei roupas no closet. Por favor, vista-se, a senhorita é aguardada na biblioteca.

Helena pensou em discordar, mas resolveu não discutir com o mordomo. Ela sabia que, caso se recusasse, poderia fazer seu pai ir até ali e isso não tornaria a discussão entre os dois mais fácil.

Resignada, Helena foi até o closet e viu que Alfred tinha colocado ali mais roupas do que ela já tivera na vida. Enquanto procurava algo, ela notou que suas roupas de quando morara na mansão ainda estavam penduradas, em perfeito estado. Helena ficou emocionada ao ver o vestido vitoriano que sua mãe dizia que a deixava parecida com uma garotinha fantasma. Por um instante ela lembrou dos tempos que vivera feliz na mansão ao lado de seus pais, pensamentos que ela tinha guardado em um local inacessível da mente por muito tempo. Sempre que esses pensamentos chegavam à superfície, Helena sentia faltar-lhe o ar e um nó imenso subia em sua garganta.

Foi somente quando Alfred batera na porta perguntando se estava tudo bem, que Helena voltara a si e resolvera substituir a camisola que usava por um conjunto de top e calça esportivas que parecia bem confortável. Ela foi até um espelho e amarrou os cabelos rebeldes em um rabo de cavalo. Fazia tempo que ela não alisava os cabelos e eles voltaram a ficar ondulados como os de sua mãe, embora ainda tivessem a cor exata dos cabelos de seu pai. Helena levou as mãos ao rosto, limpou os olhos e saiu do closet.

Alfred a aguardava e pareceu preocupado ao vê-la, mas nada disse. Eles caminharam em silêncio até a biblioteca.

/

Helena esperava encontrar seu pai com seu aspecto sombrio e rigoroso, esperava talvez, também encontrar sua mãe irritada e impaciente.

Mas não foi isso que ela encontrou na biblioteca. Seu pai não estava lá, muito menos sua mãe.

A lareira estava acesa iluminando o lugar que parecia mais cheio do que ela já tinha visto na vida. Ela reconheceu quase todos os rostos ali.

Na cadeira da mesa de escritório de seu pai, estava o irritante Dick Grayson que a olhava de modo afável, e de pé ao seu lado estava Bárbara Gordon.

Em uma poltrona perto da lareira estava Damian, e na poltrona ao seu lado estava um garoto que lhe era familiar, ele tinha um notebook no colo e sorriu amigável para ela. Por fim, mais afastado de todos, próximo a porta da sacada e olhando para o lado de fora, estava Jason Todd.

- Vou deixá-la a sós com seus irmãos. – Alfred falou ao mesmo tempo que se afastava de Helena e saía fechando a porta.

Helena cruzou os braços como se sentisse um frio repentino, intimidada por tantos olhares.

- Venha sentar-se, irmã. - Damian falou de onde estava, fazendo um gesto para que Helena se aproximasse.

Receosa, a garota caminhou até o divã que ficava em frente as poltronas.

- Você deve estar se perguntando por que estamos aqui. – Dick falou levantando-se de onde estava e caminhando até próximo das poltronas, ficando de pé ao lado da poltrona onde Damian estava. Era assustador como ele lembrava seu pai na juventude, podia ser filho biológico dele, ela pensou.

- Na verdade sim. – Helena o encarou em desafio, ele podia parecer, mas não era o seu pai. – Eu imaginei que o Wayne estaria aqui.

- Bruce pediu que viéssemos. – Bárbara disse ao sentar-se no divã ao lado de Helena. – E como ele não costuma pedir algo com frequência, nós viemos. – ela falou em um tom jocoso. - Mas também viemos porque queremos ajudar você.

- Nós interrogamos os homens presos no cassino ilegal. – Dick falou cauteloso. – Sabemos sobre Nico Marcondes... e nós sabemos de tudo o que aconteceu com você, Helena.

- Vocês não sabem de nada... – ela se alterou, entrando na defensiva. – Eu não preciso que fiquem fuçando na minha vida... Isso só diz respeito a mim. Nico Marcondes não é problema de vocês...

- É claro que é! – Foi a vez de Damian falar, o menino parecia furioso. – É nosso problema a partir do momento em que ele veio para nossa cidade, e principalmente: a partir do momento em que ele machucou alguém da nossa família!

- Você não está sozinha, Helena. – Bárbara apertou a mão da garota.

- Eu já disse que não preciso da ajuda de vocês!

- Quem disse que você tem escolha? – Jason disse ríspido, aproximando-se do grupo e encarando-a. – Você nem mesmo pode colocar os pés pra fora desse lugar sem ser caçada! Já tá passando da hora de você engolir esse estúpido orgulho Wayne! Você é igual ao seu pai, ele também acha que pode resolver tudo sozinho. Mas, como você pode ver... – ele fez um gesto apontando os presentes. - Ele nunca trabalhou sozinho.

- Quem é você pra me falar de orgulho? – Helena levantou-se e foi até Jason, encarando-o de perto. – porque, até onde eu sei, você também diz rejeitar essa família. Você não passa de uma hipócrita, Jason. UM HIPÓCRITA!

- E você não passar de uma menina mimada que acha que os seus problemas são o centro do universo! Olha em volta, garota, todo mundo aqui tá muito fudido! Você não passa de uma garota mimada, egoísta e IMATURA!

- PAREM VOCÊS DOIS! – Dick disse severo, se colocando entre eles. – Não foi pra isso que viemos aqui! Jason, você não precisa estressar Helena mais do que ela já está. – Ele falou para o irmão mais novo. – E Helena, nós não estamos aqui para lhe oferecer ajuda simplesmente, estamos aqui para cumprir as ordens de Bruce. E ele não lhe deu escolha. – disse incisivo.

- Ah, é? E quais são as mais novas ordens dele? Ele vai me prender nesse maldito lugar e colocar vocês como meus carcereiros?

- Não... – Dick disse calmo. – Por enquanto, você não vai mesmo poder sair da mansão. Não é seguro. Mas o plano é que você termine seu treinamento. Você vai ter o mesmo treinamento que todos nós tivemos.

- Ele vai me treinar? Que piada! Ele desistiu de me treinar quando me abandonou...

- Não, ele não vai. Nós vamos treinar você. – ele explicou. - Todos nós.

- E nós vamos ajudar o Bruce a capturar o Marcondes e colocar ele na cadeia. – Bárbara completou.

- Eu já disse que prefiro matá-lo... – Damian disse com raiva, ele agora estava ao lado de Helena. – Vou matar aquele cretino pelo que fez com você!

- Você não vai matá-lo, - Dick sentenciou. – Nós não fazemos isso.

- Fale por você. – Jason falou de onde estava.

- Dick está certo! Vocês não são assassinos! – a voz de Bárbara ressoou mais alta. – Vamos fazer justiça. – ela pegou na mão de Helena. – Todos podemos ajudar você. Damian e Dick vão podem lhe ajudar com combate e estratégia, eu e Tim – a propósito, aquele é o Tim – Bárbara apontou para o garoto com notebook que sorriu simpático para Helena, alheio as discussões que ocorriam. – Nós vamos ajudar você com tecnologia e investigação. E Jason vai lhe ensinar sobre armas e como se deslocar pela cidade. Ah, e fora isso... ainda tem a dra. Thompkins...

- Ela vai me ensinar o que? – Helena pareceu confusa, tentando processar tantas informações.

- Ela vai te ajudar as questões emocionais... – Bárbara disse cautelosa. - Ela tem alguma formação em psicologia, e não podemos chamar algum psiquiatra de Gotham, até porque a última que conhecíamos, acabou namorando o Coringa... Bem, não quero lhe assustar, Helena. Estamos aqui para oferecer toda essa ajuda..., mas não podemos lhe obrigar a aceitá-la.

- Pelo que me disseram, vocês podem me obrigar sim...

- Mas só vai funcionar se você quiser... então... – Bárbara apertou a mão de Helena. – Aceite, por favor.

Helena não se sentia impelida em fazer tudo aquilo, ela mal sabia se teria ânimo para sair da cama no dia seguinte, mas sabia que a coisa toda era irrecusável. Aquelas pessoas não iriam lhe deixar em paz tão fácil. Era estranho ver tanta gente se importando com ela, passara tanto tempo se virando sozinha que não costumava ter com quem contar. Mas, ela sabia que o treinamento seria bem-vindo para pegar Marcondes e ela poderia suportar a baboseira psicológica com a doutora Thompkins. Assim, Helena tomou sua decisão.

- Eu vou fazer o que vocês quiserem.

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NOTAS FINAIS

Esse capítulo ficou particularmente grande. Eu pensei em dividi-lo em dois ou suprimir algumas cenas, mas acabei por deixá-lo como foi concebido.

Bem, eu sei que Helena pode ser uma personagem irritante. Eu concordo com Jason, ela é imatura, talvez um pouco mimada. Mas eu acredito que os personagens imperfeitos são os mais fascinantes, e Helena está em uma jornada de enfrentamento de seus demônios e de aprendizagem. Ela leva sermões de muita gente, e ela merece todos. Ainda vão haver muitos conflitos nessa história, e Helena ainda irá crescer muito com eles.