CAPÍTULO 8

PARCERIAS IMPROVÁVEIS E ENCONTROS INESPERADOS

NOTAS INICIAIS

Nesse capítulo teremos uma participação especial.

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"mas por que motivo irei perturbar-lhe o espírito com a narração de meus sentimentos, se eu própria não chego a entender-me?"

Helena, Machado de Assis, 1876.

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- Eu mal posso acreditar que você aceitou tão fácil. – Bárbara falava para Helena após deixarem a biblioteca. Estavam no quarto da garota e comiam sanduíches que Alfred trouxera. – Eu achava que você ia ser mais difícil, sabe, tipo, seus pais...

- Eu sei que não sou fácil. – Helena respondeu sincera. – Mas estou cansada... Se eu tiver que lutar com alguém, que seja com Marcondes e não com vocês...

- Nós também não somos fáceis..., - Bárbara admitiu. - Mas você está levando muito bem, conseguiu até morar com o Jason. – Ela riu. - Se bem que, hoje à noite foi estranho. Achei que vocês eram amigos ou até algo mais...

- Eu não sei o que Jason e eu somos...

- O certo é que ele se importa com você.

- Você não ouviu tudo que ele me disse? – Helena indagou incrédula.

- Eu conheço aquele garoto, os atos dele são mais importantes do que as palavras. – Bárbara falou com propriedade. - Ele é o tipo de cara que se expressa através de ações. E ele veio aqui hoje. Isso diz muita coisa sobre o que você significa pra ele.

As palavras de Bárbara acalmaram o coração de Helena.

- Você é tão madura e equilibrada... – ela elogiou. - Nem parece fazer parte dessa família.

- Mas eles são a minha família também, e eu amo cada um deles, embora haja momentos em que eu tenho vontade de esganar cada um daqueles garotos.

Helena riu de verdade pela primeira vez em dias.

- Sabe, Helena, - Bárbara recomeçou, agora mais séria. – Acho que terminar seu treinamento é uma boa ideia. Você vai estar mais preparada para se defender... porque temos que admitir que, você sempre será marcada por ser filha de quem é, mas quando tudo isso acabar, quando você puder sair por aí, acho que você precisa buscar ajuda de verdade.

- Que tipo de ajuda? – Helena não entendeu.

- Ajuda para lidar com seus traumas... com sua raiva... – Bárbara explicou com cuidado. – Nenhum treinamento físico vai mandar isso embora. Acho que a Dra. Thompkins vai lhe ajudar, mas ela não é especialista. Então acho que você deveria procurar ajuda com um profissional, talvez um terapeuta...

- Não preciso de um terapeuta. Eu não sou maluca...

- Terapia não é pra maluco, é pra ajudar a gente a superar... é pra saúde da nossa mente... – Bárbara manteve seu ponto. - Você diz que eu sou madura e equilibrada, mas eu fiz terapia a vida toda... coisa que nenhum daqueles garotos fizeram... e eles precisam, viu? E como...

- Eu não sei, Bárbara... é difícil falar de tudo o que aconteceu na minha vida. Eu travo. Não consigo falar...

- No começo é difícil, mas se você achar um bom profissional, você vai evoluir muito... Enfim, me prometa que vai procurar ajuda...

- Eu prometo, Bárbara. – ela disse sincera.

Helena foi abraçada pela nova amiga. E elas conversaram até muito tarde aquela noite. Ela nunca tivera uma amiga com quem dividir seus pensamentos, mas se sentia acolhida por Bárbara e seus instintos confiavam na garota ruiva.

E Helena confiava em seus instintos.

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Bruce e Selina haviam decidido que aquele não era o momento para confrontar sua filha.

Eles ainda estavam lidando com o fato de sua filha ter namorado um homem perigoso e de ter quase sido vítima de um esquema de sequestro de pessoas. Dra. Thompkins os alertara que Helena poderia ter sérias cicatrizes emocionais depois do que passara e eles também ainda não sabiam tudo o que tinha acontecido com a filha no tempo em que estivera com Nico Marcondes.

E eles queriam respostas.

O casal entendeu que confrontar a garota era lhe trazer mais uma carga emocional que ela poderia não saber lidar. Eles sabiam que agora precisariam enfrentar os danos que aquilo causara a sua filha, bem como deveriam deter o causador daquilo tudo.

E já que optaram por não se aproximar de Helena, Bruce delegara aquela missão a seus outros filhos. Ele entendeu que fora um erro não ter treinado melhor Helena para que ela pudesse se defender de situações como a que passara, e como forma de mantê-la segura no presente e no futuro, ele decidiu que devia prepará-la, e já que não podia fazê-lo, recrutou as pessoas mais preparadas para tal.

Assim, enquanto Helena era confrontada pelos irmãos na mansão Wayne, Bruce e Selina esgueiravam-se pelos telhados e deslocavam-se pelos céus até o prédio do Departamento de Polícia de Gotham. Ao chegaram ao telhado, eram aguardados pelo comissário que estava ao lado do sinal. Ao encontrá-los, o policial os conduziu por um corredor estreito.

- Foi muito difícil conseguir trazê-lo até aqui. – O comissário explicou enquanto caminhava com o casal pelo corredor. – Tentem ser rápidos.

- Nós seremos. – o morcego respondeu quando o comissário abriu a porta da cela secreta. – Obrigada, Gordon.

- De nada. – ele respondeu para o morcego. – E eu quero recebê-lo de volta vivo. – o comissário sussurrou para Selina antes de sair, fechando a porta da cela e deixando o morcego e a gata frente a frente com o homem que vestia um terno amarrotado e tinha um curativo sujo no ombro.

O homem não pareceu assustado quando viu o casal na sua frente.

- Ora, o comissário resolveu tentar com aberrações... - ele sorriu um sorriso despreocupado.

- Esse é Porco, o comparsa mais antigo de Nero Marcondes – o morcego disse para a gata. – Nós o prendemos no porto, no dia que achamos as garotas no container. Gordon tem tentado fazer ele falar há dias.

- Parece que não fez um grande trabalho... – A gata desdenhou encarando o homem que sorria com os dentes amarelos. Ela caminhou até ele pegando-lhe no rosto com as garras afiadas. – Escute aqui, seu nojento, meu amigo grandão ali tem uma regra de não matar, mas, eu não tenho nenhum problema em relação a isso.

O homem apagou o sorriso presunçoso e seus olhos arregalaram-se para a mulher que o ameaçava. Ele pareceu considerar.

- O que você quer saber... gatinha? – indagou retomando o ar de superioridade.

- O que Nico Marcondes quer com essa garota? – Selina mostrou uma foto de Helena para o homem e ele a abriu o sorriso despreocupado outra vez.

- "la Vergine"... – ele falou umedecendo os lábios.

- Seja mais claro! – Selina mandou enquanto pressionava a carótida do homem com a garra afiada.

- Nós a chamávamos de "a virgem". – disse olhando a fotografia. - Nico cuidou dessa pessoalmente. Ela a queria, dizia que ela era valiosa...

- Por quê? – Foi a vez de Bruce falar, aproximando-se. Estava agora tão alterado quando Selina.

- Era um assunto secreto, só Nico sabia. – O homem deu de ombros.

- POR QUÊ? – Bruce indagou furioso levantando o homem pelo pescoço.

- Eu vou dizer o que sei... – o homem disse com dificuldade, atemorizado, sentindo a garganta apertar. O morcego diminuiu o aperto no pescoço dele. - A menina era filha de um ricaço. Nico queria se casar com ela. Mas a vadia o traiu... descobriu quem ele era e o entregou para a polícia. Nós temos muito inimigos na prisão... e ele foi levado para a ala errada e não sobreviveu...

- E agora ele voltou! Direto do poço de Lazarus, não é? – Selina indagou.

- Eu não sei nada sobre isso!

- Eu sei que você sabe muito mais do que está nos contando, mas de qualquer forma, nós vamos acabar com seu maldito mestre... – a gata falou enquanto passava a garrafa pelo rosto do mafioso.

- Esse esquema é maior do que vocês pensam. Tem muita gente poderosa ao lado de mestre Nico... gente mais forte que aberrações como vocês... – o velho homem olhou com desdém para o casal morcego.

- Luthor? – Selina indagou pressionando a garra novamente no rosto do homem. – É Luthor, não é?

- Quem é Luthor? – o homem disse sem entender.

- Se não é ele, quem é então? Quem está ajudando Nico Marcondes? – o morcego pressionou novamente o pescoço do homem.

- Eu vou estar morto se disser essa informação. – ele disse com dificuldade. - Então podem me matar logo! Eu não vou falar!

A gata trocou um olhar com o morcego. Ele moveu a cabeça em um gesto negativo. O morcego soltou o homem, fazendo o cair no chão com um baque surdo.

- Se querem um bom conselho, deixem que ele leve a vadia... – o homem disse do chão. - Mestre Nico voltou da morte um tanto... instável. Ele não medirá esforços, não poupou nem o próprio pai... E ele tem muita ajuda!

- Nunca mais chame ela de vadia! – Selina aproximou-se do homem no chão, as garras afiadas refletiram nos olhos dele.

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Instantes mais tarde, Selina estava de volta ao telhado do departamento de polícia e olhava para cidade iluminada, uma preocupação incomum tomando conta dela.

- Gordon já o levou... – a voz sombria do morcegou chegou aos seus ouvidos e ela pode sentir sua proximidade. Por um momento, queria que ele a abraçasse, como fizera na caverna, mas ele não o fez. – Ele reclamou do que você fez no rosto do capanga de Marcondes...

- Ele devia agradecer por eu ter devolvido aquele cretino ainda respirando. – a gata voltou-se para o morcego, estava angustiada. - Bruce, tem muito mais coisa sobre esse Marcondes do que a gente não sabe... e eu sei... eu sinto que não é coisa boa. O poço de Lázaro... o cassino de Luthor... Nós precisamos descobrir o que está acontecendo, precisamos descobrir quem está ao lado de Marcondes e o que estão querendo com nossa filha.

- Selina... nós vamos fazer isso.

O morcego não a abraçou, mas sua mão enluvada pegou a mão da gata e a segurou.

- Você disse que estaria nessa comigo.

- Claro, até o fim. – ela reafirmou ainda com a mão entre as dele.

- Nós vamos ao fundo disso tudo, vamos fazer o que já devíamos ter feito antes.

- O que você quer dizer?

- Vamos voltar aonde isso tudo começou.

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Helena iniciou seu treinamento mais cedo do que esperava.

O sol ainda não havia nascido no horizonte quando Damian chegou em seu quarto, obrigando-a sair da cama sob a ameaça de desligar o aquecedor, caso ela se recusasse novamente a se levantar. Após essa ameaça, Helena levantou amaldiçoando mentalmente o irmão. Pouco tempo depois, estava correndo em torno da mansão, o vento frio da manhã de inverno cortando seu rosto.

Fizeram dez voltas completas na casa. Depois do café da manhã, o irmão apresentou a Helena uma sequência de treino que ela devia fazer na academia da mansão todas as manhãs. No final da manhã, ela assistiu algumas demonstrações de combate do obstinado garoto e ele lhe ensinou algumas técnicas básicas de combate e defesa. Helena descobriu que Damian era incansável, além de ser o treinador mais rígido que ela já conhecera. Quando ele finalmente a liberou para o almoço, Helena estava exausta e muito dolorida.

À tarde Helena encontrou-se com Bárbara com quem ela aprendeu muito sobre Gotham e sobre a tecnologia que eles utilizavam para combater o crime na cidade. As garotas estreitavam cada vez mais os laços entre si. Com Bárbara, o treinamento tinha bem mais pausas e momentos de conversa.

Quando a noite caiu, Helena finalmente se encontrou com Tim Drake, com quem aprendeu sobre técnicas de investigação. Ela gostou muito dessa parte, pois sempre fora uma grande fã de histórias de detetive. Estava cansada, mas Tim lhe ofereceu um café que lhe deu ânimo para terminar a lição daquele dia. Ela descobriu que Tim era um garoto esperto, agradável e muito inteligente. Logo o considerou o Robin mais normal de todos.

Esse padrão de treinamento se repetiu pela semana inteira. Manhãs rigorosas com Damian, tardes agradáveis com Bárbara e noites divertidas com Tim. Helena também teve uma sessão de terapia com a dra. Thompkins, mas que não foi produtiva. Durante a sessão, ela se limitou a responder as perguntas que eram feitas, a boa doutora não conseguiu obter muito mais do que isso.

Helena não encontrara o pai nenhuma vez naqueles dias, Jason também não havia voltado a mansão e Dick desaparecera. Ninguém comentou sobre eles e ela não perguntou. A garota ocupava o tempo entre os treinamentos e o tempo que passa com Alfred, ela e o mordomo cozinhavam e conversavam na cozinha nos momentos de folga de Helena, como faziam quando ela era criança.

Barbara dissera a Helena que não tinham conseguido localizar Nico ainda, mas falou que havia pistas de que ele estava atuando nos arredores de Metrópolis e até em Gotham, e havia indícios que ele era protegido por gente poderosa. Bárbara omitiu que essas informações foram repassadas por Bruce.

No sábado, Helena não teve treinamento e pôde dormir pelo dia quase todo. À noite, ela voltou a cozinhar com Alfred. No jantar, Damian comeu o talharim que ela preparara com molho pesto, visto que Helena descobrira recentemente que o irmão era vegetariano. E embora ele tenha feito cara feia para sua comida, Helena sabia que ele havia gostado, pois ele repetiu o prato. Duas vezes.

Após o jantar, Helena voltara para seu quarto e encontrou sobre a cama uma bolsa que Alfred trouxera com suas coisas que estavam no apartamento de Jason. Sua besta e seu uniforme estavam ali, assim como as poucas coisas que ela possuía. Ela encontrou a carteira que continha seus documentos falsos, assim como todo o dinheiro que economizara nos meses que passara trabalhando, e tivera uma ideia do que fazer com ele.

Helena guardou o dinheiro em um envelope branco que Alfred lhe arranjara e voltou para guardar a bolsa. Descobriu que havia algo a mais ali: o suéter vermelho de Jason que ela gostava de usar para dormir. Ela observava o suéter quando Damian entrou em seu quarto.

- Irmã...

- Ei, D. Eu já tô quase terminando aqui, aí a gente pode ver aquele filme que você prometeu ver comigo.

- Estou aqui por isso. Eu não vou poder passar o resto do fim de semana com você. Aconteceram algumas coisas... O Jon disse que a Ravena está com problemas... – ele mentiu. - eles precisam de mim. Tem algum problema pra você?

- Claro que não. – Helena também mentiu. - Eu vou ficar bem. Essa casa tem uma biblioteca ótima... vou me distrair bastante.

- Tem certeza? – ele quis se certificar.

- Não se preocupe. – Helena forçou um sorriso. - Seu amigo e sua namorada precisam de você.

- Ela não é minha namorada! – O garoto protestou.

- Claro, claro...

Helena foi até o irmão e o abraçou, mesmo ele fazendo cara feia. Apesar de ter dito que estava tudo bem, quando Damian saiu, ela se sentiu muito sozinha.

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Uma hora mais tarde, Helena andou na mansão vazia até a biblioteca. Vestia o grande suéter vermelho que pertencera a Jason e calçava confortáveis pantufas cor de rosa, cortesia de Alfred. Entrou na biblioteca escura e acendeu a lareira. Andou por ali, observou a mesa de seu pai. Procurou o pequeno bar que havia na biblioteca, mas descobriu que as bebidas que existiam ali no passado, não estavam mais ali.

- Talvez não fosse interessante ter bebidas de fácil acesso numa casa cheia de adolescentes, pensou desapontada.

Ela olhou os velhos livros por um tempo, encontrou um que lhe interessou, mas não chegou a pegá-lo. Sua atenção voltou-se para o som do velho relógio de carrilhão que marcava vinte horas, ela o olhou e então lembrou. Caminhou até o velho relógio sentindo-se tentada, ela ainda lembrava da senha. Talvez tivesse mudado naqueles anos, mas ela podia tentar.

Por que não?

Não devia ter ninguém lá. Alfred disse que seu pai estava fora da cidade, seu irmão também estava. Os outros pareciam não estar disponíveis. Então ela foi até o relógio, colocou os ponteiros na posição certa e, como num passe de mágica, a passagem se abrira em sua frente.

Ela não hesitou e entrou no elevador.

Desceu lembrando de como a descida era rápida e desconfortável. Se equilibrou para não cair, quando o elevador parou abrupto. A porta se abriu e ela então, ela pode ver o lugar.

A caverna parecia um pouco diferente, mas ainda era espetacular.

Caminhou pelas vitrines de troféus, agora cheia de diferentes trajes de morcego e vários trajes de Robins. Um deles estava muito danificado, tinha muitas partes rasgadas e queimadas... e ela o observou, sentindo um calafrio.

- Jason... – sussurrou tocando o vidro.

Ela deteve-se por um momento, mas afastou-se e continuou a explorar o lugar, assim como fizera muitos anos antes. Quando chegou em frente ao grande computador, ela observou que a tela estava funcionante e mostrava muitas das áreas da cidade em tempo real. Helena perdeu-se por um tempo, atenta as imagens de Gotham, não percebeu o veículo que estava estacionado na rampa próxima.

- O que você está fazendo aqui?

Ela virou-se sobressaltada. O morcego saía de seu veículo. Parecia que saíra de uma luta, respirava cansado, tinha vários arranhões e fuligem cobria seu traje.

- Eu... eu... – Helena sentiu-se intimidada.

- Você não pode vir a esse lugar. – ele falou sério passando por ela e indo até o computador, desligando as telas.

- Se o senhor não me prendesse aqui, eu não me obrigaria a vir até esse lugar pelo simples fato de ter algo pra me distrair..., Mas claramente o senhor não liga pra mim, Wayne...

O morcego parou o que estava fazendo e voltou-se para Helena, olhando-a. A garota prendeu a respiração, imaginando o que estava por vir, então ele simplesmente tirou a máscara e o capuz de proteção.

- Eu não sou o seu pai.

Dick Grayson estava na frente de Helena, segurando a máscara e vestindo o traje do morcego.

- Você? – Helena indagou perplexa. – Mas... onde? Onde ele está?

- Ele teve que viajar. – Dick explicou. – Eu dou cobertura para ele quando isso acontece. Vamos... – ele disse passando por ela. – Você não pode ficar aqui.

Ele não deu espaço para discussão, então Helena o acompanhou. Pegaram o elevador e logo estavam na biblioteca.

Dick foi até a mesa de Bruce e começou a revirá-la, procurando alguma coisa.

- Vocês andam pela casa vestidos assim? – Helena, que agora estava jogada na sua poltrona favorita, perguntou mais por tédio do que por qualquer outra coisa.

- Você não está muito melhor. – ele disse parando para olhá-la. - E aliás, esse suéter é meu.

- Não é seu. É do Jason.

- Ele deve ter pego quando ocupou o meu quarto. Enfim, estou com pressa. – Dick falou voltando a procurar algo na mesa. – Tenho um compromisso.

- Que inveja de você... Eu não tenho absolutamente nada pra fazer. – Helena disse entediada, os longos cabelos caindo pelo braço da poltrona.

- Achei que Damian ia te vigiar, quer dizer, ele ia lhe fazer companhia... – Dick falou ao olhá-la novamente, ele havia encontrado o que procurava. Um cartão grande e muito chique.

- Damian teve um compromisso. Algo com a namoradinha dele...

- Até o Damian tem namorada. O que eu tô fazendo da minha vida? – ele riu-se. - Ei, - falou pensativo olhando o cartão que tinha em sua mão. – Por que você não me acompanha hoje à noite?

- Te acompanhar? – Helena indagou desconfiada.

- Eu tinha que conseguir uma acompanhante e não tive tempo. Eu ia chamar a Babs, mas ela está patrulhando a cidade hoje...

- Você não está me chamando pra sair né? Isso seria estranho... – Helena disse desconfiada. - E você já entendeu que eu não sou uma grande fã sua...

- Não estou, não! – Ele apressou-se em dizer. - E eu não vou sair para me divertir, vou cumprir um compromisso do Bruce. Mas, se você prefere ficar sozinha aqui na mansão... – ele disse se dirigindo para a saída da biblioteca. - Só não acorde o Alfred, Deus sabe que o velho merece dormir um pouco...

Dick já quase saía da biblioteca quando Helena o acompanhou.

- Eu vou com você. – ela decidiu tentando acompanhá-lo. - Mas até onde eu sei eu não posso sair da mansão.

- Não se preocupe, vamos estar seguros. – ele disse subindo as escadas rapidamente, Helena quase corria para acompanhá-lo.

- E o que é? Vamos para alguma missão? Impedir algum assalto? Pegar algum criminoso?

- Vamos pra uma festa. – Dick falou ainda a frente dela.

- Você ficou louco? Eu nem posso colocar o nariz fora desse lugar e você quer me levar em uma festa?

Dick parou em frente a porta do próprio quarto, abriu-a e voltou-se para Helena.

- Confie em mim, você vai estar segura. – falou entrando. – Nós saímos em meia hora. Vista algo chique.

Ele fechou a porta na cara da garota.

- Eu odeio esse cara... – Helena resmungou saindo pelo corredor.

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Helena desceu as escadas da mansão quase uma hora mais tarde. Dick estava inquieto aguardando-a no final da escada. Vestia um smoking caro e parecia saído de uma festa de debutantes. Ao vê-lo, Helena lembrou de Jason, imaginando como ele ficaria incrível em um traje daqueles.

- Está atrasada. – Dick disse quando se encontraram. – Uau, você está muito chique! Onde conseguiu esse vestido?

Helena vestia o vestido branco com rendas pretas que sua mãe usara no aniversário de seu pai há dez anos. O vestido deixava seu colo nu e colava-se em seu corpo, realçando cada uma de suas curvas.

- Estava por aí... – ela respondeu sem querer entrar em detalhes.

- Você está ótima, mas, eu acho que está faltando alguma coisa...

- Perfeitamente, Mestre Dick. – Alfred entrava no hall. – Senhorita Helena, use isso.

Alfred abriu um estojo de veludo onde havia um belo colar e brincos de diamantes.

- Ei, eu conheço essas joias! Minha mãe já as usou uma vez...

- Sim, eram de sua avó. – o mordomo explicou.

- Eu não posso, Alfred. – Helena falou hesitando em tocar os diamantes. - Isso deve valer mais que a minha vida...

- Tenho certeza de que não valem, senhorita.

- Me permita. – Dick falou pegando o colar o colocou no pescoço de Helena, abotoando o fecho, após ela afastar os cabelos. Depois, ela colocou os brincos.

- Agora você está perfeita. – o rapaz falou enquanto trocava um olhar cúmplice com o mordomo.

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Mesmo sob protestos de Dick e Helena que queriam que o velho mordomo descansasse aquela noite, Alfred os levou até o aeroporto.

Havia um jato particular os esperando e fizeram um voo de uma hora para Nova York.

Chegaram ao museu muito atrasados, mas Dick achou isso ótimo, pois não havia mais tantos fotógrafos aguardando as pessoas que chegavam.

- Nossa, Selina ficaria louca em lugar como esse... – Helena não pôde conter o comentário ao entrarem no museu onde uma exposição de arte greco-romana estava sendo inaugurada. Era grandioso.

- Sim, ela ia querer roubar tudo... – Dick brincou enquanto levava Helena pelo braço.

- Tá todo mundo olhando pra gente... – Helena disse ao perceber que chamavam atenção ao entrar no lugar.

- Sim, porque foi o Bruce que patrocinou essa exposição e eu vim para representá-lo. – Dick sussurrava para Helena enquanto cumprimentava e sorria para os presentes.

- Senhor Richard... Senhor Richard... – uma mulher os chamou e os abordou, barrando a passagem deles. Dick revirou os olhos ao vê-la.

- Senhor Richard, eu sou Vick Vale do Gotham Globe...

- Eu sei quem você é – ele falou irritado, tentando passar com Helena, mas a mulher ficou na frente dos dois, barrando a passagem.

Senhor Richard... por que não me dá uma entrevista? Vai ser rápido...

Dick suspirou, Helena permanece ao seu lado, achando engraçado ver o garoto prodígio irritado.

- Que seja rápido. – ele cedeu.

- Claro, - a mulher falou colocando o celular para gravar. – Bem, me fale do seu pai, senhor Richard, como o senhor se sente em representá-lo em tantos eventos ultimamente... todo mundo fala que vocês são extremamente parecidos... Igualmente bonitos, se me permite dizer... Então, como é ser o primogênito da Família Wayne?

- É Richard, conte a ela como é ser o primogênito da família Wayne... - Helena falou irônica soltando-se do braço de Dick. – Vou procurar uma bebida...

Dick nada pôde fazer para impedir Helena de sair de perto dele, pois Vick continuava com o celular em suspenso aguardando sua resposta. Em questão de segundos, ele perdeu Helena na multidão, mas ele sabia que ela não iria longe.

Os diamantes ainda tinham os rastreadores.

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Helena estava em uma grande sacada que havia no primeiro andar do salão e olhava o céu estrelado enquanto tomava uma taça de champanhe. Estava mais relaxada do que estivera quando chegara aquele lugar e fazia cálculos mentais sobre as possibilidades de fugir dali sem ser capturada por Dick.

- O céu está lindo hoje, não acha?

Ela olhou na direção da voz feminina e ficou verdadeiramente surpresa.

Era a mulher da festa na mansão. A mulher bonita demais para ser humana. Ela era mais linda ainda de perto e Helena não conseguia parar de olhá-la.

- S-sim, a noite está linda. – Helena gaguejou, nervosa.

- Acho que ainda não fomos apresentadas. Sou Diana. E você deve ser Helena, não é mesmo?

- Meu pai falou isso pra você? – Helena indagou fechando o semblante, embora não visse ameaça naquela mulher que parecia perfeitamente amigável. Naquele momento, ela nem percebeu que chamara Bruce de pai.

- Sim, ele falou. – a mulher respondeu simpática.

- Você é a namorada dele? – a pergunta escapou mais rápido do que Helena pôde conter.

A mulher linda sorriu e ficou ainda mais bonita, se é que isso era possível.

- Não, não sou.

- Eu vi vocês dois juntos. Pareciam... íntimos... Se você não é namorada dele, o que vocês são? – Helena indagou quase em desafio.

A mulher não pareceu perturbada com as perguntas indiscretas da mais jovem. Parecia estar achando a situação divertida.

- Eu mentiria para você se dissesse que não houve nada entre mim e seu pai, ou se dissesse que não há mais nada... – ela parou por um momento, olhando para o horizonte. - Eu acho que sempre haverá algo.

Helena ficou sem entender.

- Então vocês não estão juntos? Mas vocês pareciam ter muita... – Helena procurou as palavras para descrever a cena que vira. – Pareciam ter muita atração.

A bela mulher abriu um sorriso enigmático.

- Você é muito jovem ainda..., – disse olhando Helena com gentileza. - Mas, se eu posso dar um conselho sentimental para uma jovem como você, eu diria: às vezes, a pessoa com quem você tem uma grande atração, simplesmente não é o amor da sua vida.

- E o meu pai não é o amor da sua vida? – Helena, mais uma vez, não conseguiu segurar a boca.

- Não, e nem eu sou o amor da vida dele. Ficou bem mais fácil depois que nós entendemos isso... - A mulher falou melancólica, o sorriso bondoso desaparecendo de sua face.

Helena se sentiu culpada.

- Desculpe... eu não sei o que deu em pra fazer essas perguntas... – ela se desculpou, algo que raramente fazia.

- Você tem ciúmes do seu pai, Helena. Isso é perfeitamente normal.

- Você está enganada, eu nem gosto dele... – Helena rebateu. - E ele não me dá a mínima...

A mulher sorriu de novo aquele sorriso enigmático.

- Bem, eu vou lhe dar outro conselho: quando se trata do seu pai, nada é o que parece ser... de todas as pessoas que eu conheço, ele é o que mais ama, o que mais sente, o que mais se importa..., mas também é o que menos sabe expressar tudo isso. Ele quer tanto proteger todo mundo, que esquece de si mesmo...

- Você está descrevendo uma pessoa que eu não conheço...

- Você conhece. Tente se lembrar disso. – a mulher tocou-lhe o braço. – Eu preciso ir agora, tenho que cumprimentar a todos, sou a curadora dessa exposição. Você é realmente linda, Helena. Foi um prazer conhecê-la.

A deusa se afastou deixando Helena inebriada por sua aura. Ela ainda pensava nas palavras de Diana quando foi abordada por Dick, que finalmente a encontrara.

- Eu vi que você conheceu a Diana. – ele falou chegando ao lado dela, parecendo relaxado. – Ela ficou muito contente quando eu avisei que você viria.

- Ficou? – Helena ainda seguia a mulher com o olhar. - Ela é maravilhosa.

- Clark estava lá embaixo, ele perguntou por você, mas precisou sair, de repente. Acho que Metrópolis precisava dele...

Helena gostou que Clark não estivesse mais ali, ela não sabia se tinha coragem de encará-lo depois da noite em que ele a salvou, era tudo muito constrangedor. Então ela olhou para Dick que estava todo sorrisos ao seu lado e lembrou de como estava irritada com ele. Quis tirar aquele sorriso estúpido da cara do rapaz.

- Então, você voltou aqui por que já terminou de falar do seu pai e de como vocês são parecidos?

- Nós não somos parecidos. – Dick retorquiu recostando-se na sacada, um vento frio batendo-lhe na face. – E nós brigamos o tempo todo.

- Você faz tudo que ele quer... quando ele não está, é você quem toma conta de tudo... Você é o herdeiro natural dele. Ele te escolheu.

- Ele não me escolheu, Helena. – Dick disse tornando-se sério. - Eu apenas tive a infelicidade de perder meus pais, assim como ele. Mas você não entende o que é isso, você não perdeu seus pais. Eles se afastaram de você para sua segurança e não porque estão embaixo da terra como os meus estão.

- Você não sabe do que tá falando, eu cresci sozinha... – Helena rebateu.

- Você não está sozinha, nunca esteve. Você só precisa chamar, e eles vão estar ao seu lado. Então não venha me dizer que entende o que é ficar sozinho no mundo, por que você não sabe! – ele disse muito irritado. - Vou cumprimentar alguns amigos, nos vemos na hora de ir embora.

Dick deixou Helena sozinha e não voltou a procurá-la pelo resto da festa. Helena aproveitou o tempo para olhar as obras de arte da exposição enquanto passava por sua cabeça as conversas que tivera aquela noite.

Muitos pensamentos furiosos lhe tomavam a mente. Todo mundo parecia querer lhe dar uma lição de moral. Todo mundo queria dar conselhos. Todo mundo achava que ela devia levantar as mãos para o céu e agradecer pelos pais que ela tinha. Mas isso não a convencia. Só ela sabia o que passara. Só ela conhecia o peso que levava consigo. Os pais de Dick não tiveram escolha, ela pensava. Os pais dela puderam escolher e mesmo assim a abandonaram.

Só ela sabia como era se sentir rejeitada.

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Dick chamou Helena muito mais tarde, anunciando que era hora de irem embora. O rapaz não falou com ela no caminho até o aeroporto, e permaneceu calado olhando o celular. Helena, que perdera seu celular em Metrópolis, apenas observava as ruas. Não trocaram palavra no avião e permaneceram assim no carro que os levara de volta a mansão. O clima entre os dois, que nunca fora bom, e parecia não ter melhorado muito depois daquela noite. Chegaram na mansão ao raiar do dia e cada um foi para seu próprio quarto, sem despedidas.

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Na tarde do dia seguinte, Dick estava na caverna observando como estava a cidade. Estava muito concentrado verificando os registros policiais do dia, e tomou um susto quando um jornal fora jogado em cima de sua bancada.

- Que porra é essa?

Dick pegou o Gotham Globe que Jason jogara na bancada. Havia uma foto dele na festa do dia anterior e Helena estava ao seu lado, parecendo muito mal-humorada, por sinal.

A manchete era: "Filho de Bruce Wayne aparece em festa com morena misteriosa"

Dick teve que rir.

- Por que está rindo, imbecil? – Jason indagou irritado.

- Esse título, é ridículo. – ele riu novamente. - Pobre, Vick. A carreira dela é só ladeira abaixo...

- O que você estava fazendo nessa festa com Helena? – Jason o confrontou. – Vocês não a prenderam aqui para protegê-la? E daí você leva ela pra outra cidade e a expõe para todo mundo?

- Ela estava protegida. – Dick disse ficando sério. – Metade da Liga da Justiça estava naquele lugar. Não corremos riscos.

- Agora o tal do Marcondes sabe exatamente onde ela está.

- Ele sempre soube. – Dick falou sem dar importância. – É meio óbvio que ela está com a família do pai dela, né? Daí, alguém entrar na mansão é que são outros quinhentos...

Mas não era isso que incomodava o irmão mais novo de Dick.

- O que você queria levando-a para sair? – Jason não se conteve. – Ela é sua irmã, cara!

- E sua também.

- Eu não tenho nenhum parentesco com aquela garota.

- Ao pé da letra, eu também não tenho... – Dick deu de ombros.

- Você não ousaria... – Jason segurou o irmão pelos ombros. – Você sempre tem que ficar com tudo, não é mesmo?

- Eu não tô te entendendo, Jay. – Dick parecia confuso com a raiva do irmão. – O que você acha que eu quero?

- Nada. – Jason disse afastando-se. – Sabe de uma coisa? Eu não ligo. Só mantenha ela em segurança.

- É o que eu estou tentando fazer! - Dick disse alto para o irmão que já lhe dera as costas, Jason apenas levantou o dedo do meio para o irmão mais velho, sem se voltar para olhá-lo.

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- Mestre Jason? – Alfred chamou o garoto instantes mais tarde, quando ele saía da biblioteca.

- Oi, Al. – Jason falou tentando se acalmar, embora sua agitação fosse evidente. – Eu já estou de saída.

- Espere um instante, eu tenho uma coisa para o senhor. – o mordomo falou buscando um envelope branco na mesa da biblioteca e entregando-o ao garoto. – é da senhorita Helena.

O mordomo lhe ofereceu o envelope que parecia muito cheio.

- Eu não quero.

- Leve-o, mestre Jason. Abra-o quando estiver mais calmo.

Ele não discutiu e colocou o envelope no bolso interno do casaco.

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Jason não abriu o envelope nos dias que se seguiram. Concentrou-se em seus negócios e tivera a sua semana mais violenta desde que retornara da Terra 51 e decidira obedecer às regras do morcego. Naquela semana, os criminosos que se meteram em seu caminho pagaram um preço muito alto.

E enquanto Jason fazia criminosos pagarem caro por sua raiva, Helena continuou seu treinamento com Bárbara e Tim, pois Damian não retornara de sua viagem com os Titãs. Ela encontrara Dick mais algumas vezes na mansão, mas eles fingiam que não tinham visto um ao outro, e não se falavam.

E enquanto os filhos de Bruce enfrentavam seus percalços, o patriarca da família Wayne estava muito longe dali, do outro lado do oceano.

Bruce e Selina viajaram para a Itália com o propósito de refazer os passos de Nico Marcondes, desbaratar suas operações e, principalmente, descobrir quem o estava apoiando e protegendo.

Naquela semana, eles trabalharam juntos, mas não como morcego e gata, eles usaram capuzes para esconder suas identidades e foram atrás da família Marcondes em várias cidades da Itália. Eles interrogaram comparsas de Nico em Nápoles, acabaram com um esquema de contrabando em Milão, entregaram à polícia os aliciadores que encontraram em Veneza e fecharam uma negócios ilegais dos Marcondes em Florença.

A família Marcondes estava pagando muito caro por terem colocado um preço pela cabeça de Helena Bertinelli e isso já era comentado nos círculos criminosos por todo o país. Ninguém sabia nada sobre a garota ou porque ela era importante, nem quem era o misterioso casal mascarado que estava aterrorizando os criminosos associados aos Marcondes.

Na noite do quinto dia deles na Itália, Bruce e Selina coletavam pistas.

Eram dez da noite no motel vagabundo onde o casal estava. O quarto era iluminado apenas pelas luzes neon que piscavam no letreiro da boate em frente. Bruce dormira no sofá pequeno demais para seu tamanho e Selina ocupava a cama suja e velha.

- Temos que ir. – Ele disse levantando-se, ainda dolorido por dormir no sofá desconfortável.

- Acho que precisamos de um banho. – Selina disse abrindo os olhos, igualmente cansada.

- Depois de seguirmos essa pista, podemos voltar ao hotel e descansar um pouco.

- Você disse isso há dois dias. – Selina disse se espreguiçando. – Bruce, já rodamos todo esse país e estou gostando muito de arrasar com os cretinos que machucaram minha filha, mas será que não devíamos voltar? Não descobrimos muito mais do que já sabíamos...

- Ainda não, Selina. – Bruce falou colocando novamente o capuz. – Ainda precisamos saber quem está ajudando Marcondes e o porquê.

- Eu ainda acho que é o Luthor, - Selina disse enquanto fazia alguns exercícios de alongamento. - Será que o feitiço da Zatanna está perdendo força?

- Falei com Zatanna, ela disse que não é possível. – Bruce falou enquanto juntava os poucos pertences.

- Talvez Nico seja só mais um filho da puta pirado...

- Não, ele voltou da morte... Ninguém faz isso sem a ajuda de pessoas poderosas.

- Bruce... O que você sabe? – Selina desconfiou.

- Hora de ir. – Ele se encaminhando para a janela, após deixar o pagamento pelo quarto em uma mesinha. - Tem alguns tios e primos de Nico que vamos conhecer...

Aquela noite, Bruce e Selina invadiram uma reunião de conselho da família Marcondes.

Houve muitos tiros e uma luta corporal intensa, tudo terminou com seis membros da família Marcondes e mais vinte quatro comparsas desacordados. A polícia foi chamada por uma ligação anônima realizada por Selina e muitas prisões foram feitas aquela noite.

Mas, enquanto a polícia prendia mais integrantes da família Marcondes do que nos últimos dez anos, no topo de um velho prédio de escritórios não muito longe dali, um dos primos de Nico era segurado pelo morcego na borda do telhado

- Quem está ajudando Marcondes? – o morcego repetia pela terceira vez para o homem que ele segurava pelo pescoço.

- Você devia jogá-lo... – a gata dizia despreocupada, estava deitada confortável da beirada do telhado. – Talvez consigam limpá-lo do asfalto com uma pá.

O morcego olhou severo para a parceira que parecia se divertir com o pânico do homem de terno caro que ele segurava.

- Eu não... eu não sei... – o homem repetia.

- Você era o parente mais próximo de Marcondes, - o morcego tentou mais uma vez. - Conte quem o está ajudando...

- Eu não sei...

- Eu não vou perguntar de novo. – o morcego aumentou a pressão no pescoço do homem.

- Eu já teria jogado esse cretino. – Selina disse entediada.

- Fale! É sua última chance! – o morcego o balançou no ar.

- Rômulo!Rômulo, o chacal. – o homem disse apavorado. – Ele é o braço direito de Nico. Ele o ajudou a voltar, ele sabe de tudo... Por favor, não me mate...

- Finalmente! – a gata sorriu satisfeita. - Pode jogá-lo agora?

/

Uma hora mais tarde, Bruce e Selina estavam em uma suíte de luxo em um dos melhores hotéis de Roma, o quarto estava registrado sob nomes falsos e o casal usara disfarces ao chegar ao local.

Selina saiu do banho usando um roupão confortável e enxugando os cabelos com uma toalha. Bruce digitava em um computador na mesa de trabalho que havia na suíte.

- Você devia descansar um pouco. – Selina falou aproximando do parceiro. – E precisa tomar um banho. Urgente.

- Estou procurando por esse Rômulo. Ele tem um currículo imenso. Assassino, preso por tráfico de drogas, armas e aliciamento de mulheres... – ele mostrou para Selina a foto do homem estava na tela do computador.

- Deus... esse é o tipo de gente que andava perto da nossa filha? – Selina perguntou preocupada.

- Se encontrarmos ele, descobriremos quem está ajudando Nico. E poderemos voltar para Gotham...

- Imagino que você queira que a gente saia imediatamente, né. – Selina disse resignada. – Acho que ainda tenho uma muda de roupa que não está imunda...

- Não. – Bruce disse fechando o laptop. – Amanhece em uma hora, não vamos encontrá-lo mais nas ruas. Podemos dormir algumas horas...

- Ótimo. Arranje um lugar pra você, porque aquela cama maravilhosa ali é só minha.

Bruce suspirou conformado, pelo menos o sofá daquela suíte era quase do seu tamanho.

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Na noite seguinte, Selina vestia um vestido curto e justo demais e Bruce usava um terno barato. Ambos estavam em um bar de má fama na periferia de Roma. Esperavam encontrar Rômulo, o chacal naquele lugar.

- Esse cara vai estar aqui mesmo? – Selina disse após fingir beber por uma hora inteira. – Ele precisa aparecer hoje, temos que voltar pra Gotham, estou preocupada com Helena...

- Helena está muito bem protegida. – Bruce disse enquanto seus olhos ágeis esquadrinhavam o lugar mais uma vez.

- Você confia mesmo nos seus rapazes, heim?

- Eu não confio em ninguém, mas se tivesse que confiar, seria neles. Helena está bem, não se preocupe.

- Certo, mas o que esse Rômulo pode nos dizer de tão importante?

- Eu tenho uma teoria... – Bruce olhou para a companheira. – Acho que Nico Marcondes não foi atrás de Helena para aliciá-la para trabalhar em seus negócios escusos. Ele é um chefão da máfia. Quais as chances de ele ir pessoalmente atrás de uma garota aleatória e ela ser justo a filha de Bruce Wayne? Eu acho que tem mais... Eu acho que ele sabia exatamente quem ela era, e acho que isso está ligado a quem o está ajudando.

- Luthor? Achei que tivéssemos descartado ele.

- Pode ser, mas eu tenho outra suspeita. – Bruce falou ao mesmo tempo em apontou com a cabeça para o homem de paletó branco que ele vinha observando. – É ele. Vamos segui-lo.

Eles saíram discretamente atrás do homem que se direcionou para a saída do bar. Caminharam abraçados alguns passos atrás do homem, fingindo-se de namorados. Após andarem um pouco, o homem parou para conversar com outro que encontrara na calçada de um club.

- E agora? Continuamos andando? – Selina indagou quando passaram pelos homens que conversavam.

- Se continuarmos, vamos perdê-lo...

- E então?

Bruce pensou rápido e agarrou Selina, pressionando-a contra um carro que estava estacionado na rua. Beijou-a e suas mãos desceram pelos quadris dela, pressionando-a contra seu corpo. Eles chamaram a atenção dos homens que conversavam. Pouco depois, o homem que seguiam se despediu do outro e saiu caminhando pela rua, soltando um comentário indecente ao passar pelo casal que ainda se beijava.

Quando ele tomou distância suficiente, Bruce e Selina se separaram.

- Eu... – Bruce começou desculpando-se. – Foi necessário...

- Não temos tempo pra isso. – Selina disse observando o homem que entrava em um beco ao final da rua. Eles apressaram o passo para segui-lo, mas quando dobraram a esquina, o beco estava vazio.

- Mas, onde ele está? – Selina indagou ao ver que o homem desaparecera.

Eles caminharam para o beco, e no instante seguinte sentiram-se observados.

- Cuidado! – Bruce teve tempo de dizer quando viu o primeiro deles.

Vários vultos vestidos de preto pularam dos prédios. Eles atacaram o casal, pareciam ninjas e usavam katanas.

Bruce e Selina entraram em luta corporal com os ninjas, e mesmo desarmados e cercados, conseguiram reagir e lutar. Mas, os atacantes eram muitos e eles não resistiriam por muito tempo.

- Prenda a respiração! – Bruce gritou para Selina e no instante seguinte, ativou um dispositivo que tinha no bolso. Uma fumaça branca se dispersou no ambiente e os homens de preto começaram a cambalear.

Selina mantinha uma das mãos cobrindo o rosto e fugiu para fora do beco, sendo seguida por Bruce. Ambos correram por algum tempo, e quando chegaram em outro beco vazio, pararam para respirar, escondidos atrás de um contêiner de lixo.

- Que porra foi aquela, Bruce? – Selina indagava exasperada. – Achei que estava lidando com a máfia e não com malditos ninjas!

Bruce não respondeu, estava pensativo. As coisas finalmente estavam claras em sua mente. E sua teoria parecia estar correta.

Os homens no beco não eram ninjas, eram membros da liga dos assassinos. E Bruce finalmente constatara o que já especulava há algum tempo, agora ele tinha certeza de que o mafioso que seduzira sua filha, não a escolhera por acaso. Ele fora mandado por alguém, alguém que Bruce conhecera muito bem. Afinal, ele tinha um filho com ela.

Talia Al Ghul.

NOTAS FINAIS

Acho que todos os capítulos serão grandes daqui pra frente, porque quero terminar essa história logo, mas ainda tenho muito pra contar. Por enquanto, a previsão é de que iremos no capítulo 15.