MÃES E FILHOS
"— Será para mim um eterno remorso, se Helena vier a ser desgraçada, disse ele. Não tivemos o mesmo berço, vivemos nossa infância debaixo de teto diferente, não aprendemos a falar pelos lábios da mesma mãe. Importa pouco; nem por isso a quero menos."
Helena, Machado de Assis, 1876.
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Jason e Helena estavam de volta a mansão.
Alfred os recebeu e os conduziu pela biblioteca que ainda tinha móveis revirados e marcas de tiros. O mordomo os levou até a caverna, onde eles sabiam que eram esperados.
Helena não se surpreendeu ao ver que seus pais a aguardavam. Mesmo sem estar surpresa, ela ainda sentiu o frio na barriga que vinha toda vez que os encontrava. Os pais de Helena usavam roupas de viagem e pareciam ter chegado há pouco. Damian também estava lá e parecia muito tenso, o que deixou a garota nervosa.
- Estão todos me esperando? – Helena fingiu calma. – Eu juro que não fiz nada dessa vez... – ela começou a se explicar para os pais. - Eu não desobedeci às regras... eu só saí da mansão por que uns ninjas...
- Nós sabemos. – Bruce interrompeu a filha ao mesmo tempo que mostrava na grande tela do computador o momento em que a biblioteca fora invadida. – Nós estamos aqui porque Damian nos chamou. Seu irmão quer contar algo que descobriu.
Helena e Jason se entreolharam apreensivos.
- Damian, você pode falar. – Bruce falou em seu tom sério.
O garoto deu um passo à frente e lançou um olhar assassino para Jason que ainda estava ao lado de Helena, em seguida olhou para a irmã.
- Eu sei quem ressuscitou Nico Marcondes e o está ajudando. – disse muito tenso. – É a minha mãe. – Helena o olhou surpresa. – E eu não estava ajudando os Titãs. Na verdade, eles que estavam me ajudando a procurar o paradeiro dela. Eu sei que ela está por perto, mas ainda não consegui achá-la. Consegui descobrir que ela mandou assassinos para a mansão, mas eu não consegui chegar a tempo... desculpe. – disse pesaroso.
- Nós já sabemos que sua mãe é a mentora disso tudo. – Selina disse contendo-se para não jogar no menino a raiva que sentia da mãe dele.
- Aqueles homens não iam matar sua irmã. – Bruce acalmou o filho. – Eles queriam levá-la.
- O que sua mãe pode querer comigo, D.? – Helena indagou sem entender, ela sabia pouca coisa sobre a mãe do irmão, mas sabia que ela era uma criminosa, assim como a sua mãe.
- Deixem isso para os adultos. – Bruce interveio novamente, cortando a conversa entre os irmãos.
- Os adultos não estavam aqui quando a biblioteca estava cheia de assassinos treinados... – Jason disse sem se conter, ganhando um olhar furioso tanto de Bruce, quanto de Selina.
- Ele está certo. – Helena falou após trocar um olhar com Jason. - Se alguém manda um bando de assassinos atrás de mim, eu devia pelo menos saber o porquê. – ela encarou os pais.
- É difícil... – Bruce se esforçou para falar. - Eu e Tália temos problemas...
- E eu me tornei alvo dela por sua causa? – Helena tornou-se hostil. - Por isso ela está ajudando Nico? Que ironia, então! A sua ideia fantástica de me abandonar naquela escola pavorosa para me proteger, não funcionou, né? O senhor fudeu a minha vida de todos os jeitos possíveis!
- Helena, não é hora para essa conversa. – Selina interrompeu. – Seu pai não tem culpa...
- Você vai ficar do lado dele de novo? – Helena questionou a mãe. – A senhora tá feliz por que voltou a ser o pequeno passatempo dele, né? A senhora não tem vergonha de se contentar com migalhas?
- CHEGA! – Bruce disse num tom perigoso que já fizera muitos criminosos tremerem. – Não permito que você fale dessa forma com a sua mãe! É bom que a respeite.
Helena encarou o pai lançando a ele um olhar furioso, muito parecido com o olhar que Bruce lhe lançava de volta.
- Se vocês pararem de brigar um instante, – Damian interrompeu, se aproximando da irmã e do pai. – Eu gostaria de dizer que vou sair para Metrópoles. Eu tenho uma pista, minha mãe pode estar lá.
- Eu vou. – Bruce respondeu de pronto.
- Eu quero ir, pai. Me deixe falar com ela. Eu sei o que fazer. – Damian encarou o pai.
- Está bem.
- Você não pode ir sozinho, D. – Helena disse preocupada.
- Eu vou com ele. – Jason ofereceu-se.
- Eu não quero que você vá comigo! – Damian respondeu furioso.
- Então, eu posso ficar aqui para proteger Helena... – Jason lançou um olhar provocador para o adolescente.
Damian olhou ultrajado para o irmão mais velho.
- Você vem comigo! – o garoto disse de imediato. – Preciso mesmo de um motorista. As leis idiotas desse país não me deixam dirigir... E que bom que você está vestindo esses trapos, pois não iremos de uniforme.
O garoto saiu da caverna e Jason lhe acompanhou, não sem antes trocar olhares com Helena.
E ela mal tornou a encarar os pais, um barulho alto se fez ouvir no ambiente. O batmóvel estava de volta.
Os três olharam para o morcego que voltava da patrulha, dessa vez, Helena sabia que se tratava de Dick.
- Ah, seu filho chegou... – Helena falou irônica ao ver Dick que se aproximava. – Sua imagem e semelhança... – a garota fez um gesto com a mão apontando o rapaz que retirava o capuz do morcego.
Dick olhou para Helena e revirou os olhos.
- Agora não, Helena. Tô exausto. – ele disse sem paciência para garota e depois voltou-se para Bruce. – Não encontrei pistas dos assassinos mandados pela Tália. Eles evaporaram depois que saíram daqui. Tim ficou patrulhando a cidade.
- Eles já devem estar longe agora. – Bruce respondeu. - E morreriam antes de nos dizer qualquer coisa...
- Meu turno está encerrado. – Dick falou já se afastando. - Vou subir, pode me chamar se aparecer alguma pista nova.
- Leve Helena com você. – Bruce mandou fazendo Dick parar e suspirar cansado. - Deixe-a no quarto dela.
- Eu não preciso de guarda costas. – a garota protestou.
- Eu te dou duas opções, monstrinho do papai. – Dick disse de forma que só ela ouvisse. Ele se referia a frase na camiseta da fantasia de Arlequina que Helena vestia. – Você vem comigo por bem ou eu carrego você como um saco de batatas.
Helena ponderou. Naquele traje do morcego, o Wayne mais velho parecia amedrontador.
- Aproveitem a relação desastrosa de vocês. – ela disse olhando para os pais e seguindo Dick, obediente. - Boa noite.
- Eu juro que eu tenho que lembrar o tempo todo que ela é a pessoa que eu mais amo na vida. – Selina disse quando Helena desapareceu com Dick no elevador. – Se essa garota não fosse minha filha, eu já teria arranhado a cara dela! Porra, a garota não perde uma oportunidade!
- Ela tem a minha raiva. – Bruce disse olhando para o elevador. – E ela tem o seu atrevimento. É uma combinação perigosa.
- Eu sei... – Selina passou a mão na cabeça, em um gesto de cansaço. – Mas o assunto mais importante agora é que a minha filha está em perigo porque a sua ex maluca estava procurando um jeito de afetar você. Nossa, Bruce! Meus parabéns! Dessa vez você se superou...
- É algo que não posso controlar, Selina.
- Eu sei disso também. – ela suspirou, resignada. – Eu não tô com raiva de você por isso.
- Não está? – Bruce se surpreendeu.
- Não. Não é nossa culpa se alguém fica obcecado pela gente. – ela explicou. - Você não percebe? Voltamos a mesma situação de dez anos atrás! Helena está novamente em perigo por causa de alguém com quem nos envolvemos. Antes, era o Luthor e aquela obsessão dele por mim, agora é Tália que quer atingir você. Eu não posso te julgar, Bruce. Eu só quero saber por que essa mulher decidiu atingir nossa filha...
- Tália criou Damian para ser o herdeiro de tudo. Primeiro, para ser o herdeiro do pai dela, depois, para ser o herdeiro do morcego. Eu acho que ela não ficou contente quando descobriu que Damian não era o único herdeiro.
- Se é assim, ela devia estar perseguindo aquele garoto que saiu daqui agora usando o traje do morcego, - Selina apontou para o elevador. - aquele menino é mais seu do que Helena e Damian!
- Tália pode nos trazer problemas. – Bruce disse ignorando os comentários de Selina. - Ela tem dinheiro, tem poder e tem um exército a sua disposição. Ela mataria o próprio filho se isso for necessário para alcançar os objetivos que pretende.
- Pobre garoto... – Selina falou ao lembrar de Damian. - Helena, pelo menos não pode se queixar disso. Eu preferiria morrer a deixar que algo aconteça com ela.
- É muito estranho ver você sendo altruísta... – Ele falou ao sentando-se na cadeira em frente ao painel de controle.
- Eu nunca fui altruísta, isso é instinto maternal. – Ela se encostou na bancada ao lado dele. - Esse troço é um tipo de reprogramação mental que fazem quando a gente tem filhos, um truque genético barato da natureza...
Bruce a olhou e abriu um meio sorriso.
- Por que tá me olhando feito bobo? Parece que tem treze anos de novo...
- Porque lembrei que era assim que conversávamos no passado.
- Assim como?
- Com intimidade. Intimidade de quem se conhece desde sempre.
Selina mordeu o lábio, encarando-o. Bruce entrara naquele humor afável que ele só tinha quando estavam juntos e ela não podia deixar as coisas irem por aquele rumo, ela sabia onde isso ia parar.
- É melhor eu ir... – ela deu-lhe as costas. - Cuide pra que não invadam a casa novamente. Eu ainda tenho pesadelos com aquele vídeo horrível...
- Você deveria ficar...
Selina voltou-se para olhá-lo.
- Ficar por Helena. – ele apressou-se em dizer. – É uma oportunidade de estarmos perto dela. E eu preciso de você para me ajudar a lidar com ela.
- Isso e por que você quer se certificar que eu não vou atrás da Tália, não é?
Bruce não respondeu.
- Você, como sempre, querendo manter todo mundo sob controle... – Selina disse dando as costas novamente.
- Então, você não vai ficar? - Ele traiu-se e perguntou quando ela entrou no elevador.
- Estarei aqui sempre que precisar de mim.
Quando a porta do elevador fechou, Bruce não percebeu, mas ele tinha aquele quase sorriso de novo em sua face.
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Pouco tempo antes, Dick e Helena chegavam juntos a biblioteca.
- Por que você precisa provocá-los o tempo todo tempo? – Dick falou irritado com a maneira que Helena tratara os pais há pouco.
- Você nunca entenderia... – Helena disse sem dar importância.
- Se eu tivesse pais, eu não brigaria assim com eles.
- Que mentira! Você tem o Wayne, e você mesmo disse que briga com ele o tempo todo...
- Você nunca entenderia... – ele repetiu a fala dela enquanto olhava em volta. – Caramba, o Jason metralhou a biblioteca! Aposto que esse era um sonho antigo dele...
- Ele não fez isso por diversão. – Helena falou pegando o envelope branco que ainda estava sobre a mesinha e guardando-o no bolso do short. - Ele salvou a minha vida.
- E precisou quase destruir a casa pra isso... – Dick falou olhando um buraco de bala na mesa cara da biblioteca.
Helena ficou possessa.
– Você se acha muito superior aos seus irmãos, não é mesmo? – ela provocou. – Mas saiba que Jason e Damian podem não usar esse traje do morcego, mas eles são realmente bons no que fazem.
- O que? – Dick indagou sem entender nada, voltando-se para olhar Helena. – Você acha que eu menosprezo os meus irmãos?
- É o que parece... – ela cruzou os braços e o encarou. - Você tá sempre por aí se metendo em tudo, dando ordens para todo lado, vigiando o que todos fazem. E tudo com a máscara do cara bonzinho que todo mundo tem que amar. O filhinho perfeito do papai Bruce...
- Você não me conhece, eu não sou isso aí que você tá falando. – Dick se aproximou, indignado com a acusação absurda. – Essa é a imagem que você criou de mim na sua cabeça. Não é real.
- Vai me chamar de maluca agora? Por que é isso que um cara lixo com máscara de bonzinho faz...
Dick levou as mãos ao rosto, exasperado.
- Olha, garota, eu não vou te chamar de louca... eu só quero saber por que você me odeia tanto.
Helena o encarou por um instante. Ela não sabia a resposta. Ela só sabia que odiava o quanto ele parecia com seu pai, odiava o quanto ele parecia à vontade herdando o lugar de Bruce e o quanto parecia natural para aquele jovem rapaz pertencer àquela família.
- Isso não é da sua conta, menino prodígio. – ela disse passando por ele, indo em direção da porta da biblioteca.
- Helena... – ele chamou seguindo-a, - Espere... você vai me ouvir dessa vez. – ele disse segurando a porta, barrando a saída da garota.
- Você não aceita que alguém não te ame e admire, né? – ele disse sarcástica, voltando-se para olhá-lo.
- Eu já disse que não sou essa pessoa que você está projetando. – ele insistiu.
- Será? – ela desdenhou. – Eu acho que é. E eu não quero mais falar sobre isso. Agora, você pode me deixar ir embora? – Helena tentou abrir a porta, mas Dick segurou, mantendo-a fechada.
- Primeiro, me responda: por que você me odeia tanto?
- Me deixa em paz! – Helena pediu tentando abrir a porta.
- Helena, por favor... – ele insistiu mais uma vez, pegando no braço dela, para que ela o olhasse.
- Tire as mãos da minha filha, garoto.
Dick e Helena olharam para Selina que estava na passagem secreta da caverna. O rapaz se afastou de Helena com um sobressalto.
- Eu não estava fazendo nada com a sua filha. – ele falou em um tom de embaraço, quase envergonhado.
- Até porque se você estivesse, você já estaria inconsciente agora. – Selina se aproximou dos dois. - É bom que se lembre disso.
- Vou lembrar, Selina. – Dick respondeu encarando a bela mulher.
- Parece que você e Helena já terminaram a conversa, não é mesmo?
- Sim, terminamos. – Dick disse olhando a garota que olhava para a mãe. – É melhor eu me retirar. Você pode levá-la até o quarto dela.
Dick abriu a porta e saiu rápido do ambiente.
- Nossa, a senhora sabe mesmo como colocar esse garoto no lugar dele. – Helena disse admirada, embora em um tom de desdém.
- Que diabos você estava fazendo com aquele garoto? – Selina aproximou-se de Helena, furiosa. – Será que você não cansa de fazer tolices, Helena?
- Eu não estava fazendo nada... – Helena defendeu-se, surpresa pela fúria da mãe.
- Não brinque com esses rapazes! – Selina foi incisiva. – Eu sei que o seu objetivo de vida é matar o seu pai de desgosto, mas não cruze essa linha!
- Você acha que eu tenho alguma coisa com garoto prodígio? – ela riu.
- Pro seu bem, é bom que não tenha. – Selina advertiu. - Eu não sou idiota. Eu vi seus olhares pro garoto morto-vivo na caverna. Não mexa nesse vespeiro. E pelo amor de Deus, crie um pouco de juízo, minha filha.
- Você pirou de vez, Selina.
- Helena, na escola de dissimulação que você aprendeu, eu sou professora e diretora. Agora, vá para o seu quarto, ninguém vai te atacar no caminho até lá.
A garota saiu da biblioteca e Selina a seguiu. Quando a filha subiu as escadas do hall, Selina se encaminhou para a garagem. Ela pegaria algum dos carros de Bruce para voltar a Gotham, iria em seu apartamento pegar algumas coisas e alimentar os gatos.
Sentiu-se satisfeita de ter aceitado a proposta de Bruce. Apesar de achar perigoso estar perto demais dele, ela sabia que precisava estar perto de Helena. Precisava proteger a filha, ajudá-la a superar os erros do passado, e evitar que ela cometesse erros futuros.
Principalmente, se os erros já tivessem usado trajes de Robin.
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- Você não está falando comigo.
Jason quebrou o silêncio que pairava entre ele e Damian desde que saíram da mansão Wayne.
Damian olhou o irmão mais velho com desprezo e depois voltou a olhar pelo binóculo de visão noturna sem falar nada.
Eles estavam em um telhado de um edifício importante de Metrópolis e observavam a movimentação que acontecia na cobertura do prédio a frente. Eles usavam roupas normais e tinham subido de elevador, Jason estava muito incomodado com isso, não costumava sair despreparado.
- Você poderia ao menos dizer o que estamos fazendo aqui. – Jason insistiu, tentando fazer o irmão falar.
Damian baixou o binóculo.
- Bárbara me ajudou a rastrear um dos celulares da minha mãe. – Damian disse sem olhá-lo. – Se o sinal estiver certo, ela está naquela cobertura.
- Você sabe a quem pertence àquele prédio, não sabe? – Jason indagou.
- Óbvio. É claro que o prédio mais luxuoso de Metrópolis pertence ao Luthor.
- Isso não é bom... - Jason disse preocupado - E pra piorar, você ainda nos faz vir aqui completamente despreparados. Como quer que a gente encontre a sua mãe desse jeito?
- Eu não quero encontrar ela. – Damian falou olhando pelo binóculo. – Eu quero que ela nos encontre...
- O que? – Jason não entendeu, mas não teve tempo de contestar. Algo zuniu no ar e ele sentiu uma pequena pontada no ombro. Um dardo o atingira e ele sentiu-se desfalecer, antes de cair, ele apenas conseguiu ver que Damian também desmaiava.
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Acordaram no imenso sofá da luxuosa sala da cobertura de Luthor. Estavam amarrados e havia pelo menos dez homens da liga dos assassinos no entorno deles.
- Olá, meu filho. – Damian ouviu a voz de Tália quando acordou. A mulher estava em um belo vestido verde, tinha as pernas cruzadas, sentada no sofá na frente deles. – Olá, pra você também jovem Jason. Ah quanto tempo, não é mesmo?
- Mãe. – Damian disse baixo, encarando-a com raiva.
- Parece chateado, filho... Achei que ia ficar mais feliz de me ver...
- Por que colocou aquele homem atrás de Helena? – Damian disparou com raiva. - Você me prometeu que não iria interferir com a minha família!
- A sua família somos eu e seu avô, e ah, é claro, seu pai. Não prometi nada em relação aos outros que você inventou que são sua família.
- Helena é minha irmã!
- Aquela garota é um obstáculo. – Tália disparou. – Um obstáculo pra você. Não percebe? Já não basta esse monte de órfãos que seu pai cata pelas ruas... – ela olhou para Jason. – Todos eles são um obstáculo para que você se torne o que está destinado a ser...
- Eu estou muito bem como estou. Não estou destinado a ser nada... eu não quero. – Damian a encarou. - A senhora devia parar com essa maluquice...
- Você está se tornando um fraco! – ela se levantou irritada. – Assim como seu pai...
- Meu pai é tudo, menos fraco. – Damian disse com orgulho.
- Ele é fraco. Ele tem vários pontos fracos. Todas essas crianças desastrosas... – disse com desprezo. - Cada uma delas é um ponto fraco desnecessário. E agora essa menina! Eu quase não acreditei quando soube. E ela é mais velha que você, veja só. Ele a teve antes de eu conhecê-lo. O safado começou cedo...
- E a senhora se aliou aos Marcondes para machucá-la.
- Eu vi uma oportunidade... Encontrei um dos pontos fracos de seu pai e resolvi brincar com ele. Não seria a primeira vez... – ela olhou para Jason. – Não é mesmo, meu pequeno jovem ressuscitado?
- Você deveria ter me deixado onde eu estava. – Jason disse com ódio, contendo-se para não xingar a mulher na frente do irmão.
- Você preferia ter continuado embaixo da terra?
- Lá não havia dor, então... talvez fosse melhor...
- Chega, mãe! – Damian disse furioso. – Meus irmãos não são joguetes nas suas mãos! Afaste-se deles! E afaste-se de Helena.
- Bem, eu posso me afastar, meu filho. Mas não sei se Marcondes compartilha da minha vontade. O seu "irmão" pode lhe dizer como é. Nós voltamos do poço um tanto instáveis e arredios... Às vezes com uma ideia fixa. A de Marcondes é aquela garota...
- O que a senhora quer dizer com isso?
- Quero dizer que, você não se preocupe, meu acordo com os Marcondes está finalizado. Mas eu não tenho poder sobre o que ele vier a fazer e nem sobre aqueles com quem ele venha a se aliar...
- Então é isso? A senhora começou o incêndio e vai dar o fora?
Tália deu de ombros e olhou para as unhas bem-feitas.
- Se Marcondes tirar a garota do caminho, eu ganho. Se vocês o pararem, eu não perco nada. Então, sim. Vou apenas assistir de camarote.
- Mas mãe...
- É isso. Levem eles daqui. – ela disse para um dos assassinos. Os homens arrancaram Jason e Damian do sofá e os arrastaram até a porta do elevador.
- Mãe! – Damian ainda gritou quando era empurrado para dentro do elevador.
- Nos veremos quando você voltar até juízo, meu filho. – ela disse para o garoto antes das portas do elevador se fecharem.
Quando os garotos foram levados da sala, Tália dispensou os outros assassinos e sentou-se novamente no sofá.
- O menino é tão arisco quanto você...
A voz vinha do homem que apareceu das sombras de um corredor.
- O que eu não entendo... – ele continuou enquanto ia até o bar e servia duas doses de whisky. – é o que uma mulher tão fascinante quanto você, viu em um playboy fútil e bêbado como Bruce Wayne.
- Ah, meu querido Lex. Eu queria um homem muito rico e que fosse poderoso nesse país... e, infelizmente, não conheci você primeiro. – Tália mentiu sorrindo. – Parece que eu fiz a aposta errada...
- E outro garoto? – Luthor se interessou. – É outro órfão adotado? Nunca vi esse nos jornais...
- É sim. É o garoto que morreu em um acidente há alguns anos. Eu o trouxe de volta com o poço de Lázaro, mas ele ficou meio maluco... - Tália desconversou.
- Entendo... – Luthor não deu importância. – Então, você vai mesmo me abandonar como disse pro seu filho? Achei que tínhamos um trato... – ele disse entregando-a um copo de bebida.
- Eu já cumpri minha parte. Eu já lhe dei todas as informações que tinha sobre Helena Wayne. – ela falou após bebericar no copo. - Eu podia agir livremente enquanto meu filho não sabia de meu envolvimento, mas agora ele sabe, e por uma infeliz coincidência, ele se apegou àquela garota infeliz. Eu preciso me afastar dessa história. Eu quero meu filho servindo aos meus propósitos no futuro, e eu o conheço: ele não vai me perdoar se eu estiver envolvida com o que acontecer a garota.
- Eu ainda não sei o que vai acontecer com essa garota. Eu não dou a mínima para o que o Marcondes pretende fazer com ela. Mas, antes que ele faça qualquer coisa, eu a quero em minhas mãos. Eu preciso saber...
- Você nunca me contou de verdade, qual o seu interesse na filha bastarda de Bruce. Vocês nem ao menos são concorrentes nos negócios...
- Meu interesse não é financeiro. – Luthor disse tirando algumas folhas de papel que estavam dobradas no bolso de seu paletó e as entregou a Tália. – Eu apenas preciso saber... Por que eu quis adotar essa menina há dez anos? Por que eu tenho uma cópia da certidão dela, se essa certidão nem existe oficialmente? E principalmente,
Por que eu não lembro de nada disso?
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Jason e Damian foram jogados nas margens de uma rodovia fora de Metrópolis.
Quando Dick os encontrou em um velho posto de gasolina, já era dia. Eles estavam sujos e tinham as roupas rasgadas.
- Por que não vieram de uniforme? – o mais velho indagou quando os dois entraram no carro depois de uma pequena briga para saber quem ficava no banco da frente, que terminou com Jason jogando Damian no banco de trás e travando a porta do carro.
- Não queríamos chamar a atenção da minha mãe. – Damian explicou depois de se conformar com o lugar onde ficara.
- E isso foi muito bom, porque assim, Luthor não nos viu. – Jason interveio. - Ele teria descoberto que você é o Robin e, por associação, quem Bruce é. Mas sua mãe pode ter contado...
- Se minha mãe quisesse contar a alguém a identidade do meu pai, ela já teria feito. E como você sabe que Luthor estava lá?
- Eu conheço aquele lugar, conheço os truques daquele cretino. Aposto que ele escutou toda a nossa conversa... O que eu não entendo é o envolvimento dele nisso tudo...
- Talvez não haja. – Dick interferiu, ele escutava os irmãos enquanto dirigia. – Talvez Tália locou o apartamento dele por que era muito bom...
- É sério mesmo que você acredita nesse tipo de coincidência? – Jason indagou incrédulo. - Você sabe que nunca é só coincidência. Roy me disse que Luthor está convocando mercenários para ir atrás de Helena, e o cassino ilegal onde o Marcondes estava era dele, não oficialmente, mas sabemos que era. Não precisa ser o maior detetive do mundo pra entender que o cara tá metido até o pescoço nisso. A pergunta é: o que ele quer?
- Uau, parece que tem um cérebro aí dentro, isso sim é uma novidade. – Damian provocou. – Nunca pensei que fosse dizer isso: mas concordo com você.
- Agora sabemos quem é o gênio da família... – Jason se espreguiçou no banco confortável. – Mas, tudo isso são coisas para pensar mais tarde. Foi uma noite longa, e eu tô destruído. Me acorde quando chegar no meu prédio. – ele disse para Dick.
- É bom que você descanse mesmo. – Dick disse enquanto dirigia. – Hoje à noite, Helena é sua.
- O QUÊ? – Jason e Damian disseram ao mesmo tempo, o primeiro, surpreso, o segundo, furioso.
- O treinamento. – Dick disse alheio aos irmãos, prestava atenção na estrada. – Quando fizemos o cronograma, você marcou de treiná-la as noites, lembra? Nessa semana, aquela peste é sua responsabilidade. – falou satisfeito.
- Veja como fala da minha irmã! – Damian ralhou. – Ela não é uma peste, ela é igual a mim!
Jason e Dick se entreolharam e riram, em um raro momento de cumplicidade.
- Por que esse treinamento precisa ser a noite? – Damian indagou desconfiado, sem saber que os irmãos riam dele.
- Porque seria uma maravilha ensiná-la a pular pelos prédios durante o dia, gênio. – Jason retorquiu sarcástico. – Ou melhor, ensiná-la a desarmar uma bomba na mansão na hora do chá. Alfred vai adorar.
- Jason está certo. – Dick sentenciou. – Essas práticas precisam ser realizadas a noite. Relaxa, D. Não é como se o Jason estivesse levando sua irmã para um encontro.
- É bom que não esteja. – o garoto ameaçou. - Principalmente, se ele deseja ter filhos.
- Eu não quero ter filhos mesmo... – Jason sussurrou se espreguiçando novamente.
Em pouco tempo, os dois rapazes mais jovens dormiam profundamente. Dick dirigiu pela rodovia aproveitando a paz momentânea.
NOTAS FINAIS
Os capítulos continuarão saindo aos domingos, estou antecipando esse, pois estarei ocupada no fim de semana.
Atualmente eu estou escrevendo os últimos capítulos dessa história. Tenho dois finais em mente. O que vocês acham, Helena merece um final feliz ou outro final trágico? Ainda estão rolando os dados...
