CAMA DE GATO
"Helena mordeu o lábio com desesperação, mas não respondeu. A cabeça descaiu-lhe lentamente como ao peso de uma ideia, a mais e mais opressora. Depois, ergueu-a; os olhos tristes, mas animados dos últimos raios de uma esperança, dirigiram-se para os de Estácio, que nessa ocasião pareciam falar as dores todas da paixão sufocada e rebelde. Ambos eles os baixaram à terra, medrosos de si mesmos."
Helena, Machado de Assis, 1876.
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Uma das coisas mais relevantes que se pode dizer sobre Selina Kyle é que ela nunca pediu ajuda a ninguém. Selina sempre se orgulhara de ser independente em todos os aspectos de sua vida e essa talvez fosse sua característica mais marcante e aquela que mais a aproximava dos gatos.
Mas, até os gatos protegem suas crias, e foi somente por causa de Helena que a independente Selina, depois de um dia de tentativas infrutíferas e de uma ressaca abominável, engoliu seu orgulho e bateu na porta de uma das últimas pessoas a quem ela pediria ajuda: o irascível Damian Wayne.
E era por isso que, no início daquela noite, uma cena bem pitoresca se desenrolava em um dos corredores da mansão Wayne, e mesmo com uma forte dor de cabeça, Selina escutava paciente as reclamações do garoto.
- Eu sabia! Sabia que isso ia acabar muito mal! Mas, como minha irmã fica me dizendo pra aceitar as escolhas dela, eu não me intrometi. E olha no que deu! - Damian cruzou os braços e olhou para mulher na sua frente.
Selina só estava escutando as reclamações do garoto por que ela passara o dia inteiro tentando algum contato com Helena e não obtivera sucesso algum. Fazia quase vinte quatro horas que Helena tinha se trancado em seu quarto e não abrira a porta para ninguém, nem mesmo para Alfred, por quem a garota tinha especial adoração. Preocupada com a filha, Selina não viu outra alternativa, além de procurar Damian, o único naquela família a quem Helena talvez não desprezasse naquele momento.
- E onde aquele imbecil do Jason está? – Damian indagou irritado, após Selina explicar-lhe a situação. – Ele devia estar se humilhando na porta do quarto dela nesse exato momento!
- Aquele moleque saiu em uma missão com Bruce, acho que foram atrás de alguma pista de Marcondes fora da cidade.
- Meu pai não me falou nada... – Damian estranhou.
- Você sabe como ele é. – Selina desconversou. - E bem, não sei se ia adiantar aquele moleque estar aqui... Helena não quer vê-lo também. Você é minha última alternativa, garoto.
- Eu não duvido disso. De outra forma, você nunca me pediria ajuda. – disse perspicaz. - Então, ela não atende ninguém?
- Não. Ela também não comeu nada e eu não sei em que situação ela está, só sei que está viva porque ela me manda ir pro inferno toda vez que bato na porta.
- E o adolescente dessa casa sou eu... – Damian suspirou. – Helena leva o drama a um novo patamar...
- Eu temo que não seja drama adolescente dessa vez, garoto. – Selina disse preocupada. – Helena já vinha em uma série de crises de raiva e tristeza. Ela estava melhorando, mas acho que acabei com tudo... - Selina massageou as têmporas. – Ah, eu sou uma péssima mãe...
Damian olhou condescendente para aquela mulher sempre tão poderosa e atrevida, e que agora parecia cansada e derrotada.
- O que você quer que eu faça? – ele disse com disposição.
Selina o olhou quase agradecida.
- Tente fazê-la falar. Tente fazê-la comer alguma coisa. Não deixe ela cair...
- Farei isso.
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- Helena... – Damian chamou ao bater na porta do quarto da garota instantes mais tarde. – Helena, eu sei que está aí. Se você não abrir essa porta, eu vou derrubá-la. Você sabe que eu sou capaz!
Não demorou muito. Damian ouviu alguns cliques e em menos de um minuto, o garoto conseguiu o que Selina passara o dia inteiro buscando.
- Irmã... – Damian teve tempo de dizer antes de ser abraçado.
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Helena passara as últimas vinte quatro horas inerte.
Ela não dormiu. Ela não chorou. Ela andou centenas de voltas em seu quarto, apenas pensando no que tinha se tornado a vida dela.
Se sentia muito, muito cansada. Não conseguia ficar em sua cama, porque os travesseiros tinham o cheiro de Jason. Não podia sair do quarto porque não queria ver ninguém. Desejava que um buraco se abrisse no chão e a fizesse sumir.
Naquelas horas, ela não fez nada além de pensar. Pensou que todos diziam que queriam protegê-la de Marcondes, mas essas pessoas que diziam protegê-la eram as mesmas que tinham lhe machucado tanto. Jason parecia diferente, mas era só mais um deles. E no final, só estava com ela por causa do maldito dinheiro de seu pai.
Sempre a maldição de ser filha de Bruce Wayne.
E Helena se fechou como a ostra que Jason pensou que ela era.
Ela não queria vê-lo e não queria ver seus pais. Não tinha força para discutir com nenhum deles, só queria ser deixada em paz. Odiava quando Selina ou Alfred batiam na porta.
Foi só quando ouvia a voz de Damian que Helena saiu de seu estado de torpor. Seu irmão era seu último porto seguro e quando ela abriu a porta e o abraçou, ela finalmente desabou, as angústias que a assombravam nas últimas horas irromperam.
E ela chorou no abraço dele por muito tempo.
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- Eu não permito que derrame mais uma lágrima por aquele imbecil! - Damian disse um pouco mais tarde quando Helena se acalmou e eles estavam sentados na cama, recostados na cabeceira.
- Você sabe que não é só por ele... é por tudo. – Helena desabafou. – Essa foi apenas a gota d'água pra mim. Eu não tenho uma vida, Damian! Eu sinto que não tive uma vida... e parece que quando eu tento ter algo verdadeiro, é só outra mentira.
O garoto a olhou, um sentimento inexplicável em seu peito. Queria muito protegê-la.
- Eu sou muito novo e talvez eu não saiba muita coisa na vida, – Damian falou deixando Helena descansar a cabeça em seu ombro. – e todos sempre fazem questão de me dizer isso, mas eu sei de uma coisa, irmã. Eu sei o que é ser... rejeitado. Minha mãe me via como uma arma... meu pai... nosso pai não sabia que eu existia até pouco tempo atrás. Eu abandonei a família que me criou e estou aqui, numa família que é tão difícil quanto a da minha mãe. Temos o mesmo pai e nossas mães são criminosas. Irmã, ninguém no mundo sabe melhor o que você está sentindo. Se tem uma coisa que eu aprendi com isso tudo é que você sempre pode recomeçar. Eu recomecei uma nova vida aqui. Eu agora tenho irmãos, tenho o Alfred, tenho amigos, tenho um cão, tenho uma vaca...
- Você tem uma vaca? – Helena perguntou surpresa.
- Tenho e você adorar ela. – Damian abriu um meio sorriso. - Ela é um amor, melhor que muita gente.
- E você tem uma namorada também... – Helena alfinetou sentindo seu humor melhorar pela primeira vez naquele dia.
- Não, não tenho! – Damian se defendeu, mas depois sentiu-se satisfeito por ver Helena reagir. – Irmã, o que quero dizer é que o mundo não acabou por que temos pais problemáticos ou por que você namorou dois otários... Você precisa seguir em frente! E olha, você não pode dizer que não tem ninguém...nós temos um ao outro... e você está muito enganada se acha que eu vou desistir fácil de você...
- Eu sei que você não vai desistir... você é como eu...
- Exato! E eu não quero ver você desistir. Você tem uma vida, Helena. E não importa se o seu está coração partido, você vai colar os pedaços.
- Falou o garoto que ainda não sabe o que é ter um coração partido... – Helena zombou.
- Quando eu tiver, você me ensina como faz. – ele concluiu enquanto deslizava os dedos pelos cabelos da irmã.
Mais tarde aquela noite, Damian convenceu Helena a comer. Ela não saiu do quarto, mas ele a ajudou a trocar as cobertas e depois eles assistiram um filme juntos. Helena ainda chorou por duas vezes, mas se recuperou mais rápido que na vez anterior. Damian deixou o quarto da irmã na madrugada, quando ela finalmente dormia.
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Na manhã seguinte, Helena acordou ouvindo altas batidas na porta.
Imaginando que fosse Selina, ela decidiu abrir a porta e enfrentar para sua mãe, os conselhos de Damian ainda pairavam em sua mente.
Mas, quando abriu a porta, não era sua mãe quem estava ali. Richard Grayson usando roupa de treino, estava postado em sua porta e não parecia muito feliz.
- Você está atrasada. - Ele disse de mal humor e parecia que ele sempre dizia isso para ela. Helena não respondeu. – Uau, parece que um caminhão passou em cima de você... – ele continuou, deixando a irritação de lado e sorrindo aquele sorriso que fazia Helena revirar os olhos.
- O que diabos você está fazendo aqui? – Helena conseguiu elaborar.
- Seu treinamento, esqueceu? Essa semana eu sou seu instrutor.
Helena passou as mãos nos cabelos. Por quê?
Por que o universo não facilitava pra ela?
- Olha, eu não estou passando por uma boa fase...
- E eu não estou em uma boa fase desde os doze anos. – ele pareceu não se importar. – Esteja na academia em cinco minutos.
Helena não reagiu.
- Não vai me perguntar o que acontece se você não descer em cinco minutos? – ele indagou surpreso.
- Não.
- O que aconteceu com você?
- Nada. – Helena respondeu. – Estarei lá em quinze minutos, pode ser? É o melhor que eu posso fazer.
- Certo. – Dick disse quase frustrado.
Quando a porta fechou, Dick saiu pensativo pelo corredor. Ela não tinha gritado com ele. Ela não o tinha confrontado. Ela não o tinha dado uma resposta petulante sequer.
O que diabos aconteceu com aquela garota?
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Helena estava na academia exatamente quinze minutos mais tarde.
Dick pediu que ela fizesse o treino que estava programado de musculação. Helena já conhecia o circuito e o fez sem nenhum tipo de reclamação. Depois, ele disse que ela fizesse um exercício de corrida, polichinelos e um treino de alongamento. Novamente, Helena fez tudo. Obedeceu a cada ordem dele sem reclamar.
Ela estava... dócil.
Dick se aproximou de Helena que estava no chão descansando enquanto tomava água, após concluir todos os exercícios que ele pedira.
- Agora que você concluiu a parte física, nós vamos treinar seu equilíbrio.
- Tudo bem. – Helena disse levantando-se.
Um tanto surpreso, ele caminhou até uma corda que ele esticara e que atravessava o salão. A corda não era muito alta. Dick foi até lá e fez uma demonstração, rapidamente ele atravessou a corda de ponta a ponta.
- Esse é o tipo de coisa que se leva anos pra aprender. – Helena disse olhando indiferente para a corda. - Eu não vou conseguir fazer isso de uma hora pra outra...
- Apenas tente...
- Tudo bem. – ela deu de ombros e concordou.
A garota foi até a corda e conseguiu se equilibrar com dificuldade, caiu no segundo passo. Então ela subiu de novo, caminhou pela corda e caiu. E tentou mais uma vez. Caiu novamente. Já estava pela décima tentativa quando Dick não se conteve mais:
- Você não vai parar?
- Vou, quando você mandar. – Helena disse tranquila.
- Por que você não está reclamando?
- O que?
- Eu te pedi pra fazer um exercício chato, repetitivo e que está lhe machucando. E você não está reclamando. O que você tem, Helena?
- Eu estou bem. – ela falou suave, se levantando. – Posso continuar?
- À vontade. – Ele deu de ombros.
Helena continuou, obstinada. Era quase hora do almoço quando ela conseguiu dar alguns passos, chegando quase até metade da corda. Quando ela caiu daquela vez, Dick decidiu encerrar com aquilo.
- Chega por hoje. – Ele falou pegando a bolsa. – Eu quero que amanhã você faça todo o circuito de exercícios e continue treinando com a corda, todos os dias você treinará com ela antes de começarmos e eu vou aumentar a altura dela todos os dias.
- Tudo bem. – ela disse prontamente. – posso ir?
- Sim, - ele respondeu. – Tim estará com você nas tardes dessa semana.
Ela acenou a cabeça em concordância e se afastou deixando Dick muito pensativo. Instantes mais tarde, ele estava na cozinha conversando com Alfred.
- Al, Helena está tomando algum remédio? – ele indagou casualmente enquanto abria a porta da geladeira e pegava uma garrafa de suco de laranja.
- Não, mestre Richard. – o mordomo respondeu enquanto tirava um assado do forno. – Por que o senhor acha isso?
- Ela tá estranha. – Falou após tomar alguns goles do suco. – Ela não me enfrentou essa manhã. Não reclamou, não me xingou. Ela me obedeceu e se portou como uma verdadeira lady. Eu quase senti falta da Helena que conheço...
- A senhorita Helena está passando por problemas.
- Sim, desde que nós a conhecemos. – ele brincou.
- Creio que ela tenha novos problemas agora, Mestre Richard.
- De que tipo? – Dick indagou preocupado.
- A senhorita Helena está enfrentando um coração partido... – O mordomo explicou enquanto regava o assado com molho agridoce.
- Marcondes? Eu não achei que ela o amasse...
- Receio que seja por outra pessoa.
- Quem? – Dick pensou por um segundo, e a resposta lhe veio muito óbvia e acompanhada de um suspiro irritado. – Ah, Jason...
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Jason estivera calado a viagem inteira.
Bruce tentara iniciar uma conversa por uma ou duas vezes enquanto estavam no avião, mas o garoto se afastara sem lhe dar ouvidos. Os dois nunca foram muito bons em conversar e por fim, o mais velho desistiu de falar qualquer coisa.
Agora era noite e eles cavalgavam pelo deserto, era uma viagem de cerca de catorze horas. Jason conhecia aquela viagem, já tinha feito aquele trajeto várias vezes e Bruce o levara para ajudá-lo nessa travessia. A viagem não o estava perturbando, suas perturbações estavam direcionadas para a tela do seu celular.
Ele olhava para todas as ligações perdidas que fizera para Helena e para todas as mensagens que ele tentara enviar, mas que não foram recebidas, pois ele aparentemente estava bloqueado.
Jason leu a mensagem desaforada e cheia de ameaças que Damian havia lhe enviado. Havia partes ruins de se ter um celular com sinal por satélite, você não podia se esconder de um irmão furioso nem que quisesse.
E havia mais de um irmão furioso lhe mandando mensagens.
Dick tinha deixado uma mensagem também. Irresponsável e imaturo eram os xingamentos mais brandos contidos nela. Jason ignorou as mensagens dos irmãos e concentrou-se na resposta da mensagem que ele enviara para Alfred.
- Dê tempo para ela.
E ele ainda olhava no celular a foto que ele e Helena haviam tirado juntos na cidade na semana anterior, uma selfie em que estavam abraçados.
- Chegamos.
A voz grave e sisuda de Bruce tirou Jason de seus pensamentos e o fez guardar o celular. Estavam diante da cidadela de Khadyn. O abrigo da liga dos assassinos. Os dois desmontaram dos cavalos e encararam o guarda que estava na entrada do lugar.
- Ela já sabe que estamos aqui. – Bruce disse para o guarda. – Diga que queremos falar com ela.
- A senhora disse que falará, mas que vocês precisam passar por nós primeiro.
Bruce e Jason trocaram um olhar de entendimento. No momento seguinte, estavam cercados por homens vestidos de preto e empunhando espadas afiadas.
Eles entraram em posição de combate.
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Cansados, machucados e empoeirados até os ossos, Bruce e Jason encontraram Tália, que surgiu resplandecente quando o último de seus homens foi derrubado.
- Finalmente... – Bruce disse ao vê-la.
- Você não achou que ia ser fácil, não é?
- Não.
- Por isso trouxe o garoto? Sempre esperto, detetive! – ela se aproximou. – mas me diga, o que o traz ao meu humilde lar?
- Você sabe muito bem...
- Eu imagino, mas não achei que me seguiria até aqui... Você deve mesmo querer saber o paradeiro de Marcondes.
- Quero saber por que o está ajudando.
- Você sabe muito bem...
- Você o está ajudando a se infiltrar em Gotham...
- Em Gotham? – ela riu. – que poder eu tenho sobre aquela cidade? A minha pequena contribuição nesse caso todo já acabou. Você não disse a ele, garoto? – Ela falou voltando-se para Jason.
- Eu prefiro não falar com você. – Jason retrucou. - Se eu falar, serei indelicado com uma mulher, e eu não gosto de fazer isso.
- Ora, o garoto é parecido com você. – Tália sibilou. - Você os ensinou muito bem, detetive. Até esse que foi danificado.
- Não me faça perder tempo, Tália. Eu não engoli a história que você contou para Damian. Você pode enganar a ele, mas não a mim. O que você está armando dessa vez?
- Infelizmente, minha paixão, você veio até aqui em vão. Eu não sou a pessoa quem você deveria estar procurando... – ela se aproximou de Bruce, tocando-lhe o rosto. – Eu sempre esqueço como você é bonito...
Jason revirou olhos.
- Tália... – Bruce a advertiu.
- Está bem. – ela falou afastando-se. – Eu vou ajudá-lo dessa vez. Mas não por causa daquela garota, nem por causa desses órfãos e muito menos por causa da gata de rua. Apenas, por Damian e, claro, por você... Pra que vocês saibam que no final, eu fiz o que era certo.
- Depois de armar toda essa confusão... – Jason reclamou.
- Você não disse que ia ficar calado, docinho?
- O que você tem para me dizer? – Bruce insistiu.
Tália sabia que o homem não era paciente, resolveu não enrolar.
- Vá a Metrópolis. – ela disse subindo uma escada de pedra. – Foi lá que essa história começou e é lá que ela vai acabar. Agora, não me incomodem mais. A não ser que... – ela voltou-se para olhá-los. – Volte quando a gata de rua lhe chutar de novo. Sempre haverá um lugar na minha cama pra você. Dê lembranças ao nosso filho, adeus.
- Você tem um gosto estranho para mulheres. – Jason respondeu ao olhar a mulher desaparecer nas escadas. – E parece que só perdemos tempo. Como eu imaginava, ela não nos ajudou em nada...
- Pelo contrário, acho que ela me deu a resposta para resolver essa questão. - Bruce falou já se movendo rumo a saída de Khadyn.
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Se passaram três dias desde que Helena brigara com Jason, e aquela noite, ela estava novamente sozinha em seu quarto.
Ela achava que mais um longo dia de treinamento poderia aplacar seus demônios. Estava totalmente focada e disciplinada, mas percebeu que era apenas um engano quando se viu sozinha no quarto silencioso. E ela pensava que aquela seria mais uma noite miserável, quando ouviu batidas na porta.
Foi atender na certeza que seria sua mãe ou Alfred, já que Damian lhe dissera que patrulharia a cidade aquela noite. Mas ao abrir a porta, Helena se deparou com três rostos muito sorridentes, além de um cheiro maravilhoso que vinha de algumas caixas de...
- Pizza? – Helena indagou ao ver as caixas seguradas por um sorridente Dick Grayson, ao lado dele estavam Bárbara e Tim.
- Sim, e também trouxemos sorvete. – Bárbara comentou.
- E refrigerante. – Tim complementou.
Os três não esperaram Helena autorizar e adentraram ao quarto. Tim tratou de ligar o sistema de home theater e já procurava alguma coisa na TV.
- Vocês não tinham que estar patrulhando a cidade ou algo do tipo? – ela perguntou para os invasores que se espalharam pelo seu quarto.
- Tínhamos, - Tim falou sem tirar os olhos da TV. – Damian está lá agora, ele vai nos avisar se alguma coisa importante acontecer.
- E enquanto isso, vamos lhe fazer companhia. - Bárbara completou, tinha uma fatia grande de pizza na mão.
- Pode vir, - Dick disse da cama onde ele e Bárbara já estavam acomodados. – a gente não vai morder você...
Helena se juntou a eles. Não conversaram sobre Marcondes, nem sobre Jason e nem sobre qualquer outro tema espinhoso. Eles comeram pizza, viram vídeos engraçados e fofos que Tim mostrara na TV e riram bastante. Helena fora capaz até de esquecer por um tempo sua antipatia por Dick.
Eles se divertiram muito. Eram apenas jovens normais aproveitando a noite.
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- Obrigada por virem. – Helena disse mais tarde quando recolhia as caixas de pizza e as latas de refrigerante com Bárbara enquanto Tim mostrava a Dick um tipo de vídeo chamado gameplay, explicando para o mais velho, Dick não entendia o conceito de assistir pessoas jogando videogame.
- Foi ideia do Dick. – Barbara disse fechando os sacos de lixo enquanto elas riam dos dois garotos. – Ele nos contou sobre você e Jason...
- Então todo mundo sabe?
- Acho que sim. Mas não se preocupe, não estamos falando sobre isso.
- Isso é um alívio. Já não bastava Selina querendo falar comigo o tempo todo. Mas ela sumiu hoje, eu não sei por que...
- Ah, ela está lá em casa. - Bárbara disse de forma casual.
- Na sua casa? o que ela faz lá?
- Sua mãe sempre está na minha casa...
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Selina tomava a terceira taça de vinho branco.
- Vá com calma, garota. – Bárbara Kean advertiu a amiga de longa data enquanto ela própria entornava sua quarta, ou seria quinta? taça de vinho tinto.
- Você não vai ter ressaca se emendar um porre no outro. – Selina falou em tom de explicação.
Bárbara riu.
- Você tá mal mesmo, heim, garota. Você não ficou assim nem quando Bruce foi embora pela primeira vez...
- Eu não podia beber assim daquela vez, tinha um pequeno parasita dentro de mim. Agora não tem nada que me impeça... – Selina finalizou sua taça.
- Não lembro de você chamá-la de "pequeno parasita". Era "meu bebê" pra lá, "meu bebê" pra cá... Eu lembro que você estava assustada, mas também maravilhada. Passava horas alisando sua barriga...
- Eu era tola... não imaginava a roubada que eu estava entrando. Maldita hora eu fui pra cama com aquele garoto!
- Ora, Selina, pare com esse teatro, pois não combina com você! – Barbara a cortou. – Você não se arrepende de ficar com Bruce e não se arrepende de ter tido Helena. Você cometeu muitos erros na vida, mas você sabe que aquele homem e sua filha não são esses erros.
- Como não são? Você não escutou tudo que eu acabei de contar? A garota voltou pra essa cidade me odiando e eu só piorei as coisas desde então...
- Você também, né? Pra quê você foi bancar a mãe superprotetora? Logo, você, o standart da independência... Você devia ter deixado a garota foder com quem ela quisesse... faz bem pra pele, inclusive.
- Helena não faz boas escolhas pra homens... primeiro Marcondes, depois aquele garoto... ele é violento... é instável...
- Mas são as escolhas dela, Selina. – Bárbara disse com propriedade. - Proibir não vai impedi-la de fazer merda. Você deveria estar ao lado dela aconselhando, cuidando dela. Você precisa se lembrar do que é ser mãe, queridinha. E não vai ser controlando, coagindo e vigiando ela... Veja a Babs, eu deixei minha filha fazer o que quisesse da vida e a menina virou o que? Uma grande nerd... ah, os malditos genes do Gordon!
- E o que você acha que eu devo fazer? – Selina indagou sem ligar para as reclamações da amiga sobre a filha e o ex.
- Cuide de Helena como você cuida dos seus gatos. – Barbara falou com segurança. - Você não fica correndo atrás deles. Você alimenta, dá água, abrigo e os deixa em paz. Quando você menos espera, eles vêm, se esfregam nas suas pernas e se sentam no seu colo...
- Eu não sabia que você sabia tanto sobre gatos, Bárbara...
- Eu cuidei de você a vida toda, minha querida. Eu sei como lidar com uma gatinha arredia...
Selina pensou um pouco sobre o que a velha amiga lhe falara enquanto bebida mais uma taça, seus pensamentos só foram interrompidos quando seu celular tocou.
- Bruce...
- Você está bebendo de novo, Selina...- ela ouviu o tom e reprovação dele.
- Não... – ela se apressou em mentir.
- Estou de volta a cidade.
- Tão rápido?
- Vou passar aí em quinze minutos para pegá-la.
- Eu não estou na mansão.
- Eu sei. Se recomponha, é importante.
- É sobre Helena?
- Não, é sobre Luthor.
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- Eu disse pra você se recompor. – Bruce falou quinze minutos mais tarde quando Selina entrou em seu carro visivelmente embriagada.
- E desde quando eu obedeço a você, bonitão? – ela disse provocante, se alongando confortável no banco.
- Você deveria estar cuidando de Helena.
- Seus garotos estão cuidando dela. – Selina disse tranquila. - E eu sou a última pessoa que ela quer ver nesse momento. Bem, não a última... e aquele moleque? Você deu um sumiço nele? Por que, aliás, era o que eu queria fazer...
- Jason está em Metrópolis.
- O que ele está fazendo lá?
- Vigiando.
- Marcondes está lá?
- Não, mas Luthor está. – ele disse sem tirar a atenção do volante. - Selina, eu acho que ele é quem está orquestrando tudo isso.
- Que inferno! – Selina reclamou. - Parece que eu voltei no tempo! O que faremos agora?
- Vamos buscar reforços.
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Bruce e Selina entraram no bar do subúrbio e chamaram atenção. Mesmo com a capa de viagem, Bruce Wayne ainda era facilmente reconhecido na cidade, mais ainda quando estava ao lado da controversa socialite Selina Kyle.
Zatanna estava uma mesa nos fundos do bar, tinha algumas cartas sobre a mesa. Havia um homem ao lado dela. Ele soprava fumaça mesmo com o grande aviso de proibido fumar afixado na parede.
- Que bom que chegaram. – Zatanna os saudou assim que se aproximaram.
- Por que ele está aqui? – Bruce indagou com desagrado ao ver o homem de sobretudo.
- Boa noite pra você também, Brucie. – o homem disse baforando a fumaça na direção do outro. – Zatanna me pediu para ajudá-la nesse caso. Ela comentou que você paga muito bem, então estou aqui. E quem é esse pedaço de mal caminho ao seu lado? Ah, espera... - ele disse reconhecendo a mulher. - Não pode ser... Selina Kyle? – ele se levantou e estendeu a mão para ela – Constantine, um grande fã.
- Eu já ouvi falar de você. – Selina disse ao apertar a mão do homem, sentando-se, em seguida na cadeira que Bruce puxara pra ela. – Constantine... eu reconheço um malandro quando vejo um e você é dos piores...
- Gostei dela... Não a deixe fugir... – Constantine disse para Bruce que se mantinha sério. – Quer uma bebida? - Ele ofereceu para Selina, já fazendo o pedido ao garçom.
- Não temos tempo pra isso. – Bruce cortou. – Você checou novamente o feitiço? – ele se dirigiu para Zatanna.
- Sim, e está tudo em ordem. Luthor não tem as memórias que eu apaguei, não existe nenhuma forma de ele recuperá-las.
- Mas ele sabe... Ele está atrás de Helena. Deve ter algo que deixamos passar...
- Se ele sabe, precisamos saber o que ele sabe. – Zatanna falou. - Eu não posso apagar uma memória que eu não sei qual é. Pensei em me infiltrar na empresa dele como fiz no passado, mas descobri que ele tem muitos feitiços protetores. Acho que ele desconfia...
- Luthor não é como antigamente. – Bruce comentou. - Ele se tornou ainda mais esperto e muito mais perigoso.
- Mas vocês não querem pegar o tal do mafioso italiano? – Constantine interrompeu e Bruce o olhou. – Sim, eu sei de tudo, não existem segredos entre Zatanna e eu.
- Ah, existem sim. – Zatanna o cortou.
- Bem, não em relação a essa história. – Constantine falou despreocupado. - Mas continuando, se esse mafioso está atraindo criminosos de Gotham, não seria difícil infiltrar alguém no bando dele. Por uma pequena bagatela, eu posso ajudar com isso. Só que vai levar um tempo e vai ser muito perigoso. Ah, e vocês precisam achar alguém que seja louco o suficiente para se pra se meter em algo tão arriscado.
Bruce ponderou. Tempo, eles tinham, só precisavam manter Helena segura. Ele sabia que Constantine era um malandro, mas também sabia que ele era realmente bom no que fazia. E ele sabia de alguém que seria louco e corajoso o suficiente para aquela missão.
- Nos conte o seu plano. – ele pediu.
Constantine soprou fumaça pro alto e sorriu para o casal.
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Jason estava na caverna na noite seguinte.
- Não encontrei nada em Metrópolis, - ele disse para Bruce quando chegou, levou um momento para perceber que seu pai estava acompanhado. Se calou ao ver Selina que estava ao lado dele, pareciam ocupados olhando a tela do computador.
- Por que essa cara, garoto? – Selina indagou sorrindo. – Pode se aproximar, eu não vou arranhar você.
- Tenho certeza de que vontade não lhe falta...
- Se eu fizesse tudo que eu tenho vontade, eu estaria trancada no Arkham há muito tempo. – Ela sorriu e Bruce lhe olhou feio.
- Conte sobre Metrópolis. – ele pediu ao filho.
- Nada, eu não achei nada. – Jason disse desanimado. – nenhuma pista de Marcondes, nada que ligue ele a Luthor e eu falei com cada vagabundo daquela cidade... Acho que Tália mentiu quando disse que fôssemos pra Metrópolis.
- Ela não mentiu. – Bruce sentenciou. - Estava se referindo a Luthor. Ele está por trás disso.
- E o que faremos agora? – Jason indagou.
Bruce não disse nada.
- Fale logo pra ele, - Selina o apressou.
- Me falar o que?
- Precisamos de você. – Bruce anunciou encarando o rapaz.
- Para?
- Precisamos que ofereça seus serviços para Luthor. – o mais velho explicou. - Nós sabemos que ele tenta contratar você de novo faz tempo e acreditamos que ele está ajudando Marcondes a aliciar criminosos para seu bando. Precisamos que você descubra o que Luthor sabe, para Zatanna neutralizá-lo.
- Eu farei isso.
- Nenhuma hesitação? – Selina estranhou. - Você é mesmo muito louco garoto...
- Eu sei que você não me acha à altura da sua filha, - ele falou encarando Selina. - mas eu faria qualquer coisa para protegê-la.
- Quando estiver a serviço de Luthor, precisamos que você se infiltre entre os homens de Marcondes. – Bruce trouxe a conversa para o foco. - Ele tem se escondido muito bem, precisamos encontrá-lo.
- Eu farei isso, mas com uma condição...
- Já estava demorando... – Selina balbuciou. – Quanto você quer dessa vez?
- Eu não quero dinheiro, eu quero que me deixem matar Marcondes.
- Você sabe que isso é inegociável. – Bruce falou em seu tom mais sério. - Nós não matamos pessoas.
- Você não mata.
- Não faremos isso. – o homem finalizou.
- Você não percebe que é a única forma de ele deixar Helena em paz?
- Eu vou ter que concordar com o garoto... – Selina comentou.
- NÃO! E se você não concordar, terei que encontrar outra pessoa.
- Você não tem mais ninguém que Luthor queira... Mas, ok... se vocês não aceitam essa condição, eu tenho outra.
- Fale.
- Helena... eu quero vê-la.
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Helena estava na academia da mansão.
Ela caminhava na corda que Dick colocara para treinar seu equilíbrio. Ele tinha aumentado a altura da corda que agora estava com o dobro da altura da garota. Ele também havia colocado colchonetes em baixo para diminuir o impacto das quedas de Helena.
A garota caminhava na corda, um passo de cada vez, muito concentrada. Não percebeu que era observada. Deu um passo, dois, três... Faltava apenas um passo para concluir a travessia quando ela se desequilibrou e caiu sobre os colchonetes que Dick aproximou-se.
- Você está melhorando muito.
- Eu ainda não consegui completar a travessia nenhuma vez... – Helena disse enquanto massageava o tornozelo, sentada sobre os colchonetes. Tinha face de dor.
- Você começou faz pouco tempo, ainda tem muito o que melhorar... – Dick falou agachando-se para olhar o tornozelo da garota. – Acho que não machucou... – falou tocando no lugar que ela massageara, examinando-o. - Você está melhor?
- Não foi nada demais... – Helena falou olhando-o examinar seu tornozelo.
- Não é sobre isso que eu estou falando...
- Eu não sei... – Helena baixou a cabeça.
Dick levou a mão ao queixo dela, levantando-lhe o rosto.
- Você vai ficar bem... – ele disse muito próximo. – Eu não gosto de ver você assim...
Ele estava sendo sincero. Odiava vê-la cabisbaixa. Ele gostava da braveza, da petulância dela. Helena ainda o olhava e ele encarou seus belos olhos azuis, ela estava tão bonita... Seguindo um impulso, ele se aproximou mais um pouco e a beijou.
Helena foi pega de surpresa, mas acabou por corresponder o beijo. Os lábios dele eram quentes e ela se sentia tão sozinha e tão confusa e...
PÁ!
A porta da academia bateu com força assustando-os. Helena afastou-se rápido, levantando-se em seguida.
- Isso é loucura... – ela murmurou enquanto fazia gestos negativos com a cabeça.
Ela pegou sua bolsa e apressou-se para a saída.
Dick se sentiu culpado no instante em que se afastou dela. Não conseguiu dizer nada, apenas a observou sair.
/
Apesar de amar o irmão mais velho, Jason sempre tivera um pouco de ciúme de Richard. Afinal, apesar das brigas com o pai, Dick sempre era o exemplo de comparação. Sempre pareceu que ele nunca estivera à altura do irmão, sempre pareceu que ele não era bom e perfeito o suficiente como o irmão. Sempre houvera uma pontada de ressentimento e ciúmes da parte do irmão menor. Jason nunca se sentia merecedor, Dick parecia o real merecedor, o verdadeiro dono de tudo, e ele nunca poderia se comparar ao irmão mais velho.
Aqueles sentimentos voltaram quando o garoto viu Dick beijando Helena na academia. Como o verdadeiro merecedor, como o verdadeiro dono de tudo.
Jason ficou paralisado. Incapaz de interrompê-los, ele saiu dali e voltou a caverna transtornado.
- Conseguiu falar com ela? – Foi Selina que indagou curiosa. Jason subira muito no seu conceito, após concordar com o plano de Bruce.
- Ela não quis falar comigo. – o garoto mentiu. – Eu vou procurar Roy agora. Vou pedir que ele marque uma reunião com Luthor, o mais rápido possível.
- Tem alguém que você precisa encontrar, - Bruce falou. – Mandarei instruções.
- Ok. – Jason disse e saiu de encontro ao elevador da caverna, mas o elevador abriu antes. Dick Grayson saiu do elevador e ficou surpreso ao ver o irmão.
- Jason o que...
O mais novo não deixou o irmão terminar a frase. Jason o socou no rosto, derrubando-o no chão.
- Fique com tudo. – ele disse para o irmão caído, entrando no elevador em seguida.
Bruce olhou o filho mais velho caído no chão, segurando o nariz que sangrava. Não entendeu o que se passara entre seus filhos, já Selina tinha uma vaga ideia do que podia estar acontecendo.
/
O Capuz vermelho não teve dificuldades em conseguir uma audiência com Luthor. Roy Harper lhe informou que o bilionário se interessou em vê-lo logo que soube que o Capuz vermelho queria aceitar sua proposta de serviço.
Na noite seguinte, ele estava na cobertura de Luthor em Metrópolis.
- Você foi o último a aceitar trabalhar pra mim... – Luthor disse ao Capuz vermelho na sala do luxuoso apartamento do bilionário.
- E serei o mais caro... – o Capuz vermelho acrescentou, estava confortavelmente sentado no sofá onde estivera dias antes como refém.
Luthor concordou.
- Por que mudou de ideia agora? Houve boatos que você não fazia mais coisas ilegais...
- Digamos que eu parei por um tempo, mas resolvi mudar.
- Por quê?
- Porque não era lucrativo e tô nisso pela grana. – o capuz deu de ombros. - Soube que você está oferecendo muita...
- Não sei, eu não confio em quem muda de lado. Não há lealdade...
- Eu não sou leal a ninguém, apenas ao dinheiro.
- Você vai precisar me provar...
- Quem você quer eu mate? – o capuz vermelho cruzou os braços.
- Hoje, ninguém. Mas gostaria que conhecesse um convidado meu. – Luthor disse consultando o celular. – Ele acaba de chegar.
Mal o homem falara, a porta do elevador se abriu.
Ladeado por dois brutamontes e vestindo um terno caro, estava um homem na casa dos trinta anos. Era alto, mas não tão alto quanto Jason ou Bruce. A pele tinha um tom de bronzeado natural, cabeleira preta e volumosa, maxilar quadrado. Exalava confiança em si próprio.
- Gostaria que conhecesse o novo chefe do crime de Gotham. – Luthor fez um gesto para o homem que se aproximava. – o estrangeiro.
- Esse é o homem de quem me falou? – o estrangeiro disse com o sotaque carregado ao analisar o capuz vermelho que não levantara para cumprimentá-lo. – Não posso ver seu rosto, mas parece que você ainda é um menino... – o homem disse ficando de pé diante do lugar onde o capuz vermelho estava sentado.
O capuz levou uma mão até a arma que tinha presa na cintura, mas retirou a mão rápido e levantou-se para encarar o estrangeiro.
- Tenho mais experiência que anos de vida. – o capuz vermelho disse olhando-o de cima.
- O Capuz vermelho é o melhor mercenário da região. – Luthor disse ao aproximar-se. – Ele já chegou a liderar todas as gangues de Gotham...
- E por que perdeu o controle? – o homem indagou sem parecer impressionado.
- Não perdi. Eu tirei umas férias.
- E agora para ter de volta o controle, precisaria disputar comigo. – o homem falou em um tom de superioridade. - Garoto, não queria disputar comigo por qualquer coisa...
O capuz vermelho levou novamente sua mão a arma que tinha presa na cintura.
- Não será necessário. – Luthor interveio. – Sentem-se rapazes, temos negócios a decidir.
O capuz vermelho hesitou por um segundo e voltou a sentar-se no sofá. O estrangeiro fez o mesmo, sentando-se no sofá do lado oposto, aceitando a bebida que Luthor lhe serviu.
- Pare de enrolar, Luthor. – o capuz vermelho disse impaciente sem deixar de encarar o estrangeiro por um segundo sequer.
- Eu tinha esquecido seu mau-gênio, rapaz. – O bilionário disse sentando-se numa poltrona próxima. – Bem, eu e o estrangeiro temos uma proposta para você.
- E qual seria?
- Eu não tenho interesse em permanecer em Gotham. – foi o estrangeiro quem respondeu. – Eu tenho negócios mais importantes e maiores na Europa. Eu só quero conseguir algo em Gotham e depois vou embora, mas claro, quero permanecer com negócios na região. Eu não tiro... férias.
- E o que você quer em Gotham? – o capuz se inclinou, entrelaçando uma mão na outra, olhando diretamente para o homem mais velho.
- Ainda não vou lhe dizer isso. – o homem falou após beber um gole de sua bebida. - Mas nossa proposta é muito simples: nos ajude a controlar a cidade para que eu consiga o que eu quero e quando eu conseguir e for embora, você cuida dos nossos negócios na cidade...
- Soube que você já conseguiu muito território na cidade. Por que precisa da minha ajuda?
- Gotham é uma cidade difícil de conquistar, ainda mais difícil de manter o controle... e você sabe por que...
- Batman.
- Ele pode ser uma pedra no caminho. – o estrangeiro disse como se não fosse muito importante. - Tudo me leva a crer que ele tem tentado frustrar meus planos. Por isso Luthor me indicou você, alguém que conhece bem a cidade e como ela funciona.
- E por que não me diz o que você quer em Gotham?
- Eu ainda não confio em você, garoto. Você nem aceitou minha proposta...
- É uma grande oportunidade. – Luthor interveio. – Você pode voltar a ser o dono da cidade. Dessa vez de forma permanente.
- Eu entendo que você queira algo muito... importante... que está na cidade. – o capuz vermelho disse para o estrangeiro. – Mas, você Luthor, o que você quer? O que você ganha com isso?
- O meu segundo convidado poderá lhe contar melhor... ele já está nos aguardando.
A porta do elevador abriu mais uma vez e o capuz vermelho ficou verdadeiramente surpreso.
Constantine adentrara no apartamento.
- Creio que já o conheça... – Luthor falou quando o homem se aproximou. – O senhor Constantine me disse que você também estava envolvido no plano do Batman para nos eliminar...
- E eu disse que seria um desperdício ter um talento como seu do lado errado. – Constantine falou olhando para o Capuz vermelho.
- A questão, rapaz, é que o senhor Constantine me esclareceu algumas coisas... – Luthor falou. - parece que eu tive algumas memórias apagadas há muitos anos... Algo envolvendo Bruce Wayne, que pelo que parece, é quem financia Batman e seus vigilantes... Uma grande surpresa vinda de um idiota beberrão daqueles... Então, meu objetivo é bem simples: eu quero descobrir o que me fizeram esquecer... e porque fizeram isso.
- Eu disse a Luthor que você trocaria de lado caso a proposta dele fosse melhor... E nós sabemos que é...
- Pense um pouco rapaz, - Luthor falou aproximando-se de Jason. – Fique do nosso lado e Gotham será sua. Você tem vinte e quatro horas...
/
Uma hora mais tarde, Jason estava sentado junto ao balcão de um bar em Metrópolis e o barman já tinha desistido de servir-lhe e havia deixado uma garrafa de whisky ao seu lado.
O rapaz terminava mais um copo quando o homem loiro de sobretudo chegou ao seu lado.
- Então você traiu o Bruce...– Jason disse ao vê-lo. – Bem que dizem por aí que você é um pilantra...
- Dizem a mesma coisa de você, garoto...
- Isso faz parte do plano dele? Você fingir que o traiu? - Jason indagou após entornar outra dose.
- Se faz, ele não está sabendo. – Constantine falou ao pedir uma bebida ao barman, tomando-a em um só gole.
- Se você tá trabalhando pro Luthor, por que não revelou nossas identidades pra ele? - Jason indagou desconfiado.
- Ele não me pagou suficiente pra isso. – Constantine pegou a garrafa e encheu seu próprio copo. – É sempre bom ter cartas na manga... Você pensa em aceitar a proposta do Luthor?
- Não quero pensar nisso agora... Tenho grandes planos pra hoje... – Jason falou mostrando a garrafa ao homem.
- Curtindo uma fossa, heim? É por uma garota? Talvez um garoto?
- Não é da sua conta...
- Quando acordar desse porre você vai precisar decidir a quem é leal. A proposta que Luthor fez pra você é realmente boa... você pode se tornar o dono de Gotham...
Jason bebeu agora da própria garrafa.
- Você é pior do que eu pensei... Queria ver a cara do Bruce quando souber o grande traidor que você é...
- Você também já o traiu antes... E eu acho que pensa em trair novamente.
- Por que tanta certeza?
- Eu tô aqui, você acha que eu o traí e você ainda não meteu uma bala na minha cabeça...
- Eu já disse... tenho outros planos pra hoje... – ele bebeu novamente na garrafa. – Eu só quero beber... e espera, você não era um tipo de exorcista? – Jason disse cínico olhando para o homem.
- Sim, ao seu dispor. – o homem levantou o copo.
- Se tiver algum demônio dentro de mim, prefiro que você não o tire...
Constantine riu.
- Eu sei que você é o garoto ressuscitado. – Constantino puxou assunto. – Esse ódio só pode ser de alguém que já caminhou pelo vale da morte… a propósito, o que achou de lá?
- Eu não lembro de nada. – Jason retorquiu, estava pensativo. – Eu deveria aceitar a proposta de Luthor... não deveria? Seria uma forma de eu voltar a ser o que eu era antes... Não precisaria mais obedecer a ninguém… - Os olhos de Jason brilharam, mas depois ele colocou a garrafa com força na mesa. - Porra, eu não vou conseguir fazer isso.. Não do jeito que eu tô. – Ele piscou os olhos com força, tentando tirar certos olhos azuis de seus pensamentos. - Eu fiquei fraco... Ei, talvez você possa me ajudar com isso... – Jason disse olhando para o homem mais velho.
- Como? – Constantine disse interessado, estivera observando o rapaz, apreciava o maxilar perfeito de Jason, seus traços másculos e a charmosa mecha de cabelo branco caindo no rosto do rapaz.
- Você é tipo um mágico também, não é? – Jason indagou alheio a admiração do outro.
- Pode ser que sim... eu geralmente sou o que o cliente quiser que eu seja... o que você quer que eu seja? – Constantine disse charmoso, flertando abertamente com o mais jovem.
- Poções do amor existem? – Jason indagou sério, ignorando o flerte do mais velho, sua atenção estava toda na nova ideia que surgia em sua mente.
- Claro. São os encantamentos mais comuns... – Constantine disse um pouco frustrado. - Quem você quer que caia de amores por você? Não que você precise, ele pensou.
- Ninguém. Mas se você pode fazer alguém amar, você também pode fazer alguém esquecer que ama? - Jason perguntou com interesse.
-Se me pagarem o preço certo, posso fazer qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. – o homem insinuou.
- Eu quero que me faça esquecer alguém. – Jason disse decidido. – Me diga seu preço…
- Você não precisa me pagar nada, garoto... - o outro respondeu com uma piscadela.
- Infelizmente eu não posso dar o que você quer, cara. - Jason finalmente entendeu o flerte. - Não é minha praia… E hoje, nem que fosse...
- Isso é realmente uma pena… mas não era disso que eu estava falando, eu nunca paguei por sexo, aliás, até paguei para algumas garotas altamente profissionais e muito flexíveis… - Constantine sorriu como o malandro que era. - Precisa conhecê-las. Você vai amá-las….
- Eu estou mais interessado em deixar de amar… - Jason continuou, focado ainda em sua ideia. – mas, do que você estava falando, se não quer pagamento?
- Vamos fazer o seguinte… Você me ajuda, eu te ajudo. - Constantine disse colocando seu copo sobre a mesa. - Eu vou lhe contar o meu plano e você me diz até onde é capaz de ir...
NOTAS FINAIS
* Cama de gato: consiste em uma brincadeira infantil feita com barbante que é entrelaçado entre os dedos e precisa-se resolver com um só lance. É uma metáfora para uma situação que vai ficando mais complicada a cada momento.
** Dick Grayson só faz bobagem em seus relacionamentos, não consegue se manter fiel. Kory e Babs que o diga...
*** Constantine é bissexual e isso é canônico, por isso flertou com Jason, quem não flertaria, né?
**** Será que Jason vai trair Bruce? E Constantine vai fazê-lo esquecer Helena? Será que ele vai aceitar a oferta de Luthor e do estrangeiro? Será que acabaremos como Anakin e Padmé?
O capuz vermelho pode ser um vilão muito perigoso...
