DESCONSTRUINDO HELENA
"Você me diz que seus pais não lhe entendem,
Mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo, E isso é absurdo
São crianças como você,
O que você vai ser quando você crescer?"
(Pais e filhos, Legião Urbana: As quatro estações, 1989)
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Um mês se passou.
Gotham estava pegando fogo com a guerra entre gangues. Os criminosos fiéis aos Falcone travavam uma luta contra os criminosos arregimentados pelo estrangeiro que tomavam cada vez mais território na cidade. Contava-se em Gotham que o estrangeiro tinha muito dinheiro e que ele havia trazido para seu lado os maiores mercenários da cidade, entre eles Victor Zaz e até mesmo o temido Capuz Vermelho.
Os vigilantes estavam ocupados o tempo todo. Na mansão Wayne, a família se revezava incansável entre os dias e noites para conter os conflitos entre criminosos que colocavam em risco a vida de muitos inocentes. Estavam ocupados quase o tempo todo, e até Selina estava patrulhando as ruas como forma de obrigar o morcego a descansar um pouco.
Além de lidar com a guerra de gangues, a principal intenção deles era achar o estrangeiro. Mas o novo líder do crime não era mais que uma sombra e se mantinha escondido, só uma pequena cúpula tinha acesso ao chefão.
Todos em Gotham estavam tensos e atentos àquela situação.
Mas, havia uma pessoa que estava mantida totalmente no escuro quanto a essa situação.
Bruce Wayne havia proibido a todos que contassem a Helena qualquer coisa sobre o que estava acontecendo na cidade.
Ele havia tomado aquela decisão à revelia de suas próprias decisões anteriores. Apesar de ter concordado com o treinamento de sua filha e ter dado alguma liberdade para ela, as coisas haviam mudado quando ele descobriu que a garota estava novamente no radar de Lex Luthor. No último mês, as permissões de treinamentos externos de Helena foram revogadas, assim como o fluxo de informações para a garota que, apesar de possuir um celular de última geração, reclamava que o aparelho praticamente não tinha acesso à internet.
Houve protestos, como o de Barbara Gordon que alegou que a amiga estava vivendo sob uma ditadura e se negou a mentir para Helena, o que fez com que suas visitas a mansão se tornassem mais raras. Os garotos obedeceram a Bruce, principalmente Dick e Tim que estiveram ao lado de Bruce quando de seu luto pela morte de Jason e entendiam a decisão do pai. Damian, que tinha quase devoção pela irmã, disse que, se era para mantê-la segura, ele não questionaria. Já Selina seguiu os conselhos de Barbara. Mantinha-se afastada, aguardando Helena procurá-la.
Alheia a tudo isso, Helena viveu aquelas semanas entre dois extremos.
Havia momentos em que ela seguia à risca os conselhos de seu irmão e tentava recomeçar.
Durante o dia, focava-se em seus exercícios e treinamentos de forma quase religiosa e avançava a olhos vistos. Ela estava cada dia mais forte, mais ágil e conseguiu concluir a travessia na corda bamba que testava seu equilíbrio. Ela ainda frequentava as consultas da dra. Thompkins, embora seus progressos foram inexistentes após o término com Jason. E, quando a noite chegava e todos sumiam, ela era atacada por todas as angústias e toda a tristeza que sufocava dentro de si. Sentia-se inútil e sozinha.
Para Helena, parecia que seus pais estavam se escondendo dela, porque ela quase não os via mais, e quando via, eles estavam juntos e falando baixo pelos cantos da mansão. Ela não os havia confrontado mais após a noite que brigara com Jason. E por falar em Jason... Ele desaparecera. Aquela parecia para ela a mais sincera confissão de culpa e de que ele não se importava sobre o aconteceu entre os dois. Como fizera com seus pais, ela tentava sufocar os sentimentos e lembranças do rapaz, mas ele assaltava seus sonhos quase todas as noites e muitas vezes quando ela estava acordava. Pensar nele doía, então Helena tentava ignorar a o máximo a saudade que sentia dele.
E ainda tinha Dick, após a noite em que se beijaram, os dois passaram a ter um contato formal e restrito aos treinamentos. Não conversaram sobre o que se passara entre eles e os dois se sentiam muito culpados por aquilo. Helena, por saber que Dick era ex de Babs e por perceber que ainda havia algum sentimento, embora a amiga jamais confessasse. Dick, porque tinha certeza de que Jason havia visto os dois, e suas esperanças de ter paz com irmão tinham ido por água abaixo.
Outra coisa que incomodava Helena era que ninguém lhe dava notícias sobre Marcondes, apenas Alfred lhe dizia que o criminoso ainda não tinha sido encontrado.
Então, apesar de estar tentando recomeçar, a vida de Helena parecia estagnada.
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- Helena, você está incrível! – Bárbara aplaudiu quando terminaram uma luta com espadas que Helena aprendera com Damian. A garota só ia a mansão agora quando tinha que assumir os treinamentos de Helena.
- Eu acho que não tenho mais o que aprender dentro dessa casa. – Helena disse enquanto guardava as katanas. – Mas eu não fiz mais nenhum treinamento externo desde...
- Desde Jason? – Bárbara indagou. – Helena, você não precisa ter medo de falar o nome dele. Ele é seu ex e não o Lord Voldermort.
- Ele não é meu ex, porque nunca tivemos nada. – Helena falou contendo a vontade de perguntar a Bárbara se a garota sabia algo sobre Jason. – Eu só queria poder treinar na cidade. Eu me sinto uma inútil aqui dentro. Todo mundo tá sempre tão ocupado, cheio de coisa pra fazer... Eu queria poder ajudar, queria sair em patrulha...
- Seu pai nunca deixaria.
- Sempre ele... Ele nem mesmo olha na minha cara... – Helena sentou-se, estava cansada.
- Dê tempo ao Bruce, - Bárbara pediu. - Ele pode ser um grande bastardo, às vezes, mas ele só quer proteger todos nós.
- Vocês todos são tão devotados a ele...
- Helena, se você precisar de algo, qualquer coisa, eu sou sua amiga e estarei aqui por você. Só não me peça para ficar entre você e seu pai...
- Eu não vou pedir isso, Babs. - Helena tranquilizou a amiga.
Helena não ia colocar a amiga em uma situação difícil. E ela não precisava, porque havia decidido que ela mesmo ia se colocar naquela situação.
Já estava passando da hora de enfrentar seu pai.
Ela queria sair.
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Alfred cortava alguns legumes quando se sentiu abraçado. Alguém o envolvera em seus braços e beijava-lhe no rosto.
- Senhorita Helena, isso são modos? – o mordomo disse empertigado, ainda abraçado pela garota.
- Eu devia lhe abraçar todo dia, - Helena disse ao afastar-se em seguida, não sem antes dar outro beijo no rosto do mordomo.
- Isso não é apropriado, senhorita.
- Por que não? você é minha família.
- Sua família está espalhada por essa casa.
- Você é mais família do que qualquer um. – ela repetiu para o mordomo. – por isso, aguente meus beijos e abraços.
- A senhorita passou muito tempo mesmo com outras culturas... – Alfred lembrou-se de seus amigos de outros países, sempre efusivos em seus carinhos. - fico feliz que esteja com o humor melhor.
- Estou porque tomei uma decisão. – ela anunciou animada.
- Qual? – o mordomo indagou com uma nota de apreensão na voz.
- Eu quero sair, estou pronta.
- A senhorita sabe que isso só vai acontecer quando seu pai permitir.
- Por isso, decidi que quero falar com o Wayne. Onde ele está?
- Seu pai está na caverna, mas senhorita não é uma boa ideia...
Helena não ouviu o resto da frase. Obstinada, já saía da cozinha em busca de seu objetivo.
O mordomo pensou no quanto era impressionante a semelhança entre Helena e o pai quando ambos queriam alguma coisa, e temeu a discussão entre ambos.
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Bruce estava na caverna.
Estava concentrado. Trabalhava há horas nas possíveis pistas de onde seria o esconderijo do estrangeiro. Ele juntava as informações que coletara ao longo do último mês. Selina estava patrulhando a cidade em seu lugar naquele momento.
- Preciso falar com o senhor.
Ele levantou a cabeça para ver a jovem a sua frente. Os cabelos pretos e longos que possuíam os mesmos cachos dos cabelos de Selina, a fora isso, todo o resto era ele. Os seus traços... os seus olhos... até a raiva e a dor estavam ali. Olhar Helena era como olhar um espelho.
- Você não tem permissão para estar aqui. – ele falou seco, ignorando os sentimentos que surgiam ao olhá-la. Em todo aquele tempo, aquela talvez fosse a primeira vez que estivesse sozinho com a sua filha. Sua garotinha...
- Esse parece que é o único lugar onde o senhor sempre está. – ela o tirou de seus pensamentos. – E como tudo aqui depende do senhor... eu tive que vir.
- O que você quer?
- Eu quero sair. – Helena foi direta como ele próprio era. – Eu estou pronta. Sou tão boa quanto qualquer um dos garotos... Quero ajudar vocês.
- Eles tiveram anos de treinamentos, você treinou por um mês...
- Eu me virei por anos na Europa, eu já coloquei muito criminoso na cadeia. – a garota argumentou. - Eu não sou uma completa inútil, Wayne. Eu quero sair.
- Não. – disse categórico.
- Não? É só isso?
- Sim.
- Inacreditável!
- Não adiantar reclamar. Enquanto estiver sob o meu teto, você vai obedecer às minhas ordens. – ele não a olhava, voltando a trabalhar no computador.
- Se eu pudesse, estaria bem longe daqui. – ela disse com raiva. – BEM LONGE DE VOCÊ!
Bruce não conseguiu concentrar-se nas pistas por um bom tempo, após Helena deixar a caverna.
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Helena não ia se dar por vencida.
Subiu as escadas de volta para o seu quarto com a certeza de que ela sairia da mansão. Ela ia mostrar pra eles. Ia usar seu traje de caçadora e ia...
A porra do traje não estava lá.
Olhou o closet inteiro e procurou no lugar onde guardara sua besta e suas flechas.
Nada.
Ela não precisava perguntar a ninguém para saber quem confiscara suas coisas.
A raiva subiu a sua cabeça.
Quem ele pensava que era?
Ela ia provar que era capaz. Ela ia sair da mansão. E seria naquela noite.
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Quando Bruce disse a Selina semanas atrás que Helena era bem capaz de roubar um carro e sair por aí, caso não dessem liberdade para ela, ele quase estava certo. O seu único equívoco foi achar que Helena roubaria um carro. Ela não faria isso por um simples motivo: ela não sabia dirigir.
Quanto a parte de que ela sairia por aí, o morcego nunca esteve tão correto.
Helena sabia que a casa era vigiada e ainda mais protegida depois da invasão da liga dos assassinos. Ela também sabia que ninguém da casa toparia lhe ajudar a sair. Nem mesmo Damian que, por mais que fosse devotado a ela, também era paranoico quando se tratava de mantê-la segura.
Ela sabia que não poderia fazer nenhuma patrulha sem seu traje ou sua besta, mas estava tão irada que queria sair só para provar que podia. Para provar que era capaz.
E já que Helena não podia combater o crime, ela decidiu o que ia fazer: ela ia sair para comer um hamburguer.
Mas não era qualquer hamburguer, era um hamburguer que ela vinha desejando loucamente há dias. E esse era o horrível hamburguer gorduroso que ela servia todas as noites na Batburger, a lanchonete onde trabalhara. Ela tinha nojo daquilo quando servia no trabalho, mas há dias o estava querendo.
Então era isso, ela iria até a Batburger.
Ela encontrou no meio de suas coisas uma das perucas loiras que usava em seu antigo emprego e a roupa da fantasia de Arlequina que ela trouxera do apartamento de Jason. Com aquela roupa ela podia se misturar na Batburguer sem ser notada. Ela ainda pegou um casaco e colocou nos bolsos o seu celular, que teve o cuidado de desligar, seus documentos falsos e o envelope branco com dinheiro que ainda estava do jeito que Jason lhe entregara.
Era próximo da meia noite quando ela pôs um casaco sobre sua fantasia e desceu por sua sacada, como Jason fizera tantas vezes. Helena entendia como o sistema de segurança da casa funcionava, pois Damian já havia lhe mostrado. Ela desviou dos sensores e infravermelhos e conseguiu chegar até o muro sem dispará-los. Agora que estava mais forte e mais ágil, não foi difícil escalar o muro.
Quando finalmente estava do lado de fora, ela parou para descansar um pouco, pois todo o exercício lhe dera um pouco de vertigem, e foi quando olhou em volta que outro problema apareceu.
A porcaria da mansão era no meio do nada!
Em seu desespero de sair, ela nem pensou nisso e quase podia ouvir Damian brigando com ela por sua falta de preparo.
Resignada, verificou que precisaria andar muito ou conseguir uma carona para cidade. Eu só me fodo, ela pensou.
Quase arrependida, mas se recusando a retornar e admitir sua derrota naquela cruzada que estava travando silenciosamente contra a autoridade de seu pai, ela andou quase uma hora até encontrar a propriedade mais próxima da mansão Wayne. Era outra grande mansão e não parecia ter ninguém por perto. Ela tentou imaginar quanto tempo demoraria para chegar na cidade. A noite estava fria e seu casaco não era muito longo, estava muito arrependida de ter saído com aquelas roupas.
Um carro surgiu na estrada, iluminando-a. Helena apressou o passo, mas não havia lugar nenhum para se esconder. Colocou as mãos dentro do casaco e cobriu a cabeça com o capuz, o carro passou por ela devagar e ela logo pôde ver que era uma viatura de polícia. O carro parou um pouco a sua frente e dois policiais desceram.
- O que faz sozinha no meio da noite, querida? – o tom do policial era sarcástico e Helena sabia que aquele não era um bom sinal.
- Estou indo pra casa. – Helena mentiu, não encarava o homem que lançava uma lanterna sobre seu rosto e seu corpo.
- Sua casa é por aqui? – o policial riu irônico para o parceiro. – Inventa outra garota. Uma garota como você só está fazendo duas coisas por aqui a essa hora: ou você está roubando ou está se prostituindo. Acho que vamos precisar revistar você... – o policial se aproximou de Helena e levou as mãos ao quadril da garota. Ela não se mexeu, mas as mãos do policial desceram e envolveram a parte de trás do quadril dela.
- Não me toque! - ela atacou o homem quando sentiu as mãos dele lhe apalparem. Ela acertou o policial com uma cotovelada entre os olhos que o fez cair no chão.
- Vadia... – o outro policial reagiu batendo lhe nas costas dela com o cacetete, Helena se curvou sem ar. – Você vai pro distrito.
Helena foi algemada e colocada na viatura.
Sentada no banco de trás do carro da polícia, ela sentia como se os pulmões tivessem sido descolados do peito e ainda tentava tomar ar. Não era bem isso que tinha em mente quando decidiu mostrar ao seu pai do que era capaz, sentia-se idiota.
Depois daquela noite, ela tinha certeza de que nunca mais sairia da mansão.
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O policial Bullock estava de saco cheio.
A cidade estava um caos com a disputa por território entre a máfia e ele estava preso naquela maldita delegacia.
O velho policial estava cumprindo mais uma medida disciplinar por ter quebrado alguns ossos de um abusador de menores que ele pegara na semana anterior. Gordon o tinha colocado para fazer trabalho interno. Ele fazia a papelada e encaminhava os pequenos casos a fim de evitar que a delegacia ficasse cheia demais. Suas noites agora eram sempre as mesmas e aquela noite de sábado era mais uma dessas noites cheia de bêbados, malucos e ladrões. Ao olhar para a papelada, ele quase sentia falta de uma caçada ao Coringa, ao Pinguim ou ao Charada.
- Chegou mais uma pra você. – o guarda jogou mais uma pasta na pilha de documentos. – Havia uma foto em cima de uma garota que acabara de ser fichada.
- Arlequina? – ele olhou a foto da jovem que estava vestida como a criminosa.
- Uma gatinha, não é? – o policial comentou com um sorriso. - Muito quente...
- É uma criança, Stuart. – Bullock disse enojado. - Se contenha ou eu te prendo.
- Já é maior de idade, senhor. – o homem se explicou. - Por isso foi trazida pra cá.
- Ainda assim é uma criança. Qual a acusação?
- Violência contra um policial, possível prostituição e roubo.
- Possível?
- Sim, ela bateu no Travis quando foi abordada no meio da estrada no Palisades. Tinha os bolsos cheios de dinheiro e usava essas roupas.
- O Travis, às vezes, precisa apanhar mesmo. – Bullock suspirou, mais uma criança perdida... Resolveu ver aquele caso primeiro e encaminhá-la logo para que a jovem não passasse muito tempo entre os tipos que povoavam as celas do departamento de polícia. – Traga a garota.
Stuart trouxe a garota pouco depois, estava vestida mesmo como Arlequina, embora tivesse belos olhos azuis que o encaravam não assustados, mas furiosos.
- Ok, garota. Eu sou o policial Bullock, o que você fez pra estar aqui? – ele disse encarando-a.
- Nada, só bati em um idiota que tentou passar a mão em mim. – ela disse com segurança e muito mau-humor, fazendo-o lembrar de uma certa adolescente gatuna que ele conhecia desde muitos anos.
Bullock acreditou na garota, ele sabia que aquilo era bem a cara de Travis, já havia avisado Gordon sobre isso. Mas, isso não queria dizer que a garota era total inocente.
- O que estava fazendo a essa hora da noite no Palisades?
- Onde? – ela pareceu não entender.
- O Palisades, o bairro dos grã-finos. O que você estava fazendo lá?
- Olha, eu estava na minha. – Helena defendeu-se, ainda muito parecida com a adolescente gatuna. - Eu só tinha saído pra comer um hamburguer. Esse policial me abordou na estrada me chamando de ladra e prostituta.
- Quer dizer que você saiu da sua casa e foi até o Palisades para comer um hamburguer? Mas não tem lanchonetes lá...
Helena sentiu que o policial lhe olhava como se ela fosse retardada.
- Claro que não, eu saí de casa pra comer um hamburguer.
- Vestida assim?
- A roupa que eu uso não dá o direito aos seus policiais de passarem a mão em mim.
Ela tinha um ponto.
- Esse dinheiro é seu? – ele colocou sobre a mesa o envelope branco que agora estava bem amarrotado.
- Sim.
- Como conseguiu?
- Trabalhando. – ela deu de ombros.
- Tudo isso? – ele indagou incrédulo. – Você precisaria de décadas para conseguir tanto dinheiro... alguns nunca conseguem.
- Eu trabalhei muito pesado. – Helena respondeu sem entender, no envelope devia haver cerca de dois mil dólares. Não era essa fortuna que o policial falava...
- Imagino... E esse celular é seu? – Bullock indagou mostrando o celular que fora confiscado.
- Sim.
- Como conseguiu? Ele vale mais que o meu carro...
- Eu ganhei.
- De quem?
Helena hesitou. O policial vira seus documentos falsos e acreditava que ela era Helena Bertinelli e ela não queria de jeito nenhum que seu pai fosse envolvido naquilo, além do mais, o policial nunca acreditaria.
- Meu namorado me deu.
- Ah, é? E quem é seu namorado? Ele deve ser muito rico...
Helena teve uma ideia naquele momento. E talvez desse certo...
- Sim, ele é. – ela encarou o policial. – E se me der o celular, eu posso mostrar quem é meu namorado.
Curioso, Bullock entregou o telefone para a garota, ela destravou e mostrou a foto de um contato para o policial.
- Nem fudendo que ele é seu namorado.
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Era perto de uma hora da manhã quando Richard Grayson entrou na delegacia de polícia de Gotham.
Não foi difícil localizar quem ele procurava. A falsa Arlequina loira e mal-humorada estava sentada ao lado da mesa de Bullock.
O policial riu quando viu o filho de Bruce Wayne se aproximar de sua mesa.
- E eu achei que você estava mentindo, garota... – ele disse para Helena.
- Boa noite, policial Bullock.- Dick cumprimentou o policial, seu semblante era sério e ele não olhou para Helena.
- Boa noite, Sr. Wayne. – Bullock respondeu sem esconder o sorriso irônico.
- Gostaria de saber os procedimentos para liberar a garota.
- Acho que podemos liberar a srta. Bertinelli de forma amigável. – Bullock explicou. Gostara da garota que lhe lembrava Selina, especialmente depois de saber quem era seu namorado. Estava encantado com a coincidência. - Ao que parece todas as acusações são falsas. – Bullock continuou.
- Quais as acusações?
- Roubo, prostituição e violência contra um policial. Mas ao que parece, a senhorita não roubou nada, nem estava se prostituindo.
- E quanto a violência contra um policial?
- Acerto de contas. – Bullock encerrou o assunto ao olhar para Helena. - Eu só preciso que assine alguns documentos, me acompanhe.
Dick acompanhou Bullock até um guichê de atendimento, o policial pediu as fichas de liberação de Helena Bertinelli, entregando-as para o rapaz assinar. Ele as assinou e as devolveu ao policial.
- Olha, Sr. Wayne, eu sei que não é do meu interesse, mas, cuidado com esses fetiches estranhos. – Bullock sentiu necessidade de dizer. - Deixar a pobre garota sair à noite vestida como uma criminosa? Eu não sei o que rolou, mas acho que o senhor deveria maneirar na farra...
Dick olhou para Bullock, estava furioso com toda a situação.
- Tem razão, policial Bullock. Não é do seu interesse. – falou encarnando o playboy mimado.
- O engraçado é que seu pai também tinha um fraco por garotas delinquentes...
- Boa noite, policial Bullock. – Dick falou se afastando e indo até Helena, um policial abria as algemas da garota.
Dick chamou-a para a acompanhá-lo, entregando-lhe seu sobretudo. Helena sussurrou um obrigada para o policial.
Bullock seguiu os dois com o olhar até deixarem a delegacia.
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- O que você estava pensado? – Dick indagou furioso quando entraram no carro. – Fugir da mansão e conseguir ser presa em questão de minutos!
- Eu só saí pra comer um hamburguer na Batburger. – Helena deu de ombros, como se não fosse importante. - Não sabia que ia ser assediada por um policial corrupto assim que colocasse o pé fora de casa.
- Aqui é Gotham, você nem precisa sair de casa pra alguma coisa ruim acontecer com você. Diabos, que idiotice você fez, Helena! Nós estamos trabalhando feito condenados para conseguir manter você segura, e você sai por aí como se nada estivesse acontecendo! Tem uma guerra acontecendo nas gangues dessa cidade por sua causa!
Helena ficou surpresa.
- O que? Eu não estou sabendo disso... – disse atônita.
- Você não sabe por que estamos tentando poupar você. – ele disse ainda furioso. - Mas você não nos poupa, né?
- Que tipo de guerra?
Dick suspirou e resolveu explicar.
- Marcondes agora se autodenomina "o estrangeiro". Ele está tentando tomar o controle da máfia da cidade. E nós sabemos qual a motivação dele para estar aqui... Parece que Helena de Tróia não foi a única Helena que motivou uma guerra...
- "mia Elena di Troia"... – Helena sussurrou.
- O que?
- "mia Elena di Troia", era assim que ele me chamava... – Helena disse abalada.
- Desculpe, eu não sabia. – Dick sentiu-se culpado, receoso de ter abordado algum gatilho para Helena.
- Tudo bem, obrigada por salvar meu pescoço, Dick.
- É pra isso que serve a família. – ele sorriu, agora tranquilo, e ligou o carro. – Vamos pra casa.
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Mal o casal adentrara na mansão descobriram que eram aguardados. Bruce e Selina estavam no hall e não pareciam nada contentes.
- Boa noite... – Dick falou ao vê-los.
- Bullock me ligou a pouco. – Bruce falou para os filhos assim que entraram. – Ele resolveu me alertar sobre os fetiches estranhos do meu filho... Vocês poderiam me dizer o que está acontecendo?
- A culpa é minha, - Helena apressou-se em dizer.
- Não, a culpa é minha, - Dick tomou-lhe a frente. – Eu convidei Helena para sair e ela pôs essa fantasia pra não ser descoberta, os policiais acabaram confundindo-a com a Arlequina.
- Você sabe que ela não pode sair.
- Sim, eu acho que calculei errado... – Dick passou a mão pelos cabelos.
- Calculou errado? Garoto, ela podia ter sido assassinada! – Selina falou irritada. - É nesses garotos que você confia, Bruce?
- De agora em diante você não toma mais nenhuma decisão referente a Helena. – Bruce falou muito sério. – Bárbara cuidará do treinamento e do esquema de segurança dela.
- Vocês têm um esquema de segurança para mim?
- Temos, mas esse garoto não conseguiu vigiar você direito. – Selina respondeu com os nervos à flor da pele.
- Quando vocês vão parar de controlar a minha vida? – Helena disse com raiva, subindo as escadas.
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Mais tarde aquela noite Helena recebeu uma mensagem. Bullock havia lhe devolvido seu celular e o envelope de dinheiro, que agora estavam na sua mesa de cabeceira.
Surpresa pelo celular demonstrar sinal de vida, ela abriu a mensagem com o coração apressado. Jason viera a sua mente.
- Venha até a cozinha. Tenho algo pra você.
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Helena que ainda estava faminta, estava na cozinha em pouco tempo.
Encontrou Dick esperando-a com dois pacotes de lanches do Batburguer sobre a bancada.
- Como você conseguiu?
- Por delivery, Helena. – Dick falou abrindo um dos pacotes e entregando a ela. – Ele sentou-se em um banco. – Você não precisa fugir de casa pra comer um lanche, basta pedir pelo celular.
Helena se sentiu idiota.
- Não era só isso... Eu só queria um pouco de... liberdade. – ela falou abrindo a embalagem do hamburguer, o cheio lhe fazendo salivar.
- E acabou na cadeia. – Dick falou ao abrir outro pacote, era um fardo de cervejas. - Já que Bruce está com raiva de mim e me acha um irresponsável, – ele entregou uma lata para Helena. – Acho que vou fazer como você e irritá-lo um pouco mais.
- Eu sinto que não fui uma boa influência pra você. – Helena falou com a boca cheia de hamburguer, ao mesmo tempo em que pegava uma das cervejas.
Eles comeram em silêncio e beberam um pouco mais. Helena acabou com seu lanche muito rápido.
- Eu acho que nunca vi uma garota comer desse jeito... – Dick brincou após assistir Helena devorar dois sanduíches rapidamente.
- Desse jeito como? – ela lambia os dedos.
- Esquece... – ele abriu outra cerveja.
- Eu pensei que nunca veria isso... - Helena brincou. - O garoto prodígio tomando uma cerveja... quem diria? Não tem medo de macular sua imagem perfeita?
- Helena, eu já te disse. Eu não sou a pessoa que você acha que eu sou. Você tem uma ideia muito errada sobre mim...
- Acho que não. Você é o que é. O filho que mais se parece com o Wayne, o primogênito, o herdeiro natural dele... E eu acho que você gosta disso, você gosta do lugar onde está.
- De novo isso? O que mais eu tenho que fazer pra você entender que eu não ligo pra nada disso? Que eu não pedi isso? Quantas vezes eu vou ter que repetir? Eu não entendo, Helena. Não entendo de onde vem toda essa raiva, todo esse ódio que você despeja sobre mim. Eu tô o tempo todo tentando te agradar, garota. E você me odeia. Por quê?
Helena colocou a cerveja de lado.
- Eu vou embora.
Dick colocou-se na frente dela, barrando-lhe a passagem.
- Me deixa passar...
- Não. – ele disse decidindo que não ia desistir daquela vez.
- ME DEIXA PASSAR
- Dessa vez você não vai fugir, você vai me dizer.
- Dizer o quê, garoto?
- Você vai me dizer por que você me odeia, Helena.
- Eu não tenho que te dizer nada. – Ela tentou empurrá-lo.
- Só me diga isso. Por quê? Por que você me odeia? – ele a segurou pelos braços. – Só me diga isso...Por que, Helena?
- Me deixa... – ela tentou soltar-se das mãos dele.
- POR QUÊ? – ele gritou, sem deixá-la ir.
- PORQUE VOCÊ ROUBOU ELE DE MIM! – ela gritou palavras que saíram de forma natural, como se sempre estivessem ali.
- Eu roubei? – ele disse soltando-a.
- Eu estava sozinha naquela escola escura e fria e as outras meninas tinha rido de mim porque achavam que eu era órfã. – Helena relembrou a tarde chuvosa há quase oito anos, os olhos cheios de lágrimas e a voz embargada. – Eu abri o jornal e lá estava você. O garoto que Bruce Wayne adotou. Diziam que era o primeiro e único filho dele. Depois não foi muito difícil adivinhar quem era o pequeno companheiro do Batman... Ele acolheu você, ele treinou você... ele tem orgulho de você. Você tomou o lugar que era meu por direito! Você me tomou o meu pai!
Helena falou tudo aquilo em meio a uma ebulição de sentimentos, sua respiração ficara difícil e suas mãos tremiam. O hamburguer e a bebida embrulharam seu estômago, ela correu até a pia e vomitou.
Dick permaneceu parado, um pouco atônito, indo depois até Helena.
- Você está bem?
- Estou, - ela falou após desligar a torneira que limpara a pia. – Foi só um ataque. Alfred me ensinou a lidar com eles.
- Helena, escute... eu não sabia. Nunca foi a minha intenção...
- Eu só queria que ele me olhasse como olha pra você..., - ela chorou mais um pouco e sentiu uma leve vertigem. - mas pra ele eu sou só uma garota birrenta que só traz problemas. Eu sou um acidente e você foi uma escolha.
- Helena não é assim...
- Eu preciso ir. Não me sinto muito bem. – ela disse afastando-se. – Obrigada pelo lanche.
- Helena... – Dick quis segui-la, mas foi detido por Alfred que entrara na cozinha.
- Deixe-a ir, mestre Dick. – o mordomo aconselhou, tinha a mão no ombro do rapaz. – Não a perturbe mais do que ela já está.
- Eu não imaginava, Al. – o rapaz disse perplexo. – Eu não achei que era tão complicado assim...
- Nem a senhorita Helena sabia. – o Mordomo refletiu. – Tenho certeza de que foi uma grande surpresa para ela também.
/
Dick saiu da cozinha pouco depois e ao adentrar o hall, sua surpresa foi enorme ao ver que Helena estava lá. Estava sentada em um degrau no meio da escada, tinha os cotovelos apoiados nos joelhos.
Ela o olhou e ele imaginou que sabia por que ela estava ali. Então ele andou até onde ela estava, subiu os degraus e se sentou ao lado dela.
- Achei que tinha ido para o seu quarto... – foi só o que ele conseguiu dizer.
- Eu... – ela parecia procurar palavras também. – Eu ia... Mas eu comecei a pensar... em tudo, nessa noite... no que eu disse pra você... eu não... eu sabia, mas eu não sabia.
- Eu nunca tinha me colocado no seu lugar. – Dick falou, - do seu ponto de vista, faz sentido.
- Me desculpe... – ela murmurou. – Você é um cara legal. Eu que sou uma pessoa ruim… sou ciumenta e invejosa. – falou olhando para os tênis encardidos da fantasia de Arlequina.
- Não acho que você seja uma pessoa ruim, só acho que estava machucada…
- Não, você é realmente um cara impressionante. Você é tão bom que eu queria ser você…
- É, eu sou adorável, - ele brincou, mas depois ficou sério. - Eu entendo, Helena. E eu peço que me desculpe também, por ter ocupado um lugar que era seu.
- Você não precisa pedir desculpas por isso. Eu que preciso pedir perdão. Eu fui uma megera com você desde que te conheci… Você deve me odiar tanto…
- Não odeio, eu até te beijei… - ele tocou naquele tema delicado sobre o qual não tinham conversado.
- Ah, aquilo… Não foi certo.
- Eu sei… Eu estava confuso, não devia ter feito aquilo.
- Não se desculpe, eu estava confusa também… e eu também correspondi. Mas eu sei que não está certo...
- Eu sei… Acho que tenho estado muito carente... Eu vacilei com todas as garotas que eu amei e confesso que me senti atraído por você...
- Uma pessoa muito especial me disse que você pode sentir atração por alguém e essa pessoa não ser o amor da sua vida. – Helena o olhou. – Eu não sou o seu amor, Dick. E o meu coração não tem espaço pra mais ninguém agora… e nem sei quando terá de novo.
- Eu sei, eu também amo Jason e não quero magoá-lo. Geralmente é ele quem faz isso com a gente...
- Não quero falar dele... – Helena falou enquanto limpava as lágrimas que ainda molhavam seus olhos.
- Deveria. Você precisa falar e resolver as coisas, Helena. Como estamos fazendo agora…
- Jason não gosta de mim, ele só fez um negócio. Afinal, ele é um mercenário.
- Antes de ser um mercenário, ele é família. E você nunca vai saber se ele não gosta mesmo de você, se você não falar com ele. Dê uma chance a Jason. – Dick pediu sincero.
- Ele não veio mais falar comigo, acho que não está interessado… - Helena disse desanimada.
- Ele esteve ocupado com nosso pai, - Dick argumentou. - Além do mais, acho que ele está chateado.
- Como assim?
- Ele pode ter visto a gente se beijando. – Dick confessou em um tom culpado.
- O QUE? Por que você acha isso? – Helena indagou aflita, uma nota de pavor na voz.
- Porque ele fez isso em mim. - Dick mostrou o corte quase cicatrizado no lábio.
- Então você acha que ele se importa? – o coração de Helena disparou.
- Ele se importa mais do que diz. Acho que você deveria dar uma chance a ele. Você consegue fazer isso?
- Eu falo com Jason, mas ele tem que me procurar primeiro. – Helena concordou, uma esperança crescendo dentro dela. - Afinal, foi ele quem vacilou comigo primeiro...
- Eu sei que ele vai fazer isso… tenha paciência. Ele é lento com os sentimentos...
- Eu terei, - ela confirmou, o bom humor voltando. - Mas também tem outra condição…
- Qual?
- Você devia ligar para aquela garota com quem você vacilou… Damian, disse que ela é uma princesa de verdade. Não se acha uma princesa de verdade tão fácil...
- Damian é muito tagarela quando está com você. Mas, eu devia ligar, né? - ele sorriu e ela confirmou. - Mas e nós? Finalmente estamos bem?
- Eu vou continuar brigando com você. – ela sorriu. – Eu adoro tirar esses sorriso idiota da sua cara...
- Então eu acho que ganhei mesmo uma irmãzinha... – ele disse colocando o braço em torno de Helena. A garota apoiou a cabeça em seu ombro e Dick beijou o topo da cabeça dela. – Agora, pensando bem, eu beijei minha irmã. Como vamos fazer isso funcionar?
- Não esquenta, o Luke beijou a Leia e eles ficaram bem... – Helena deu de ombros.
- Quem são Luke e Leia? – Dick perguntou sem entender. – Eles são de Gotham?
- Cara, é por isso que a Babs te chutou... – Helena riu.
Dick ia insistir no assunto sobre os dois irmãos que se beijaram, mas seu celular alarmou muito alto, fazendo Helena se afastar.
Ele pegou o aparelho e olhou o visor.
- Aconteceu alguma coisa? – Helena indagou ao ver o semblante de Dick mudar.
- Aconteceu...
/
Bárbara e Tim trouxeram Damian pouco depois.
Havia muito sangue, Selina ajudou Bruce a conter a hemorragia do menino. Ele havia sido atingido na perna, na altura da coxa e chegou desacordado devido a perda sanguínea.
Dra. Thompkins chegou pouco depois acompanhada de Dick. Muitos soros e transfusões sanguíneas foram necessárias, mas ela conseguiu estabilizar os sinais vitais de Damian.
- Ele teve sorte. Se ele tivesse sido atingido um centímetro para o lado, teria atingido a artéria femoral e ele não teria resistido. – A doutora falou após transferir o garoto para uma cama hospitalar. – A bala entrou e saiu, não houve danos nos ossos. Ele ficará bem, mas vou permanecer aqui essa noite para monitorá-lo.
Selina ficara ao lado de Bruce monitorando o menino, os demais precisaram voltar a cidade, pois estava havendo outra briga de gangues, agora pelo território do Narrows.
Damian acordou pouco depois que os outros saíram.
- Pai... – o garoto sussurrou quando abriu os olhos, fazendo Bruce se aproximar. – Ele atirou em mim...
- Eu sei...
- Ele mandou um recado pra você... disse que está fora... – Damian disse com dificuldade. – Que o senhor achasse outro para o plano louco do Cons... Constantine...
- Ele está mentindo.
- Não... – Damian esforçou-se para dizer. – Luthor... ofereceu a cidade pra ele... e ele aceitou.
- Ele está mentindo. – Bruce insistiu.
- Pai... Feche a mansão... agora! Ele quer Helena... Ele vai entregá-la a Luthor e Marcondes... E vai ficar com a cidade... Ele quer controlar todas as gangues...
- Isso deve fazer parte do plano de Constantine... – Bruce raciocinava.
- Pai! Me escute! – Damian pediu desesperado. – Ele tentou me matar!
- Ele não faria isso... deve ter algo mais...
- Pai, aceite! – Damian pediu em desespero. - Ele nos traiu!
/
Passaram-se mais duas semanas e a tensão em Gotham apenas aumentava.
Damian contou a Helena que fora atingido por um membro de uma gangue e se recuperara muito bem, mas ainda não tinha sido liberado para sair em patrulha e ajudava no que podia na caverna.
A garota permanecia no escuro sobre o acontecia na cidade e Dick não lhe falara mais sobre a guerra entre gangues, ele fugia de Helena o tempo todo.
Helena achou que todos os dispositivos extra de segurança que foram colocados na casa eram para evitar que ela fugisse. A porta da sacada de seu quarto fora lacrada e o vidro das portas e janelas foram trocados por vidros blindados e que não permitiam que quem estivesse no exterior conseguisse ver o que se passava no quarto. Diversos sensores extras foram colocados do lado de fora de seu quarto e qualquer um tentasse se aproximar pelo lado externo, seria prontamente capturado.
Damian e Dick se mudaram para quartos ao lado do quarto de Helena e a garota andava irritada achando que seus pais estavam passando do limite. Dick fora substituído em seus treinamentos por Bárbara e Helena achava que se devia ao fato de ele ter se responsabilizado pela fuga dela. O que Helena não imaginava é que aquele havia sido um pedido de Dick a Bárbara, ele preferia se manter distante da garota, pois também não queria mentir para ela.
Helena tentava pescar informações sobre o que estava acontecendo em Gotham, mas ninguém lhe dizia nada. Ela podia sentir que algo grande e ruim estava acontecendo, mas sua atenção estava um pouco dispersa aqueles dias, pois Damian estava em casa o tempo todo e ocupava quase todo o tempo, o irmão colara nela como carrapato.
No final daquela manhã, Damian estava na caverna e o treinamento de Helena havia terminado. Ela desceu até a cozinha, procurava água e biscoitos salgados. Alfred não estava lá, então ela pegou um copo de água e aproveitou para ligar a pequena TV que o mordomo tinha ali. Passou pelos canais até chegar no canal onde estava passando um noticiário.
O Gotham News mostrava uma perseguição que ocorrera na noite anterior. Viaturas de polícia perseguiam uma gangue de motoqueiros que pertenciam ao grupo criminoso do estrangeiro. O grupo fugia rápido pela rodovia e trocava tiros com os policiais, os jornalistas diziam que eles eram perigosos e violentos. Quando a câmera se aproximou no grupo, Helena congelou.
Ela deixou o copo cair, se espatifando no chão. Seu coração disparou, o ar faltou de seus pulmões e ela precisou se segurar na bancada da cozinha para conter a vertigem que a tomara ao ver aquela imagem.
A imagem apontava o criminoso que comandava a gangue, um assassino perigoso e que era apontado como o novo braço direito do estrangeiro.
Esse criminoso era o Capuz vermelho.
/
- Por que ele fez isso? – Helena perguntou após esmurrar a porta do quarto de Dick minutos mais tarde. O rapaz a olhava sonolento, tinha os cabelos bagunçados, alguns ferimentos e hematomas espalhados pelo rosto.
- Eu não sei. – Dick disse inexpressivo. – Suponho que por dinheiro.
- Ele não pode ter traído a família... – Helena disse incrédula, sem conseguir conter as lágrimas.
- Infelizmente, não seria a primeira vez. – Dick falou triste. - Jason já nos traiu antes...
- Mas ficar ao lado de Nico? – Só de pensar, a falta de ar e náusea tomavam Helena, sua garganta apertava.
- Eu sei, dói em mim também, Helena.
- Desde quando vocês sabem?
- Olha, Helena, eu não deveria nem estar falando com você...
- DESDE QUANDO? – ela insistiu.
- Desde que ele atirou em Damian.
- ELE ATIROU EM DAMIAN? – Helena disse sentindo o chão sumir sob seus pés. - Foi ele quem atirou no meu irmão?
- Sim. -Dick disse desolado. – Eu também não consigo entender...
- Eu consigo. – Ela disse arrasada. - Ele perdeu a fonte de lucro... Foi buscar um trabalho melhor...
- Eu sinto muito.
- Não sinta. Não preciso da sua pena. – ela disse com raiva.
Helena deu as costas ao rapaz e voltou para seu quarto.
/
Ela não conseguia acreditar que aquilo estivesse acontecendo. Não agora. Não nesse momento. Lembrou de sua mãe que lhe jogou na cara que ela não sabia escolher os homens com quem se envolvia. Mas Jason... ele não tinha os sinais. Ele quase parecia... amá-la.
Como ela podia ter se enganado tanto?
Jogou-se em uma poltrona sentindo-se novamente em desespero.
Por que isso tinha acontecido logo agora?
Logo agora que ela tinha começado a perceber?
/
Helena tinha começado a perceber os sinais há quase uma semana. Ela já vira aquilo acontecer antes, uma ou duas vezes com as garotas da escola.
Começou imperceptível. Ela estava sempre pronta e dispostas para os treinos, sempre tentando dar o melhor de si, mas aí ela passou a não conseguir acordar tão cedo. Conforme os dias foram passando, ele sentiu sua energia sugada, apesar de todas as tentativas de se sentir bem. Passava o dia inteiro cansada e suas noites eram insones, andando pela mansão como uma sonâmbula.
Ela estava exausta e aquela revelação sobre Jason era o tiro de misericórdia. Não podia mais lidar com aquela dúvida.
Tomando coragem, ela procurou o nome na lista de contatos do celular. Ela ligou e as lágrimas já corriam pelo seu rosto. O telefone chamou uma, duas vezes, e então atenderam.
- Babs? Eu preciso de você...
/
Havia muita neve naquela noite.
A última vez que Helena vira tanta neve, ela era criança e seus pais estavam resfriados e ela fizera sopa para eles. Bárbara saíra a pouco e lhe dissera que havia notícias de que uma nevasca iria se abater sobre Gotham naquela noite. A garota não queria ir embora, mas Helena insistiu que ela fosse embora e cuidasse da mãe dela naquela noite. Bárbara saiu somente após Helena prometer que lhe chamaria, caso precisasse.
Helena agora olhava por uma grande janela de vidro da mansão, o mundo parecia ter desaparecido lá fora. A casa estava muito silenciosa. Nenhum dos rapazes parecia estar por ali.
Ela já se sentira muito confusa e perdida durante toda sua vida, mas nada se comparava a como se sentia naquele momento, era como o chão fosse sumir de seus pés a qualquer momento.
Atordoada, sequer percebeu quando seus passos lhe levaram até a biblioteca. Sem hesitar, ela foi até o relógio de carrilhão e acionou a passagem secreta.
Chegou à caverna instantes depois e pode vê-los, mal entrara no corredor de troféus.
Eles estavam lá, conversando junto do grande computador, concentrados, parecendo tão íntimos. Quando eles ficaram tão íntimos?
Eles ficaram tensos quando a viram, pararam de conversar e agora, calados, observavam sua aproximação.
Helena olhou para os dois de outra forma, tentou esquecer o homem sisudo e sombrio e a mulher egoísta e mesquinha, e buscou encontrar ali o jovem que lhe contava histórias para dormir e a garota que lhe preparava torradas e suco e garantia que ela comesse tudo. Ela queria muito encontrá-los ali.
Precisava deles.
- Helena... – Selina falou ao vê-la. – Você está bem?
- Eu estava refletindo, - ela disse sem encará-los diretamente e o casal se entreolhou preocupado. – Sobre aquele dia que vocês me mandaram para aquele colégio...
Ela fez uma pausa, mas o casal não disse nada. A respiração dos dois em suspenso.
- Eu estava pensando sobre aquilo... – ela continuou com dificuldade. - e acho que... -
Ela fez outra pausa longa e respirou fundo. - eu acho que entendo vocês.
- Você... entende? – Selina balbuciou.
- Sim, vocês estavam com medo. – ela os olhou. - Agora eu entendo isso. Eu entendo por que... porque... – ela respirou fundo. - porque eu estou morta de medo.
- Helena, o que está acontecendo? – a voz de Bruce, sempre tão sóbria, tinha um tom anormal, aflito.
Ela os olhou por um momento, tomando um pouco de ar.
- Mãe... pai... eu estou grávida.
