AINDA ESTÃO ROLANDO OS DADOS
"Helena veio mais vezes; o gosto de a ver fez olvidar o perigo, e eu bebi, em horas escassas e furtivas, a única felicidade que me restava na terra, a de ser pai e a de me sentir amado por minha filha."
Helena, Machado de Assis, 1876.
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- Mãe... pai... eu estou grávida.
Helena se arrependeu no instante em que a frase saiu de sua boca. Ao mesmo tempo, era um grande alívio poder falar aquilo em voz alta pela primeira vez.
Ela virou-se para sair, a coragem se esvaindo junto com a revelação.
Mas antes que pudesse sequer dar o primeiro passo, Helena foi detida.
- Você não precisa ter medo. – Bruce tocara em seu ombro, fazendo-a olhá-lo.
- Eu não sei o que fazer... – ela murmurou sem olhá-lo.
- A gente nunca sabe... – foi a vez de Selina dizer alguma coisa para a filha, ela estava ao lado de Bruce.
Helena olhou para os pais, um pouco surpresa. Eles não estavam calmos, mas não pareciam censurá-la.
- Vocês não estão furiosos?
- Claro que estamos, Helena, vamos ser avós aos trinta e seis! – Selina mantinha-se tranquila, tentava acalmar a filha. – Nós vamos ser avós, não vamos? – ela acrescentou ansiosa.
- Como assim? – a garota não entendeu.
- Sua mãe quer saber se você pretende seguir em frente... – Bruce explicou, aquele homem sempre tão sóbrio, parecia desconcertado.
- Sim... – Helena disse ainda atordoada. – Acho que essa é a única certeza que eu tenho até agora... Eu nunca cogitei não continuar. Eu apenas não acredito ainda que isso está acontecendo...
- Eu sei que é assustador, gatinha... Mas você não está só... – Selina tocou o ombro da filha, sua vontade era abraçá-la, mas temeu assustar Helena, em dez anos aquele era o maior avanço que tivera com a filha.
- Obrigada, - Helena disse limpando as lágrimas com o dorso das mãos, parecendo mais calma.
- Jason sabe? – Bruce indagou, sua voz mais afável que de costume.
- Não, e eu não quero que ele saiba. – Helena balançava a cabeça em negativa.
- Ele tem o direito de saber.
- Eu sei que ele é um criminoso agora. – ela revelou para os pais.
- Gatinha, ele sempre foi... – Selina não se conteve.
- Não, - Helena explicou. – é pior. Eu sei que ele está trabalhando com Nico. Eu vi na TV. E eu também sei que ele atirou no meu irmão...
Bruce e Selina se entreolharam.
- É verdade. – Bruce confirmou. – mas essa é uma notícia que pode trazê-lo de volta a razão...
- Trazê-lo de volta a razão? Você não está pensando em perdoá-lo, está? – Selina indagou para Bruce, indignada. – Ele nos traiu! Atirou no seu filho! Ah, esqueci... Você sempre perdoa aquele moleque...
- Eu também sempre perdoei você. – ele encarou Selina e depois voltou-se para Helena. – Não é certo esconder isso dele. Eu sei o que é perder a oportunidade de ver seus filhos cresceram. Apesar de tudo, ele é o pai dessa criança.
- Ele é? – Selina indagou para a filha.
- Claro que é ele! - Helena disse indignada.
- Bem, eu pensei... você e o outro garoto...
- Nunca houve nada. – Helena mentiu.
- Bem, no fim, a culpa é sempre do bad boy de moto e jaqueta de couro... – Selina cruzou os braços.
- Selina... – Bruce falou em tom de advertência. – Deixe-a em paz.
- Eu só tô tentando levar isso tudo com leveza. – ela olhou para a Bruce e para a filha. - Entenda, gatinha: não é o fim do mundo. E você não está sozinha.
Helena ia falar para a mãe como se sentia grata por aquelas palavras, mas não chegou a fazê-lo.
- Ah, você está aí, - Damian adentrava a caverna, ainda mancando de uma perna. – Eu procurei você na casa toda, achei que tinha fugido de novo... por que estão com essas caras? – ele indagou ao ver o casal e Helena que permaneciam tensos. – Estão brigando de novo?
- Está tudo bem, D. – Helena falou buscando disfarçar. – Eu apenas estava perguntando se eu podia fazer treinamento externo, mas parece que não é possível.
- Quando for seguro, eu mesmo vou pras ruas com você. – Damian disse para a irmã. – Você terminou aqui? Eu queria mesmo falar com você sobre umas mudanças que eu fiz no seu treinamento...
- Os treinamentos de Helena estão suspensos por enquanto. – Bruce falou para o filho.
- Papai, por que está punindo-a dessa vez?
- Não estou. Preciso que ela faça uma avaliação física para podermos continuar. – Bruce falou já que não era mentira. Helena precisaria mesmo passar por exames.
- Que perda de tempo! – o menino resmungou contrariado e olhou para a irmã. – De qualquer forma, eu tenho um tempo livre agora, já que me tornei incapaz. Vamos jantar? – ele perguntou para Helena.
- Acho que vou jantar mais tarde, não estou com apetite agora. – Helena não queria se afastar dos pais.
- Tudo bem, se você quer deixar seu pobre irmão, que esteve à beira da morte, jantar sozinho... – Damian disse dramático, dando as costas para Helena.
- Eu vou com você, manhoso! - Helena falou acompanhando o garoto. Ela lançou um último olhar para os pais antes de sair.
- Depois podemos ver uma um anime que o Jon tá falando o tempo todo, é sobre titãs! – Damian disse animado para a irmã.
Helena e Damian entraram no elevador deixando o casal a sós na caverna.
Selina encarou Bruce, assim que ficaram sozinhos.
- Tudo isso porque você confiou naquele garoto! – Selina apontou o dedo para Bruce. - Olha no que deu, o fedelho engravidou a nossa filha!
- O que está feito, está feito. – Bruce disse sério.
- E você ainda quer que esse moleque saiba que Helena espera um filho dele? Ele é um traidor! – Selina abriu os braços, indignada.
- Ele tem o direito de saber.
- Acorda, Bruce! Está trabalhando com Luthor e com aquele homem horrível que feriu nossa filha! – Selina insistiu. - Ele é tão ruim quanto os outros! Tá mais do que na hora de você aceitar que esse garoto é um caso perdido...
Bruce não respondeu.
- Vou sair. – ele falou pegando um de seus trajes. – pode assumir a segurança da casa hoje à noite?
- Claro. – Selina disse resignada. – Aonde você vai? Tem um absurdo de neve lá fora...
- Essa situação toda já foi longe demais. Preciso fazer alguma coisa.
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- Essa não é uma noite boa para sair de casa... – Clark disse enquanto pairava sobre a grande quantidade de neve que se acumulava no telhado do prédio. – Mas se você chamou, deve ser importante.
- Helena está grávida. – Bruce disse sem olhar para o velho amigo.
Clark ficou sem palavras por um instante, perplexo diante da estratégia de Bruce para grandes revelações: rápidas e certeiras.
- Por favor, não me diga que Marcondes é o pai. – o homem de aço indagou com preocupação sincera.
- Não é. O filho é de Jason.
O Kriptoniano olhou pasmo para o amigo e respirou profundamente.
- Bruce, eu avisei sobre o julgamento que você faz de seus garotos! Eu avisei!
- Isso não está em discussão. – Bruce o interrompeu. – Não foi pra isso que chamei você aqui. O estrangeiro está tomando conta das gangues de Gotham. Eu esperei muito tempo, porque precisava descobrir o que Luthor sabia, mas agora que Jason nos traiu, eu não posso deixar essa situação se estender.
- Ele traiu você? – Clark disse sem acreditar. – Ele engravidou sua filha E traiu você? Eu avisei tanto...
Clark e Selina podiam se dar as mãos, Bruce pensou.
- Eu já disse que isso não está em discussão. Você vai cooperar?
- Claro, - Clark disse irritado. – Você é um idiota, mas é meu melhor amigo. O que você quer que eu faça?
- Você não precisa fazer nada. Eu preciso da ajuda da Lois.
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Helena acordara na manhã seguinte com um alarme alto de seu celular. Ela não lembrava de ter colocado aquele alarme. Quando pegou o celular, viu que tinha uma mensagem. Seu pai a estava chamando na caverna.
Depois de vomitar o que não tinha no estômago e amaldiçoar ter conhecido Jason por três ou quatro vezes, ela se vestiu e conseguiu chegar até a caverna.
- Estou aqui. – ela disse tentando parecer digna, embora soubesse que seu semblante não era dos melhores: mal penteara o cabelo e estava consciente de suas olheiras e de sua palidez fantasmagórica.
- Venha comigo.
Helena acompanhou o pai e andaram pelo corredor até chegar à área médica da caverna. Ela já conhecia aquela área, já havia acordado lá uma vez.
- Sente-se aí. – Bruce pediu mostrando uma grande poltrona reclinável.
Ela obedeceu.
- Eu não preciso fazer outro teste de gravidez, - Helena disse em tom de protesto, já sentada na poltrona enquanto via seu pai manipular dispositivos médicos. – Babs trouxe três testes de farmácia, todos foram positivos.
- Esse não é o único teste que você precisa fazer. – Bruce disse concentrado, sentando-se em um banco ao lado dela. Ele usava luvas médicas de cor preta. – Apoie seu braço aqui.
Helena jogou o braço sobre o suporte e Bruce o garroteou com um dispositivo que lembrava um cinto.
- Você tem medo de agulhas? – ele indagou quando abriu o dispositivo mostrando a agulha conectada a um tubo plástico.
- Se eu tiver, faz diferença? – ela indagou, embora não tivesse medo.
- Não. Mas, prometo ser rápido, - ele falou puncionando uma veia calibrosa na face posterior do antebraço da garota. Em seguida ele soltou a fita que garroteava o braço de Helena, e conectou um tubo de plástico ao dispositivo que instalara no braço de sua filha.
Helena olhava para o tubo de plástico que se enchia com seu sangue, o sangue era de um vermelho bem escuro.
Quando o tubo de tampa vermelha encheu, Bruce troco-o por um de tampa cinza, em seguida por um tudo de tampa roxa. Ele era rápido e preciso. Em pouco tempo encheu um, dois, três tubos... Quando encheu o último tubo, ele retirou o dispositivo com a agulha e fez uma pequena pressão sobre o braço de Helena, colocando um pequeno curativo sobre o local que puncionara.
- Fique sentada um pouco, você pode sentir tontura. – ele pediu, levantando-se e colocando os tubos em uma máquina, retirando as luvas em seguida.
Helena olhava o pai trabalhar com os tubos de sangue, Bruce colocara-os em uma máquina que girava, depois os tirou e colocou em outra máquina que sugou o conteúdo.
- A última vez que tirei sangue foi com uma enfermeira que Alfred chamou aqui... acho que foi para o teste de DNA. – Helena falou como se não fosse importante, incomodada com o silêncio. Era muito estranho estar sozinha com seu pai.
- Parece que está tudo bem, - ele disse após analisar alguns resultados que eram impressos pela máquina. – Sua saúde está ótima e você está mesmo grávida.
- Então parece que o veredito está dado. – ela disse levantando-se rápido demais, sentindo a visão escurecer e as pernas cederem. Bruce a segurou.
- Eu lhe disse que não se levantasse. – ele a repreendeu, recolocando a filha na poltrona inclinável.
- O senhor disse, mas eu só faço o que eu quero. – Helena brincou enquanto tinha os olhos fechados, ainda sentindo um pouco de náusea.
- Eu sei. Você é idêntica a mim.
Helena abriu os olhos e encarou o pai que estava novamente sentado no banco ao seu lado.
- Nós não somos controláveis. – ele disse sincero. – E eu cometi um erro ao tentar controlar você.
Helena estava sinceramente surpresa, aquele tom confessional não era do homem que ela conhecera a voltar pra Gotham, o homem a sua frente agora parecia mais com o jovem pai que ela tivera anos atrás.
- Nós só queríamos proteger você. – ele continuou alheio a surpresa da garota. – Desde o começo. Mas acho que fizemos tudo errado... Eu tenho alguns fracassos de que não me orgulho. Perder sua mãe... a morte de Jason e... abandonar você. De todos os meus erros, que não são poucos, esses são os que mais me martirizam.
Helena não foi capaz de dizer nada. Observou seu pai que continuava de cabeça baixa, parecia devastado. Estupefata e emocionada com aquela confissão, seu único e principal impulso foi inclinar-se na poltrona e abraçá-lo.
O abraço dela conseguiu surpreender aquele homem que raramente era pego de surpresa.
- Eu senti tanto sua falta, pai. – Helena falou ao abraçá-lo.
- Eu também senti a sua, princesa. – Bruce confessou ao abraçá-la de volta.
Ele trouxe sua menininha para próximo, e foi como se voltasse muitos anos no tempo. Como se resgatasse alguém que ele fora um dia.
- Mestre Bruce... – a voz de Alfred interrompeu o abraço entre pai e filha e ambos olharam para o mordomo que parecia emocionado. – Perdão por interrompê-los, Mestre Clark está lá em cima com a senhorita Selina, estão aguardando o senhor.
- Estou indo, - ele falou levantando-se. – Alfred, cuide de Helena, ela precisa comer alguma coisa. Mais tarde, Lee virá para fazer outros exames.
Bruce saiu, não sem antes trocar um último olhar com a filha.
- Esperei muito por esse momento, senhorita. – Alfred falou quando ficou a sós com a garota. – E mestre Bruce me contou a novidade. Confesso que não aprovo o que a senhorita e mestre Jason fizeram, mas talvez essa criança seja o precisamos para fazê-lo pensar melhor...
- Não me lembre dele, Al.
Falar de Jason tinha um efeito imediato em Helena. Doía muito.
- Mestre Jason a ama, senhorita. – o mordomo disse tranquilo. - E eu sou capaz de dizer que ele jamais amou alguém como a ama a senhorita.
- Eu não acredito. – Helena disse se levantando por fim. – mas não quero falar dele. Que tal aquele café da manhã?
Ela jogou os pensamentos tristes para longe e sorriu para o mordomo, os dois saíram juntos rumo a cozinha.
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- Luthor concordou. – Clark falou para Bruce e Selina. Estavam no hall da mansão, Clark usava o uniforme.
- Tão fácil? – Selina desconfiou. – Ele tem mesmo um crush na sua esposa, heim... Melhor tomar cuidado, fortão.
- Ele não aceitou fácil. Por isso vim aqui. – Clarck explicou. - Ele só aceitou quando Lois disse que Bruce já tinha aceitado e que estava muito interessado em compartilhar essa entrevista com ele. E ele tem uma condição...
- Qual? – Bruce indagou.
- Ele quer que Lois convença você a ir para uma festa de arrecadação de fundos que ele dará em uma de suas mansões em Metrópolis no final de semana. Ele disse que poderiam dar a entrevista durante a festa. E ele foi muito específico...
- Específico?
- Sim, ele disse que gostaria de conhecer sua família. Pediu que Lois o convencesse a levar seu filho mais velho e "aquela namorada dele"...
- Bárbara? – Selina estranhou.
- Helena. – Bruce corrigiu. – Aquela festa em que Dick levou Helena há algumas semanas, saiu uma foto dos dois nos tabloides. Ele sabe.
- É uma armadilha. – Selina sentenciou. - Nós não vamos levar Helena até aquele cretino!
- Provavelmente é. – Bruce refletiu. – Mas devemos prosseguir com o plano. Cuidaremos para que Helena esteja protegida. Se Luthor quer conhecer minha família, ele vai conhecê-la.
Toda ela.
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Jason acordou e já era noite novamente.
Ignorou a garota a seu lado e foi até o banheiro, retornou pouco depois de rosto lavado e recolocou o capuz. Deixou uma boa quantidade de dinheiro na mesa de cabeceira junto com o passaporte da garota e um pedaço de papel onde escreveu "fuja" com o batom dela.
Olhou o celular, havia muitas mensagens da gangue do estrangeiro. Desceu as escadas do prédio velho e sujo e pegou sua motocicleta. Chegou ao bar do cassino clandestino pouco depois. Encontrou os companheiros de gangue no bar.
- Olha quem voltou... – O mais velho dos homens, Rômulo, o chacal, falou ao vê-lo. – Soubemos que você finalmente saiu daqui com uma garota... Já estávamos ficando preocupados com você...
- É, achávamos que você não tinha pau... – um segundo deles, Lobo, comentou fazendo a mulher ao seu lado gargalhar.
- E deve ter uma cara bem feia embaixo dessa máscara... – Teo, outro dos homens, provocou.
- Não tenho que prestar contas da minha vida pra vocês. – o capuz falou sem humor nenhum.
- O chefe quer ver você. – o chacal anunciou. – Não viu as mensagens?
- Não. O que ele quer?
- Alguma coisa envolvendo a tal garota.
- A morena em que ele é fissurado? Ele a achou? – Lobo perguntou curioso. – Eu a vi na Itália. Muito gostosa.
- É o tipo de garota que é igual caviar, só rico come. – Teo comentou enquanto colocava uma nota de dez no decote de uma garota.
Todos riram, menos o capuz.
- Ele está aqui?
- Sim, no escritório.
O capuz vermelho seguiu para o escritório do novo chefe do crime em Gotham. Passou pelos dois homens fortemente armados que abriram caminho para que ele entrasse.
Quando entrou no escritório, Nico dispensou a garota que estava sentada em seu colo. Constantine estava lá também, sentava-se em uma poltrona e tomava uma bebida.
- Ora, meu melhor homem... finalmente. – o mafioso falou enquanto tragava um charuto. – aproxime-se.
- Achei que eu fosse seu melhor homem... – Constantine disse de onde estava. – Meus serviços não são valorizados nesse lugar...
- O rapaz aí tem talentos muito diversos... gosto da sua violência, garoto. – Nico o elogiou. – Aquilo que fez com o Robin... foi um grande recado para o morcego.
- Fico contente que aprecie os meus métodos. – o capuz comentou, um ponta de sarcasmo na voz, mas Nico não notou. - Me disseram que queria me ver. Já sei do que se trata. Finalmente acharam uma forma de pegar a garota?
- Sim, e não graças a você. – Nico replicou. – Já passaram semanas e vocês não conseguiram invadir aquela mansão...
- É a casa de um dos homens mais ricos do mundo... – Constantine interveio. – E os Wayne reforçaram a segurança por sua causa.
- Que seja... – Nico aceitou. – Mas agora surgiu uma oportunidade. Quero que organize seus homens e a tragam para mim.
- Não. – o capuz vermelho falou.
- Como não?
- Primeiro ela será levada para Luthor. Esse é o trato. – Constantine explicou. – Depois que eu e Luthor a interrogarmos, ela será todinha sua.
- Que seja... – Nico repetiu. – Contanto que a tragam para mim. Ela me pertence.
- Como um objeto? – o capuz indagou.
- É como se fosse. – Nico não entendeu o sarcasmo. - E eu não gosto que toquem no que me pertence. Por falar nisso, veja só, a minha garota está namorando outro... Um moleque... – o homem disse jogando na frente do capuz vermelho um jornal que ele conhecia em que havia a foto de Helena ao lado de Dick. – Ela está namorando, nada mais nada menos que o filho de Bruce Wayne... o que só me diz como esses ricos são pervertidos...
- Nem me fale... – Constantine concordou de onde estava. – Odeio gente pervertida...
- Você vai trazer a garota, e ganha um bônus se meter uma bala na cabeça do playboy que tá comendo ela.
- Considere feito. – o capuz vermelho respondeu.
Ele ainda olhava a foto no jornal.
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Todos foram convidados para o jantar aquela noite, e após o jantar, Alfred ofereceu um café para todos na biblioteca, embora só Tim tivesse aceitado. Dick e Damian recusaram o café. Dick estava impaciente, pois precisava sair em patrulha e Damian continuava reclamando da perna machucada e de não poder sair em patrulha. Bárbara preferiu tomar chá e Helena saiu correndo para o banheiro só de sentir o cheiro da bebida. A garota entrara recentemente na fase dos enjoos e não comia quase nada há dois dias.
Quando ela voltou poucos minutos mais tarde, todos ainda esperavam.
- Ele não vai vir? – Dick indagou impaciente para o mordomo. – Ele sabe que temos afazeres.
- Um pouco de paciência, mestre Dick. – Alfred pediu.
Poucos minutos depois, Bruce entrou na biblioteca ao lado de Selina.
- Boa noite, chamei vocês aqui por que temos um anúncio para fazer...
- Por favor, não digam que vocês vão se casar no meio desse caos... – Dick ironizou.
- Não é isso, Selina e eu somos apenas...
- Companheiros de causa. – Selina completou. – Mas isso não é importante agora, deixe seu pai falar.
- Não sou em quem vai falar. – Bruce recomeçou. – Helena... conte aos seus irmãos.
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- Eu vou matá-lo! – Damian repetia pela décima vez cinco minutos mais tarde. – Eu vou cortá-lo em vários pedacinhos com a minha espada... Ah, eu vou! e depois que eu o achar, ele não vai mais poder engravidar a irmã de ninguém...
- Damian, já basta. – Bruce censurou o menino.
- Eu nunca deveria ter confiado nele! – o garoto vociferou.
- D, você poderia parar com o drama? – Helena pediu impaciente. – Jason pode ser culpado de muitas coisas, mas ele não tem culpa em relação a isso.
- Ah, ele tem sim! – o menino a ainda resmungou. – E eu vou picá-lo e...
- Você não vai nada. – Helena o interrompeu.
Ainda levaram mais alguns minutos para acalmar o garoto mais novo que estava inconformado.
Por fim, Damian acabou se acalmando após Helena lhe falar que ele seria o tio favorito do bebê que estava a caminho.
- Agora que está tudo esclarecido, - Bruce disse depois que o mais novo se acalmou. – Temos outro assunto pra discutir. Tenho um plano para pegarmos Luthor, mas vou precisar de todos vocês...
Os filhos de Bruce o olharam, ele tinha a atenção de todos.
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- Obrigada por me incluírem, - Helena falou para os pais após a reunião, quando todos se dispersaram (Damian foi para o quarto sob protestos, não queria sair de perto da irmã e de seu futuro sobrinho).
- Ainda estamos preocupados com a sua segurança e não vamos deixar você fazer nada arriscado, principalmente agora. – Bruce fez questão de lembrar.
- Resolvemos mudar a abordagem... – Selina falou mantendo um pouco de distância da filha. – Você vai participar de tudo de agora em diante. Entendemos que você não é mais uma criança...
- Demorou bastante, né? – Helena encarou a mãe.
- Convenhamos que seu comportamento não ajudou muito... – Selina rebateu.
- Helena, você se sente mesmo preparada para ir a Metrópolis? – Bruce indagou, temendo uma discussão das duas. - Luthor vai estar lá. Marcondes pode estar lá... Não vamos colocar você em uma situação que você não consiga lidar.
- Pai, mãe, parem de achar que eu tenho medo! Eu não tenho! – Helena asseverou. - Eu quero resolver isso de uma vez por todas... quero que as pessoas que eu amo não estejam mais em risco por minha causa... Eu vou fazer o que for preciso. Só me deem uma chance.
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Eles tiveram a semana toda para os preparativos da festa de Luthor naquele sábado à noite.
Na noite da festa, Helena estava se arrumando.
Ela vestia o mesmo vestido branco com rendas pretas que fora de sua mãe e que ela já usara na exposição no museu. O vestido agora estava bem justo nos seios, Helena percebeu que eles estavam maiores, assim como um bom observador poderia perceber uma leve saliência em seu ventre, outrora muito esguio.
- Não vai usar o vestido que Alfred trouxe? – Selina entrou no quarto e olhou a filha que se olhava no espelho.
- Não serviu. – Ela virou-se para olhar para a mãe e deu de ombros. A relação entra as duas ainda era distante. – Achei que o corpo da gente demorasse para mudar...
- E demora. – Selina sentou-se em um poltrona, cruzou as pernas e observou a filha. – Mas algumas coisas mudam rápido... você vai sentir os seios maiores e doloridos... Eu lembro que eu tinha um peito magricela de garoto e de uma hora pra outra apareceram aqueles peitões... – ela riu. – Eu me achei o máximo.
- É estranho estar mudando... – Helena falou enquanto tentava sem sucesso prender o cabelo em um coque.
Selina levantou-se e foi até a filha.
- Sente ali. – ela mandou a filha sentar-se em frente a uma penteadeira com espelho. – Deixa que eu faço. – ela pegou os grampos, a escova e começou a fazer o penteado de Helena. – Meu cabelo seria igual ao seu se eu deixasse crescer... – comentou enquanto passava a escova nos cabelos macios da filha.
- Exceto pela cor. – Helena falou olhando a mãe através do espelho.
- Sim, a cor é contribuição do seu pai.
- Eu lembro quando você me penteava... Você colocava fitas no meu cabelo, fazia tranças... Você era boa...
- Eu aprendi fazendo. – Selina disse prendendo o cabelo de Helena com alguns grampos. – Minha mãe nunca me ensinou... Ela me abandonou cedo demais...
- Você nunca me falou muito sobre a vovó... – Helena olhava a mãe através do espelho. - exceto por aquela foto no medalhão, eu não sabia nada dela.
- Não tem muito o que falar dela... – Selina falou enquanto concluía o penteado da filha, - ela teve namorado horríveis que me batiam... ela foi uma covarde e me abandonou... ela só voltou uma vez e foi quando descobriu que eu namorava um garoto bilionário, só voltou para tomar dinheiro do seu pai. – disse concluindo o penteado. - Pronto, você está linda.
Selina olhou para o reflexo da filha espelho e sorriu, mas Helena estava séria e voltou-se para olhar a mãe.
- Então a senhora também sabe como é ser abandonada. – constatou.
- Helena por favor, não vamos começar isso de novo...
- Eu não vou, eu disse que agora entendo, mamãe. – Helena disse tranquila. - Sua mãe lhe abandonou porque era covarde, não queria cuidar de você. A senhora me deixou por medo de me perder. Eu entendo isso, agora. Entendo por que tenho medo, pelo meu filho... – ela disse levando a mão ao ventre esguio.
Selina sentiu o peito comprimido de algo que ela não conhecia. Felicidade?
- Helena, você tem a chance de quebrar esse ciclo. – disse emocionada ao pegar as mãos da filha. - Minha mãe me teve nas ruas, eu tive você nas ruas. Te criei sozinha como minha mãe me criou, mas seu filho não vai passar por nada disso. Eu prometo...
- Ele também não vai ter um pai... – ela disse triste.
- Gatinha, isso não é problema. Ele vai ter muitas boas figuras masculinas na vida dele. Aqueles caras lá embaixo vão cuidar disso. Damian é capaz de fazer um altar pra essa criança...
As duas riram.
- Me perdoe, gatinha. – Selina disse ficando séria. – Eu só queria proteger você.
- Agora eu sei, eu já disse que entendo o que você e papai fizeram.
- Não é só por isso. – Selina continuou. – É por você e pelo garoto, eu peguei pesado com você...
- Você estava certa no final das contas, né? – Helena disse triste.
- Eu não queria estar certa...
- Pelo menos alguma coisa boa saiu disso... – Helena suspirou, triste. – Vamos seguir com o plano.
- Sim, vamos descer, você está maravilhosa. – Selina disse por fim, - Embora os tabloides vão comentar que a namorada do filho do bilionário está repetindo um vestido...
- Eles que vão pro inferno. – ela comentou e depois olhou para Selina. - Obrigada, mamãe.
Assim como fizera com Bruce, Helena abraçou Selina, pegando-a de surpresa também. Foi um abraço de amor, um abraço de conciliação,
o abraço que elas desejaram por muito tempo.
/
Havia muitos deles na biblioteca da mansão quando Helena desceu e por um momento ela lembrou da primeira noite em que se reunira com todos os irmãos ali. Hoje à noite, só um deles estava ausente.
Em compensação, havia rostos novos. Rostos que ela não conhecia a olhavam com curiosidade.
Uma garota loira aproximou-se.
- Você deve ser a Helena, né? Uau, você é muito bonita!
- Obrigada, - Helena agradeceu tímida. – Vocês também são da família?
- Sim, eu sou a Stephanie, - a garota apresentou-se, - aquela é Cassandra e aquela é a Kate. Nós também trabalhamos com Bruce.
- É verdade que você está grávida? – a garota que se chamava Cassandra perguntou parecendo muito impressionada, tocando a barriga de Helena com muito interesse como se a examinasse.
- Sim, - Helena não se chateou com a pergunta.
- E é verdade que o Jason é o pai? – Stephanie, a garota loira perguntou.
- Sim...
- Tem gosto pra tudo nesse mundo! – Kate disse de onde estava. - sem ofensa...
- Meninas, vamos parar de encher a Helena... – Bárbara pediu. – Ah, finalmente chegaram...
Bruce entrou no recinto acompanhado de Selina. Dick entrou depois acompanhado de Damian. Estavam todos vestidos a rigor. Os rapazes usavam smokings caros e Selina pararia o trânsito com o vestido tubinho preto que usava.
- Dick já passou alguns detalhes do plano para vocês. – Bruce falou para todos. - Iremos para a festa de Luthor e nosso objetivo é descobrir o que ele sabe. Zatanna e Constantine estarão lá para apagar as memórias de Luthor, caso ele morda a isca. Não sabemos qual o interesse dele em Helena, então vocês deverão protegê-la. Bárbara e Tim estarão em Gotham. Podemos ir.
Ao sinal de Bruce os garotos se dispersaram, cada um seguindo a missão que lhe fora designada aquela noite.
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- Vamos, Helena. – Dick falou ao ajudando-a sair do veículo, oferecendo-lhe o braço para conduzi-la quando saíram da limusine.
Helena aceitou o braço do irmão e ele a conduziu pela entrada do lugar.
- Acho que nunca estive tão exposto para tomar um tiro. – Dick falou olhando em volta. Flashs de fotógrafos explodiam em torno deles.
- Por que você diz isso? – Helena indagou desconfiada.
- Jason... ele pode estar em qualquer lugar.
Helena sentiu o estômago revirar, ela ainda não havia se acostumado que o homem que a estava caçando era Jason, o seu Jason.
Eles entraram no majestoso salão de festas da mansão de Luthor. Helena observou que o salão de festas da mansão Wayne era tão deslumbrante quanto, e a decoração era de melhor bom gosto.
O lugar estava lotado.
Bruce ia na frente, estava de braço dado com Zatanna. Dick e Helena seguiam logo atrás deles, e Damian os acompanhava por último.
Kate Kane, Stephanie Brown e Cassandra Cain estavam espalhadas pelo lugar, vigiando.
Selina chegaria logo depois, seu acompanhante estava atrasado. Constantine só chegou dez minutos depois da gata, alegando que não tinha encontrado um terno que combinasse com o evento.
O encontro que todos esperavam aconteceu logo que chegaram, e sob muitos olhares e flashs. Lex Luthor apressou-se para cumprimentar o bilionário de Gotham.
- Bruce Wayne! – o homem exclamou ao se aproximar, - é uma honra.
- A honra é toda minha, Luthor. – Bruce falou sorridente, sua persona de playboy viera à tona. – Essa é a Srta. Sindel, minha bela companhia essa noite.
- Encantado. – Luthor beijou a mão da mulher.
- Deixe-me apresentá-lo a minha família. – Bruce continuou animado. – Esses são Richard e Damian, meus filhos. – Dick cumprimentou o homem com um sorriso, mas Damian não se deu ao trabalho. – E essa é Helena, namorada de Richard.
Luthor encarou Helena por longos segundos, mas a garota não baixou o olhar e sorriu para o bilionário, que só então sorriu de volta.
- É um prazer conhecer a todos. – disse por fim. – Fiquem à vontade. Preciso receber os convidados, Wayne. Mas logo daremos aquela entrevista para aquela bela repórter do Planeta Diário.
- Estou ansioso. – Bruce disse antes do homem se afastar.
- Esse nojento me dá arrepios. – Helena disse para Dick enquanto caminhavam para a mesa que estava reservada para eles.
- Calma, Helena. Ele não vai se aproximar de você. Espera... – Dick pegou o celular que estava tocando. - Parece que as coisas não estão bem em Gotham...
Havia uma mensagem de Tim. Alguém espalhara várias bombas pela cidade e ameaçavam acioná-las. A cidade estava um caos.
- Mandei Kate, Stephanie e Cassandra irem até lá. – Bruce falou se aproximando do filho. –
- Não será melhor eu ir também? – Dick indagou preocupado.
- Ainda não. Precisamos manter o disfarce mais um pouco. Deixei jatos prontos, caso seja necessário. – Bruce falou quando chegaram a mesa. – Clark está indo até lá também.
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Em outra mesa distante dali, Selina conversava com Constantine enquanto observavam o salão, todos ainda estavam alheios a traição dele.
- Eu devo ser o homem mais invejado dessa festa. – Constantine falou sem esconder que olhava o decote de Selina.
- Você é um safado...
- Gosto que mulheres bonitas me xinguem. – ele brincou. – Que horas vamos terminar isso? Essas festas de rico são uma chatice...
- Logo que conseguirmos levar Luthor para um local reservado. Bruce disse que você irá acompanhá-lo para surpreender Luthor.
- Sim, sim... foi isso que combinamos. – Constantine falou enquanto procurava seus cigarros nos bolsos do terno.
Selina olhava em volta, atenta ao movimento de todos e ficou surpresa ao ver quem se aproximava.
- Helena! Você não deveria ficar longe da mesa de seu pai!
- Ele me mandou circular até aqui... – Helena explicou. – Não quer que eu seja chamada quando ele for para a entrevista com Luthor.
- Você é mesmo uma graça, aposto que arrasa corações. – Constantine disse ao ver Helena. - Sente-se conosco, bonequinha linda. Beba um champanhe.
Helena não chegou a pegar a taça que o homem lhe oferecia, pois Selina pegou-a antes.
- Nada de bebida pra você, mocinha! – disse para a filha. – E você nem pense em fumar ao lado dela. – Selina tomou o cigarro que Constantine tentava acender.
- Não sabia que você era tão certinha, Srta. Kyle. – Constantine indagou.
- Eu não sou certinha, apenas não quero você despejando toxinas na minha filha grávida. – Selina cruzou os braços sobre o decote.
- Grávida? – Constantine disse perplexo. – Você está?
- Mãe, se você vai ficar dizendo isso pra todo mundo, devia anunciar logo em um jornal. – ela resmungou para a mãe. – Sim, eu estou grávida, sr. Constantine.
- Merda. – o homem resmungou se levantando.
- Onde você vai? – Selina perguntou. – Bruce vai precisar de você a qualquer momento!
Constantine mostrou o celular, indicando que ia atender uma chamada e já se afastava da mesa.
- Esse daí é um cretino em quem não se pode confiar...
- Mãe, você mais do que ninguém devia dar um voto de confiança pras pessoas. – Helena disse tranquila enquanto tomava uma taça de água. – a senhora é a pessoa menos confiável que eu conheço e todos nós demos um voto de confiança pra você.
- Todos vocês quem?
- A família.
- Você fala como se já fizesse parte deles. – Selina desdenhou.
- Mas, eu faço. – Helena confirmou. – E lhe digo uma coisa: essa família é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Não... – ela refletiu. - Talvez a segunda a melhor... – disse levando a mão ao ventre.
- Você já está aceitando isso né? – Selina disse tranquila. – Depois que a gente aceita, tudo melhora...
- Às vezes eu ainda acho que isso não pode estar acontecendo comigo... – Helena confessou. – Mas eu resolvi aceitar e ficar tranquila. Alfred me disse que o bebê pode sentir tudo que a mãe sente. E eu estava cheia de raiva, tristeza, ressentimento, medo... Já fiz esse ser inocente sofrer tanto, não vou deixar mais isso acontecer.
- Eu estou muito orgulhosa. – Selina falou colocando a mão sobre a mão de Helena.
- Papai está saindo. – Helena disse olhando para a mesa onde Bruce se levantava, Dick o acompanhou.
- Devem estar indo encontrar o Luthor. – Selina concluiu. – Cadê a porra do Constantine?
Selina olhou em volta do salão, mas o malandro não estava em lugar nenhum.
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Constantine saía apressado da mansão naquele momento, enquanto escutava o celular chamar.
- Ah, finalmente atendeu.
- O que é?
- Vamos abortar a missão.
- Por quê?
- A garota... ela está grávida.
O Capuz vermelho fez uma longa pausa do outro lado da linha.
- Confirma o cancelamento da missão? – Constantine indagou diante do silêncio do outro.
- Não, vamos continuar. – ele falou antes de desligar.
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Bruce entrava no grande escritório da mansão de Luthor, Dick o acompanhava.
Luthor aguardava sentado confortável em uma poltrona. Lois Lane estava em um sofá de frente para os dois.
- Que bom que chegou, sr. Wayne. – Luthor disse a o vê-los. – Bem na hora.
O morcego não gostou do tom de voz do homem, mas aproximou-se e sentou-se na poltrona ao lado dele, olhando-o de forma simpática, encarnando sua persona de playboy.
- Obrigada por terem vindo. – Lois falou para os homens. – Posso dar início a entrevista?
- Claro. – Luthor falou calmo.
Bruce olhou para a porta do escritório, a qualquer momento, seus convidados entrariam.
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Enquanto isso, no salão de festas, o baile continuava.
Selina e Damian eram os únicos que restaram para proteger Helena, por isso estavam em uma mesa junto com ela. Vários cavalheiros já tinham se aproximado da mesa para convidar Selina ou Helena para dançar. Todos foram dispensados e ganharam um olhar assassino do Wayne mais jovem.
- Bando de pervertidos... – Damian resmungava. – Não podem ver uma garota desacompanhada...
- Eles só estão sendo gentis, D. – Helena comentou. – Eles só querem nos tirar pra dançar.
- Gatinha, você é tão inocente, às vezes. – Selina sorriu para a filha. – Eles querem tirar da gente muito mais que uma dança...
- Sua mãe está certa. – Damian completou.
- Desde quando vocês dois ficaram amigos?
- Numa família de escoteiros, pessoas como nós devem se unir. – Selina falou tomando sua própria taça de água enquanto sorria para o garoto, que retribui o sorriso.
Helena balançou a cabeça em negativa e sorria diante daquela parceria improvável.
- Já devia ter acontecido... – Damian resmungou um pouco depois, enquanto olhava em volta.
- O que? – Helena indagou para o irmão, mas Damian não teve tempo de responder.
No instante seguinte, o menino estava se jogando sobre a irmã, protegendo-a dos estilhaços.
As janelas de vidro em torno do salão explodiram. Selina abaixou-se a tempo de ver as balas que perfuraram as paredes. As janelas foram metralhadas.
Mais de uma dezena de homens entraram pelas janelas em seguida, vinham do telhado, presos por cordas. Eles se soltaram das cordas e pularam para dentro do salão. Ninguém os parou. Cada um deles carregava uma submetralhadora.
Os homens armados fecharam todas as saídas. Todas as pessoas estavam abaixadas ou escondidas embaixo das mesas. Selina e Damian fizeram o mesmo, estavam agachados e imóveis, escondendo Helena atrás deles.
O silêncio tomou conta do salão. Apenas passos de botas pesadas eram ouvidos. Alguém andava entre as mesas, pulando de uma para outra.
Embora protegida pelo corpo de Damian, Helena levantou o olhar para ver o que acontecia. E ela pôde ver o homem que andava sobre as mesas.
Ela engoliu em seco ao vê-lo.
- Ninguém precisa ter medo. – o capuz vermelho falou alto para o salão silencioso. – Se conseguirmos o que queremos, todos ficarão bem. Mas... Se não conseguirmos... Bem, nesse momento existem bombas acionadas em todos os maiores bairros de Gotham. Estão perto de áreas residenciais, hospitais e asilos. Nós vamos detonar essas bombas se não tivemos o que queremos. Ah, e vamos matar todo mundo nessa sala...
- Pode levar nosso dinheiro e joias... – um homem falou debaixo de uma das mesas.
- Não queremos isso... – o capuz vermelho continuou a andar sobre as mesas enquanto seus capangas iam lhe mostrando quem estava embaixo delas, obrigando as pessoas a se levantarem. – Só queremos uma pessoa. Ela está aqui e pode se apresentar e salvar todo mundo.
O capuz vermelho andou sobre mais algumas mesas e agora estava muito próximo de onde Helena, Damian e Selina estavam. Helena mal conseguia se mexer, presa sob o corpo do irmão, sentindo a mão da mãe segurar-lhe pelo braço.
- Eu preciso ir. – Helena sussurrou para Selina.
- Você não vai! – Selina sussurrou em tom de ordem. – Ele vai matar você... Seu pai vai chegar logo...
- E por que ele ainda não chegou? – Helena indagou em pânico.
- Ele deve estar ocupado com Luthor.
- EU VOU CONTAR ATÉ DEZ. – a voz do Capuz vermelho se sobressaiu. – ENTÃO VOU DETONAR A PRIMEIRA BOMBA E ATIRAR EM ALGUMAS PESSOAS NESSE LUGAR.
- Por que ele não apareceu ainda? Não temos tempo. Eu vou lá. – Helena decidiu.
- Nem pense em fazer isso. – Damian a advertiu.
- 10... 9...
- Eu preciso. Não vou deixar ninguém morrer por minha causa. – Ela asseverou.
- Mas eles vão matar você! – Selina disse em desespero. – Ele vai!
- 8... 7...
- Não, ele só quer me levar pro Nico.
- Precisamos ganhar tempo... – Damian refletia.
- Você não pode ir, Helena. – Selina dizia quase em desespero.
- 6... 5...
- Mãe, ao menos uma vez na vida, confia em mim. Me deixa fazer minha escolha. – Helena olhava para a mãe. – Eu sou capaz de me cuidar.
- Deixe a ir... – Damian resmungou olhando Selina.
- 4... 3...
- Mãe, por favor...
- 2...
- Tudo bem. – Selina concordou. – eu confio em você. Solte ela, garoto.
Damian soltou Helena e antes que o capuz vermelho pudesse terminar sua contagem, ela se levantou. A garota não precisou falar nada, pois ele a viu assim que ela ficara de pé.
Ele caminhou por entre as mesas, pulando nas mais distantes, indo na direção dela, sem deixar de olhá-la. Selina e Damian estavam de pé atrás dela.
Helena tentava controlar a respiração, pois o ar parecia faltar-lhe à medida que ele se aproximava. Apenas o som das botas pesadas era ouvido no salão.
Ele chegou até a mesa em frente onde Helena estava e a olhou de cima. Ela levantou a cabeça para olhá-lo, sustentando o olhar.
O capuz vermelho estendeu a mão enluvada para a garota.
Sem hesitar, Helena pegou a mão dele.
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Helena foi conduzida por homens armados para fora da mansão.
O capuz vermelho deu-lhe as costas, após olhá-la por um momento. Ele caminhou a frente do grupo e não a olhou mais. Um homem enorme a empurrou para dentro de um furgão e ela viu-se sentada em um banco desconfortável. Dois outros homens entraram no veículo e se sentaram ao seu lado, mais dois deles iam na frente.
- Você vai precisar disso, docinho. – um dos homens falou quando colocou um capuz preto sobre a cabeça de Helena, deixando-a sem enxergar mais nada.
Helena sentiu-se enjoada com o balanço do carro, mas conseguiu manter o jantar em seu estômago. Ela sabia que os homens estavam ali, embora fossem silenciosos e não encostassem nela. A garota se manteve em silêncio e procurou se manter calma, pensando em como tudo que sentia podia afetar seu filho. Ela não estava mais tão preocupada com sua própria segurança e sim com a da criança que estava gerando. No longo trajeto que fazia no veículo, ela pensava.
Ela decidiu que faria qualquer negócio para manter seu filho vivo. Matar Jason, dormir com Nico, ou vice-versa... ela faria qualquer coisa.
Depois de muito tempo, o carro parou e Helena sentiu ser conduzida para fora do veículo. Alguém a levantou pelos quadris e a depositou no chão.
- Não estão sendo violentos, - ela pensou. – Devem ter ordens pra isso.
Helena foi algemada e conduzida por alguém que a levava pelo braço, sentiu-se entrar em um elevador e percebeu que ele subiu por muito tempo.
Foi só quando saiu do elevador que ela sentiu retirarem o capuz.
Nico Marcondes abriu um grande sorriso ao vê-la.
NOTAS FINAIS
O próximo capítulo já está escrit último. Postarei junto com ele outro capítulo, um epílogo.
Quais suas apostas para o final dessa história? O que você espera?
Obrigada por chegarem até aqui.
