A BORDA DO TELHADO

NOTAS INICIAIS

Esse capítulo deveria ser o último, mas ficou muito grande e precisei dividi-lo em dois. Amanhã postarei o último.

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"— Não hesito, replicou Helena; em tais situações, uma criatura, como eu, caminha direito a um rochedo ou a um abismo; despedaça-se ou some-se. Não há escolha."

Helena, Machado de Assis, 1976.

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Lois Lane foi muito esperta quando criou um roteiro de verdade para aquela entrevista. Isso porque, apesar do que Clark lhe dissera, aquela entrevista realmente estava acontecendo.

- Acho que é suficiente. – Bruce falou vinte minutos após terem começado a entrevista. Estava preocupado, nem Constantine, nem Zatanna haviam aparecido.

- Ainda nem falamos sobre nosso gosto por mulheres. – Luthor disse despreocupado. – A propósito eu gosto de morenas sagazes. – ele insinuou olhando para Lois.

- Eu sou casada, Sr. Luthor.

- Eu sei, senhorita Lane. Longe de mim ofendê-la, mas se algum dia deixar aquele... repórter... – falou como se lembrasse de algo asqueroso. - Saiba que tem opções.

- É senhora Kent. – Lois disse segurando a raiva. – E eu não teria interesse no senhor nem se o senhor fosse o último homem do planeta.

- Duvido muito disso... Tem algo errado, Wayne? – Luthor indagou ao ver que o homem se levantou. – Talvez esperando alguém que ficou de vir?

Bruce olhou de forma perigosa para Luthor.

- Senhora Kent, poderia nos dar licença? – Bruce indagou educado para Lois. – Meu filho irá conduzi-la até o salão. Foi uma ótima entrevista.

- Eu que agradeço aos senhores. – Lois disse ao se levantar. Pouco depois, deixou a sala acompanhada de Dick.

Quando a mulher deixou o aposento, a face do playboy tranquilo se transformou. Bruce foi até Luthor e o levantou pelo paletó.

- O que você está tramando, Luthor?

- Quem parece que está tramando algo é você, Wayne. – Luthor sorriu. - O senhor Constantine foi muito solícito em me contar que você planejava usar bruxaria pra me fazer esquecer o que eu sei...

- Constantine?

- Sim, somos muito próximos. – Luthor sorriu diante da surpresa do adversário. - Ele é um empregado muito fiel. E por falar em empregados fiéis, tenho outro lá no salão que está prestes a me dar o que preciso pra saber o que eu quero.

- Do que você está falando?

- Uma pena essa sala ser a prova de som, você não pôde ajudá-la. – Luthor continuou, despreocupado. - Talvez o seu morcego contratado tenha conseguido...Você armou pra mim, Wayne. E eu vou descobrir o porquê.

Bruce jogou Luthor no chão. Presumiu tudo que tinha acontecido. Transtornado, andou em direção ao salão.

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- mia elena di Troia... – Nico disse ao ver Helena. – mia principessa...

Helena olhou o homem a sua frente. Ela não tinha medo, apenas a raiva tomou conta dela, mas procurou disfarçar.

- Nico...

- Você está tão linda. – ele levantou a mão para tocá-la, mas não chegou a fazê-lo, pois foi detido.

- Não. – a voz autoritária se materializou ao lado de Helena e só então ela pôde ver a figura alta do capuz vermelho que segurava o braço de Marcondes.

- Me solte, garoto... – Nico o olhou furioso. – Quem você pensa que é para me impedir de tocar na minha garota?

- Você não vai tocá-la enquanto ela não for interrogada por Luthor. – o capuz vermelho falou inexpressivo. - Esse é o trato.

- Não sabia que era tão fiel a ele...

- Sou fiel ao dinheiro. – ele disse ainda segurando o braço de Nico com força exacerbada. – E foi Luthor quem me pagou...

- Posso lhe pagar muito bem... – Nico disse lançando um olhar de cobiça para Helena.

- Você quer mesmo trair Lex Luthor? – o capuz vermelho indagou com desdém.

Nico não respondeu.

- Só mais um pouco, principessa. – disse por fim.

- Vamos. – Helena sentiu a luva do capuz vermelho segurar-lhe o ombro.

Ela caminhou para fora do que, agora ela via, era a sala de um luxuoso apartamento. Entrou no elevador junto com o capuz vermelho.

- De todas as pessoas... – ela disse quando a porta do elevador se fechou e ficaram a sós. – De todas as pessoas, eu nunca imagine que seria você a me entregar pra esse nojento.

- Mantenha-se calada. – ele falou sem olhá-la, pegando-a nos pulsos e livrando-a das algemas. – Se você der trabalho, elas voltam.

Helena resolveu não dar trabalho. Não tinha para onde ir naquele momento. Respirou fundo e resolveu manter-se tranquila ao lado dele, embora não fosse fácil.

Eles permaneceram em silêncio e o elevador desceu por muito tempo, Helena sabia que estavam descendo para o subterrâneo. Quando as portas abriram, ela viu um corredor escuro e cinza, havia pesadas portas de ferro dos dois lados. Homens armados patrulhavam o corredor.

Helena foi novamente conduzida pelo capuz vermelho que a segurava pelo ombro. Eles caminharam até a última das portas e um dos guardas a abriu.

Se tratava de uma pequena cela de paredes cinzas. Havia uma cama de armação de metal em um canto e um vaso sanitário no outro.

Helena entrou e sentou-se na cama, ajeitando o vestido longo. Ela tirou as sandálias que incomodavam e soltou os cabelos do penteado que sua mãe fizera.

- Você parece muito calma. – o capuz vermelho falou. Ele havia fechado a porta da cela e olhava para Helena. Estava encostado na porta, tinha os braços cruzados e uma perna dobrada que usava como apoio.

- Tenho permissão pra falar? – Helena disse olhando-o, após soltar completamente os cabelos.

- Sim.

- Eu estou calma. – ela falou e se seu semblante plácido mostrava que não era mentira. – Estou acostumada com pessoas tentando controlar meus passos...

- Você não tem medo?

- Não... – ela disse de imediato, mas parou. – E... sim. Não tenho medo do que vocês podem fazer comigo.

- E tem medo de que? – ele perguntou interessado.

Helena suspirou, e passou as mãos sobre a saia do vestido, alisando-o.

- Você não vai embora? – foi a resposta dela.

- Não.

- Vai ficar aí me vigiando?

- Sim.

- Por quê? – ela indagou com uma pequena esperança na voz.

- Não quero que ninguém toque em você até Luthor chegar. – ele explicou.

- Ah, claro, do contrário, você não recebe seu pagamento. – ela disse com sarcasmo.

- Mantenha-se calada. – ele falou em tom de ordem.

Helena calou-se, não era o momento certo para confrontá-lo. E embora soubesse que logo ali estava o pai de seu filho, ela também sabia que ele nunca estivera tão distante da pessoa que ela pensou um dia que ele fosse.

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Bruce estava na caverna com sua família.

E estava transtornado.

Todas as bombas da cidade haviam sido desativadas e as pessoas da festa de Luthor tinham sido liberadas em segurança. As únicas baixas eram Helena que havia sido levada e Zatanna que estava desaparecida, mas isso não acalmava o morcego.

- Vocês não deviam ter deixado eles levarem Helena! – Bruce dizia transtornado para Selina e Damian. – Eu confiei em vocês!

- E você também confiou naquele patife do Constantine! Ah, e confiou naquele moleque que engravidou sua filha! – Selina respondeu, também estava transtornada. Tinha a maquiagem borrada e cachos caíam pelo decote do belo vestido. – Não venha me falar de confiança!

- Vocês deveriam ter protegido ela! – Bruce disse falou acusativo.

- Nós fizemos isso, pai! – Damian interveio. – Helena quis ir por vontade própria.

- E VOCÊS DEIXARAM? – Gritou furioso. – Vocês deixaram levar a minha filha?

- ELA QUIS IR, BRUCE! – Selina também gritou. – ELA FEZ A ESCOLHA DELA!

- VOCÊ NÃO DISSE QUE IA PROTEGÊ-LA, SELINA? POR QUE NÃO FEZ ISSO?

- POR QUE VOCÊ NÃO FEZ ISSO? – Selina retrucou apontando-lhe o dedo indicador. – Você só tá muito puto, porque o seu planinho perfeito não deu certo e você não suporta ser feito de trouxa, porque você se julga mais esperto que todo mundo! ACEITE, BRUCE, AQUELE MALANDRO E AQUELE MOLEQUE PASSARAM A PERNA EM VOCÊ!

- Tem razão... – Bruce a encarou. - Disso você entende, não é, Selina? Você entende de traição...

- Pai... – Damian disse em tom de aviso, postando-se entre Bruce e Selina.

- O que você está insinuando? – Selina indagou ultrajada.

- JÁ CHEGA. – Foi a vez de Dick intervir. – Não interessa o que já aconteceu. Precisamos nos focar no nosso objetivo, encontrar Helena. Provavelmente ela está em Metrópolis ainda, em algum esconderijo do Luthor. Clark pode nos ajudar a localizar o lugar.

- Não. – Bruce, que ainda encarava Selina, deixou de olhá-la e foi até o computador. – Os esconderijos de Luthor são protegidos com chumbo, já faz anos. Clark não conseguiria visualizá-los. E são todos subterrâneos. Vamos ter que rastrear por toda a cidade...

- Acho que não vai ser preciso. – Selina falou sem encarar Bruce. – Luthor não lembra do aconteceu há dez anos... Ele tinha aquela prisão subterrânea embaixo da torre dele. As pessoas tendem a repetir seus atos, mesmo de forma inconsciente. Se Luthor for prender alguém, aquele seria o lugar mais propício pra ele ter um rápido acesso a Helena.

- Tem razão. – Bruce disse mais calmo, já sentindo-se culpado pela forma que tratara Selina. – Vamos começar pela torre Luthor.

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- Eu preciso ir ao banheiro.

Helena não mentiu. Desde que sua gravidez avançara, ela sentia vontade de fazer xixi a cada dez minutos. Era cansativo.

- Segure. – o capuz vermelho disse sério.

- Já segurei demais. – ela replicou.

- O vaso é logo ali.

- Eu não vou fazer isso com você olhando. – Helena fez cara de nojo.

- Você tem dois minutos. – ele disse abrindo a porta e saindo da cela.

Helena usou o banheiro o mais rápido que pôde. Ela realmente estava apertada.

O capuz vermelho entrou na cela exatamente dois minutos depois. Ele fechou a porta e olhou em volta, mas não viu Helena. No segundo seguinte sentiu-se agarrado pelas costas.

Helena pulara em cima dele, cruzando as pernas em volta do tórax do capuz vermelho e tentava sufocá-lo, apertando-lhe o pescoço. Ele cambaleou pelo quarto, tentando tirá-la de cima dele, acabou por conseguir afastar as mãos dela de seu pescoço e derrubá-la por cima da cama. Ele girou sobre o corpo dela e prendeu os braços da garota acima da cabeça dela. Helena ainda tentava chutá-lo com as pernas, mas ele se deitou entre elas. Conseguindo, por fim, imobilizá-la.

- Fique quieta, Helena! – ele disse impaciente.

- Reaprendeu meu nome, grandão? – ela disse de forma sensual, muito próxima dele. Suas pernas relaxaram e ela as enroscou em torno dos quadris do rapaz, trazendo-o para mais próximo. – Ou foi saudade de ficar assim por cima de mim?

- Fique calada.

- Me solte. – ela passou a língua pelo lábio e depois o mordeu, - Me solte e eu faço o que você quiser. Você lembra o que eu posso fazer, não lembra? – ela disse arqueando o decote para próximo dele.

- Fique calada.

Helena não disse nada, mas apertou mais as pernas em torno dos quadris dele, trazendo-o mais próximo de si. Podia perceber que o corpo dele reagia a ela.

- Esse papel não combina com você. - Ele falou no momento que se forçou para longe dela, afastando as pernas dela e soltando-lhe os braços, se levantando em seguida. – Você não é a sua mãe...

- Não custava nada tentar. – Helena deu de ombros e se sentou na cama quando ele se afastou. Ela ajeitou a saia do vestido que havia subido.

- Vai tentar o mesmo com Marcondes? – ele indagou voltando para perto da porta, buscando se recompor.

- Eu vou fazer o que for preciso pra sobreviver. – ela disse decidida.

- Por que tanta coragem? – ele provocou.

Helena o encarou sem responder.

Ele a olhou de volta, mas seu celular vibrou e ele desviou o olhar para a tela.

- Luthor está aqui.

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Havia membros da Bat-família por todo o perímetro no entorno da torre Luthor. Eles vigiavam, esperando o momento certo para entrar.

Clark estava com eles e examinava o prédio com a visão de raio X.

- Não vejo Helena em lugar nenhum. Talvez esse não seja o lugar certo...

- É esse o lugar. – o morcego disse ao ver Luthor sair de uma limusine na frente do prédio. Constantine descia ao lado do bilionário.

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Helena não foi levada da prisão subterrânea de Luthor. O capuz vermelho a conduziu por corredores escuros até uma sala grande de paredes cinza. Quando entrou, ela viu que Lex Luthor estava lá. Ele estava se sentando à mesa que estava no centro da sala, o local parecia com uma sala de interrogatórios de séries policiais.

- Sente-se, senhorita Wayne. – ele pediu ao vê-la.

Ela se aproximou e sentou-se do outro lado da mesa estreita. Pôde ver em um canto, um homem loiro de sobretudo que fumava, reconheceu Constantine de imediato. Havia uma mulher sentada em uma cadeira ao lado dele, ela estava amarrada e amordaçada. Helena a reconheceu como sendo Zatanna, a amiga mágica de seu pai.

- Finalmente... – Luthor disse quando a lâmpada do pequeno lustre sobre a mesa iluminou o rosto de Helena.

- O que quer de mim? – Helena indagou séria.

Luthor retirou do bolso alguns velhos papéis e os dispôs sobre a mesa.

- Você foi muito difícil de capturar, e me custou muito dinheiro. – ele olhou para o capuz vermelho que permanecia de pé atrás da garota. – E eu lhe trouxe aqui porque preciso de respostas.

Helena olhou para os documentos, sua certidão de nascimento... ela lembrou do dia em que aquela certidão fora assinada. Ela e seus pais foram ao cartório fingindo ser uma família fútil para os tabloides... foi um bom dia. Sobre a mesa havia também os testes de DNA que Alfred providenciou.

- Eu acho... – Luthor a tirou de seus pensamentos. – que aquela aberração de circo ali, - ele falou apontando Zatanna. – pode ter apagado algumas de minhas memórias. E elas eram relacionadas a você...

- E por que não a obrigou a repará-las? Precisou fazer tudo isso?

- Ao que parece, é impossível restaurar memórias. E eu quero respostas! – ele bateu o pulso sobre a mesa.

Helena se manteve impassível.

- Acho que o senhor gastou muito dinheiro sem necessidade, senhor Luthor. – Helena disse pegando o pedido de adoção que Luthor fizera.

- E por quê? – Luthor indagou mais calmo. – Me explique, garota.

Helena sabia que precisava ganhar tempo.

– O senhor foi amante da minha mãe. – ela começou a inventar sua versão dos fatos. -Mas antes de ser sua amante, ela foi amante de Bruce Wayne, com quem teve uma filha, eu. O que vou dizer? Minha mãe é uma alpinista social... muito bem-sucedida, por acaso. Então, quando meu pai voltou para Gotham, ela lhe deixou para ficar com ele. O senhor ficou inconformado e tentou me adotar para atingi-la, mas meu pai não deixou isso acontecer, e o senhor perdeu, senhor Luthor. O senhor não aguentou perder pra um playboy bêbado como Bruce Wayne, então o senhor mesmo pediu a Zatanna que apagasse suas lembranças desse fato...

- Você está mentindo! – Luthor retrucou furioso. – Está mentindo, vadiazinha! Diga a verdade! – ele inclinou-se sobre a mesa e pegou os pulsos de Helena.

- Luthor, solte a garota. – o capuz vermelho disse sério.

- Cale a boca, você faz o que eu mando. E quero que faça essa vadia falar! – Luthor apertava os pulsos de Helena.

- Eu mandei soltar a garota. – Luthor escutou o click da arma sendo engatilhada antes de olhar pra cima e ver que o capuz vermelho apontava uma pistola para sua cabeça.

- O que você está fazendo, seu monte de lixo? Eu não lhe pago pra isso! – Luthor disse furioso.

- Solte a garota, eu não vou repetir.

Luthor soltou os braços de Helena deixando marcas em seu pulso.

- Você sabe quem tem câmeras e microfones em todo lugar. Daqui há pouco meus seguranças estarão aqui...

- Nessa sala não tem. – o capuz vermelho falou com a arma em punho. – Você mesmo pediu que retirassem para que ninguém ouvisse o que a garota teria a dizer. Lembra?

Luthor ficou pálido. E furioso.

– Eu devia saber que você se uniria ao Wayne! Vocês de Gotham são todos uma corja nojenta... Constantine, você poderia resolver isso?

- Sinto muito, Luthor. – Constantine falou ao terminar de desamarrar Zatanna. – Eu também faço parte da corja nojenta de Gotham. Leve a garota. – ele disse para o capuz vermelho. – Eu e Zatanna terminamos por aqui.

- Vocês não vão fugir assim! Ninguém escapa fácil da minha fortaleza! – Luthor dizia revoltado.

- Não tenha certeza disso, Luthor. – o capuz vermelho disse ao abrir a porta da sala. – E obrigada pela grana. – ele piscou para o bilionário. - Vamos, Helena.

Helena o acompanhou o mais rápido que pôde. Quando o capuz vermelho fechou a porta atrás de si, raios vermelhos e amarelos podiam ser vistos por baixo da porta.

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- Então você... – Helena falou quando saíram da sala e caminhavam pelos corredores.

- Mantenha-se calada. – o capuz vermelho disse para a garota voltando ao seu tom sério. Ele pegou-lhe o braço com força, de forma a conduzi-la pelos corredores cheios de seguranças armados.

- Por quê? – Helena indagou confusa.

- Eu já disse para se manter calada! – ele disse ríspido quando chegaram em frente aos dois seguranças armados que vigiavam a porta do elevador.

Helena se calou e entrou no elevador ao lado do capuz vermelho. Subiram por muitos andares e durante muito tempo.

- O elevador só vai abrir na cobertura. – ele disse irritado, após apertar alguns botões no painel. – Fique atrás de mim, eu acho que ele já sabe... – o capuz vermelho disse quando o elevador parou no andar da cobertura.

O capuz vermelho estava certo. Quando a porta do elevador se abriu, vários homens armados apontaram metralhadoras para os dois.

Os homens abriram espaço para Nico Marcondes que surgiu furioso.

- Então vocês pensavam que iam me enganar? Jogue sua arma, garoto. – Nico falou para o capuz vermelho que estava com a arma em punho.

O capuz vermelho jogou a pistola no chão e levantou as mãos.

- Tragam eles. – Nico falou para seus homens que conduziram o casal para fora do elevador.

O homem foi até Helena e a segurou pelo queixo com uma mão.

- Quer dizer que você foi amante desse vagabundo de rua? – ele apontou para o capuz vermelho com a mão livre. – cadela... Me diga, você se perdeu com quantos marginais de Gotham?

- Não é da sua conta. – Helena respondeu tomada pela raiva.

- Vagabunda... – ele pegou-a pelos cabelos. – Uma boa surra vai fazer você voltar ao seu lugar.

- Eu juro que se você tocar nela... – o capuz falou de onde estava segurado por dois capangas. Um deles bateu-lhe nas costas com a metralhadora.

- Pode me bater o quanto quiser. – Helena desafiou Nico, a raiva fazendo-a esquecer-se de sua autopreservação. – Isso não vai me fazer preferir você! Eu prefiro mil vezes o vagabundo de rua...

- Cuidado com a língua, piranha. – ele apertou mais o punho nos cabelos de Helena. – Você tem tanta sorte... eu te mataria agora só pela sua petulância, mas ainda quero fazer meu herdeiro...

- É um pouco tarde, Marcondes... – o capuz vermelho disse de onde estava. – Eu já fiz isso...

Helena o olhou surpresa.

- Você sabe?

- Eu sei, princesa. – o capuz vermelho a olhou. – E eu sei que é meu. E é bom que você largue a minha garota e o meu filho se não quiser se dar muito mal, Marcondes.

- Ah, é? – Marcondes indagou puxando Helena para si. – E o que você pensa em fazer, seu vagabundo?

- Eu? Nada. – o capuz vermelho disse tranquilo. – Mas a nossa família vai.

Marcondes não teve tempo de entender. No instante seguinte, as janelas de vidro da cobertura se estilhaçaram em vários lugares e os capangas de Marcondes começaram a cair, um por um, atingidos por vários vigilantes mascarados.

Marcondes puxou Helena para si e deu um passo, acionando o elevador e entrando nele.

- Helena! – o capuz vermelho gritou. Ele pegou a arma do chão e foi até o elevador ao lado e apertou o botão subir, só havia mais um lugar acima, o mirante no telhado.

Quando chegou no telhado, o capuz vermelho viu Marcondes e Helena. Ele segurava a garota na borda do mirante.

- Eu sei que você não vai me deixar viver. – ele disse para o capuz vermelho.

- Solte a garota e podemos conversar. – o capuz vermelho disse apontando a arma para Marcondes.

- Não... eu não vou voltar pra cadeia. E eu não vou deixa-la. Se, ela não vai ficar comigo, não vai ficar com ninguém!

- Atire nele, Jason! – Helena pediu encarando-o. – Atire!

- Você vai cair. – o capuz vermelho respondeu olhando-a. – eu não vou te deixar cair...

- Eu vou cair de qualquer jeito. – ela disse olhando para um ponto atrás do capuz vermelho.

- Vai mesmo. - Marcondes deu passo pra trás, mas não chegou a cair. Seu braço foi atingido por um artefato em formato de morcego e, por reflexo, ele soltou Helena, fazendo-a se desequilibrar.

- HELENA! - O capuz vermelho gritou quando a viu cair.

- Seu desgraçado! – ele gritou indo até Marcondes. - Você tem razão, nunca planejei te deixar viver!

O capuz vermelho segurou Nico Marcondes, e depois o empurrou, jogando-o em direção ao vazio. Desviou o olhar para não ver o corpo que caía, e debruçou-se no parapeito procurando por Helena, mas não a encontrou.

Desolado, ajoelhou-se ao lado parapeito e não demorou a perceber que, um pouco mais ao lado, o morcego surgiu escalando a borda do telhado, trazia alguém com ele.

- Helena! – o capuz vermelho chamou quando percebeu a garota que se sentara no chão do telhado e tomava ar.

Helena olhou para ele e não disse nada. Mesmo cansada, ela se levantou e correu até ele, ajoelhou-se, tocou o rosto e dele e retirou-lhe o capuz.

- Jason...

Ela levou as pontas dos dedos ao rosto dele, estavam muito próximos, mas foram cobertos pela sombra do morcego.

- E Marcondes? – o morcego indagou sério.

- Ele se desequilibrou e caiu. – Jason mentiu e podia ver que seu pai sabia que ele estava mentindo.

- Entendo. – Bruce disse simplesmente. - Venha comigo, Helena. – ele disse em tom de ordem.

- Mas, pai... – ela olhou para Jason.

- Agora. – Bruce disse indo até a filha, colocando-a em seus braços e depois olhou para Jason. – E você, é melhor ir embora.

O morcego pulou do prédio levando Helena consigo, Jason observou os dois desaparecerem na escuridão.

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Helena desceu com seu pai até um beco próximo a torre Luthor. A garota pensou em perguntar sobre Jason, mas seu pai parecia concentrado, falava pelo comunicador.

- Eles estão chegando, - ele falou depois, voltando-se para Helena, mas ela não entendeu de quem se tratava.

Não passou mais que um minuto e um casal chegou apressado pelo beco.

Constantine e Zatanna pararam ao ver o morcego. A gata chegou segundos depois, e então foram chegando um por um os membros da família.

- Helena! – Damian foi até a irmã e a abraçou, mal tocara no chão. Ele vestia seu uniforme de Robin.

- D, você não está mais mancando! – Ela disse contente. – E voltou a ser Robin!

- Eu não estava mancando há semanas. – o menino revelou fazendo todos o olharem curiosos.

- Você estava fingindo? – o Asa Noturna censurou.

- O que foi? Eu só estava ajudando. Ele pode explicar. – Damian apontou para Constantine.

- O garoto estava colaborando, precisava sair de cena. – Constantine explicou enquanto acendia um cigarro. – Luthor pediu ao capuz vermelho para matar o Robin.

- Aí eu tive que deixar o idiota do Jason atirar em mim... – Damian explicou.

- Então Jason não nos traiu? – Helena indagou ansiosa.

- Nem eu, garota. Aliás, quero meu pagamento. – Constantine olhou para o morcego que o olhava nada contente. – Dessa vez nós te enganamos, hem, morcegão?

- Eu desconfiei... – o morcego disse de braços cruzados. – Mas jamais aceitaria seu plano de usar minha filha como isca.

- Então vocês usaram Helena como isca? – Selina indagou furiosa para Constantine. – Inacreditável!

- Até onde eu sei, você também aceitou que ela fosse com Jason. – Damian disse de onde estava.

- E por falar em Jason, onde ele está? – Asa Noturna indagou olhando em volta.

- Ele deu o fora, a polícia inteira de Metrópolis e de Gotham está atrás do capuz vermelho. – Constantine comentou. – Que azar, o garoto sujou a ficha dele pra sempre... Vai acabar em Blackgate ou esquadrão suicida da Amanda Waller, aquela vaca... Ele deve gostar muito de você, heim, garota? – o homem piscou para Helena.

Helena foi incapaz de dizer qualquer coisa, seu estômago congelando.

- A polícia está chegando, dispersem-se. – o morcego ordenou, colocando novamente a filha em seu colo.

No instante seguinte, Helena voava com seu pai entre os prédios de Metrópolis.

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Um pouco mais tarde naquela noite, a sempre impecável sala de jantar da mansão Wayne estava um completo caos.

Em qualquer outro dia ou momento, Alfred estaria em pânico de ver todos os garotos sujos e comendo comida de fast-food na sua mesa imaculada, mas naquela noite o mordomo estava contente demais para isso.

Dick havia pedido sanduíches da Batburguer para todos, após chegarem de Metrópolis. E ainda vestindo seus uniformes, eles estavam comendo e conversando sobre os acontecimentos da noite. Estavam ali Damian, Tim, Dick, Barbara, Kate, Stephanie e Cassandra. Parecia o natal.

Helena foi a última a chegar junto com seu pai.

- Por que demoraram tanto? – Damian indagou ao vê-los. Bruce usava parte do traje do morcego, mas estava sem o capuz e Helena ainda usava o vestido de festa que agora estava destruído.

- Papai não quis que eu voltasse no jato com vocês. Viemos de carro. – Helena explicou, sua cara não era das melhores.

- Não é seguro no seu estado. – Bruce esclareceu sentando-se à cabeceira da mesa. - Você passou muita coisa para uma noite...

- Onde está minha mãe? – Helena indagou ao não e ver Selina entre os presentes.

- A senhorita Selina se recolheu a seus aposentos. – Alfred esclareceu. – aparentemente ela tem bom senso o suficiente para não comer essa fraca imitação de comida.

- É delicioso, Al. – Dick falou com a boca cheia de hamburguer. – Por falar nisso, guardei esse especialmente pra você. – Dick falou abrindo um sanduíche enorme na frente de Helena.

- Não... – a garota falou sentindo o estômago embrulhar quando subiu o cheiro rançoso do sanduíche.

Helena correu para fora da sala, subiu as escadas e encontrou um dos lavabos do corredor bem a tempo de não estragar uma tapeçaria cara que Alfred adorava.

Quando saiu do lavabo, ela olhou pelo corredor, sua mãe vinha em sua direção.

- Achei que tinha ouvido um barulho. – Selina disse preocupada. – Você está bem, gatinha?

- Estou, foi só outro enjoo... – ela olhou para a mãe, Selina trocara de roupa e carregava uma bolsa de viagem. – Onde a senhora está indo?

- Bem, você já está a salvo... então é hora de eu voltar pro meu apartamento.

- Tão rápido?

- É melhor assim.

- Eu achei que você e o papai tinham se entendido...

- Eu acho que não, gatinha. – Selina sorriu triste lembrando da discussão na caverna. – E é uma tortura ficar perto dele o tempo todo e não... bem, eu estava aqui por você, agora você não precisa mais de mim.

- Eu preciso! Preciso mais do que nunca! – Helena disse quase em desespero. - Eu não entendo nada disso de ter um bebê! Nada! Eu preciso de você, mãe! Não me deixa mais uma vez...

- Fique, Selina. – a voz de Bruce foi ouvida no corredor. – Eu... nós precisamos de você aqui.

Selina olhou de Helena para Bruce. Os olhos pidões da filha, e os olhos de expectativa do homem.

Ela ponderou. Como dizer não para eles?

- Estarei aqui sempre que vocês precisarem de mim.. – disse por fim.

- Obrigada, mãe. – Helena a abraçou.

- Você deveria descer, Helena. – Bruce falou, ainda olhava Selina. – Seus irmãos estão te esperando...

- Ok... – Helena disse se afastando.

- Como vai ser...? – Selina começou a falar quando Helena os deixou a sós, mas Bruce não a deixou terminar.

Ele a agarrou pressionando-a contra a parede do corredor e a beijou.

- Não nos deixe, Selina. – ele falou entre os beijos urgentes que depositava sobre a boca dela. – Eu fui um idiota hoje, me perdoe.

Selina sequer respondeu. Estava completamente mole nos braços dele, as pernas incapazes de sustentar seu peso. Ela cruzou as pernas em torno dele, sentindo o tecido rígido do traje de morcego e ele a levantou.

Sem deixar de beijá-la, ele a carregou até o quarto.

Tinham aquela urgência que sempre os dominava e que estivera adormecida nos últimos meses enquanto empenhavam-se em proteger Helena.

Por sorte, Selina tinha habilidade em libertá-lo do traje de morcego, e Bruce sabia como se desfazer com facilidade das barreiras que o separavam da pele macia dela. Eles se conheciam tanto e por tanto tempo, que não havia vergonha, nem receio, nem hesitação.

Se amaram com a perícia, a intimidade e o prazer que só possuem aqueles que foram amantes pela vida inteira.

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- Você realmente quer isso? – Selina indagou mais tarde quando estava deitada nos braços de Bruce. – Digo, sou eu... eu e a minha extensa ficha criminal.

- Quanto te conheci ela já não era pequena... – ele se virou para olhá-la. – Selina, sempre foi você. E devia ter sido você desde sempre.

- Você não confia em mim.

- Não, mas eu não confio em ninguém, então isso é irrelevante.

- Isso não é verdade, você confia nos seus garotos. Você confiou em Jason até o fim...

- Eu não confio nele também... – uma face de tristeza se instalou em Bruce. – Mas eu não vou afastá-lo por isso. Ele é meu filho.

- Não só por isso. Helena ama aquele moleque, você terá que aturá-lo pelo resto da vida. E eu também. – ela suspirou resignada.

- Me pergunto se ele é o homem ideal para nossa filha...

- Você não era a favor do relacionamento deles? – Selina indagou confusa. - Por que mudou de ideia?

- Nada. - Bruce refletiu sobre o episódio no telhado. Ele sabia, embora não pudesse provar, que Jason empurrara Marcondes.

- Esqueça isso, - Selina beijou-lhe o peito cheio de cicatrizes. – Vamos deixar Helena fazer as escolhas dela. Não foi o que combinamos? Você demorou pra me convencer disso...

- Tudo bem. – ele jogou os pensamentos sobre Jason pra longe. – Acho que está mais do que na hora de eu fazer minhas escolhas também. - Bruce disse levantando-se e indo até a parede de onde retirou um quadro. Havia um cofre atrás dele.

- Não é muito inteligente você mostrar a localização de um cofre na frente de uma ladra. – Selina disse na cama, cobrindo-se com o lençol. – Embora eu não esteja reclamando, tenho uma visão muito boa da sua bunda daqui...

- A essa altura da vida, você sabe a localização de todos os cofres dessa casa. – Bruce disse enquanto digitava a combinação no teclado eletrônico.

- Sei mesmo. E sei o que tem nesse cofre... Eu jamais iria roubá-las.

Bruce abriu o cofre e ele estava quase vazio. Um colar de pérolas jazia em uma caixa de cristal no fundo do cofre, mas havia algo mais. Algo bem pequeno do lado da caixa do colar. Ele pegou-o a pequena caixa, fechou o cofre, e virou-se para encarar Selina que o olhava da cama.

- Gosto muito da sua bunda, mas tenho que admitir que essa visão é muito melhor...

Bruce permaneceu sério e caminhou até ela.

- Acho que se eu me ajoelhasse agora, ficaria um pouco ridículo. – ele falou sentando-se na cama ao lado dela, mostrando a caixa aberta, o anel brilhava sob a luz da lua que entrava no quarto.

- Bruce... – Selina disse tensa.

- Eu guardei esse anel... por dez anos. – ele falou retirando-o da caixa. – Acho que sempre tive esperanças... Selina, você sempre foi a minha garota.

Aceita ser minha esposa?

/

Enquanto seus pais se entendiam, Helena deixou os irmãos mais cedo e voltou para o seu quarto, após terminar a sopa que Alfred lhe obrigara a tomar. Resolveu fugir antes que o mordomo lhe obrigasse a comer qualquer outra coisa.

Além disso, ela estava angustiada, as palavras "Blackgate" e "esquadrão suicida" não saíam da sua cabeça.

Onde Jason estaria naquele momento?

Ela olhou para o celular sobre a mesa de cabeceira. Pegou-o e desbloqueou o contato de Jason. Ela tomou coragem e digitou uma mensagem.

- Você está bem?

Olhou para a tela em expectativa por muitos minutos. A mensagem fora enviada, mas não foi visualizada.

Helena foi até o banheiro, tirou o vestido sujo e tomou um banho quente enquanto rememorava os últimos acontecimentos.

Quando voltou para o quarto, olhou novamente a mensagem que enviara. Continuava sem visualização. Ela pôs o celular sobre a mesinha então viu o envelope. O envelope amarrotado. E então a imagem do policial Bullock veio a sua mente.

- Tanto dinheiro que eu não ganharia numa vida inteira...

Helena pegou o envelope e tirou seu conteúdo. Havia ali as notas amarrotadas das gorjetas da Batburguer e de outros trabalhos que ela fizera nos meses que morara com Jason. Mas havia algo mais.

Havia um comprovante de depósito para a conta aberta em nome de Helena Bertinelli. A conta que Helena utilizava. O comprovante era de um depósito de mais de novecentos mil dólares.

No rodapé do comprovante, havia uma inscrição feita a mão em uma caligrafia rebuscada:

Helena, use esse dinheiro para o seu recomeço. J.

O coração de Helena acelerou e ela não pode conter as lágrimas. Olhou novamente na tela do celular a mensagem que enviara para Jason.

A mensagem não foi visualizada.