EU NUNCA VOU DEIXÁ-LO IR

"Agora, só agora

Talvez você perceba

Que eu nunca vou deixá-lo ir

Que eu nunca vou deixá-lo ir

Eu não vou deixá-lo ir."

(Pitty: Só agora - Chiaroscuro, 2009)

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O corpo do estrangeiro foi recolhido pela polícia de Metrópolis que classificou sua morte como acidental. Foi anunciado pela polícia que o criminoso morrera ao tentar invadir a cobertura da torre Luthor. O próprio Lex Luthor foi encontrado inconsciente no chão de sua sala de estar junto com os capangas do estrangeiro que foram presos.

O bilionário alegou que batera a cabeça ao ser atingindo pelos homens de Nico Marcondes e não se lembrava de nada. O que era verdade, Luthor não lembrava mesmo. Nem ele, nem nenhum de seus seguranças ou dos capangas do estrangeiro. Constantine e Zatanna fizeram um bom trabalho conjunto em esconder as lembranças de todos acerca dos acontecimentos que envolviam Helena Wayne. O bilionário apenas lembrava que havia financiado as ações de Nico Marcondes com o intuito de aumentar seu poder sobre Gotham, mas agora, procurava esconder sua ligação com o criminoso.

No dia seguinte após os acontecimentos de Metrópolis, Helena dera entrada no Gotham Hospital. Passou a tarde inteira fazendo todo tipo de exames que a Dra. Thompkins conseguiu realizar. Agora que a filha podia andar livremente pela cidade, Bruce fez questão de levá-la para que pudesse realizar um check-up completo.

A garota só conseguiu voltar para casa no começo da noite, depois que não foi encontrado nenhum tipo de anormalidade com ela ou com seu bebê.

- Nossa, Al, tem um mundo de neve lá fora. – Helena falou tirando o casaco e as luvas no hall da mansão. – Será que rola um chocolate quente para uma pobre garota grávida e desamparada?

- Desamparada? - o mordomo questionou em um tom carinhoso. – Sempre dramática, senhorita Helena... levarei seu chocolate na caverna. A senhorita é esperada lá.

- Mas papai acabou de subir...

- A senhorita Selina a espera lá.

Helena foi até a caverna, curiosa sobre o que sua mãe queria. Ao se aproximar, ela pôde ver a cabeleira da mãe na mesa de trabalho do computador.

- Mãe, eu tive um dia bem louco no hospital... – ela contou ao se aproximar. - Aqueles médicos enfiaram aparelhos em mim em todos os lugares... eu digo, literalmente, todos os lugares e...

Helena parou de falar quando chegou próxima ao grande computador e viu que sua mãe não estava sozinha.

- Nossa, gatinha, e o que eles descobriram depois de enfiar esses aparelhos em todos os lugares? – Selina sorriu maldosa.

- Disseram que... que está tudo bem comigo e com o bebê. – Helena falou sem tirar os olhos de Jason que estava de pé ao lado de Selina.

Ele usava um casaco vermelho de motoqueiro, jeans pretos e suas grandes botas de combate. Ele tinha as mãos nos bolsos, a olhava inseguro e estava... lindo. Essa última parte da descrição, foi o pensamento de Helena ao vê-lo.

- Gatinha, - Selina a chamou fazendo-a retornar à realidade. – Eu chamei Jason aqui porque precisava conversar com ele.

- E por quê? – Helena perguntou sem coragem de dar mais um passo na direção deles.

- Nós resolvemos algumas questões. – Selina desconversou. – Eu vou subir pra encontrar seu pai. Fiquem à vontade, mas não se esqueçam das câmeras. Obrigada por vir, garoto.

Selina saiu e quando ficaram sozinhos, Jason se aproximou alguns passos de Helena, mantendo uma distância segura entre os dois.

- Então o bebê está bem? – ele indagou sem jeito, parecia não saber onde colocar as mãos, voltou a colocá-las no bolso do jeans.

- Sim, Lee falou que na próxima consulta vou poder ouvir o coração dele. – Helena alisou a barriga por cima da camiseta. – Você... você gostaria de ir comigo?

- Seria ótimo. – ele falou ainda distante.

Eles ficaram sem dizer nada por um instante, os dois olhando para o chão.

- Er, o que minha mãe queria com você? – Helena perguntou curiosa. – Ela não te maltratou né? Porque o Damian e o Constantine já contaram toda a verdade e...

- Não, Helena, ela não me maltratou. – Jason a acalmou, se aproximando mais um passo. – Ela me chamou para me pedir desculpas.

- Selina Kyle pedindo desculpas? – Helena indagou irônica. – Melhor ligar para o Constantine e avisar que algumas almas saíram do inferno...

- Acredite, foi surpreendente pra mim também. – ele riu e o clima pareceu mais leve entre eles. – Mas ao fim de tudo, ela prometeu cortar minhas bolas se eu vacilasse com você de novo, então acho que ela voltou ao normal.

- Vocês falaram sobre mim? – ela ficou séria. – falaram sobre nós?

- Sim, - ele pareceu procurar palavras. – Olha, Helena, eu queria te pedir desculpas... eu não usei você como um negócio... O Bruce me pegou de surpresa e...

- Tudo bem. – ela o interrompeu. - Eu sei... eu vi o envelope. Você me transferiu mesmo toda a sua grana?

- Só a que ganhei do Bruce pra cuidar de você. – ele pareceu mais calmo.

- É muita coisa... Você não vai precisar?

- Fica tranquila, eu consegui muita grana com o Luthor e o Marcondes... E eu nem tenho o que fazer com ela. – ele riu.

- Luthor e Marcondes... agora você tá foragido por causa disso... – Helena disse triste. – Jason, eu não quero ver você na Blackgate e nem no esquadrão suicida por minha causa...

- Que ideia, Helena! Isso não vai acontecer...

- Mas o Constantine disse... – ela começou angustiada.

- O Constantine é maluco. – ele se aproximou novamente, diminuindo mais a distância entre os dois. – Isso não vai acontecer... – repetiu tirando um cacho de cabelo que caía sob os olhos de Helena.

- Eu te mandei uma mensagem ontem... – Helena levantou a cabeça para olhá-lo.

- Eu não pude responder, desculpe.

- Estava fugindo da polícia?

- Não, eu fui encontrar Constantine e Zatanna. – ele explicou ainda brincando com a mecha de cabelo dela. - Eles apagaram o Capuz vermelho dos acontecimentos das últimas semanas.

- Isso é possível? – Helena indagou impressionada.

- Segundo Constantine, ele pode fazer qualquer coisa desde que paguem o preço certo. – Jason riu. – Aparentemente, Bruce encheu os bolsos daquele malandro...

- Então você tá livre? – Helena abriu um sorriso genuíno.

- Acho que não. – ele disse chegando mais perto e envolvendo a garota com os braços. – Eu estou preso, princesa. Preso a você.

- Essa cantada foi bem cafona... – Helena zombou, mas depois ficou séria. - Ei, grandão, se é por causa do bebê, eu não quero prender você...

- Não é só pelo bebê, eu mesmo me prendi a você, a vocês - ele a apertou contra seu corpo. – e vou jogar a chave fora.

- A cantada continua cafona... – ela zombou novamente.

- Eu não sou bom nessas coisas... – ele riu e balançou a cabeça em negativa.

- Sim, me disseram que você é melhor com ações do que com palavras...

- Quem te disse isso, me conhece muito bem. - ele concordou.

Jason levou uma mão aos cabelos de Helena, eram macios como ele se lembrava, e então ele a trouxe para um beijo.

- Ah, sim, bem melhor com ações. – Helena falou ofegante ao se separar dele.

- Helena, quer sair comigo?

- Sair?

- é, num encontro.

- Por quê? – ela se sentiu meio boba.

- Eu estive pensando, nós queimamos todas as etapas. – ele procurou explicar. - Começamos morando juntos e agora vamos ter um bebê. Eu gostaria que voltássemos ao começo...

- Não é uma má ideia, mas por que fazer isso?

- Pra termos um relacionamento normal. – ele passou uma mão pelos cabelos dela. – Quase todo mundo que eu conheço vive em relacionamentos disfuncionais. Sua mãe e seu pai, Dick e Bárbara, Dick e Kory, Dick e qualquer pessoa que use saias...

Helena riu.

- É melhor não rir, eu ainda não perdoei aquele panaca por ter te beijado...

- Jason...

- Calma, eu vou perdoar ele, só vou humilhá-lo muito no processo. – ele explicou com bom humor. - mas a questão é, a pessoa que tem o relacionamento mais saudável nessa família é o Damian! E eu não quero isso pra gente. Não quero a gente se pegando nos becos como seu pai e sua mãe, não quero a gente indo e voltando como Dick e Babs... e eu não quero que meu filho seja uma criança traumatizada como nós.

- Não foi só o relacionamento deles que me traumatizou, mas o que fizeram comigo. Embora agora eu entenda...

- Princesa, seus pais fizeram tudo o que fizeram pra te proteger, e que bom que você agora compreende isso. Já os meus pais... – ele suspirou. - Meus pais quiseram me trocar por drogas quando eu nasci, minha mãe me levou até o Coringa pra ele... – ele se interrompeu, seu semblante tornando-se tenso. - Enfim, eu não quero ser esse tipo de pai...

- Você aceitou a ideia do bebê muito rápido... – Helena comentou diante da segurança dele. – Eu ainda estou apavorada...

- Eu também tô apavorado, mas tô mais empolgado do que com medo... – disse sincero. - E então, você aceita sair comigo?

- Eu aceito sair com você, - ela respondeu. – Mas, se você quer fazer isso direito, você tem que conversar com o meu pai sobre as suas intenções comigo...

- Você tá brincando, né?

- Foi você quem disse que queria fazer tudo direito. – Helena zombou. - Acho que você vai ter que conversar com o Damian também...

- Você é perversa... – ele replicou sorrindo. – Quando eu disse que queria fazer tudo direito, não incluía arriscar a minha vida... – ele a beijou novamente. Helena tinha as mãos em torno do pescoço dele.

- Então, o que você quer fazer?

- Jantar e cinema, sexta à noite. Fechado?

- Fechado.

Eles beijaram-se novamente. Dessa vez um beijo mais longo, mais intenso, um beijo cheio de desejo e saudade e do qual nenhum dos dois tinha força de vontade suficiente para se desprender.

Mas nem foi preciso.

- Uhum-uhum... Senhorita Helena, mestre Jason... – a voz de Alfred foi ouvida, fazendo os dois se separarem rapidamente, em um susto. – Fico feliz que tenham se entendido, mas não é hora, nem lugar pra isso. Senhorita, mestre Bruce falou que a senhorita tem ordens médicas para descansar devidos as atribulações da noite de ontem. Ele também falou que o mestre Jason já poderia se despedir da senhorita.

- Ou seja, ele tá me expulsando... – Jason disse beijando levemente os lábios de Helena. – Até mais, princesa. Até mais, pequeno. – falou beijando a barriga dela. – Até mais, Al.

Jason afastou-se, Helena e Alfred o acompanharam com o olhar até ele desaparecer no elevador da caverna.

- Ele e o meu pai estão bem? – Helena perguntou preocupada para Alfred.

- Vão ficar, senhorita. – Alfred a acalmou. – No final, eles sempre ficam.

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Helena terminava de passar o batom vermelho, completando sua maquiagem.

Olhou para seu aspecto no espelho. A palidez e as olheiras haviam sumido nos últimos dias, talvez reflexo das boas noites de sono e da alimentação reforçada que Alfred estivera lhe obrigando a comer ou das inúmeras vitaminas que seu pai checava se ela tomava todos os dias, ele tinha um cronograma muito rígido.

Seus cabelos estavam soltos e volumosos, os cachos pretos caiam em cascata em seus ombros. Olhou seu corpo no vestido roxo de alcinhas que sua mãe a ajudara a escolher. Não era muito justo, e sua barriga um pouco saliente já era perceptível. Ela torceu o rosto para seus seios que pareciam cada dia maiores.

Ao ver-se pronta, Helena sentiu o peito apertar e uma dificuldade de respirar. Os únicos encontros que tivera na vida foram com Nico Marcondes, e hoje ela sabia que não foram encontros, foram armadilhas.

Várias ideias malucas começaram a lhe assaltar a mente.

Será que ela saberia se comportar em um encontro de verdade? Será que ela não ia estragar tudo? Será que Jason iria descobrir que ela não merecia ser amada, que era uma impostora? Será que Nico havia danificado ela para sempre?

Helena sentiu o suor frio em suas têmporas e suas mãos geladas.

Seu instinto era fugir. Fugir da mansão. Fugir de Gotham.

Então ela respirou profundamente como Alfred lhe ensinara há muitos anos.

Não, ela não podia ficar daquele jeito. Ela não tinha o direito. Seu filho não podia senti-la daquele jeito.

Helena procurou controlar a respiração e procurou pensar nas coisas que a Dra. Thompkins lhe ensinara.

Ela não tinha culpa de nada. Tudo que Marcondes lhe dissera era mentira. Aqueles sentimentos voltariam de vez em quando, mas não eram maiores do que ela. O passado não tinha poder sobre ela.

"Desculpe por isso" ela disse colocando as mãos em seu ventre quando finalmente conseguiu controlar a respiração.

Helena se levantou, resoluta. Ela não estava mais sozinha e nunca mais estaria. Nico não podia mais lhe fazer mal, ela estava segura.

Não tinha nada a temer.

/

Quando chegou ao topo da escada, Helena o viu.

Jason estava lá embaixo e Alfred parecia estar ajeitando a gravata dele. E, ele estava usando um terno?

- Bem, isso é estranho. – Helena falou enquanto descia a escada, fazendo o mordomo e Jason a olharem.

- Eu disse ao mestre Jason que ele devia se vestir como um cavalheiro. – Alfred explicou.

- Eu preciso sair dessa casa antes que alguém me veja assim. – Jason falou quase em pânico, depois olhou para Helena, prestando atenção. – Uau... você está... uau.

- Não é assim que se fala, mestre Jason. – Alfred o corrigiu.

- Você está linda, princesa. – ele disse por fim.

- Bem melhor. – o mordomo asseverou. - Agora, é melhor os senhores irem, ou vão perder as reservas.

- Até mais, Al. – Helena falou beijando o mordomo no rosto, deixando uma marca de batom na bochecha dele. Depois foi até Jason que a levou pelo braço.

Quando os dois saíram da mansão, Helena viu um carro esporte vermelho estacionado.

- Onde tá sua moto? – Helena indagou olhando o carro.

- Deixei na garagem do prédio. Não gostou do carro? – ele indagou um tanto inseguro.

- Ele é demais. – Helena falou se aproximando.

- Alfred me disse que grávidas e motocicletas não combinam... – ele deu de ombros. – além do mais, logo não vamos ser só nós dois... então eu pensei...

- Eu quero tanto te beijar agora... – Helena falou aproximando-se dele.

- Mas não vai, - Jason disse dando a volta no carro e abrindo a porta para Helena entrar. – Em um encontro normal, isso só acontece depois do jantar, na porta do meu prédio, antes de eu perguntar se você quer subir.

- E isso vai acontecer? – Helena indagou curiosa, entrando no jogo.

- Ah, vai. E como vai. – ele disse antes de fechar a porta do carro.

Eles jantaram a luz de velas em um restaurante chique que Jason conhecia, por que era o lugar onde Bruce levava seus encontros, no passado. E, com exceção de vinho e frutos do mar crus, coisas contraindicadas para gestantes que Jason se certificou que não estariam no cardápio, eles tiveram um jantar romântico bem convencional.

Jason e Helena conversaram bastante, eles sempre foram bons em conversar. Conversaram coisas pesadas sobre o passado deles, conversaram coisas sérias, como as decisões acerca do filho que iriam ter e conversaram coisas leves e engraçadas sobre a família. Eles se lembraram que eram, antes de tudo, bons amigos. Conversaram tanto que acabaram passando da hora e perderam a sessão de cinema.

Quando saíram do restaurante já era bem tarde.

- E então, senhorita, quer ir até o meu apartamento? – ele disse divertido quando ajudava Helena a colocar o casaco e esperavam o valet trazer o carro.

- Não, não quero ir para o seu apartamento. – ela rebateu.

- Não? – ele modificou a expressão que foi de relaxada para tensa em segundos.

- Amor, é o nosso apartamento. – ela disse abraçando-o. - E é pra lá que eu quero ir.

Jason abriu um grande sorriso daqueles que faziam as pernas de Helena fraquejarem.

- Ele foi seu desde o início... e eu acho que eu também.

- Você é muito cafona dizendo coisas românticas, grandão. – ela riu e o beijou. – Mas eu adoro isso...

Depois de se beijarem na calçada do restaurante, eles foram para o apartamento deles e as coisas foram meio atrapalhadas no início. Jason quase não tocava em Helena, com receio de machucar o bebê "eu nunca transei com uma grávida", ele explicou, após Helena dizer que ele precisava se acalmar.

E quando ele se acalmou, tudo aconteceu de forma natural e eles descobriram que estavam com muitas saudades um do outro. Dormiram tranquilos e no outro dia, tomaram café da manhã como faziam quando eram colegas de apartamento.

Helena se achou tola por ter se preocupado, o encontro com Jason foi tão natural, tão fácil e tão bom, e ela se sentiu perfeitamente confortável ao lado dele, como foi desde o início. Ela finalmente estava em um relacionamento saudável e tranquilo, e se sentia segura.

Enquanto olhava Jason preparar o café da manhã, ela refletiu sobre como fez a escolha correta ao voltar para Gotham.

Naquela cidade ela reencontrou seus pais, encontrou seus irmãos, encontrou seu amor, concebeu o seu filho.

Naquela cidade, ela poderia recomeçar e deixar todo o passado traumático para trás.

E ela prometeu a si própria que faria o possível para torná-la um lugar melhor, assim como seu pai tentava fazer todas as noites.

Aquela cidade podia ter todos os problemas do mundo, mas ali era o seu lugar.

E ela jamais ia deixá-la novamente.

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Algumas semanas depois...

- Ei, grandão, acorda... – Helena tentou acordar Jason que dormia profundamente, um braço a prendendo na cama. – Acorda...

Jason abriu os olhos, preguiçoso.

- Vamos dormir só mais um pouco...

- Já é tarde. Já tá escuro lá fora.

- É inverno, escurece cedo. – Jason disse de olhos fechados.

- Você sabe que se a gente se atrasar, Damian vem buscar a gente, né?

Ele abriu os olhos de imediato.

- Você não podia ter arranjado um irmão menos insuportável? – disse acordando e beijando a barriga de Helena que já começava a aparecer. – Tadinho, você vai ter um tio tão chato... – conversou com a barriga da namorada.

- Vamos, - Helena o chamou levantando-se, caminhou para a cozinha do apartamento, procurando água na geladeira. - Não podemos nos atrasar... é natal.

- Eu sei que é natal, princesa. Como eu não vou saber? você decorou até o banheiro! – Jason disse após levantar, pegando na guirlanda que tinha na porta do banheiro antes de fechá-la.

Helena procurou uma roupa no pequeno closet que dividia com Jason. Enquanto vestia o vestido verde, ela olhou em volta. Precisariam se mudar dali em breve, não havia espaço para o bebê, como seus pais cansavam de repetir ao tentar convencê-los a ficar na mansão. Helena se recusava, ela amava aquele lugar que agora parecia a casa do papai noel. Talvez ela tivesse mesmo exagerado na decoração, pensou ao olhar em volta. Deu de ombros, aquela era primeira vez que decorava a sua casa para o natal. Jason reclamava, mas ela sabia que ele gostava. Um dia, ele até trouxe pequenos enfeites para a árvore. Eram pequenas pistolas verdes e vermelhas, mas Helena gostou.

Ela gostava de tudo ali. Gostara daquele apartamento desde a primeira vez que fora levada até ali pelo cara que resolveu ajudá-la porque se identificou com ela e também pela bagatela de mais de novecentos mil dólares.

Jason saiu do banheiro e a abraçou pelas costas, cheirando seus cabelos. Ele fazia muito isso.

- Preparado? – ela perguntou ao sentir ele beijar-lhe no topo da cabeça.

- Na nossa família, a gente sempre tem que estar preparado. – Jason disse de olhos fechados, aspirando o perfume dos cabelos de Helena.

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A árvore de natal da mansão Wayne era impressionante. Não raramente era mostrada em revistas de decoração a pedido dos designs que a projetavam.

Helena contemplava a árvore, alheia a algazarra que seus irmãos faziam, após o jantar. A casa estava lotada, Jason lhe disse que, Alfred exigia a presença de todos no natal. Era inegociável.

- Parece que eu tô numa casa cheia de crianças. – Selina falou ao se aproximar da filha. – Eu arrumei um marido e ganhei de brinde uma ninhada de filhotes...

- Gatas são acostumadas a ter muitos filhotes. – Helena respondeu, ainda contemplava a árvore.

- Eu lembro quando só era ele nessa casa. Ele e o mordomo. – Selina olhou em volta. – Era tão lúgubre e silencioso. Como as coisas mudaram...

- Logo vai estar pior, quando todos eles começarem a se reproduzir. – Helena olhou para os irmãos espalhados pela sala.

- E você inaugurou o desfile...

- Nada mais do que justo, já que nasci primeiro. – Helena sorriu. – Papai se comportou na lua de mel?

- Acho que sim, ele só ligava para checar as coisas de meia em meia hora. Até que o Richard resolveu não atender mais ele. Aquele garoto tá virando um morcego igualzinho ao seu pai...

- E Paris?

- Paris é sempre Paris, gatinha. Mas foi... – Selina parou um pouco, seu olhar ficou longe. – Como eu sempre pensei que seria.

- Os tabloides dessa semana dizem que papai está namorando uma modelo alemã. – Helena comentou. - Lembra aquela vez que eles tiraram uma foto minha com o papai? "Bruce Wayne passeia com morena misteriosa que foi namorada de seu filho."

- Às vezes eu só queria arranhar a cara da Vick Vale um pouquinho... – Selina sorriu. – Esse negócio de casamento em segredo exige todo meu autocontrole.

- É necessário, né? papai não pode simplesmente anunciar que se casou com a mulher que todo mundo sabe que é amante do morcego...

- Mas ele vai assumir você publicamente. Ele já decidiu.

- Mamãe, a senhora sabe o tamanho desse escândalo? – Helena preocupou-se. – Esse pessoal acha que eu namorava o Dick, e agora vão saber que eu namoro o Jason, porque eu não vou esconder isso. – ela asseverou. – Não tenho o seu sangue frio pra ver as pessoas comentando que meu namorado está por aí com alguma supermodelo... enfim, depois disso tudo, eu vou aparecer como filha biológica dele? Vai ser um estardalhaço nesses tabloides!

- Eu não ligo. – Elas ouviram a voz de Bruce. Ele se aproximou das duas, usava um suéter verde de gola rolê com estampa de rena que Helena comprara e o obrigara a usar. – As pessoas já estão acostumadas com as excentricidades de Bruce Wayne. – continuou. - Assumir a namorada do filho adotivo como filha biológica é apenas mais uma na lista de loucuras... É uma ótima cortina de fumaça, a propósito.

- Como você saindo com uma modelo alemã? – Selina alfinetou.

- Semana que vem será com uma atriz grega. – ele disse abraçando a esposa.

- É melhor não brincar com o perigo, Bruce Wayne. – Selina alertou.

- Ou semana que vem eu posso ter outro revival com a socialite Selina Kyle com quem eu tive uma filha biológica não reconhecida...

- Essa é uma manchete melhor. – Selina sorriu.

- Onde está Jason? – Helena indagou olhando em volta.

- Está na cozinha com Alfred. – Bruce respondeu. – Ele e Damian estavam em uma competição pelos biscoitos de gengibre.

- E o senhor tentou separá-los?

- Eu fui o juiz da competição. – ele disse orgulhoso.

- Papai... – Helena o advertiu. – Não incentive...

Bruce apenas sorriu culpado.

- Eu trouxe um presente pra vocês. – ele mudou de assunto, tirando algo do bolso da calça.

- Achei que abríamos os presentes na manhã de natal. – Helena falou olhando os inúmeros pacotes embaixo da árvore.

- Esse é diferente. – ele falou abrindo duas caixinhas vermelhas iguais.

Havia um medalhão em cada uma, o "W" de Wayne estava marcado em uma escrita cursiva, mas não estava sozinho, estava junto da letra "K".

- Peguem, por favor.

Selina e Helena pegaram os medalhões e abriram o relicário. De um lado, havia a foto de Bruce e Selina no baile quando eram crianças, do outro, havia a foto de Helena aos dez anos.

- Papai, é...

- Maravilhoso... – Selina completou olhando o medalhão.

- É para lembrar que sempre estivemos juntos. – ele disse sério. – e que não vamos nos separar novamente

As duas mulheres abraçaram aquele homem que ambas amavam.

Aqueles três levaram muito tempo e venceram muitos obstáculos para ficar juntos. No futuro, eles ainda enfrentariam muitos outros problemas e teriam muitos bons e maus momentos.

Mas, eles nunca se separariam novamente.

E aquele foi o primeiro natal de muitos.

NOTAS FINAIS

Eu pensei em muitos finais para essa história e fui tentada muitas vezes em dar um final trágico para Helena. Acrescentar mais um trauma na pilha de sofrimento que está nas costas de Bruce, Selina, Jason, Damian e do resto da família.

Mas, então, eu pensei melhor. Esses personagens já são tão massacrados em tantos multiversos diferentes que, pelo menos na minha história, eles vão ter um final feliz. E tiveram.

Obrigada a todos vocês que acompanharam até aqui, e que advogaram em favor desse final feliz. Essa história é dedicada a cada um de vocês.

Ah, eu ainda postarei mais um capítulo: o epílogo.

Abraços, Ms. Rivers.