EPÍLOGO
SOBRENOME
"Eu troco minha paz por um beijo seu
Eu troco meu destino pra viver o seu
Eu troco minha cama pra dormir na sua
Eu troco mil estrelas pra te dar a lua
E tudo que você quiser
E se você quiser, te dou meu sobrenome"
(Luan Santana: Tudo que você quiser - O nosso tempo é hoje, 2013)
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Dois meses após a morte de Nico Marcondes, Helena Bertinelli tornou-se novamente Helena Wayne.
No dia seguinte após o réveillon, o playboy Bruce Wayne entrou em um novo escândalo ao assumir a paternidade da garota de dezenove anos que era fruto de um caso com a controversa ex-ladra (até onde se sabia) e socialite Selina Kyle.
Outro escândalo surgiu poucos meses depois, quando foi anunciado que a filha reconhecida de Bruce Wayne se casara com um de seus filhos adotivos e que estava prestes a dar à luz a uma criança fruto dessa união quase incestuosa, conforme noticiaram os tabloides.
Alguns meses mais tarde, o pequeno Terry nasceu. Ao contrário de Jason e Helena que nasceram na rua, Terry nasceu em um quarto quente e aconchegante da mansão Wayne, desfazendo o ciclo de nascimentos sofridos da família Kyle e da família Todd.
O lindo bebê de olhos azuis foi chamado de Terry Wayne. A iniciativa de dar apenas o sobrenome de Bruce ao menino foi Jason, pois, mesmo nunca admitindo em voz alta, ele considerava Bruce como seu verdadeiro pai. O único pai que ele tinha conhecido, portanto, o único que devia nomear seu filho.
Pouco tempo depois, Helena e Jason se mudaram do apartamento estúdio, para outro apartamento maior em Burnside, o bairro hipster de Gotham. O apartamento era uma cobertura duplex que fora o presente de casamento de Bruce e o lugar tinha sua própria área secreta para as operações do capuz vermelho e da Caçadora. Mas, apesar do lugar exuberante, a jovem família passava mais tempo na mansão Wayne do que em sua própria casa.
Jason continuou atuando como vigilante, mas também fazia trabalhos como mercenário e caçador de recompensas, capturando criminosos procurados pelos quais se ofereciam grandes somas de dinheiro. Ele dizia que queria ser o provedor de sua família, e que não queria depender do dinheiro de Bruce para isso. E, realmente, nunca dependeu. Helena respeitava isso e Jason nunca deixou que faltasse nada para ela ou para o filho deles. Ao longo dos anos, Jason fez novos e esteve muito ocupado em suas atividades, muitas delas longe de Gotham, mas ele voltava o mais rápido que podia para esposa e seu filho.
Helena estudou direito na Universidade de Gotham. Se formou com honras e, ao invés de se juntar a alguma das maiores firmas de advogado do país, conforme se esperava de uma Wayne, ela resolveu trabalhar para ajudar Gotham, conforme prometera a si mesma. Ela ingressou na promotoria pública e seu brilhantismo, trabalho árduo e postura combativa a alçaram ao posto da mais jovem mulher a assumir o cargo de promotora em Gotham City.
A filha de Bruce Wayne usou muito bem o seu dom de enfrentar, discutir e bater de frente com as pessoas. Ela tornou-se uma promotora implacável, era o pesadelo dos criminosos e era temida pelos advogados que a enfrentavam no tribunal. Possuía a ira de seu pai e a petulância de sua mãe, assim como a sagacidade de ambos. Essa combinação a tornava incomparável no tribunal.
Com o tempo, ela e Jason estabeleceram um esquema muito eficiente: ele capturava criminosos procurados e ficava com a recompensa, esses mesmos criminosos acabavam acusados por Helena e condenados através do trabalho dela no tribunal. Em muitas vezes, a caçadora ajudava o capuz vermelho a capturar esses criminosos.
E uma das poucas manchas na reputação da famosa promotora era justamente sua relação com o mercenário capuz vermelho.
Certa vez, vieram a público fotos comprometedoras da promotora em momentos muito íntimos com o famoso mercenário em um beco de Gotham, além de imagens de Helena acompanhando-o em sua motocicleta pela ponte Metro-Narrows. Ela afirmou à imprensa que estava separada do marido à época desses acontecimentos. Na batfamília, Jason foi zoado por muito tempo pelos irmãos por ter se tornado corno de si mesmo.
Os pais famosos e controversos, a postura rigorosa e incorruptível e a vida amorosa polêmica transformaram Helena Wayne numa figura quase mítica em Gotham City. Pouco antes dos trinta anos ela já era conhecida como uma mulher atraente, brilhante e uma promotora feroz, sendo cotada inclusive para assumir cargos públicos, cargos esses que ela dizia não ter o menor interesse, pois afirmava sempre que seu tempo livre era dedicado a família.
Bem, e isso era verdade.
Helena colocou um alvo em suas costas ao se tornar promotora de Gotham (pelo menos foi assim que Selina definiu a coisa toda), e por isso, ela mantinha sua família o mais longe possível do público. O pequeno Terry cresceu aos cuidados de Alfred na mansão Wayne e Jason era conhecido como o filho mais discreto de Bruce Wayne. A verdade é que ele nunca ligou em fazer o teatro social que seus irmãos ajudavam a sustentar. Mas, apesar de não dizer abertamente, Jason mantinha atenção constante na segurança da esposa. "Eu não preciso de um guarda-costas, Jason Peter Todd Wayne!", Helena dizia todas as vezes que o marido ia buscá-la no trabalho. E ele fazia isso, especialmente, após algum julgamento difícil, quando ela ajudava na condenação de algum criminoso perigoso.
Certa vez, em uma das tantas fugas do Coringa de Arkham, a cidade ofereceu uma generosa recompensa pela captura dele. Jason caçou o palhaço do crime e ao conseguir capturá-lo, resistiu ao desejo de matá-lo, pois Helena havia feito ele prometer que não assassinaria o lunático.
E por sua família, Jason não o matou.
Essa prisão efetuada por intermédio do capuz vermelho, levou a um dos maiores feitos de Helena Wayne. A promotora conseguiu condenar o Coringa a onze prisões perpétuas em único julgamento. Nenhuma vez durante o julgamento ela baixara o olhar para o criminoso.
- "Você é uma coisinha indomável, filhote de morcego" - O palhaço do crime sussurrou ao ouvido de Helena quando passou por ela, após ser condenado. Ela achou estranho, mas devia ser coincidência. O Coringa não sabia a identidade de seu pai. Ou sabia? Às vezes, ela achava que ele sempre soube.
Tudo isso aconteceu durante dez anos.
Agora, aos vinte e nove, Helena estava no escritório da promotoria as vinte e uma hora de uma noite de sexta-feira. Estava muito concentrada relendo novamente um processo que envolvia a Harlequina. A ex-namorada do Coringa estava encrencada pelos assassinatos que ocorreram em um iate na baía de Gotham quando ela ainda namorava o palhaço do crime, mas tudo levava a crer que ela não era culpada.
Helena estava dividida. Ela gostava da ex psiquiatra, se identificava com ela. Ambas foram vítimas de relacionamentos abusivos. Helena tomara como sua missão pessoal ajudar as mulheres de Gotham que passaram pelo que ela passou com Nico Marcondes. E ela procurou ajudar Harlequina desde que a visitara pela primeira vez na prisão. Elas até se tornaram um pouco íntimas, pois Helena seguiu visitando Harley em todas as vezes que ela fora presa ao longo dos anos. Chegavam até a trocar confidências, - O Asa Noturna também beijou você? Ele já me beijou uma vez! – a palhacinha lhe disse certa vez. – Ou será que fui eu que beijei ele? Não importa, ele gostou. Aquele cara não sabe o que quer da vida...
E dessa vez, a promotora sabia que aquele crime pertencia ao Coringa e acusar Harley, seria condená-la mais uma vez ao Esquadrão Suicida.
Ela mordia a tampa da caneta enquanto pensava. Aquela era uma questão difícil e podia levar uma noite inteira de reflexões.
Mas Helena não tinha uma noite inteira, e ela lembrou disso quando percebeu a presença dele em sua sala.
- Eu já disse pra você não entrar desse jeito aqui, grandão. – ela disse deixando os papéis de lado e virando-se na cadeira giratória para encontrar o homem alto e encapuzado que estava de pé ao seu lado. – Se as pessoas me verem novamente com o capuz vermelho, vou precisar fingir um divórcio com meu marido...
- Larga ele e fica comigo. – ele falou ajoelhando-se na frente da esposa, levando as mãos enluvadas as pernas dela, subindo através da saia.
Helena se culpou por ter novamente esquecido a hora de ir pra casa, precisava falar com Jason há dias e não tinha tomado coragem. E sabia que não teria naquele momento, não quando a mão dele estava subindo pela sua coxa, levantando sua saia.
- Eu deixo ele por você... – ela provocou levantando o capuz dele o suficiente para conseguir beijá-lo na boca. – Mas, o que você faria por mim?
- Ah, princesa, você nem imagina do que eu sou capaz... – ele disse quando parou de beijá-la, ajudando-a se levantar da cadeira, colocando-a sobre a mesa abarrotada.
Os papeis do processo da Harlequina foram espalhados pelo chão.
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- Eu já estava indo pra casa. Eu juro! – Helena falou enquanto abaixava a saia envelope e arrumava seu tailleur azul-marinho momentos mais tarde. O cabelo dela estava uma bagunça.
- Você não estava não. – Jason disse acusativo enquanto fechava o zíper da calça, ainda estava sem o capuz.
- Eu estava... – ela falou tentando prender os cabelos e olhando para a mesa bagunçada. Havia papéis do processo de Harlequina para todo lado. – E já disse que você não precisa vir me buscar no trabalho...
- Selina disse pra eu vir. – ele explicou enquanto juntava os papeis do chão e colocava sobre a mesa de Helena.
- Não gosto do que minha mãe fez com você. – Helena ainda lutava com seus cabelos, Jason gostava de bagunçá-los. – Ela, você e Damian se transformaram em uma facção perigosa na família...
- Numa família de escoteiros, pessoas como nós tem que se unir. É o que a Selina fala. - ele disse enquanto lia um dos papéis que pegara no chão. - Você está acusando a Harlequina?
- Estou estudando como não acusá-la. – Helena falou enquanto juntava seus papeis numa pilha desorganizada, tomando cuidado para esconder um papel em especial da visão de Jason.
- Princesa, você não devia se envolver tanto. – ele se aproximou da esposa envolvendo os quadris dela com seus braços. - Lembre dos seus gatilhos...
Helena lembrava deles.
Conforme prometera a Barbara, ela procurou ajuda especializada e ainda fazia terapia depois de todos aqueles anos, mas as vezes, os pesadelos e as crises de pânico ainda voltavam.
- Você já faz tantos trabalhos pro bono e já consegue tanto dinheiro para ajudar essas mulheres, - ele continuou enquanto beijava-a no ombro. - mas Harlequina... ela é um caso perdido.
- Ninguém é um caso perdido, amor. Você não era. – Helena disse encarando o marido. – E mais, você diz isso porque é homem. Eu sei que você faz o máximo pra me entender e me apoiar, mas tem coisas que você nunca vai entender... – ela suspirou. - Eu entendo a Harley e eu sei que ela é louca, mas também sei por que ela enlouqueceu... e eu vou ajudá-la, não importa quanto tempo ou dinheiro eu gaste.
- Tudo bem, - ele deu de ombros. - Desde que você continue gastando o dinheiro do Bruce e não o nosso... eu tenho um filho pra mandar pra faculdade...
Helena o olhou séria.
- Que é? Ele fica todo feliz de contribuir com as suas causas...
- Papai nunca fica "todo feliz". – Helena disse se afastando dele e finalmente conseguindo prender o cabelo em um coque torto.
- Do jeito dele, ele fica. – Jason continuou. - Ele vive todo orgulhoso da filha justiceira. Principalmente quando você consegue condenar alguém que ele prendeu...
- Nunca pensei que ele pudesse se orgulhar de mim... – os lábios e Helena formaram um leve sorriso.
- Ele se orgulha. E vai se orgulhar mais se você chegar no horário. E já estamos muito atrasados...
- Não é o fim do mundo atrasar um pouco... – ela disse calçando os scarpins.
- Princesa? Não é o fim do mundo? – Jason disse colocando o capuz. - É o casamento do Damian! Ele vai surtar se você não estiver lá.
- Isso nem é um casamento de verdade. – Helena falou vestindo sua calcinha que achara entre os papéis no chão. – É apenas mais um show do playboy de meia-idade Bruce Wayne.
- São esses shows que mantém a identidade secreta dele de pé. – o capuz vermelho disse sem tirar os olhos da mulher que vestia a calcinha.
- Achei que você não colaborava com esse teatro. – Helena rebateu.
- E não colaboro, mas entendo a importância. – ele disse indo até ela.
- Tudo bem, eu já estava indo de qualquer jeito. – Helena se resignou. – E o Terry?
- Onde mais ele poderia estar? Você devia aceitar que ele considera a mansão como a casa dele.
- Eu já aceitei isso faz tempo, - ela disse indo até o homem e colocando os braços em volta do pescoço dele. – E agora? Eu me atraso indo de carro ou me arrisco na motocicleta de um mercenário famoso?
- Vem comigo, princesa. – ele disse encostando a ponta de seus narizes. – E relaxa. Eu tô de carro. A gente pode até dar uns amassos no banco de trás...
- Desse jeito eu vou ter que acabar fingindo aquele divórcio...
- Eu ganho de todo jeito. – Ele falou beijando-a novamente.
Eles ainda se atrasaram mais um pouco aquela noite.
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- Eu não posso… - a garota choramingava. - Sinceramente? eu não me encaixo nesse mundo!
- E quem se encaixa, minha querida? – Selina perguntava olhando para a bela menina vestida de noiva. - Você já olhou pra mim?
- Eu não imaginava que significava tanto… esse sobrenome. Os repórteres, você já viu os repórteres? - a garota disse nervosa.
- Basta ignorá-los, Ravena. – Kory falou ao observar as duas. A esposa de Dick chamara Selina para acalmar a amiga que estava surtando e ameaçava desistir do casamento.
- Olha, eu sei ser a garota do Robin, - Ravena recomeçou sem dar ouvidos a Kory. - mas eu não sei ser a garota de Damian Wayne...
- Bem… eu sou a garota do Batman. – Selina respondeu enquanto terminava de prender o véu da noiva. - As pessoas não sabem que eu sou a garota de Bruce Wayne…
- Viu? Eu não precisaria ser a garota do Damian…. – Ravena ponderou.
- Mas você deveria. – Selina asseverou. - Não é exatamente bom ficar nas sombras. – falou com um ponta de ressentimento.
- Você não tem esses malditos repórteres olhando pra você... Isso não é bom?
- É, mas também é bem pior. – Selina explicou. - Ter que ler todos os dias sobre os supostos affairs do meu marido não é algo que eu possa achar agradável. Eu nunca me acostumei, na verdade...
- Eu não sei se consigo... – Ravena colocou as mãos sobre o rosto.
- Garota… você é muito mais poderosa do que eu jamais pensaria em ser. – Selina sentou-se numa cadeira na frente de Ravena e segurou-lhe as mãos. - É claro que você vai levar isso muito bem. Damian está tão assustado quanto você. Ele foi criado pra ser um assassino, e não um playboy. Vocês dois vão conseguir passar por tudo isso…
- Você não entende Selina… eu não tenho nada, nada desse mundo de gente rica!
- Eu também não tenho. Exceto meu gosto por diamantes, é claro. – ela disse tocando no colar que trazia no pescoço, diamantes que Bruce lhe dera em seu último aniversário de casamento.
- Você tem sim. – Ravena afirmou. - Você toma conta de um lugar quando entra nele. Você é poderosa como essa gente é. Eu sou o que? Uma garota danificada. Eu vou ser uma piada se aparecer nos tabloides como a esposa do herdeiro da família Wayne...
- Escute, menina, você tem que parar de se importar com essa gente que não sabe nem quem você é. – Selina disse com firmeza. - Importe-se com seu pequeno universo. Importe-se com nossa família. E nós a amamos e a queremos conosco.
- Mas Selina…. Eu não sou bonita e nem sexy como você. Como explicar que o que eu sou?
- Você é linda. Damian te acha linda e sexy e quer muito ficar com você. Isso é o suficiente. – Selina disse olhando-a. - Aprenda menina, amar um Wayne, não é algo fácil, traz muitas responsabilidades e você vai ter que se acostumar com elas. Mas eu vou estar aqui pra lhe mostrar como é. – Selina tocou a mão da garota novamente, confortando-a. – Só peço em troca que faça meu garoto feliz.
Ravena sentiu a força que Selina lhe passava e abraçou a madrasta de Damian.
- Obrigada, - a garota agradeceu. – Eu queria ter uma mãe que me dissesse essas coisas...
- Você tem, gatinha. – Selina disse abraçando-a de volta. – Eu me sinto um pouco mãe de todos os filhotes, e você agora é um deles. É só você me chamar e eu vou estar lá por você.
Ravena assentiu mais calma. Valia a pena tudo aquilo, por Damian e pela família que estava ganhando.
E ela não iria decepcioná-los.
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Na verdade, Ravena e Damian já estavam casados há muito tempo.
Eles foram namorados desde sempre e casaram-se jurando seu amor e fidelidade sozinhos em uma noite estrelada, tendo o universo como testemunha. A cerimônia daquela noite era um espetáculo para Gotham, o espetáculo do casamento do filho mais novo de Bruce Wayne.
E apesar de ser realizado na mansão e de dizerem que era apenas para convidados íntimos, a cerimônia chamara muita atenção da imprensa e havia muita gente importante de Gotham ali. A grande maioria sequer conhecia o casal de jovens.
Helena chegou aos jardins da mansão, onde seria realizada a cerimônia de casamento e não foi difícil encontrar sua mãe. Selina era a mulher deslumbrante em um vestido longo verde e que usava brincos e colares de diamantes que valiam o produto interno bruto de um pequeno país.
- Você está muito atrasada. – Selina disse com mau-humor para a filha, quando Helena chegou ao seu lado. - A cerimônia vai começar daqui a pouco. Onde está Jason?
- Foi ajudar o Terry a trocar de roupa, ele sujou a camisa brincando no jardim...
- Seu marido é pai e mãe, muitas vezes... – Selina resmungou.
- Eu sei... e eu morro de culpa por isso. – Helena anunciou já prevendo um sermão.
- Às vezes parece que Jason gosta mais de você do que você dele... – Selina alfinetou em seu mau-humor, a conversa com Ravena lhe despertara sentimentos que ela procurava ignorar.
- A senhora sabe que isso não é verdade, mamãe. – Helena defendeu-se.
- Só disse que parece... Você precisa dar mais atenção ao seu marido e ao seu filho. Se quer uma família, tem que cuidar dela, ou vai perdê-la. – Selina reclamou. - Jason é louco por você! Ele quase surtou daquela vez que vocês se separaram... achei que ele ia morrer, ou matar todo mundo, sei lá... essa família não suporta outro drama daqueles, minha filha, não suporta.
Selina atingiu o ponto mais doloroso do coração de Helena ao lembrar daquele episódio.
Ela se referiu a vez que Jason e Helena se separaram. Aconteceu quando Terry tinha seis anos. Jason estava ajudando uma stripper que conhecera na época que trabalhara para o estrangeiro e Helena achou que ele estava tendo um caso. Então ela agiu como fazia quando estava magoada: ela se fechou, não quis conversar e o expulsou de casa. Quando estava separado, Jason acabou se envolvendo mesmo com a tal stripper depois que achou que Helena estava envolvida com outro promotor muito famoso em Gotham, o que também não era verdade. Nessa confusão, acabaram separados por seis meses. Jason bebia demais e tocou o terror nas ruas de Gotham. Helena não dormia e quase morava no escritório, enterrando as mágoas no trabalho. Os dois negligenciaram Terry e o menino tornou-se rebelde. Por fim, o garoto acabou quebrando uma perna e um braço ao tentar pular da escada do hall da mansão para agarrar-se ao lustre. O acidente do filho ajudou o casal a se reaproximar, mas eles levaram uma bronca gigantesca de Bruce e Selina que até hoje responsabilizavam o casal pelo acontecido.
- Aquilo é passado. – Helena respondeu jogando as lembranças dolorosas pra longe, embora um calafrio percorresse seu corpo. - A senhora vai jogar na minha cara pelo resto da vida?
- Só de vez em quando, pra você se lembrar de valorizar sua família. – Selina disse ainda mal-humorada.
- Quem diria que você ia se tornar a maior defensora do Jason...
- Ele já provou que é um ótimo marido e um ótimo pai. – Selina deu de ombros.
- Eu prometo melhorar, mamãe. – Helena disse sincera. – Eu preciso melhorar...
- É bom mesmo. Veja, Damian chegou. – ela olhou na direção do rapaz alto que chegou aos jardins. Ele estava ao lado de Dick que acompanhava Bárbara, empurrando a cadeira de rodas dela. – Ele é tão parecido com Bruce nessa idade... – disse orgulhosa.
- Você vai entrar com ele na cerimônia?
- Sim, achei que ele não quisesse, mas ele me pediu hoje de manhã. – Selina falou ficando contente, Damian se tornara seu preferido ao longo dos anos. - Disse que seria eu de qualquer forma, que a mãe dele não viria se estivesse viva...
- E Ravena?
- Se você tivesse chegado mais cedo, teria visto sua cunhada surtando.
- Ela tá bem agora? – Helena indagou culpada.
- Tá sim, Kory está cuidando dela, mas ela precisa mais do nosso apoio. Pobre garota... é uma sofredora...
- Eu vou me esforçar, mamãe. – Helena reiterou. – É que as vezes, é tanta coisa...
- Eu sei que é, mas sentimos sua falta, gatinha. Você tá cada vez mais parecida com seu pai. Vocês são obcecados pelo trabalho. Eu sei o que Jason passa, por que eu passo o mesmo.
- E onde o papai está?
- Trabalhando, é claro. – Selina disse após um suspiro. – Está na caverna. Você poderia fazer o favor de tirá-lo de lá? Talvez você consiga...
- Com toda certeza.
Pouco depois, Helena saía pelo elevador da caverna. Encontrou o pai concentrado em frente ao computador, estava muito bonito com o cabelo arrumado e vestindo smoking.
- Nós somos os vilões dessa família mais uma vez. – Helena disse sentando-se no colo de seu pai, como costumava fazer desde que era criança.
- Sua mãe tá de novo nos acusando por todo o mal do planeta? – ele indagou deixando de olhar a tela a sua frente e olhando para a filha.
- É por aí... – Helena respondeu colocando os braços em sobre os ombros de seu pai. - Como sempre, ela diz que somos obcecados.
- Nós somos... um pouco. – ele admitiu. – mas nunca diga isso a ela.
- O que o senhor tá fazendo? – Helena indagou olhando a tela. – Quem é esse cara?
- Ele se autodenomina Hush. – Bruce falou mostrando informações na tela. – Estou tentando montar o perfil psicológico dele.
- Deixa eu adivinhar... ele tá atrás do Batman?
- Pior... acho que o alvo dele é Bruce Wayne.
- Ele é perigoso? – Helena indagou com um ponta de preocupação.
- Talvez... mas sua mãe e Damian também são. – Bruce desconversou. - Melhor subirmos...
- Pai, só uma coisa. – Ela resolveu expressar suas preocupações. – O senhor acha que posso perder Jason e Terry por que fico muito obcecada pelo trabalho?
- Filha, você herdou muitas qualidades minhas, - ele começou tocando o rosto de Helena. – e alguns defeitos também... o que eu posso lhe dizer é que não deixe suas obsessões consumirem você. Você fica cego e afasta todos que te amam.
- O senhor fazia isso?
- Sim. – ele admitiu. - Eu comecei a fazer o que faço porque perdi minha família, agora eu tenho uma família e meu desafio atual é não perdê-la por fazer o que faço. Respondendo sua pergunta: Você não vai perdê-los se você buscar o equilíbrio entre seu trabalho e sua família. Não é fácil, mas não é impossível, Helena.
- E as pessoas ainda dizem que o senhor não fala muito. – ela sorriu e beijou a face de Bruce. – Obrigada, pai.
Bruce acionou todos os alarmes e diminuiu as luzes da caverna antes de acompanhar Helena de volta a superfície. Pensava nas palavras que tinha dito para a filha. Não era fácil conciliar a vida que levava e manter uma família tão grande, mas talvez fosse por causa deles que ele continuava de pé depois de tanto tempo.
Teve uma época de sua vida que Bruce achava que estava destinado a solidão e as trevas, e fizeram ele acreditar que essa era uma verdade absoluta.
Agora ele sabia que não precisava abraçar a escuridão o tempo todo.
Aquele era um conceito ultrapassado.
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Bruce e Helena retornaram e foram abordados por Damian assim que chegaram aos jardins da mansão.
- O que vocês dois estavam pensando? – o rapaz alto tinha os braços cruzados sobre o peito e olhava enfurecido para a irmã e para o pai. – Eu não concordei com a ideia dessa cerimônia ridícula no início, mas eu tô levando isso muito a sério agora. E então vocês resolvem sumir? Vocês dois são as pessoas mais importantes, mas conseguem ser dois grandes cuzões quando querem ser...
- D, me perdoa. – Helena falou culpada.
Damian olhou para a irmã com reprovação, mas pareceu satisfeito. Depois olhou para o pai.
- O senhor não vai dizer nada?
- Perdão, filho. – Bruce disse sério.
- Acho que isso é o melhor que posso tirar de vocês. – o rapaz suspirou.
- Parabéns, irmão. – Helena falou abraçando o rapaz. – Você tá lindão...
- É melhor eu ir, a cerimônia já vai começar. - ele disse afastando-se da irmã. - Tentem não sumir, por que eu não vou perdoar...
Bruce e Helena se entreolharam culpados.
- É melhor irmos, temos que enfrentar os outros... – Bruce falou levando Helena em direção ao local da cerimônia.
Eles chegaram bem a tempo, mas se livraram dos sermões, pois Selina estava ocupada com Damian e Jason tentava manter Terry com o terno limpo e a gravata no lugar, pelo menos até ele entregar as alianças.
A cerimônia começou pouco depois. Damian entrou com Selina e Ravena foi conduzia por Dick.
Se estavam nervosos, o jovem casal conseguiu levar tudo de forma plácida. Eles estavam lindos. E muita gente se emocionou, pois qualquer um que os olhasse, via que Damian e Ravena eram aquele tipo de casal que se amavam desde sempre. Um amor puro, forte e descomplicado.
E a pureza dos sentimentos deles era perceptível a todos.
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- É isso aí, campeão, mais um dia vencido. – Jason falou quando colocou Terry na cama. O menino viera adormecido no carro desde a mansão.
- Eu quero um beijo da mamãe. – Terry disse com olhos fechados, meio dormindo, meio acordado.
- Eu carrego ele do carro até aqui e ele quer um beijo seu ... – Jason resmungou enciumado para Helena que os acompanhava.
Ela deu de ombros, sorriu e se sentou na cama, para beijar o rosto de Terry.
- Boa noite, baby...
- Mamãe, promete que você sempre vai estar aqui? – Terry indagou de olhos fechados.
O garoto sempre repetia aquela pergunta, e Helena lembrava-se dela mesma na idade dele. Seu maior medo era perder seus pais e desde a separação, o medo de Terry parecia ser o mesmo.
- Sim, baby. Eu sempre vou estar aqui. – ela olhou para Jason que os observava. - Nós vamos estar.
Tranquilo com a resposta, o menino se aconchegou no travesseiro e dormiu. Helena apagou o abajur e saiu do quarto acompanhada do marido.
- Por que você não quis ficar na mansão? – Jason perguntou quando chegou na sala, sentando-se em sua poltrona favorita.
- Eu quis vir pra nossa casa. – Helena respondeu tirando as sandálias e se sentando no colo dele. – Meus pais merecem um pouco de paz de vez em quando... A mansão é um pandemônio dia e noite... – e porque eu precisava conversar com você. Ela pensou, mas não disse.
- Eles adoram o pandemônio. – Jason sorriu enquanto brincava com o cabelo de Helena.
- Eu também queria um tempo pra nós. – Helena disse beijando o pescoço do marido, tentando recomeçar a conversa.
- Mas nós tivemos um tempo hoje... no seu escritório... – ele disse com o sorriso malandro que era velho conhecido de Helena.
- Eu não tô falando de sexo, grandão. – ela deu um soco leve no ombro dele. - Tô falando de estar com você e Terry. Eu sei que eu trabalho demais...
- Eu nunca tive problema com isso, você sabe. – Jason deu de ombros. – Eu amo que você seja uma superstar do tribunal, eu gosto de dormir com a garota que faz os caras tremerem de medo...
Helena sorriu e brincou com a mecha de cabelo branco de Jason.
- Eu sei, mas não é justo que isso afete você e Terry. – ela continuou.
- Princesa, por que isso agora? – ele estranhou. – Eu sempre achei que nosso acordo estava ok... Tá, você trabalha muito, é assim desde que você foi pra faculdade. Mas, eu trabalho muito também. Eu sei que não é justo quando eu passo um mês fora com o Roy ou quando eu fico semanas com a Artemis e o Bizarro... E você nunca reclamou disso. Por que eu reclamaria das suas coisas?
- Eu posso ser um pouco obcecada as vezes. – Helena disse lembrando-se das palavras de Selina.
- Eu cresci com Bruce, eu sei como lidar com isso. – ele não deu importância. - Além do mais, com você, eu posso usar táticas para chamar atenção que não funcionariam com ele... – Jason disse beijando o pescoço de Helena.
- Então você não está irritado por que eu fiquei até tarde hoje cuidando do processo da Harlequina?
- Eu não posso dizer que gostei, mas eu entendo.
- Você é incrível... – Helena disse sincera, tomada por uma admiração e um amor enorme pelo marido.
- Você vai me achar ainda mais incrível quando souber o que eu descobri... – ele disse animado pegando o celular no bolso interno do smoking.
- O que é?
- A grana que você precisa para ajudar Harlequina e pros seus projetos com as outras garotas... eu acho que você já tem. – ele anunciou com um sorriso.
- Você disse que eu não podia usar o nosso dinheiro pra isso... – Helena desconfiou.
- E não pode. – Ele reiterou. – Nosso dinheiro é para nunca dependermos do Bruce. Mas, não é do nosso dinheiro que tô falando... mas do seu dinheiro. – ele falou mostrando para Helena o saldo de uma conta aberta no nome de Helena Kyle Wayne.
- Eu não conheço essa conta... – Helena falou olhando o extrato. - Caralho, é muita grana...
- É sim. Alfred me falou dela hoje quando eu contei pra ele das suas preocupações. – Jason explicou. - Ele disse que sua mãe pediu pra ele abrir essa conta quando deixaram você naquela escola... Esse dinheiro rendeu por vinte anos... e ele é seu.
- Eu lembro dessa grana... – Helena falou quando as memórias vieram a sua mente. - Era o dinheiro daquela maleta... o dinheiro que a minha mãe roubou dos mafiosos de Metrópolis... era para nossa liberdade...
- Agora você pode usar para dar liberdade a outras garotas. - ele arqueou as sobrancelhas.
- É perfeito! – Helena gargalhou e comemorou. – É perfeito! Eu poderia dançar agora...
- Não, você não vai sair daqui. - Jason a abraçou, mantendo-a em seu colo. –a promotora indomável de Gotham é só minha essa noite.
- Obrigada, grandão. – Helena o beijou na boca. – por tudo.
- Por nada, princesa. – ele disse tranquilo, colocando o celular sobre a mesinha ao lado. – Faço qualquer coisa por você.
- Eu não mereço você... – ela disse tocando o rosto do marido, finalmente tomando coragem pra falar. – Amor, eu preciso te dizer uma coisa...
- O que? – Jason a olhou tenso, o sorriso calmo desaparecendo de seu rosto.
Helena não sabia como começar, então se levantou.
- Espera aí. Eu já volto.
Ela voltou um minuto depois e ofereceu a Jason uma pequena caixa vermelha de papelão que estava fechada com um laço também vermelho.
- O que é isso? – Jason perguntou ainda tenso.
- Pode pegar, amor. – Helena pediu ante a hesitação dele. – Não é uma bomba...
- Às vezes é melhor que seja uma bomba... – Jason disse tenso pegando a caixa.
- Eu estou com isso há alguns dias. – Helena explicou quando ele desfez o laço. – Eu não sabia como te falar... mas dessa vez, eu queria que você fosse o primeiro a saber.
Jason abriu a caixa e pegou o conteúdo.
Era um pequeno gorro vermelho de tricô, um gorro de bebê.
- Merda... – ele xingou pegando o gorro.
Helena o olhou assustada, não era essa a reação que ela esperava.
- Você não gostou? – ela perguntou tensa. – Achei que ia ficar contente, faz anos que você insiste...
- Eu amei, princesa. – ele olhou para a esposa e sorriu. – Era o que eu mais queria...
- Então, por que reclamou? – ela indagou sem entender.
- Porque eu acabei de dizer pra você torrar meio milhão de dólares com a Harlequina... – ele brincou, seus olhos estavam úmidos. – e agora a gente vai ter outra criança pra mandar pra faculdade... Vem cá, princesa.
Jason a chamou e Helena voltou a sentar no colo dele e ele a beijou.
- Acho que você não precisa se preocupar tanto com grana, amor. – Helena falou. - Não é como se corrêssemos o risco de passar fome... podemos criar duas crianças muito bem.
- Não é só isso, princesa. – Jason resolveu abrir o jogo. – Se tem uma coisa que aprendi com Bruce é "esteja sempre preparado". E eu quero estar preparado pra tudo. E se amanhã descobrirem que o Bruce é o Batman? Ele perde tudo. E o que vai acontecer com a gente? Eu não quero viver nessa corda bamba. E eu quero estar preparado pra cuidar de você e Terry em todos os cenários. E agora eu vou ter mais uma pessoa que depende de mim, é muita responsabilidade...
De início, Helena pensou que o marido estava sendo paranoico, mas ela conseguiu entendê-lo.
- Você não está sozinho. – Ela pegou a mão de Jason. – Eu tô aqui pra dividir essa responsabilidade com você.
- Eu sei, princesa. E eu tô feliz pra caramba. – Jason sorriu. – mas, me fala, você planejou isso, não planejou?
- De jeito nenhum... – Helena respondeu olhando-o muito de perto. – Só aconteceu...
- Como? Nós sempre fomos cuidadosos...
- Nós não somos cuidadosos, grandão. A gente vive vacilando... É uma surpresa não ter acontecido antes...
- É, parece que nós vamos ter que continuar trabalhando muito, que bom que você é obcecada... – ele falou olhando o pequeno gorro que ainda estava em sua mão, mas Helena estava com outro pensamento na cabeça.
- Amor, você acha que eu sou uma boa mãe? – Helena indagou preocupada. – Você é um pai maravilhoso, mas eu... sempre me achei uma impostora. – ela confessou.
- Às vezes você fala cada absurdo, princesa. – Jason rebateu. – Quantas vezes eu cheguei de uma missão quase de manhã e você tava estudando enquanto amamentava o Terry? Você não dormiu por dois anos depois que a gente se casou!
- Mas eu já errei tanto... Terry é tão inseguro...
- Os erros que cometemos com Terry foram responsabilidade de nós dois. E estamos tentando corrigi-los. – ele disse sério. - Você é uma mãe maravilhosa, princesa, e eu fico feliz que seja a mãe dos meus filhos.
- Mas é que...
- Helena! – Jason segurou o rosto dela com as duas mãos. – para de complicar as coisas! Nós vamos ter outro filho e isso é maravilhoso. Nós vamos batalhar e vamos cuidar dele como fizemos com Terry. Nós temos um ao outro e temos a família. Isso basta.
- Você tá certo... - Helena aconchegou a cabeça no peito dele, acalmandp-se. – Desculpe.
- Não precisa se desculpar. – Jason respondeu. – Agora vamos pensar em coisas boas... você tem que me deixar contar a novidade ao Bruce.
- Por quê? – Helena se afastou e olhou desconfiada.
- Eu quero ver a cara dele quando eu disser "ei aí, velho? Tenho uma novidade: Eu engravidei sua filha de novo". – Jason tinha um olhar sonhador. – Vai ser fantástico...
Helena revirou os olhos.
- Você não presta.
- Eu sei. – ele continuou. – ah, você pode dar a notícia pro Damian, claro, depois de pedir ao Al pra esconder todas as facas da mansão.
- Ele vai ficar feliz, ele adora ser tio... – Helena bocejou.
- Vem cá. – Jason a trouxe novamente para seu peito e fez cafuné nos cabelos dela. Sentiu a respiração da esposa ficar calma e ritmada. - Obrigada, princesa. Eu sou o cara mais feliz do mundo... – ele sussurrou ao beijar o topo da cabeça dela.
Mas Helena não ouviu, ela já dormia. Era fácil demais dormir nos braços de Jason.
Era o lugar onde ela se sentia mais segura.
/
Helena e Jason anunciaram a gravidez para a família em uma noite em que todos tinham se reunido para comemorar o aniversário de Alfred, e o velho mordomo considerou aquele como o melhor presente de aniversário que poderia receber. Jason não perdeu a oportunidade de alfinetar Bruce sobre a nova gravidez de Helena, mas seu pai não reagiu como ele imaginava. Ele disse para o filho que já estava passando da hora de Jason ter outro filho com Helena, o que frustrou as expectativas do rapaz.
Selina também ficara muito empolgada com a expectativa do novo neto, embora ela jamais permitisse que alguém, além de Terry, dissesse que ela era avó.
Em um final de tarde chuvoso, algumas semanas mais tarde, Selina deixara Helena no escritório da promotoria, após as duas saírem do médico. Helena havia feito uma ultrassonografia que mostrava que estava esperando uma menina. Jason não estava na cidade, por isso Selina acompanhou a filha.
Após deixar Helena de volta ao trabalho, Selina resolveu ir a torre Wayne. Estava empolgada para contar a novidade a Bruce que estava aquele dia na empresa, pois havia reunião do conselho diretor.
Ela dispensou o motorista quando chegou ao prédio, pois voltaria para casa com o marido. Selina já era conhecida no edifício e conseguiu chegar rapidamente ao escritório de Bruce que ficava na cobertura.
- Bruce está? – ela perguntou para a loira estonteante que estava na mesa da secretária. Era nova. Bruce mudava de secretárias com frequência, sempre que elas começavam a desconfiar que ele não era o playboy mulherengo que elas imaginavam.
- O senhor Wayne disse que não vai receber mais ninguém hoje. – a mulher respondeu olhando para Selina com arrogância.
- Com certeza ele vai me receber, queridinha. – Selina disse confiante. - Pode me anunciar?
- De quem se trata?
- Diga que é Selina. – ela suspirou quase sem paciência, não queria ser grossa, aquele era o trabalho da garota, afinal.
- Sobrenome?
- Kyle. Selina Kyle.
- Vou fazer uma gentileza e ver se o senhor Wayne pode atendê-la, senhorita Kyle, - a mulher disse com superioridade. - mas creio que ele não possa.
A mulher saiu, entrou no escritório de Bruce e voltou um minuto depois.
- Ele não pode recebê-la. – disse sem olhar para Selina.
- Você ao menos disse quem estava aqui?
- Não foi preciso, senhorita. O senhor Wayne disse que não pode receber ninguém, ele já está de saída para casa.
- Ah, me poupe, garota. Eu tentei ser legal... – Selina disse passando pela mulher e indo até o escritório de Bruce.
- Senhorita, volte aqui ou vou chamar a segurança! – a mulher a seguiu.
- Pode chamar. – Selina disse enquanto destravava a fechadura eletrônica do escritório.
Bruce levantou o olhar e sorriu quando Selina entrou na sala. A secretária chegou em seu encalço.
- Senhor Wayne, eu tentei avisá-la que o senhor não queria receber ninguém! – a mulher disse nervosa.
- Tudo bem, Charlize. – Bruce disse levantando-se. – pode se retirar.
Ultrajada, a mulher deu meia volta e saiu do escritório.
- Charlize? – Selina indagou quando ficaram a sós.
- Ela é novata. – ele disse caminhando até a esposa. - A última não estava mais se contentando apenas com o meu flerte...
- Que inferno, eu nem mesmo posso visitar meu marido sem que chamem a segurança. – Selina resmungou. – Um dia eu vou cansar disso, Bruce...
- Eu sei... Eu estive pensando sobre isso... – ele disse sério.
- Sobre o que?
- Esse casamento secreto. Não tá mais funcionando...
- O que você quer dizer? – Selina indagou, um calafrio percorrendo seu corpo. – Você tá dizendo que quer me deixar?
Bruce riu.
- Do que você está rindo? – Selina indagou furiosa. – Eu sou uma palhaça, por acaso?
Ele não respondeu, apenas a abraçou.
- Eu fico surpreso que você acredite que existe a possibilidade de eu te deixar...
- Quando você me diz que o casamento não está funcionando, é isso que imagino. – ela disse com a cabeça recostada ao peito dele.
- Você não entendeu. – ele afastou-se dela. – Eu quis dizer que o casamento secreto não está funcionando.
Selina finalmente entendeu, seus grandes olhos verdes arregalaram-se.
- Você disse que não podia... que é perigoso... – Selina começou.
- E é. Mas acho que as pessoas já estão acostumadas a nos ver juntos... apenas vamos confirmar os rumores. Acho que já tá na hora do playboy Bruce Wayne se aposentar. – ele explicou. – Eu teria feito isso anos atrás, mas o que aconteceu com Barbara...
-Eu sei. – Selina o interrompeu. – Todos nós sofremos muito.
- Eu não quero mais esconder você. – ele tocou no rosto dela. - Vamos enfrentar isso juntos...
- Como fizemos a vida inteira. – Ela o beijou. – E como vamos fazer isso?
- Vamos fazer ao modo de Bruce Wayne...
Selina levantou as sobrancelhas, interrogativa.
- ... o maior casamento que Gotham já viu.
- Eu amo você. – Selina disse séria. Ela quase nunca dizia isso. – Eu sempre te amei.
- Eu amei você a vida inteira, Selina. – ele respondeu tocando-lhe o rosto. – e vou amar você até o dia da minha morte.
Eles beijaram-se enquanto lá fora a noite caía em Gotham. Quando saíram juntos do escritório, Selina ainda ajeitava os cabelos e piscou para Charlize quando Bruce se despediu da secretária.
Caminharam de mãos dadas pelo saguão da torre Wayne.
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Pouco tempo depois, Selina Kyle tornou-se oficialmente, Selina Wayne.
Bruce e Selina casaram-se na catedral de Gotham que poderia ser considerada o local mais seguro do mundo naquele momento, visto que, além dos convidados de Bruce Wayne, estavam presentes todos os convidados do morcego. Todos os amigos que ele fizera em sua vida como vigilante, detetive e herói.
A família inteira estava presente, assim como Helena, a primeira de seus filhos. Helena não se continha de felicidade, pois estava realizando o sonho que sonhara em tantas noites na velha escola onde passara sua adolescência.
E Bruce não estava brincando quando disse que faria o maior casamento que Gotham já viu. Ele o fez. O casamento do playboy bilionário com a famosa gatuna foi comentado por muito tempo.
O imaginário coletivo de Gotham agora tinha seu próprio conto de fadas.
Poucos dias depois do casamento, Harlequina escapou das acusações das mortes no iate, pois Helena conseguiu atribuí-las ao Coringa, adicionando mais uma pena perpétua à pilha que o palhaço do crime colecionava.
Helena usou o dinheiro que sua mãe roubara dos mafiosos muitos anos atrás para fortalecer a rede de apoio as mulheres vítimas de violência doméstica em Gotham, o que deixou seus pais muito orgulhosos. O trabalho social a fez ainda mais famosa e querida pela comunidade, por isso e por sua atuação na promotoria pública, Helena Wayne passou a ser chamada por muitos de a "filha querida de Gotham".
Tempos depois, o invejoso vilão Hush tentou roubar a vida, o rosto e a família de Bruce Wayne e tentou separá-lo da "gata de rua", como o vilão chamava Selina. Mas ele não conseguiu nada disso. E Hush não foi o primeiro e nem o último vilão a tentar destruir os Wayne.
Nenhum deles jamais conseguiu. Bruce e sua família continuaram a prendê-los e Helena continuou a condená-los.
Diferente daquele garoto que perdera os pais, Bruce não era mais o último Wayne vivo. Havia muitos deles agora, e muitos ainda estavam porvir. E eles seguiam de pé, tentando fazer o melhor pela cidade, pois, pertenciam a Gotham e Gotham pertencia a eles.
E eles sempre iram protegê-la.
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NOTAS FINAIS
Comecei a escrever essa história em julho de 2019. Eu tinha terminado de assistir Gotham, após meu namorado insistir por meses para que eu visse a série. Quando eu finalmente assisti Gotham, eu assisti duas vezes. Eu amei as versões mais jovens de Bruce e Selina, assim como os demais personagens. Depois de muito tempo (não escrevia uma longfic desde 2016), eu tive vontade de escrever uma fanfic novamente, e o que era pra ser uma história de poucos capítulos, tornou-se essa história que hoje acabo de escrever. Vai ser difícil me separar desses personagens, mas acho que fiz a melhor homenagem de fã que eu poderia fazer e estou contente com o resultado final.
Espero que vocês tenham curtido participar dessa aventura comigo.
Abraços, Ms. Rivers.
