Olá a todos. Primeiro preciso me desculpar pelo atraso, sinto muito. Sei que alguns esperam ansiosos por cada capítulo. Eu também sou leitora e entendo vocês.
Assim, acho por bem vir aqui esclarecer alguns pontos dos motivos pelos quais acabo atrasando.
Eu trabalho com Design gráfico e então passo muitas horas na frente do pc, então em algumas situações eu só quero me afastar dele e isso prejudica minha escrita.
Também há um problema crônico de saúde que me deixa sempre debilitada. Eu sempre tento focar minha energia em ficar melhor e acabo ficando sem tempo para outras coisas, e infelizmente estou em uma destas fases. Consultórios Médicos, Hospitais e procedimentos… E pra escrever eu preciso estar com a cabeça leve, então eu preciso melhorar para voltar a escrever.
Então mais uma vez me desculpem pelo atraso. Mas isso infelizmente vai acontecer ocasionalmente.
Cuidem-se tanto quanto eu tento me cuidar.
Fiquem bem. Fiquem seguros.
Cap IV - Especialidade do Chef
Eles se moveram para a cozinha de Laura, equipada com o básico para o preparo de refeições do dia-a-dia. Para uma mulher que não tinha tanto interesse em culinária ela se virava bem com o básico e quando surgia aquela vontade de comer algo diferente ela encomendava ou saía para um restaurante. O que era totalmente comum hoje em dia com as pessoas focando mais em suas carreiras.
- É isso. - ela falou parada ao centro da cozinha, movendo as mãos mostrando o ambiente muito bem organizado. - Você sempre cozinha?
- Sempre que posso. Normalmente quando estou em casa com meus filhos.
- Crianças podem ser muito exigentes, eu sei.
Laura se sentou em um banco alto próximo a bancada central de sua ampla cozinha. Parecia excessivamente grande para uma mulher que vivia sozinha e pouco cozinhava, mas quando sua família ainda estava por aqui eles se divertiam sentados ao redor daquela bancada, taças nas mãos enquanto Cheryl cozinhava. Ela havia herdado os dons culinários da mãe e eles se reuniam nos feriados e aniversários para continuar as pequenas tradições familiares.
Moveu a cabeça, afastando os pensamentos para que as lembranças felizes não trouxessem as pesadas nuvens sombrias. Não queria estragar um momento que tinha grandes chances de ser tão bom quanto a noite anterior, então sua atenção foi novamente para o homem que agora dobrava as mangas de sua camisa até o cotovelo expondo todo o antebraço. Laura sorriu, sua pele parecia ter um tom bronzeado natural, além de pelos que agora estavam um pouco eriçados. Encolhendo os dedos em sua palma ela resistiu o desejo de sentir os fios em sua palma.
- Quantos anos tem seus filhos, Lee e Zak?
- Isso. Lee é o mais velho, fez dez anos. Chegou naquela fase em que começa a soar irritante. - Bill gostou do som de um riso contido que Laura deu. - Zak tem sete.
Enquanto falava sobre os filhos Bill se aproximou e estava apoiado na bancada de mármore a olhando, seus olhos fixos nos dela. Ele preferia quando os óculos não estavam na equação, mas aquilo lhe dava um ar de Professora que ele aprovou. Talvez fosse essas fantasias que a maioria dos homens levava consigo ao ter se apaixonado pela bela professora durante a infância. Era um pouco rude e extremamente machista, e isso só tornava mais irresistível a imaginar em uma sala de aula o repreendendo por ser um menino mau.
Bill afastou o pensamento, tentando manter um pouco a postura enquanto conversava com ela, e se pegou voltando ao limbo ao imaginar o quão interessante teria sido se a professora de Lee fosse ela. Muito melhor do que aquela senhora severa que parecia querer puxar sua orelha na vez em que ele foi chamado à escola. No mínimo ele teria apreciado mais a reunião.
Por um momento Laura não soube o que fazer, perdida no azul profundo do olhar de Bill enquanto um sorriso brincava em seus lábios. E então ela deixou sua mão antes contida vagar em direção ao antebraço dele, tocando os pelos com as pontas dos dedos.
- Eu nunca perguntei, onde você leciona. - saiu dele em um tom baixo e rouco.
- Recentemente recebi uma oferta para trabalhar com o ensino médio, na Escola Janus¹. - seus dedos desceram a exploração pelo pulso e tocaram os dedos de Bill. Movendo o indicador sobre o dedo anelar onde ainda podia ser visto uma fraca marca onde antes havia uma aliança.
- Ainda vai demorar algum tempo para meus filhos te conhecerem como Professora então.
Ela murmurou em concordância e seus olhos vagaram, ela não sabia se queria conhecer os filhos dele como qualquer outra coisa. Era muito cedo para se envolver com as crianças e se ela não ficasse na vida deles poderia ser um pouco desgastante. Laura tendia a se apegar às crianças com uma facilidade que às vezes a assustava. Afastou os olhos em direção a mão dele onde seus dedos ainda brincavam com a pele mais escura.
- Oh, eles estudam na Janus?
Não lhe espantou que os filhos de um Major da Frota Colonial estudassem na melhor escola particular da Cidade de Caprica. A instituição era frequentada pelos filhos das pessoas mais influentes da cidade. Banqueiros, Artistas, Empresários, Militares e Muitos políticos escolhiam a escola com base em um programa de ensino mais completo. Foi uma boa surpresa quando ela recebeu a ligação de que seu currículo estava sendo cogitado e então, pouco tempo depois o convite a vaga foi feito. Laura estava ansiosa pela oportunidade de um melhor emprego, não que ela estivesse com problemas financeiros, o que Laura precisava era mais responsabilidade. Ensinar a pré escola e o fundamental extraia muito pouco dela como profissional, ela queria se doar um pouco mais e sabia que tinha o que era necessário para o trabalho.
- Um Cubit por seus pensamentos. - A mão de Adama ergueu seu rosto e ela o olhou nos olhos.
Ela riu piscando um olho e se inclinando em direção ao homem a sua frente, uma mão apoiada no peitoral largo, os lábios indo em direção ao ouvido dele onde ela sussurrou uma frase que o fez rir. 'Primeiro o jantar, se valer a pena confesso meus segredos.' A suave vibração que a risada dele causou em sua palma a fez se sentir bem. Ele exalava um tipo de força que era confortável de se estar perto. Beijou o rosto dele e voltou à posição inicial.
- Uma coisa você precisa saber Bill, eu não sou o tipo de mulher que fica parada olhando, então o que precisa que eu faça?
Foi a primeira vez que ela se sentiu completamente à vontade em uma cozinha desde o fatídico acidente que levou o resto de sua família. As lembranças vieram, é claro, mas não causaram dor como costumava fazer. Laura até compartilhou uma história sobre seu Pai e a vez em que ele insistiu em fazer sozinho seu bolo de aniversário. Laura riu com a lembrança de como ele perdeu o momento de retirar a massa do forno e tudo tinha um gosto um pouco amargo do fundo que acabou queimado.
Bill a deixava confortável e não a enchia de perguntas que a faria se esquivar, ele tinha uma sensibilidade muito boa e mudava de assunto sempre que percebia uma mudança em seu tom. Nestes momentos ele falava sobre a vida em uma Battlestar ou reclamava de seu amigo Tenente Tigh. Ela gostava principalmente quando ele contava quais eram seus deveres como CAG. Um mundo totalmente novo estava se apresentando a Laura e ela sempre amou a sensação de aprender algo.
- Então você lidera os outros Pilotos Vipers enquanto está prestando atenção no entorno. Isso parece um pouco complicado.
- É uma questão de hábito, mas são apenas simulações, a maioria deles mal se lembram como são os Cylons.
- Você se lembra?
Quando o silêncio preencheu o espaço entre eles, Laura virou o rosto pronta para se desculpar por fazer tal pergunta, supondo que o silêncio dele era por algum desconforto, mas o pequeno sorriso que ele deu a calou imediatamente. Ele parecia pronto para falar, quase ansioso.
- Eu estive na Guerra, lutei contra Cylons voando em um Raptor. - o tom dele era de quem se lembrava de algo com orgulho, até sua postura ficou mais imponente e Laura gostou de como ele parecia confiante. - O brilho avermelhado do 'olhar' daquelas máquinas ainda está bem vivo em minha mente. Eu era um jovem piloto na época e isso foi um grande marco na minha carreira.
- Parece perigoso.
- Para eles. - Adama piscou fazendo Laura sorrir.
Ela voltou a atenção para o molho que mexia lentamente, observando o líquido de tom terroso ir lentamente ganhando mais consistência.
- Você acha que os Cylons ainda podem ser uma ameaça?
- Normalmente eu diria que máquinas são previsíveis, mas desde que os Cylon se rebelaram e nos atacaram, eles são um pouco mais parecidos com humanos do que gostaríamos de pensar. - Ele se aproximou dela com uma colher na mão levando a panela que ela cuidava e pegou um pouco molho para provar. - Eu prefiro passar o resto dos meus dias treinando Pilotos para nada do que ser pego desprevenido.
- Um homem que faz planos a longo prazo.
Ela fechou os olhos quando sentiu o nariz dele percorrer seu pescoço, uma mão desligando o fogo e a outra a puxando pela cintura. Era um pouco assustador a familiaridade em que seus corpos se rendiam. No fundo de sua consciência algo a dizia para ir com mais calma, para aprender primeiro antes de se envolver demais, mas tudo perdia o sentido quando ele a abraçava.
- Isso é ruim?
Laura apenas gemeu em negação, ela gostava que ele fosse esse tipo de homem, alguém que não parecia ter medo de relacionamentos. E sem perceber estavam perdidos em beijos, suas costas firmemente apertadas contra a geladeira, derrubando alguns imãs em formas de letras. Moveu as mãos nas costas dele, sentindo os músculos sob o tecido macio da camisa. Ela estava muito tentada a abandonar o plano de jantar, mas o cheiro da comida havia aberto seu apetite e ela precisou o afastar.
- Mas se continuarmos neste ritmo não iremos jantar hoje... - Laura deu melhor acesso a seu pescoço quando ele se inclinou novamente. Os beijos a fizeram fechar os olhos e rezar aos Deuses por forças ou esse homem a iria levar à loucura. - E eu realmente estou com fome Bill.
Com um gemido baixo de quem estava sendo castigado ele se afastou, erguendo as mãos em rendição e voltou ao preparo da massa. Laura se aproximou após pegar os imãs que caíram ao chão. As mãos dele chamaram sua atenção e ela sorriu ao notar o quão habilidoso ele era. Fazer uma massa fresca era bastante complicado pelo pouco que ela entendia e a habilidade culinária de Adama era um ponto interessante.
Foram quase duas horas de preparação, conversa e alguns beijos até a mesa estar posta e o cheiro do delicioso macarrão caseiro à moda Tauron ser servido junto com uma taça de vinho de ameixa e especiarias. Bill se sentou e a observou por um tempo, ela primeiro provou um pouco do macarrão com o molho. Estava um pouco apreensivo, o molho de cogumelos demer não era tão popular, o gosto levemente picante e a coloração escura deixavam muitos apreensivos em experimentar, mas Laura não parecia preocupada quando levou uma boa porção à boca.
- Isso é divino. - ela exclamou pouco antes de levar uma segunda porção à boca, olhos fechados como quem realmente apreciava algo.
Bill relaxou e soltou uma risada curta. Era sua comida preferida e fazia muitos anos que não a preparava. Carolanne nunca foi uma apreciadora da culinária Tauron e tentava sempre ignorar a descendência de Bill. Ele estava feliz em perceber que Laura não parecia ter nenhum problema com isso. Ela parecia muito mais a vontade com quem ele era do que sua ex esposa jamais esteve.
- Onde você aprendeu essa maravilha?
- É uma adaptação livre de um livro de culinária da vasta biblioteca de Joseph Adama.
- E você nunca pensou em ser um Chef ao invés de um Piloto Viper?
- Cozinhar foi um Hobby que veio após meu alistamento. Eu estava muito entediado quando voltei ao planeta depois de passar dois meses dentro de uma Battlestar. Eu me senti como um peixe fora d'água. Cozinhar me ajudou a passar os dias que precisava descer ao planeta.
Ele notou o arco longo que a sobrancelha de Laura formou, mas Bill precisava que ela soubesse o quanto ele amava estar dentro daquela nave. Era quem ele era. E apesar de não se sentir mais assim quando descia, ele ainda preferia estar dentro daquelas paredes de metal.
- Eu era um jovem ansioso em provar meu valor, estar em uma Battlestar foi um sonho que pude realizar.
- Ainda se sente assim quando vem para Caprica?
- Um pouco, mas tem coisas importantes aqui pra mim agora. Meus filhos por exemplo.
A forma como ela o olhava era intensa, os olhos verdes pareciam ler sua alma, ele sentia que precisava ser extremamente honesto com ela. Uma vantagem de ser humano era aprender com os erros. Ele errou muito com sua ex esposa, deixando que ela o visse como um homem diferente do que realmente era e isso foi desgastando o casamento pouco a pouco, até chegar a um ponto irremediável onde eles começaram a se odiar. Com Laura ele queria ser honesto, mesmo que isso não fosse tão longe, mesmo que eles decidissem que eram melhores como amigos. Ele não queria decepcionar essa mulher à sua frente.
- Eu acho que posso ter encontrado um motivo a mais para voltar com regularidade.
Laura pegou o vinho, ela precisava cortar o contato visual, não queria mostrar o quanto essa última frase mexeu com seu brio. Uma mera frase que a fez se sentir tão especial e necessária que a assustou. Ela precisava encontrar um outro tema para discutirem ou acabaria corando sob o intenso olhar de Adama.
- Este vinho também é Tauron?
Bill se inclinou como se fosse contar um segredo e sua voz era um sussurro mesmo sendo eles dois os únicos por ali.
- Foi feito por nosso chef dentro do depósito de alimentos e acabou popular durante nossos dias de folga.
- Oh, estou bebendo algo ilegal?
A forma como ele olhou ao redor antes de confirmar arrancou dela uma longa gargalhada dissolvendo a tensão que se instalou poucos momentos antes.
- Você precisa levar meus cumprimentos ao chef. - ergueu a taça fazendo o líquido em um tom claro de vermelho se mover em círculos.
- Brindemos a isso. - ele tocou sua taça e ambos beberam um longo gole.
¹ Janus, da Mitologia. - Divindade bifronte que mantém uma de suas faces sempre voltada para frente, o porvir, e a outra, para trás, em apreciação ao que já se passou. É o deus da transformação e o mediador das preces humanas aos demais deuses.
