Certo, eu demorei.

Perdão.

Eu sei que prometo muito e não tô cumprindo, mas aqui está um novo capitulo.

Divirtam-se.


Cap IV: Laura

A rotina de uma Battlestar era algo no qual ele podia sempre confiar. Nunca mudava, os protocolos eram sempre os mesmos, os horários, até a refeição era sempre a mesma, semana após semana. Bill se apegou a isso quando percebeu que sua vida pessoal estava colapsando. Carolanne e ele tiveram um momento, mas foi tão efêmero que Bill sequer sentiu a dor real. O grande problema do divórcio eram os filhos. Lee e Zak. Nunca quis que as crianças pensassem que os pais não os amava, não havia nada neste mundo que Adama amasse mais do que aquelas duas crianças. E o que fez seu casamento durar tanto foi exatamente isso, as regras de um oficial da frota e o amor por seus filhos. Isso o tornou capaz de ignorar a agressividade de Carolanne, a traição e todo o maldito casamento. Até que o que antes era apenas verbal se tornou físico. Bill nunca usou força contra uma mulher, principalmente aquela que prometeu amar e respeitar, mas quanto mais agressiva sua esposa se tornava menos Adama desejava estar em casa. E um dia, simplesmente a coisa saiu de controle.

Depois de seis longos meses longe de casa, Bill finalmente conseguiu uma folga prolongada. Uma semana inteira para estar em casa, talvez tentar consertar as coisas que estavam bagunçadas. Com o uniforme militar e uma mochila sobre os ombros, ele abriu o pequeno portão e olhou os brinquedos espalhados por todo quintal cujo a grama precisava de alguma atenção. Sorriu, até essas pequenas tarefas soavam como o paraíso depois da última missão em um planetinha inóspito de um sistema solar vizinho.

Não era exatamente dever de um CAC essas missões de reconhecimento, porém com a baixa nos números de alistamento algumas funções foram reconfiguradas até segunda ordem. Agora tudo o que William Adama queria era uma semana tranquila onde poderia cortar a grama e jogar pirâmide com seus filhos.

Abrir a porta e não ser recebido por Zak abraçando suas pernas foi estranho, ele havia deixado um recado com o dia e a hora exata o qual iria desembarcar. Não foi exatamente uma surpresa, com sua esposa cada vez menos interessada em sua vida Militar. O que Bill esperava era a cortesia de ter os filhos ali para o receber. Em vez disso foi um som estrangulado que o recebeu, o obrigando a deixar a mochila deslizar por seu ombro até cair com um baque surdo no chão. Bill deu seis passos em direção ao corredor, a porta do quarto dos meninos aberta, porém o som estava muito abafado para vir daquela porta aberta, ainda assim seu instinto o obrigou a olhar lá dentro, completamente vazio.

Antes de chegar ao quarto principal, Bill teve um insight repentino. Aquele som era de alguém tendo sexo. Mais precisamente era sua mulher tendo sexo com outro. Ele esperou a raiva, o ciúme ou qualquer outro sentimento que deveria vir com essa constatação. Nada. Isso bastou para ele perceber que a intenção de consertar seu casamento era tão idiota quanto cohabitar novamente com Cylons. Virando as costas ele pensou em apenas deixar a casa, procurar seus filhos, mas isso já havia ido longe demais.

- Quando terminar estarei te esperando no jardim para uma conversa. - ele disse alto suficiente para ser ouvido.

Claramente sua declaração foi registrada do outro lado da porta fechada, pois os sons haviam cessado.

- Não se apresse por minha causa. - ele comentou com ironia.

Do lado de fora ele andou entre alguns brinquedos, se abaixando ocasionalmente para pegar um modelo em ferro de seu viper. Foi um presente quando recebeu seu apelido, o polegar passando sobre a inscrição Husker. Isso logo deixou de ser objeto de decoração e se tornou o brinquedo preferido de Lee. Bill suspirou, ele não se via como um pai exemplar, ou um marido perfeito, mas traição jamais passou por sua cabeça, mesmo quando Saul o levava a algum pub cheio de mulheres ansiosas em ter uma noite com um oficial viper. Ele se orgulhava dos princípios que tinha. Do comprometimento com a promessa feita perante aos deuses. Sua esposa porém…

A porta se abriu e ele viu em sua visão periférica um homem sair apressado, novamente ele esperou qualquer sentimento, mas apenas o vazio residia em seu peito. Naquele momento ele sabia que o divórcio era a única opção. Movendo a peça nos dedos ele deu alguns passos em direção a mulher vestida com nada além de um longo robe de seda lilás. Bill colocou o modelo nas mãos dela e entrou novamente em casa.

- Isso não deveria estar no jardim, peça a Lee para ter mais cuidado. - falou quase casualmente e talvez foi isso que provocou a explosão nela.

Os gritos vieram em seguida, ela o acusando de abandono de lar e tantas outras coisas que ele apenas se manteve de pé, os punhos cerrados e a respiração forte. Não iria perder a calma, um golpe de mão o atingiu no ombro, foi rude, agressivo e o fez virar e encarar os olhos furiosos de Carolanne.

- Você está brava comigo? Eu acabo de voltar para casa, encontro minha esposa sob um homem qualquer e você está brava? - ele soltou um som que lembrava um rosnado. - Você é ridícula, tente se recompor ao menos. Ainda posso sentir o cheiro dele.

Em um movimento rápido ele pegou sua mochila, passou por ela e ao alcançar a porta ele parou novamente prestes a dizer algo, mas a colisão de algo rígido em sua cabeça o fez vacilar dois passos, o ombro escorando seu corpo e o sangue quente escorrendo por sua nuca empapando o uniforme militar.

Na semana seguinte, ele estava sentado na maca, com uma enfermeira removendo os pontos da base de sua nuca quando Saul entrou com um envelope e o entregou. Os papéis do divórcio finalmente foram assinados por sua esposa.

E agora, novamente a rotina o segurava, novamente ele precisava manter a mente distraída para cumprir bem o seu papel como Major. Isso porque toda a viagem de Caprica para Scorpia, o estaleiro da frota colonial, tudo o que ele pensava era naqueles olhos tão verdes e expressivos e naquela risada contagiante que Laura tinha.

Ele passou todo um dia perfeito ao lado daquela mulher, foi tão intenso e real que Adama se pegou recitando o manual de vôo em sua mente para não se deixar levar tanto para um lugar que ele não sabia se deveria ir. Ele estava seduzido, isso era fato, e ele soube assim que a beijou pela primeira vez. Negar não era uma opção, mas Adama não poderia ir lá, não sem antes saber se Laura estaria na mesma página que ele. E isso era assustador, muito mais assustador do que arremeter com um raptor em direção a um Raider Cylon. Afinal, um coração partido estava além da cura médica.

- Muito pensativo meu velho.

- Um pouco, sim.

Andava ao lado de Saul em direção a um dos banheiros compartilhados após um treino com os pilotos Viper.

- Essa tal mulher misteriosa?

- Talvez.

- Ela deve ser realmente boa na cama se o deixou assim.

- Como vai Ellen? - Bill usou isso para afastar o tom da conversa. Ele não iria falar sobre Laura, não desta forma lasciva e pouco elegante.

Saul riu e o deu uma cotovelada ao entrar. Eles se olharam e começaram a rir. Era uma amizade sincera, eles cobriam um ao outro quando preciso, eles se apoiavam e só falavam sobre sentimentos quando manter dentro não era mais uma opção. O casamento de Saul não era um mar de rosas, Ellen era tão tóxica que Bill não gostava de estar no mesmo ambiente que ela mais do que o necessário. Mas ele respeitou a decisão do amigo, assim como Saul respeitou a decisão dele de se manter casado com Carolanne. Mesmo quando toda a merda explodiu sobre ele, mesmo quando a dor física era tão cortante quanto a emocional.

- Eu vou conhecê-la?

Virou o rosto provocando um pequeno corte em seu queixo quando a lâmina afundou em sua pele. Bill xingou baixinho e gotas de sangue carmim tingiram a pia metálica.

- Que tipo de pergunta é essa?

- O tipo de pergunta que um amigo faz a outro. Vou conhecê-la?

- Não conte com isso.

- Então era só uma foda rápida? Apenas para passar o tempo.

Bill não respondeu, aquele tom, a promiscuidade das palavras não era algo com o qual compactuava e ouvir alguém falando de Laura assim fazia seu estômago revirar. Lavou o rosto e puxou a toalha do ombro para secar. Girando o corpo ele encarou o homem ao seu lado. Eles se equiparavam na altura, mas Bill supera em constituição física. Ombros largos, braços fortes. E na maneira como ele se moveu era claro o tom de ameaça.

- Não fale assim de Laura.

- Certo. - as mãos de Saul se ergueram em rendição. - Certo, esse é o limite. Vou me lembrar de nunca falar da doce Laura desta forma novamente.

- Bom. Lembre-se que Laura é um assunto do qual eu não quero discutir em termos pejorativos. Ela não é esse tipo de mulher.

A expressão no rosto de Saul era de descrença, mas Bill ficou grato que o homem não teceu nenhum comentário sobre seu ceticismo. Logo a conversa mudou de ritmo, focando novamente no trabalho.

A primeira semana foi mais difícil, Laura ainda estava muito presente nos pensamentos de Bill, ele quase podia sentir o gosto dela se estivesse concentrado o suficiente. O cheiro do perfume dela ainda estava impregnado naquela camisa que ele usou quando passou a noite. E pequenas coisas como alguém gargalhando ou o cheiro do café fresco era suficiente para fazê-lo se lembrar. Perto do fim de semana ele ficou encarando um dos telefones para comunicação externa. Alguns outros oficiais iam e terminavam a ligação com suas famílias enquanto ele ainda observava o aparelho, pensativo sobre se deveria ou não fazer aquela ligação.

- Major Adama, o Comandante quer te ver no CIC. - Um Tenente o chamou unindo as sobrancelhas quando não houve nenhuma resposta. - Major, senhor?

- Sim?

- O Comandante, CIC.

- Certo, estou indo, obrigado Tenente.

Enquanto andava em direção ao CIC, ele se repreendia por ter se deixado levar. Sempre esteve tão focado no trabalho e uma mulher que mal conhecia roubava toda sua atenção mesmo quando não estava por perto. E ele sequer sabia se ela tinha a intenção de repetir isso, tornar um relacionamento ou se era apenas algo de uma única ocasião. Passou a mão no rosto, ele precisava resolver isso ou acabaria enlouquecendo, mas a grande questão era, ele queria Laura.

Parou por um momento, respirou fundo e colocou Laura em segundo plano, mas ele sabia que isso iria durar até ele ser liberado pelo Comandante.