Segunda Parte

oo-oo

Para onde quer que olhasse, tudo o que alcançava a ver era uma imensidão de portas de diferentes cores e formatos. Havia desde simples portas de madeira lascada e corroída pela passagem do tempo, até portas de metal ornamentado com incrustações de ouro maciço.

Perdido e desorientado num oceano de portas, Harry deu uso à sua afamada falta de precaução e abriu a porta mais próxima, revelando uma cena dolorosamente familiar… O momento em que abrira o envelope, que ditara o fim da vida tal como a conhecia, desenrolava-se perante ele.

oOo

— Cof… Cof…

Assustado e espantado pela interrupção inesperada, Harry fechou a porta com força, sem se aperceber que o outro Harry pousou os envelopes ao escutar o ruído de uma porta a abrir, seguida pelo som de vozes a segredar sobre o tema que levaria ao infeliz desfecho da sua vida.

— Onde estou? — perguntou antes sequer de se aperceber que abrira a boca.

— Bem vindo ao Corredor das Memórias, Harry Potter. O meu nome é Destino e sou o teu humilde anfitrião — explicou o velho de cabelos brancos e face enrugada pela passagem do tempo. — E estas, não são simples portas, e sim o ponto de entrada para as memórias da tua vida e por conseguinte para a tua nova oportunidade de viver.

— Segunda oportunidade?

— Sim. Para ti que cessaste de viver antes da tua hora… uma porta deves escolher para o teu "destino" poderes reescrever — concluiu o velho Destino misteriosamente, desaparecendo de seguida.

Harry observou o local onde o velho desaparecera, sem saber o que fazer.

Confuso e receoso, foi abrindo porta por porta, até chegar à memória que, segundo ele, dera início ao seu fim.

oOo

Harry viu-se repentinamente dentro da Estação King Cross, frente à sua versão de onze anos, sem saber o que dizer para não soar como um autêntico louco, mas logo se apercebeu que o pequeno Harry não parecia ser capaz de o ver.

"E agora? O que é que eu faço?", pensou o Salvador Que Morreu Antes Da Sua Hora.

"Ainda quando não te possa ver, podes alcançá-lo com a tua voz."

"Pensará que está louco", recusou Harry sem duvidar.

"Esse não é o caso, apenas pensará que é a voz da razão, a sua consciência", concluiu o Destino na sua mente.

Pouco convencido, mas sem outra opção, Harry aproximou-se à sua versão mais jovem e sussurrou-lhe ao ouvido como deveria proceder para entrar na plataforma, imitando um estudante que acabara de passar e ignorando completamente a família de ruivos.

Harry seguiu o mini-Potter, entrando no comboio e acompanhando-o até ao seu compartimento. Ao ver Ronald Weasley aparecer, voltou a sussurrar.

— Nunca confies numa pessoa que te olhe com olhos enevoados pela inveja — disse ao recordar a mirada de inveja que Ron lhe lançara, quando comprara alguns doces à Senhora do Carrinho a fim de matar a fome após várias horas sem comer.

oOo

Harry viu-se uma vez mais no corredor repleto de portas.

— Ok! Fiz o que disseste, escolhi uma porta. E agora?

— Para a tua vida recuperar, o teu óbito deves superar!

oOo

Harry abriu os olhos, quase sendo cegado pelo sorriso, de orelha a orelha, que um infante de escassos quatro ou cinco anos lhe dedicava.

"Quem é esta criança?", pensou Harry quase desmaiando de seguida ao ver aparecer por detrás do menino uma Bellatrix com cara de aborrecimento.

— Quando é que pretendes tirar o rabo da cama? — exclamou "Lestrange", ao mesmo tempo que a sua cintura era rodeada pelos braços de Sirius Black.

"Mas a que universo paralelo é que eu vim parar?", pensou Harry, sem conseguir descolar os olhos dos braços musculosos, que rodeavam a esbelta e delicada cintura da mulher que, por tanto tempo, atormentara a sua mente e assombrara os seus sonhos, criando terroríficos pesadelos. "Em circunstância alguma, Sirius abraçaria Bellatrix com tanto carinho… Alto e pára o baile! Sirius está vivo?", gritou mentalmente, olhando para o relógio de pulso muggle que possuía uma função de calendário. Segundo podia ver, era a manhã seguinte ao seu desafortunado óbito… Como é que era possível?

— Cygnus, deixa o teu padrinho levantar-se — disse Sirius com um olhar gentil banhado de orgulho paterno.

Harry, em choque pela sucessão de revelações inesperadas, engoliu em seco, passando a obedecer às ordens de Bellatrix, arrastando o traseiro da cama e pegando na criança ao colo, quase que automaticamente, o que seria muito provavelmente resultado da memória muscular do seu corpo.

Uma cabeça loira espreitou para o interior do quarto, com olhos verdes esmeralda a brilhar traquinamente.

— O papá disse, que se não correres, vais ter que ir trabalhar de estômago vazio — disse o pubescente com um sorriso ladino muito familiar, seguido por uma voz arrastada, que Harry reconheceria em qualquer sítio, a qualquer hora.

O que é que Malfoy estava a fazer na sua casa?

Porque é que Sirius estava colado à louca que o tentara matar e o levara a cair no Véu da Morte?

Como é que era possível que a sua vida tivesse mudado de forma tão drástica?

"Destino, traz já o teu traseiro empoeirado aqui!", exclamou mentalmente, amaldiçoando o velho e trapaceiro Destino. "Corrige já esta loucura! Eu só queria evitar a morte às mãos da minha desalmada esposa. Como é que acabei metido no meio de um ninho de cobras?"

"Nop!"

"Nop. O quê?"

"Nop! Não vou mudar nada. Pessoalmente sinto-me muito satisfeito. Gosto mais deste desenvolvimento, e nada, nem ninguém, vai arruinar os meus ships. Nem mesmo tu!"

"Os teus ships?", perguntou Harry sem compreender de todo o raciocínio do velho Destino.

"Yep! Pinhão é canon! E Blacks são incestuosos, pelo que Sirius e Bella são um ítem e tu, sendo também um Black, deves respeitar o "destino" e aceitar que babas cada vez que vês o rabiosque de Draco e ponto final!", concluiu o Destino, sem dar tempo a reclamações, desaparecendo sem deixar rasto… Ou, até outro Herói necessitar um empurrão para cumprir o seu "destino" e promover o seu ship.