Acordei naquela pedra com o Sol brilhando na minha cara, devo ter adormecido aqui. Além do Sol na minha cara, senti uma presença. Me levantei rápido até demais e isso me deu tontura. Eu resmungo e balanço a cabeça tentando voltar ao normal. Quando isso acontece, abro meus olhos e o vejo na minha frente com aqueles olhos azuis transbordando preocupações.
—Tudo bem Z?(pronunciado zi) Você desapareceu de manhã. —Perguntou o ser a minha frente com sua voz doce. Eu sorri.
—Tudo bem sim, Cayden. Só vim cantar um pouco e acabei dormindo aqui... O Sol tá gostoso hoje. —Disse eu com minha voz sonolenta. Ele riu.
—O Sol sempre tá bom aqui Z. Estamos em Alpha! —Ele abre os braços, os estendendo para cima.
—Você tem razão. Alpha sempre tem os dias de Sol perfeitos. Mas bom... Os outros já estão acordados?
—Estão sim. Acordaram com seu canto e vieram me chamar pro café da manhã. Então eu vim te chamar porque quem cozinha hoje é o Kryos! —Ele disse com um suspiro. —As panquecas dele são o máximo!
—Com certeza! Então é melhor corrermos senão elas vão acabar. —Digo já me levantando.
—Aposto que chego antes de você! —Ele diz pulando da pedra.
—Só se eu deixar! —Eu digo saltando da pedra e pousando a seu lado. Ele sorri pra mim e começamos a correr na forma normal.
Cayden se destacava bastante na floresta. Enquanto eu era uma raposa vermelha me misturando às arvores da floresta, ele era uma lebre loura saltitando entre os arbustos. Muita gente me pergunta o porque de ele ser uma lebre. Dizem que ele é adotado ou que era pra ser presa mas eu desminto tudo. Ele é meu irmão gêmeo. Um Alpha em corpo Delta. Mais por minha causa. Mas isso é difícil de explicar.
Nós corremos todo o caminho até em casa. Eu tinha certa vantagem mas ele me alcançou no final. Foi um empate. Mas ele jurava que tinha chegado primeiro então eu deixei ele ter essa. O cheiro das panquecas do Kryos tava ótimo. Por isso eu fiz questão de chamar ele pra dividir a casa com a gente.
Entrando em casa, somos recebidos pelos outros, um pedaço da equipe de força incendiária e da força alada. No caso eu faço parte das duas. Onde precisarem de mim, eu estou. Mas eu sou a única que faz isso. Os outros dizem que isso é falta de vida mas eu digo que isso é vivê-la melhor que o resto.
Kryos, um lobo negro de olhos violetas intensos, estava no fogão. Ele usava um avental que tirava um pouco da sua aparência de durão. Ele se vira para por uma nova leva de panquecas no prato quando me vê. Ele sorri imediatamente e acena com a espátula na mão. Eu rio e aceno de volta. Ele sempre foi um cara gentil. Eu vejo como ele trata Shadow, o basilisco incendiário dele. Sempre com o maior cuidado.
Após o café da manhã, era hora de todos se arrumarem para o treino. Cada força tinha seu lugar de treinar mas todos tínhamos um treinamento em comum a ser feito, o treinamento melee. Todos nós tínhamos que saber lutar mano a mano, com ou sem ajuda de armas. Afinal nem sempre teríamos poderes à nossa disposição. A maioria aqui não gostava muito de melee por achar ultrapassado e desnecessário, mas eu acho que treinamento melee nunca é demais. Felizmente nós todos treinamos melee no mesmo lugar então eu posso sempre convencê-los do contrário.
Nós somos os primeiros a chegar. Não estávamos adiantados, apenas os outros que estavam atrasados. Imagino qual vai ser a desculpa dessa vez... Antes que os outros pudessem chegar, Donnovan aparece no campo. Ele vinha com seu grifo, Elysium, trazendo o equipamento de treino. Ele olha para todos nós e para em mim.
—Bom dia soldados! —Ele diz com seus braços atrás de seu corpo. —Prontos pra mais um dia de treinamento até que caiam de exaustão?
—Senhor! Sim, Senhor! —Todos gritamos em unisono.
—Bom, estão com azar. Eu seria condenado por sobrecarregar todos vocês idiotas! —Ele ri e nós seguimos sua deixa. Então ele nos olha sério. —Mas falando sério... Vocês vão ralar muito hoje. Podem se preparar quando os outros chegarem.
Dito isso ele volta para seu grifo e começa a tirar os equipamentos. Eu faço questão de ir ajudar. Ele sempre faz os nós mas nunca consegue desamarrar. Chegando lá, o grifo agita suas asas soltando um breve chiado. Eu o acaricio.
—Ora seu pedaço de frango gigante... Você me conhece muito bem... —Ele baixa sua enorme cabeça de águia e se acaricia contra mim. Eu rio. —Também senti sua falta.
—Ele gosta de você... Coisa rara viu? —Donnovan diz enquanto eu começo a desamarrar os nós. —Esse bicho é mais ranzinza que um cara na crise da meia idade!
Ambos rimos e Elysium protestou. Virou-se batendo a cauda em nós dois que caímos. Ele solta um guincho debochado. Nós o olhamos com cara feia e ele voa deixando os equipamentos ali. Ainda bem que conseguimos tirar eles.
—É... Ranzinza pra caralho. —Eu disse. Donnovan riu.
—Oh, Z... Eu precisava falar contigo na minha sala. Melhor a gente ir antes do treinamento começar. —Ele disse. Eu nunca gostei de ouvir isso. Ninguém gosta.
—Eu fiz algo de errado? Oh, se for por causa do soco que eu dei na Thalya eu juro-
—Não! Não é isso... Ela mereceu aquela... Só... Eu vou te explicar lá. —Ele disse com um sorriso singelo. Eu conheço ele atempo demais pra confiar que vai ser bom...
—Tá... Vambora... —Eu disse me levantando e o ajudando a levantar.
Seguimos para sua sala que sempre teve um cheiro esquisito pra mim. Não sei identificar ainda. Ele se senta em sua mesa e aponta a cadeira a sua frente. Eu a puxo, me sento e olho para ele. Donnovan suspira.
—Então... Eu tenho certeza que você não vai gostar disso...
—Oh sério? —Eu disse com uma sobrancelha levantada. Ele ficou um tanto tenso. —Nem parece que eu sou a subordinada aqui... Geez...
—Bom... Uh... Piadas a parte, eu notei que você nunca pediu uma folga e nem férias...
—E nem vou. Eu não quero. Não preciso. —Eu disse já odiando pra onde isso estava indo.
—Essa é a coisa... Eu sei que você não vai. Por isso eu estou te mandando tirar férias. —Esse filho da puta não fez isso...
—Não. Don... Não! Eu disse que não quero e nem preciso!
—Precisa... Todos precisamos... E... Essa falta de descanso vai te afetar muito... Não só aqui mas quando a guerra vier. Você precisa estar preparada.
—E COMO RAIOS EU VOU ME PREPARAR DE FÉRIAS DONNOVAN?! —Eu gritei. Ele engoliu em seco. Ele me conhecia bem o bastante pra saber que eu não sou legal com raiva.
—É pro seu próprio bem... Não queria fazer isso... Você é a melhor daqui Z... Mas até os melhores descansam... —Eu apenas o olho ainda com raiva.
—Sim, Senhor... Pra onde eu devo ir? —Eu odeio desacatar ordens...
—Omicron. —Ah, não...
—Pelo menos me deixam caçar lá... Não vai ser totalmente horrível...
—É... E eu te aconselho a ir agora... Vai te poupar perguntas.
—Tá... Até depois... —Eu disse me levantando e saindo.
—Boa sorte...
—Vai se foder...
Só ele mesmo pra me fazer tirar férias... Espero só não ter mais nada me irritando naquele lugar...
Eu e Kyle ficamos no terraço conversando por um bom tempo. Eu estava deitado olhando o céu e Kyle observava as pessoas andando lá em baixo. Não sei o que ele pensa de verdade... Mas parece algo profundo, talvez guarde a razão de ele não falar tanto? Eu sei lá... Só sei que ele sempre faz isso...
—Kyle... —Eu o chamo e ele olha pra mim. —Você por acaso já foi a algum lugar alem de Ômega e Iota?
—Fui... Delta, Sigma e Alpha. —Ele disse com aquela voz rouca e pouco usada. —Delta ruim... Sigma machuca... Alpha ajuda.
—Oh... Eu nunca ouvi falar de alguém que foi pra Sigma. Deve ser bem diferente... —Kyle veio até mim rápido como um raio. Não sei como ele faz isso...
—Não... Vai... —Ele me segurava pelo colarinho e olhava em meus olhos. Era desconfortável olhar os olhos verde esmeralda de Kyle. Como se ele olhasse minha alma.
—T-tá... Não vou. Mas você gostaria de ir pra um lugar novo? —Ele sorri e me solta, balançando a cabeça devagar. —Tá bem... Então vamos pra Omicron, o que acha?
—Omicron... Sim! —Ele diz animado. —Quando?
—Assim que eu falar com meu pai. Vai se arrumar. Eu te chamo lá.
Kyle balança a cabeça e se levanta, indo até o alçapão por onde saímos. Ele desce e eu vou logo atrás. Nayara estava lá e olhava para Kyle fixamente nos olhos. Eu percebia raiva nela e medo nele. As pernas de Kyle tremiam e seus punhos fechavam. Ele dizia algo estranho. Parecia uma repreensão dessas religiosas mas... Ao contrário?
—Ragul ues erpmes edno, onrefni orp etlov e iuqad aias. Atidlam Asoluben! Nebulosa... Maldita!
Ele correu pra trás de mim sibilando algo sem sentido, mais repreensões eu suponho. Olhava fixamente nos olhos dela e andava junto comigo me mantendo longe. Ela apenas bufa e segue caminho. Kyle continua a observando enquanto ia comigo. Logo ele se acalma e anda normalmente.
—Vem cá... Qual é a seu problema com o projeto de prostituta? Ela te fez alguma coisa? —Pergunto intrigado. Ele olha para mim, as pupilas retraídas como as de um felino.
—Nasceu... Nebulosa... Má. Lobo... Mau... —Ele diz com uma boa pausa. Ela e o Silver devem ficar atormentando o coitado...
—Entendi. Se eles fizerem qualquer coisa você TEM que me avisar... —Ele balança a cabeça e dividimos caminhos.
Apresso o passo para a sala de meu pai. Era um caminho até que curto mas eu também devia checar se ele não estava em algum outro lugar. Como não o vi por onde eu fui, decidi ir para a sala do trono. Chegando lá eu o vi sentado em seu trono lendo algum decreto que devia ter sido revisado a pouco. Ao me ver, ele sorri e deixa o decreto de lado.
—Meu filho! O que o traz aqui? —Ele pergunta. Eu sorrio.
—Oi pai. Eu ia te pedir permissão pra viajar com o Kyle. Queria levar ele pra visitar outros lugares...
—Bom... Eu ia mesmo te propor uma viagem de reconhecimento. Talvez você fizesse novos amigos? —Ele disse num tom de brincadeira.
—Eu tenho o Kyle... Não preciso de mais... Ele é tudo o que eu podia pedir... —Digo um tanto sério.
—Da mesma forma é bom ter amigos de fora pra caso você tenha que sair daqui e se abrigar em algum outro lugar...
—Bom... Você... Tem razão... Talvez eu faça novos amigos em Omicron.
—Omicron... Ótima escolha. Só por favor tome cuidado lá... Existe todo tipo de criatura lá. Podem haver Deltas ou... Alphas... —Ele diz temeroso.
—Tenho certeza que um dos Alphas não me machucaria por nada... Já os Deltas...
—Sim eu sei... Bom... Boa sorte lá meu filho. —Ele diz sorrindo. Eu faço uma breve reverência e saio. Kyle vai ficar feliz.
Ando apressado pelos corredores e acabo topando com uma cena nojenta, minha irmãzinha estava com aquele lobo de novo, estavam na porta do quarto e... Credo... Prefiro nem descrever a cena... Apenas passo direto e continuo seguindo até os alojamentos.
Chegando aos alojamentos eu vi Kyle com sua mala pronta e roupas novas e decentes. Usava um sobretudo preto com capuz. Acho que ele não gosta de chamar atenção mesmo. Ele sorri ao me ver e vem em minha direção.
—Nós... Vamos? —Ele pergunta.
—Vamos Kyle. Meu pai deixou.
—Mala? —Ele perguntou olhando minhas mãos vazias.
—Olha só isso... —Disse levantando um dedo.
Eu estalo os dedos da mão direita e, numa nuvem de sombras, uma mala pronta aparece em minha mão esquerda. Minhas roupas mudam para algo mais discreto e natural, um sobretudo parecido com o de Kyle e minha cartola. Ainda usava minha camisa social e gravata. Não tirava aquilo por nada. Os olhos de Kyle brilham.
—Uau! —Ele disse. Eu sorri.
—Vamos? —Eu pergunto. Ele balança a cabeça. E então seguimos pra fora do castelo.
Um príncipe ômega e a minha Alpha favorita nesse universo todo... Hah... Isso vai ser muuuuuito divertido...
CONTINUA...
