n/a: obrigada a CaFe35 e pelas reviews
Raiva
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Eles se sentam lado a lado no ponto mais alto de Suna, no topo do Palácio do Kazekage. Há um silêncio confortável entre os dois, algo que só vem com anos de convivência. Sakura abraça seus joelhos enquanto Gaara se apoia nas mãos, observando a noite quase sem lua e sentindo o vento seco do deserto.
- Uchiha Sasuke faz parte da Akatsuki agora. – O Kazekage comenta e ela concorda com a cabeça. – Você vai conseguir cumprir seu objetivo com ele ao seu lado?
Sakura respira fundo e suspira, a bochecha encostada no joelho enquanto fita os olhos de um verde familiar.
- Espero que sim – responde honestamente – Estou fazendo isso para salvar Naruto, não posso deixar que Sasuke seja uma prioridade.
O olhar de Gaara é sério, tranquilo e diz muito mais do que demonstra. Ele acredita nela, mas ao mesmo tempo está em dúvida do caminho que traçou.
- O líder me mandou falar com você. – A Haruno confessa. – Ele me disse que era uma pena, eu não ter feito parte da organização antes. Que se estivesse presente durante seu ritual de extração do Shukaku, você não teria morrido ou mesmo Chyo-sama.
- E o que você acha? – Gaara estende a mão, tirando uma mecha de cabelo do rosto dela.
- Não sei, não há como mudar o passado – diz em um murmúrio.
Então o rosto dela está no ombro dele, a mente presa demais nos momentos em que falhou. Nas pessoas que não pode salvar e nos inimigos que destruíram sua família.
- Eu tenho medo do que Naruto vai fazer, se eu encontra-lo algum dia. – Confessa, apertando os olhos com força. – Não sei se vou ter estomago para lhe contar tudo que fiz nos últimos anos.
Gaara espalma a mão nas costas dela, subindo e descendo por baixo do mando negro com nuvens vermelhas. Ele a escuta, lembrando de um tempo não tão distante, onde seus corpos se entrelaçavam e as coisas faziam um pouco mais de sentido.
- Ele vai entender, vocês são uma célula. – O Kazekage comenta. – Talvez essa seja a única forma de trazer Sasuke de volta para o caminho da luz, lhe dar um objetivo além da sua vingança.
Sakura levanta o rosto, o cenho franzido. Ela não entende porque ele trouxe o nome do Uchiha de novo, aquilo era sobre Naruto. Sobre alguém que trazia otimismo e esperança, apesar de todas as injustiças que foram causadas ao filho do Quarto Hokage.
- Vocês têm assuntos para resolver. – Gaara afirma, voltando o rosto na direção do dela. – Tente fazer como Naruto dessa vez, use seus punhos. O diálogo nitidamente não foi eficiente.
Ela ri, e corresponde quando ele se inclina para beijá-la.
Naquele momento, ela não percebe os olhos vermelhos os fitando na escuridão.
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Anos atrás, ela costumava se exaurir chorando, até que o inconsciente finalmente a tomasse. Hoje em dia, Sakura sequer lembra da última vez que derramou uma lágrima.
Talvez quando descobriu sobre o desaparecimento de Naruto e Kakashi, ou então a morte dos seus pais.
Com o tempo ela elaborou suas próprias técnicas para ignorar as dores que lhe afligiam, jamais seria boa em ignorar suas emoções como Sai. No entanto, ninguém podia negar que ela tentava.
É nisso que ela pensa quando estão cruzando a fronteira do País do Fogo e os ninjas que os cercaram quase destroem sua fachada.
Sakura se esconde dentro de sua própria mente naquele momento. Ela se lembra que Ino, Shikamaru e Choji vem de clãs importantes para Konoha. Danzou não seria tolo de puni-los quando falhassem em captura-la. Eles estavam bem protegidos, enquanto Naruto estava perdido no mundo, eles tinham seus clãs e nomes.
Ser cruel naquele momento era necessário – promete para si mesma. Era para o bem do seu time, quando Naruto, Kakashi e ela estivessem reunidos de novo, as coisas iriam melhorar.
- Não deixe que veja seu rosto. – Sakura fala para Sasuke, segurando seu pulso.
Os dois se fitam, mas ele não se afasta. É uma surpresa para ambos, afinal, essa foi a primeira vez que ela o tocou desde que se reencontraram. Ao menos de uma forma não relacionada a cura dos seus olhos recém transplantados.
Do outro lado da clareira, Kisame sorri, entendendo o que se passa muito antes dos ninjas da Folha.
- Vocês deveriam ir crianças. – Kisame diz, fitando os Shinobis de Konoha. – O garoto com cabelo de abacaxi, foi ele quem matou Hidan, não foi Haruno-chan?
Sakura deixa seus braços relaxados ao lado do corpo, o chapéu escondendo grande parte do seu rosto. Mas os lábios estão visíveis, se levantando em um sorriso irônico. Ela concorda com a cabeça para Kisame, observando discretamente o seu redor. Possivelmente Ino e Shikamaru usariam seus jutsus nela, os mais aptos para capturar sem causar danos.
No entanto, ela podia sentir mais três chakras por perto.
- Seis contra três, não acham que é um pouco demais? – A Haruno pergunta, mudando o peso de perna.
- Sakura, para com isso. – Ino diz, dando um passo para frente. – Essa não é você.
Ino estava certa, aquela era só mais uma das inúmeras fachadas que criou desde o momento em que Uchiha Madara a procurou e lhe entregou o manto da Akatsuki. Mas então, se Tsunade-shishou havia lhe ensinado algo sobre jogos, é que só podemos usar as cartas que temos em mãos.
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Sasuke conheceu uma outra perspectiva do mundo shinobi com Orochimaru, o lado mais sombrio, sem a crença de lealdade e altruísmo pregada em Konoha. No fim, todos sempre vão atrás de benefícios próprios, sejam eles a proteção do seu povo ou uma sede incontrolável por vingança.
Ainda é difícil para ele, associar essa Haruno Sakura com aquela que ele viu pela última vez cinco anos atrás, quando parte dos nove novatos os cercaram e ele lutava contra Deidara.
Essa mulher na sua frente é muito boa em interpretar papeis, em fingir e manipular. Ela engana a própria Akatsuki, com suas histórias de noites em tavernas e homens desconhecidos. Quando na verdade, aquilo era só uma estratégia para encontrar Naruto.
O dobe, sempre estava em primeiro plano na mente dela. Isso era inegável. Sasuke se pergunta com frequência, qual a real relação dos dois. Ou mesmo, qual o papel de Sabaku no Gaara nos planos dela.
- Vamos para casa, Sakura. – Nara Shikamaru fala, tão sem emoção como todos os ninjas por perto. – O Hokage está desposto a abdicar seus crimes, se você jurar lealdade a Vila da Folha novamente.
Quando o Hokage é mencionado, Sasuke percebe, o sorriso irônico se torna real no rosto da kuinoichi.
- Oh, tão gentil da parte dele. – A medica-nin fala, estalando a língua em seguida. – Você pode garantir para o seu Hokage, que eu conto os dias até que a morte dele seja declarada pelas minhas mãos.
A surpresa nos outros shinobis, olhos se arregalando levemente e leves passos hesitantes. A distância Sasuke escuta os outros ninjas se movendo, não havia motivo para se esconder quando Sakura já reconheceu suas presenças.
- Vamos Haruno-chan, não podemos perder tempo aqui. – Kisame diz.
Sasuke fica em silêncio o tempo todo, aproveitando aquele momento para usar seus olhos e analisar cada pessoa que o cerca. A dinâmica do grupo mudou muito nos últimos anos, ele só teve um real contato com eles durante seu Exame Chunnin. Já se passaram nove anos desde então, e mesmo que alguns usassem as vestes de Jounnin, Sasuke sabia quem tinha o real poder ali.
- Testuda... – Ino insiste mais uma vez. – Você realmente acha que seus pais iriam querer isso para você? Como pode trocar Konoha dessa forma?
- Os mortos não falam, Ino-porca. – Sakura balança a cabeça, sem se deixa afetar. – Saiam da nossa frente, vocês não têm capacidade para derrubar nós três.
O Uchiha franze o cenho. Ele não admite para si mesmo, mas odeia o fato de que muitos minutos do seu dia são dedicados a especular sobre o passado de Haruno Sakura. Em grande parte, ele se mantinha imóvel naquele momento, querendo saber o que ela iria fazer. A que ponto chegaria para se vingar de Danzou?
Quando shurikens e kunais são lançadas ao seu redor, elas atingem uma barreira... de Chakra? Sasuke vê as sombras se movendo, tentando se aproximar deles também. Mas é como se uma grande bolha estive ao seu redor, repetindo qualquer técnica ninja.
- Que bom que se juntaram a nós. – Kisame fala bocejando. – Já estávamos cansados de esperar.
Nenhum deles perde muita atenção com Kisame, seu maior foco é Sakura. Pelo Bingo Book, o antigo parceiro do seu irmão tem um ranking superior a Haruno, e no entanto, é como se ela fosse a maior ameaça ali. Sasuke não acha que seja necessariamente sobre o passado em comum dos shinobis, eles realmente a fitam como se ela fosse capaz de destruir cada um deles.
- Seu nome foi citado, como possível Hokage, três anos atrás. – Hyuuga Neji afirma, seus passos centrados e furiosos, até que ele está frente a frente com a medica-nin. – Você poderia estar nos ajudando a reconstruir Konoha agora, mas todos os dias pisa na honra e na dedicação que a Godaime centrou em você.
Sakura continua livre de emoções, e então entrelaça os dedos na frente do corpo. Aquele simples gesto faz com que todos tencionem, prontos para atacar.
- O que você quer para voltar para Konoha, Sakura-san? – Tentei questiona, seus olhos castanhos indo entre a rosada e o seu companheiro de time.
A Haruno parece não escutar a mulher, ela e o Hyuuga estão em uma batalha naquele momento. Sem desviar as íris, Sasuke percebe que quando mais tempo ficam naquilo, mais irritação emana dos dois.
- Um dos seus amantes, Sakura?
É a primeira vez que ele fala, desde que foram cercados. E suas palavras têm a reação que ele esperava, todos ficam tensos e desviam a atenção da kuinoichi.
- Uchiha. – Neji fala seu nome entre deles.
Sakura revira os olhos, e então se volta para o Uchiha por sobre o ombro. Ela arqueia a sobrancelha para ele, como se gritasse as palavras anteriores, o pedido de silêncio.
- Sakura, você não pode estar fazendo isso por ele! – A Yamanaka grita, as mãos em punhos ao lado do corpo.
A Haruno bufa e inclina a cabeça para o lado.
- Não, isso não tem a ver com Sasuke.
Ele já sabia disso, mas algo dentro de Sasuke o compele a sorrir para seus antigos companheiros.
- Muita conversa, pouca ação. – Kisame diz. – Vamos, temos um prazo, Haruno-chan.
Quando as equipes se chocam, Sasuke finalmente entende porque Haruno Sakura se tornou um membro da organização criminosa.
