Raiva

.

.

.

Sasuke tinha como prioridade se manter informado. Era uma questão de sobrevivência mais que qualquer coisa. Diz para si mesmo, que é só por esse motivo que sabe da especialidade de Haruno Sakura.

O fato de ela ser uma médica-nin e discípula da Godaime Hokage deixam claro sua habilidade de controle de chakra. No entanto, ninguém nunca lhe disse sobre o quanto ela havia aperfeiçoado aquela técnica.

Naquele instante, com ninjas que teoricamente estavam em mesmo ranking que eles, Sasuke via um novo lado da sua companheira.

Primeiro há a surpresa, porque ela deixa que os golpes a atinjam.

Então, quando seu peito é atravessado, ela sorri. Hyuuga Neji se afasta, definitivamente surpreso por ter acertado.

O pulmão da rosada se regenera em questão de segundos, há um grande rasgo em suas vestes, deixando parte do seu abdômen visível. Onde antes havia uma enorme ferida, agora só existe uma leve vermelhidão.

Sasuke continua com as mãos nos bolsos, deixando que ela lide com a situação. Próximo a ele, Kisame sorri, se apoiando em sua espada.

É algo tão atípico.

Como a garota sempre deixada para trás, se transformou nessa kuinochi?

- Você deveria estar ajudando Konoha a se reconstruir. – Yamanaka Ino diz entre dentes, repetindo as palavras de Neji, o suor escorre na sua testa e os olhos estão úmidos. – Eu tenho vergonha de quem você se tornou, Sakura.

Os olhos vermelhos do Uchiha fitam a movimentação das sombras, indo em direção da Haruno. Ainda assim, ele não se mexe, aguardando os próximos passos da médica-nin.

- Tempos extremos exigem medidas extremas, Ino-porca.

Ninguém fala nada, Sasuke supõe que Danzou enviou a loira para fragilizar Sakura. Mais que uma distração, propositalmente abalar seu emocional. Não estava funcionando e o Uchiha sabia exatamente o porquê.

Sakura poderia amar Ino, mas era obvio para ele que em uma balança, Naruto pesava mais.

.

.

.

Tudo tem chakra como base e era por esse exato motivo que ela tinha chegado aquele ponto da sua vida.

Como médica-nin, era questão de encontrar um vírus ou doença que ataca o sistema imunológico e destruir de dentro para fora. A lógica de um jutsu não era tão diferente disso. Para Sakura, era questão de encontrar o que fazia a técnica funcionar e fazer com que ela despedaçasse.

Poucas coisas ainda poderiam ser usadas contra ela. Seu corpo combatia veneno. Um punho poderia arrancar seu coração, uma lamina rasgar sua garganta – e órgãos, tecidos, veias e pele se reconstruiriam em segundos.

É difícil viver, quando nada pode te matar realmente.

O jutsu de Ino não funciona, a rosada incrementara o losango cheio de chakra em sua testa. Se transformando em uma barreira mental, mesmo contra genjutsus.

As sombras de Shikamaru se retraem quando se aproximam dela, como água e óleo.

Os socos de Chouji não fazem efeito.

Ou as lâminas de Tenten e os chutes de Rock Lee.

Neji lhe acerta inúmeros pontos de chakra, mas quando um se fecha, outro se abre.

Uchiha Madara especulou uma única vez, que somente o sharingan e a força de um bijuu realmente fariam efeito em Haruno Sakura.

- O que aconteceu com você? – Hyuuga Neji pergunta, segurando os pulsos dela contra o quadril, enquanto todos os outros lhe observam.

Ela suspira, como se estivesse entediada. Como se o toque fosse irrelevante contra sua pele, como se aquelas mesmas mãos não tivessem percorrido seu corpo inúmeras vezes.

- Seu Hokage aconteceu. – Ela murmura, os lábios muito próximos dos dele. – Você realmente acredita que eu trairia Konoha, que trairia Naruto, caso tivesse outra escolha?

Ele respira fundo e atenção toma os olhos dos dois, o moreno se inclinando na direção dela, a ponta do nariz quase se tocando. A kunoichi aproveita o momento de distração para tocar o peito dele, o empurrando para longe. As árvores se quebram com a força do golpe, e a aprendiz da Godaime suspira, a tristeza tocando seu rosto por um mero segundo.

- Vamos embora – fala por fim, sem encarar Kisame ou Sasuke.

Sakura dá as costas para seus antigos amigos, caídos e sem chakra – grande parte absorvido por ela. Olha brevemente para o céu, se questionando onde Naruto estaria.

E se um dia, ela poderia voltar para casa, depois de tudo que fez.

.

.

.

.

Sasuke a observa, em total silencio durante toda a jornada. Ela tem uma boa fachada. O rosto livre de expressão, os olhos firmes no caminho à frente.

Exceto, que seus dedos tremem ocasionalmente, nos rápidos segundos que aparecem por baixo de seu manto negro com nuvens vermelhas.

Ele queria destruir Konoha e em nenhum momento ela interviu para defender a vila que jurou lealdade. Ele suspira, saltando mais uma vez entre as arvores em total quietude.

Em breve, descobriria o que realmente aconteceu entre Haruno Sakura e Danzou, o Sexto Hokage.

.

.

.

- Está feito. – Sakura diz, passando por Uchiha Madara.

É obvio que algo aconteceu no caminho. Na maioria das vezes, a kunoichi tinha uma expressão neutra ou indiferente. O rosto dela mostra raiva agora, como se uma chama queimasse em suas íris verdes.

Ela não comenta sobre a missão, os passos pesados ecoando pelo corredor até desaparecer no lance de escadas.

Konan observa próxima, os olhos nas costas da medica-nin, ela volta sua atenção para Kisame, que só nega com a cabeça. Sasuke nota a troca de olhar, assim como a forma com que Madara inclina o rosto – ele não sabe para qual dos membros da organização o gesto é direcionado.

- Reporte. – Madara ordena.

Sasuke fica em silêncio, em grande parte, esperando a reação de Kisame. Ele quer saber, o quanto ele vai omitir, ou melhorar o lado de Sakura.

- Ela encontrou antigos companheiros. – Kisame dá de ombros. – Foi uma humilhação a Konoha, a garota deixou claro que é a melhor da sua geração.

Não é possível observar o rosto por trás da máscara, no entanto, depois de anos lidando Hatake Kakashi, Sasuke quase conseguia imaginar uma sobrancelha arqueada e um sorriso escondido.

- Sakura-chan é uma garota explosiva. – Deidara afirma, do outro lado da sala, suas mãos ocupadas com um pedaço de argila. – Gostaria de ver o espetáculo, faz algum tempo que não há vejo lutar com alguém.

- Levando em consideração que a garota podia quebrar um genjutsu de Itachi, qualquer uso de força é energia desperdiçada. – Madara afirma.

Ele parecia estar testando suas palavras, aguardando a reação de Sasuke.

- Como? – Sasuke questiona.

Um rápido flash de sharingan, em ambos os membros do clã.

- Uma mente forte. – Madara, dá de ombros. – É quase como se existisse outra pessoa dentro daquela cabeça.

Há uma piada interna ali, que Sasuke não entende. As peças ficam cada vez mais desconexas. Sakura está procurando Naruto, focada em ser a pessoa a retirar a Kyuubi dentro dele. Itachi a treinou por alguma razão, mesmo que a medica-nin deveria ser só uma discípula, não uma pupila. E, todos eles pareciam concordam que existia uma raiva por Konoha dentro da Haruno.

Aos poucos, a sala se esvazia, deixando apenas os membros do clã amaldiçoado.

- Por que você a recrutou? – O mais novo pergunta, sem encarar Madara.

Um riso, seguido de um suspiro.

- Você sabe de onde se origina o ódio, Sasuke-kun?

Nenhuma resposta.

- Ódio vem fundado no amor, sua traição ou perda dele. - Explica. – Por ódio, escolhi você.

Ao longe, começa a chover. O som da água tocando a pedra é baixo dali, praticamente inaudível. Faz lembrar de outros tempos, de noites sombrias no esconderijo de Orochimaru, amarrado e com chakra selado, enquanto Kabuto injetava veneno no seu corpo – tudo para ficar mais forte.

- Agora raiva... Raiva vem de medo, medo de fraqueza, de viver as sombras, de perder algo preciso. – Madara completa. – Sakura possui uma raiva crua, provavelmente, por que ela não se acostumou com todos vocês a deixando para trás.

Quando Uchiha Sasuke continua em quieto, Madara começa a caminhar para longe, assoviando para si mesmo.

.

.

.

Eram raras as vezes em que todos se reunião dentro dos quarteis generais da Akatsuki. No entanto, como o fim estava próximo, essas ocasiões se tornavam mais frequentes.

Desde o ataque a Konoha, e a lentidão da recuperação de Nagato, houve um grande atraso nos planos da organização. A necessidade de missões aumentou, de novos membros e de se esconder dos sussurros das vilãs ocultas.

- Há rumores, de que a Vila da Pedra vai atacar a Folha. – Deidara diz, sentado do outro lado da mesa.

Sakura o observa, balançando o copo de sake. Ela não gosta daquela ideia, de alguém ter a possibilidade de matar Danzou antes dela.

- Sem querer desrespeitar meus anciões – Deidara continua – O Tsuchikage é uma carcaça viva, deveria pensar antes de colocar a Vila em uma guerra que não vai estar aqui para ver terminar.

A kunoichi concorda com a cabeça.

- Depois de tudo que eles fizeram para ter o byakugan, não fico surpresa. – Sakura completa.

- Oh, você está bem informada dessa história? Algum namorado no clã Hyuuga? – Deidara implica.

Sakura reviro os olhos, então chuta a perna da cadeira do loiro. Ele balança, então cai para trás, rindo.

- Toquei em uma ferida?

- Não, idiota. – Ela responde. – Parte do meu trabalho como aprendiz da Godaime, era estudar a história de Konoha.

A conversa é interrompida por Konan, seus passos são rápidos. Há um desespero em seu rosto.

- Venha comigo, agora.

O medo é nítido, e o lado médico de Sakura fala mais alto. Deidara observar as duas e se levanta também, caminhando com as kunoiches em direção a parte mais alta da torre.

Conforme sobem pelos degraus, o chakra volátil começa a surgir. Os gritos e a forma como o genjutsu surge abruptamente. A rosada levanta o braço, impedindo que os outros deem sequer um passo à frente.

- Onde está Madara?

Konan nega com a cabeça e a Haruno respira fundo.

- Fiquem aqui.

Sem hesitar, ela abre a porta do quarto, as paredes cobertas por chamas negras e Uchiha Sasuke delirando com seus pesadelos.