Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Ally Blake, que foi publicado na série de romances "Modern Sexy", da editora Harlequin Books.
Capítulo 5
- Outro, por favor, e duplo desta vez ! - pediu Luna a Ivan, o barman, depois que o homem com quem estava beijou sua mão e saiu dizendo que iria se "refrescar".
Ginny sentou-se perto da amiga nos bancos de sempre no Sand Bar, tentando assumir uma expressão séria, mas logo explodiu em uma gargalhada.
- Onde diabos você encontrou aquele homem ?
Luna se contorceu até que seu rosto pousou em suas mãos.
- Minha mãe arrumou para mim !
- Desculpe, você disse que sua mãe arrumou para você ? Sua mãe arrumou UM HOMEM para você ?
- Ele é filho do cabeleireiro dela. Ela me jurou que Richard era alto, tinha emprego e seu próprio apartamento, e eu...
- Bem, está claro que deveríamos marcar o dia na igreja imediatamente !
Luna soluçou.
- Por que eu ?
- Porque você não é nem um pouco exigente.
Luna endireitou-se e fez uma cara feia.
- Pelo menos o meu está aqui. Onde está o seu ?
Ginny abriu a boca, mas não disse nada. Luna sabia como mexer com ela. Ela a havia enganado direitinho, perambulando desconsolada pelo apartamento porque Ginny encontrara o perfeito não-relacionamento, ao passo que a pobre Luna não conseguia nem isso. Então, por favor, por favor, por favor, será que elas não poderiam fazer um encontro duplo só desta vez ?
Quando a amiga se afundou em seu enorme coquetel, sentindo-se inquieta, Ginny olhou discretamente para seu relógio, depois para o celular e depois na direção da porta.
Se Draco não aparecesse, ela não podia culpá-lo. No instante em que abrira a boca para convidá-lo, ela sabia que isso era passar dos limites do relacionamento que tinham estabelecido. Mas, depois de uma longa e dolorosa pausa, ele concordou, mas só se ela prometesse valer a pena para ele. Como se isso fosse algum tipo de punição !
A verdade era que, em algumas das vezes em que se encontraram nas últimas semanas, ela sabia estar sentindo coisas que não deveria estar sentindo, com absoluta certeza. Em parte, havia concordado com o pedido de Luna porque a sensação de alguém vigiando-a de perto enquanto estava com Draco parecia uma boa idéia.
Ela embalou o corpo no ritmo da música. Além do lindo vestido preto, estava usando uma lingerie nova. Ela a vira em uma vitrine no caminho do trabalho e pensara em Draco, ou melhor, para ser mais precisa, em Draco tirando-a com os dentes. Comprara o conjunto sem nem olhar o preço. Era salmão-claro com babados, macio como bumbum de bebê. E pinicava só um pouquinho, para falar a verdade. Ou talvez fosse apenas a reação de seu corpo por saber que ele chegaria logo, sua mão quente encontrando qualquer desculpa para tocá-la, seu delicioso aroma envolvendo-a com força. Os nervos dela tilintavam cada vez que ela via o olhar dele passando por sua pele nua.
E então a atmosfera em torno de Ginny mudou, ficou mais densa, e ela girou no banco para ver Draco caminhando em sua direção. No lugar do terno e da gravata de sempre, ele usava jeans escuro, blazer chocolate de linho e um suéter de gola V creme. E não estava barbeado. O cabelo um pouco mais espetado que o normal.
Para olhos destreinados, ele poderia parecer perfeitamente casual, perfeitamente adequado para o local. Para Ginny, cujo coração veio parar na boca, ele parecia decididamente perigoso. Os olhos dele encontraram os dela, as profundezas dos olhos castanhos de Ginny cintilando. Um resquício de sorriso apareceu no canto da boca. A música havia sido obscurecida pelo sangue correndo rápido nos seus ouvidos. E quando os olhos dele perceberam seu vestido, seus sapatos lindos, o V atrevido no decote, o sorriso se aprofundou em reconhecimento e ela ficou um pouco zonza.
E então soube, que com ou sem alguém vigiando seus atos enquanto estava perto de Draco, ela estava perdida. Se ele tivesse o ímpeto de afastar as bebidas e os pretzels do bar para possuí-la bem ali, ela não teria forças para resistir.
Ainda bem que ele era mais comedido. Quando se aproximou, ele se inclinou e a beijou. Na boca. Um beijo deliberado, longo, lento, que mostrava ao mundo, ou pelo menos àqueles dentro do bar, que por acaso estivessem olhando naquela direção, que o vestido e os sapatos eram para usufruto dele, e não dos outros. Então o beijo persistiu. Aprofundou-se. Ela sentiu todo o seu propósito começar a se dissolver. Ah, Deus !
Ela pressionou a mão contra o peito dele e se afastou, sem fôlego e levemente trêmula. Um músculo se contraiu em seu rosto quando os olhos cinza e excitantes flamejavam ao olhar para ela. Alguém colocou a mão entre eles, lembrando-os de que não estavam sozinhos.
- Olá ! Sou Luna. Você deve ser o cara da Ginny.
O cara dela ? Ginny virou só o suficiente para encará-la. Isso era jeito de falar, meu Deus ?
- Luna, este é meu amigo, Draco Malfoy. Draco, Luna Lovegood.
Ela percebeu um arrefecimento em Draco quando segurou a mão de Luna. Não uma atitude distante, apenas um recuo na excitação. Excitação que era só para ela. Reprimiu, assim, o sorriso inesperado que sentiu desabrochar em seu coração.
- É um prazer finalmente conhecê-la.
Luna enrubesceu, riu e terminou com um som que mais parecia um soluço. Ginny teve que dar uma cotovelada discreta em sua amiga para que ela soltasse a mão de Draco.
Ele disse:
- Pensei que estaríamos em quatro - Draco se moveu para mais perto, e Ginny contraiu as nádegas no banco para não se virar na direção dele. Até que a mão dele deslizou para a parte de baixo das costas dela, marcando-a com seu calor, lembrando-a do preço que ela ainda teria que pagar.
- Ah...? - murmurou Luna.
- Richard - relembrou-a Ginny - Seu acompanhante.
A memória de Luna voltou com toda a sutileza de um balde de gelo jogado em sua cabeça. Ela teve um calafrio e bebeu o resto de seu coquetel para depois dizer:
- Ele está em algum lugar reaplicando o batom.
Draco manteve-se sério ao olhar para Ginny, mas havia dúvida nos olhos dele.
Ela disse:
- Você vai entender logo.
- Mal posso esperar.
E quando o olhar de Draco insistiu em permanecer unido ao dela, Ginny soube, sem sombra de dúvida, a que ele se referia. Ela teve que cruzar as pernas para conter o desejo de enlaçá-lo com elas.
Mais tarde, depois de um jantar estranho e memorável, enquanto os homens sentaram-se à mesa de canto deles falando sobre beisebol, ou futebol, ou bolas de qualquer tipo, Ginny e Luna aproveitaram a oportunidade para sentar no bar e fazer comparações.
- Você é uma mulher mais forte do que eu - disse Luna com um suspiro - Eu não teria coragem de dizer que estava com sono para aquele sorvete de sexo.
- Sorbet. Sorbet romântico.
- Certo. Mas sorbet é tão frio e servem tão pouquinho, e ele é tão grande, gostoso e intenso. Eu chamaria de... sexo flambado !
O olhar de Ginny deslizou até Draco. Ela abocanhou a cereja do palito de seu coquetel e a deixou escorregar por sua boca.
A voz de Luna soava como se estivesse vindo de muito, muito longe quando ela disse:
- É como se você estivesse flambando todos os pensamentos de relacionamentos passados, não ?
- Hum... é.
- Mas isso não soou tão veemente quanto eu gostaria. O que está acontecendo ?
- Está tudo indo bem. Na verdade, eu diria maravilhoso. Só que... só que houve alguns momentos em que eu senti que estava me deixando levar. Só um pouquinho. Luna, minha força de vontade não vale de nada.
A verdade é que ela nunca fora tão boa em negar prazer a si mesma, definitivamente uma herança de seu pai. A mãe dela podia passar meses sem telefonar depois de uma de suas muitas "diferenças de opinião", a força de vontade dela era assim, excepcional, enquanto a do pai quase não existia. Ele tentara ficar em casa, ter uma vida pacata, mas, no final, o clamor da aventura era sempre maior. Finalmente, isso o matou.
Apaixonar-se por todo homem que conhecia não ia matá-la. Mas emocionalmente ? Era como uma hemorragia lenta e implacável em seu coração, e ultimamente Ginny começara a temer acordar um dia e perceber que não havia sobrado nada dela.
- Bobagem - a amiga retrucou - Eu não tenho força de vontade. Você consegue olhar para uma vitrine de doces e escolher uma torta de frutas, enquanto eu sempre escolherei o bolo com três camadas de chocolate, sem me importar que aquilo me faça mal.
Ela franziu a testa sem tirar os olhos de Draco.
- Talvez. Mas quando se trata de homens, eu não sou assim. É aí que eu sempre caio.
O silêncio de Luna era sinal que concordava tacitamente. Ginny continuou:
- Eu tento me conter. Realmente tento. Mas quando um homem faz aquele olhar...
- Sei de que olhar você está falando. É como se ele precisasse que cada grama de força de vontade que tem para não devorar você.
- Não. Não esse. É quando um homem olha para mim como se não pudesse acreditar que, dentre todos os homens no mundo, eu escolhi justo ele... eu não consigo resistir.
- Querida, não se trata de falta de força de vontade. Força de vontade é ser confrontada com o olhar "Vou devorar você" e conseguir manter a calcinha no lugar. Quanto a este outro olhar ? É estar apaixonada pela idéia de estar apaixonada.
- Não. Não ! Não ?
- Ora, vamos, pense. Você consegue dizer "não". Quantos relacionamentos você terminou ? Você tem força de vontade. Mas parece que só se vale dela quando não há mais nenhuma alternativa.
Com três coquetéis e um parco prato de lula grelhada no estômago, as defesas de Ginny estavam bastante tênues e ela deixou tudo aquilo assentar. Luna tinha razão quanto a uma coisa, na verdade talvez duas: ela possuía força de vontade para fazer a coisa certa, mas precisava aprender como exercitar essa capacidade com bom senso.
Interrompendo sua epifania, Luna disse:
- A grande questão é: Draco é um bolo de três camadas de chocolate ou uma torta de frutas ?
Ginny se perguntou se, com o seu histórico, aquilo faria alguma diferença.
- De qualquer forma, eu gosto dele - afirmou Luna - Não entre em pânico. Não vou tentar roubá-lo. Prefiro meus homens mais...
Ginny riu.
- Burros ?
- Eu ia dizer mais despreocupados, mas tudo bem. Mais força e menos cérebro.
Ela guardou seu pensamento seguinte para si mesma. Draco tinha tudo: força, inteligência, beleza e mais sex appeal do que um vestiário cheio de bombeiros musculosos.
Como se tivesse sido chamado pelos pensamentos dela, a mão quente de Draco pousou em sua cintura. A respiração ficou presa em sua garganta quando ele a girou de encontro à parede sólida que era seu peitoral. As mãos dela se curvaram em um par de lapelas de blazer, lembrando-a vividamente da primeira vez que se encontraram.
- Dance comigo - disse ele, e aquilo não era um pedido.
Com um suspiro de inveja, Luna disse:
- Dance com o homem, pelo amor de Deus. É melhor eu ir procurar meu companheiro confuso.
Por duas longas músicas lentas, Ginny se sentiu tão solta e quente que recostou sua cabeça no peito dele, gostando da sensação não familiar de um homem que sabia conduzir a dança. Ele tinha ritmo e era muito sexy.
Ela acariciou o cabelo na parte de trás do pescoço dele, amando a sensação da maciez veludosa roçando nas pontas sensíveis de seus dedos.
A mão de Draco escorregou para seu quadril, pressionando-a tanto que eles pareciam ser uma coisa só.
Ocorreu-lhe por um breve momento que qualquer um que olhasse para eles não teria dúvidas que estavam em um jogo de preliminares muito públicas e particularmente sensuais. No auge disso, ela pensou que simplesmente não se importava. Era bom. Ele era bom.
O que quer que fossem um para o outro, sorbet ou flambado, ela sabia que era bom, seguro e que ela não se sentia como antes. Não havia nem um pouco daquela impaciência cheia de pânico que desejava fazer as coisas correrem. Não parecia que, se juras urgentes de amor e sem sentido não fossem trocadas entre eles, a segurança de afeição que ela tão desesperadamente precisava simplesmente não seria mais o suficiente.
Pela primeira vez desde que podia se lembrar, ela vivia o momento, e estava amando cada um deles.
- Ginny - Draco cheirou o cabelo dela.
Ela ergueu sua cabeça pesada e olhou nos olhos cinza dele. O peito dela oscilava.
- Eu já falei como você está sensacional esta noite ? - perguntou ele - Como é difícil não fazer algo que poderia nos levar à cadeia por comportamento indecente em público ?
As palavras dele emitiram um frisson que fez o pulso de Ginny acelerar. Ela sentiu uma fraqueza na parte de trás dos joelhos. Ah, sim. Ela estava amando cada momento daquilo.
- Não - ronronou ela - Você não falou.
- Não ? Mesmo ?
Ele desviou o olhar. E não disse mais nada. Ginny bateu no peito dele, chamando-o.
- Ei.
- O que foi ? - perguntou ele, seu rosto lindo como uma pintura.
- Acho que você esqueceu que estávamos no meio de uma conversa antes de você começar a pensar em outra coisa, meu amigo. Algo sobre eu ser incrivelmente sensacional e...
- Ah, querendo elogios, srta. Weasley ?
Ela riu tão alto que sentiu outras cabeças virarem na direção dela, incluindo a de Luna, que estava com um sorriso sentimental estampado no rosto. Ela abaixou a voz ao dizer:
- Você é um homem mau.
- Você está comigo. Isso, então, faz o que de você ?
As batidas do coração dela aceleraram. Eles estavam juntos ?
Aquilo era novidade. "Estar junto" ficava um degrau acima de casual ou era simplesmente outra forma de dizer a mesma coisa ? Não implicava em nada exclusivo, mas dava espaço para novos encontros. Certo, ela estava confortável com isso. Ou tão confortável quanto podia quando a mão em seu quadril começou a acariciá-la possessivamente, puxando a barra de seu vestido para cima e para baixo, os dedos passando sedutoramente pelo topo de seu traseiro. Seu dedão, de alguma maneira, se enroscou na minúscula fita de cetim que segurava sua lingerie e, então, ele parou de dançar. A pista de dança pulsava, e os dois se deixaram ficar parados ali no meio, olhos nos olhos, os corpos tão juntos que nem um raio de luz tinha esperança de passar entre eles.
- O que você está vestindo embaixo desta coisa ? - a voz dele era profunda e tensa, como se estivesse usando tudo em seu poder para não erguer o vestido para descobrir.
- Quase nada - foi tudo o que ela disse, tudo o que ela conseguiu dizer antes que sua garganta se fechasse de desejo.
Draco olhava para ela como se quisesse devorá-la, e Luna estava totalmente certa.
Era impossível resistir àquele olhar.
- Vamos embora - disse ele.
- Mas e quanto a Luna e Richard...? - disse Ginny, lembrando-se de certo modo que eles não eram as únicas pessoas no mundo.
- Estão felizes da vida comparando seus musicais favoritos e podem tomar conta de si mesmos. Enquanto isso, nós dois temos coisas melhores a fazer.
Os olhos dele estavam brilhando de desejo. Ginny engoliu em seco e assentiu, enquanto Draco tomava sua mão e a levava até a mesa, onde apanharam suas coisas antes de escapar.
Eles atravessaram a rua e foram em direção a uma via estreita, para depois passarem por um beco entre dois arranha-céus góticos. Ginny não tinha idéia do lugar para o qual ele a estava levando, mas ele estava muito decidido a chegar a esse lugar tão rápido que o salto do sapato dela enroscou em uma pedra solta, fazendo-a torcer o tornozelo. Ela soltou um suave "Ai !" no momento em que o braço dele a segurou pela cintura.
Foi um alívio sentir aquele toque. As respirações deles soavam descompassadas no ar calmo da noite, os prédios altos estancando o barulho do tráfego. Um contrabaixo elétrico tocava em um bar próximo. Raios prateados do luar eram filtrados pelos galhos de duas fileiras de árvores que perderam suas folhas, a luz cruzando o blazer de Draco destacava seus ombros largos subindo e descendo.
Uma dor que ia até o fundo dos ossos de repente a tomou, fazendo-a sentir-se pesada e cheia. Como se sua pele fosse muito justa, seus pulmões pequenos, seu sangue espesso demais.
Draco gravitava em torno de Ginny, e o blazer era só o que a separava da parede de concreto atrás dela. Ela arqueou-se para se pressionar contra o corpo dele e a excitação entre as coxas dele, o que a paralisou instantaneamente. O luar agora se inclinava sobre os olhos daquele homem. O desejo entre eles a atingiu como se um airbag tivesse acabado de explodir contra seu peito. Quando ele a beijou, ou talvez tenha sido ela, foi forte, exuberante, profundo. A perna dela estava em volta do quadril dele, a mão dele escorregando pela parte de trás da saia dela. A cabeça de Ginny era um redemoinho de desejo ardente, tão espesso que ela mal conseguia respirar. A mão dele deslizou para a frente, os dedos hábeis abrindo caminho debaixo da lingerie macia com facilidade. Ela gemeu quando ele deslizou para dentro dela. As mãos dela seguraram-lhe os ombros enquanto ele respirava deliciosamente em seu pescoço, com a língua imitando o pulsar dos dedos.
Ginny sentiu-se quente, sentiu-se maravilhosamente bem. Muito rapidamente, todas as sensações se contraíram no meio dela, seus olhos se arregalaram, a Lua redonda, brilhante, cegando sua visão conforme ela se abria, a boca de Draco na sua, drenando os gritos de prazer que pareciam que sair exatamente do centro dela.
Quando ela desabou contra ele, esvaída, as respirações deles aumentavam e diminuíam em uma cacofonia rota. O ar fresco da noite resfriava o suor brilhante em cada centímetro de sua pele exposta.
Ginny se deu conta de que acabara de deixar um homem possuí-la em um beco no centro de Melbourne. O que havia na cabeça dela ?
Os olhos dela deslizaram para o rosto do homem que ainda a segurava nos braços, e ela percebeu que não era um homem qualquer, era Draco. O sério, inteligente, engravatado, pilar da comunidade, Draco Malfoy, que parecia estar tão assombrado quanto ela pelo que ambos tinham acabado de fazer.
- Venha para casa comigo - murmurou Draco e, conforme ele disse as palavras, sabia que era para ela passar a noite com ele, acordar nos braços dele.
Aquilo não fazia parte do plano. Claro que não. Ela queria mesmo se apegar à determinação de manter o sorbet romântico em terreno conhecido, ou pelo menos no campo do conjunto de hotéis fantásticos e cantos escuros e secretos da cidade que freqüentavam. Ir para casa com ele significava perder o controle, deixar-se levar pela tentação, como boa viciada que era.
Sua mente procurava desesperadamente por uma desculpa.
- Venha para casa comigo - disse ele novamente, sua voz profunda, seu tom certeiro, seu toque cheio de promessas de que ela não se arrependeria.
- Sim - ela cedeu.
Ginny parou no centro da vasta sala de Draco, ao passo que ele dormia em sua cama grande, e olhou em volta. Ela segurava um copo de água com as duas mãos e observava as luzes de Melbourne piscando enquanto o luar se espalhava pela parede de janelas de quase quatro metros. O apartamento era moderno, masculino e imaculado, muito parecido com o homem que vivia ali.
Uma centelha de luz rosa refletindo de uma fotografia brilhou nos olhos dela e Ginny se voltou de novo para a janela.
O céu ainda estava azul-escuro e salpicado de estrelas, mas as nuvens estavam ficando rosadas no horizonte. A manhã estava próxima. Isso foi o suficiente para arrastar seu corpo desconjuntado rapidamente de volta ao juízo normal.
Ginny disse a seus pés para se mexerem, mas eles se recusaram a obedecer. Ah ! Se Draco não fosse tão irresistível. Aqueles olhos intensos, aqueles lábios insistentes, aquelas mãos pecadoras. Quando ele a beijava, a tocava, sussurrava promessas demoníacas no ponto macio abaixo de seu ouvido sobre o que estava por vir, ela virava marshmallow. E não do tipo macio, doce e esponjoso, mas daqueles que escorriam quando colocados para assar em uma fogueira.
Ela olhou para o quarto por sobre o ombro, onde Draco estava deitado, quente, nu e maravilhoso. Tudo o que ela precisava fazer era ir até ele, beijá-lo levemente no canto da boca, ou passar a mão em suas costas lindas, e o turbilhão de pensamentos se amontoando em sua cabeça se perderia em minutos.
Enquanto caminhava na direção dele, seus batimentos cardíacos se aceleraram.
E o último pensamento que passou por sua mente antes que ela se perdesse na chama debilitante que era estar nos braços de Draco foi que, mesmo não tendo mais certeza do que ia encontrar adiante, ela não tinha dúvida de que o caminho que tomara com Draco era do tipo que nunca mais encontraria em qualquer mapa.
Draco se mexeu, o som de água batendo sobre uma pia de cerâmica, trazendo-o lentamente para o mundo dos vivos. Esfregou os olhos e espreguiçou meio que esperando estar com os calcanhares para fora de uma cama que não era a dele. Quando abriu os olhos, viu que estava em sua cama. Seu quarto. E, mesmo assim, o aroma doce de Ginny estava em todos os lugares. Era o que acontecia por ela ter passado lá metade das noites daquela semana. A porta de sua suíte se abrira e Ginny entrou no quarto usando um tipo de sapato de saltos extremamente altos que fingiam ser parte da roupa de trabalho, mas que, na verdade, eram feitos para enlouquecer a cabeça de um homem. Sua saia cinzenta e justa também era perfeita para trabalhar se não terminasse em um babadinho provocativo na altura dos joelhos. Some-se a isso o fato de que ela ainda tinha que se vestir da cintura para cima, e seu sutiã de renda branco só cobria o que precisava cobrir. O desejo se espalhou rápido e quente por suas veias, até que se acumulou pulsante entre suas pernas.
Draco queria que Ginny olhasse para ele, que desse aquele meio-sorriso provocante que dizia-lhe que ela estava entorpecida de desejo. Queria que ela engatinhasse sobre a cama dele e lhe desse bom-dia da maneira como sabia melhor.
Em vez disso, ela sentou na ponta da cama e começou a colocar os brincos. Ele parou e respirou lenta e profundamente pelo nariz, sentindo que deveria olhar para o outro lado. Aquilo parecia uma coisa privada, algo puramente feminino, que ele jamais testemunhara anteriormente. Não, não era privado. Era íntimo.
Finalmente, recobrando um pouco de sua determinação, ele piscou os olhos para olhar o despertador.
Intimidade não estava no programa. Não para ele. Jamais. Qual era a razão de deixar alguém chegar tão perto ? Não se pode confiar nem nas pessoas de seu próprio sangue. Se Draco ainda não tivesse aprendido essa lição bem o suficiente, então ele não era o homem que achava que era. Dever, obrigação e responsabilidade eram conceitos que ele podia racionalizar. Viver para garantir que a fundação andaria nos trilhos, que Alexandra seria feliz, que o nome Malfoy mais uma vez merecia ser tratado com respeito. Aquilo o deixava feliz, ou melhor, contente tratava-se de uma palavra mais adequada.
Certo, então ele conseguia conviver com isso, o que não era pouca coisa, considerando os anos que passara furioso consigo mesmo por não notar a trilha de destruição que seus pais deixaram por onde passavam. Que ele, um homem de bom senso e boa educação, tinha sido tão facilmente ludibriado.
Colocar Ginny, ou qualquer outra mulher, em algum tipo de pedestal romântico seria como pregar um alvo em suas costas com a palavra "IDIOTA" escrita em negrito. Então, se isso não era intimidade, o que seria ?
Quando Ginny se moveu na beira da cama, os olhos dele fitaram a pele clara das costas dela, a curva de sua cintura, o volume de seus quadris. O corpo de Draco respondia como se a beleza do relacionamento casual tivesse acabado de encontrar uma química sexual primitiva e pulsante, do tipo que fazia o mero contentamento parecer um palavrão.
Afastando os lençóis, Draco foi até ela. Ginny pareceu surpresa quando foi tomada por ele, que passou um braço em volta da cintura dela, apoiou o nariz em seu pescoço macio e respirou, encontrando poder na sensação da pele dela se contraindo ao ser tocada por ele.
Ela passou a mão em volta do pescoço dele, puxando-o para mais perto ainda e disse:
- Tenho que chegar ao trabalho absurdamente cedo. Agora, na verdade. Aparentemente os balões que entregaram ontem à noite para o lançamento vieram da cor errada, e eu tenho que consertar isso o mais rápido possível. Você irá, não ?
A mão dela o soltou para voltar a trabalhar em seu brinco, uma pequena careta enrugando seu rosto.
- Ir ? - ele deu vários beijinhos no pescoço dela, que achou aquilo delicioso.
- Ao lançamento do Z9. É no dia 15 do próximo mês. Nós alugamos o Melbourne Cricket Ground a noite toda. Será fabuloso.
Faltavam apenas algumas semanas para o dia 15. Ela claramente suspeitava que eles ainda estariam envolvidos um com o outro até lá e, para Draco, imaginar que ainda tinha várias noites sensuais pela frente para aproveitar com Ginny quase o deixou feliz.
Mas o senso afiado de autoproteção que não o deixava sequer por um instante impediu-o de fazer qualquer promessa.
Em vez disso, ele foi em direção ao lóbulo ainda nu de sua orelha.
- Eu tenho que ir trabalhar ! - rosnou Ginny, empurrando-o.
- Eu não estou impedindo-a.
As sobrancelhas de Ginny se ergueram conforme passava os olhos nele; sobre seu peito nu, sobre o lençol branco, mal cobrindo seu colo. Quando os olhos dela encontraram novamente os dele, Draco pôde ver como Ginny estava dividida. Precisando ir, querendo ficar.
Ele reconhecia o sentimento, o que o acalmou. Ela estava se controlando, como ele. Nenhum deles queria que nada mudasse.
Então, finalmente o brinco dela se encaixou e um suspiro de alívio passou por ela, fazendo seus seios se elevarem, trazendo sua cabeça para trás. E cada pensamento sensato fugiu da cabeça de Draco antes que fossem destruídos por um maremoto de desejo. Ele a segurou pelos ombros e a deitou de volta na cama, depois se debruçou sobre ela para dar um beijo de ponta-cabeça em seus lábios.
O que poderia ser um beijo de "Tenha um bom dia de trabalho e nos vemos quando der" rapidamente se transformou em algo mais profundo. Ginny estendeu o braço para passar a mão no cabelo dele. Usou isso, então, para puxá-lo para mais perto.
Uma força sobre-humana reviveu dentro de Draco e ele a tomou em seus braços. Ginny se agarrou a ele, gemendo em sua boca enquanto ele passava suas mãos em cada centímetro de pele nua que encontrava.
Quando ela conseguiu se desvencilhar, ofegava. E ele também. Nenhum dos dois disse uma palavra.
Não precisavam. Uma atração violenta explodiu dentro dos olhos castanhos dela, e ele sabia que seria refletida da mesma forma nos olhos dele. Ela pressionou as mãos com força no peito de Draco, forçando-o a se deitar na cama. Ele deitou com um baque, o macio travesseiro de penas afundou com seu peso.
A boca de Ginny curvou-se em um sorriso, um sorriso que conhecia, um sorriso cheio de promessas. O gemido de desejo que tomava conta dele era tão intenso que, literalmente, erguia seu torso da cama. Ela o empurrou para baixo de novo, sem desviar os olhos dos dele enquanto procurou um preservativo, colocou-o e montou nele. Encontrou-o, recebeu-o fundo, até que sua respiração escapou em um gemido pequeno. Draco estremeceu, seu corpo agradecendo-a por dar a ele algo que desejava tanto que chegava a doer.
Quando ela começou a se mover, os olhos escuros dele se conectaram completamente com os dela. O desejo de Ginny espelhava o de Draco, aumentava-o, arrebatando o controle que ele tinha, até que sentiu que não possuía nenhum.
A saia dela subiu até as coxas. As mãos dele seguiram seu caminho. Toda aquela pele macia debaixo de suas mãos, e ela o envolvia, tão apertada, tão exata, era quase demais para ele. Graças a Deus, Ginny estava no mesmo ponto que Draco, pois se passaram poucos segundos antes que ela se inclinasse para se apoiar nos ombros dele, a cabeça para trás, seu belo pescoço se contraindo conforme seu corpo se movia em ondas de êxtase. Ele foi em seguida, aquela era a sua deixa. Cor, luz e admiração explodindo atrás de seus olhos.
Ela se abaixou até Draco, apoiando sua cabeça no peito dele, seu corpo leve afundando gentil e completamente no dele.
E então, algo concreto e distante milhões de quilômetros da doçura que pressionava seu coração endurecido pela vida ocorreu-lhe.
- Você não estava de calcinha.
- Não - disse ela, sua respiração pinicando dolorosamente, se espalhando pelo peito dele.
- Você queria me seduzir desde o começo ou você geralmente não usa calcinha ?
- O que há de errado em ter um pouquinho de mistério entre nós ?
Mistério significava segredos, enganação. Ainda assim, naquele breve momento, olhando para aqueles olhos castanhos que se derretiam, ele se perguntou se ser tão incondicionalmente implacável o tempo todo não era excessivo. Se um segredinho inocente significava mais do tipo de ação da qual ele ainda estava se recuperando, talvez tivesse sido injusto ao classificar como ruins todos os segredos e mentiras. Talvez o equilíbrio que encontrara em sua vida significasse que ele finalmente teria a chance de afastar sua má sorte. Talvez esta fosse a mulher para ensiná-lo como fazer isso.
P. S.: Nos vemos no Capítulo 6.
