Notas do Autor
Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.
Capítulo 06 - Quando uma leoa luta
Foram dois dias tão intensos que naquela noite eu decidi ir até a Sala Precisa para pedir o quarto com banheiro sob medida para mim, o mesmo que sempre pedia quando estava exausta demais e queria ser mimada pelo castelo. Era um quarto opulento — que se projetava na lateral da torre, com uma cama cheia de lençóis e travesseiros luxuosos e com uma piscina de banho rebaixada a céu aberto, cuja água escorria e parecia derramar-se pela borda, mas eu sabia que isso era o efeito da magia da sala.
Gavinhas de vapor espiralavam sobre superfície da água, convidativas e perfumadas com verbena, e eu imediatamente tirei minhas roupas e entrei nela bem devagar, fazendo uma careta quando a água trouxe uma pressão de dor nas minhas costas. O sol tinha se posto e o céu estava arroxeando quando meus dedos foram até o meu cabelo e passei as mãos pela bagunça embaraçada e encharcada. Suspirando, deslizei ainda mais para dentro da água, esfregando meu couro cabeludo. Quando emergi, apanhei o frasco de xampu e joguei um punhado nas minhas mãos, meu nariz se encheu com o cheiro de hortelã e alecrim e ronronei quando meus próprios dedos esfregaram meu cabelo, deixando o cheiro inebriante levar embora a minha tensão, enquanto ensaboava minhas mechas pesadas. Quando terminei, me permiti observar a vista de novo enquanto refletia sobre os acontecimentos dos últimos dias.
Eu precisava marcar um encontro com Hannah Abbott para conversar sobre sua família, e escrever para Viktor sobre possíveis outros livros de árvores genealógicas que existam em Durmstrang. Eu me perguntava se isso jamais acabaria, essa necessidade de pesquisar a herança sanguínea e traços mágicos perdidos para tentar buscar uma "cura" para as pessoas que, em sua grande maioria, eram ingratas e preconceituosas.
Às vezes, eu achava que a guerra de quase cinco anos atrás, nunca tinha terminado. E de certa forma, ela não tinha mesmo. Os efeitos do "fim" dela, ainda atingiam toda a população mágica e, para muitos, como fui uma das pessoas "beneficiadas", eu deveria colocar todo meu esforço e dedicação em encontrar a solução desse problema. Em dias como esse, em que eu estava exausta, eu me perguntava se não teria sido melhor que eu tivesse desaparecido no meio da batalha de Hogwarts e abandonado o mundo mágico para sempre.
Muitas vezes, eu desejava me tornar algo que não precisava de ar para respirar, algo que não entendia ódio, amor, preconceito, medo ou luto. Viver em uma constante falta de sensação e me sentir bem distante de tudo. Eu sempre me pergunto se esse vazio pode ser algo tão sedutor, libertador e belo.
Mergulhei outra vez na água morna, tentando esvaziar minha mente, como nas aulas de Oclumência que tive com Lupin, antes dele partir para o Brasil. Eu quase conseguia tocar o "nada" dentro da minha cabeça, quando o vazio se derramava pelos cantos dela.
Pegadas silenciosas soaram atrás de mim e eu fiquei surpresa por alguém conseguir entrar na Sala Precisa quando ela estava fixada na minha "paisagem mental". Desci até abaixo da superfície, agradecendo aos deuses por meu cabelo ser longo o suficiente para cobrir os meus seios, e com a voz nervosa pelo constrangimento, decidi mostrar que já havia alguém aqui.
— Olá?
A pessoa ainda estava coberta pelas sombras, mas era possível ver que trazia uma bandeja de comida na mão, e parou de súbito quando viu a piscina. Meus nervos se eriçaram quando sua forma finalmente pisou na área iluminada do quarto e os olhos de Severus Snape dispararam para onde eu estava. Pude jurar que ele quase soltou a bandeja no chão.
— Eu... — Ele proferiu, antes de engolir as palavras de volta.
Meu constrangimento não me impediu de perceber o quanto ele próprio estava surpreso e envergonhado por ter me visto numa situação tão íntima. Snape pigarreou.
— Eu… não… Eu vou… deixar ali. — Ele indicou com o queixo a mesa ao lado da cama e eu acompanhei com o olhar enquanto ele seguia completamente tenso até lá e apoiava a bandeja. — Certo. — Ele pigarreou de novo enquanto se dirigia para a saída.
Vê-lo tão vermelho acelerou meu coração e sufocou qualquer raiva que senti dele pelas nossas discussões dos últimos dias, ressuscitando imediatamente a garota que idolatrou esse homem por uma boa parte da vida.
— Eu posso sair. — Eu disse enquanto uma necessidade de tocá-lo, de sentir o calor e a força dele, ecoaram por mim. Nadei em direção aos degraus da piscina e o vi ficar rígido assim que colocou a mão na maçaneta da porta, mas ainda com o olhar voltado para mim. — Já terminei.
Eu me perguntaria, mais tarde, quem era essa mulher corajosa que deu um passo acima de um dos degraus, o que fez com que o próprio abdômen ficasse exposto para o professor impassível parado na entrada da sala e sorriu quando o olhar dele desceu cada pedaço dela que foi revelado. Se ela desse outro passo para cima expuria a própria intimidade para ele também. Ela não podia ser eu.
Olhos brilhantes me encararam quando o homem na porta usou cada gota de concentração e força de vontade para subir o olhar de volta até o meu.
— Fique. — Sussurrei.
Os olhos dele queimaram e eu sorri quando enxerguei um desejo predatório brilhar naquelas íris. Snape soltou a maçaneta e veio até mim, parando a centímetros da borda com os degraus onde eu estava.
— Se eu ficar, seria apenas sexo. — Ele rosnou as palavras, os olhos nunca desviando dos meus.
As palavras dele pareceram incendiar ainda mais o desejo entre as minhas pernas, e tenho certeza que não escondi a necessidade que tinha dele quando assenti. A mandíbula do meu co-orientador se contraiu quando eu subi mais um degrau. Snape pareceu travar alguma batalha interna antes de falar, sombriamente, enquanto se inclinava para a frente, mas ainda sem tocar no meu corpo e sussurrou contra a minha orelha:
— E eu vou tomar você como eu quiser.
Eu não me lembrava de ter fechado os olhos, mas soltei um gemido quando meu corpo latejou em desejo ao ouvir aquela voz rouca sendo sussurrada tão próxima de mim. Assim que abri os olhos para ordená-lo de que ele poderia fazer o que quisesse comigo, me deparei com a vista dos terrenos de Hogwarts já cobertos pelo manto da escuridão noturna.
A água ainda estava quente graças a magia do próprio edifício, mas eu estava sozinha e ainda mergulhada no calor da água do banho de verbena. A frustração me atingiu com a mesma força que a voz de Snape no meu sonho tinha me atingido, mas dessa vez eu só consegui soltar um gemido frustrado.
Encarei as estrelas que salpicavam o céu noturno da Escócia enquanto me sentia frustrada e confusa. Esse sonho era uma punição? Era o meu inconsciente gritando para mim que eu não tinha controle suficiente sobre meus próprios desejos? Eu tinha absoluta certeza de que o tinha superado após os episódios de discussão e a ameaça dele contra mim. Eu não queria nada com um homem tão grosso, ingrato e impassível. Queria?
Refleti por vários minutos sobre tudo o que Snape fez desde que reapareceu na minha vida. Nada nele me fez desejá-lo, pelo menos, não depois que ele abriu a boca e o temperamento de "cão" dele para comigo, se mostrou ainda pior do que no passado. Não, eu não o desejo.
A imagem da garota no meu interior pareceu emergir na minha frente e sorriu sarcasticamente quando proferiu em voz alta:
— Já estamos além de mentiras agora, Hermione.
― Granger, aquele rabo sexy do seu ex, virá para a nossa exibição?
Coloquei minha língua para fora e fingi algum esforço para não vomitar, ganhando uma risada de Dean, que sabia o quanto eu achava estranho que alguma das garotas imaginassem coisas sujas com Ron. Finalmente, eu sorri para quem me perguntou e neguei com a cabeça.
― Não, ele não vem. Mas os Potters sim, eles estarão aqui hoje.
― Oh, realmente?
Confirmei com a cabeça enquanto sorria, alegria genuína invadindo o meu peito, eu amava a família Potter como se fosse minha, e de certa forma, eles eram. Harry e eu já afirmamos uma centena de vezes um para o outro que somos irmãos. E ele fazia jus a esse "título". Enquanto alguns membros de famílias dos bruxos mestiços ou famílias inteiras de puro sangue, se ressentiam contra mim por ter mantido minha magia e não se incomodavam em vir assistir nenhuma das sessões abertas de exibição mágica que o Ministério promovia, Harry dirigia por três horas, com a mulher e os filhos, e ficava o resto do dia só para jantar comigo, após meu expediente no hospital.
Eu sei que tenho sorte, e sou grata. Até mesmo a Ron, que todos sabíamos o quanto ainda dói para ele ter tido seus dons mágicos arrancados, mas que em algumas das vezes, também aparecia. Ele ficava emburrado todo o tempo e distraindo-se com o próprio celular, mas, seja como for, ele estava lá, mesmo depois de termos discutido por ele ter colocado ideias horríveis na cabeça de Molly sobre o quanto eu me sentia superior por ainda ser uma bruxa, enquanto eles eram quase "trouxas". Não é que Molly tenha me destratado depois disso, mas ela às vezes me olhava com tristeza, como se ao me ver, ela lembrasse do que a guerra lhe custou.
Hoje era a nossa exibição de volta do recesso de verão. Era um gesto que o Ministério da Magia fazia para a comunidade bruxa em geral, amigos e familiares nossos, para mostrar que mesmo que a magia seja agora restrita a poucos bruxos, ainda há esperança. Realizávamos feitiços, demonstrávamos transfigurações, havia uma mini partida de quadribol e também distribuíamos poções feitas por nós, como o sono sem sonhos, e até gotas preciosas de Felix Felicis.
Depois da exibição tirávamos fotos com as crianças e até emprestávamos varinhas para que elas fingissem duelar conosco por um tempo.
― Sim, eu não sei se Ron será capaz de vir esta temporada, ele embarcou para a Romênia na semana passada. ― Confirmei.
O que, secretamente, achei ótimo, porque posso facilmente imaginá-lo irritado com Snape. Ron nunca o perdoou, mesmo com as memórias mostradas por Harry.
― Me avise com antecedência para pôr um pouco de maquiagem, caso ele consiga. ― A garota riu.
Eu ri de volta e acenei com a cabeça. Ficando de pé, olhei para as centenas de pessoas que estavam na arquibancada do campo de quadribol. Depois de apenas alguns minutos, avistei a confusão de cabelos negros de Harry, a cor vermelha brilhante do cabelo da Ginny e duas cabeças pequeninas que estavam cobertas com chapéus. Jogando ambas as mãos no ar, eu acenei para os meus amigos, que considerava como minha família, e sorri. Instantaneamente, Harry e Ginny acenaram de volta.
― Vamos lá pessoal, se todos estiverem prontos, vamos começar. ― Minerva chamou.
As próximas duas horas se passaram sem um traço do constrangimento que tinha controlando a equipe desde que Snape decidiu levar sua atitude de bastardo para o próximo nível. Todos parecemos bloquear isso da nossa cabeça, por enquanto, pelo menos. Olhei para todos os cantos em exposição das arquibancadas. Eu acho que o fato de ter perdido a minha família biológica, me fez ser uma adulta que gostava de ter os amigos por perto. Eu sempre me sentia melhor quando eles estavam na arquibancada, e levava ainda mais a sério todo o trabalho que fazíamos aqui em Hogwarts. Essas pessoas que vinham nós assistir, tinham esperanças depositadas em nós.
O sol parecia ainda mais quente, e meu ciático estava me incomodando um pouco, mas no geral, a exibição foi ótima. Exceto que todas as vezes em que olhei na direção de Harry, ele estava ocupado olhando para Snape com total admiração. Eu ri desse fato, porque, embora o fascínio de Harry seja pela pessoa de snape ― não romanticamente falando ― pelo visto, nós dois temos um péssimo gosto para homens.
Tão logo a equipe capitaneada por Dean apanhou o pomo de ouro e venceu a partida de quadribol, um dos elfos domésticos da escola levou os espectadores das arquibancadas para o campo.
Fazia mais de dois meses desde a última vez que vi os Potters, e sentia falta deles. Vi Harry olhando ao redor do campo para a única pessoa que realmente importava para ele neste momento e eu sabia que não era eu.
― Ginny! ― Estendi meu braço para ela que olhou rapidamente para minhas vestes sujas de treino, deu de ombros e trocando o pequeno Albus para o quadril, me abraçou de qualquer maneira.
― Mione. ― Ela cumprimentou, enquanto me abraçava apertado.
Em seguida, me abaixei até a altura de James e o abracei enquanto ele gritava.
― Não, titia! Você está toda suja!
Eu o abracei ainda mais forte, sentindo suas mãozinhas gorduchas me bater nas costas, enquanto Ginny sorria.
― Eu senti sua falta, James. ― Eu disse, salpicando beijos por todo o rosto emburrado dele, enquanto ele tentava se afastar.
Quando finalmente o deixei ir, olhei na direção de Harry. Ele estava de costas para nós e estava ocupado olhando ao redor do campo.
― Ei, Harry? Me dê um abraço antes que você não queira mais lavar a mão outra vez.
Com um pulo assustado, ele se virou e mostrou um sorriso cheio de dentes para mim. Ele tinha deixado uma barba curta crescer e seus olhos verdes, herdados de Lily, estavam brilhantes.
― Eu estava procurando por você! ― Ele disse enquanto abria os braços.
― Oh, que grande mentiroso você se tornou, Harry Potter. ― Eu respondi sorrindo e o abracei.
Então Harry desandou a perguntar sobre os feitiços que tínhamos feito, fez alguns outros comentários sobre as transfigurações e riu sobre o fato de que eu ainda odiar voar.
― Estou tão orgulhoso de você. ― Ele disse, me abraçando de novo. ― Você fica melhor cada vez que a vejo.
― Na verdade eu acho que é a sua visão que pode estar ficando pior. ― Brinquei.
Ele negou com a cabeça e finalmente se afastou, mantendo as mãos nos meus ombros.
― Você sabe que não. É a minha curandeira pessoal. ― Harry respondeu de volta.
Eu sorri com carinho para ele, antes de notar uma batida ao lado da minha perna e quando eu olhei para baixo, eu encontrei uma menininha com o pequeno James ali, os dois tinham varinhas na mão e me olhavam com olhos esperançosos. Pedi licença ao meu melhor amigo e fingi duelar com as crianças por um tempo, depois posei com elas para fotos. Imediatamente após eles, outros três conjuntos de famílias, a maior parte de garotas com as mães, vieram e fizemos o mesmo.
Entre as fotografias, perguntas e abraços, eu me sentia incrivelmente feliz. Eu odiava falar com a imprensa porque ficava nervosa e desconfortável, mas estas pessoas faziam eu me sentir genuinamente animada, especialmente quando as crianças também estavam.
Perdi a noção de onde os Potters estavam, mas não me preocupei demais; Harry e Ginny conheciam quase todos aqui. Harry era o herói de todos eles, e estava sendo tão solicitado quanto eu.
O que deve ter sido trinta minutos mais tarde, uma vez que acabei assinando várias edições do Semanário das Bruxas em que saí na capa, olhei em volta, tentando encontrar meus amigos. Vi Harry e Ginny conversando com Minerva e Justin e quando me aproximei, arremessei um braço ao redor dos ombros de Harry e sorri para ele. Mas o que me encarou foi um sorriso fracamente triste, que ele tentou o seu melhor para disfarçar, mas que imediatamente me deixou em alerta.
― O que você tem? ― Sussurrei.
― Estou bem. ― Ele sussurrou de volta, beijando minha bochecha. Mas ele não parecia bem para mim. ― Minerva estava nos dizendo o quão bom todos os bruxos nível nove estão.
Observei seu rosto com cuidado, os olhos verdes tinham perdido todo o brilho que eu vi assim que o encontrei no campo de quadribol. Eu sabia que havia algo o incomodando. Ele estava apenas sendo teimoso porque eu havia percebido. Mas se ele não queria dizer nada naquele instante, eu não ia forçá-lo. Limpei minha garganta e tentei pegar o olhar de Ginny, mas ela parecia bem.
― Espero que sim. Quanto a nós, estamos ótimos, certo Justin?
Justin sorriu alegremente de volta. Completamente o contrário do olhar no rosto dele de quando tinha sido repreendido por Snape pela ideia do happy hour.
― Definitivamente.
Quando Minerva e Justin foram embora e éramos só nós três ― as duas crianças estavam com Neville e Hannah mais adiante, tentando apanhar um pomo de ouro que voava a poucos centímetros do chão ― dei uma cotovelada no braço de Harry e perguntei:
― O que há de errado? Realmente.
Ele balançou a cabeça, como eu sabia que faria.
― Estou bem, Hermione. Como você está? Suas costas ainda doem? ― Ele me perguntou. Desviar uma conversa, era um talento nato de Harry.
― O que aconteceu? ― Insisti, porque obstinação era outra característica que eu e ele tínhamos em comum.
― Nada.
Inferno de homem! Eu o sacudi algumas vezes.
― Você me dirá mais tarde? Por favor?
Com duas pancadinhas no topo da minha cabeça, ele balançou a cabeça mais uma vez.
― Está tudo bem. Estou feliz em ver você e eu estou feliz que Minerva nos deixou assistir a apresentação conjunta com a Castelobruxo em algumas semanas.
Ele não me diria nada. Esse teimoso! Era inútil discutir com ele, então deixei pra lá. Poucos minutos depois, a família Potter partiu e prometeu me encontrar para o jantar.
Ainda havia alguns parentes ao redor, mas eu tinha que estar em Saint Mungus em meia hora para meu plantão. Então recolhi minha mochila e só tinha destampado minha garrafa para tomar um gole de água, quando Cho veio ao meu encontro e me deu um olhar grave. Dois em um dia parecia demais.
― O que está acontecendo? ― Perguntei ao ver sua expressão.
Sua mandíbula inferior se contraiu um pouco, antes que ela me respondesse.
― Eu não falei nada, porque eu sei que você iria querer fazer as honras.
― Não disse nada de quê, Cho? ― Perguntei alarmada.
Cho colocou as mãos atrás das costas, um traço de irritação, agravando ainda mais sua expressão. Esta era uma característica facial dela com a qual eu estava familiarizada. Ela estava tentando controlar o seu explosivo temperamento.
― Harry não disse nada para você?
Pisquei os olhos, confusa.
― Não. Sobre o quê?
Cho limpou sua garganta, outro sinal que algo tinha deixado ela com raiva.
― Eu acho que ele foi até Snape. ― Ela limpou sua garganta mais uma vez. ― Eu não sei ao certo, Hermione, mas só sei que Harry voltou de lá e sua expressão parecia como se tivesse levado um soco no estômago.
Paciência, Hermione. Eu respirei fundo.
― Você acha que… ― Me interrompi, para que eu não estourasse uma veia no meu olho de tão tensa que me senti por dentro. ― Ele foi mal para o Harry?
― Acho que ele foi. ― Cho respondeu lentamente. ― Eu nunca vi o Harry assim. O que quer dizer muito, diante de tanta coisa que ele já passou na vida. Especialmente porque, mais cedo, Harry estava com um olhar como se o Natal tivesse sido antecipado e depois não mais.
Paciência. Fique calma. Conte até dez.
Eu tentei aliviar a tensão na minha mandíbula, mas não consegui, quando notei, meus braços estavam tremendo ao me lembrar do olhar no rosto de Harry. Foda-se! Eu realmente tentei me acalmar, mas houveram muito poucas vezes que eu fiquei tão irritada tão rapidamente. Eu sou normalmente calma e metódica, porque eu entendo que há sempre um tempo e um lugar, na maioria das vezes, para se estar com raiva. Mas agora não era um deles. Dei um passo para a frente.
― Eu não posso...
Como uma boa amiga, Cho compreendeu que não tinha como me tirar do precipício de ódio em que eu tinha me colocado. Ela própria era protetora e sabia que não se deve ferir os entes queridos de uma pessoa, então ela simplesmente me deixou ir. Mais tarde, eu me lembraria que ela tinha dito que preferiu me deixar fazer as honras, apesar do fato de que ela tinha tido vontade de defender o orgulho de Harry também.
― Só não o bata na frente de todos! ― Cho me ordenou enquanto eu marchava em direção... Bem, eu não sabia onde exatamente. Só sabia que o meu destino era onde diabos estivesse esse cretino gorduroso.
Durante o tempo que demorei a encontrá-lo e a velocidade da caminhada, me acalmei o suficiente para reafirmar para mim mesma que eu não podia lhe dar um soco. Eu também não poderia e não deveria chamá-lo de covarde, porque ele, de fato, não era um. Meu objetivo era apenas destroçar esse imbecil. Foda-se esse filho da puta.
Com meus braços ainda tremendo e o bater do coração me provocando, o encontrei. Ele estava lá, cuidando da sua própria vida, olhando algumas notas em um pergaminho. Alto e solene e completamente alheio ao fato de que ele fizera mal a um dos homem mais importante da minha vida. Não precisei olhar à minha volta, para ver que um público potencial estava se reunindo para assistir, porque eu não dava a mínima. Nem para o público e nem para quem é este homem, ou quem ele tinha sido. Ele era só um idiota com um problema de atitude e que tinha feito o impensável. Uma coisa era ser um idiota comigo ou com minha equipe de treinamentos. Mas ele não machucaria os sentimentos de Harry.
― Ei! ― Eu disse alto, no minuto em que estava perto o suficiente.
Ele não me olhou.
― Ei, você, seu idiota.
Quando o idiota em questão olhou para cima, descobri que eu realmente disse isso em voz alta. Bem, acho que poderia ter dito algo muito pior, e eu não estava nem um pouco arrependida naquele momento.
― Você está falando comigo, Granger? ― Ele perguntou.
Me concentrei na raiva que tinha inflamado a vida em meu peito, e deixei as palavras saírem de mim.
― Sim, estou falando com você. Talvez você não dê a mínima para a ajudar a equipe e queira se manter impassível, e tudo bem, eu aceito. Quer falar merda para nós, quando você sabe que você não está em posição de dizer nada sobre as pessoas beberem? ― Eu disparei um olhar que disse que eu gostaria que ele se lembrasse do que exatamente eu tinha feito por ele, esse grande hipócrita. ― Aceitamos também. Nós vamos superar você sendo rude com a gente, confie em mim. Não vamos perder o sono por você, mas não trate nossos amigos e familiares como lixo aqui. Não sei como foi para você voltar para onde tudo aconteceu, mas aqui, nós somos gratos e tratamos todos gentilmente. Não importa se eles perderam os poderes ou não, vamos tratá-los com respeito. E, especialmente, não é permitido ser um idiota para o Harry. Ele acha que você é o melhor entre todos nós, é um dos seus maiores admiradores, e você vai ser rude com ele? Merlin fodido! Todo mundo sabe que você era desagradável com todos, mas não achei que você fosse ser ruim com a pessoa que provou para todo mundo que você foi um homem de Dumbledore até o fim! ― Suguei uma respiração profunda quando notei o quanto estava ofegante. ― Tudo o que ele queria fazer era saber como você está e, eu não sei, talvez tirar uma foto. Ele é o melhor homem que conheço, e ele tem falado sobre te ver por semanas. Agora, Harry, saiu daqui chateado e provavelmente desiludido, obrigada por isso. Espero que da próxima vez que alguém se aproximar, você pense que dois minutos de seu tempo poderia fazer todo o ano de uma pessoa.
Seu porra bruto do caralho! Eu não disse isso, mas foi por um triz. Também pensei em sacudi-lo com as duas mãos, mas também não fiz isso. Meus dedos flexionaram por conta própria na minha varinha e meus molares começaram a moer juntos, quando nós nos entreolhamos em silêncio.
Eu pensei que estava feito, mas quando ele piscou a surpresa naqueles olhos negros, senti meu interior de dezessete anos de idade vir a vida: a menina que tinha colocado este homem em um pedestal e pensou que o mundo era dele. Esmaguei essa garota junto com qualquer lembrança do sonho da noite anterior em uma fração de segundo, porque a versão adulta de mim, entendia que as pessoas mudavam ao longo dos anos e agora eu estava pouco me lixando se Severus Snape era único.
Ele não tinha sido aquele que perdeu a magia e ainda assim sentou-se comigo nas exibições mágicas e torneios tribruxos, nem cuidou dos meus ferimentos após a batalha de Hogwarts e me provocou sobre eu ser ranzinza quando estava me recuperando, foi Harry quem fez isso.
Eu tinha uma lista de pessoas que eu amava e respeitava, pessoas que tinham feito o seu caminho até o meu coração e mereciam minha lealdade. E Severus Snape não era ninguém especial no que realmente importava. Ele tinha sido minha inspiração muito tempo atrás, mas ele não me ajudou a ser quem sou.
― Eu reconheço que você foi um dos pilares que nos fez vencer aquela guerra mais de quatro anos atrás, senhor. ― Eu disse 'senhor' tão sarcasticamente quanto pude. ― Mas para mim, Harry é o maior de todos, ele é meu irmão. E a próxima pessoa cujos sentimentos você fere por não se importar em cumprimentá-los, é o melhor amigo ou irmão de alguém, ou mãe ou irmã ou filha ou filho. Então, pense sobre isso.
Felizmente, eu não estava esperando que ele respondesse e, no final, foi provavelmente uma coisa boa que ele não fez. Só me retirei do campo, pisando duro e o deixei para trás.
Ninguém me parou quando parti. Minerva ficou parada lá quando passei por ela com, o que eu reconheci, um olhar impressionado em seu rosto. Então era isso, pelo menos eu não poderia ser expulsa da equipe de Hogwarts se a própria Minerva parecia satisfeita com o que eu tinha dito. Mas, mesmo que ela não estivesse satisfeita, eu não poderia me lamentar do que tinha feito. Se eu não puder defender o que eu acredito, então eu não sou a pessoa que me esforcei para ser.
Horas mais tarde, quando eu caminhava pelas ruas de Hogsmeade e meu ciático doía tanto que tinha vontade de chorar, ainda me sentia agitada, irritada. Me sentei no Três Vassouras e ouvi as três mensagens de voz que tinha na minha caixa postal enquanto esperava por Harry e Ginny.
A primeira era de Dean: "Hermione, ainda não acredito que você disse aquelas coisas ao Snape, mas foram as coisas mais bonitas que já ouvi sair da boca de alguém. Estou orgulhoso de você, e eu te amo ainda mais depois disso."
A segunda era de uma das garotas que eu não era particularmente próxima, ela era uma das que estava envolvida no episódio do happy hour, e riu tanto que parecia que estava morrendo antes de dizer a frase: "Você é realmente a garota dourada."
A terceira era de Cho: "Eu sempre soube que você tem ovários de aço neste seu corpão, mas caramba, eu quase chorei. Me avise quando quiser sair para comemorar que você deu a maior comida de rabo no Snape."
As mensagens serviram para me animar mais, e quase esquecer a dor que me incomodava. Eu não disse nada a Harry naquela noite quando ele chegou ao pub, e dei dois abraços fortes nele que, como de costume, o deixaram ofegante.
E, se eu estava preocupada se o pessoal ficaria chateado sobre o que eu tinha dito no dia anterior, foi um desperdício de esforço mental e emocional. Alguns dos membros novos me deram tapinhas discretos quando eu apareci, mas foi o abraço que Minerva me deu que finalmente me relaxou. Nada viria dela.
Ergui minha cabeça no alto e não coloquei qualquer esforço extra para fingir que Snape existia. A única vez que nossos olhares se encontraram, deixei meus olhos demorarem por um segundo a mais nos dele, antes de procurar outro lugar. As pessoas dizem para não se fazer contato visual com animais perigosos, para que eles não lhe vejam como uma ameaça, mas eu simplesmente liguei o "foda-se"; eu não era a vadia de ninguém, especialmente não de Snape. Eu não ia ficar parada e deixar este bastardo fazer o meu irmão se sentir desanimado. Harry tinha agido normal quando fomos jantar, mas o meu instinto sabia que os sentimentos dele tinham sido magoados.
Quando aconteceu de eu cair no chão durante um duelo feroz com Dean, bem aos pés de Snape, me ergui, limpei minhas vestes e o encarei olho no olho, antes de voltar para o que estava fazendo.
Pensar em Harry me fazia ter a certeza de que eu tinha feito a coisa certa. E apesar de Justin e eu nunca termos falado sobre o episódio do happy hour, o olhar que ele me deu depois daquele dia fatídico tinha me convencido que ele tinha dito algo para defender as meninas que Snape tinha destratado. E quando eu me levantei por Harry e também, de alguma forma, por cada pessoa que ele implicou, Justin soube que estávamos juntos nisso. Não que fossemos abandonar o treinamento ou exigir a saída de Snape, mas o ponto era que ninguém merece esse tratamento.
E havia tanta coisa a se fazer. Eu precisava voltar para minha pesquisa das árvores genealógicas e seus membros desaparecidos. E ainda precisava me encontrar com Hannah para investigar sua família, eu tinha que manter os meus pensamentos sobre encontrar a solução para o quebra cabeças genealógico na minha frente e não sobre o homem cheio de nuances sombrias e temperamento de merda, que era o meu orientador.
Eu tinha que esquecê-lo.
Notas Finais
Bom, espero que ninguém me mate por fazer Hermione jogar mais verdades na cara dele. Fazer o quê né? É uma leoa essa mulher!
E quem gostou desse sonho?
Qualquer erro neste capítulo é de inteira responsabilidade minha, tá? Mas para cumprir o prazo com vocês, resolvi postar, mesmo sem a revisão dela. Me perdoem. Beijos.
