Notas do Autor
Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.
Capítulo 10 - A profecia dos três
Alguém estava ao pé da cama. Percebi a presença muito antes de abrir os meus olhos e deslizei a mão discretamente sob o travesseiro, alcançando a minha varinha.
― Isso não será necessário. ― Disse o homem. Me ergui rapidamente ao reconhecer a voz de Regulus. ― E de qualquer modo seria ineficaz.
Senti meu sangue congelar ao ver o espectro cintilante do irmão Black mais jovem. Eu tentei invocá-lo, por dias, através do medalhão que ele me deixou. Ele nunca apareceu. Quando afrouxei os dedos ao redor da minha varinha e a larguei, ele sorriu para mim.
― Olá, senhorita Granger. ― Disse ele.
― Por que você não apareceu antes? ― Perguntei em voz baixa.
― Você não me chamou corretamente. ― A figura de Regulus flutuou até onde o medalhão estava apoiado na minha mesa de cabeceira. ― Precisa colocá-lo.
― Eu não vou usá-lo. Já tive experiências ruins demais com o original. ― Falei, incerta se Regulus sabia sobre minha experiência com a horcrux de Voldemort.
Será que eu estava sonhando novamente? Tensionei meus músculos, preparando as pernas para saltar da cama, abandonando a ideia em seguida, pois o fantasma de Regulus estava entre mim e a porta.
― Posso ajudá-lo em algo? ― Murmurei.
― Vim apenas lembrar-lhe sobre a missão que lhe demos. Você precisa libertar a magia.
― É o que planejo fazer. E não por sua causa, ou pela ordem de quem lhe mandou aqui, mas porque foi o que eu prometi que faria. ― Completei friamente. ― Você tem algo relevante a dizer ou está aqui só para me acordar no meio da noite? Quem sabe talvez você possa me contar algo mais sobre a noite em que visitei a tumba.
― Sei tanto quanto você. ― Regulus afirmou e eu franzi a testa pela resposta evasiva dele. ― Você não confia em mim ainda, entendo, mas acredite ou não, estamos do mesmo lado. Estou aqui para servir você.
― Me servir? O que isso quer dizer?
Desta vez, a figura etérea olhou para a janela. De onde eu estava, só conseguia vislumbrar o céu pontuado de estrelas.
― Olhe lá fora. Você encontrará as respostas.
Me ergui da cama e caminhei até alcançar o peitoril da janela. Os terrenos da escola estavam escuros a essa hora da madrugada. Era uma noite sem luar, então não havia muita coisa que eu conseguisse enxergar. Abri a boca para dizer isso a Regulus, mas ao olhar de volta para o local onde ele flutuava segundos antes, vi que ele já tinha desaparecido.
Amanhecia, quando ergui os olhos do antigo livro de genealogias bruxas ao ouvir a porta abrir e ranger alto o bastante para me acordar, caso eu estivesse dormindo. Meu coração palpitou, e me esforcei para agir com naturalidade enquanto que, pela segunda vez naquela madrugada, fechava os dedos ao redor da minha varinha.
A porta se abriu completamente e Cho entrou. Ela não olhou para mim, nem se mexeu, apenas ficou lá, ficou parada na soleira da porta. Os olhos fitavam o chão e lágrimas escorriam por suas bochechas.
― Cho? ― Chamei, me levantando em um ímpeto. ― O que aconteceu?
Os ombros de Cho tremiam. Devagar, ela levantou a cabeça, expondo os olhos inchados e avermelhados.
― Eu… Eu não sabia aonde ir. ― Disse ela.
Senti dificuldade para respirar. Cho era uma fortaleza, o que poderia ter acontecido para deixá-la nesse estado?
― O que houve? ― Perguntei, e notei um pedaço de pergaminho nas mãos trêmulas da minha amiga.
― Eles foram massacrados. ― Sussurrou ela, com os olhos arregalados, e sacudiu a cabeça como se negasse as próprias palavras.
Eu congelei. ― Quem?
Cho soluçou desesperadamente e senti na pele a agonia daquele som.
― Familiares de duas das garotas transferidas. Foram cercados por fanáticos que se escondiam na fronteira de Surrey. ― Mais lágrimas escorreram pelo rosto de Cho, molhando a camisola branca que ela estava vestida. Ela amassou o papel em uma das mãos. ― Segundo a Sarah, os parentes dela estavam de mudança por terem ouvido rumores sobre a aproximação dos fanáticos, mas não houve tempo. Eles não podiam aparatar por não terem poderes, então eles correram tentando escapar, mas os loucos tinham armas trouxas e… ― Cho ficou ofegante, tentando expulsar as palavras presas na garganta.
Minhas próprias lágrimas escorreram pelos meus olhos.
― Para quê estamos treinando, se não conseguimos proteger nossa própria família? ― Perguntou Cho. ― Como podemos estar aqui todos os dias, mas nossa magia não servir para proteger as pessoas que amamos?
― Sinto muito. ― Sussurrei.
Como se essas palavras quebrassem o feitiço que segurava Cho na porta, ela correu para me abraçar. Cho tinha perdido a mãe no nosso segundo ano de treinamento, também em um ataque dos fanáticos de sangue puro. Abri espaço na minha cama e deitei a cabeça dela no meu colo enquanto ela soluçava. Incapaz de falar, só a abracei pelo resto do alvorecer, até que os raios de sol iluminassem meu quarto e, quem sabe, conseguissem abrandar a dor que ela sentia.
O treino do dia seguinte foi cancelado. Eu resolvi dar um plantão duplo no hospital e tentar esquecer por algumas horas o horror de saber que pessoas estavam sendo mortas novamente por causa da magia que parentes seus possuíam. Parecia a chegada de uma nova era de Voldemort, só que às inversas.
― Ele tem as piores habilidades de rebatidas que já vi. Não é brincadeira. 1,80 metros de altura e totalmente inúteis. ― Disse Neville com um aceno de cabeça enquanto arquivava a ficha do último paciente do dia.
― Pior do que você em Poções? ― Eu perguntei, tentando me distrair dos meus pensamentos sombrios.
O assentimento grave que Neville deu em resposta disse tudo. Se ele estava falando que o jogador de quadribol não-mágico era pior que ele nos nossos primórdios em poções, que Deus ajude a todos na sua equipe.
― Merlin.
― Sim, Mione. É tão ruim assim. Acho que ele tem medo de bolas vindo até ele. ― Nós dois nos olhamos por um segundo e percebemos o duplo sentido das palavras que foram usadas. ― Não esse tipo de bolas! ― Neville corou, enquanto eu ria. ― Não há nenhuma desculpa para ele ser tão ruim assim.
― Isso acontece. ― Observei, ficando séria novamente. ― Eu sou boa no quadribol não-mágico, enquanto que no quadribol original, era terrível.
― Só porque você odeia voar. ― Ele observou e continuou com sua história sobre o novo jogador que se juntou recentemente a seu time recreativo semanal. ― Não sei como te dizer o quanto ele é terrível. Hannah disse que diria algo, mas se disser, ele vai sair e, na maioria das vezes, mal há pessoas suficientes para nos dividirmos em duas equipes. ― Concluiu, olhando para mim.
Tão sutil, Neville.
Nos últimos dois anos, eu às vezes jogava com ele, quando tinha tempo. E até que gostava, era mais uma forma de interagir com os bruxos sem dons mágicos e me aproximar deles. Eu não usava magia em nenhum dos momentos em que estávamos jogando. O Pomo-de-Ouro e os Balaços eram robôs que Jorge desenvolveu. Quando perdeu seus poderes, ele e o Sr. Weasley usaram todas as quinquilharias trouxas que mantinham no galpão da família e estudaram tecnologias trouxas para consertá-las. Jorge cursou robótica em Bristol e era um especialista no assunto.
― Quando é o próximo jogo? ― Perguntei com um suspiro.
Os olhos de Neville brilharam.
― Amanhã à noite. ― Ele respondeu animado.
― Não é uma promessa. É só um talvez.
Neville apanhou a mochila e a colocou no ombro enquanto se aproximava para me abraçar.
― Eu soube do ataque, sinto muito. Apareça lá, jogar por algumas horas vai ser uma boa distração. ― Ele me disse antes de me soltar e sair.
Engoli o ruído baixinho que tentou escapulir de dentro de mim e olhei pela a janela, na direção da Londres trouxa, cujas pedras pálidas resplandeciam sob a última luz do sol poente. Levei a mão ao bolso do jaleco verde-limão, fechando os dedos em torno do metal frio do medalhão de Regulus. Olhe lá fora. Você encontrará as respostas. Eu tentava pensar naquelas palavras com um fio de esperança dentro de mim, mas, se na mesma madrugada em que ele me falou isso, chegou a devastadora notícia da morte dos familiares de Sarah, quanto tempo será que me restava?
Eu sabia que era uma questão de tempo até que novos assassinatos começassem a acontecer, mas não diminuía o horror de reviver os dias sombrios de antes e nem a dor que sinto por algo assim estar acontecendo novamente.
Senti um golpe dentro do meu estômago quando lembrei das palavras de Minerva me dizendo que os fanáticos estavam pressionando o Ministério pela nossa demora em achar algum tipo de solução para a magia. Eu preciso fazer alguma coisa. Não posso continuar na incerteza do que está por vir.
O frio do medalhão na minha mão também me lembrava do fantasma de Regulus contando sobre o mal que pode fazer a magia desaparecer para sempre. Mal esse, que estava, muito provavelmente, enraizado no próprio castelo. Eu preciso descer naquela tumba. Eu preciso buscar respostas.
Eu me prepararia mentalmente e faria isso daqui a exatos dois dias, na noite de sexta-feira; e dessa vez, eu estaria bem acordada.
No dia seguinte, meu corpo estava dolorido devido a toda tensão do dia anterior e da noite mal dormida desencadeada pela minha ansiedade com a viagem iminente às entranhas do castelo. Tive que recorrer a uma poção de alívio da dor que Dean me entregou assim que viu o meu estado. Por sorte, hoje nós faríamos apenas poções, embora os meus pensamentos confusos e meu estado cansado não fossem uma boa combinação para trabalhar com ingredientes voláteis.
Eu disse isso a Dean e ele me mandou apenas me concentrar em revisar a pesquisa dele e tentar encontrar algum erro, enquanto se ele se encarregava de preparar todos os ingredientes que precisaríamos.
― Granger, venha até a minha mesa. ― Ouvi Severus me chamar e queria bater minha cabeça na parede de pedra atrás de mim. Paciência, Hermione. Paciência.
Fui até onde ele estava e inclinei a cabeça para trás, ignorando o fato de que dois meses atrás eu não tinha sido capaz de falar com ele uma frase completa.
― Sim? ― Perguntei
― Você não tem ingredientes para preparar?
― Não. Dean assumiu os meus, enquanto estou revisando a pesquisa dele.
Aqueles olhos negros deslizaram de mim até o ponto onde eu sabia que estava a bancada que Dean trabalhava nos nossos ingredientes. Em seguida, ele olhou ao redor da sala verificando todo o espaço, até que novamente encontrou os meus olhos, baixou a voz a quase um sussurro e perguntou:
― Quer duelar hoje?
Senti como se tivesse holofotes e uma dúzia de câmeras em mim. Minhas veias pulsaram em antecipação nervosa. Severus Snape, meu coorientador, o que significa que ele pode exigir que eu treine com ele a qualquer hora, e que é o mesmo homem que partirá em uma missão de ensino comigo, estava me perguntando se eu queria duelar com ele? Eu ouvi bem? Me esforcei em manter meu rosto neutro, mesmo que meu interior estivesse em polvorosa. Eu quase esqueci a dor no meu corpo e todos os meus medos da noite passada quando o respondi.
― É seguro? ― Eu o perguntei e uma leve confusão permeou o olhar dele. ― Você quase me matou no outro dia. Talvez seja melhor no fim de semana? Assim eu consigo chegar inteira aqui na segunda feira.
Isso se eu sobrevivesse a minha incursão na tumba dos fundadores, mas ele não precisava saber dessa parte.
Ele só levou um único segundo para responder.
― Certo.
Era decepção nos olhos dele? Ah, inferno! Acho que era. Foi notório o desagrado no rosto dele quando eu sugeri que não fosse hoje. As palavras de Neville me alcançaram quando Severus já tinha baixado o olhar. Apareça, vai ser bom ter uma distração.
― Eu tenho alguns amigos que jogam quadribol não-mágico recreativo. Eles são bruxos que perderam seus poderes, então é uma forma de reviver o esporte, mesmo sem magia. Eles são realmente muito bons e às vezes eu jogo com eles. Hoje vai ter um jogo, podemos ir. ― Soltei nervosamente.
Ele voltou a olhar para mim e pareceu meditar por um minuto. Me convenci de que ele ia me mandar ir à merda, mas de repente ele assentiu com a cabeça.
― Me mande uma mensagem com o endereço e o horário. ― Respondeu no mesmo tom baixo que usou para me perguntar sobre o duelo.
O quê? Ele estava aceitando? Isso é sério?
― Via correio-coruja? Eu não tenho o seu endereço. Você tem um telefone celular? ― Perguntei.
Ele rabiscou os números em um pergaminho e uma fração de segundo mais tarde, me entregou, acenando com a cabeça.
― Não repasse-o para ninguém. — Ordenou.
Óbvio que eu não faria isso. Porque Snape precisa ser tão irritante com coisas tão claras? Eu devia ter rasgado aquele pergaminho ali mesmo e cancelar o convite para o jogo. Mas a minha ficha caiu e me deixou atordoada demais para fazer algo, porque: UM - eu tinha o número de telefone de Severus Snape; DOIS - eu ia mandar uma mensagem para ele. Mas o fato TRÊS foi o único que realmente aqueceu o meu peito: ele me perguntou se eu queria duelar. Na verdade, praticamente me pediu para duelar com ele. E, ao invés disso, o meu coorientador ia jogar quadribol não-mágico comigo e alguns dos meus amigos. Eu suspirei quando aquelas malditas borboletas fizeram uma revoada no meu estômago.
19h no Trossachs. Eu vou esperar por você em frente ao centro de visitantes, próximo ao estacionamento.
Chequei meu telefone mais uma vez para me certificar de que a mensagem realmente tinha sido enviada, já que não recebi nada em resposta. Com meu bastão em uma mão e garrafa de água na outra, eu esperei nervosamente enquanto olhava em volta. Faltavam cinco minutos para as sete, e Severus ainda não tinha aparecido.
A realização me atingiu tão forte quanto da primeira vez: Severus Snape estava indo jogar quadribol, depois de me pedir para duelar com ele. Por que ele não pediu a qualquer outra pessoa? Talvez um dos outros orientadores? Bem, eu sou a bruxa mais poderosa de todas, é um fato. Então, realmente, com quem mais ele iria duelar?
Quando fizemos isso na semana passada, notei o quanto meu estilo é parecido com o dele, e ainda há o fato de que o bastardo gostou de me vencer. Então ele me chamar para um treino de duelos não é grande coisa. Eu era a escolha óbvia. Além disso, talvez ele ainda possa ter pedido a outra pessoa? Eu duvidei, porque Minerva e eu treinamos sozinhas por um tempo e ela confessou o quanto é fascinante duelar com alguém de nível mágico mais alto.
Mais um minuto se passou, olhei ao redor do estacionamento novamente, a ansiedade me corroendo. Eu estava nervosa por causa de Severus, já que não estava certa de como todos reagiriam, especialmente Neville e Ivan. Decidi que pediria que ele usasse um glamour para disfarçar suas feições para que não se sentisse sob um microscópio desde o início do jogo. Eu ia dizer que ele era um amigo do Departamento de Mistérios, que aparecia pouco em público.
Faróis de um carro iluminaram meu corpo por uma fração de segundo, antes do veículo estacionar. Eu sorri para mim mesma quando um longo corpo saiu dele pela porta do passageiro, batendo-a para fechá-la antes de ir para trás e pegar uma bolsa no porta-malas aberto recentemente. Seu corpo magro e alto parecia ainda mais imponente sem suas vestes de bruxo.
Ele ainda estava todo de negro, mas o casaco que vestia delineava perfeitamente as linhas suaves de músculos que forravam seus ombros e braços na sombra do sol poente. Mas o que eu realmente achei ser o mais bonito daquela visão, foi o coque firmemente preso que deixava à vista a larga faixa de cabelo curto e o fazia parecer uma pessoa diferente. Ele ainda me mataria com esse corte de cabelo.
Severus me viu quase imediatamente e baixou o queixo em reconhecimento.
― Olá. ― Cumprimentei e ele resmungou sua saudação, olhando em torno do lugar e na direção do campo de golfe que usamos para o jogo. ― Vamos lá, antes de ficarmos presos em uma equipe ruim.
Ele me deu um aceno preguiçoso e seguiu atrás de mim. O levei ao redor do estacionamento em direção ao campo.
― Alguns deles foram seus alunos. ― Comentei nervosamente. ― E todos são boas pessoas, simpáticas, mas acho que devemos manter sua identidade em segredo.
Severus encolheu os ombros e não disse uma palavra, mas eu o vi pegar sua varinha e murmurar um feitiço com ela apontada para seu rosto. Eu ainda o via exatamente como ele era, mas imaginei que sua identidade seria glamourizada para qualquer um que não fosse nós dois. Quando nos aproximamos do que contei rapidamente ser treze pessoas, acenei para os que conhecia e fui em direção de Neville e Ivan, que estavam de costas para mim.
― Ei, pessoal.
Neville virou primeiro, franzindo a testa até que percebeu que era eu.
― Você poderia ter me confirmado que viria, Mione.
― Foi uma decisão de última hora. ― Sorri para ele.
Fui em direção a Ivan, que deu um grande sorriso antes de me puxar para um abraço frontal completo, que fez parecer que não me via a semanas quando, na verdade, eu tinha colapsado no colo do namorado dele, poucos dias atrás.
― Ainda bem que você veio, Hermione. Precisamos de você.
― Eu disse semanas atrás que ela deveria vir, mas alguém é boa demais para nós, pessoas normais. ― Neville adicionou apenas por diversão.
― Você, cale-se. Estou aqui e trouxe reforços. ― Finalmente apontei Severus, que tinha parado alguns metros atrás de mim. ― Meu amigo e eu queríamos jogar, então decidi vir e saber se vocês tem vaga para nós.
Neville e Ivan olharam para a versão Glamourizada de Snape e nenhum deles disse nada por tanto tempo, que comecei a pensar que o reconheceram. Foi Neville que levantou uma sobrancelha, movimentando a boca silenciosamente "amigo?". Mas Ivan, que não tem um filtro em sua grande língua, foi quem perguntou:
― Você finalmente tem um novo namorado?
― Amigo. ― Eu insisti e olhei para Snape para ter alguma pista sobre como eu ia chamá-lo, mas ele não entendeu a questão em minha voz. ― Prince? Estes são Neville e Ivan. Pessoal, este é… Prince.
Dizer o sobrenome de solteira da mãe dele foi estranho. Quase conseguia sentir que ia ficar em apuros por dizer isso em voz alta, mas não me apeguei demais a isso. Foi o único sobrenome que consegui pensar e associar a ele, lembrando-me do livro do Príncipe Mestiço que esteve em poder de Harry, no nosso sexto ano.
Cada um dos meus amigos fez questão de apertar a mão de Severus antes de se estabelecer no lugar. Ivan não olhou duas vezes para ele, mas eu notei Neville o encarando um pouco mais atentamente. Decidi que mais tarde eu iria dizer a verdade a ele, depois que eu tivesse certeza que Neville não perderia sua cabeça.
― Então, você tem espaço? Acho que contei treze pessoas, certo? ― Perguntei, balançando para trás em meus calcanhares, mantendo um olhar constante em Neville.
Ivan soltou um chiado quando olhou para as pessoas que se reuniram.
― Vou ver se alguém quer sentar nesta rodada e jogar só na próxima. ― Ele comentou
― Certo, se ninguém se dispor, eu fico de fora e vejo se alguém troca comigo no próximo jogo. ― Ofereci, ainda olhando para Neville.
Ivan revirou os olhos e fez uma careta.
― Você sabe que pode pedir isso para a metade deles que vão deixar você jogar e ainda brigarão sobre quem cederá o lugar.
Eu bufei e o vi seguir em direção ao grupo, deixando-me com Severus e Neville. Neville olhava para o outro homem como se quisesse ver a sua alma e franziu a testa um segundo depois, olhando em minha direção com a confusão se aprofundando.
― Ei, Mionel? ― Perguntou lentamente, erguendo a cabeça para o lado.
Severus estava ocupado olhando ao redor, graças a Merlin, e eu dei a Neville um olhar que claramente dizia cale a boca.
― Mais tarde. ― Sussurrei.
― Agora, por favor. ― Ele insistiu em voz baixa, os olhos se estreitando um pouco mais.
Felizmente, Ivan escolheu aquele instante para chamar todos juntos para escolher os times, então eu virei para longe e segui com meu orientador-barra-amigo de um lado e um Neville Longbottom confuso do outro, fizemos nosso caminho em direção a Ivan. Mas Neville não desistiu e se inclinou em minha direção.
― Mione, ele é…
― Sim. — Confirmei.
― Santo Merlin!
― Fique quieto sobre isso. ― Murmurei sob a minha respiração para Severus não me ouvir.
Neville parou de andar. Seu rosto ficou branco.
― Está brincando?
― Não.
O arrastei pelo braço para que recomeçasse a andar e quando alcançamos os outros, Ivan já tinha escalado quem iam ser os capitães de equipe por um processo de adivinhação de números. Os vencedores foram Charlles, um dos vendedores da Dedosdemel com quem eu tinha jogado algumas vezes antes, e o outro era um ex-bruxo que eu não conhecia. Charlles teve que escolher primeiro e imediatamente olhou e acenou para mim.
― Eu vou levar a Granger primeiro.
― Um fã da única bruxa com poderes entre nós. ― Ivan disse, enquanto eu passava por ele com um sorriso no rosto. ― Não se iluda Hermione, se tivéssemos que voar como no quadribol de verdade, ele nunca a escolheria.
Eu soltei uma risada quando Ivan deu um tapinha no meu ombro.
O outro capitão chamou o nome de Ivan e cada pessoa foi escolhida até que as únicas pessoas de fora foram Severus e uma garota com quem eu também já tinha jogado antes. Neville também tinha sido escolhido para a equipe de Charlles, e o vi fazendo caretas, inclinando a cabeça em direção a Severus não muito sutilmente. Finalmente entendendo o que estava acontecendo, Charlles apontou para o homem de preto. Ficaria para sempre o fato de que ele tinha sido quase o último escolhido, o que tinha que ser a primeira vez em sua vida.
― Vou levá-lo.
Não pude deixar de rir quando chamei a atenção de Neville e ele me deslizou um tímido encolher de ombros, que me indicava que ele achava melhor não estar em um time contra Severus. Mas, pelo que eu sabia, Snape poderia ser tão ruim no quadribol não-mágico, como eu era em voar.
Conforme subimos juntos, uma vez que a outra garota tinha sido escolhida, pegamos o equipamento e ficamos prontos para jogar. Olhei para Severus e disse em voz baixa:
― Eu deveria ter perguntado antes, mas você sabe como jogar?
Pela expressão em seu rosto, qualquer um poderia pensar que eu o perguntei se ele sabia o que era uma poção. Levantei minhas mãos em uma oferta de paz.
― Só perguntando… ― Mas havia mais uma coisa, no caso dele esquecer que todos os outros eram bruxos sem nenhum poder. ― Isso é para se divertir, certo? Nenhum deles possui magia, então não podemos usá-la durante o jogo, ok?
Seu sorriso pouco satisfeito disse tudo, e ele finalmente assentiu com a cabeça em aceitação.
― Nós vamos ganhar de qualquer maneira. ― Ele resmungou.
Eu sorri, erguendo minha mão e empurrei seu ombro antes de perceber o que estava fazendo. Congelei e tenho certeza que minhas bochechas estavam vermelhas brilhantes quando afastei a mão.
― Desculpe. ― Murmurei envergonhada pela estranheza da situação.
Não sei o que eu esperava que ele fizesse, mas ver ele sorrir para mim de um jeito que fez o meu coração parar, não era algo que imaginei. Tudo o que fiz foi olhar silenciosamente de volta para ele por um momento, tempo suficiente para parecer como uma idiota completa, até que me forcei a reagir e sorri de volta para ele.
― Hermione! Não temos a noite toda, venha aqui! ― Ivan chamou de algum lugar atrás de mim.
Olhei para Severus mais uma vez e mostrei um sorriso genuíno agora, como o que ele tinha acabado de me dar e fiz o meu caminho em direção ao resto do grupo. Neville estava olhando para a frente e para trás entre mim e nosso antigo professor de Poções. Não foi até que ele engoliu em seco que percebi que ele estava morrendo por dentro e repensando se era melhor ter Severus jogando contra ele do que no mesmo time. Quando os olhos mortos do meu amigo vieram sobre mim, confirmei seu medo.
Charlles, o capitão da equipe para o jogo, anunciou que ia jogar como artilheiro. Dois outros homens falaram em seguida que assumiriam as duas posições restantes na artilharia, pois se achavam muito bons atacantes. Isto me fez revirar os olhos. Porque todos se acham tão bons em uma posição que consiste apenas em correr e atirar a Goles nos aros? Acontecia sempre, mas eu não estava impaciente, tudo o que fiz foi assentir e sorrir, eu não me importava em jogar nas outras posições.
Charlles olhou para nós quatro: Severus, Neville, outra garota que não conhecia e eu, e perguntou:
― Vocês ficam como apanhador, batedores e goleiro?
Fiquei um pouco surpresa quando Severus não começou a comentar e exprimir sua opinião e silenciosamente concordou em jogar na posição que fosse. Dois segundos mais tarde, nós fomos posicionados em todo o campo. Eu fui colocada como goleira, e ele como apanhador. Aproximadamente dez minutos depois, Ivan estava gritando: "Mas que grande merda!" depois que eu defendi o terceiro gol, e na sequência Severus capturou o pomo. Quem diria que seríamos um bom time?
Na segunda partida, nós dois fomos alçados à posição de batedores, mas o resultado não foi alterado. Severus rebateu um balaço tão longe, que a bola quase caiu quase do lado oposto do campo, enquanto que eu acertei o meu bem na direção de onde o artilheiro da equipe oposta corria, ele precisou desviar da corrida e foi o suficiente para a garota que agora era artilheira do nosso time, roubar a goles e marcar mais um gol. Quarenta e cinco minutos depois, o capitão da equipe oposta estava praticamente espumando pela boca e gritando ao nosso capitão sobre ele ser um sortudo em ter escolhido os melhores jogadores. Ele apontava para Severus e eu, que jogamos como se tivéssemos sido companheiros há anos e disse: "eles dois não podem ficar na mesma equipe!"
Talvez tenha sido um pouco injusto que os dois únicos bruxos com poderes tenham ficado na mesma equipe, mas, nós nem usamos magia. Era pura sorte que eu fosse uma boa jogadora. Acho que o que estraga o quadribol para mim, é apenas o vôo. E apenas aconteceu de Severus ser ótimo em pegar pomos e rebater bolas. Eu nunca joguei totalmente durante os jogos recreativos; afinal, estava plenamente consciente de que as pessoas que jogavam faziam isso para se descontrair. Elas não precisavam da minha louca competitividade para arruiná-las. E, Severus, mesmo que não tivesse sido tão rápido quanto os mais jovens, ainda era melhor do que todos os outros. Eu notei que ele realmente tentou dar oportunidade às outras pessoas. Mas o ponto era que ele não gostava de perder. Eu não gosto de perder. Então, se as pessoas não estavam aproveitando as oportunidades que se abriram para eles, bem, um de nós ia fazer alguma coisa. E por alguma razão, eu estava totalmente ciente de onde ele estava no campo constantemente.
Charlles cedeu a pressão do capitão oposto e decidiu mover "Prince" para a outra equipe, eu encontrei aqueles olhos determinados de nossas posições agora em lados opostos do campo. Ele não precisou dizer nada, nem eu. Isto ia ser eu contra ele. Aquela queimadura de fogo que senti no peito se acendeu ainda mais dentro de mim enquanto nos olhávamos e eu consegui sorrir para ele em desafio, embora estivesse ligeiramente desconfiada de que ele ia me fazer comer grama.
― Filho da mãe. ― Murmurei para mim mesma quando Severus marcou mais um ponto, segundos antes de Neville capturar o pomo. Mesmo com a pontuação de cento e cinquenta pontos, perdemos por dez pontos de diferença.
Uma hora depois, Neville trotou até perto de mim com o rosto chocado.
― Nós perdemos três partidas seguidas? ― Perguntou descrente.
Eu assenti lentamente, a meio caminho de um estupor.
― Sim.
― Como? ― Ele perguntou, enquanto desligava o botão do pomo-de-ouro robô e o fazia parar de bater as minúsculas asas.
― Foi ele. ― Respondi.
Não havia necessidade de apontar, ambos sabíamos a quem estava me referindo e só nos olhávamos silenciosamente e nos encolhemos em nossa decepção. Eu soltei meu bastão para me alongar. Vislumbrei um par de tênis negros se estabelecer no chão perto de mim e sabia que era Severus. Quando ele não disse nada, eu senti minha frustração, mas não encontrei qualquer coisa para dizer, não ia parabenizá-lo por me vencer de novo.
Eventualmente, ele me olhou e manteve sua expressão em branco quando falou:
― Um mestre meu costumava dizer que ninguém gosta de um mau perdedor.
― Acho difícil de acreditar que você o escutou. ― Respondi acidamente.
As sobrancelhas dele subiram em diversão e uma dica de um olhar angelical e sereno assumiu suas feições.
― Eu não o ouvi. Eu estou apenas dizendo a você o que ele disse, pirralha.
Que cretino.
No sábado à noite, olhei do meu livro para o retrato de Rowena Ravenclaw na parede. Eu tinha verificado se o feitiço que lancei ainda estava trancando a passagem e me certifiquei de que sim, ele estava. Onde estava a minha coragem de dois dias antes? Porque eu a perdi assim que entrei aqui e encarei a imagem da fundadora da escola? Eu costumava ser mais corajosa quando era mais jovem. O que houve com aquela garota?
Eu me orgulho da coragem que tive anos atrás, mas, se eu for realmente sincera comigo mesma, algo dentro de mim se quebrou durante a guerra. E depois, quando vi tantos que lutaram do lado bem perder seus poderes, parte da certeza e confiança que eu carregava, também se foram.
Balancei a cabeça e voltei ao meu livro, embora passasse os olhos pelas linhas sem sequer registrar o que lia. O que Regulus quis dizer com "os dois primeiros"?
Desisti de ler, minha mente estava cheia de pensamentos e a leitura seria inútil. Eu sei que preciso descer lá se quiser encontrar respostas, mas estou com medo. Eu quero encontrar o mal no castelo e libertar a magia, mas não quero fazer isso sozinha. Eu sei o que passei quando lutamos na guerra e eu nem estava só. Eu fui xingada de sangue-ruim por toda minha vida acadêmica, fui amaldiçoada, torturada e quase morta, e isso quando estava com meu grupo de amigos também bruxos e que protegíamos uns aos outros.
Que chance eu tinha se resolvesse encarar algo desconhecido sozinha? Provavelmente nenhuma. Até o fantasma do próprio Regulus me disse que estava sendo ajudado pelos quatros fundadores, então, porque eu estava cogitando descer até aquele lugar sombrio sem ninguém comigo? Na verdade… Porque eu estou dando ouvidos para uma pessoa morta? Aliás, cinco pessoas mortas.
Uma porta se fechou em algum lugar no corredor e eu pulei de susto, fazendo o livro cair com um baque. Agarrei a minha varinha e me preparei para pular da cama, mas a apoiei de novo na mesa quando o assobio de Winky atravessou as portas do quarto. Gemi ao sair das cobertas quentes para descer e apanhar o meu livro que tinha ido parar embaixo da cama. Me ajoelhei no chão frio de pedra e me estiquei para alcançá-lo. Peguei minha varinha novamente e sussurrei um Lumus, mas quando meus dedos tatearam pela capa, a luz da varinha destacou uma linha branca no piso sob a cama. Puxei o meu livro para mim e me levantei espantada. Era o desenho de uma runa.
Minhas mãos tremiam quando apontei a varinha para a cama e a fiz flutuar. Tudo dentro de mim se tornou gelo. Desenhado no chão abaixo da minha cama estava uma frase escrita no alfabeto rúnico. Eu era fluente o suficiente para lê-la.
Quando o leão cair
A serpente rastejar
E uma constelação se apresentar
A pausa chegará ao fim.
Cambaleei para trás e me choquei contra a penteadeira. O que significava aquilo? Passei a mão trêmula pelo cabelo, olhando para as runas no chão. Corri até a minha mesa de cabeceira e peguei o meu telefone. Minerva não me atendeu. Nem Vector. Nem Dean. Ainda em ritmo acelerado, vesti uma calça e robe e saí do quarto, descendo em passos acelerados até o meu lugar seguro: a biblioteca de Hogwarts. Percorri as prateleiras em direção à sessão restrita, o medo ainda revirando meu estômago.
Aquilo era uma profecia? Se sim, o que significava? E porque estava escrita embaixo da minha cama? Quando virei em um canto, a cerca de dez prateleiras da entrada da sessão restrita, estanquei de súbito. Severus estava sentado em uma pequena escrivaninha e olhava para mim com olhos estreitados em desconfiança.
― Espera-se que as pessoas sejam sutis e silenciosas em uma biblioteca, Granger.
A adrenalina no meu coração desencadeada pela frase esculpida na pedra abaixo da minha cama não me deixava nenhum espaço para sutilezas. Me inclinei junto à mesa onde ele estava e segurei na borda dela para me equilibrar e me permitir respirar profundamente.
― O que você está fazendo aqui? ― Ele me perguntou ao notar o tremor nas minhas mãos.
Não respondi, fechei os meus olhos tentando controlar o medo que ainda dominava o meu peito. Eu sabia que estava pálida, conseguia sentir isso através da frieza que brotava dos meus poros e pela minha respiração entrecortada.
― Aconteceu alguma coisa? ― Ele me perguntou em voz baixa.
― Um pesadelo. ― Menti, minha voz saiu estranhamente rouca.
Eu não o encarava, mas quase podia sentir os seus olhos observando o meu rosto.
― Com que frequência eles acontecem? ― Foi a pergunta dele, mas não respondi de novo. Eu não iria tão longe com uma mentira. ― Com o que você sonhou?
Engoli em seco e neguei com a cabeça, baixando meus olhos para o piso. Não queria falar nada. Não podia falar nada. "Eu não sei o que está acontecendo e preciso de ajuda", era o que eu gostaria de dizer, mas Severus e eu tínhamos essa relação conturbada que eu nem sei se vai piorar de novo quando tivermos que partir juntos, porque eu pediria ajuda dele quando nem sabia o que o futuro nos reservava?
Ouvi o raspar da cadeira dele quando ele se levantou. Eu continuei a minha contemplação da pedra sob meus pés, com os pensamentos bagunçados demais para reagir a sua proximidade. Pensei ter sentido um roçar de dedos próximo ao meu cotovelo quando ele passou por mim em direção à saída. Mas foi algo tão sutil que eu tenho certeza que foi pura imaginação minha.
― Quando quiser falar, me avise.
A voz dele preencheu o silêncio da biblioteca e fiquei surpresa por ele estar me oferecendo sua atenção para quando eu quisesse desabafar. Levantei meu olhar para encontrar o dele, mas ele já havia desaparecido na esquina da estante seguinte.
Notas Finais:
Alguém está melhor né? Beijos!
