Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Ally Blake, que foi publicado na série de romances "Modern Sexy", da editora Harlequin Books.


Capítulo 6

Draco assobiava e balançava sobre os dedos dos pés enquanto o elevador subia em direção ao apartamento de Ginny. Era o tipo de dia que pedia um assobio, e quem era ele para negar ? O Pies havia vencido o Blues por cem pontos. Os contadores forenses tinham liberado a fundação. E Luna estava... em outro lugar. Ele não sabia onde exatamente, e não estava se importando muito com isso.

A porta se abriu com tanta força que ele se preparou para o corpo macio e quente se jogando nos braços dele. Mas tudo o que sentiu foi um golpe de ar. Depois de um instante, entrou e fechou a porta. Ginny ainda estava com roupa de trabalho: pantalonas cinzentas, um suéter justo rosa e saltos altos. A echarpe fina e prateada que ela estava tirando do pescoço o fez pensar que Ginny acabara de chegar em casa. No fim das contas, não era um sobretudo, mas ainda assim ela ficaria sexy quando tudo fosse tirado. Se ela não estivesse com o rosto sério e xingando como um marinheiro, ele teria chegado até ela em um piscar de olhos.

Mas ela era como uma mini tempestade, ondas de antagonismo saindo dela. Ela cheirou o ar e todo o seu corpo se contraiu como se estivesse prestes a explodir.

- Luna ! - gritou ela, alto o suficiente para que todo o quarteirão a ouvisse - Se você fez bagunça na minha cozinha e não limpou, haverá conseqüências !

E então ela entrou fumegando na cozinha, deixando Draco parado, confuso e sozinho.

- Certo - disse ele, para ninguém em particular.

Franzindo o cenho, ele olhou para a porta da frente, desiludido porque a vida prometia tanto há pouco momentos e agora ele não tinha idéia do que estava errado.

Ele pensou seriamente em ir embora, mas a suspeita de que ela nem perceberia machucou seu orgulho.

Com a boca travada, ele ziguezagueou até a cozinha e encontrou Ginny servindo uma generosa taça de vinho. Só uma.

- Nós tínhamos planos ? - perguntou ela, sem ao menos olhar para ele.

Um músculo latejou em sua têmpora. Apenas teimosia pura e absoluta o impediu de dar meia-volta e sair dali.

Ele não tinha se recusado a criar uma adolescente de dezesseis anos meio selvagem. Não tinha se recusado a tirar uma fundação quase falida do vermelho. Ele não iria se esquivar do mau humor de Ginny.

- Eu tinha planos - disse ele, com um tom direto - Específicos, envolvendo você, eu e o conteúdo de sua geladeira.

Ela enrolou sua echarpe brilhante nas mãos até que a ponta de seus dedos ficasse branca.

- Eu não estou com fome. Onde está Luna ?

- Ela traçou outros planos para esta noite. O que você tem ?

Ginny deu de ombros e Draco sentiu uma leve pontada de impaciência. Ele nunca tivera que forçar a situação com uma mulher que não o queria e não iria começar agora. O fato de que ele estava tão desorientado com a reação dela só o motivava mais a ir embora.

- Está bem. Tanto faz.

Ele se virou para ir quando a viu estremecer com os cantos dos olhos.

O rosto dela se despedaçando como se tivesse levado um tapa. Isso vindo de uma mulher que sempre parecia estar sempre no controle.

- Ginny, qual é o problema ?

- Nada - disse ela, balançando a cabeça como se estivesse tentando tirar maus pensamentos dela.

- Então não há nenhum motivo em particular para você parecer estar à beira de um ataque de nervos ?

Draco estendeu o braço e segurou a mão dela, desenrolando a echarpe de seus dedos gelados antes que ela apertasse tanto que sua circulação cessasse de vez. Colocou a echarpe no bolso do blazer e virou o rosto dela para ele.

- Conte - insistiu ele - Agora, Ginny.

- Estou cansada e mal-humorada. Eu seria uma péssima companhia esta noite. Você deveria ir para casa.

- Eu não vou a lugar algum.

- Draco ! - disse ela, parecendo mesmo em pânico - Por favor, eu imploro. Não sei como dizer isso mais claramente. Quero que você me deixe sozinha.

Aquilo podia terminar ali. O fim. Talvez com qualquer outra mulher pudesse ser assim. Mas aquela era Ginny.

- Eu não vou a lugar nenhum.

Ela esperou por mais um instante, com o corpo todo duro e inflexível e, então, como se uma represa houvesse se quebrado dentro dela, seu rostinho teimoso e severo desmoronou. E ela, por fim, começou a chorar - não só chorar - e a ter grandes soluços aflitos que a deixaram sem ar.

Draco se rendeu apenas o suficiente para passar os braços em volta dela, enquanto ela resistia, tremia e chorava.

Depois de se passarem o que pareceram horas, ela parou de lutar e desmoronou contra ele, esvaída, como se as lágrimas fossem as únicas coisas que a mantivessem em pé. Draco passou um braço por trás do joelho dela e a carregou para a sala, colocando-a no sofá. Ele sentou-se ao seu lado, um pouco afastado, mas quando o corpo macio dela se enroscou ruborizado e confiante contra o dele, Draco não resistiu. Ambos ficaram assim por algum tempo.

- Hoje é o aniversário da morte dele - disse Ginny, sua voz era apenas um pouco mais que um sussurro.

Draco respirou fundo, anos vivendo como uma ilha em si mesmo, lutando contra o que exigia humanidade demais, entrega demais, intimidade demais. Mas aquela era Ginny, e ele perguntou:

- De quem ?

- Do meu pai. Ele morreu há dezessete anos.

Draco expirou longa e profundamente pelo nariz, um alívio desproporcionalmente intenso por saber que o mau humor dela não tinha nada a ver com ele, lutando contra o tipo de tensão que tomava conta dele quando famílias eram colocadas em jogo.

- Foi durante um rally no exterior - disse ela - O carro dele capotou doze vezes, mas isso não o matou. Ele contraiu uma infecção no hospital enquanto estava na África. Nós nem sabíamos que ele sofrera um acidente... e então já era tarde demais.

Ele conhecia a dor dos sobreviventes. Conhecia bem demais. A impotência. A raiva. O modo como isso endurecia a pessoa. Ele havia se valido dessa dureza para cimentar o seu sucesso. No entanto, não via dureza em Ginny. Mesmo na tristeza, ela era suave, doce e forte.

- Eu sempre faço alguma coisa no aniversário da morte dele - continuou ela - Ouço seu álbum de Bruce Springsteen, ou vou ao telhado no trabalho e falo com as nuvens. Mas hoje...

- Hoje ? - repetiu ele, sua voz como pedra.

- Eu esqueci completamente. Passei a porcaria do dia todo sem pensar nem uma vez nele. O que é pior, minha mãe precisou me ligar para me fazer lembrar. E eu percebi na voz dela. Ela sabia. Eu pude sentir sua repreensão. Ginny, a grande decepção, faz mais uma das suas.

- Eu não posso acreditar que fosse isso que ela estava sentindo.

- Ah - disse ela - Você não conhece minha mãe. Se houvesse um plano de milhas de viagem que desse pontos por desapontá-la, eu já teria ido até a Lua e voltado. Ela estava praticamente zonza porque eu não liguei para ela primeiro, pois esta é a prova máxima de que mesmo eu sendo tão parecida com ele, ela claramente sente mais falta dele do que eu.

Os olhos dele se conectaram aos dela. Desejo, excitação e algo mais faiscaram instantaneamente entre eles. Era reconhecimento, reconhecimento de experiências passadas. E reconhecimento de como isso poderia mudar as coisas. Quando a tensão se tornou insuportável, ele disse:

- Claramente, sua mãe é uma vaca abominável.

Ela tossiu, soluçou e terminou dando uma risada estrondosa antes de colocar a mão sobre a boca.

- O quê ? - disse ele.

- Não se atreva a tentar me fazer sentir melhor. Eu mereço me sentir mal. Eu me esqueci do papai, estou reclamando da mamãe. Sou mesmo uma vaca abominável.

- Certo, você me convenceu.

Ela riu de novo, desta vez batendo a mão no braço de Draco antes de cair sobre aquele peitoral másculo, a pequena palma quente deixando uma marca indelével na pele dele. Nele.

Draco se moveu inquieto na cadeira extramacia, até que Ginny se endireitasse e desse a ele o espaço que tanto precisava. Mas, em seguida, quando os olhos dele encontraram os dela, com os cílios grudados pelas lágrimas, os doces olhos castanhos tão abertos, tão claros, tão absorvidos nele, ele teve a sensação distinta de que não deveria ter se movido. Ou ficado.

- Eu só queria ter certeza de que você estava bem - disse ele, sua voz rouca - Mas entendo se você quiser ficar sozinha esta noite.

Os dedos no peito dele se agarraram à sua camisa. Ela não precisava lhe pedir para ficar. Ele sabia que não sugeriria ir embora de novo.

- Você sente falta dos seus pais ? - perguntou ela.

Draco piscou com força. A não ser pelas trivialidades nos eventos da Fundação Malfoy, ele nunca falava sobre eles com ninguém além de Alexandra e, mesmo assim, com uma reserva cuidadosa, para não colorir a memória dela sobre eles. Mas aquela, lembrou ele mais uma vez, era Ginny.

- Tenho meus momentos.

- Eles morreram juntos, certo ?

- Avião pequeno. À noite. Uma tempestade de neve no interior do Colorado. Ah ! Foi Luna quem lhe contou ?

- Não se pode negar o relacionamento dela com a internet - respondeu Ginny - Como eram os seus pais ?

- Gregários. Impulsivos - Draco fez uma pausa - Ausentes. Eu já havia saído de casa há muito tempo quando eles morreram. Eu os via raramente, pois estavam voando de algum destino sofisticado e caro para outro. Então, naquele inverno, meus pais enfiaram Alexandra em um colégio interno qualquer no meio dos Estados Unidos para que pudessem ir esquiar em Aspen. Levei uma semana para achá-la quando eles morreram, pois não ocorrera a eles avisar a alguém onde ela estava. Não é de surpreender que minha irmã tenha se esforçado tanto para se ferir, ela era tratada como um cãozinho - e isso não era nem a metade do que os pais haviam feito, pensou Draco - Nunca fez parte do meu grande plano dirigir a fundação. Ou do meu pai morrer antes de mim, tenho certeza. Eu sempre disse a ele que colocasse um conselho desvinculado para cuidar dos negócios. Mas ele nunca me ouviu, e depois morreu; a crise mundial se instalou e o único jeito de evitar que a fundação se desfizesse era assumi-la.

- Por que não agora ? - perguntou Ginny - Por que não colocar em prática o conselho desvinculado agora ?

Ele apenas olhou para ela.

- Bem - disse ela - , eu tenho uma vaca abominável como mãe, mas parece que os seus pais eram uns belos de uns sacanas.

Sem acreditar no que acabara de ouvir, ele deu uma risada alta.

- Você é uma mulher engraçada, sabia disso ? - disse ele, dando uma olhada de esguelha para ela.

Ruborizando em meio a um sorriso, Ginny mordiscou a unha do dedinho.

Draco encontrou a outra mão e deslizou os dedos sobre a rede macia de linhas. Os dedos dela enroscados ao toque dele.

E então ela colocou uma perna sobre a dele, e o que quer que ele estivesse pensando foi varrido por uma rajada de desejo.

- Quer alguma coisa ? - perguntou ele.

- Pensei que esta fosse uma boa hora para me desculpar.

- Por...?

- Lágrimas, chiliques, dramas familiares. Eu sei que não era esse o combinado. Então, me desculpe e obrigada por ficar. Embora, em minha defesa, eu deva dizer que avisei que você deveria ir embora - Ginny sorriu e se aproximou dele ronronando, sua doçura tomando o coração de Draco de assalto.

- Você avisou mesmo - as mãos dele foram para o tornozelo dela, passando por baixo do tecido de corte largo, dedilhando o caminho até alcançar o músculo liso de sua panturrilha. Ela se contorceu, como um gato acordando de um sono longo e profundo.

- De qualquer forma, é tudo culpa sua - disse ela, sua voz tornando-se entrecortada conforme seus olhos escureciam.

- Minha ? - perguntou Draco, meio que prestando atenção às palavras dela. Os dedos dele encontraram um ponto macio atrás do joelho dela, o que estava fazendo maravilhas em fazê-lo esquecer- se da última hora.

- Que eu tenha esquecido o aniversário da morte do papai.

As mãos dele estancaram por apenas um instante.

- Por que você acha isso ?

- Eu fiquei... distraída. Ando muito distraída ultimamente.

- É uma época corrida, com o lançamento chegando.

Ela fechou os olhos, a mão dela agora brincando com o cabelo de trás do pescoço dele.

- Draco, eu estava no meio de uma entrevista com uma revista de motores na semana passada quando tive que pedir ao repórter para repetir a pergunta... era para eu estar pensando nas especificações do chassi do Z9, mas em vez disso eu me peguei pensando em suas mãos.

As palavras dela ficaram suspensas entre eles, densas e sedutoras.

- Minhas mãos estão bem aqui - disse ele, indo um pouquinho mais para cima da perna até que a cabeça dela pendesse para trás e sua respiração saísse com um suspiro de excitação. Por isso ele fora até lá. Para experimentar aquela excitação que o consumia - E se você parar de falar por um minuto - disse ele - , pode, na verdade, ter a chance de viver um sonho possível.

Rindo, ruborizando, ela ergueu a mão até o cabelo e endureceu. Sua boca formando um "O" perturbado.

- Não, não, não. Eu devo estar uma graça. Espere dois minutos.

- Nem em seus sonhos.

Ginny tentou se levantar.

Ele a impediu segurando sua outra perna, para depois puxá-la para seu colo, até que ela não tivesse mais nenhuma dúvida sobre a excitação dele.

- Eu não lhe contei sobre o meu fetiche por mulheres de olhos inchados e voz rouca ?

Ela balançou a cabeça.

- Bem, então, parece que nós dois temos muito o que aprender um sobre o outro.

Ginny explodiu numa risada.

Ele acariciou as coxas dela, distraído por um pensamento.

- Você está livre no fim de semana ?

Ela bateu com o dedo nos lábios, fingindo pensar.

- Bem, eu havia planejado colocar meus DVDs em ordem alfabética...

Ele deslizou lentamente a mão para cima da perna da calça dela até que encontrou seu quadril e, afastando um pouco o tecido, a beirada de uma calcinha ridiculamente transparente. O coração dele agora pulava como um cavalo selvagem em um curral.

- A não ser que eu receba uma oferta melhor - disse ela, ofegante e de olhos fechados.

- O que você acha de um fim de semana mal comportado ?

Nesse instante, a sala estava na penumbra, e os olhos dela se abriram e brilharam no escuro.

- Mal comportado ? - perguntou ela, o timbre de sua voz dizendo tudo o que ele precisava saber.

Em meio a um sorriso, Draco disse:

- Minha família tem uma propriedade em Yarra Valley. Está vazia, embora eu não possa prometer que não vamos trombar com um jardineiro ou outro.

- Bem, então - disse ela, sua voz tão escura e quente quanto seus olhos - Se eu tiver a chance de trombar com um jardineiro sem camisa, sarado e suado, meus DVDs terão que esperar.

Ele assentiu. Pronto. Eles voltaram a ser o que eram. Os arroubos da última hora foram esquecidos.

- Então, do meu ponto de vista, nós só temos um problema - disse ele - O fim de semana está muito longe.

Com os olhos acostumados à escuridão, Draco viu o sorriso de Ginny se desenhando no escuro, e aquilo poderia muito bem ter sido no meio de um dia de verão implacável, tamanho o calor que o atingiu. A necessidade urgente de deixá-la nua o fez ficar momentaneamente confuso, decidindo que parte da roupa dela iria tirar primeiro.

E nesse instante, um raio de luar transpassou as cortinas e tocou o rosto dela, e ele percebeu, por trás do sorriso sedutor de Ginny, um pequeno traço de tristeza ainda rondando seus olhos. Então, abandonando a busca por um zíper, ele gentilmente limpou a mancha de lágrimas debaixo dos olhos dela.

Ela segurou o rosto dele com as duas mãos, abaixou-o e pressionou seus lábios contra os dele. Seu gosto era de lágrimas salgadas, e algo inequivocamente dela.

Draco fechou os olhos, sem condições de dominar e abafar o rio de sensações que aquele beijo fazia fluir ao longo de seu corpo. Tudo o que ele podia fazer era se deixar levar.

Levou uma eternidade para Draco sentir a pele dela embaixo da sua. O último momento possível antes que ele entrasse nela. Fizeram amor lenta e doloridamente, de olhos abertos, sorvendo um ao outro.

Não havia como negar, ou lamentar, que as novas camadas de história, compreensão e confiança trouxeram outro nível de intensidade à conexão deles. Estava feito. E trazia consigo um delicioso torpor.

As mãos de Ginny nas costas de Draco, seu olhar perfurando o dele, as necessidades e desejos dela tão vívidos em seus olhos que o deixaram sem fôlego. Então, Draco sentiu-a se pressionar contra ele e estremecer, e foi tomado por uma onda excitação, prazer e gozo, do tipo que jamais sentira. Isso o abalou profundamente, devastando seu autocontrole até que soubesse que, se lutasse contra, seria massacrado.

Enquanto se deixaram ficar enroscados no sofá, membros entrelaçados, respirações ofegantes, profundas, o suor sobre a pele deles, ele pensou: "Última irregularidade momentânea. Última desavença. Agora tudo poderia voltar aos trilhos".


P. S.: Nos vemos no Capítulo 7.