Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Ally Blake, que foi publicado na série de romances "Modern Sexy", da editora Harlequin Books.
Capítulo 9
Ginny encarou o espelho da suíte de Draco e mal reconheceu o que viu. Não tinha nada a ver com rímel borrado e exaustão ou com o cabelo despenteado. Nem eram as marcas vermelhas que apareciam por baixo da gola da camiseta emprestada de Draco onde ele havia mordiscado seu ombro, ou a aparência inchada de seus lábios, machucados por causa das horas e horas de beijos furiosos. Tratava-se de algo mais profundo.
Ela ajeitou os ombros e abaixou o olhar, literalmente sem conseguir se olhar nos olhos. Não havia como se enganar de que todas as outras vezes que dormira com Draco não eram para esquecer o que acontecera antes. Era para estar com ele.
O melhor sexo de sua vida. O único homem que nunca a deixara partir. O único homem forte o suficiente para mantê-la sincera. O melhor homem que jamais conhecera. Ela passou a mão fechada sobre o peito, no lugar onde o que pretendia ser seu coração dolorido ficava. Não era de se estranhar. Era algo para ter piedade, ser débil, enfraquecido por tantos passos mal dados, muitos começos falsos, muitos ataques diretos.
- Bom dia, querida. - Draco emergiu repentinamente atrás dela, puxando o cabelo dela para o lado para dar um beijo carinhoso no pescoço.
- Bom dia - grunhiu ela.
- Tenho algo para você - a voz dele era profunda e grave, fazendo sua pele formigar e suas mãos se segurarem na pia.
- Desde que seja um banho longo e uma escova de dentes, eu aceito - disse ela, com falsa animação.
- Bem, então é seu dia de sorte... - o braço dele deslizou em volta dela e em sua mão havia uma escova de dentes vermelha embrulhada com um laço preto de cetim. Para ela. Para deixar na casa dele. Sua mão tremia quando a esticou e envolveu o cabo.
- Vermelha - disse ela, a única palavra que conseguiu falar enquanto seu coração se debatia, crepitava e tentava voltar à vida, mas os cortes apenas se abriam mais, até que ameaçou se quebrar de vez.
Ginny piscou olhando para o espelho e o encontrou parado nu no chuveiro. Um deus. Mas a escova de dentes, e o que ela representava, estava queimando, como algo causando uma impressão muito significativa em sua mão.
Ela saiu devagar.
- Talvez mais tarde. Estou faminta. Vou preparar um café da manhã rapidinho.
- Para mim, pode fazer em dobro - ele deu um beijo na ponta do nariz dela. Então, conforme seus olhos cinza ficavam mais escuros, ele a puxou para perto e a beijou cuidadosamente na boca.
Ela fechou os olhos com força, entrando em um poço de desejo. No limite de seu subconsciente, algo mais profundo e quente se desvaneceu delicadamente de Ginny. Ela voltou à realidade quando Draco a virou e fez um carinho em suas costas, mandando-a para fora do banheiro.
Já na cozinha, ela colocou a escova de dentes cuidadosamente na bancada, sem deixar que saísse de seu campo de visão por muito tempo, como se a escova pudesse se levantar e mordê-la se não fosse observada direito. Claramente, ela estava delirando. Não era de se estranhar. Não comera nada na noite passada e estivera ocupada demais com outras coisas a noite toda para conseguir dormir um pouquinho. Ela pensaria melhor de estômago cheio.
Ovos mexidos, Ginny decidiu quando percebeu que Draco não tinha muito mais que isso em sua geladeira de solteiro. No entanto, por mais que procurasse nas gavetas profundas, nos armários de vidro jateado ou nas portas sanfonadas, ela não conseguia encontrar uma frigideira.
Ela abriu a boca para chamá-lo quando ouviu o chuveiro ser ligado. Uma gaveta fininha no canto era sua última esperança. Ela a abriu. Nunca teria notado o batedor mesmo que fosse rosa-choque, coberto com purpurina, se seus olhos não tivessem rápida e resolutamente avistado outra coisa: uma pequena caixa de veludo preto. Do mesmo tamanho em que geralmente se pode achar um anel.
Seu coração saltou tão de repente que ela quase podia sentir os cortes quebrando em milhares de pedacinhos, como um globo de cristal que caíra de uma grande altura em uma estrutura de concreto implacável. Mas, mesmo com seu corpo entrando em estado de choque, pegou a caixa, seus dedos curvando-se em volta das beiradas macias e puxando-a de seu esconderijo escuro para trazê-la para a luz.
Era para ela, disso Ginny não tinha dúvidas. Ela vira o olhar de Draco na noite anterior. Sabia o que significava.
Havia sido tão cuidadosa para parecer livre e descompromissada, mesmo quando não se sentia assim. Para fazê-lo pensar que ela estava apenas aproveitando a vida, mesmo quando ela sentia sua armadura cair repetidamente. Para não deixá-lo saber de sua fraqueza inevitável por homens que se importavam, e mais especificamente, sua fraqueza por ele. E agora ?
Fúria, fumegante e indignada, a impulsionou em direção ao banheiro de Draco, onde o ar estava espesso por causa do vapor, ou talvez por causa do humor dela. Abriu a porta do box com pressa. A visão dele todo ensaboado, seus músculos lindamente esculpidos, quase foi suficiente para fazê-la dar meia-volta, guardar o anel e fingir que nunca o encontrara. Fingir que tudo era cor-de-rosa.
Draco tirou o sabonete dos olhos e a viu parada ali. Ele lançou-lhe um sorriso faminto. Então os olhos dele encontraram a caixa do anel tilintando na palma da mão dela e o sorriso lentamente se desvaneceu.
- Eu estava procurando um batedor - disse ela, sua voz repleta de acusação. Ela atirou a caixa de veludo nele, como se fosse evidência de um crime de guerra e não como algo que, por várias vezes, tinha ficado com as pernas bambas por desejar.
Draco desligou o chuveiro, pegou uma grande toalha marrom dobrada, que estava na prateleira acima de sua cabeça, e enrolou-se nela enquanto saía do box. Ele murmurou:
- Os batedores estão no pote em cima da bancada.
- Draco...
- A propósito, é para você - disse ele, indicando a caixa de veludo com um movimento do queixo.
Ela fechou a boca rapidamente e cerrou os olhos, todo o seu mundo havia ficado vermelho. Respirou fundo, abriu os olhos e tentou de novo.
- Draco...
- Você se importaria de abri-la ? - pediu ele, observando-a cuidadosamente.
Não, Ginny não queria abrir ! Porque desta vez não parecia que ela estivesse na crista de uma onda romântica e fantasmagórica. Agora ela não sentiu aquele fluxo de adrenalina arrasador. Ela sabia que era o começo do fim. Nada mais de ligações tarde da noite que a faziam ficar enlouquecida. Nada mais de morangos e champanhe em quartos magníficos de hotel na hora do almoço. Nada mais de Draco.
De repente, ela lutava para respirar. O vapor no banheiro não ajudava, tampouco o fato de ele estar seminu, sua presença, seu perfume e seu calor preenchendo cada centímetro do ambiente pequeno.
Ela se virou e foi para o quarto. Draco a seguiu.
Percebendo que a caixa queimava em sua mão fortemente fechada, ela abriu os dedos e lentamente a colocou na cama. Os olhos dele a seguiram, de perto.
- Nós temos algo bom, você não acha ? - perguntou Ginny, atraindo a atenção dele de volta para ela.
- Certamente - seus olhos inteligentes iam dos dedos dela, que se abriam e fechavam, para seus pés, que não conseguiam ficar parados.
- Então, por que mudar ?
- Porque as coisas mudam.
- Mas nós prometemos que seria algo casual. Prometemos não nos apegar.
Os olhos dele encontraram os dela.
- Isso é o que as pessoas falam para se proteger caso a pessoa com quem estejam saindo seja um grude. Ou quando mora em uma casa cheia de ursos de pelúcia. Ou não é boa de cama. Acho que dá para dizer que nós tiramos a sorte grande.
- Draco... - começou ela, mas ele a interrompeu.
- Ginny, eu nunca quis me apegar a mais ninguém.
E ela fechou a boca rapidamente.
Então, ele foi até ela, ainda molhado, e a pegou pelos ombros. Seu toque a acalmou, aquecendo-a e aplacando o pior dos pânicos, e, como metal atraído por ímã, os olhos dela se voltaram para os dele.
- Ginny, querida - disse ele, sua voz profunda e tentadora - Eu passei a vida toda não deixando as pessoas se aproximarem, não confiando naquelas que tentaram. Até que, uma noite, uma estranha me acariciou na pista de dança e tudo mudou. Você, minha linda menina, foi quem me arrastou para fora da minha caverna naquela noite, enquanto eu me debatia e gritava, e todas as noites depois daquela também, e me trouxe para a luz. Sua luz. Sua sinceridade, doçura, alegria e força. Sua vontade de dar uma chance para alguém conhecer o que você realmente é, mesmo sabendo muito bem como é não ter esse carinho retribuído.
Ele passou a mão por seu cabelo, depois a outra, antes de emoldurar seu rosto com elas, até que não houvesse mais nada entre eles, só a respiração.
- Eu estou apaixonado por você, Ginny.
Doía respirar e ela nem sequer estava tentando.
Draco. Draco Malfoy. O grande, bonito, invulnerável Draco Malfoy estava apaixonado por ela ! Ginny sentiu que estava a um passo de tudo o que sempre quisera. Tudo o que precisava fazer era esticar o braço e agarrar.
Mas sua mão não se movia. Ela simplesmente se recusava, enquanto as emoções entupiam sua garganta, batiam contra suas costelas e rasgavam sua pele dolorosamente.
E ela sabia por quê.
Não importava como Draco achava que se sentia, porque ele não sabia o que estava querendo dela. Não conhecia sua ficha amorosa, seus problemas com compromisso. E era tudo culpa sua, porque ela não lhe contara. Por quê ? Porque achou que ele não a amaria se soubesse ? Ou porque ela sabia que esta experiência estava condenada desde o início ? Porque lá no fundo, ela sabia a razão pela qual tinha procurado o amor com um vigor tão destemido, tão despreocupado. Ela sentiu coisas, claro. Mas amor ? Não. Não, mesmo. Não podia, não conseguiria. Ela construiu tamanha resistência ao lance verdadeiro, que finalmente ficara imune.
E se a promessa de Draco Malfoy não era o suficiente para que ela mudasse, a de nenhum homem seria. Ela estava fadada a ficar sozinha, e aquela era uma verdade difícil de ser descoberta aos vinte e oito anos.
Uma sensação de frio tomou conta dela, começando pelos dedos de seus pés e terminando nas pontas onde as mãos quentes de Draco a seguravam. Ela podia vê-lo, mas de repente foi como se estivesse olhando para ele pelo lado errado da lupa.
Ele viera para amá-la. Ela era uma causa perdida. Era justo que ele soubesse.
- Draco...
- Sim, Ginny.
Ela teve que engolir em seco duas vezes antes de dizer:
- Veja bem, é o seguinte... eu já fiquei noiva antes.
Ele ficou tão quieto, tão parado. Todo aquele poder tão fortemente restringido que geralmente fervilhava abaixo da superfície agora se escondia profundamente nele, como a energia no centro da Terra.
- Noiva - repetiu ele, a palavra pesada em sua língua.
- Para casar. Com outro homem - disse ela, não querendo deixá-lo com qualquer dúvida.
- Quando ? - perguntou ele, apertando a boca.
- Cinco anos atrás.
As narinas de Draco flamejavam e seus olhos cinza olhavam cada um dos olhos dela. Ginny sabia que ele estava chocado, mas tentava ser compreensivo. E ela ainda não estava nem no meio da confissão.
Sua freqüência cardíaca triplicou, sua pele latejava, então, quase engasgando, disse:
- E dois anos atrás.
- Duas vezes - disse ele, enrugando a testa, sua respiração ficando mais difícil - Você ficou noiva duas vezes antes ?
Ela fez que sim. Depois chacoalhou a cabeça. Seu corpo ficou todo adormecido, como que se protegendo do horror que estava por vir.
- Ginny ? - disse ele, com a voz sombria.
- Três vezes - disse ela com a voz rouca, sentindo-se uma tola por admitir tanto em voz alta. Então, como se ela estivesse prestes a puxar um curativo o mais rápido possível, fechou os olhos de modo bem apertado e desabafou: - Terminei com o último noivo, Harry, no começo do ano.
Quando ela abriu os olhos, notou que toda a luz se esvaíra dele. E se fora dar um nome a um dos homens com quem ela terminara ou se fora a seqüência, ela nunca saberia. Mas finalmente as mãos de Draco soltaram-na e foi tão repentino que ela se desequilibrou, apoiando-se na beirada da cama com a parte de trás dos joelhos antes que caísse. O homem que até agora nunca a deixara cair nem notou.
Ele piscou novamente. Como se sentisse que não estava enxergando direito.
Em um momento, ele estava olhando para a imagem do tipo de futuro que jamais imaginara que teria para si. E no seguinte... bum !
Draco respirou fundo pelo nariz conforme as reverberações passavam por ele. Tudo o que ele sentia, tudo o que estava acontecendo, era tudo muito novo para ele, então deveria ter certeza de que tinha entendido completamente a situação à sua frente, antes de continuar.
Seus olhos voltaram-se para Ginny, brilhando lenta, mas certeiramente para o foco, para encontrá-la sentada bem na beira da cama dele, tão imóvel, tão tranqüila. Ela parecia praticamente catatônica. Mas seus olhos... eles estavam esbugalhados, em pânico e ressentidos. E então ele soube. Como se um punho houvesse segurado em volta de seu coração e apertado até que ele visse a verdade, Ele sabia o que seus instintos estavam tentando lhe dizer. Não era por acaso que isso era tão novo para ele. Ginny escondera isso dele de propósito. Ginny havia mentido para ele, que não percebera.
Ele olhou para o outro lado, a amargura fervendo em suas entranhas até atingir suas veias, fazendo bolhas debaixo de sua pele até que todo o seu corpo ficou quente, formigando com o suor.
O choque das mentiras auto-infligidas por seus pais provocaram estragos quanto ao seu lugar no mundo, com o nome de sua família. Ele passara de um menino para um homem devido ao trabalho duro que havia feito juntando aquelas coisas até que elas ficassem fortes como nunca.
Mas isso era pessoal. Ginny escondera dele grande parte de sua constituição e arremessou isso na fundação do homem que se constituíra. Aquela lição precoce o ensinara a nunca confiar nas primeiras impressões. Para não julgar a pessoa pela aparência, para acreditar que todo mundo tem objetivos não ditos. Mas, por ela, ele havia relaxado, balançado, permitindo-se acreditar, talvez, apenas talvez, que ela era diferente. No fim, ela não era melhor do que as outras, escolhendo o que revelar a seu respeito e o que esconder de acordo com o que melhor a beneficiaria. E ele, um homem de trinta e cinco anos, com um MBA e uma companhia multimilionária sob seu comando, fora levado de volta à estaca zero. Em um instante, a excitação correndo em suas veias se dissipou, e, com isso, veio uma tranqüilidade endurecedora. Desta vez, ele aprendera sua mais dura lição, não como um menino, mas como homem. E desta vez ele jamais esqueceria.
Ele olhou para cima e encontrou o rosto dela como uma ilustração da infelicidade quando o olhou nos olhos. A dor latejou profundamente dentro dele, mas Draco a afastou tão rápido que ela se encolheu, gemendo em um canto escuro e frio.
Ele não se importava. Não mais. Nunca mais. Fortalecido por aquela verdade, ele olhou bem dentro dos olhos dela.
- Bem lá no fundo, acho que eu sempre soube.
- O quê ? - perguntou Ginny com um suspiro, como se ela estivesse prendendo a respiração esse tempo todo.
- Sabia que você era boa demais para ser verdade.
Ela nem piscou. Não desviou o olhar. Era quase como se tomasse as palavras dele como uma punição merecida.
- Eu sinto muito que você pense isso. Mas, para ser franca, nunca fingi que era boa.
- Não. Você só fingiu ser sincera.
- Eu nunca fingi ser boa - disse ela, seu queixo virando um pouquinho - E, certamente, nunca fingi ser perfeita. Sou uma mulher com um passado, que cometeu erros, e tenho certeza de que continuarei cometendo. E você não é fácil de conviver também, sabia ?
- Eu nunca lhe menti.
A vida cintilou em seus olhos, brilhante e quente. Suas narinas flamejaram, como se estivesse pronta para uma luta, mas ela engoliu a respiração seguinte, depois lambeu os lábios antes de dizer:
- Você pode dizer sinceramente que, em cada segundo que estivemos juntos, você disse a mais absoluta verdade ?
- Claro.
- Que disparate ! - ela se virou de modo que seu joelho ficou voltado para o dele, nu debaixo da camiseta enorme que mal cobria suas coxas, e balançou a cabeça. Seu cabelo caiu por sobre seus ombros em grandes ondas despenteadas.
Draco sentiu que estava ficando excitado. Ele massacrou a sensação.
- Todo mundo mente - insistiu Ginny - Seja por omissão, por tempo ou simplesmente para não ferir os sentimentos de alguém.
- É por isso que você esperou para me contar sobre seus noivados fracassados ? Para não ferir meus sentimentos ?
Certamente causou uma reação. Ela saltou da cama como se as fagulhas de seus olhos houvessem se espalhado pelo corpo.
- Sim - disse ela - Não. Talvez eu não quisesse meus sentimentos feridos. Não sei. Mas, agora, com certeza você sabe.
Ela estendeu os braços em redenção, como se isso fosse tudo o que ela tivesse.
Bem, ele havia chegado ao fim de suas forças também.
- Agora eu sei - disse ele - Sei que nunca conheci você de verdade.
Ela meio que riu, meio que soluçou.
- Coloque você e minha mãe em uma sala juntos e você encontra um milhão de razões pelas quais eu não deveria ganhar o prêmio de melhor pessoa do ano. Mas dê um tempo. Eu estou apenas tentando viver neste mundo com os parcos recursos emocionais que me foram dados. Como todo mundo, como você.
Isso era suficiente. Ele não queria ouvir isso. Não queria uma discussão. Não queria um consenso. Enganara-o uma vez, culpa dela. Caso fosse enganado pela segunda vez, ele não conseguiria se olhar nos olhos de novo.
Ele ficou de pé, pegou um pulôver e um jeans de cima do sofá no canto de seu quarto e os vestiu com o corpo ainda molhado.
- Draco, espere. Não faça isso. Converse comigo, por favor. Pergunte- me o que quiser. Vou contar a mais pura verdade.
- Qualquer coisa ? Diga como você se sente com relação a mim.
- Eu quero você, Draco. Você sabe que quero - disse ela e, por um breve momento de cegueira, ele acreditou nela. Até que o rosto dela lentamente perdeu toda a cor, e Ginny concluiu: - Só não posso prometer que vou querer você para sempre.
Ela olhou para a caixa do anel que tinha voltado para a sua mão. De alguma maneira, as coisas malditas voltavam como bumerangues. Ela estendeu a caixa para ele, a mão tremendo como se o pequeno recipiente pesasse uma tonelada.
Ele encarou a caixa do anel como se fosse uma bomba com o pavio aceso, antes de seus olhos voltarem a encontrar os dela, soturnos, frios, vazios. E nesse instante, ela sabia que não havia mais o que fazer. Não dava para voltar a ser como era antes. Nada mais de fazer as regras conforme as coisas acontecessem. Ginny esperou que o alívio tomasse conta de si, mas isso não aconteceu. Talvez tudo fosse muito cru, muito repentino, muito cedo. Mais do que muito cedo...
- Draco...
Mas ele não queria ouvi-la. Ele saiu feito um furacão do quarto, pegou as chaves de onde elas haviam sido jogadas com pressa na noite passada e foi até a porta da frente.
Ela o seguiu com os pés entorpecidos. Na verdade, todo o seu corpo estava entorpecido, como se tivesse sido feito de gelo.
Ele parou. Seu corpo praticamente vibrando com o esforço. Quando ele se virou, seus olhos cinza estavam totalmente lúgubres.
- Volto em uma hora. Quando eu estiver de volta, quero que você tenha ido embora.
E com isso ele partiu. Do apartamento. Da vida dela.
Enquanto Ginny tentava dizer a si mesma que ela fizera a coisa certa, que ela conseguira a força de vontade para fazer a coisa certa, no momento certo, não se sentiu mudada, ou adulta, ou vingada por ter quebrado o padrão de sua vida inteira. Sentiu-se vazia, sozinha, perdida. Como se a implosão do relacionamento fosse uma espécie de supernova, obliterando suas emoções até que elas fossem nada mais que pedacinhos de poeira espacial flutuando no vácuo.
Ginny se perguntou se o modo como se sentia agora era de certa maneira parecido com o que os outros sentiram quando ela fora embora. Se era, então ela merecia cada pedacinho desse sentimento.
P. S.: E, a seguir, o último capítulo.
