Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Ally Blake, que foi publicado na série de romances "Modern Sexy", da editora Harlequin Books.


Capítulo 10

Alexandra estava parada na porta do escritório de Draco, de braços cruzados, parecendo não estar feliz com alguma coisa. Pela primeira vez ele a ignorou, afinal não tinha tempo para se importar. Sentindo uma necessidade de estar categoricamente certo, ele pedira para ver a última série de propostas beneficentes antes de permitir que elas fossem levadas a cabo, o que significava trabalhar dia e noite. Ela suspirou.

- Agora não, Alexandra - grunhiu ele, franzindo o cenho para o documento que estava aberto no computador diante de seus olhos cansados.

- Agora sim - disse Alexandra.

Draco elevou os olhos e olhou para ela.

Ela olhou também.

- Eu estava no laboratório de TI procurando Blaise, quando ouvi duas moças da contabilidade do lado de fora da porta. Uma delas estava quase chorando porque você foi grosso com ela por algo que ela nem tinha feito. O que está acontecendo com você ?

Ele rangeu os dentes.

- Está bem. Vou me desculpar com ela. É só isso ?

Alexandra fechou a porta quando entrou lentamente, depois alisou a saia na parte de trás quando a apoiou na mesa dele.

- Conte tudo. O que está errado ? Seu terno favorito está na lavanderia ? Erros gramaticais em todas as propostas ? Vida amorosa fracassando ?

Ele sentiu o músculo atrás de seu olho esquerdo se contrair.

- Ginny e eu não estamos mais nos vendo.

- Não ! - gritou Alexandra - O que você fez ?

Desistindo, ele fechou seu laptop.

- O que faz você pensar que foi minha culpa ?

- Você é o homem. Claro que é culpa sua.

Ele suspirou parecendo desamparado.

- Oh, meu irmão. O que aconteceu ?

Draco balançou a cabeça.

- Não importa.

- Importa para mim.

- Ela não era quem eu pensei.

- Pff. E quem é ?

- Parece que já esteve noiva outras vezes.

- Ce-e-erto.

- Três vezes.

Os olhos de Alexandra se arregalaram, mas ela não disse nada por um tempo, enquanto tentava entender aquilo.

- Casada ?

- Não que eu saiba.

- Bem, isso já é alguma coisa. Mas tenha dó, Draco, você está realmente surpreso que apenas três homens tenham se derretido por ela ?

- Quatro - perdido por um, perdido por mil... - Eu comprei um anel.

- Mostre - pediu Alexandra, com a mão estendida.

- Não está aqui. Na verdade, eu não sei onde está. Pelo que eu sei, ainda pode estar com ela.

- Você quer que eu pegue de volta ?

- Pegar o quê de volta ? - perguntou ele, passando a mão em seu pescoço endurecido.

- O anel. Eu iria lá e mandaria que ela devolvesse para que você pudesse ter o seu dinheiro suado de volta. Gaste isso em umas férias em Ibiza, ou em outro terno cinza, ou em um carro chamativo novo. As mulheres gostam de carros chamativos, você sabe. Especialmente aquelas que fazem um rompimento ficar fácil de ser esquecido.

Ele respirou profundamente e tentou se imaginar com uma mulher assim. Ele realmente tentou. Em vez disso, sua mente rumou para a imagem de Ginny encostada no capô de um Z9, brilhante, cheio de curvas. Vermelho.

Frustração e arrependimento o apunhalaram nas entranhas, com ataques ferozes. Tudo para ser vazio. Porém, ele chegaria lá. Mais alguns funcionários que passariam a noite chegando à sua mesa, lendo formulário atrás de formulário para pedir dinheiro seriam suficientes para drenar todas as emoções de qualquer homem.

- Draco... - disse Alexandra, com uma insistência que o fazia pensar que não era a primeira vez que ela o chamava - O anel ?

- Deixe para lá, Alexandra. Por favor. Eu sou crescidinho. Se eu decidir que o quero de volta, então vou buscá-lo.

A palavra "se" ficou pairando no ar entre eles. Mas só ele sabia o que realmente significava.

Independentemente de qualquer desavença que tivesse acontecido com eles, o anel era para Ginny. Não era dele para poder devolver.

Finalmente, a irmã saiu de sua mesa e deu um beijo no topo da cabeça dele antes de andar até a porta. Quando chegou ali, virou-se.

- Você é tão decente, honrado, e você tem a si mesmo e os que o rodeiam em tão alta conta.

- Obrigado.

- Não foi um elogio, Draco. Eu estou dizendo que Ginny deve ter precisado de muita coragem para contar sobre os outros para você, sabendo que tudo ia se voltar contra ela.

- Alexandra - grunhiu ele.

Ela ergueu a mão.

- É claro que eu sei que a aparente visão de perfeição sentada aqui na minha frente é fachada. E se ela é metade da moça que você pensou que fosse, ela também já percebeu isso.

Ele abriu seu laptop e o encarou sem ver por alguns bons segundos. Depois, procurando uma distração, começou a mexer na mesa, abrindo gavetas, buscando algo para fazer. Canetas tilintaram até a frente de uma das gavetas até caírem suavemente em um dobra de seda e cetim prateado, e ele perdeu o fôlego.

A echarpe de Ginny. A lavanderia a havia encontrado no blazer de seu terno algumas semanas atrás. Era uma que ela colocara no bolso enquanto chorava nos braços dele.

Ele pegou a echarpe da gaveta. O perfume do cabelo dela se espalhou para tentá-lo. Então, ele se lembrou tão claramente, como se ela estivesse parada à sua frente, do olhar dela quando ele lhe dissera que estava tudo acabado. Quando ele deixou de lado o desmazelo glorioso e a seminudez que ainda assombravam seus sonhos, o que sobrava era o olhar tão abandonado que poderia fazer um homem mais fraco do que ele chorar. Então, Luna havia ligado para ele, tentando explicar o caso de Ginny. Dizendo-lhe que ela sempre superara os outros rompimentos com elegância, mas desta vez estava destruída. Ele rangera os dentes e lembrou a si mesmo que as coisas nunca foram como pareciam ser. Pensara que ela era a mulher ideal, mas para ela, ele era apenas mais um entre muitos.

E talvez esse fosse o maior problema desde o começo. Ele a havia considerado erroneamente diferente. Ela claramente o encarara como sendo exatamente a mesma coisa. E para os dois isso jamais mudara.

- Que vá tudo para o inferno - disse ele para ninguém em particular ao jogar as coisas no fundo da gaveta. Sua assistente enfiou a cabeça pela porta. Com um sorriso, ele a mandou embora. Ela estava com Draco há tempo suficiente para saber que era melhor fechar a porta do escritório dele.


Ginny se enfiou debaixo do cobertor no sofá, ainda de pijama, as unhas dos pés pintadas de preto. Luna a estava mimando com infindáveis chocolates quentes e DVDs de filmes de terror. Mas, por dentro, ela não poderia se sentir mais diferente. O alívio não viera no dia seguinte e certamente nem nos dias subseqüentes. Perda, raiva e desapontamento a tomaram em ondas. E desejo, tanto desejo. Ela sentia tamanha saudade de Draco que latejava dentro dela como uma ferida aberta.

Deus, por que ela ainda não tinha superado isso ?

Estava acabado. Ele tinha deixado bem claro.

- Só para você saber, eu fiz o último chocolate quente - gritou Luna.

- Minha cintura agradece ! - gritou Ginny em resposta, enquanto ia para seu quarto. Ela apanhou a pequena caixa preta que andava ali, fechada, por mais de uma semana. Ela não havia conseguido escondê-la na cômoda com os outros, que podiam ser seus segredinhos sujos, mas este aqui era... diferente. Antes que pudesse refrear-se, ela enfiou a unha do dedão na saliência e abriu-a. O som suave da dobradiça funcionando podia muito bem ser de unhas passando na lousa pelos arrepios que desceram por sua espinha.

Uma centelha de luz refletida chegou ao seu olho. Ela mexeu a caixa e viu uma cama de veludo bege, na qual estava colocado um anel de diamantes. A mão dela estremeceu a caminho de sua garganta, como se isso pudesse protegê-la da emoção que se apossava dela por causa da visão do anel.

Em uma faixa de ouro branco, um modesto solitário estava aninhado em uma flor de pétalas curvas incrustadas com trilhões de pequenos diamantes planos. Era lindo demais. Demasiadamente alegre, afinal viera de um homem que dizia nunca tê-la realmente conhecido.

Luna enfiou a cabeça pela porta.

- Você está bem ?

Ginny chacoalhou seu pé para evitar a dor aguda do sangue voltando a fluir em seus pés.

- Na verdade, acho que sim.

- Anel bonito, não é ? - mesmo Ginny ouviu o suspiro na voz dela - Muito mais a sua cara do que os outros.

- Eu estava pensando exatamente a mesma coisa.

Luna virou o rosto para o lado antes de afundar na cama, perto de Ginny.

- Explique de novo por que você disse não.

- Eu não disse não. Nunca dei a chance de ele pedir a minha mão.

- Certo - disse Luna - Boa tática.

Depois de uma longa pausa durante a qual o único som era dos passarinhos do lado de fora da janela de Ginny, a roupa de cama farfalhou quando Luna se moveu.

- Mas você o ama, não ama ?

Deus, como ela o amava ! Era como um turbilhão dentro dela, rápido, furioso e de tirar o fôlego. Como poderia não amar ? Ele era bonito, engraçado, sofisticado, doce, sexy demais. Só um homem como ele tinha alguma chance de desmontar cada barreira que ela pusera entre ela mesma e uma possibilidade de amor.

- Sim - disse ela - Eu amo. Eu o amo. Não que isso importe agora.

- Por que diabos não ?

- Ele é a minha punição merecida.

- Ele não é um anjo da vingança, amiga. Ele é apenas um homem.

- Só um homem ? Draco Malfoy é tão apenas um homem quanto é um sexo casual. Ele é a melhor coisa que jamais tive na vida.

- Ele também é apenas um homem que a ama.

- Ponha o verbo no passado.

- Você realmente acha que ele poderia esquecer assim tão facilmente ?

- Mas eu não sou ele.

- Graças a Deus que não. Quer dizer, imagine as fotos do casamento. Estranho.

Ginny riu pela primeira vez em dias.

Ela piscou com a luz do Sol da tarde, buscando desesperadamente pelo lampejo de... de algo que a centelha do anel havia acendido dentro dela. E encontrá-la. Pouco a pouco, centímetro a centímetro, a bruma que havia descido sobre ela começou a se dissipar. Se ela fosse retomar a vida, de verdade, não só de brincadeira, sabia o que tinha que fazer. Ela se arrastou para ficar em pé, suas pernas bambas pela falta de uso.

- Calma aí, amiga - Luna ficou de pé e segurou-a pelo cotovelo.

Ginny esperou um instante para se equilibrar. Esfregou os olhos, ajeitou os ombros e se encaminhou para seu armário. "Não faça prisioneiros", ela pensou enquanto se concentrava em vestir um par de jeans, uma camiseta branca e um blazer limpos e calçar sapatos baixos.

Ela amarrou o cabelo para trás em um rabo-de-cavalo soltinho, passou sua maquiagem de guerra. Ia precisar de toda a confiança que pudesse conseguir para fazer o que viria a seguir.

- Aonde você vai ? - perguntou Luna, enquanto Ginny escovava os dentes como se estivesse se preparando para uma audição de propaganda de pasta de dentes - Já sei, vamos à Shangri-Lovely deixá-la novinha em folha. As unhas do seu pé estão pintadas de preto há uma semana. Não é saudável. Parece que passaram por cima delas. Pensei em uma cor de esperança; amarelo, como um dia novo e brilhante.

- Combinado. Mas primeiro há outra coisa que eu preciso fazer.


Ela parou em frente às charmosas casas geminadas Fitzroy, seus joelhos tremendo tanto que parecia que ia visitar a rainha. A rainha bem que teria oferecido chá. Se o homem por trás daquela porta apenas a abrisse, ela já ficaria chocada até o último fio de cabelo.

- Ginny ! - ele estava chocado, claro. Porém, não dava mais sinais de que ela havia destruído seu coração.

Um sorriso sincero se espelhou pelo rosto dela ao dizer:

- Oi, Harry. Eu sei que é uma surpresa e entendo completamente se você quiser me jogar escada abaixo, mas eu realmente gostaria de entrar para conversar.

Seu ex-noivo respirou fundo enquanto a observava, já que uma dúzia de emoções diferentes passava por seu rosto gentil, mas algo nos olhos dela pareceu acalmá-lo. Ele franziu o cenho de leve, sorriu um pouco, depois balançou a cabeça como se soubesse que isso ia acontecer desde o começo.

- Entre - disse Harry - Café ? Cerveja ?

- Todas as anteriores.

Ao passar pela porta da casa de seu antigo namorado, sua mão alcançou a bolsa onde os anéis de noivado, o dele e dois outros, estavam guardados cuidadosamente, prontos para voltarem para seus donos de direito. O quarto anel, uma linda flor de diamantes que fazia a pessoa sorrir apenas de olhar, estava em sua casa, seguramente guardado debaixo de seu travesseiro.


Na segunda-feira logo cedo, Draco ficou em frente ao conselho da Fundação Malfoy, enquanto Alexandra distribuía alegremente prospectos que ele passara o fim de semana aperfeiçoando.

- Senhores e senhoras - vociferou ele, tirando a atenção das pessoas dos papéis e trazendo para ele - Vocês já devem ter percebido a essa altura que há à sua frente uma proposta para levar a Fundação Malfoy para sua próxima e, acredito eu, melhor encarnação.

Murmúrio, negações e muito tumulto surgiram, até que Draco os acalmou com as mãos abertas e uma explicação completa da razão pela qual ele estava pedindo sua resignação, e como ele acreditava que chegara a hora do legado de seu avô ser o único poder que sua família devia ter sobre a fundação. Ele olhou para Alexandra em meio ao discurso. Esperava vê-la sorrindo, como co-autora que era, mas em vez disso ela estava mordendo os lábios, tentando desesperadamente não chorar.

Ela se livrara admiravelmente da confusão em que seus pais os meteram. Agora era a vez dele. No fim da reunião, os termos haviam sido acordados em princípio, com apenas algumas partes legais para finalizar antes que se batesse o martelo. Quando o conselho percebeu as possibilidades que o afastamento da família Malfoy traria, ficou menos chocado e mais animado. Para a fundação, sim, porém mais inesperadamente para ele. Cada um deles veio apertar sua mão e agradecê-lo por fazer da fundação a potência que era hoje.

- Seu avô estaria orgulhoso - disse um senhor que fazia parte do conselho desde o tempo de seu avô.

- Ele não estaria se revirando no túmulo ? - perguntou Draco.

- Claro que não ! Se ele houvesse conseguido ficar mais cinco anos, antes que o sangue que ele deu por este lugar finalmente o matasse, teria feito o mesmo !

Draco apertou a mão do homem e saiu da sala do conselho sentindo-se bem. Muito bem !

Andando até o elevador, por força do hábito, verificou seu celular e viu que tinha diversas chamadas perdidas. Claramente a notícia já havia se espalhado. Ele reconheceu alguns números da imprensa, da concorrência, família, alguns amigos. E então um nome apareceu na tela, fazendo seu coração bater tão rápido contra o peito que colocou a mão fechada sobre ele e inspirou longa e cuidadosamente. Ginny. Ela ligara havia apenas dez minutos.

No instante em que a porta do elevador se abriu na garagem, o telefone tocou de novo. Ele atendeu e uma voz muito familiar disse:

- Draco.

- Ginny - disse ele.

- Draco - disse ela novamente enquanto ele se sentava no banco do motorista - Eu gostaria de vê-lo, se puder. Há... coisas que eu gostaria de dizer.

As mãos dele seguraram na direção de couro e seus dedos se fecharam com força. Havia se passado mais de uma semana desde a última vez que a vira, parada ali em sua cozinha, aquele cabelo gloriosamente despenteado, pernas de fora até a altura da coxa, curvas mal escondidas debaixo da velha camiseta vermelha dele, que caía um pouquinho por sobre um ombro.

Sim. Seria bom vê-la de novo sob uma perspectiva menos provocante. Talvez fosse isso que o ele precisava para terminar de vez.

Ginny escolheu o lugar. Draco arregalou os olhos, surpreso. Ele viu seu reflexo nas janelas coloridas. Seu cabelo não estava tão arrumado quando costumava estar. Manchas escuras debaixo de seus olhos. Seus lábios, um traço fino em um rosto cansado.

- Ginny - disse ele, ao acelerar o motor.

- Sim, Draco.

- Traga o anel.


O Sand Bar parecia diferente no começo da noite. Silencioso. Elegante, com a conversa baixa da turma do happy hour e com o blues suave dos anos 1970. Embora o humor de Ginny não pudesse ser mais diferente. Enquanto mais cedo naquele dia ela sentira como se flutuasse a três centímetros do chão - era o que se livrar de cinco anos de bagagem na forma de jóias irrelevantes fazia por uma mulher - , agora ela se sentia tão nervosa que mal podia ficar quieta.

Ela mudara de roupa dez vezes antes de sair de novo, precisando de um pouco mais de sensualidade. Especialmente depois das últimas palavras que Draco dissera a ela tilintando em sua cabeça.

"Traga o anel".

Os dedos dela fecharam-se com força em volta de sua bolsa de fecho esmaltado, na qual repousava delicadamente o anel, como se ela esperasse que um ladrão pulasse de trás do bar e a arrancasse dela !

Seus joelhos ficaram bambos ao pensar em devolvê-lo. Não só porque era o anel mais bonito de todos, mas porque, como ela soubera naquele dia mais cedo, isso marcaria o verdadeiro fim de seu relacionamento com Draco, mais do que palavras atiradas com raiva e decepção jamais poderiam fazê-lo.

"Traga o anel".

Ela afastou a voz de Draco da cabeça. Não era a vez dele. Era dela. A vez dela de dizer o que quisesse, não o que ela achava que deveria por medo de perder tudo o que amava. Pensar assim só a condenava a ficar sozinha.

- Que se dane ! - disse ela ao lustre acima de sua cabeça

- Ginny ?

Draco. O nome dele veio para ela como um suspiro interno. Ela fechou os olhos, para segurar as lágrimas que se juntaram ali ao som da voz profunda e aveludada dele. A voz do homem que amava.

Ela virou-se. Draco estava a poucos metros. Terno cinza, camisa branca impecável, gravata listrada clara. Deus, ele era bonito. Bonito, e estava sofrendo.

- Obrigada por ter vindo. Você gostaria de se sentar ? Cerveja ? - perguntou Ginny, acenando para o barman que ela beberia o mesmo. Ela se acomodou no banco ao lado de Draco, com cuidado para não encostar o joelho no dele.

- Cerveja - disse ele com uma aceno decisivo, seus longos dedos brincando com um apoio de copo de papelão - Deixei meu posto na fundação esta tarde.

- Você nunca faria isso !

- Eu fiz.

- Meu Deus. Você teve uma semana e tanto.

- E você ?

- Bem, pintei as unhas dos pés.

Ele sorriu, parecendo tão triste.

- Bem, vamos ao que interessa. Há coisas que eu gostaria de esclarecer, se eu puder.

- Estou aqui para ouvi-la.

- Naquela noite em que nos conhecemos, algumas coisas estavam acontecendo comigo. Eu estava lidando mal com os erros que cometi. Erros em um relacionamento no qual eu confundi afeição com amor. Uma vez, outra, e mais outra. E justo quando decidi que precisava mudar as coisas, ali estava você. Puro paraíso em um terno cinza-escuro. A própria idéia de que um homem como você jamais poderia se encontrar... apaixonado por mim... - Ginny engoliu em seco, a palavra criando fogos de artifício dentro dela - Parecia tão provável quanto eu ser meio marciana.

- Pelo lado de sua mãe - disse Draco, sem uma pausa.

Risadas escaparam da boca de Ginny. Alívio, esperança e medo piscavam para ela como luzes de discoteca, acendendo e apagando, misturando e esvaindo, fazendo-a se sentir tonta, especialmente quando Draco voltou a franzir o cenho para sua cerveja.

- Marciana ou não, sou filha da minha mãe, e sabendo como ela ficou tão fria e amarga, e assim permaneceu, depois que papai morreu... eu sempre pensei que gravitaria em torno de homens que me dessem a afeição que me faltou na adolescência. Mas agora me pergunto se eu escolhia homens que sabia que nunca me deixariam tão profundamente com o coração partido como o da minha mãe ainda está, quando fossem embora. Uma das duas razões. As duas, quem sabe ? O que eu realmente sei é que tudo aquilo terminou no dia em que conheci você. Não me orgulho do que fiz você pensar no dia em que nos separamos, Draco, mas quero que saiba que você não foi um acidente. Procurei especificamente por você. Eu o queria porque, desde o momento em que te toquei, sabia que era diferente de qualquer homem que eu conhecera.

Ela respirou fundo e ergueu a cabeça para encontrar-se capturada por um par de olhos cinza excitantes. Olhos que já não pareciam mais tão assombrados. Olhos que continham uma faísca de sorriso.

Deus, mas ela o amava. Para sempre. Como pôde não perceber isso antes ? Nada disso importava. O que importava era que agora ela sabia. E queria que ele também soubesse.

- E então o que aconteceu ? - perguntou ele, deslizando a mão pela perna de Ginny, as pontas de seus dedos procurando o caminho debaixo da barra da saia dela.

- Eu me apavorei, é claro ! - disse ela - E então descobri, para meu constante desgosto, que você não era apenas um homem lindo de terno, e me apavorei um pouco mais. A idéia de felicidade eterna me apavorava. E quando encontrei seu anel... para mim ele representava o início do fim. E pensar que nunca veria você de novo, de nunca mais me sentir assim...

Draco deslizou a mão alguns centímetros para cima, sentindo-a tensa conforme a sensação do toque dele reverberava através dela. Os olhos cinza dele se enevoaram, cheios desejo.

- Eu senti saudades de você, Draco. Loucamente. Senti sua falta como o tipo de dor que vai fundo nos ossos e que eu passei a vida toda evitando. E depois percebi que só havia um jeito certeiro de evitar me sentir assim. E que tudo o que eu tinha de fazer era me soltar e me deixar amar você. E então foi o que eu fiz.

Ela parou para tomar fôlego. Profundamente. Um que estremeceu seu âmago e a fez sentir ligeiramente tonta. Mas quando os dedos de Draco se enroscaram firmemente nos seus, Ginny sabia que a espera, os erros, todas as tentativas fracassadas que levaram a este momento valeram a pena.

- Desculpe-me por ter ficado tão enlouquecida quando encontrei esse anel, e me desculpe de antemão por não poder prometer que não ficarei enlouquecida de novo em algum momento no futuro. Mas é isso o que você terá se ficar comigo. Eu não sou fácil e faço um drama ocasionalmente. Mas espero que isso seja metade do motivo pelo qual você me quer. E eu quero que você me queira. Mais do que qualquer palavra pode dizer. Porque eu estou completamente, para todo o sempre, apaixonada por você, Draco Malfoy.

Draco olhou para ela como se fosse louca, até que o rosto dele mostrou que havia entendido. Os olhos dele se arregalaram, ficou boquiaberto.

Se ela não estivesse meio que imaginando o que era aquela coisa viscosa na qual havia ajoelhado, até teria sido engraçado.

Ele olhou em volta alarmado, como se a polícia romântica estivesse prestes a prendê-lo por deixá-la ali ajoelhada por tanto tempo. Então, com uma força de tirar o fôlego, segurou-a pelos cotovelos e a levantou inteiramente do chão. Seus pés pousaram no chão com um tilintar dos saltos.

- O que diabos você pensa que está fazendo ? - perguntou ele, seus olhos arregalados, sua voz ríspida.

- O que você acha ?

- Não ! - disse ele tão alto, que várias pessoas do outro lado do bar viraram e ficaram olhando. Ginny meio que sorriu para elas para mostrar que estava tudo bem, mesmo ela não tendo a menor idéia se estava.

Notando que as pessoas não tirariam os olhos deles, Draco praguejou baixinho, depois a segurou pela mão e a conduziu para a pista de dança, que estava parcialmente cheia com casais dançando música lenta.

- Eu estraguei tudo de novo ? - perguntou ela, conforme andava atrás dele.

- Você contou a sua parte e, antes que você faça alguma coisa doida, eu quero contar a minha - disse ele, com a voz seca - É justo ?

Ela fez que sim.

Ele envolveu os braços em volta dela, puxando-a para perto. Ela deslizou a mão até a dele e colocou a outra sobre seu coração, que batia tão rápido que ela conseguiu senti-lo através da camisa.

- Ginny.

- Humm - murmurou ela.

- Olhe para mim - Ginny fez como ele pediu, olhando para os olhos cinza, cabelo loiro-pálido e expressão sombria.

A primeira vez que ela o vira, o imaginou inalcançável. Desta vez, ela tirou a mecha de cabelo da testa de Draco, seus dedos pinicando conforme acariciava a pele morna dele

- Bom, porque estes últimos dias foram um inferno. Tive que abrir mão da empresa da família só para ter algo que afastasse você dos meus pensamentos. Não quero passar por isso de novo. E para isso tenho que vê-la todos os dias. Conversar com você sempre que eu precisar. Tocar você sempre que eu quiser. Fazer amor com você quantas vezes por dia seja humanamente possível. Abraçar você toda noite pelo resto de minha vida. E eu estou disposto a fazer o que quer que seja necessário para fazer isso acontecer. Casar com você, não casar. Dar um anel a você, dar uma ilha. Adotar uma lhama, adotar Luna. O que for necessário.

Ele colocou um dedo embaixo do queixo dela e levantou sua cabeça para que ela pudesse ver profundamente a sinceridade absoluta em seus olhos cinza.

E lá ela viu a profundidade do amor dele por ela e o entendeu completamente. E pelo sorriso que lentamente brilhou em seu lindo rosto, Ginny só podia imaginar como brilhava o amor dentro dela também.

- Desculpe-me - disse ela, com a voz trêmula.

- Por quê ?

- Por dizer sim para outros homens sem que fosse verdade.

- Querida, se você tivesse idéia de como estou feliz por não ter sido de verdade com eles, você não pareceria tão preocupada agora.

Ginny deslizou a mão pelo cabelo dele, ficou nas pontas dos pés e o beijou com toda a vontade. A música parou, ou talvez não. Ela não conseguia ouvir nada, só os batimentos de seu coração desenfreado. Ou seria do dele ?

Quando os lábios de Draco se afastaram dos dela, Ginny sentiu como se estivesse flutuando a um palmo do chão, como se o peso que carregara nos ombros por toda a vida finalmente tivesse saído. Ela era amada. Amada verdadeira, sincera e profundamente. E ela amava alguém da mesma maneira. Não era nem um pouco como pensara que se sentiria. Era mais inebriante. Era uma sensação com a qual jamais se acostumaria, nunca pensaria que estava garantida. E só havia um homem bonito a agradecer por tudo isso. E a música começou novamente e, ao poucos, ela voltou ao chão, deslizando pelo corpo dele, como se separar-se de Draco, mesmo que só por meio segundo, fosse muito para agüentar.

- Então, o que você achou das minhas idéias ? - perguntou ele.

- Para mim parecem boas - disse ela, passando a mão voraz por sobre os ombros largos dele.

- Que partes ?

- A ilha. A lhama. Você.

Ele relaxou, e Ginny percebeu como Draco estivera nervoso com toda a declaração dela. Nossa. Isso só a fez amá-lo mais. Ela se afundou nele, bamba, quente, feliz. E o melhor de tudo: ele deixou.

- Você se deu conta de que eu estou oficialmente desempregado ? - disse ele, seus lábios repousando em cima da cabeça dela.

- Nós vamos ficar bem. - ela suspirou no peito forte dele - Eu tenho um bom emprego. Você vai conseguir pagar seu aluguel ?

- Por quê ? - perguntou ele, sua voz agora ressoava - Você está se oferecendo para me ajudar ?

- Claro - murmurou ela, seus dedos agora brincando com a pele exposta pela gola aberta - Minha cama é grande o suficiente para dois, o que nós provamos admiravelmente. E Luna é uma hóspede bastante quieta, na maior parte do tempo.

A risada dele reverberou através dela.

- Não aconteceria nem em um milhão de anos.

Ela sorriu desde a ponta de seu cabelo até as unhas dos pés.

- Oh, bem. Foi um pensamento divertido enquanto durou.

Ele passou os braços em torno da cintura dela e a deslizou por sua excitação, que ficava mais firme a cada segundo.

- Que tal isso para se divertir ? Dance comigo.

- Está bem - Ginny suspirou nele, movendo-se no mesmo ritmo que a música, enquanto suas mãos passeavam pelo peito lindo, pelas costas fortes, por aquela barriga dura, pelo monte gelado da fivela do cinto dele.

- Foi mais fácil do que eu esperava.

- Parece que você me encontrou com um bom humor inesperado.

- Estou vendo. E pretendo me aproveitar completamente.

- Vá em frente - disse ela, fechando os olhos ao se debruçar sobre o peito de Draco, o coração dele batendo gentilmente contra sua têmpora - O que você quer ? Um bom desconto em um Z9 ? Feito. Algo mais ?

A mão dele desceu até o queixo dela, deixando-o parado enquanto ele olhava profundamente nos olhos dela.

- Case comigo.

Algo cintilou no canto dos olhos dela. O anel. Seu anel.

- Sim - disse ela, nunca antes tão certa de nada em toda sua vida. Ele colocou a flor de diamantes no dedo de Ginny. A aparência era a mesma que ela sentia: encantamento, felicidade, esperança. Ginny levou o anel até a orelha. Os brincos de sua avó, um candelabro de vidro com pequenas flores no fecho que escolhera com seu pai, tantos anos atrás, em uma lojinha simples, e que tinha custado toda a sua poupança, quase dez dólares inteirinhos, balançou suavemente perto de seu pescoço - Veja, eles combinam.

- Eu sei.

Claro que ele sabia. Draco sabia de onde ela viera e tinha a intenção de estar com Ginny aonde quer que ela fosse.

O lindo Draco Malfoy e ela... uma combinação perfeita.


P. S.: Admito que, pelo conjunto da obra, esta foi a adaptação mais hot que já fiz até hoje. Mas gostei de tê-la feito. E também confesso que, assim que vi a capa e li a sinopse da trama do livro, só uma coisa veio à minha mente: se eu pretendia adaptá-la para o fandom de Harry Potter (e essa sempre foi a minha intenção, mesmo), então o ship não podia ser outro.

P. S. 2: E aqui chegamos ao final de "Regras de Compromisso", que é a minha décima sétima adaptação. Também é a minha primeira adaptação com o fandom de Harry Potter, e, obviamente, também é a primeira adaptação com o ship Draco/Ginny. E eu espero que vocês gostem dela.

E, se gostarem... reviews, pode ser ?