Após o ataque na Arena.
A invasão de Amon na arena havia causado muita comoção, os dirigíveis percorriam a baía em busca de seguidores remanescentes. Qualquer informação extra sobre o líder Igualista era extremamente importante para a investigação. Verificou se a avatar estava bem e teve um breve momento com o rapaz que havia perdido a dobra, o iria interrogar depois, com calma, quando ele estivesse menos abalado. Ela não conseguia imaginar como se sentia alguém que tinha perdido a habilidade de dobrar, estava consternada, mas sendo um pouco egoísta ela sequer queria se colocar no lugar dele. Era impossível pensar em uma vida onde não pudesse dobrar a terra ou o metal, as duas coisas que sempre estiveram presente em sua vida, a dobra era algo de que ela se orgulhava; era seu legado, o contato mais profundo com suas raízes. A única coisa que nunca a deixou.
Lin Beifong olhou para cima e viu a cúpula de vidro quebrada muitos metros acima deles e os dirigíveis que se perdiam de vista no céu escuro de Cidade República. Sem desviar o olhar, ela podia ouvir a voz dos amigos da avatar, o rapaz que dobrava a terra falando com tanta emoção dos eventos que parecia que tinha assistido um grandioso espetáculo. O típico adolescente dramático que ela sempre evitou. Revirou os olhos e resmungou para si. Jovens eram muito empolgados e ela estava com a cabeça cheia, ocupada com o problema para dar a menor atenção ao drama adolescente. Moveu os ombros e sentiu os músculos das costas repuxar a fazendo exalar um baixo som de dor.
- Oficial Song, colete relatórios de todos os oficiais que estavam presentes e os deixe em minha sala ainda hoje, quero saber exatamente o que aconteceu nos minutos que estive desacordada. - Viu com o canto dos olhos a avatar e seu mentor do ar conversando. Ela não queria lidar com isso agora, era muito… intenso. Após se esquivar de todos os repórteres, ela seguiu para o quartel general. Ainda tinha muito trabalho para ser realizado.
Enquanto caminhava, nuvens pesadas iam se aglomerando no céu e ela sabia que ainda naquela noite eles teriam chuva na cidade.
De seu escritório ela podia notar a ausência de som da rua que durante o dia era totalmente movimentada, fato este que enfatizava o avançar da hora. Sua cabeça e músculos doíam ainda mais agora e as mãos tremiam, cortesia dos Igualistas com as repetidas sessões de eletrochoque durante o ataque surpresa. Fechou os punhos apoiando sobre sua mesa tentando se acalmar, buscando um pouco de controle. Respirou fundo algumas vezes, moveu a cabeça fazendo o pescoço estalar levemente seguido de um dos ombros. A armadura de metal era uma boa defesa contra os bloqueadores de chi, mas se provou um potencializador de ataques elétricos, em reflexo a isso sentia a terra 'turva' como se seu senso sísmico tivesse sido abalado, tudo isso só estava contribuindo para piorar seu humor.
E ela previa que iria enfrentar uma série de repórteres pela manhã junto daquela expressão pretensiosa no rosto de Tarrlok. Ele não era de todo ruim, algumas de suas sugestões para cidade haviam sido bastante proveitosas, mas no referido assunto, Amon, ele era um extremista. Lin não acreditava que exaltar os dobradores, como ele vinha fazendo era o caminho certo. Pensando bem, parecia não haver nenhum caminho certo a seguir, havia o caminho mais e o menos custoso.
E desde a chegada de Korra tudo ficou ainda mais bagunçado e polarizado em sua cidade. Amon nunca esteve tão inspirado contra os dobradores quanto agora e ela era a única sobre quem as críticas caiam. Ela quase podia ver a manchete da manhã seguinte: "Desastre na final do campeonato, Amon escapa de Chefe Beifong."
Não fazia sentido permanecer em seu escritório quando não havia nada mais que pudesse ser feito. Já havia lido mais de uma vez os relatórios. Havia cuidado de cada uma das entradas e saídas do local, havia premeditado uma dúzia de ataques, previsto tanto cenários quanto possível, mas não aquele. Infelizmente ela não tinha como saber o que ele realmente faria, nem havia mais o que fazer, e ainda assim lá estava ela sentada no ambiente a meia luz ouvindo suas próprias considerações sobre o acontecido. Apoiou o rosto na palma de sua mão trêmula e fechou os olhos focada no som de sua respiração, por algum tempo isso foi tranquilizante, o som leve de passos a fez abrir os olhos a tempo de ver a porta ser empurrada e Tenzin surgir meio a penumbra. Era tudo o que ela não precisava agora.
- Uma palavra por favor Lin. - Tenzin esteve preocupado com ela e assim que notou que ela não estava mais na arena informou a avatar que viria ver se Lin estava bem.
Ele tinha uma preocupação genuína com ela, ainda mais agora depois de assistirem juntos a partida, depois de partilharem suas considerações sobre os dois times e ouvir as risadas dela. Era como voltar no tempo e ter novamente sua amiga de volta. Foi difícil todo este tempo sem ela, por anos Lin foi sua confidente e agora não queria perder a frágil amizade reconquistada.
Lin queria dizer que não tinha tempo para ele, mas ela não tinha força suficiente para o expulsar de sua sala. E se fosse honesta consigo, havia uma parte dela que desejava ouvir a voz dele por alguns minutos a lhe dizer que tudo ficaria bem. Ele sempre foi o otimista. Tenzin sempre soube o que dizer. O perfeito político.
- Seja breve, tenho muito o que fazer. - moveu a outra mão mostrando sua mesa cheia de relatórios de seus policiais. Já havia lido todos, mas isso ele não precisava saber.
Tenzin entrou na sala fechando a porta atrás de si, fazia bastante tempo que não adentrava o domínio maior de Lin Beifong, e tudo continuava exatamente como ele se lembrava. Espíritos, quantas lembranças haviam dentro deste lugar. A pequena mesa que dividiam as refeições, o sofá onde a encontrou dormindo uma ou duas vezes. Havia tanta lembrança de quando eles eram um casal, ele nunca entendeu como ela conseguiu continuar usando aquela sala depois de tantos momentos em que… Respirou fundo, aquele não era o foco da conversa.
Ergueu a cabeça e observou cada passo suave dele em sua direção, logo o rosto de Tenzin estava sob um feixe de luz que entrava pelo vidro de sua janela com adornos metálicos. A Beifong se ajeitou discretamente na cadeira maldizendo as coisas que ele ainda causava nela quando a olhava daquela forma.
- Eu sei que estamos enfrentando um momento difícil, toda a cidade dividida entre três partes, dobradores, não dobradores e igualistas. - ele movia as mãos enfatizando suas palavras, pensando cada uma delas.
Revirou os olhos, ele nunca ia perder essa mania de enrolar o assunto com palavras que soavam como desculpa. Isso era Tenzin em sua essência.
- Corte o papo furado Tenzin! - reclamou.
- Estou aqui por achar que podemos trabalhar melhor se trabalharmos juntos. - ele ofereceu um sorriso.
- Por que acha que eu aceitaria qualquer ajuda, mais especificamente a sua?
Enquanto o tom de voz de Tenzin soava leve e orgânico, o de Lin era áspero, pesado, amargurado. Era o tom de voz reservado a ele, aperfeiçoado por anos de frustrações e por uma mágoa que ela ainda guardava dentro dela. Ficou de pé, sentiu todo o corpo estremecer com espasmos, porém seu rosto mantinha a expressão de polícia inabalável. Deu alguns passos e parou ao lado de sua mesa a mão tremendo em intervalos aleatórios onde ela movia os dedos como se buscasse controle.
- Você deveria ter um pouco mais de… cautela. - Tenzin disse sem pensar e quase se estapeou ao ouvir as palavras deixarem seus lábios.
- Me desculpe?
- Às vezes você baixa um pouco a guarda quando está preocupada.
- E isso é de sua conta, porquê? - a sobrancelha dela zombava de toda aquela preocupação que ele exibia.
Um espasmo mais violento fez Lin entrelaçar as mãos na frente de seu corpo usando ambas as mãos para estabilizar os tremores. Tenzin ergueu uma sobrancelha, Lin estava um pouco diferente do habitual, sua postura menos rígida, o olhar cansado. Ele sabia por tudo o que ela estava passando e imaginava as noites insones onde ela andava de um lado para o outro naquela sala. Ela ainda era a Lin que ele conhecia, ainda tinha as mesmas manias e ele se preocupava, nunca deixou de se preocupar, apenas o fazia em silêncio.
- Nós somos amigos Lin, eu não entendo porque tanta amargura.
- Não entende? - ela deu uma risada de sarcasmo. - Tenzin não tente voltar aqui quase vinte anos depois…
- Quinze.
- Não me interrompa! Você não tem nenhum direito de voltar aqui e exibir toda essa preocupação como se qualquer coisa a meu respeito fosse de sua conta.
O fim do relacionamento nunca foi discutido entre eles, isso deixou tantas farpas e pontas soltas que ainda machucava a ambos. Era fácil notar nos olhares que um dirigia ao outro. Sempre com uma nota de desculpas que nunca foi dita, sempre com um tom de mágoa.
- Lin eu realmente sinto muito.
Houve um momento, nos primeiros meses após o casamento, em que ele se convenceu de que havia tomado a decisão errada. Não estava apaixonado por Pema na época, ele só estava muito pressionado pois era o único dobrador de ar e Lin não parecia ter tanto interesse em uma família. O trabalho sempre em primeiro lugar. E a olhando ali de pé com o rosto cansado e as mãos tremendo dos ataques poderosos, ele sentiu novamente aquele calor no peito, o amor por Lin ainda estava lá, sempre esteve.
Lin deu um riso de quem não acreditava em uma única palavra. A mão direita se ergueu para enfatizar sua expressão de ceticismo, revirou os olhos cansada. E lá estava novamente um tremor de mão que ela tentava ignorar com esperança que ele fizesse o mesmo.
- Não perca seu tempo com desculpas tardias.
- Lin, olhe pra mim. - foi um pedido simples, uma vez que a mulher evitava o olhar nos olhos a maior parte do tempo. E quando ela o fez estava claro toda a mágoa que ainda levava consigo, ele era o único culpado. - Eu realmente…
- Não venha me dizer que sente muito. Porque você nunca voltou. Você só quer ficar em paz com sua consciência Tenzin. Não peça desculpas de algo que não se arrependa.
O pequeno caminho entre eles foi encurtado e a mão tatuada pegou a sua. Lin olhou com a visão periférica para onde as mãos se uniam e em seguida encarou o homem de pé a sua frente, ele tinha os sentimentos tão expostos que era doloroso olhar por um longo período. Foi um choque perceber que ele também tinha mágoas. Estava prestes a afastá-lo quando sentiu os dedos dele movendo-se em sua palma em uma massagem.
- Eu estava tão perdido e quebrado, eu deveria ter feito algo, mas… sempre havia alguma coisa para me prender. - ela não perdeu os olhos dele em nenhum momento enquanto ele falava.
- O tempo de pedir desculpas acabou Tenzin. - a mão dele a deixava em conflito interno, uma parte queria o tirar de sua sala, a outra queria aproveitar sem reservas a massagem.
O gesto a fez lembrar-se de um tempo onde ela recebia massagens como aquelas sempre que chegava de um longo e exaustivo turno no trabalho. Tenzin sempre estava lá com um sorriso, uma xícara de chá e suas massagens relaxantes. Até que um dia ele não estava mais.
A mão dele deixou a sua e Lin pensou que ele tinha notado o erro, notado quem ela era e estava pronto para recuar um passo, mas o polegar dele tocou suas cicatrizes em uma carícia tão leve que a fez fechar os olhos, no próximo segundo a mão dela foi segurar o pulso do dobrador de ar o impedindo de qualquer coisa.
- Não faça isso.
A voz dela era quase um sussurro, Tenzin sentia o medo mal disfarçado, sentiu o aperto em seu pulso e aqueles olhos verdes se cravaram nos seus, havia uma franqueza naquele olhar que o deixava sem fôlego, eles tinham uma facilidade tão grande com as não verbais que às vezes era mais fácil do que usar palavras. Eram seus sentimentos e a maioria das coisas que sentia ele não poderia colocar nem em um milhão de palavras.
- Você precisa descansar. - falou movendo o polegar no rosto dela.
- Eu sei. - deu um sorriso suave desejando poder o abraçar e descansar com a cabeça em seu peito.
Um piscar de olhos e mais um mover de dedos em seu rosto e eles fecharam mais o espaço entre os dois. Respirar novamente aquele perfume familiar era como estar em casa. Lin sempre pensou que casa era onde você se sentia bem, seguro. E esse lugar sempre foi nos braços dele. O que fez dela por muito tempo uma 'sem lar'.
Sua mão se moveu e ela o tocou no peito movendo os dedos sobre o tecido ocre sentindo as fibras grossas, arrastou a mão que tremia um pouco mais insistente até poder sentir o bater acelerado do coração de Tenzin. A mão dele veio tocar a sua, desfazendo os anos de distância em poucos segundos.
O monge estava atordoado com toda a proximidade dela, o cheiro dos cabelos, o calor da mão sob a sua. Ele ia se mover em direção a ela mas parou fechando os olhos ao sentir os lábios tocar seu rosto. Ela bateu o polegar no peito dele o lembrando de uma antiga conversa em que ela disse que mostraria a ele como seu coração batia quando ele chegava perto e ela reproduziu exatamente daquela maneira as batidas cardíacas. Lin estava tão eufórica quanto ele.
Havia em Lin o desejo voraz de o jogar contra uma parede, mas a sensação dos dedos dele em seu rosto anestesiava seus sentidos o mesmo tanto que queimava sua pele. Todo autocontrole que tinha lutando com o primal desejo de sentir ele novamente, completamente. Sua outra mão foi pega e eles entrelaçaram os dedos por breves segundos Lin a apertou levemente a mão dele, como se para se certificar de que era real. Nenhum dos dois interessado em trocar nenhuma palavra. Não havia mais nenhuma motivação para discussão, eles só queriam sentir um ao outro como não faziam há anos.
Já mergulhado em um mar de sensações e lembranças ele se aproximou buscando o toque macio dos lábios dela mas ela desviou com um riso leve movendo a mão para seu ombro e apertando um pouco o que o inspirou a se mover passando a perna entre as dela daquele modo em que se encaixavam tão perfeitamente, aquele gemido fino era algo que ele desejou, por anos e em silêncio, ouvir novamente.
Lin ergueu o queixo e deixou um beijo leve atrás da orelha pouco antes de uma mordida mais firme no lóbulo macio e o gemido dele foi tão pecaminoso quanto o dela segundos antes. Havia tantos pontos errados, mas havia muitos que eram nada menos que perfeitos. Lin nunca encontrou alguém que se encaixasse tão bem em seus braços quanto aquele homem. E ela era orgulhosa o suficiente para pensar que ele sentia o mesmo. Ou ele não iria estar bem ali gemendo com seus beijos que desciam para o pescoço deixando algumas marcas de batom rosado. Eles se olharam e Tenzin tocou sua testa com a dele e se moveu deixando os lábios se tocar de modo muito superficial fazendo ambos ansiosos por um beijo.
O som de batidas em sua porta a fez parar, o sangue zumbindo em seus ouvidos com força. Lin respirou fundo e se afastou de Tenzin agradecendo e amaldiçoando o mesmo tanto, a pessoa que os interrompeu.
- Chefe Beifong? - a voz de Korra veio vacilante do outro lado.
- Sim?
- Bem… hm, por acaso, sabe onde está Tenzin?
- Com a esposa e os filhos, suponho. - falou movendo a mão e abrindo a janela de metal. Aquela resposta a fez sentir um peso enorme no peito. - Na Ilha templo do ar, que era onde você deveria estar.
Tenzin sentiu o corpo todo congelar, as palavras de Lin foram como um tapa em seu rosto. Moveu as mãos confuso e desnorteado.
Ela encarou o monge e sua mão indicou a ele a saída que deveria tomar enquanto ela seguia a passos lentos até a porta.
A olhou e sussurrou um pedido de desculpas que ele nunca imaginou que ela interpretasse errado. Saltou a janela usando a dobra de ar para pousar do lado de fora enquanto agradecia que não havia viva alma na rua naquele momento.
- Er.. bem… é que… - a avatar continuou do outro lado.
A porta se abriu e Lin encarou a avatar, braços cruzados para trás a desafiando a continuar com o qualquer coisa que ela pudesse sugerir.
- Sim? - a recebeu com uma expressão dura e a sobrancelha erguida e rosnou levemente quando a garota enfiou a cabeça em seu escritório como se procurasse por Tenzin.
- Ele disse que vinha ver se você estava bem e… bem... Oogi está lá fora…
- E isso não é da minha conta. - passou pela jovem avatar batendo um pé no chão fazendo a porta e a janela se fechar com cliques que indicavam que estava agora trancadas.
Sem nenhuma palavra mais a Beifong saiu deixando Korra e um oficial a olhando com os olhos confusos. Ela não tinha que se explicar para ninguém, ela só queria voltar pra casa e dormir o tanto de horas que tivesse direito O som de um trovão a fez olhar para o céu escuro e ela sentiu uma gota gelada tocar seu rosto. O dia seguinte ia ser tão ou mais estressante. Respirou o ar fresco da noite, mas sua pele ainda estava quente, deixando Lin alarmada sobre o que meros toques tinham feito com ela. Felizmente não havia material para arrependimento, felizmente Korra havia os salvo de um caminho que provavelmente não teria volta.
- Avatar intrometida. - rosnou baixo, caminhando em direção ao prédio onde ficava seu apartamento.
Com um copo na mão e muitos quilos de metal a menos, Lin Beifong olhava da ampla janela de vidro para sua cidade sob uma chuva forte. Da cobertura daquele prédio de doze andares ela via pequenos pontos de luz a iluminar as ruas vazias naquela madrugada, um dirigível lhe chamou a atenção, sobrevoando a baía e então a pequena silhueta da ilha capturou seu olhar. Lá era onde ele devia estar, com a esposa perfeita e os filhos do ar, todos perfeitos e sua vidinha provinciana.
Tenzin pegou Oogi e deixou a cidade logo sentindo as primeiras gotas de chuva fria. Ele ainda sentia a mão dela como se o tivesse marcado a brasa. E todo um sentimento de culpa e vergonha surgiu, não era vergonha por seus sentimentos, mas porque ele sabia que tinha uma família que dependia dele e ainda assim Lin era o único nome que ecoava em sua mente.
- Oogi eu ainda a amo… - confidenciou ao seu amigo peludo recebendo um grunhido dele como se lhe dissesse que era óbvio.
Pousou na ilha e encontrar a esposa parada o esperando com uma expressão preocupada foi um golpe duro. A mão dela sobre o ventre alto com o bebê deles. Espíritos, Tenzin nunca se sentiu tão dividido quanto agora. Ele amava Pema, demorou anos para esse sentimento por ela surgir e era muito real, a amava por tudo o que ela lhe deu ao longo dos anos, mas nunca foi como amar Lin. Nunca teve a mesma intensidade e agora ele tinha certeza que os sentimentos ainda estavam lá, tão fortes como se não tivesse passado nem um único dia.
- Desculpe a demora. - foi tudo o que ele conseguiu dizer ao entrar em casa e sentir os lábios de Pema tocarem seu rosto. Os lábios errados.
O som da campainha do telefone a fez resmungar um pouco a arrancando de um sonho que ela não conseguia mais se lembrar. Olhou para o relógio sobre o criado mudo ao lado de sua cama e respirou fundo. Quem em sã consciência ligava para a casa de alguém tão cedo? Passou a mão no rosto, ajeitou os cabelos e se levantou arrastando os pés sem nenhuma emoção até o objeto que tocava insistente.
- Beifong. - falou com sua voz de sono esperando a pessoa do outro lado se identificar.
- Desculpe ligar tão cedo Chefe, mas acho importante que você saiba que Tarrlok convocou uma coletiva para esta manhã.
Ela esperava qualquer coisa do gênero vindo daquela cobra doninha¹. Agradeceu seu oficial por aquele aviso, claro que a culpa seria dela por Amon ter sido bem sucedido naquele ataque, e Lin começava a suspeitar que era isso que o representante da tribo da água do norte pretendia. Tirar sua credibilidade como Chefe para liderar ele próprio.
Lavou o rosto e foi preparar um chá, jogou as ervas no pequeno bule de louça e ficou olhando para o pequeno redemoinho que elas formaram sobre a água. Aquilo lhe evocou lembranças que ela lutou durante anos para manter bem fechadas em sua mente. Lembranças que ela não podia, naquele momento, evitar…
O cheiro do chá de ervas a fez rir na cama, Tenzin e aquela mania de acordar antes do nascer do sol. Por bem ela tinha sempre a mesa posta ao acordar com aquele delicioso aroma de chá. Se alongou e colocou os pés nos chão sentindo tudo ao seu redor e principalmente o batimento cardíaco dele. Lin não era tão refinada quanto sua mãe, mas ela podia reconhecer seu noivo com facilidade.
- Está acordada?
- Não exatamente. - resmungou ainda de olhos fechados.
O som do riso dele fazia cócegas em seus ouvidos e ela ficou de pé finalmente abrindo os olhos verdes.
- O que está fazendo? - perguntou apoiando o queixo sobre o ombro de Tenzin olhando para dois pedaços de pão que ele torrava em uma frigideira.
- Nosso café da manhã.
- Hmmm… isso soa muito satisfatório, mas eu gostaria de alguns ovos mexidos também. - ela o beijou atrás da orelha assim que ele assentiu.
Lin cobriu o bule e fechou os olhos afundando a lembrança ao lugar que ela pertencia, ela não queria estar vulnerável perto dele. Tenzin tinha feito uma escolha anos atrás e ela apenas seguiu em frente, o melhor que pode.
- Foda-se toda essa merda. - sua voz ecoou na ampla cozinha com pouca mobília.
Vestiu-se com a armadura e tomou o chá em silêncio ela tinha muita coisa mais importante para lidar, aquele não era o momento para evocar sentimentos tão confusos. Tudo o que tinha que fazer era colocar a máscara de frieza novamente. Ser a Chefe Beifong que todo mundo estava acostumado.
Ser a pedra.
- "Embora a Guerra dos Cem Anos tenha ocorrido há tempos, não estamos vivendo tempos de paz. Estes revolucionários, que se chamam de "Igualistas", não estão nem um pouco interessados em igualdade. Só querem promover a guerra contra os dobradores. A Chefe Beifong deveria ter protegido Cidade República, mas ficou indefesa no ataque de Amon à Arena. Ela falhou com todos nós. Se queremos sobreviver a estes lúgubres tempos, nossas forças da lei precisam de nova liderança."
A expressão de Lin Beifong ao ouvir a declaração de Tarrlok era um misto de irritação e divertimento. O rapaz do norte não fazia ideia do que ele estava prestes a enfrentar. Amon parecia estar sempre um passo à frente de todos.
- Idiota. - Lin desligou o rádio, tinha muito trabalho a fazer e se Tarrlok achava que poderia fazer melhor, ela estava disposta a pagar pra ver.
Essa fanfic não tem grandes pretensões e foco em plot twist. Trata-se de exploração de sentimentos, descobertas, caso extraconjugal e bastante drama.
Tendo início na temporada 1 vou explorar os sentimentos de Lin e Tenzin por trás da amizade recém reatada e o rumo pouco convencional que isso irá tomar.
Primeiro, entenda que isso é uma obra de ficção e que tudo aqui não tem nenhum fim lucrativo.
Segundo, estarei mostrando um Tenzin um pouco diferente do habitual, mas que a meu ver faz bastante sentido. Um homem apaixonado que precisou tomar decisões difíceis em prol de seu dever com o mundo. Tentarei mostrar as imperfeições de Tenzin e como isso afeta a vida dele como chefe de uma família teoricamente perfeita.
Terceiro. Lin tem sim sentimentos que ela insiste em deixar bem escondido, e já vimos isso na série, mas vou mostrar esses sentimentos com terceiros ao longo da escrita.
Quarto. Seria bom saber o que vocês pensam sobre essa história. Mesmo daqueles que eventualmente usam algum tipo de tradutor para conseguir ler. (a isso peço desculpas sobre a minha incapacidade de postar a história em inglês.)
E mais uma coisa, a ideia original não é minha e eu estive trabalhando nisso por algum tempo antes de dar uma pausa para apenas recentemente retomar a ideia. Então, Obrigada Débora, isso aqui só está acontecendo graças a você! ;*
Bem, até a próxima.
