Chapter 9: Renascer
Olá a todos.
Eu demorei um pouco mais do que queria. Estava precisando de um tempo para fazer nada e relaxar, depois de me reconectar com as forças dentro de mim eu achei a inspiração necessária para compor esse capítulo.
Breves explicações.
Eu realoquei alguns personagens mas nada que mude a essência da história original. Aqui não é sobre Korra, mas sim sobre Lin e Tenzin.
Outra coisa é que eu tomei a liberdade de mudar algumas coisas no final, porque não é pra ser igual é para encontrar uma solução para colocar Lin e Tenzin juntos novamente. Sim, é uma história sobre traição. Marido traindo a esposa e na vida real eu não apoio nada disso. Mas como esta é uma obra de ficção eu tenho um pouco de liberdade criativa para brincar.
Seus braços foram puxados, a chuva ainda caía, pessoas ao seu redor falavam, mas ela não sentia nada. Nenhuma dor, nem raiva. Era como uma casca oca que foi jogada no canto de uma cela imunda. Mal ergueu os olhos, sequer notou as coisas ao seu redor. Aquela sensação de vazio, um oco dentro de si a arrastava para um silêncio absoluto. Não havia mais nada, ela perdeu.
Ela falhou com todos.
Enquanto Oogi se afastava, tudo o que Tenzin pensava era em Lin. E a única coisa que ele podia fazer era pedir aos espíritos que cuidassem dela. Mas havia algo dentro dele, algo que dizia bem baixinho que mesmo Lin Beifong não seria capaz de parar sozinha o avanço de Amon.
Ignorou isso, porque ele sabia que Lin faria tudo, ela não ia desistir facilmente, ela nunca deixou de lutar suas batalhas, mesmo sabendo que as chances de perder eram maiores. Ela foi lá e lutou e voltou cansada, por vezes ferida, mas sempre vitoriosa. E era nisso que Tenzin tinha fé.
Eles voaram em silêncio por longos minutos, apenas os sons de Oogi chegando a seus ouvidos, ocasionalmente olhava para trás, checando seus filhos e seu olhar então vagava para o horizonte. Tenzin sentiu a pele arrepiar quando começou a chover, seu corpo ficou rígido e ele pensou em Lin, uma onda de terror e pânico o atingiu completamente. Ele se curvou, se sentindo grato por suas lágrimas que se confundiam com as gotas da chuva. Uma mão puxou levemente a rédea presa nos chifres de Oogi e lentamente o bisão foi fazendo a volta.
- Tenzin, o que está fazendo? Porque estamos voltando? - a voz de Pema soou em seus ouvidos e parecia tão errado.
Apenas não era essa voz que ele ansiava ouvir agora.
- Ela se arriscou por nós. - Pema tornou a falar quando o marido não respondeu ela o tocou no ombro. - Ela se arriscou por você.
E então eles se olharam, olhos nos olhos, os dela tão vermelhos quanto os dele. Naquele momento um pode ler completamente o outro. Pema sabia, ela sabia que o marido ainda tinha sentimentos pela Chefe Beifong e engolindo a onda de desespero e ciúmes ela sorriu.
- Beifong vai chutar você se souber que tentou voltar.
Isso foi o suficiente para ele corrigir o curso, para levar Oogi de volta à rota de fuga, assegurando que sua família escapasse ilesa, tudo isso porque ela permitiu. E mesmo seu coração implorando para que voltasse ele seguiu. Fosse ele sozinho teria lutado ao lado de Lin, mas agora seus filhos dependiam das escolhas que fazia e ele não poderia arriscar a pequena nação que ele lutou tanto para construir.
Eles voaram por horas, mas o cansaço e as sombras da noite o impediram de notar o perigo que se aproximava, era tarde demais para uma manobra de evasão, Igualistas saltavam em sua direção. Tenzin sentiu os ombros caírem, ele falhou com todos, ele falhou com Lin.
Mas ele lutou, usou tudo o que podia contra. Lembrando do que ouviu de Toph e Ty Lee sobre o bloqueio de chi pode evitar alguns, mas a luta nunca foi justa, os igualistas venciam em número, foi o grito de Pema que o fez olhar para trás. Os golpes foram seguidos, ainda mais dolorido do que ele se lembrava.
- Ela não pode dobrar, deixe-a. - gritou, tentando em vão se levantar.
Uma igualista se aproximou de Pema, os sons de gargalhadas escapando de sua máscara conforme ela andava. Tenzin se moveu, tentando se soltar do aperto firme de outros dois a lhe segurar, então ele ouviu.
- Peguem o bebe e prendam a esposa do vereador.
- Não! - ele gritou. - Ela não fez nada, ela não é uma dobradora, deixe-a ir!
- Calem a boca dele. - a mulher ordenou.
Tenzin acordou sentindo dor no lado de seu rosto, ao mover a mandíbula um estalo alto a colocou novamente no lugar. Sua visão estava um pouco turva e ele sentia os pontos de chi ainda bloqueados. Quando tentou usar as mãos para se sentar ele percebeu que estava amarrado, se movendo o melhor que pode ele se virou e o coração deu um salto, Lin estava do outro lado, deitada no chão puro e frio, as cicatrizes de sua bochecha tocando o chão.
- Lin? - a chamou assustado e preocupado.
Os olhos dela vagaram por um segundo e então ele viu o quão vazios estavam. Quando o olhar dela focalizou sobre ele, uma única lágrima escorreu. Isso doeu muito mais que o chute que o fez ficar inconsciente, doeu mais do que saber que toda a nação do ar estava correndo risco de extinção.
Ele se arrastou para mais perto das barras que os separavam, seus olhos saltando da figura estática no chão para todo o recinto. Não havia nenhum sinal de outra pessoa, seus filhos, ele precisava resgatar as crianças, mas antes ele precisava sair dali. Deitado de lado ele apoiou a testa nas grades, respirou fundo, ele podia sentir o ar passando pelo seu sistema.
- Lin, eu sinto muito… Eu… Espíritos. - sua voz era um sussurro rouco, temendo que alguém o pudesse ouvir. - Você pode se levantar? Pode soltar essas cordas?
Ela o olhou, os olhos injetados de sangue, os lábios entreabertos e secos. Aquela não parecia a mulher que o abraçou a noite toda, a pele ainda mais pálida que o normal. Lin piscou e tentou se mover, a palma da mão tocando o chão frio, os dedos se dobrando quando ela fez um esforço para se lançar um pouco mais a frente.
- Boa tentativa Vereador, mas ela não pode te ajudar, Lin Beifong foi neutralizada.
Os olhos de Lin se fecharam e ele viu pela primeira vez algo que ele jamais imaginou. Ele viu Lin Beifong desistir.
- Vamos, você será a estrela do nosso show.
A luva fazia aquele som grotesco de estática quando era calçada e então assim que o material fez contato com sua pele ele sentiu todo o corpo contorcer e travar. A última coisa que viu antes de perder a consciência foi Lin mordendo o lábio inferior com força.
Os olhos tremulavam, havia o som de vozes, como se centenas de pessoas falassem ao mesmo tempo, fazia sua cabeça doer ainda mais, assim como os pulsos que estavam ainda mais apertados cortando a circulação de sangue de suas mãos. Tenzin ergueu o rosto, abrindo bem os olhos mas estava muito escuro, sua cabeça girou e ele se forçou a não perder a consciência, ele precisava se soltar, encontrar os filhos e resgatar Lin.
Um som alto de ovacionar encheu seus ouvidos segundos antes de algo começar a girar e a plataforma em que ele estava ser içada. A claridade o fez fechar os olhos, ao abrir viu seus filhos na mesma situação que ele. Jinora, Ikki e Meelo pareciam tão confusos quanto ele próprio. Apenas o pensamento de que esses fanáticos machucaram seus filhos agitou algo dentro de Tenzin e ele começou a se mover tentando se soltar.
Tenzin olhou ao redor e logo ele entendeu o que aconteceria ali, ele seria a atração principal, aquela igualista disse. Isso era um espetáculo, Amon tomaria a dobra dele e de seus filhos ali, na frente dos seguidores para afirmar sua supremacia. Era desesperador, então felizmente ele pode ouvir a voz de Korra, mas só a identificou quando ela veio em sua direção. Os dois únicos dobradores de fogo no recinto. Tenzin sentiu o calor do fogo enquanto Mako afastava os igualistas, seu coração batia frenético contra o peito enquanto Korra trabalhava em remover as amarras e sua mordaça.
- Onde está Beifong? - a voz de Korra parecia tremer levemente.
- Na prisão.
- Pema e o bebê?
- Eu não sei. - Tenzin não queria pensar o pior, nem mesmo Amon seria capaz de fazer mal a uma mulher e seu bebê recém nascido, certo?
Girando os pulsos um par de vezes ele começou a se mover, aliviado que seu chi estava finalmente desbloqueado. Sem tempo para pensar, empurrou longe alguns inimigos, sua prioridade agora era proteger as crianças. Lutou lado a lado com Mako e Korra até restar apenas Amon. A visão de Tenzin se estreitou e ele avançou, várias sequências de golpes de ar saiam de suas mãos e pés, empurrando Amon para a borda cada vez mais. Tenzin gritou sua frustração por tudo o que aquele tirano havia tomado, não apenas dele, mas de várias outras pessoas inocentes. Quando Amon caiu do palco Tenzin chegou a borda e eles se encararam por breves segundos antes de Amon fugir.
- Papai?
O som de Jinora o chamando o impediu de saltar e ir atrás do homem e exigir reparação por Lin Beifong e todos os outros que perderam seu dom sagrado. Respirou fundo, alinhando seus chakras e restaurando sua paz interior ele voltou para as três crianças que queriam ir encontrar a mãe. Saindo da área central da arena eles entraram em um corredor longo.
- Tenzin. - Korra chamou, apoiando uma mão em seu ombro. - Tire as crianças daqui, Mako e eu iremos criar uma distração.
- Korra, tome cuidado. - pediu antes de voltar sua atenção às três crianças que pareciam agitadas. - Crianças, vamos encontrar sua mãe.
Muita coisa havia mudado na arena desde que ele a frequentava para assistir aos jogos quando era jovem, mas ele insistiu em manter os filhos perto mesmo que isso tornasse a busca mais longa. Porta após porta ia sendo aberta, havia todo o tipo de material igualista por ali se misturando com o material para treino. Tenzin estava começando a se irritar quando ouviu o som de um bebê chorando. Isso encheu seu peito com alívio. Meelo foi mais rápido, alcançando a porta a empurrou com uma lufada de ar e entrou feliz em ver a mãe e alguns acólitos.
- Você está bem? E o bebê? - ele perguntou quando se aproximou dela para a ajudar a se levantar.
- Eu estou bem, nos colocaram aqui porque nenhum de nós representava real ameaça e então trancaram a porta.
Muitos pares de olhos o encaravam enquanto Tenzin assentiu, aliviado de que o bebê estava bem. Estavam um armário longo, com várias prateleiras que continham desde pesos a tolhas para treinos. Era definitivamente melhor do que estar atrás de barras sólidas de metal. Ele beijou a testa do filho e olhou nos olhos da esposa.
- Pema eu… - engoliu a saliva e abaixou os olhos. - eu preciso ir.
Sentiu a mão de Pema indo até seu rosto e afagando levemente logo acima da linha da barba. Fechou os olhos apreciando o toque suave. Gostava muito de Pema, teve bons anos ao lado dela. Aprendeu a amar essa mulher que desistiu de tudo para dar a ele o que ele precisava. Virou o rosto e beijou a palma dela.
- Por favor, - ela falou em um fio de voz. - Volte pra mim, para nossa família.
A beijou no rosto, sentindo uma vibração estranha no peito. Mas ele não se perdoaria se não voltasse por Lin, não depois de tudo o que ela fez, da forma como ela abriu mão de tudo que importava apenas para o ajudar. Apertou a mão dela gentilmente antes de se afastar.
- Crianças, tirem essas pessoas daqui e cuidem de sua mãe e do bebê.
Ao passar pela porta e virar para um outro corredor ele encostou na parede e respirou algumas vezes antes de continuar a busca. Ele desceu um lance a mais de escadas e encontrou um longo corredor silencioso. Tenzin suspeitava estar no subsolo devido a baixa iluminação e a umidade excessiva no ar. Andando com calma ele abriu cada porta, seu peito batendo mais a cada segundo.
Ao abrir uma das portas, ele encontrou um grupo de membros do lótus branco sentados de cabeça baixa. Cada um que ergueu o rosto tinha o mesmo olhar sombrio de Lin, um vazio que nada seria capaz de amparar. Tenzin se aproximou abrindo a cela com um truque de dobra de ar que seu pai o havia ensinado, o coração tão pesado que ele sentia lágrimas queimando para sair. Apoiou as costas nas barras de metal controlando suas emoções, uma mão tocou seu ombro e ele virou o rosto. Shin era alguns anos mais novo que ele e sempre esteve na ilha, mantendo a segurança.
- Eu sinto muito. - sua voz saiu fraca.
- Não é sua culpa mestre Tenzin, todos nós sabemos.
Abaixou os olhos e encarou as próprias mãos, tão trêmulas que ele não sabia de onde vinha força para continuar lutando. Muitos haviam perdido a capacidade de dobrar, tudo por ele nunca ter sido o bom líder que deveria. Quando precisava impor uma opinião, Tenzin preferia manejar as ideias de terceiros apenas para evitar o confronto. Se ele tivesse sido capaz de enfrentar Tarrlok antes, talvez nada disso estivesse acontecendo agora.
Ele se lembrou então da última conversa que teve com Toph, há quinze anos atrás.
A porta se abriu e fechou com um estalo forte que o assustou, saltando de sua cadeira Tenzin derrubou o vidro de tinta manchando a mesa e alguns documentos. Parada no meio de sua sala estava Toph Beifong, um pouco mais velha do que ele se lembrava, definitivamente mais magra, mas ainda assim capaz de fazer suas mãos tremerem de medo.
E ela apontava diretamente para seu peito, o indicador alto e firme. E mesmo que o rosto dela estivesse olhando um lugar vago, a expressão era perigosa. Aos trinta e seis Tenzin ainda temia ser repreendido por essas pessoas que ajudaram em sua criação, ele ainda temia decepcionar qualquer um deles. E era exatamente o que ele tinha feito.
- Você é fraco! Uma mera sombra do homem que tenta imitar. - a mão dela abaixou para a cintura, mas o olhar ainda era puro aço. - Lin é muito para um homem tão pequeno e fraco como você, espero que saiba o que está perdendo cabeça de vento. E espero que sofra com as consequências dessa decisão tanto quanto ela está sofrendo agora.
Naquela época aquelas palavras doeram, ele tinha perdido o pai, ele tinha perdido seu amor. Ainda hoje a lembrança doía, porque sim, ele era fraco. E havia dias que ele se arrependia das decisões, mas a vida aconteceu. Não foi como ele queria e sim como ele precisava que fosse.
Agora, ele percebia que Toph não havia dito apenas sobre o rompimento com Lin, ele não era Aang, por mais que ele tentasse ser minimamente parecido, ele sempre falhava. E na busca para ser outra pessoa ele havia perdido quem realmente era.
Deixando a melancolia da lembrança de lado ele voltou a procurar por Lin, foram mais alguns minutos de angústia até finalmente a encontrar na mesma posição de antes. Tenzin sentiu como se o peito estivesse se fechando ao redor do coração. Aquela mulher forte e independente parecia tão frágil que ele tinha medo de se aproximar e perdê-la.
A viu mover os olhos ao redor, como se só agora ela tivesse percebido onde estava, e então ela o encarou novamente, seu corpo se movendo para se sentar. Ela parecia extremamente abalada.
- Eu estou aqui, Lin. - deu um passo vacilante e depois outro até finalmente poder abrir a fechadura.
Quando ela se colocou de pé ele correu a pouca distância e a puxou para seus braços, apertando o rosto contra os fios macios de seu cabelo. E então ela desabou, seu corpo começou lentamente a se mover em um choro silencioso, as mãos se fechando como garras ao redor de sua capa enquanto ela apertava o rosto em seu peito e deixava toda a dor sair. Eles permaneceram assim por tanto tempo que ele nem soube quantificar, mas quando Lin se sentiu pronta e emocionalmente livre ela se afastou.
Erguendo a mão tocou o rosto pálido dela, limpando as marcas das lágrimas. Lin nunca deixava a emoção fluir na frente das pessoas, era bom saber que ela ainda se sentia segura ao lado dele.
- Nós iremos até a tribo da Água do Sul, iremos reverter isso Lin, Mamãe certamente pode ajudar.
- Obrigada por voltar. - a mão dela tocou o rosto dele, deixando um beijo logo em seguida. - Eu sei que se Katara puder ajudar, ela o fará.
Desde que voltou sua amizade com Tenzin Lin se sentia à vontade novamente na ilha, era como estar em casa. Por isso, quando ele a chamou para ir junto, ela apenas aceitou. E naquela noite onde todos se sentaram juntos para uma refeição quente, ela se deixou levar pelas histórias que Bumi contava, ambos bebendo um pouco daquele Whisky que ele trazia sempre quando visitava a cidade. E por breves momentos ela se desligou do fato de que não podia mais ouvir a terra.
Mas quando os risos se tornaram silêncio e as pessoas foram descansar para a longa viagem até o sul, o silêncio a incomodou. Então ela se sentou do lado de fora, observando a cidade ao longe e ouvindo o som da natureza a seu redor. Era o mais próximo que ela tinha daquela conexão com a terra.
De olhos fechados, sentindo a brisa no rosto, ela ouviu passos suaves e em seguida a doce voz da garota Sato.
- Me desculpe, eu não sabia que estaria aqui. Eu só queria… - Asami sequer sabia o que buscava quando veio dar um passeio noturno.
- Tudo bem, sente-se senhorita Sato.
Ficaram lado a lado por longos minutos compartilhando a companhia silenciosa. Era confortável e Lin só podia imaginar o tipo de coisa que se passava na mente de uma garota tão jovem que tinha de lidar com os crimes cometidos por seu pai. Pais, eles sempre deixavam marcas em seus filhos, tanto marcas de amor quanto de negligência, descaso, rancor e raiva. Criar filhos era uma tarefa árdua. E olhando a jovem ao seu lado ela sentiu admiração. Porque Asami Sato precisou tomar uma decisão difícil para fazer a coisa correta.
- Eu acho que Mako está apaixonado por Korra.
A voz dela era tão leve que parecia prestes a quebrar a qualquer momento, levada pela emoção.
- Sim. - respondeu ainda olhando para a cidade.
- Talvez seja melhor voltar para casa, lidar com isso sozinha.
Novamente houve vários minutos de silêncio antes que Lin ficasse de pé prestes a sair. Então ela encarou os olhos verdes de Asami, sua mão apoiando brevemente sobre o ombro dela.
- Se eu aprendi uma coisa com a minha vida, é que se ausentar para curar a dor só a prolonga. Não perca seus amigos por um amor que não deu certo. Eu sei o quanto dói, mas em algum momento a dor irá passar e você terá se arrependido por se afastar deles. - Lin deu um passo e parou. - E nunca, jamais escute os conselhos de Pema.
Asami riu, não era novidade para o grupo o que Pema disse para Korra, Ikki havia contado aos pulos de euforia para o Comandante Bumi o que havia aprendido sobre a ex-namorada de seu Pai. Juntando isso, era fácil entender a conclusão a que Korra chegou.
Quando o som da risada de Lin veio, Asami a olhou um pouco diferente. Essa mulher não era a pessoa fria que alguns diziam, ela tinha algo dentro dela, uma luz que mesmo na adversidade mostrava seu brilho para quem tivesse o cuidado de olhar melhor.
O vapor d'água condensado de sua respiração formava espirais com o vento frio, era mais uma noite em que o sono parecia estar distante demais. Lin então deixou o calor da cabine no interior da aeronave e se aventurou em uma caminhada no convés.
Era um dirigível padrão de carga, mas ainda havia algum conforto e privacidade. E era justamente disso que ela precisava. Estava grata a Tenzin, mas notar os olhares dele a cada momento era como pressionar um dedo em sua ferida já exposta. Quando Asami a perguntou se gostaria de embarcar com ela no pequeno dirigível, Lin agradeceu. Isso dava tempo para que pudesse pensar livremente, sobre o que faria se sua dobra não pudesse ser restaurada, sem ter o constante escrutínio de Tenzin.
Debruçada na popa escondida nas sombras ela observava o céu noturno, Oogi voando livre ao lado, apenas seguindo o dirigível. Ela ficou lá, perdida em pensamentos por horas. Sua mente criando diversos cenários, inventando inúmeras formas de lidar com essa possível nova realidade. A noite foi lentamente se tornando dia, pintando o céu escuro com tons suaves de laranja.
Puxando o grosso casaco ao redor do corpo ela deixou seu pequeno esconderijo nas sombras e voltou ao convés. Fazia anos que ela não via a fortificada moradia de Katara. O lugar onde eles mantiveram a avatar em segurança e isolada do mundo. Na época, Lin foi contra a decisão, não parecia justo prender a garota quando o perigo havia sido contido. Agora, porém, eles a traziam de volta para casa em busca da última centelha de esperança.
Descer a rampa a fez sentir os olhos arder, toda a emoção de estar de volta junto do medo de receber a única resposta que não queria ouvir. Lin parou para respirar fundo, e sentiu um par de braços ao redor de seu corpo a prendendo com uma propriedade que a rasgou um pouco e ela estremeceu. Kya ainda tinha um abraço perfeito para cada situação. E ela sabia exatamente o que dizer e quando dizer. Então quando se afastaram apenas o olhar dela foi suficiente.
De pé a certa distância estava Katara, os ombros levemente curvados para frente, a expressão de preocupação mesclada com a felicidade de ver os seus novamente. Lin se afastou, deixando que Tenzin e sua família fossem os primeiros a cumprimentar a mestra dobradora de água. A mão de Kya em suas costas dava o apoio que ela precisava nesse momento.
- Onde está Bumi?
- Provavelmente destruindo a ordem natural das coisas na Ilha. - riu. - Ele preferiu ficar em Cidade República.
- Tem alguma coisa a ver com a iminente chegada da Firelord?
- Me surpreende que nenhum dos dois tenha feito algo a respeito.
As duas se encararam com uma expressão de cumplicidade e Lin se sentiu honrada de mesmo após tantos anos elas ainda podiam manter essa conexão.
Foi uma recepção agradável que quase a fez esquecer do motivo de estar ali, mas toda vez que olhava para a avatar ela sentia o peso nas costas da jovem. Como seria se o avatar desta geração não pudesse dobrar nenhum outro elemento além do ar?
O chá em seu copo estava frio, Korra andava de um lado ao outro enquanto falava, extravasando toda sua frustração, tornando em palavras o que ela estava sentindo naquele momento. Lin olhou para cima, a jovem tinha tanta raiva que era quase palpável. E era compreensível porque em seu interior uma raiva borbulhava lentamente. Quando novamente ela passou por Lin, a mulher mais velha pegou a avatar pelo pulso e a obrigou a se sentar.
- Chega, eu entendo o que você está sentindo, droga eu estou me sentindo a mesma merda que você, mas se aprendi uma coisa foi que ficar brava não muda nada. Então cale a boca e vamos ouvir a Katara.
O sorriso que recebeu de Katara foi um agradecimento velado, mas logo se perdeu e um suspiro saiu antes do velho discurso de que ela faria o que estivesse a seu alcance como curandeira, mas que nem sempre o resultado poderia ser o que esperávamos. Lin imaginava isso, mas a indignação de Korra era a prova que o tempo trazia um pouco de sabedoria.
- Eu vou preparar as coisas, pedirei para chamá-las quando tudo estiver pronto.
Como uma Beifong, Lin evitaria falar sobre momentos difíceis e situações em que ela não tivesse o total controle, assim ela deixou a sala em silêncio e saiu para o exterior. No frio quando suas bochechas ficavam rígidas e a respiração parecia presa ela se sentia um pouco melhor. Era como se os muitos graus negativos fossem capazes de congelar seus sentimentos confusos sobre o que estava acontecendo. Tenzin, Amon e o futuro incerto que a esperava. Ela andou alguns metros e olhou para as paredes congeladas da fortaleza, o brilho suave do gelo sendo tocado pelo fraco sol…
- Lin? Mamãe pediu para te chamar, está na hora.
Tenzin estava parado, uma manta azul e cinza sobre seus ombros. Ele parecia tão triste e irritado quanto Korra. Talvez fosse a fluidez de seus elementos naturais, enquanto ela era sólida como a terra, Tenzin e Korra tinham emoções que se percebia muito facilmente. Ar e água.
Assentiu dando um passo para voltar ao calor da parte interna, mas a mão quente de Tenzin pegou a sua fria. Ao sentir os dedos dele, ela se deixou levar, permitindo que os braços fossem firmes ao redor do pescoço dele. Lin respirou o cheiro familiar, sentindo uma onda de felicidade em meio ao caos da incerteza.
- Eu vou estar aqui, não importa o que acontecer. Se você quiser… eu vou estar aqui.
Se sentindo egoísta e totalmente justificada, Lin buscou os lábios dele em um beijo que ela não soube exatamente identificar o termo, era como um reencontro às vésperas de uma despedida. Foi por poucos segundos, então ela se afastou, entrando para encontrar Katara em sua sessão de cura.
Lin se sentou junto dos outros, esperando e desejando que tudo corresse bem. Em um primeiro momento ela pensou que entraria na piscina de água curativa junto da avatar, mas Katara não era mais tão jovem quanto antes e se exaurir na tentativa de trazer de volta a dobra de duas pessoas ao mesmo tempo parecia um pouco demais. Assim ela se sentou, sozinha, afastada dos outros e ciente dos olhares que Tenzin ocasionalmente lançava.
Foram momentos frustrantes, os minutos se converteram em horas e depois de quase três a porta se abriu e Katara saiu com uma expressão cansada. Lin foi a primeira a ficar de pé, com as sobrancelhas unidas em antecipação.
- Eu tentei tudo o que estava ao meu alcance, mas infelizmente, não fui capaz de restaurar a dobra de Korra.
- Mas… - Lin fechou os punhos. - Você é a melhor curandeira do mundo, tem que haver algo que possa ser feito.
- Eu sinto muito, ela ainda vai ser capaz de dobrar o ar, mas a ligação dela com os outros elementos foi prejudicada.
Novamente a porta se abriu e Korra saiu. Lin conseguiu distinguir vozes, mas o que elas diziam se perdeu enquanto ela estava estática encarando o chão. A madeira estava lustrosa sob seus pés, o metal de sua armadura brilhando e ela jamais o sentiria novamente. Antes que a porta se fechasse novamente Lin passou por ela, seguindo o caminho contrário ao que Korra fazia. Ela correu, sem se importar que o metal estivesse congelando em contato com sua pele. Ela precisava encontrar um modo de anestesiar aquela dor.
Correu até o fundo do complexo fortificado e apoiou as mãos na parede de gelo, sua pele formigando com o contato agressivo e áspero do frio. Ela percorreu as mãos sentindo as irregularidades. Ela sabia o que havia sob a espessa camada de gelo, mas ainda assim era difícil sentir algo que havia ajudado a criar.
A ligação poderosa que ela tinha com a terra se perdeu sem esperança de ser reencontrada. E então ela caiu, de joelhos sobre a neve fofa a testa apoiada contra a fria parede. E um grito deixou sua garganta. Um soco contra a parede e outro grito. Assim o padrão se repetiu até que havia uma mancha vermelha no branco absoluto e sua garganta doer tanto que era difícil engolir. Foi então que ela sentiu o calor de um grosso cobertor azul e cinza, e um perfume tão conhecido seu.
Braços fortes a puxaram, um braço firme em sua cintura a mantendo de pé enquanto andavam, Beifong estava sem forças, sem vontade de seguir em frente, mas quando ela ameaçou desabar, Tenzin foi a força que a colocou de pé novamente.
- Eu não sei o quanto dói, mas eu sei que você é mais forte que esta dor, e nós não iremos desistir Lin. Iremos juntos até o fim do mundo para encontrar uma solução. Eu juro.
O beijo posto na linha de seus cabelos foi doce e a firmou novamente a realidade. Ela então andou por conta própria os últimos passos até a pequena cabana. Tomando novamente controle de sua vida. A neve caía sobre seus ombros criando pontos molhados no cobertor, ela estendeu a mão, um floco pousou em sua palma se transformando em água lentamente.
- É engraçado, sempre que estamos juntos… - ela mostrou a palma com uma única gota.
- Talvez seja a natureza dizendo que temos que ficar juntos. - ele falou fechando a porta de madeira.
A lareira provia calor, e ela se sentou sobre os joelhos, suas mãos cavando o metal em busca das travas manuais. Lin nunca as usou, estava lá em caso de necessidade apenas, uma medida de proteção para quando um oficial fosse ferido e não houvesse nenhum dobrador de metal para remover a armadura.
Ao contrário dela, ele havia feito isso tantas vezes, que foi fácil. Enquanto se olhavam, olhos nos olhos, os cliques eram ouvidos e a armadura pesada foi deixada de lado, restando apenas uma camiseta branca e simples e as calças largas. Tenzin pegou a mão ferida depositando um beijo entre os nós dos dedos antes de mergulhar um pano limpo em água e começar a limpar. Foi como voltar no tempo, quando ela voltava de uma batida policial com cortes leves e pequenos ferimentos. Ele cuidava enquanto ela falava.
Porém dessa vez não houve nenhuma conversa, apenas o suave som do fogo crepitando na lareira e o ocasional zumbido do vento lá fora. Quando o ferimento estava limpo o suficiente Lin respirou fundo, ela não iria desabar novamente, mas ia ser difícil encontrar um caminho novo agora.
- Eu não consigo ver como vai ser o futuro, isso é assustador. - ela confessou, porque com ele ela não precisava ser a Chefe Beifong, dura e impassível. Ela podia ser apenas Lin.
Antes que ele pudesse oferecer seu apoio, Lin se aproximou, pegando os lábios dele nos seus. Ela queria sentir qualquer coisa além da raiva e frustração que vinha sentindo nos últimos dias desde que perdeu sua dobra de terra. As mãos dele eram como tábuas de salvação e foi fácil se permitir levar por essas sensações. Eles sabiam tocar, sabiam se amar. A pele arrepiando no caminho que as mãos faziam conforme as roupas eram abandonadas, pernas e braços em uma doce confusão e gemidos baixos.
Ele a tocou e Lin arqueou as costas, os olhos se fechando para o prazer que os dedos dele a guiava. Era sublime, leve e tenso. Um momento era sobre beijos suaves e toques carinhosos, no outro era sobre paixão reprimida e um desejo antigo. Era sobre o amor que perdurava e também era sobre sexo simples e carnal. Aquela confusão de mãos e bocas e gemidos que ficavam um pouco sonoros demais.
Quando finalmente se conectaram, Lin sobre ele se sentia completamente preenchida. E ela confirmou o que já sabia, Tenzin era o único homem capaz de completá-la física e espiritualmente. Ele era a metade de tudo o que a tornava um pouco melhor.
Lin sorriu com a expressão confusa dele, podia sentir a tensão na forma que ele se agarrava às suas coxas e tentava se mover entre suas pernas. Era tão adorável. Ela o prendeu um segundo mais, gravando essa expressão novamente em sua memória, substituindo aquela velha e desbotada da última vez que fizeram amor. Só então ela começou a se mover, muito lentamente apreciando a forma como o corpo dele se contorcia, o olhar de ressaca que ele lançava a ela implorando por um pouco mais.
O mundo se desfez em pequenos pedaços de luz e prazer, as preocupações e medos se dissolvendo até restar apenas a sensação prazerosa de pertencer a este homem novamente. Porque era sobre isso, eles sempre pertenceriam um ao outro não importando o que os outros vissem. Era uma fachada bem posta, uma doce mentira que contavam sem palavras para tolos que acreditam em qualquer coisa.
O mais importante, apenas eles sabiam. Se amavam.
Pela manhã quando Kya veio bater à sua porta ele ainda estava em sua cama, ambos se recusando a adormecer, temendo que isso fosse apenas um sonho. Lin riu da expressão de pavor dele, beijou o rosto e se levantou, pegando o grosso cobertor o jogou sobre o corpo nu e foi atender a porta. Bloqueando a visão da parte interna com seu corpo. O que ela nunca pode bloquear foi o sorriso que surgiu ao notar a expressão no rosto de sua ex cunhada.
- Muito cedo Kya.
- Korra recuperou a dobra de água, fogo e terra. - ela fingiu não ouvir a exclamação de surpresa na parte interna da pequena cabana. - Ela quer te ver, cinco minutos?
- Claro. - Lin sorriu e a viu se afastar com uma expressão de que havia pego o gato pelo rabo. - E Kya, obrigada por sua discrição.
Lin sabia que Kya manteria essa pequena indiscrição deles em segredo. Os filhos de Aang e Katara eram nada além de leais.
Lin Beifong encarou a jovem à sua frente e deu um pequeno sorriso, erguendo uma sobrancelha em desafio ela se ajoelhou e fechou os olhos. Os dedos de Korra em sua testa e peito eram quentes, ela sentiu o brilho suave que espalhou um calor agradável sob sua pele. De repente ela sentiu sob seu pé e seu joelho, ela ouviu o som suave que a terra fazia, o alívio e a emoção a atingiram.
Se colocando de pé ela sorriu, movendo as mãos as doze pedras pontiagudas que circundam o pequeno templo se ergueram e moveram ao bel prazer de Beifong. Ela sorriu deixando-os cair apenas para sentir a deliciosa vibração sob seus pés.
- Obrigada Korra. - ela disse ao tocar o ombro da jovem. - Obrigada por me devolver isso.
Tenzin se aproximou, um breve olhar para Lin antes de externar seu orgulho por Korra.
- Você se tornou uma maravilhosa avatar. - ele falou oferecendo um abraço.
Lin deu um sorriso se afastou, feliz em poder fechar os olhos e ouvir novamente a terra ao seu redor, toda a vida, toda energia positiva e negativa que passavam sob seus pés. Era uma sensação sublime. Quase tão boa como estar nos braços de quem se ama.
O futuro ainda era incerto, mas ela se sentia mais confortável com esse tipo de incerteza. Ela se sentia grata.
Como vocês podem ter percebido a chuva (ou qualquer tipo de água que cai do céu) é o gatilho deles.
Eu vou explorar isso melhor e mais intensamente no decorrer da história.
Sim, eu pretendo levar isso até a quarta temporada, mas o apoio de vocês é muito importante, pequenos comentários nos inspiram a fazer melhor e não desistir.
Se vocês repararem, no último episódio da primeira temporada, quando Korra devolve a Lin a dobra de terra. Lin está sem a armadura. Então eu aproveitei isso para brincar um pouco.
O próximo capitulo vai ser fora da série, antes da segunda temporada e isso me abre um leque de possibilidades incrível para explorar.
Me digam o que vocês esperam para a segunda temporada.
Um beijo e até breve.
