Título: Em Silêncio
Autora: Suisei Lady Dragon.
Rate: R
Disclaimer: Os personagens pertencem a J. K. Rowling e a história a Suisei Lady Dragon
Shipper: Draco/Harry
Gênero: Romance/Aventura
Atenção: Slash, yaoi... blá... blá... (Se você não gosta, não leia!)
Sumário: Harry derrotou Lord Voldemort, mas não a Tom Riddle, e quando Lucius ordena que Draco seqüestre o menino-que-sobreviveu, ambos acabam tendo em suas mãos mais do que podem controlar.
Em Silêncio
Capítulo 12
Essa noite a detenção não foi de muita ajuda para Harry. Ele estava tenso, murmurando coisas desconexas de tempo em tempo. E Draco por sua vez sentia como se tivesse transfigurado um pedaço de madeira em pedra. Exausto e irritado acabou decidindo dar por encerrada a seção de massagem, e por causa da sua expressão nada amigável nenhum dos outros jovens se dispôs a pedir para que ele ficasse mais tempo naquele local. Harry por sua vez continuava com aquele mau-humor e nem sequer demonstrou curiosidade quando o loiro parou com a massagem e começou a limpar as mãos e recolher os frascos.
"Harry", Hermione murmurou preocupada, mas Harry se levantou furioso da cama. Estava cansado de ser ignorado pelos amigos para que do nada eles simplesmente voltassem a se preocupar com seu bem-estar. Esse dia não havia sido o melhor de sua vida, sentia vergonha pelo o que havia feito ao Professor Snape e não queria falar sobre o assunto. E além de tudo sabia em seu interior que o destino ria as gargalhadas do que estava acontecendo e a aquela voz começava a deixá-lo exausto. Não que não conseguisse se controlar, mas hoje era impossível, não queria seguir escutando o que tinham a lhe dizer. Pequenos detalhes simplesmente estavam se unindo, transformando-se em algo insuportável, como uma bola de neve, sendo impossível manter o controle da situação por mais tempo.
"Não, Hermione, não quero falar sobre isso." Exclamou levantando a voz mais do que o normal. Rony se colocou rapidamente entre Harry e a jovem.
"Harry, Hermione tem razão. Você está nos colocando de fora da sua vida, companheiro, está nos deixando preocupados...".
"Vocês tem medo de mim!" Harry gemeu entre a histeria e a raiva. "Eu sou... um... monstro!", gritou ficando ofegante e perdendo um pouco do controle que lhe restava, e ao redor de seu corpo uma aura vermelha começou a brilhar mais forte e Draco que estava próximo da cama foi empurrado com força por ela, perdendo o equilíbrio e deixando os potes caírem no chão.
"Harry!", o ruivo gritou, seus expressivos olhos azuis fixos em seu amigo que os fitava de cima da cama com uma expressão furiosa.
"Não, Ron! Estou cansado. Cansado de fazer o tempo todo o que me mandam fazer, cansado de seguir instruções e esperar para não ser consumido por... isso.", esbravejou com asco.
"Por favor, Harry, por favor, se acalme." Hermione gemeu dando passos para trás junto de Ron. Draco os observava caído no chão, aonde havia ido parar ao perder o equilíbrio. Os dois grifinórios estavam enfrentando a essência do poder de Harry Potter, aquele mesmo poder que consumira Voldemort no momento final.
Draco não presenciara o fim do mago mais temido de todos os tempos, seu pai havia lhe ordenado que protegesse os filhos dos Comensais da Morte, e que eles deveriam permanecer em Hogwarts. A realidade era que seu pai acreditava que neste dia Potter venceria seu mestre. E a verdadeira intenção de Lucius havia sido proteger os futuros Comensais que ocupariam o lugar de seus pais, que provavelmente morreriam durante a batalha final, porque dessa forma ambos os lados estavam seguros e aquela seria a última batalha. E no fim de tudo o-menino-que-sobreviveu alcançou sua vitória com um feitiço que nenhum dos presentes havia visto, e o corpo de Lord Voldemort acabou se auto-consumindo.
Seus ouvidos retumbavam com o ruído ensurdecedor da aura que começava a encher o quarto, provocando explosões douradas que faziam estalar algumas das poções de Harry. Draco estava absorto e não pode evitar que sua boca ficasse entreaberta quando a fascinação dominou seus sentidos. Poder... cruel... puro... aterrador. O tipo de poder que um Malfoy desejava possuir e controlar. Seus olhos acinzentados observavam com reverência o corpo tenso do moreno, admirando os brilhantes tentáculos de magia dourada que começavam a se chocar contra as paredes de pedra, fazendo o castelo tremer desde sua base, sem que eles nem ao menos notassem.
Neste momento Draco começou a distinguir vozes na estática do som que a aura mágica produzia, era como a primeira vez que havia sentido a mínima conexão com a magia de Potter, aquela eletrizante sensação.
Ira. Rancor. Tenho medo. Estou sozinho. Ódio. Sou um monstro. Tenho tanto medo. O que está acontecendo? Ajude-me. Se aproxime. Preciso...
Draco se pôs de pé indo contra o poder que emanava do jovem que continuava gritando incoerências na direção dos amigos, que não davam mais nenhum passo para trás, mantendo-se firmes na tentativa de fazê-lo voltar a razão. Sua mente tratou de questionar como era possível que os grifinórios continuassem de pé diante de tamanha demonstração de poder, sem cair de joelhos e... beijar... a barra da capa...
Deu um passo na direção do jovem e seu corpo estremeceu dos pés a cabeça.
Aproxime-se. Ajude-me. Tenho medo. Preciso... que você se aproxime... preciso...
Aproximou-se com outro passo como se estivesse hipnotizado, os olhos acinzentados úmidos pelo esforço de não perder nenhum só detalhe daquela gloriosa visão. Uma nova onda de magia se desprendeu da aura e envolveu Draco por alguns segundos, acariciando sua própria magia e provocando-a, exigindo que ela se submetesse a vontade da mais forte. O desejo de obedecer nublou sua mente e sem raciocinar ele acabou se aproximando de um Harry Potter que parecia não se dar conta de sua presença. Não sabia se caía de joelhos e beijava a barra das roupas do jovem, mas acabou se recordando que a única peça que o moreno usava era uma toalha.
Mas para quê beijar a borda de uma toalha se os lábios de Potter eram muito mais provocativos, mais desejáveis? Com um último impulso subiu na cama, de pé e de frente para o jovem ele o tomou pela nuca unindo seus pálidos lábios com os ternos e avermelhados lábios que grunhiam de forma inteligível.
Harry sentiu aquela umidade cálida invadir sua boca e toda a coragem e ira que sentia se desvaneceram numa nuvem de confuso bem-estar. Hermione e Ron observaram estupefatos como a furiosa aura avermelhada se esfumaçava sendo absorvida novamente por Harry. Tudo cessou, o ruído, o poder, o tremor do colégio, tudo cessou e se deteve no único instante em que os lábios do loiro permaneceram celados sobre os do moreno. Harry fechou os olhos perdido nas sensações até que lhe foi devolvida a capacidade de respira. Com os olhos arregalados observou o rosto de Draco Malfoy, sua boca ainda entreaberta, as bochechas coradas, os lábios rubros e a respiração errática. Neste momento a grande quantidade de magia que ele havia absorvido segundos antes o golpeou e todas as suas energias desapareceram. O esforço de absorvê-la havia sido tão grande não se detendo apenas no excesso de magia e sim no consumo de parte dela. Draco o sujeitou pela nuca e de alguma forma passou o braço ao redor da sua cintura para que ele não caísse no chão. Uma paz que nunca havia conhecido o cobriu e o absoluto silêncio de sua mente envolveu todos seus pensamentos como um rico bálsamo. A sensação o tragou num abismo branco ao qual ele aceitou sem protestar e seu corpo caiu sobre o de Draco.
"Demônios sangrentos.", o ruivo sussurrou. " Você o beijou."O loiro não contestou, estava absorto contemplando o rosto relaxado do jovem sobre seu peito. Com cuidado foi deitando-o na cama e com extrema delicadeza o acomodou no colchão, cobrindo-o em seguida.
"Como você fez isso, Malfoy?", Hermione perguntou quando logrou articular alguma palavra.
"Você o beijou!", Ron tornou a repetir.
"Eu sei... eu só... tive que fazê-lo.", murmurou o loiro sem poder afastar seus olhos do jovem moreno. Poder... absoluto... perfeito.
"Você o beijou!", Ron exclamou por uma terceira vez e Hermione lhe deu um belo tapa na cabeça. "Ouch!"
"Tá Ron, é óbvio que ele o beijou. Malfoy, por acaso você sabe o que ele poderia ter feito?", exclamou horrorizada a jovem de cabelos castanhos. "Ele poderia... ou seja... ele estava... por Merlin, Malfoy. Você o controlou.", sussurrou aturdida.
"Eu não o controlei, Granger. Eu só fiz o que ele estava me pedindo.", sussurrou enquanto continuava absorto acariciando os cabelos negros que caíam sobre a testa do jovem. Tanto poder... tanta perfeição, tinha que ser seu... mas não sabia se ele era a perfeição ou se a perfeição era ele. Tinha que possuí-lo.
"O que aconteceu aqui?", um agitado professor de poções abriu a porta com um golpe. Ao ver o grifinório inconsciente na cama não pode manter a máscara de impassividade e se aproximou preocupado da cama, agachando-se e ficando ao lado de Harry, assistindo-o com toda a sua preocupação. "O que aconteceu?", perguntou confuso. Olhou para os três jovens presentes, mas nenhum deles parecia capaz de contestar. Finalmente o ruivo levantou uma mão tímida e apontou para o loiro. Foi então que Severus percebeu o olhar que o jovem Draco estava dando ao moreno. "Draco?", chamou-o, mas o jovem não respondeu, chamou uma segunda vez, mas não foi atendido tendo que sacudi-lo levemente pelos ombros para ter sua atenção. Ele tinha o olhar perdido.
"Professor..." o jovem finalmente o reconheceu.
"Jovem Draco, o que aconteceu com Potter?" perguntou num sussurro. Draco gaguejou, seu professor se mostrava muito cansado, algo que não era usual no homem. Estava mais pálido, seus cabelos negros de corvo estavam um pouco bagunçados, como se algo tivesse lhe acontecido. Mas se o loiro pudesse ter tido a oportunidade de se ver teria notado que sua aparência não estava muito diferente.
"Harry... ele libertou sua aura." Murmurou confuso ainda. "É muito poderosa... e bela. É perfeita..." sussurrou com aquele olhar de adoração e Severus compreendeu que não conseguiria descobrir nada mais, o jovem continuava em um transe provocado pelo grifinório. Voltou-se para os outros dois jovens, ambos estavam extremamente pálidos e o mais provável é que estivessem em estado de choque. Passou uma mão por entre os cabelos negros e suspirou. O dia havia sido longo e agora parecia que a noite não teria fim. Suspirou profundamente e se preparou mentalmente para lidar com os três jovens, mais tarde tentaria conversar com Potter.
Colocou-se de pé lentamente, sentindo-se mais esgotado do que de costume e com intenções de levar Draco e os dói grifinórios ao escritório do diretor para ver o que poderiam descobrir ouvindo os balbucios deles. Então viu que o ruivo apontava de forma muda para o corpo estendido na cama. "Sr. Weasley, sugiro que feche a boca para não entrar nenhuma mosca!", murmurou irritado, mas ao ver que a jovem imitava seu companheiro com expressão de terror o professor se virou novamente na direção em que eles apontavam.
Harry, sobre a cama em que havia estado inconsciente alguns segundos atrás havia tornado a abrir os olhos, duas gêmeas línguas de fogo saudaram o professor com fria expressão.
"Impero." A voz agora mais profunda do jovem o fez sentir-se como se flutuasse numa nuvem. Sabia que aquela era a maldição Imperius e não pode crer que Potter a houvesse invocado com tanta facilidade. Tentou lutar contra ela, mas uma estranha voz ressoou em sua mente e o fez tremer. Ele não poderia estar ali. Sem muito tempo perdido recebeu a ordem de apagar a memória dos três jovens. Sem poder evitar, fez o que lhe era ordenado e pode ouvir sua voz muito distante, pedindo para que os jovens regressassem as suas respectivas casas que porque ele se encarregaria do problema.
Quando ficou a sós no quarto a maldição desvaneceu e ele piscou várias vezes para encontrar-se sentado na cama ao lado de alguém que parecia ser Harry Potter mas que não era. Os cabelos continuavam revoltos, mas sua expressão era mais dura e seus olhos brilhavam com uma cor que não lhe era comum.
"Quem é você?", sentiu a si mesmo perguntando. O jovem simplesmente levantou uma mão em sua direção e a pousou justo sobre sua marca no braço direito. A dor foi incrível, mas ele pode escutar claramente o que ele disse em seguida.
"Sinto muito Severus, mas não posso deixar que você recorde o que aconteceu aqui. Obliviate."
Quando Severus Snape recobrou a consciência do que fazia, se encontrava no meio do Salão Principal. Muitos estudantes pareciam tão perdidos quanto ele e outros continuavam em estado de choque. Recordou o tremor da escola e se pôs em movimento de imediato, procurando saber se algum dos garotos e jovens de sua casa haviam se ferido.
Os professores fizeram um grande esforço para descobrir o que havia causado o tremor, mas nem sequer Dumbledore pode descobrir uma resposta convincente. Apesar dos esforços tudo continuava sendo um mistério, e eles acabaram atribuindo o evento a um abalo sísmico, coisa que não acontecia a anos. Nesse dia acabaram cancelando as aulas por causa do nervosismo dos estudantes que impedia que eles prestassem atenção nas explicações. McGonagall e Severus haviam sido os primeiros a desistir de ensinar alguma coisa, ficando extremamente irritados com a distração da turma.
Um grupo de sonserinos dirigia-se para o campo de quadribol, aproveitando o furtivo descanso para praticar, e obviamente Draco estava entre eles. O bom humor reinava entre os membros da casa das serpentes desde a última partida que haviam ganho da Grifinória.
Apesar do bom ânimo que o circundava Draco não havia sentido nenhuma satisfação com essa partida, o jogo que ainda faltava era contra a Corvinal que havia vencido a Lufa-Lufa no início da temporada, muito antes da Grifinória. Esse ano as coisas corriam bem, mas Draco não estava emocionado. A partida que realmente ansiara fora contra a Grifinória e os resultados mesmo sendo ao seu favor não haviam sido ao todo satisfatórios.
Virou-se para ajustar a caneleira de couro e os protetores de braço para finalmente montar sua vassoura. Com um forte impulso atravessou o ar ficando a vários metros do solo e sem se preocupar com nada começou a esquadrinhar o campo em busca de um reflexo dourado.
No decorrer de cinco minutos um balaço passou bastante perto de si, seus companheiros estavam massacrando-se uns aos outros no estilo sonserino. Estava absorto nisso quando um reflexo dourado atraiu sua atenção, estava próximo da Torre de Astronomia. Estranhou o fato do pomo estar naquela direção, pois supunha-se que a esfera não poderia afastar-se do campo de quadribol. Aproximou-se com cautela procurando divisá-la novamente.
Para seu deleite descobriu algo mais interessante. Potter estava sentado no umbral de uma das grandes janelas, uma perna levemente flexionada sobre a borda de pedra e sua capa de escola flutuando para fora da janela. Tinha a cabeça inclinada sobre os braços, como se estivesse dormindo. Draco sorriu com malícia, era a oportunidade pela qual estava esperando. Chegou mais perto do rapaz com cuidado.
"Hey, Potter." Sussurrou com voz serena para não assustá-lo. O moreno levantou o rosto de forma despreocupada e Draco pode ver suas verdes esmeraldas um pouco avermelhadas e úmidas, fitando-o com uma mescla de assombro e coragem.
"O que você quer, Malfoy?" o moreno perguntou com voz pastosa. Com a graça de um gato, Draco se aproximou da janela e parando no umbral, apoiou-se com uma mão e desmontou a vassoura, deslizando na pedra até ficar sentado numa posição similar a do grifinório, só que do lado contrário. Harry abaixou as pernas de imediato, a proximidade do loiro nesses momentos não era bem-vinda. Em sua mente somente havia os eventos do dia anterior. Sabia o que havia feito seus amigos, o sonserino e o seu professor de poções passar, e mesmo assim não se via tentando mudar o que acontecera. Já era suficiente ter perdido o controle quase conseguindo derrubar a escola, sepultando todos em seu interior.
Já fazia um bom tempo que estava as sós na torre. Tomara o cuidado de enfeitiçar as portas que levavam ao seu esconderijo para que ninguém o importunasse, mas se esquecera de que havia como chegar até a torre por meio das janelas. Não tinha estado chorando, mas estava com vontade, o problema é que as lágrimas não saíam e por isso seu rosto estava avermelhado e seu nariz miseravelmente entupido. Sentia que o que menos necessitava neste momento era que Malfoy tirasse sarro da sua frustração. Mas claro, Malfoy não se lembrava de nada, e isso indicava que o rapaz iria dizer algo maldoso no instante em que abrisse a boca.
Após mais alguns minutos de silêncio ele olhou de soslaio para o loiro. Claro que o jovem retribuiu o gesto só que sem a expressão maliciosa que ele esperava. O fitava com seriedade e se tivesse se atrevido a encará-lo de frente teria notado a intensidade daquele olhar metálico.
Draco pouso sua vassoura sobre suas pernas e apoiou as mãos nela. "Eu pensei ter visto o pomo vir nesta direção."
"Ele não está aqui, seguramente está sobrevoando o campo de quadribol." Murmurou como se fosse à coisa mais óbvia do mundo.
"Mas eu encontrei algo mais interessante.", sussurrou o loiro inclinando-se levemente.
"É mesmo? O quê?", o moreno perguntou bruscamente, como se fosse um garotinho de seis anos que tentava provar ao mundo que sua curiosidade não existia.
Draco então se atreveu a tocar a borda da manga da túnica de Harry, passando um dedo sobre o braço e chamando a atenção do jovem, que se virou lentamente para ver o que o estava tocando daquela forma. "Você." Harry levantou os olhos em direção ao loiro, atônito. Talvez seus ouvidos o tivessem enganado. Gaguejou com lentidão, mas o olhar de Draco continuava cravado em seu rosto.
"E... eu?", sussurrou contendo a respiração, temendo que aquela fosse mais uma das cruéis brincadeiras do loiro.
"Diga-me, Potter. O quão poderoso você realmente é?", a realidade então o alcançou como um tapa na cara. Como podia ter se esquecido que os Malfoy se interessavam apenas por poder? Isso os atraía como a luz atraía as mariposas, belas mariposas cujas asas refletiam o poder do qual se alimentavam.
"Ah... trata-se disso. Poder.", murmurou com decepção. "Você não o sentiu naquela noite, aqui, neste lugar?", questionou com sarcasmo enquanto se colocava de pé e caminhava para o centro da torre, elevando seus braços em direção as paredes. Deixou escapar de seus lábios um riso carente de sentimentos e então voltou-se na direção do loiro de forma graciosa. "Não o sentiu enquanto implorava por ar, Malfoy?", sussurrou ao mesmo tempo em que uma de suas mãos se fechava no ar e Draco quase podia sentir novamente aquele poder envolvendo-o lentamente. "Eu poderia ter te matado."
Draco levantou o queixo com aquela expressão de superioridade que Harry conhecia tão bem durante aqueles seis anos e algo mais. "Você venceu o Lord das Trevas, sei que é poderoso. O que eu quero saber é quanto.", sussurrou quando ficou seguro de que sua voz não tremeria. Harry soltou um muxoxo contido.
"Você tem medo de mim, Malfoy?", perguntou o jovem balançando a cabeça e tratando de diluir a razão pela qual o loiro lhe perguntava aquilo. Sentia que Malfoy estava naquele momento avaliando-o como um possível aliado ou até mesmo um meio para alcançar seus objetivos... fossem quais fosse. Draco por sua vez sentiu-se enfurecer. Os Malfoy não tinham medo de nada. Como ele se atrevia a pensar que ele, Draco Malfoy, podia sentir medo dele... Harry Maldito Potter?
Pôs-se de pé resoluto e deixou a vassoura apoiada contra o umbral. Com três passos bem medidos parou de frente para o moreno dando-lhe um olhar glacial digno de um príncipe insultado. "Se eu tivesse medo não teria me aproximado de você nem durante a detenção..."
Mediram-se por alguns instantes, ambos haviam alcançado uma altura e musculatura similar, ainda que a beleza de Harry se devesse aos maltratos e não ao gosto exigente de um nobre. Nos olhos verdes Draco podia ver refletido o temperamento obstinado próprio dos avermelhados leões, mas também podia ver a perspicácia própria das serpentes. Era uma combinação estranha, especialmente quando na dureza daquele olhar reluzia uma inocência maltratada. Levantou uma mão na direção do rosto do moreno. O viu encher-se de surpresa, a necessidade de escapar misturada a estes mesmos olhos, mas mesmo assim estando impossibilitado de obedecer aos desejos de proteção de todo bom grifinório. Como poderia aquele rosto pertencer a alguém com tanto poder? Uma força que fora capaz de derrotar o Lord das Trevas?
"Não se engane, Malfoy. Eu sou um monstro,", as palavras soaram estranhamente conhecidas, como se as houvesse escutado anteriormente. As sentia ressoar em seus ouvidos em furiosos gritos.
"Um monstro? Então aonde estão as garras afiadas... a boca retorcida...", sussurrou o loiro passando o polegar com suavidade por sobre os lábios do jovem. "Aonde você esconde seu couro e suas escamas?", elevou a outra mão e acariciou com suavidade a testa do moreno, afastando suas mechas negras que revelaram a cicatriz em forma de raio. "Onde guarda suas asas?", sussurrou ainda mais baixo, quase contra seus lábios. Sentiu-o se afastar e o reteve a força. "Você tem a língua bifurcada?", sorriu abertamente com malícia enquanto acabava com o espaço entre seus rostos e lhe dava um beijo lânguido. A boca do moreno o recebeu sem colocar resistência e se abriu para lhe dar passagem.
Draco não esperava ser aceito sem tão pouca resistência. Seu coração falhou ao pensar que talvez o moreno o estivesse esperando a muito tempo e que não só o estava desejando como ele havia descoberto a dias atrás no Salão Principal. Explorou a cavidade úmida com lentidão enquanto a língua de ambos se acariciavam com um torturoso prazer. Sentia-se tão perfeito... tão quente.
Começou a se afastar pouco a pouco, terminando com pequenos beijos que pareciam querer se assegurar de que na próxima vez seria bem-vindo novamente. "Aonde estão os olhos vermelhos de demônio...", sussurrou com voz carregada sem esperar a reação que provocaria.
Harry arregalou os olhos como pratos e se tensou, empurrando-o com força e desprendendo-se de seu corpo. Draco cambaleou levemente com o ataque, e o repudio o havia pego de surpresa. Buscou a razão e somente viu que os lábios do outro jovem tremiam levemente. Com um olhar mais atento notou que todo seu corpo tremia. Os olhos verdes se fixaram em seu rosto enquanto ele dava um passo lento, mas decidido em sua direção.
A mão direita de Harry se ergueu repentinamente com reflexos únicos em direção ao rosto do loiro. E Draco não pode evitar fechar os olhos preparando-se para o pior. Sentiu finalmente que o moreno tomava sua mão esquerda e colocava algo nela, fechando os seus dedos com força contra o objeto.
"Lembre-se que você não tem medo de mim, Malfoy." Harry sussurrou ferido. Quando Draco se dignificou a mirar o que havia em sua mão acabou reconhecendo o pomo de ouro. Apesar dos Malfoy não demonstrarem suas emoções Draco deixou escapar um suspiro aliviado. Quando finalmente captou o que havia se passado soltou um muxoxo indignado e seus olhos se fecharam irritados enquanto ele dava alguns passos para trás.
"Nem todos os monstros se mostram como esperamos ver. Alguns sabem viver e atuar como humanos quando querem decepcionar.", explicou o moreno sem emoção em sua voz.
"Se você é um monstro, Potter... você acaba de conhecer seu assassino.", sibilou o loiro. Recolheu sua vassoura e se virou repentinamente na direção do moreno. Harry o aguardou inexpressivo, mas não esperava que Draco o tomasse pela nuca e lhe forçasse um beijo. Seus lábios se abriram como antes, como se estivessem desconectados de sua mente e quando o jovem de olhos cinzas o deixou ir, sentiu-se perder a compostura. "E quando eu terminar com você, você será tão humano quanto qualquer um. Guarde minhas palavras, os Malfoy não fazem promessas em vão."
Harry não pode despregar os olhos da visão que Draco representava naqueles instantes, não sabia se era porque o beijo de minutos atrás não o deixava pensar em outra coisa ou se era o loiro que possuía um encantamento único. Por Merlim, pensou.
Aqueles olhos o sujeitavam naquele lugar sem permitir que ele se movesse, nem que ele articulasse palavras. Chamando-o com fúria, obrigando-o a corresponder ao seu chamado. Como ele podia negar alguma coisa a algo que era capaz de controlá-lo tão bem somente através de sua presença?
Preciso...
O loiro lhe deu um último olhar de cima em baixo, como se estivesse gravando a imagem que presenciara ali, de pé, em meio à torre com seus olhos verdes cheios de suplício e confusão. Harry viu que ele o mirava com ira, raiva... o moreno não podia decifrá-lo, mas quando os avermelhados lábios de Draco se curvaram levemente naquele maldito sorriso, sentiu sua pele estremecer e seu coração bater em resposta. O viu regressar a janela, subindo na borda com facilidade, deixando-se cair sobre a vassoura para dirigir-se ao campo de quadribol com o pomo em mãos.
O grifinório finalmente saiu de sua pétrea imobilidade e se aproximou da janela para vê-lo se afastar. Seu coração batia tão rápido que o sentia em seu peito como um pássaro tentando escapar de uma gaiola. O que Malfoy tentara fazer? Levou uma das mãos aos lábios. Não havia tentado, havia feito... e como! Seus joelhos tremiam enquanto continuava ali, o beijo ainda ardendo em sua boca e em seu corpo. Observou como os jogadores descobriam lentamente que o pomo havia sido apanhado e por uns instantes pode vê-lo como se o tivesse de frente para si, aqueles olhos de um cinza azulado despedindo-se dele, desafiantes.
Preciso de você...
N/T:Desculpa pela demora gente, mas aí está... capítulo 12... repleto de emoções um tanto quanto quente!
Agradeço sinceramente pelas reviews e prometo atualizar mais rápido. Aguardem!
Próximo Capítulo: Draco começa a executar seu plano para sequestrar Harry !WoW
