Nota da autora: Domingo passado não teve atualização porque minha vozinha se foi depois de mais de um mês internada.
Obrigada a quem está acompanhando e comentando aqui.
Espero que gostem deste capítulo. Até próximo domingo (vamos ter festa de fim de ano e formatura desses dois)!
UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 30
Um longo caminho
Tokyo – três semanas depois.
Eram quase três da manhã e Sesshoumaru continuava acordado no apartamento de Rin.
Com o yukata semiaberto e as costas apoiadas na cabeceira da cama, uma perna esticada e o outro joelho elevado para apoiar o braço, ele observava as luzes da cidade pela janela de cortinas claras e finas desde que foi acordado pelo barulho de escapamento de uma moto.
E não tinha sido o único som da madrugada. Com frequência ouvia sirenes de polícia, ambulância, o caminhão do lixo seletivo, gente bêbada gritando e motos passando a toda velocidade ali.
A namorada, deitada ao lado, estava em sono profundo desde o momento que colocou a cabeça no travesseiro e não acordava com nada mais. Podia ter um caminhão buzinando na frente do prédio e ela só despertaria na manhã seguinte, ainda exigindo um tempo de cinco ou quinze minutos para continuar dormindo.
Havia pensado que seria uma boa ideia sair do distrito e alugar um espaço só para ele na cidade, mas passando as noites no apartamento de Rin, mesmo que poucas noites, já provou que definitivamente não queria ficar no centro da cidade com todo aquele barulho e luzes.
Ficou naquela posição até sentir a mão de Rin tocar no joelho e deslizar pela perna, quente e lenta, quase alcançando perigosamente a virilha, subindo novamente até o joelho, num movimento que o fez voltar o rosto para o lado dela.
— Não consegue dormir de novo? – ela perguntou sonolenta e sem parar o que fazia.
Ajeitando-se na cama, ele deitou de lado para ficar de frente para ela. Uma parte do cabelo atrapalhava a vista dela e ele fez questão de tirá-lo e colocá-lo atrás da orelha, recebendo um sorriso de agradecimento.
— Fiquei sem sono. – ele falou com calma, observando as feições dela. O rosto corado, os lábios entreabertos, os olhos semicerrados.
— Você usa muito celular... Por isso fica sem sono e dorme pouco. – ela explicou num sussurro pausado que o fez pensar que poderia dormir no meio da frase – A luz do aparelho provoca isso.
— Eu não uso tanto quando estou com você. – ele teimou para não se dar por vencido. É claro que ele sabia dos efeitos do uso prolongado de celular. Mas sempre havia sido daquele jeito desde a adolescência.
A mão que antes colocou o cabelo atrás da orelha agora descia para a cintura e acariciava a pele descoberta ali. Rin também estava quase nua naquela noite fria – apenas com a camisa social usada por ele e um cobertor quentinho para uma típica noite de inverno.
Rin começou a acariciar as orelhas dele, com os polegares e os indicadores trabalhando juntos na cartilagem e dando um certo prazer ao namorado com aquele toque tão delicado.
— Feche os olhos. – ela pediu.
Naturalmente que ele não obedeceu porque preferia observar o rosto sonolento de Rin, já de olhos fechados.
— O que está fazendo? – ele quase rosnou como um cachorro sentindo prazer com aquela mão quente tocando uma parte tão sensível. Boa coisa era ela não poder ver o pequeno sorriso que tinha no momento.
— Um truque que eu aprendi. – ela murmurou com um sorriso – Tem que contar de 1 a 60 várias vezes até dormir.
— E por que sessenta?
— É o tempo de um minuto... – ela sussurrou e deu um suspiro, acomodando-se debaixo das cobertas – Hashi me ensinou...
— Ele também ensinou a fazer isso com a orelha?
Um sorriso preguiçoso apareceu nos lábios dela e a resposta escapou suavemente:
— Isso é por minha conta. Eu sei que gosta quando faço isso.
— Hunf. – ele zombou. Certamente que gostava, só não esperava que ela tivesse percebido.
— Hashi disse que nossa mãe ensinou a contar assim pra esperar a volta deles das viagens... – ela continuou explicando – Ele disse que sempre funcionava pra dormir.
Imagine quantas vezes ele contou isso na época do desastre de Kobe.
Era claro que ela também estava sentindo muito com aquele distanciamento imposto pelo irmão. Há vários dias ela estava mais agitada, olhando com frequência anormal a tela do celular para ver se havia recebido mensagem de Hakudoushi, sempre escondendo a expressão decepcionada para não deixá-lo preocupado.
E, no caso dele, percebeu que há tempos já havia feito algo parecido com Inuyasha e o avô, quando soube que precisava cumprir determinadas obrigações da família como futuro chefe. Ele mesmo cortou as relações e o contato sob o mesmo teto se limitou a falar apenas o necessário com Jaken e Kaede.
—... ele me ensinou a contar até... Sessenta... Zzz...
Sesshoumaru ficou em silêncio e viu que ela adormecera novamente com o próprio truque. Típico de Rin. Estranho seria se ela não conseguisse voltar a dormir depois disso.
Lembrou-se também que nem sempre havia sido daquele jeito. Pelo que já contara, ela passou uma fase sem conseguir dormir e ficava sonolenta de dia.
Mas agora ela dormia muito bem. Até demais, concluiu ao cobri-la até os ombros.
Os olhos fixaram por alguns segundos na mesinha de cabeceira do lado Rin, onde ela guardava o celular. A mão esticou cuidadosamente por cima do corpo adormecido e abriu a gaveta, tirando o aparelho.
Como a namorada ainda não sentia necessidade de colocar a senha porque não levava o aparelho para qualquer lugar, ele conseguiu acessar o que queria sem maiores problemas. Era irônico que ela reclamasse tanto de roubo de dados deixando o aparelho tão desprotegido, sem pensar no que poderia acontecer se fosse outra pessoa a encontrá-lo daquele jeito.
Não se interessava por outra coisa além de ver as mensagens que ela havia mandado para o irmão, verificando também se ele havia respondido alguma coisa.
Em dias diferentes, ela escreveu:
Hashi, eu queria passar o Ano Novo com você.
Hashi, você pode me atender?
Por favor, precisamos conversar.
Hashi, papai falou do torneio em Nagasaki. Parabéns!
E a do dia foi:
Queria ainda conversar com você. Estou com saudades.
Novamente não houve resposta. Hakudoushi estava deixando Rin falando sozinha.
Guardou o celular na gaveta e voltou-se para a outra mesinha, pegando o aparelho dele para abrir o aplicativo de mensagens e enviar para um determinado número a seguinte mensagem:
Você é um imbecil.
Desligou o aparelho e cobriu-se para dormir com a consciência tranquila.
Sesshoumaru já estava acostumado a acordar mais cedo que Rin e deixá-la na cama. Mas, naquela manhã, ele precisava ir para casa mais cedo resolver algumas pendências da faculdade e das festas de fim de ano da família.
Aproximou o rosto e deslizou os lábios pela maçã do rosto, beijando de leve o ouvido.
— Rin, acorde. – ele meio que ordenou. Precisava ser mais firme na voz ou ela simplesmente o ignoraria.
— Hmm... – ela tentou esconder o rosto com o cobertor e foi impedida pela mão dele.
— Vamos, vamos. Acorde.
Sentando na beira da cama, ele deslizou a mão pela curva do quadril até ela despertar lentamente.
— O que foi...? – ela esfregou os olhos e sentou-se na cama.
— Bom dia. – ele deu um beijo na testa dela, a mão abrindo os botões da roupa que ela usava sem pedir licença – Tenho que voltar e preciso da minha camisa.
— Já...? – ela parecia decepcionada, tentando afastar as mãos dele – Nãããão...
— Quer ficar com mais uma roupa minha? – ele conseguiu segurar as mãos dela – Você não tem um primo que cuida dessa parte?
— Você nem tem mais aulas... – ela resmungou com os olhos estreitados – Vai fazer o quê?
— Preciso resolver algumas coisas de família. E da faculdade também. Avisaram que estou devendo um livro.
— Hmmm... – ela deixou os olhos mais estreitados ainda – Você nunca esquece de entregar nada. Nunca pagou uma multa.
Sesshoumaru deu um pequeno e discreto sorriso. Rin não sabia que ele tinha há meses um livro sobre o dialeto de Nagoya, com apresentação de algumas expressões e dicas de pronúncia. Era urgente a devolução do volume e pagar as taxas pelo atraso.
— Bem, é a primeira vez que acontece. E preciso resolver isso para poder me formar. – ele levantou-se para terminar de arrumar-se. A carteira e o celular estavam na mesinha do lado oposto e ele fez o caminho sem tirar os olhos dela porque sabia o que iria acontecer.
Sem chamar a atenção, ela abriu a gaveta onde escondia o celular e verificou as mensagens. Ao perceber que não tinha novidades, ela novamente tinha aquela expressão decepcionada, com os olhos quase marejando. Era mais uma manhã sem respostas do irmão – o sorriso sumiu, os olhos ficaram um pouco marejados, a testa franziu. Já ele aproveitou para ver o dele e percebeu que não tinha respostas também. Com sorte, não havia sido bloqueado por Hakudoushi e conseguiria ainda mandar mais alguns xingamentos.
Deu uma tossida de leve para chamar a atenção e viu Rin baixar o celular e esconder as feições por trás de um sorriso.
— Meu avô perguntou se você gostaria de passar o fim de ano conosco.
Rin paralisou por alguns segundos.
— Oh. – ela murmurou, baixando o rosto. Não parecia que esperava um convite daquela natureza.
E ele sabia exatamente qual era o motivo, por isso adiantou-se para completar:
— Ele prometeu que será mais divertido que o jantar de aniversário. Aquelas pessoas não vão aparecer. Ficaremos no Templo Higurashi.
— Não... eu... – ela olhou para o celular – Eu teria que falar com a minha família primeiro.
As mãos caíram no colo segurando o aparelho e ele notou que ela tinha vontade de revelar algo.
— Hashi não quer falar comigo. – ela confessou num biquinho, sem imaginar que ele já soubesse o que acontecia.
— E você quer saber se ele estará lá para poder decidir se vai?
— Eu queria conversar com ele. Esclarecer as coisas. Ver como ele tá.
Sesshoumaru sabia o que aconteceria se ela tentasse falar com o irmão: mais brigas entre os dois e, com muito auxílio por conta da terapia, Rin não voltaria para a capital do mesmo estado que da última vez.
— Bem... – ele beijou mais uma vez a testa dela antes de levantar-se – O convite está de pé.
Rin levantou-se e andou apenas de camisa até o toalete, saindo de lá minutos depois com um yukata de seda quadriculado em vermelho e branco, devolvendo a peça para ele.
— Hmm... Sess? – ela o chamou de novo enquanto ele terminava de se arrumar – Vamos jantar juntos de novo hoje?
O rapaz inclinou o rosto para analisar o dela – limpo, calmo, sem qualquer resquício de ter chorado depois de acordar sem notícias por parte de Hakudoushi.
— Jantar sim. E depois... ?
— Depois eu quero dormir abraçada com você de novo. – ela falou em um tom mandão, cruzando os braços e virando o rosto para o lado para esconder o vermelho.
— Acho que você está mesmo comigo só para dormir. – ele desfez os braços cruzados dela para tomar um pulso e levá-lo aos lábios – Você é mesmo insaciável.
O rosto de Rin ficou num tom vermelho escarlate e percebeu, sem que ele risse ou mudasse de expressão, que Sesshoumaru estava brincando.
— Nós podemos nos encontrar depois que resolver aquela pendência do estágio. Lembre-se do que precisa fazer.
Recuperando a seriedade, ela confirmou com a cabeça. Era o último dia de trabalho e ela tinha muita coisa burocrática a fazer para garantir o fim do curso e uma pequena pausa na correria do dia a dia antes da formatura.
Semanas se passaram desde que descobrira o caso entre o orientador e Asano Sara. Agora, a única preocupação no momento era garantir que mais ninguém soubesse para que não houvesse algum processo administrativo e o estágio fosse cancelado como consequência.
— Bem, até mais tarde. – ele terminou de ajustar o blazer por cima da camiseta social.
Os dois andaram juntos até o genkan, onde ela aguardou que ele terminasse de se arrumar.
— Qualquer problema que tiver com aquele professor, você pode me ligar ou mandar mensagem. – ele explicou ao calçar os sapatos e colocar o casaco de frio e o cachecol – Ou se ele tentar fazer alguma coisa com você.
— Ele não vai tentar nada. – ela tentou ser razoável – Eu não faço o tipo dele.
Sesshoumaru perguntou-se qual seria o "tipo" do orientador. As perguntas que ele fazia ainda eram: desde quando ele fazia isso? Alguém descobriria que Rin não fez seleção e foi simplesmente chamada para trabalhar, assim como outras? Quantas outras alunas foram? Teria sido só com Sara? Como ele a aguentava?
Ajustou o cachecol por último e Rin aproximou-se para ficar na ponta dos pés para beijá-lo.
— Até mais tarde... – ela sussurrou contra os lábios dele.
— Até.
Minutos depois, ela viu-se sozinha no apartamento e espreguiçou naquele silêncio. Olhou o relógio e viu que precisava se arrumar para o dia.
Festas de final de ano eram sempre comemoradas no Templo Higurashi, incluindo, assim, os membros da família herdeira do local e a família Taisho. Antigamente os Asano também participavam por estarem ligados aos Higurashi, até começarem os conflitos entre alguns membros e pararem de frequentar o local, principalmente por causa de Sesshoumaru.
Foi pensando nessas tradições que Sesshoumaru entrou na biblioteca do avô para uma conversa e deparou-se em vê-lo extremamente interessado na leitura de Profunda Aprendizagem do Jogo Go – do século XIV ao século XX.
Com a entrada do neto, o outro baixou o livro e o encarou um pouco surpreso.
— Bom dia. – ele analisou o perfil em pé na entrada da biblioteca – Mesma roupa de ontem. Dormiu na casa de nossa Rin-chan de novo?
Houve um rosnado baixo e discreto por parte de Sesshoumaru como resposta. Ele deu uma leve tossida para disfarçar e começou:
— Rin vai passar o fim de ano conosco.
Dito isso, calma e abruptamente, Sesshoumaru virou-se para ir embora. Foi tão de repente que Bokuseno, de olhos arregalados, quase perdeu a chance de chamá-lo de volta:
— Sesshoumaru, espere.
O rapaz parou e olhou por cima do ombro. Enquanto o avô fosse líder da família, era obrigação dele prestar esclarecimentos e obedecer a certas coisas que estivessem dentro de um limite.
— A família de Rin concorda com isso? – ele colocou as mãos dentro das mangas de um dos yukata que usava para cruzar os braços e parecia preocupado – Ela não falou nada a respeito da última vez que jogamos.
— Ela vai depois. Vai ser a primeira vez que passa o Ano Novo em Tokyo. – ele mentiu. Teria que conversar com ela. Talvez pudesse convencê-la a ir um ou dois dias depois das festividades para casa.
— Hmm. – Bokuseno voltou a abrir o livro e a entreter-se com as estratégias de go – É mesmo. Acho que ela vai gostar... A senhora Higurashi recebe todo mundo bem nas festas do Templo e prepara bastante comida... Só precisamos avisar que Rin-chan vai conosco para ela preparar algo sem carne, não?
— Sim. – o outro respondeu tão afirmativamente que nem precisava continuar a conversa naquele ponto.
Mas, naturalmente, o avô não ia deixar escapar:
— Aconteceu alguma coisa com o pai de Rin-chan e ela? Eu achei que eles se davam muito bem.
— Não aconteceu nada entre ela e o pai. – sem tirar o olhar dele, deu as costas novamente – Com licença, preciso me arrumar.
Dando a entender que a conversa estava encerrada e não querendo mais responder a mais algumas perguntas que cabia somente a Rin fazê-lo, Sesshoumaru saiu da biblioteca e não notou o olhar preocupado que o avô lançou na direção dele.
No quarto, tomou banho e trocou de roupa, organizando mentalmente o que precisava fazer além de convencer Rin sobre ficar durante o Ano Novo, o primeiro deles juntos, e entregar o livro na biblioteca.
Na sala do estágio, Rin mantinha-se firme de pé na frente do orientador com uma pasta de documentos, lembrando-se de cada palavra que Sesshoumaru recomendou quando preparou-se para aquele momento:
Ele precisa assinar a ficha de horas para contabilizar a carga horária.
—... e eu preciso também que assine cada quadradinho desses. – Rin falou ao entregar em mãos, forçando um sorriso educado, os papéis ao orientador do estágio para ter o tão esperado encerramento daquela fase.
— Tem certeza? – o professor perguntou com a testa franzida – Não lembro de ter preenchido isso para Sara... digo, Asano.
Rin forçou os lábios a não curvarem num sorriso, fazendo o possível para permanecer séria diante do lapso entre nomes que escapou da boca do professor.
Geralmente eles esquecem que precisam também carimbar todas as páginas do contrato do estágio.
— O contrato. – ela entregou os papéis.
— Ah, é mesmo. Não sei como esqueci isso. Deveria ser a primeira coisa a fazer com esses documentos.
Levou apenas alguns segundos para que ele lesse o que precisava ser lido, verificasse os dados, e finalmente tirar a tampa do estojo com o carimbo de assinatura. Todo esse processo foi seguido pelos olhos ansiosos e atenciosos de Rin.
Declaração de término do estágio assinado por ele. Ficha de avaliação. Peça para ele colocar a nota na sua frente.
— Aqui está minha declaração de finalização do estágio e minha ficha de avaliação. Deixei o espaço para minha nota e sua assinatura.
— Ah... – ele coçou a cabeça – Eu ia fazer...
— Vou levar agora. Quero resolver tudo antes de precisar viajar para as festas de Ano Novo.
— Ah... Vai para Nagoya? – ele quis saber.
Não o distraia ou ele vai demorar para ler o documento e assinar.
— Sim. – foi a resposta curta e educada por parte dela.
O professor a olhou sorridente, esperando talvez pela continuação.
— O documento, professor. – ela insistiu.
— Oh, é mesmo.
Eles realmente se distraem, minha Rin. Mas quando ele terminar de preencher e assinar tudo, entregue tudo na secretaria da faculdade. E pegue a lista de documentos para dar entrada na formatura.
Quando ele carimbou na última folha, evitou dar um suspiro de alívio por educação. Apenas continuou com o sorriso educado e pegou todos os documentos para colocar em ordem: ficha de carga horária do estágio, contrato do estágio carimbado, declaração de estágio, ficha de avaliação com nota máxima. Tudo em ordem, carimbado e assinado.
Não esqueça de devolver as chaves, Rin.
— Ah, as chaves! – ela tirou da segurança da bolsa transversal e entregou na mão dele.
— Bem. – ele declarou ao receber o objeto – Parece que nos separamos aqui.
— Sensei, obrigada pela oportunidade. – ela curvou-se educadamente – Foi um prazer fazer esse trabalho.
— De nada, Nozomu-san.
Rin não ficou muito tempo. Guardou a pasta com todos os documentos na bolsa transversal, deu as costas e saiu da sala sem ao menos se despedir, correndo pelos corredores para chegar à secretaria da Faculdade de Direito .
Em um determinado ponto da correria, ela esbarrou em alguém, caindo diretamente nos braços de uma pessoa.
— Você vai terminar a faculdade e ainda continua tropeçando. – Sesshoumaru comentou e ela arregalou os olhos – Sorte eu perceber que isso ia acontecer.
— Ah, Sess! – os dedos de Rin seguraram as mangas do casaco dele com força – Não sabia que estaria nesse horário aqui!
— Vim devolver o livro e pegar o documento de devolução.
— Oh... – ela franziu a testa – Você estava realmente devendo um livro?
O rapaz ergueu uma sobrancelha e perguntou:
— O que tem de estranho nisso? Era um livro bom.
— Hmm... – ela franziu a testa – Agora estou me perguntando se esqueci de devolver algum...
Sesshoumaru continuou segurando-a discretamente no meio daquele corredor, olhando para um determinado lado como se decidisse fazer alguma coisa.
— Vou resolver mais uma coisa antes de ir embora... Quer me esperar? Podemos nos encontrar na sala onde estudamos.
Rin deu um sorriso e confirmou com a cabeça, ajustando o casaco de tweed e ajeitando a alça da bolsa.
— Ah, a hora! – ela arregalou os olhos e ficou agitada – Eu não posso perder tempo!
Nem teve tempo ou momento para trocar um beijo ou abraço. Rin simplesmente começou a correr na direção oposta de Sesshoumaru, que caminhava sem pressa para resolver as últimas pendências.
Mais de uma hora depois, Rin estava na sala vazia do último período, acomodada no mesmo lugar que tomou no primeiro dia de aula. O celular estava em cima da bancada e lia as mensagens já enviadas a Hakudoushi e ainda sem respostas, pensando em alguma para escrever.
Antes que pudesse digitar algo, viu alguém se aproximar pela visão periférica e virou o rosto para o lado, encontrando Sesshoumaru.
— Oh... – ela murmurou.
O outro ergueu uma sobrancelha e inclinou o rosto.
— O que foi?
— É como quando nos conhecemos. Você ficou me olhando daí. – ela deu um sorriso tímido.
Sesshoumaru não havia notado que os dois estavam repetindo a cena de quando trocaram as primeiras palavras no primeiro dia de aula do último ano. A época também era a mesma – inverno em Tokyo.
— Vai completar então um ano que nos conhecemos aqui. – ele comentou.
— É mesmo... Um ano. – o sorriso continuava no rosto dela – Passou rápido, né?
Muita coisa havia se passado entre os dois desde então. E seria provavelmente a última vez que estariam naquela sala.
— Conseguiu resolver tudo? – ele resolveu perguntar ao notar o celular aberto no aplicativo de mensagens.
— Sim. Tudo! – ela ergueu um braço vitorioso no ar – E minha situação na biblioteca também. Amanhã já posso trazer meus documentos para dar entrada no processo de formatura.
Sesshoumaru inclinou a cabeça para o outro lado para observar o quanto ela parecia orgulhosa de si mesma enquanto falava o que já havia conseguido fazer, um longo caminho percorrido até ali.
Sentando-se na cadeira vazia ao lado da dela, ele a encarou por alguns segundos antes de fixar os olhos no aparelho em cima da mesa.
— Meu avô insistiu hoje sobre passar o fim de ano conosco. – ele mentiu novamente para mudar de assunto – Seria bom conhecer pelo menos uma vez como comemoramos aqui.
Rin ficou em silêncio e baixou o rosto. Pela expressão, ele notou que ela parecia indecisa ainda.
— Será nosso primeiro Ano Novo juntos. – ele ressaltou ao tirar uma mecha e prendê-la atrás da orelha dela – Valeria a pena você ficar.
— É que... – ela torceu as mãos – Eu queria conversar com Hashi.
O olhar dele desceu sobre o aparelho. Ainda estava naquela tela do aplicativo de mensagem e com várias sentenças soltas de Rin, sem nenhuma resposta do outro lado.
— Mandando outra mensagem para ele?
— Ainda não sei o que escrever... – ela deslizou os dedos sobre a tela – Eu só queria resolver isso de uma vez. Hashi também deve estar sofrendo muito.
O rapaz manteve a expressão indiferente, contendo a vontade de soltar uma zombaria ou alguma outra frase de escárnio. Rin estava sofrendo muito mais que o irmão e continuava preocupada com ele, como se Hakudoushi não soubesse se cuidar ou não a estivesse deixando-a ansiosa propositalmente.
Embora Rin continuasse o tratamento com a terapia, era evidente que algumas coisas se sobrepunham às outras. No caso, Hakudoushi estava fazendo Rin perder um tempo que poderia ser usado para cuidar de si mesma.
— Eu tenho visto as suas mensagens para ele. – ele confessou por fim – E vejo o quanto isso a afeta.
Rin arregalou os olhos e virava o rosto tanto para o aparelho quanto para encará-lo, a boca ligeiramente aberta com a revelação dele.
— Você tem que colocar uma senha e se proteger, minha Rin. – ele avisou calmamente.
— Hunf. – ela desligou o aparelho e cruzou os braços em protesto – Parece que preciso mesmo pro meu namorado me dar mais privacidade.
— Só estou preocupado. Sei que tem alguma coisa errada quando você mexe no celular mais de uma vez ao dia.
Rin deixou que os braços desfizessem aquela posição de proteção e olhou a tela apagada, observando o próprio reflexo.
— Talvez ele precise de um tempo. – ele continuou a tocar na mecha atrás da orelha, mesmo sem necessidade mais – E aproveitar outro momento para conversar. Poderia passar pelo menos um a festa no Templo e pegar o trem para Nagoya no dia seguinte para ficar com a sua família.
A proposta não era tão ruim, embora ela também quisesse passar as festas de fim de ano com a família Nozomu.
— Se eu pudesse estar em dois lugares ao mesmo tempo... – ela suspirou e os dedos começaram a tocar a tela do celular em pontos aleatórios, abrindo e fechando aplicativos aleatórios até ela novamente ter que desligar – Eu também quero passar o Ano Novo com você.
— Por que não liga para o seu pai e vocês dois não conversam sobre isso? – ele sugeriu, levantando-se segundos depois – Ele sempre tem ideias muito boa no que diz respeito a você.
Aquilo era uma referência ao fato de ter sido o pai o responsável por encontrar uma saída para Rin continuar na capital depois de se formar. Se dependesse apenas dela, certamente que optaria por voltar para Nagoya para trabalhar e pegaria o trem todo fim de semana para a capital para ficar com Sesshoumaru.
— Eu ligo mais tarde. Também estou preocupada com ele.
— Hunf. – ele deixou um pequeno sorriso aparecer nos lábios enquanto tirava uma poeira imaginária do casaco – É claro que está. Você sempre se preocupa com os outros.
Ofereceu a mão direita para que ela, prontamente aceita sem resistência para que ela se levantasse.
— Seus amigos estão esperando na frente do prédio. Vamos para o seu café favorito aqui na cidade. – ele falou quando começaram a andar de mãos dadas pelo corredor que conduzia à entrada da sala de aula em formato de auditório.
— Eles ficaram esperando esse tempo todo? Por que não me falou logo? – ela sussurrou assustada – E eles são os seus amigos também!
— Hunf. – ele murmurou.
Rin parou de andar e olhou para trás. O pequeno palco onde ficavam os equipamentos e a mesa do professor estavam prontos lá embaixo no corredor entre as fileiras, indicando que estava tudo pronto para a próxima aula do semestre.
— É a última vez mesmo que estamos aqui?
Sesshoumaru também olhou para trás. A cadeira onde costumava sentar estava perto do palco. O lugar dela logo que chegou era quase perto da saída. Eram dois lugares opostos – e ele sempre se perguntou como ela conseguia estudar tranquila de onde ela costumava ficar.
— Nesta sala, sim. O mestrado fica em outro prédio. Quando você passar, vai estudar em um auditório menor.
Rin notou o uso do quando. Sesshoumaru não falou "se", mas sim "quando". Ele tinha confiança que ela passaria na seleção e conseguiria fazer carreira na capital.
— Ah, nossos amigos! – ela o alertou, puxando de leve a manga do casaco dele – Eles devem estar com frio!
— Hunf.
— Você fez de propósito por causa do seu irmão e Miroku-sama, né? Sango-chan e Kagome-chan devem estar com eles!
— Foi você quem parou para olhar a sala e fazer perguntas. – ele rebateu.
— Ora...
Minutos de passos apressados depois, o casal chegou à entrada do prédio e viram, perto da escadaria de acesso, os amigos agoniados de frio aguardando por eles. Kagome estava inclusive enrolada um casaco vermelho que pertencia à Inuyasha.
— Pelos deuses, vocês não estavam fazendo nada indecente enquanto a gente fica esperando que nem uns otários com fome e frio aqui fora, né? – Inuyasha, o mais impaciente de todos, tentava aquecer as mãos sem luvas. Estava apenas com calça combinando com o blazer e uma camisa social sem gravata, uma péssima escolha para aquela época do ano.
— Desculpe! – Rin coçou sem jeito a parte de trás da cabeça e fez uma pequena reverência de desculpa – Foi minha culpa.
— Keh! – ele olhou desconfiado para Sesshoumaru enquanto recebia o casaco de volta das mãos de Kagome.
— Vamos, vamos... – ela comentou ao ajeitar o colarinho vermelho e dar as mãos para ele – Eles vão se formar. Você vai ver como vai ser a correria quando chegar na nossa vez.
— Está tudo bem, Rin-chan? – Sango quis saber, ajeitando o colarinho do casaco preto com detalhes em rosa. Pelo tom de voz, parecia preocupada. Rin era a única que até aquele momento não havia ainda terminado o estágio.
A garota encontrou o olhar de Sesshoumaru primeiro e depois voltou a encontrar o da amiga antes de confirmar com a cabeça, recebendo um sorriso de verdadeiro alívio de Sango.
— Bora logo! – Inuyasha gritou dos primeiros degraus, gesticulando para apressá-los – Morrendo de fome e de frio aqui e vocês ficam aí nesse blá blá blá! E olha que o Sesshoumaru nem fala muito!
— Inuyasha! – Kagome puxou a orelha dele com força – A comida não vai desaparecer de lá do café! Já reservei tudo. Quando chegarem, já vão nos servir.
— Ai, ai, ai... Para com isso, mulher!
Os três casais desceram de mãos dadas a escadaria do prédio da Faculdade de Direito e seguiram para o café Stay Happy, um dos lugares favoritos do grupo desde que Rin passou a sair com eles.
