Mesmo quando o crepúsculo emergiu suavemente naquele silêncio aterrador, pincelando o céu de Blanco com um alaranjado vibrante e o violeta gradiente entre as nuvens rarefeitas, não consegui me mover do casulo sufocante em que havia me fechado com a criança chorando em meus braços.
Os grandes olhos amendoados — ainda tremulando com as lágrimas recentes — me encaravam com atenção em meio a penumbra do quarto em que havia nos trancado horas antes. Talvez em algum lugar daquela doce consciência infantil, Marie soubesse o quão assustada eu estava, talvez minhas mãos trêmulas se fechando em volta dela a fizessem pensar que sua mãe era uma completa covarde.
Foi como me senti quando fui tomada pela sensação da bolha sufocante se formando ao meu redor, sugando o ar de meus pulmões feito um buraco negro enquanto tudo o que pensava era o que estava a espreita do lado de fora, esperando para atacar. Reuni até a última gota da força que tinha para não deixar meus braços fraquejarem em volta do bebê, Marie fora tudo o que me impedira de apenas me atirar no canto e abraçar os joelhos no escuro feito uma criança assustada.
Como fizera uma vez há seis meses.
Precisava ser forte por ela, por isso passei horas me movendo de um lado para o outro entre a mobília feito uma leoa cercando seu filhote. Por inúmeras vezes, olhei sobre o ombro para a porta trancada ou para a janela como se esperasse que algum monstro de meus piores pesadelos apenas surgisse para nos fazer mal após aquele momento de calma traiçoeiro.
Só fui arrancada da névoa de pânico quando o som dos pneus parando em frente a casa me despertou, mas permaneci no cômodo — esperando que não fosse um truque, que eu não fosse apenas atraída para uma nova armadilha como da primeira vez.
Minutos depois, batidas urgentes soaram na porta do quarto, fazendo-me saltar contra a cômoda do lado oposto.
— Bella! — Edward bradou do outro lado. — Você está aí?
E foi seu tom desesperado por uma resposta que me impulsionou a mover os pés para seguir adiante e abrir a porta. Meu marido disparou para dentro assim que girei a chave, os olhos vítreos me banhando com aquela preocupação que eu conhecia tão bem enquanto suas mãos seguravam meu rosto.
— Amor, você está bem? — Ele exalou, ofegante. Então, suas mãos caíram para o bebê entre nós. — Marie está bem?
— E-está — balbuciei, mantendo o aperto firme em volta de nossa filha enquanto encarava a escuridão do corredor. — Vo-você viu… Você viu alguma coisa?
Edward franziu as sobrancelhas e olhou sobre o ombro.
— Não — suas mãos caíram para afagar meus braços, o alívio nítido em seu semblante não diminuiu minha aflição. Nem um pouco. — O que houve, Bella? Encontrei toda a casa no escuro quando cheguei, pensei que… Droga, eu nem sei o que pensava, apenas precisava encontrar você.
— Tinha alguém aqui.
O sangue pareceu congelar em suas veias e a palidez tomou o lugar naquele belo rosto quando Edward arregalou os olhos.
— Espere, o que?
— Eu não vi quem era ou onde estava… ou por onde entrou — pisquei, atordoada. — Mas, eu podia sentir, Edward. Não estava sozinha aqui, disso tenho certeza.
Contive a vontade de abraçar meu próprio corpo enquanto ele estudava meu rosto como se estivesse nua. Minhas lágrimas já haviam secado quase que completamente, mas ameaçaram cair outra vez quando notei aqueles lábios entreabertos — hesitando com quaisquer pensamentos que ansiavam para sair e, possivelmente, me machucar.
Edward não era assim, ele não era como eu, impulsivo e inconsequente. Meu marido era o responsável de nossa relação, media suas palavras com cautela e, mesmo assim, eu sabia quando estava prestes a não ser sincero.
Antes que pudesse acusá-lo à queima-roupa, sua atenção desviou para baixo quando ele recuou um passo.
— Está machucada — disse de repente.
— Não, eu…
— Sim, você está — ele indicou meu pé esquerdo.
A mancha carmim do sangue endurecido em volta de meus dedos deveria estar há um bom tempo ali, apenas uma área levemente inchada do dedão que assumia um tom rosado característico do baque. Só então me dei conta da pontada latejante no canto, onde a unha havia se partido. Parecia o tipo de coisa que eu absolutamente pretendia ignorar até que desaparecesse com o tempo.
— Ah, isso não foi nada — virei o rosto, percebendo outro ponto dolorido, um pouco mais acima, no joelho. Provavelmente um hematoma provocado pelo escorregão no corredor molhado. — Devo ter tropeçado nos degraus enquanto corria para o quarto da Marie.
— Acho melhor fazer um curativo.
— Isso é bobagem, Edward. Não precisa se preocupar…
— Apenas me deixe cuidar disso, okay? — Insistiu, se inclinando para me beijar levemente na bochecha antes de me guiar para o nosso quarto.
Fiquei em silêncio, sentada na cama enquanto observava Edward se mover pelo quarto em busca do modesto kit de primeiros-socorros como em uma noite qualquer, embora minha atenção ainda estivesse parcialmente focada na porta aberta, apreensiva.
Deixei que ele fizesse o que queria sem mais protestos, mas não conseguia compreender como Edward era capaz de manter tamanha frieza enquanto deixava a gaze suja de sangue de lado. Era quase como se não tivesse absorvido nenhuma de minhas palavras.
— Não acredito que se importa mais com um corte idiota do que o que eu lhe contei — resmunguei, incapaz de ficar quieta por mais um segundo com minha perna estendida sobre a sua.
— Você está bem, Marie está bem — disse ele calmamente, concentrado no curativo. — Isso foi tudo o que eu ouvi.
Bufei ao me levantar, exasperada.
— Será que ao menos dá para me olhar enquanto falo!? — Exigi, arqueando a sobrancelha.
Exalando um suspiro profundo, ele apoiou os braços sobre os joelhos e ergueu seu olhar para mim.
— O que quer que eu diga, hein? Você estava machucada quando cheguei e sequer percebeu isso antes de começar a despejar coisas sem sentido para cima de mim.
— Oh, me desculpe se eu estava mais preocupada com minha filha gritando no segundo andar! — Cuspi, sentindo o sangue ferver em minhas veias. — Podemos apenas focar no que realmente importa!? Alguém esteve aqui mais cedo, cada maldita porta e janela estava escancarada depois que eu mesma tranquei porque estava prestes a chover...
— Isso foi apenas uma tempestade, Bella. Eu avisei sobre as trancas antigas e me ofereci para trocá-las, mas foi você mesma quem disse que não era mais necessário — lembrou, esfregando os olhos com o polegar e o indicador, com a paciência de alguém que explica uma coisa óbvia para uma criança. — O vento devia estar forte demais, foi apenas isso.
— Não foi! Eu sei que havia alguém aqui comigo, pude ouvir lá de baixo.
— E o que você ouviu?
A memória auditiva daquele assobio fez cada pelo de meu corpo se eriçar. No entanto, empurrei bem fundo os calafrios que ameaçavam atingir a superfície e limpei a garganta.
— Ouvi baques vindo do porão e quando desci, senti que algo arranhava aquelas paredes, não era nada como um roedor, era… era como o som de unhas na pedra — franzi o cenho, lembrando-me do ruído lacerante. — Depois o ouvi assobiando pela casa, mas você não estava em lugar nenhum.
Ele deslizou a língua pelos lábios, varrendo os cabelos cor de bronze com a mão de um jeito nervoso. Conhecia aqueles trejeitos o bastante para saber o rumo que estávamos tomando com aquela conversa.
— Então, está dizendo que estamos sendo assombrados, é isso? — A descrença por trás daquelas palavras provocou minha ira, mas uma discussão não resultaria em nada além de mais problemas.
Inspirei fundo e reuni toda minha paciência restante, optando pelo caminho mais fácil.
— Havia sangue no chão do quarto de Marie, ao lado do berço — murmurei, quase sem forças para discutir. — Como você explica isso?
— É claro que era seu — ele indicou meu curativo antes de sustentar meu olhar, determinado em me contrariar. — Por Deus, Bella! Eu realmente achei que tivéssemos feito algum progresso após a mudança, mas estou vendo como nada mudou para você.
— Não fale como se eu estivesse ficando louca! — Rosnei, entredentes. — Eu não imaginei nenhuma dessas coisas. Você não estava aqui, não sabe como me senti com a ideia da minha filha correndo perigo outra vez.
— Pare — disparou em um tom afiado. — Eu nunca disse que está louca, não tente inverter a narrativa aqui!
As sombras envolveram aquela voz aveludada com uma ordem cortante que me calou. Quando permaneci em silêncio por um longo momento, Edward notou a surpresa e a mágoa nublando meus olhos com as lágrimas que transbordavam ali.
— Desculpe, não quis gritar com você — ele disse ao avançar até mim para descansar as mãos em meus ombros, arrependido de usar aquela autoridade letal. — Amor, precisa admitir que passamos por muita coisa nos últimos meses. Talvez ficar aqui, sozinha e vulnerável, pela primeira vez tenha despertado essa sensação de insegurança… Talvez, inconscientemente, só esteja buscando motivos para desconfiar do nosso lar como na casa de Austin.
— Você e essa sua psicologia fodida — rebati, desviando de seu toque. — Me recuso a ouvir mais um segundo dessa merda.
Dei de ombros e segui para a porta.
— O que está fazendo?
— Saia — ordenei, indicando a saída com a cabeça.
— Isabella — ele protestou, franzindo o cenho. — Vai apenas dar as costas para mim no meio da conversa e agir feito uma criança mimada!?
— Conversa é quando duas partes falam e se escutam. Você obviamente não está interessado em me ouvir falar nisso, então não vamos chegar a lugar algum — retruquei, erguendo o queixo ao falar. — Minha filha vai dormir conosco hoje. Se você não acredita que há algo de errado com esta casa, então irei protegê-la sozinha.
Edward bufou.
— Você não precisa proteger ninguém aq…
— Saia! — Repeti. — Ou então, eu sairei.
Estava mesmo disposta a bater o pé, mas não foi necessário. Em silêncio, ele se moveu para fora do quarto de cabeça baixa antes que nossa discussão tomasse maiores proporções.
Bati a porta depois disso.
Acordei no meio da noite sobressaltada. A inquietação me rondava com os mesmos pesadelos que me visitavam há meses e devastavam meu sossego com flashes e mais flashes do passado.
A primeira coisa que encontrei fora a bebê adormecida e aninhada em meus braços com o semblante solene, mas o lugar ao seu lado estava completamente vazio. Percorri a palma da mão pelos lençóis brancos e tudo o que encontrei fora a superfície plana e fria, sem qualquer sinal de que Edward estivera ali.
Não havia esperado por ele antes de pegar no sono.
Nem me lembrava de qualquer movimento seu entrando no quarto, talvez apenas estivesse chateado demais para retornar. De qualquer forma, deslizei cuidadosamente para fora da cama, me certificando de que Marie permanecia intocável antes de calçar as pantufas e caminhar para fora do quarto, para a escuridão silenciosa do lado de fora.
Quando cheguei ao pé da escada, encontrei-o dormindo no sofá da sala entre lençóis e travesseiros — que provavelmente arrastara do quarto de hóspedes até ali para ficar mais confortável. Imediatamente, me senti culpada por lhe dar as costas mais cedo, não costumávamos brigar o bastante para dormirmos separados e, embora tivesse plena consciência de que tinha mais motivos para estar irritada com ele do que vice-versa, não suportava tê-lo longe de mim.
Avancei alguns passos e estiquei a mão para percorrer seus cabelos rebeldes suavemente. Edward piscou algumas vezes, forçando seus olhos para me enxergar no escuro.
— Bella? — Ele murmurou meio grogue.
— Ouviu alguma coisa?
— Shhh, está tudo bem.
Um suspiro profundo de alívio arqueou seu peito e ele se sentou no sofá, arrastando uma mão pelo rosto. Suas pálpebras pesadas e olhos vermelhos sugeriam que Edward não havia pegado no sono muito antes de eu aparecer.
— Por que está dormindo aqui embaixo?
— Hum, você disse que tinha ouvido coisas aqui… — ele inclinou a cabeça para a direita, indicando o corredor. — Então, fiquei para ouvir caso acontecesse de novo.
De repente, entendi.
Edward não estava irritado comigo, estava preocupado com a nossa segurança. É claro que estava.
— Você acredita em mim? — Sussurrei, fitando a porta da frente fechada. — Quer dizer, realmente acredita?
— É claro que eu acredito — assentiu com convicção e pegou minhas mãos entre as suas. — Fui um babaca com você e não soube me expressar. Eu só… isso me deixa um pouco louco, sabe. Não consigo pensar em colocar você e nossa filha em risco de novo, principalmente enquanto estou tão longe de casa para protegê-las.
— Agora é diferente...
— Não tenho certeza. Está claro que ainda não se sente segura aqui, esta casa pode ser meu lar agora, mas obviamente ainda não é o seu.
— Eu não sei se algum dia irei voltar a me sentir confortável em qualquer lugar, Edward — confessei, sentindo um nó apertar na minha garganta. — Por mais que eu lute contra isso, o medo não é algo que tenho total controle.
— Vou fazer o impossível, se for necessário, para que sinta — ele prometeu, beijando cada uma de minhas mãos carinhosamente.
— Espero que não precise.
As íris brilhantes se ergueram para me encarar e só então pude sentir a sinceridade daquela promessa reverberar de tal forma em meu peito que mesmo o medo que me corroía por dentro pareceu se assentar de alguma forma.
— Amo você — declarou ao apoiar a testa contra meu abdômen sobre a camisola, espalmando meus quadris em uma carícia suave. — Me perdoe por mais cedo, eu estava sendo um completo idiota.
— Relaxe, todos temos dias ruins — sorri de lado ao dedilhar seus cabelos macios, então me inclinei para beijar sua boca. — Venha comigo, vamos voltar para a cama.
— Fim do castigo?
— Não abuse da minha boa vontade.
Aquele sorriso de lado estava de volta, iluminando seu semblante apesar das sombras que nos envolviam. Toquei suas costas, incentivando-o a ficar de pé e seguir comigo para a escadaria, algo que Edward prontamente obedeceu ao entrelaçar nossas mãos.
De volta a tranquilidade do quarto, observei-o até que ele pegasse no sono ao meu lado.
Deveria ser paciente com Edward, me lembrar constantemente da pessoa que amava e esperar que aquilo fosse o bastante para me agarrar e simplesmente não ceder às cicatrizes que agora marcavam nossas vidas, pois aquilo significava ceder também a escuridão e a todo o amargor dos traumas e permitir que um evento sombrio de nossa história apenas vencesse toda a beleza do resto.
Eu seria forte desta vez.
Me mantive de pé pelos próximos dias.
Ainda que não houvesse um só momento em que não me assustasse com Edward assobiando inocentemente pela casa, estava decidida a guardar meus pensamentos e dúvidas para mim mesma, pelo menos até que elas deixassem de ser dúvidas e se tornassem fatos.
Todas as manhãs, ele partia para a cidade e eu o observava da soleira da porta, internamente ansiosa para o seu retorno no fim da tarde. Não conversamos outra vez sobre o ocorrido e, para ser sincera, me dei por vencida em algum momento durante as vezes em que ele tentou retomar o assunto. Naquele ponto, a parte racional de meu cérebro implorava para concordar com seus argumentos.
Eu podia ter exagerado e sabia disso.
Os ruídos que ouvira no porão só poderiam ser ratos, é claro. Portas e janelas abrindo sozinhas? A casa era antiga e desgastada, apenas alguns reparos poderiam resolver isso. O sangue no quarto de minha filha só poderia ser meu, era a explicação que fazia mais sentido diante das circunstâncias.
Resolvi que em vez de seguir com os escândalos a cada pequeno susto, deveria fazer algo para realmente evitá-los a fim de manter a paz naquela família. Dois dias depois, Edward retornou do trabalho com os itens de minha pequena lista de compras, incluindo as novas trancas que decidi instalar alegremente para garantir que não haveria mais imprevistos durante as tempestades.
Além disso, espalhei ratoeiras em lugares estratégicos do porão e, apesar de não ter pescado qualquer coisa ali, me senti satisfeita por saber que não tínhamos inquilinos fixos no espaço. Assim, pude terminar a pintura do quarto de hóspedes em paz e tive a ajuda de Edward para mobilhar o cômodo com os móveis que armazenamos no porão após a mudança.
E com o estoque de materiais para os reparos abastecido, ocupei minha mente dessa maneira por quanto tempo conseguia — exceto pelos momentos em que recebia as visitas de Rosalie que, apesar de serem muito frequentes, eram mais que bem-vindas em meus dias monótonos.
Em uma manhã ensolarada de abril, enquanto removia o papel de parede floral brega da cozinha, ouvi o rugido estrondoso do motor da caminhonete se aproximando da casa. Rapidamente, me movi para a janela e observei Emmett estacionar o veículo na entrada, saltando para fora em seguida. Internamente, me senti um pouco decepcionada pela ausência de Rose, mas apressei o passo em direção a entrada quando o tilintar da campainha soou pela casa.
Por um instante, parei em frente à porta fechada — amaldiçoando mentalmente o momento em que decidi vestir as roupas mais surradas do armário enquanto dedilhava alguns fios bagunçados que fugiam do lenço em que os envolvi. Logo me ocorreu que, felizmente, Emmett não era o tipo de pessoa que ligava para aquilo e abri.
— Hey, Bella! — Ele me cumprimentou da soleira com seu típico sorriso de covinhas. — Desculpe por aparecer assim sem avisar… de novo. Estou atrapalhando?
— Imagina, você jamais atrapalha — gesticulei casualmente. — Estava apenas fazendo alguns reparos na cozinha. Gostaria de entrar?
O moreno acenou, recuando um passo quando abri caminho.
— Não, não precisa. Só apareci rápido para falar com você antes de ir até a cidade.
— Sobre o que, exatamente?
— Bem — ele esfregou as mãos, empolgado. — Rose e eu estamos comemorando sete anos de casados hoje...
— Oh, eu não estava sabendo, Rose não me disse nada. Meus parabéns!
— Obrigado, Bella — Emmett sorriu novamente. — Nós pensamos em fazer um almoço em nossa casa para comemorar neste fim de semana, você sabe, o famoso churrasco texano de domingo, só para os amigos mais próximos. Gostaríamos que estivessem lá.
Duas informações me levaram a mergulhar em sentimentos opostos.
Por um lado, fui tomada pela sensação de acolhimento ao perceber que Rose e Emmett nos consideravam como seus amigos. Parecia demasiadamente emocional de minha parte, mas ter consciência daquele fato me fez pensar que estávamos finalmente criando raízes em Blanco, talvez aquele fosse apenas o início da caminhada para me sentir em casa naquele lugar tão novo e estranho a mim.
Mas a outra parte — a que vivia assombrada por um passado perturbador — se encolheu com a ideia de estar entre tantas pessoas que não conhecia, exposta de tal forma que fazia não me sentir segura. O pensamento fez meu semblante desabar, algo que, se Emmett percebeu, escondera muito bem.
— Então, o que acha?
Não seja grosseira. Não rejeite esta tentativa de de vínculo. Não seja covarde.
— Ah, eu agradeço pelo convite — hesitei, engolindo com dificuldade. — Irei falar com o Edward, mas… acho que está tudo bem.
— Ótimo! Rose vai adorar saber disso, ela costuma enlouquecer nesses almoços com tantas visitas pela casa, vai ser bom ter uma amiga por perto.
Rosalie.
A loura estava sendo tão doce e amigável desde nossa chegada na cidade que simplesmente não pude digerir a ideia de recusar um convite seu. E havia Emmett, caloroso e gentil de uma forma que conquistara meu marido em pouco tempo, abrindo espaço para uma amizade que poderia ser construída com algum esforço de minha parte.
Queria fazer isso, queria enfrentar meus medos e não só por Edward ou por nossa filha.
Mas por mim mesma.
— Vai ser um prazer — afirmei, sentindo a confiança crescer em meu peito.
— Não precisamos ir se não quiser — me disse Edward, erguendo os olhos brevemente de sua máquina de escrever na biblioteca.
Fingi não perceber a empolgação que brilhara em suas íris quando lhe contei sobre o convite do casal durante o jantar, algo que ele rapidamente disfarçou enquanto esperava uma opinião minha sobre o assunto.
Era evidente como voltara a pisar em ovos perto de mim, a verdade era que meu último colapso nervoso fora o impulso que faltava para que Edward voltasse a ser o maldito zeloso e superprotetor que eu odiava.
— Eu quero ir — afirmei, acomodando-me na espreguiçadeira em frente à lareira enquanto apoiava a cabeça na mão. — Pensei bastante sobre isso e acho que pode ser bom passar algum tempo juntos… Quer dizer, longe daqui.
— Tem certeza de que vai se sentir bem entre tantas pessoas desconhecidas? Não quero que se sinta desconfortável só para me agradar.
— Vou ficar bem, não posso simplesmente continuar fugindo e me escondendo das pessoas pelo resto da vida. Além disso, eles nos convidaram porque acham que nossa presença é necessária, não quero fazer desfeita e acabar soando rude.
— Nada é necessário, Bella.
Após uma pausa silenciosa, o observei levantar e dar a volta na escrivaninha até se juntar a mim, sentando-se ao lado de minhas pernas esticadas e repousando a mão na minha coxa sobre a camisola.
— Sabe disso, não é?
— Gosto de Rose e Emmett — confessei enquanto ele colocava uma mecha de meu cabelo para trás da orelha. — Precisamos fazer alguma coisa normal e saudável se queremos mesmo viver em paz aqui, precisamos recomeçar. Eu ficaria… feliz com isso.
— Como quiser, meu amor.
Seu sorriso genuíno me atingiu feito fogos de artifício bem no estômago e ele se inclinou para roçar sua boca contra a minha pouco, a língua me invadindo pouco depois em uma dança quente e sensual. Senti as mãos grandes correrem preguiçosamente para minha cintura, alinhando nossos corpos enquanto afundava meus dedos naqueles fios sedosos cor de bronze.
Quando deslizei minha mão para o seu peito, sentindo-o estremecer enquanto a chama ardente queimava sob minha pele, Edward recuou. Como um balde de água congelante atirado bem em cima de minha pele nua.
— Ligue amanhã para confirmar nossa presença — disse ele antes de selar nossos lábios uma última vez e retornar para a escrivaninha.
— Ligarei — assegurei, sem fôlego, com nada além da decepção estampada em meu rosto. — Edward, o que tanto faz nessa máquina? Sequer esperou a sobremesa antes de correr para cá…
— Ah, você não vai acreditar! Hoje estava preparando uma matéria para o jornal e tive que reunir algumas informações de manchetes antigas, foi assim que acabei encontrando uma que me inspirou a escrever essa nova história.
De repente, enxerguei algo que não via há anos.
O jovem que saíra do interior para cursar letras na cidade grande, o sonhador e criativo que construía narrativas que faziam seu coração bater mais forte, o mesmo que ansiavam por publicar seus livros em uma editora — o Edward que realmente acreditava nisso.
O escritor que adiou o prazer da criação quando cruzei seu caminho, quando decidira esgotar todas as suas energias para construir nossa vida juntos até que não restasse mais um rastro para o caminho de volta. Quando descobri estar grávida, sequer me lembrava da última vez que ouvira Edward me contar sobre uma nova história.
Ou sobre seu sonho.
— Amor, isso é ótimo! — Sorri, alegre por vê-lo tão animado outra vez. — Sobre o que fala o livro?
Notei certa tensão se formar em seus ombros largos quando Edward se recostou na cadeira, olhando-me sobre os óculos.
— Na verdade, eu meio que esperava finalizar antes de mostrá-lo para você — explicou. — Quer dizer, ainda é só um mero rascunho do caminho que pretendo seguir… quero que esteja perfeito quando ler.
— Sempre me mostrou suas outras histórias, amor — comentei ao franzir as sobrancelhas, levantando-me do assento para me aproximar dos manuscritos, como se fosse capaz de bisbilhotar discretamente daquela distância. — Por que agora é diferente?
— Porque esta é especial, verá na hora certa.
Assenti, um pouco desconfiada.
Por outro lado, aquele brilho apaixonado cintilava em seus olhos, como eu poderia ofuscar aquele sentimento quando sofrera com a falta dele? O homem por quem havia me encantado quando mais nova ainda vivia ali e, o mais importante, Edward estava deixando o passado para trás da sua maneira.
Como eu deveria fazer.
— Tudo bem — concordei ao chegar mais perto para beijá-lo rapidamente. — Só não demore a se deitar, amanhã você tem trabalho bem cedo.
— Boa noite, amor.
Enquanto fechava as longas portas do escritório, senti um pouco da familiaridade reconfortante expandindo em meu interior. Talvez as coisas estivessem voltando a sua normalidade no fim das contas.
A propriedade de Rosalie e Emmett era tipicamente um rancho.
Por trás dos campos perfumados de lavanda, haviam estábulos com cavalos robustos de pelagem reluzente, além de ovelhas e cabras — animais que Rosalie descreveu com muito carinho durante suas visitas. Quando paramos o carro em frente a casa principal, tive que me segurar para não ficar boquiaberta.
A residência era assustadoramente grande para um casal sem filhos, possuía espaço o suficiente para abrigar um time inteiro de futebol e concluí isso em apenas alguns instantes observando a fachada deslumbrante pela janela do carro. Apesar da construção aparentar simplicidade, eu podia dizer que os dois acertaram em sua escolha se a intenção era transformar o lugar em um santuário de conforto.
Cada detalhe provocava certo sentimento de comodidade a quem chegava ali, desde as paredes pintadas de um amarelo pálido, quase manteiga, até o jardim de magnólias cuidadosamente cultivado na entrada. A casa possuía dois andares com muitas janelas espalhadas, como uma casa histórica dos romances de Jane Austen que Edward me apresentara há alguns anos, poderia até chutar que fora uma escolha pensada de Rosalie.
— Vocês chegaram! — Ela nos recebeu calorosamente na entrada, me puxando para um abraço carinhoso antes de cumprimentar Edward com um aperto de mãos. — Puxa, ainda bem. Não aguentava mais ouvir o Emm perguntando sobre vocês a manhã inteira.
— Acredite, eu entendo. Edward estava me perturbando a semana inteira sobre o almoço — disse com um sorriso, lançando um olhar acusatório para meu marido.
Ele revirou os olhos feito uma criança, constrangido.
Emmett estava de pé com uma cerveja aberta na mão, cercado por um pequeno grupo de pessoas na varanda que ladeava toda a casa. O moreno sorriu amplamente ao acenar para Edward que retribuiu da mesma forma.
— Vocês tem uma bela casa — observou, enquanto Rose nos guiava para dentro.
— Realmente. É tão grande e aberta…
— Ah, é tão bom ouvir isso de alguém que entende sobre o assunto. Emmett quis arrancar minha cabeça quando chegou de uma viagem de trabalho e encontrou as paredes amarelas — ela riu, jogando as ondas douradas para trás dos ombros. — Sabe, eu amo esta casa. Mas ela é tão grande… Às vezes, é meio solitário.
— Isso é uma coisa boa, mais espaço para aumentar a família.
— Ora, Edward — franzi o cenho, lançando-lhe um olhar de repreensão. — Não ligue para o meu marido, ele cresceu em uma daquelas famílias numerosas do interior.
Sabia que a loira não se sentia confortável em falar sobre filhos após suas tentativas falhas de engravidar, já vira a tristeza escurecendo aqueles belos olhos castanhos antes. Mas Edward não sabia daquela informação, pois eu não havia lhe contado.
— Imagina, Edward está certo — ela concordou. — A ideia era exatamente essa quando compramos a casa, mas ainda pretendo encher este lugar com muitas crianças algum dia.
Sorri para ela em apoio, admirava sua positividade, apesar das decepções. Rosalie retribuiu docemente ao tocar a mãozinha da criança em meu colo.
— Venham, vou mostrar tudo para vocês.
Fomos apresentados a muitas pessoas.
A casa estava cheia e logo me dei conta de que a percepção de Rosalie do que eram poucos amigos podia ser bem distorcida. Conhecemos alguns trabalhadores da fazenda, membros da igreja da cidade que o casal frequentava e outros tantos núcleos que minha memória frágil simplesmente apagou os nomes cinco minutos depois.
Cada passo em direção aquelas pessoas era como uma dura escalada no precipício de pânico que se instalara em minha mente, cada sorriso educado que oferecia era o cravar de unhas na pedra para me impulsionar mais alto. Depois de dois ou três grupos, minha respiração desacelerou ao nível aceitável e notei quando Edward afagou meu ombro, silenciosamente orgulhoso de meu esforço.
Fiquei surpresa ao reconhecer o rosto de uma morena em uma das mesas montadas no quintal. Carmen Denali estava acompanhada de um homem — que mais tarde descobri ser seu namorado — e mais três irmãs, foi apenas uma questão de tempo até que a corretora se aproximasse para nos cumprimentar, interessada em saber se estávamos bem acomodados na nova casa.
Percebi quando Edward engoliu em seco com a pergunta, lançando-me um olhar preocupado. Mas me limitei a dizer que estávamos indo muito bem.
Em determinado momento, conhecemos o Pastor Weber e sua adorável filha única, Angela, que trabalhava no centro histórico da cidade. A morena passou horas me entretendo com suas informações interessantes sobre Blanco, desde sua origem até as lendas que sussurrava nos ouvidos dos habitantes. Acabei sentada junto dela, de Edward e de Rosalie em uma mesa durante o almoço, vez ou outra sendo abordada por um curioso interessado em saber quem era a estranha no ninho.
— Acho que exagerei na limonada — comentou Angela, se levantando e deixando a bolsa sobre a cadeira. — Rose, onde fica o banheiro nesta casa enorme?
— Vire à direita e depois a esquerda, última porta do corredor.
A morena praticamente correu em seus saltos baixos para a entrada.
— Talvez devesse colocar um mapa para facilitar as coisas — sugeri em tom de brincadeira.
— Ah, não me fale. Já repeti isso milhares de vezes esta manhã, é como um discurso pronto para as visitas.
Rosalie revirou os olhos, bebericando de sua cerveja.
— Peguei para você — Edward me surpreendeu ao surgir atrás de mim com uma garrafa de coca-cola na mão, a sua pairava pela metade na outra. — Está muito fazendo muito calor hoje.
— Obrigada, mas estou bem.
— Ah, não — Rosalie estalou a língua, virando para mim. — Você quase não comeu no almoço, Bella. Precisa ao menos beber alguma coisa, não vai me dizer que está em uma dessas malditas dietas que só adoecem as mulheres.
— Eu não faço dieta nenhuma. Só estou sem fome, Rose.
De pé, ao lado da mesa, Edward estreitou os olhos na minha direção. Poderia tentar enganar a loura, mas com meu marido a história era outra.
Minha falta de apetite o estava incomodando há meses e sabia que ele reparava na perda de peso também, mas sua insistência para que eu procurasse um bom médico fora ignorada por tantas vezes que agora Edward se limitava a apenas empurrar quanta comida conseguia para cima de mim. A relutância contra médicos seguia mais forte do que qualquer coisa, afinal não tinha fáceis lembranças da última vez em que estivemos em um hospital.
— Você não está doente, está? — Ela perguntou para mim, embora seu olhar preocupado tivesse sido direcionado a Edward.
— Saberíamos se ela me deixasse levá-la ao médico.
Lancei um olhar de reprovação para ele.
— Estou perfeitamente bem — garanti. — Só não gosto de médicos ou… hospitais.
— Se isso for um problema, eu posso ajudar. Antes de assumir a floricultura da minha família em Dallas, me formei em botânica na Universidade do Texas e isso me trouxe muito conhecimento em torno da medicina natural.
— Você é curandeira ou algo assim? — Edward ergueu as sobrancelhas, acanhado.
Bati levemente em seu peito, censurando-o para que ouvisse.
— Não, eu não sou uma curandeira, Edward — ela gargalhou, um pouco mais animada com o álcool correndo em seu organismo. — Tudo o que acredito é na ciência que aprendi com anos de estudo e no efeito real que as ervas provocam. Se quiser, posso lhe oferecer algumas misturar para você se sentir melhor, Bella.
— Ah, receio que talvez não seja necessário — pisquei, hesitante. Do jeito que Rose era inclinada ao álcool, me peguei imaginando que tipo de erva ela havia estudado na faculdade. — É apenas um mal-estar, irá passar logo...
— Bem, se ela não quiser, eu quero.
Olhei para Edward, irritada.
O loiro apenas enfiou as mãos nos bolsos com um cinismo plausível, batendo o pé em sua decisão.
— É assim que se fala — a loira piscou para ele, grata pelo voto de confiança. — Vou conseguir para você e lhe entrego quando estiverem indo embora.
Antes que eu tentasse propor mais uma rodada de negação, Marie reclamou em meu colo. A bebê esfregou as mãozinhas em punho pelo rosto corado e começou a grunhir um choro baixinho. Rapidamente a confortei contra meu peito, temendo que ela iniciasse um escândalo em público.
— Oh, meu amor. Não precisa chorar — cantarolei baixinho ao distribuir leves tapinhas em suas costas, balançando-a devagar em meus braços. — Shhhh, mamãe está aqui.
— Quer que eu a leve para dentro? — Edward perguntou, dando a volta na mesa para pegar a filha.
— Hum, acho que ela só precisa dormir um pouco — encarei as pessoas conversando pelo jardim, onde uma música ambiente soava de algum aparelho próximo. Me virei para Rosalie em seguida — Será que posso levá-la a algum lugar mais tranquilo?
— Tenho o espaço perfeito para você, venha comigo — ela apontou a entrada, cambaleando um pouco ao se levantar. — Edward, avise o Emm que estou com a Bella lá dentro, tudo bem?
O par de olhos verdes me fitou com uma pergunta pendendo nas entrelinhas, mas apenas sorri em confirmação ao beijar seu rosto antes de me afastar. Edward assentiu para Rosalie e se moveu até o grupo onde o amigo estava conversando.
Uma rápida olhada sobre o ombro e reparei no quanto meu marido parecia confortável e feliz ali com as pessoas, aquele fato era o precisava para saber que não deveria temer o lado de fora do casulo.
Seria assustador no primeiro momento, mas fascinante a longo prazo.
— Por que tem um quarto de bebê na sua casa? — Perguntei quando entramos em uma porta no fim do corredor, no segundo andar.
Apesar de pequeno, o cômodo era aconchegante o bastante para receber uma mãe e seu bebê sem que o espaço fosse um problema. Um berço de madeira caramelo se empoleirava na parede, junto de um armário à esquerda e uma poltrona confortável do outro lado, próximo da janela. Foi onde me acomodei, desabotoando o decote de meu vestido para amamentar Marie.
— Bem, a princípio, não era nosso — ela explicou, deslizando a mão pelo pequeno cavalinho de madeira lustroso ao lado do banco onde se sentou. — Emmett mobiliou este quarto para minha cunhada quando ela teve seu neném. Sua casa estava passando por reformas e ela não queria expor a criança a toda a confusão do processo.
— Faz sentido. Na verdade, seria ótimo se eu pudesse deixar Marie em outro lugar enquanto faço os reparos na casa, mas na maioria das vezes apenas a tranco no quarto para que o cheiro dos materiais não lhe façam mal.
Observei minha filha e sorri para ela enquanto acariciava sua bochecha corada com a ponta dos dedos. Não havia nada mais poderoso do que o sentimento de lhe dar segurança naquele momento.
— Sabe, se precisar de alguém para tomar conta dela… — A loira acrescentou. — Pode deixá-la comigo, Bella.
— Ah, não — balancei a cabeça, um pouco apavorada com a ideia de me afastar de Marie. — Eu não gostaria de incomodar e, para ser sincera, também não sei se conseguiria ficar longe dela.
— Incomodar? É claro que não! Eu adoro crianças e, sem querer me gabar, sou conhecida por levar muito jeito com elas.
— Não tenho dúvidas disso — sorri de lado, encarando o bebê.
Marie parecia adorá-la, mas não imaginava como poderia ser diferente. Com a loura brincando e mimando minha filha nos momentos em que permiti que ficasse com ela, imaginei que Rosalie seria uma mãe muito amorosa algum dia.
— Isso foi um sim?
— Foi um "vou pensar" — respondi, apenas para fazê-la desistir. — Mas não acredito que realmente queira isso, minhas amigas de Austin costumavam fugir do favor de ficar de babá, mesmo que por apenas algumas horas.
— Ah, então elas não eram suas amigas de verdade. Eu sou.
Mordi o lábio inferior, contendo um sorriso de satisfação ao ouvi-la.
Não sabia se faria aquilo outra vez, não sabia se seria considerada amiga de alguém após dar as costas para todos os antigos amigos em Austin. Por dentro, me sentia a pior pessoa do mundo por afastá-los, ansiosa para me fechar no casulo impenetrável de medo e autopreservação, mas foi inevitável.
No entanto, Rose me fazia sentir mais normal do que me sentira em meses.
— Obrigada — disse sinceramente. — Mas, já que tocou no assunto, lembro de você me dizer que tinha poucos amigos na cidade. Bem, a casa parece cheia.
— Aquelas pessoas não são meus amigos. São velhos amigos de Emmett, se conhecem desde muito antes de eu decidir me mudar para cá — disse ela. — Talvez Angela seja o que de mais próximo tenho de uma amiga entre todos eles.
— E quanto a sua cunhada? Acho que não fomos apresentadas, ela veio?
Qualquer que fosse a leveza presente no semblante da loira foi substituída por uma palidez sombria. Percebi sua mudança de humor quando Rosalie encarou as próprias mãos sobre o colo.
— Bem, ela…
Duas batidas suaves na porta e ela se abriu.
— Oh, desculpe — disse Emmett ao enfiar a cabeça pela abertura na porta, àquela altura já abotoava meu vestido outra vez. — Rose, o Dr. Hunter acabou de chegar, ele quer cumprimentar você.
— Tão tarde?
— Seja paciente, ursinha. Você sabe que ele tem horários bem cheios na clínica.
Ela suspirou, revirando os olhos.
— Diga que eu já estou indo, okay? — Ela se virou para mim no banquinho. — Bella, fique à vontade com a sua filha, volto logo e trago o que combinamos.
Assenti e então Rosalie se foi.
Marie pegou no sono não muito depois.
Imaginei que seria melhor deixá-la no berço enquanto lembrava Edward de que deveríamos voltar para a casa, assim lhe daria algum tempo para se despedir de todos.
No entanto, enquanto descia as escadas, parei para observar os retratos pendurados de maneira aleatória na parede. Em alguns deles, Emmett e Rosalie exibiam sua felicidade plena nas fotografias de viagem de pesca e na de casamento, onde a loira exibiu seu lindo vestido de noiva bordado com um longo véu.
Mas foi um pequeno porta-retrato, entre tantos outros, que me chamou a atenção.
Parecia ser uma reunião familiar de natal, nossos amigos apareciam posando ao lado de outro casal com seu filho, um bebê que aparentava pouco mais de um ano. A mulher na imagem era linda, suas ondas cor de nanquim caíam sobre os ombros até a altura do peito e seu sorriso largo de covinhas — idêntico ao de Emmett — a faziam parecer bem nova, como uma beleza juvenil.
Já o homem de pé atrás dela, abraçando seus ombros, era o oposto. Era sem dúvidas o tipo de figura que atraía a atenção das mulheres, aparentava ser alto e musculoso, os cabelos loiros eram compridos até a altura do queixo e aqueles olhos de um azul intenso eram possivelmente a única coisa que seu filho herdara dele.
Mas a seriedade do seu rosto perfeito me provocou uma sensação ruim.
— Ah, Rose ama esse mural...
Me virei para encontrar Angela parada ao pé da escada, me observando ser uma maldita curiosa.
— São belas fotos, acho que ela gosta de guardar lembranças — disfarcei ao ser pega no flagra. Apontei o indicador para a foto que observava, curiosa — Quem são?
— Alice e seu marido, Jasper Withlock — disse ela ao subir alguns degraus para me alcançar. — Irmã mais nova de Emmett.
— Whitlock? Esse nome me soa familiar...
— Se você é boa uma leitora como eu, deve conhecê-lo por seus livros de suspense, muito bons a propósito.
Fiz uma varredura mental, talvez tivesse lido aquele nome em algum dos livros favoritos de Edward no escritório.
— Acho que já ouvi falar. Quer dizer, meu marido costuma ler com frequência.
— Jasper era a estrelinha de Blanco, se mudou para cá em busca de paz para escrever seus livros. Parece que deu certo de alguma forma, ele vendeu muitos exemplares e… Bem, encontrou o amor de sua vida.
— Como a Rose.
Ela sorriu, assentindo.
— Exatamente como Rosalie — seu semblante murchou enquanto ela fitava a fotografia. — É realmente uma pena o que aconteceu com eles.
— O que aconteceu com eles? — Franzi o cenho, intrigada.
A morena se virou para mim, um pouco surpresa.
— Emmett e Rose não lhe contaram?
— Aí está você! — Disse a voz musical. — Trouxe a sua encomenda.
Desviei minha atenção de Angela e notei Rosalie parada nos observando com um sorriso gentil curvando os lábios cheios, em suas mãos um pequeno saquinho de papel estava dobrado feito um prisma perfeito.
— Não me diga que se rendeu às misturas dela também — a morena sorriu, descendo os degraus na minha frente.
— Ora, você sabe que funcionou com a sua enxaqueca, mulher ingrata — Retrucou ela, empurrando Angela com o ombro de brincadeira.
— O que tem nisso, afinal?
— Algumas folhas e raízes, algumas sementes trituradas… nada com que precise se preocupar. Deverá beber todos os dias antes das refeições, pode ser pela manhã ou de noite. Pode misturar com sucos ou vitaminas, até mesmo no mingau, se preferir.
Me aproximei e ela me entregou o pacote.
— Não vou ficar chapada, vou? — Brinquei, embora no fundo realmente me preocupasse com isso.
— Não, mas se quiser, eu posso adicionar…
— Receio que não seja necessário — interrompi, rindo quando Angela pareceu empolgada com a ideia. — Assim já está ótimo. Obrigada, Rose.
A mistura de ervas tinha um sabor pouco agradável, mas mesmo quando deixei o pacote de lado, esperando que não tivesse realmente que ingerir, Edward surgiu feito um fantasma com um copo de vitamina de cor duvidosa para me empurrar goela abaixo naquela noite.
E ele seguiu o cronograma à risca pelo resto da semana.
— Urgh, isso tem gosto de grama — reclamei após alguns goles no líquido grosso, mas Edward empurrou levemente o copo com a ponta dos dedos para que eu bebesse mais. — Agora sei como as vacas se sentem.
— Vamos, não seja tão dramática. Precisa beber tudo se quiser ficar bem.
— Fala isso porque não é você bebendo.
Ele sorriu de lado, beijando minha bochecha e deslizando o polegar por meu lábio sujo quando abandonei o copo vazio sobre a escrivaninha entre seus livros, fechando o semblante em uma careta enquanto me forçava a engolir. Apesar de não saber exatamente a origem daquelas ervas, confiei em seus resultados notáveis.
Não me envergonhei pelo modo como comi as costeletas com as mãos, arrancando a carne dos ossos feito um roedor até que não restasse mais nada no prato limpo no primeiro jantar após ingerir a mistura estranha. As duas rodadas de torta de morango que devorei depois deixaram Edward tão satisfeito com minha fome abrupta que ele decidiu me acompanhar, ainda que não fosse o maior fã de doces.
Aquele ritmo continuou de maneira uniforme.
Todas as noites, depois de uma refeição farta, não pensava em mais nada além de colocar nossa filha no berço e me jogar na cama após um banho quente.
Foram provavelmente os meus melhores sonhos em meses, dormia tão profundamente que não me permitia vagar pelos anseios e pesadelos que me acompanhavam antes, tudo o que sentia por trás da ausência de consciência era o cheiro de lilás e mel me embalando para o conforto de seu abraço. No entanto, com a criatividade fervilhando na mente de Edward, comecei a passar cada vez mais momentos sozinha na cama.
— Já bebeu a sua vitamina? — Ele perguntou quando surgi na porta do escritório em uma noite quente, sem sequer erguer os olhos para mim enquanto manuseava sua máquina de escrever.
— Sim e estava horrível.
— Talvez devêssemos adicionar mais coisas da próxima vez, melhorar o sabor.
— Talvez você devesse parar um pouco e descansar — sugeri. — Não sai daqui para beber uma água há horas e está tão tarde...
Arrastei meus pés descalços até parar em frente a lareira apagada, cruzando os braços enquanto olhava para a louça suja entre os rascunhos sobre a escrivaninha. Edward não apareceu na mesa na hora do jantar naquela noite, em vez disso, me garantiu que seu momento criativo poderia não durar tanto tempo e que ele deveria aproveitar o que tinha, então apenas arrastou sua refeição até ali.
— Estou quase finalizando este capítulo, não posso parar agora, amor — ele disse ao ajustar os óculos, então parou quando notou meu semblante incomodado. — Ei, o que foi?
— É só que você tem passado tanto tempo aqui — murmurei, encarando os próprios pés. — Algumas vezes, eu apenas sinto a sua falta.
— Oh, está chateada comigo, não é?
Quando pareceu se dar conta, Edward largou seus óculos na mesa e se aproximou até me puxar para o seu abraço refortante.
— Bella, me perdoe — sussurrou, enterrando o rosto em meu cabelo. — Fiquei tão empolgado com essa nova ideia que sequer parei para pensar em como você se sentiria enquanto eu estivesse ocupado. Sei que esse processo é cansativo e cobra demais, fui tão egoísta...
— Eu sei que é a sua paixão. Sei que não se sente eufórico assim há tanto tempo e sei que, com o trabalho no jornal, esse momento é tudo o que você tem. Só, por favor, não me afaste.
— Você é a minha paixão.
Ele se afastou, segurando meu rosto enquanto seus olhos brilhavam intensamente, como se fosse capaz de tocar minha alma.
— Não quero me afastar de você, não vou me afastar de você — ele prometeu, aproximando nossos lábios até que seu hálito me tocasse. — Me desculpe, querida. Eu posso subir com você agora, se quiser...
Embora soubesse que meu marido estava mesmo disposto a fazer aquilo, também sabia que sua mente provavelmente continuaria naquele maldito escritório. Deslizei minhas mãos pelos seus braços ao suspirar, debatendo a questão enquanto delineava cada músculo firme até pairar no ponto onde seu polegar afagava minha bochecha.
Estava tentada, mas poderia ceder ao menos naquela noite.
— Disse que já estava acabando.
— Faltam cinco ou seis páginas — informou num tom esperançoso, involuntariamente.
Mordi o lábio inferior, derrotada.
— Então, fique e termine. Pode começar a cumprir com a sua palavra amanhã.
— Eu te amo, sabia? — Ele declarou com um sorriso largo, afundando o rosto na curva de meu pescoço.
Seus braços fortes envolveram minha cintura, puxando-me para si quando seus dentes beliscaram minha pele sensível. Sequer me envergonhei pelo modo como recuei para a espreguiçadeira e o arrastei comigo, praticamente implorando da forma mais patética possível para que ele apenas me fodesse ali.
— Tem certeza de que não quer subir agora? — Ofeguei, movendo meus dedos trêmulos pelos botões de sua camisa quando suas mãos correram para agarrar minha bunda sob a camisola.
— Você me deixa louco, porra… — Ele rosnou, tomando minha boca em um beijo feroz antes de recuar cruelmente. Um maldito beijo de despedida — Mas eu sinto muito, amor.
— É claro, você precisa terminar — resmunguei ao deixar meus braços caírem ao lado do corpo.
O observei se afastar, ajeitando a camisa amassada onde eu havia me agarrado e fechando os botões que eu me esforçara tanto para abrir.
— Prometo que irei recompensá-la por toda essa merda.
Edward plantou um último beijo em minha testa e retornou para o seu posto, deslizando a mão pelos cabelos como se tentasse se reconectar com o foco da escrita.
Enquanto recuperava meu próprio fôlego com o balde de água fria, observei alguns dos livros empilhados sobre a escrivaninha onde ele produzia seus textos até encontrar o nome familiar e perceber que praticamente todos os exemplares pertenciam ao mesmo autor.
— Sabia que Jasper Withlock mora nesta cidade? — Perguntei de repente, curiosa.
Ele piscou, surpreso.
— O que?
— O autor que você tanto gosta — apontei a pilha de livros na sua frente. — Angela me disse que ele é cunhado de Emmett, eu o vi em uma fotografia na casa deles.
— Puxa, eu não sabia disso — ele refletiu, franzindo o cenho. — Quer dizer, sabia que ele viveu nesta cidade, mas não que era da família de Emmett. Estou tão surpreso quanto você.
— Soube que ele se mudou procurando tranquilidade para escrever suas obras. Talvez seja esse efeito que esteja aguçando sua criatividade.
Fitei as páginas com seu texto pronto, eram muitas considerando o pouco tempo que ele começara a escrever.
— É, talvez seja — concordou ao coçar a nuca. — De qualquer forma, estou feliz que esteja acontecendo. Talvez, daqui há um tempo, eu não precise mais do emprego no jornal.
— Talvez.
Assenti, surpresa por Edward demonstrar sua insatisfação claramente com o trabalho pela primeira vez. Antes que eu pudesse fazer mais perguntas, ele me dispensou feito um incoveniente vendedor de porta.
— Acho melhor você ir se deitar, foi um longo dia, amor — sugeriu, voltando para o trabalho. — Não irei demorar.
— Okay, me chame se precisar de qualquer coisa.
E o som da máquina de escrever fora tudo o que ouvi no lugar de um boa noite antes de sair.
Durante a madrugada — não sabia dizer exatamente que horas — fui despertada de meu sono pesado. Não abri os olhos quando senti o colchão afundar ao meu lado e, em seguida, o abraço firme envolver meu corpo no calor de seu afeto. Em algum lugar de minha frágil consciência, imaginei que Edward finalmente terminara sua escrita e estivesse pronto para dormir.
Mas a mão, até então fornecendo carícias preguiçosas em meu abdômen, deslizou para cima lentamente até espalmar meu seio sobre o tecido da camisola, uma carícia bruta e provocadora enquanto o sentia roçar o nariz pelo meu pescoço e pelos cabelos soltos espalhados pelo travesseiro, inspirando profundamente meu cheiro como se saboreasse a essência.
— Andou pensando melhor? — Sussurrei, quase como um gemido arrastado e sonolento. Sua mão se fechou com mais força ao meu redor e ele pressionou seu quadril contra minha bunda. — Está tão tarde… O que você está fazendo, hein?
— Shhhhh.
Um beijo provocou o ponto logo abaixo de minha orelha e seu toque retornou para baixo outra vez, Edward parecia determinado quando senti seus dedos erguendo a minha camisola debaixo dos lençóis.
Ele percorreu as suas unhas pela minha coxa até alcançar a calcinha, então sem cerimônias mergulhou a mão pela peça e a próxima coisa que senti fora a moagem lenta subindo e descendo pelo meu centro. Gemi de aprovação com a umidade entre minhas pernas.
Meu corpo esquentava a cada movimento circular contra o nó sensível na minha entrada. Me permiti mergulhar na sensação prazerosa enquanto arqueava o corpo para trás, contra o comprimento rígido impulsionando em mim. Tive que morder o lábio inferior para não deixar escapar um gemido alto quando Edward escorregou seus dois dedos para dentro de mim, entrando e saindo em um ritmo torturante.
— Ah, Edward… — Gemi, minha garganta secando enquanto cravava as unhas em seu punho trabalhando em mim. — Mais forte.
A risada profana que ele deixou escapar fora provavelmente a melodia mais sombria que já tinha ouvido e isso me atingiu bem na base do estômago, mas ele me obedeceu e começou a empurrar seus dedos freneticamente enquanto o líquido quente o banhava.
Sua respiração pesada e irregular contra minha pele molhada de suor me provocou uma onda de inquietação, eu precisava desesperadamente tocá-lo, precisava senti-lo me golpear fundo até que seus gemidos guturais em meu ouvido fossem tudo o que me guiava para um orgasmo forte e inesquecível.
Precisava deixar que ele me tomasse completamente e soubesse o quanto eu sentira sua falta na cama.
Mas quando tentei me virar e inverter as posições para subir em seus quadris, ele pressionou o próprio corpo contra o meu, bloqueando-me para continuar seus movimentos ao voltar a distribuir beijos molhados pelo meu pescoço. Talvez encarasse aquilo como uma forma de me recompensar por sua ausência, aparentemente eu era seu foco naquele momento.
— Eu quero montar em você — implorei, rebolando contra seu volume como uma prova disso.
Em resposta, Edward gemeu com a pressão contra o seu pau e escorregou mais um dedo para dentro de mim. Simplesmente esqueci do que queria naquele momento.
Seus golpes foram mais fortes, rápidos e fundo o bastante para me fazer estilhaçar em mil pedaços em volta dele, deixando-me flutuar para longe com os espasmos que me acompanharam enquanto ele continuava a me acariciar, mais lento à medida que minha voz desaparecia no fundo da garganta.
Minha consciência desvaneceu quando meu corpo foi movido para a nuvem de relaxamento e tudo o que senti fora ele escorregando para fora do meu interior encharcado. Em seguida, o som de Edward chupando meu prazer de seus dedos alcançou meus ouvidos feito uma mensagem explícita de que ele também estava se divertindo.
— Vai ser preciso mais do que isso para… — então tudo estava ficando escuro enquanto cedia completamente a exaustão. Bocejei, antes de apagar de vez — Talvez depois.
Na manhã seguinte, senti que até mesmo o sol brilhava mais forte entre a luz pálida do amanhecer atravessando as cortinas do quarto.
Deixei que Edward dormisse por mais tempo e apenas fiquei o observando por alguns minutos ao meu lado na cama, seu peitoral nu subindo e descendo em um ritmo tranquilo enquanto eu apenas repassava seu desejo em me satisfazer na noite anterior, secretamente ansiosa para dar sequência e restabelecer a nossa rotina de intimidade como era antes de nossa vida virar de cabeça para baixo.
— Acordou de bom humor — ele observou com um sorriso ao entrar na cozinha enquanto eu preparava o café-da-manhã, plantando um beijo em meus lábios. — Alguma razão especial para a música?
Olhei o velho rádio ligado sobre a bancada, onde Fly Me To The Moon tocava baixinho, misturando-se ao som do bacon fritando no fogão.
Sorri para ele ao me virar.
— Preciso de um motivo para acordar feliz agora?
— É claro que não, se tivesse um marido charmoso em um surto criativo, também ficaria satisfeita.
— Você é um maldito egocêntrico, sabia?
Revirei os olhos enquanto despejava a massa de panqueca na frigideira. Edward riu ao se recostar na bancada ao meu lado, me olhando de cima a baixo com um semblante especulativo.
— Me senti péssimo por ontem, Bella.
— Vou ser sincera, eu fiquei bem surpresa com a abordagem — disse ao erguer as sobrancelhas, revirando a panqueca cozinhando. — Mas, entendo que está no seu surto criativo e isso deve incluir todas as áreas, não é? Na verdade, acho que pode até ser bom para nós...
— Não imagino como pode ser bom, alguns autores até se divorciam nesse período...
— Ah, cale a boca! Isso não vai acontecer conosco — retruquei. — Eu não vou deixar. Nunca.
Não resisti quando Edward me encurralou contra o fogão, suas mãos escorregando para segurar meu quadril no lugar enquanto ele se inclinava para me beijar em seu ritmo calmo e que me levava à loucura. Envolvi os braços ao redor de seu pescoço, despenteando aqueles cabelos quando meus dedos se fecharam em volta dos fios, puxando-os levemente.
— Podemos voltar para a cama agora e continuar o que começamos ontem, foi tão bom... — sugeri ao percorrer o indicador por seu peito sobre a camisa de linho, erguendo a coxa para envolvê-lo. — Diga que o pneu furou na estrada ou alguma merda assim para desculpar o atraso.
Aquele olhar obscuro que caía para meus seios, onde os mamilos rígidos marcavam o cetim da camisola, se perdeu em algum ponto. Desmanchei feito gelatina no sol escaldante, repassando minhas palavras à procura de qualquer coisa que pudesse provocar aquilo.
Edward franziu o cenho, inclinando a cabeça para o lado.
— Do que está falando?
— Como assim? — Perguntei, confusa. — Não se lembra quando me tocou ontem a noite?
— Ah, eu com certeza lembraria de algo assim — ele riu, sem humor. Então deslizou seus dedos por meus cabelos, puxando-os levemente na nuca ao se inclinar para beijar o meu pescoço. — Sinto muito, amor. Acho que teve um sonho muito quente… sem mim.
— Isso é impossível, Edward.
Espalmei as mãos em seu peito, afastando-o para olhar em seus olhos.
— Eu me lembro muito bem, você me fez gozar ontem a noite e não deixou que eu terminasse com você. Só pode estar brincando...
— Bella, terminei tão tarde ontem que mal conseguia abrir os olhos para subir as escadas. Apaguei feito uma pedra depois disso — explicou, retornando para sua posição relaxada contra a bancada.
— Se você diz que dormiu assim que subiu para o quarto… — desviei o olhar, atordoada. — Então, quem…
O estalar da panqueca queimando no fogão me fez recuar num sobressalto, mas não me apressei para reparar os danos. Em vez disso, Edward assumiu meu lugar e tirou a panela com o alimento queimado da chama enquanto eu me perdia nos próprios pensamentos.
Tinha certeza de que ele estava falando algo, suas palavras fluíam por mim sem qualquer significado, apenas um zumbido distante em minha cabeça, retorcendo meus neurônios enquanto eu repassava cada momento da noite anterior. A boca insaciável provando minha pele, as mãos ásperas me apalpando com força e, depois, me penetrando até que atingisse o ápice. Os gemidos roucos contra meu ouvido...
Eu não estava louca. Sabia disso.
Não estávamos sozinhos.
